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Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação - Universidade ...

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Revista <strong>Educação</strong>: Temas e Problemas, 4 (2) (2007) (nº especial sobre leitura)<br />

Avaliação <strong>da</strong> Compreensão Escrita e <strong>da</strong> Leitura <strong>de</strong> Palavras na PAL-PORT<br />

(Bateria <strong>de</strong> Avaliação Psicolinguística <strong>da</strong>s Afasias e <strong>de</strong> outras Perturbações <strong>da</strong><br />

Linguagem para a População Portuguesa) *<br />

Autores: Maria Isabel Ferraz Festas** , Cristina dos Santos Pereira Martins***, José<br />

Augusto Simões Gonçalves Leitão**<br />

** Docentes <strong>da</strong> <strong>Facul<strong>da</strong><strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> e <strong>de</strong> <strong>Ciências</strong> <strong>da</strong> <strong>Educação</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Coimbra<br />

*** Docente <strong>da</strong> <strong>Facul<strong>da</strong><strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Letras <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra<br />

Abstract<br />

The assessment of written comprehension and oral reading of words is an important<br />

component of PAL-PORT (Psycholinguistic Assessment of Language-Portuguese).<br />

PAL-PORT is an a<strong>da</strong>ptation for the portuguese population of PAL, an English battery<br />

of tests used in assessing aphasia and other language disor<strong>de</strong>rs, that takes as reference<br />

point the cognitive neuropsychology approach. In this paper we analyze PAL’s<br />

psycholinguistic mo<strong>de</strong>ls of written comprehension and reading (the dual-route mo<strong>de</strong>l)<br />

and their success in accounting for comprehension and reading disor<strong>de</strong>rs. We also<br />

present written comprehension and reading tests of PAL-PORT. We pay particular<br />

attention to the psycholinguistic variables of the Oral Reading Probe.<br />

Introdução<br />

As perturbações <strong>da</strong> compreensão escrita e <strong>da</strong> leitura <strong>de</strong> palavras são uma <strong>da</strong>s<br />

manifestações mais típicas <strong>da</strong>s afasias. Por esta razão não é <strong>de</strong> estranhar que a<br />

avaliação <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s ocupe um lugar importante no estudo dos doentes<br />

afásicos. É o que acontece na PAL-PORT (Bateria <strong>de</strong> Avaliação Psicolinguística <strong>da</strong>s<br />

Afasias e <strong>de</strong> outras Perturbações <strong>da</strong> Linguagem para a População Portuguesa), que<br />

inclui vários testes <strong>de</strong> compreensão escrita e <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> palavras.<br />

* Trabalho realizado no âmbito do Projecto RIPD/PSI/63557/2005, financiado pela FCT, intitulado<br />

Avaliação psicolinguística fina <strong>de</strong> afasias e <strong>de</strong> outras perturbações <strong>da</strong> linguagem: Uma bateria<br />

integrativa <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s em tempo diferido e em tempo real.


A PAL-PORT é um instrumento <strong>de</strong> avaliação <strong>da</strong>s afasias e <strong>de</strong> outros<br />

distúrbios <strong>da</strong> linguagem que integra medi<strong>da</strong>s em tempo diferido e em tempo real<br />

(Festas et al., 2006) e que foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong> PAL<br />

(Psycholinguistic Assessment of Language), <strong>da</strong> autoria <strong>de</strong> Caplan e Bub (Caplan,<br />

1992; Caplan & Bub, 1990). Baseando-se num mo<strong>de</strong>lo cognitivo explicativo do<br />

funcionamento linguístico, a PAL-PORT apresenta um vasto conjunto <strong>de</strong> provas que<br />

possibilitam uma análise e uma caracterização <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

encontra<strong>da</strong>s. Incidindo na compreensão e produção, quer oral, quer escrita, aos níveis<br />

lexical, morfológico e frásico, ca<strong>da</strong> um dos testes foi criado com a intenção <strong>de</strong> avaliar<br />

uma representação ou um processo específico do mo<strong>de</strong>lo.<br />

Interessando-nos, particularmente, neste artigo, a avaliação <strong>da</strong> leitura, não<br />

po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> dispensar atenção à compreensão escrita, uma vez que a leitura<br />

implica a conversão do código escrito em código oral (verbalizável), pressupondo a<br />

compreensão ou, pelo menos, o reconhecimento do material impresso. Uma avaliação<br />

fina <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste foro <strong>de</strong>ve ter em conta todos os aspectos do mo<strong>de</strong>lo<br />

relacionados com a tarefa <strong>da</strong> leitura. Nessa medi<strong>da</strong>, as provas <strong>da</strong> PAL-PORT<br />

<strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s a avaliar a compreensão escrita, conjuntamente com a <strong>de</strong> Leitura Oral,<br />

constituem um instrumento fun<strong>da</strong>mental para uma caracterização rigorosa dos<br />

problemas que se manifestem neste domínio. Do mesmo modo, uma análise dos<br />

resultados assim avaliados constitui um suporte imprescindível à planificação <strong>de</strong> um<br />

programa que tenha em vista a reeducação e superação <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s em leitura.<br />

No presente estudo, começaremos por fazer uma referência ao mo<strong>de</strong>lo<br />

psicolinguístico <strong>da</strong> compreensão escrita e ao mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> dupla via <strong>da</strong> leitura que<br />

sustentam a arquitectura <strong>da</strong> bateria <strong>de</strong> provas PAL. O po<strong>de</strong>r explicativo <strong>de</strong>stes<br />

mo<strong>de</strong>los, nomea<strong>da</strong>mente o <strong>da</strong> dupla via, relativamente às dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura, será<br />

também aqui analisado. Por último, veremos as provas <strong>da</strong> PAL-PORT <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s à<br />

avaliação <strong>da</strong> compreensão escrita e <strong>da</strong> leitura. De entre estas, será <strong>da</strong><strong>da</strong> atenção<br />

particular à Prova <strong>de</strong> Leitura Oral e aos critérios que presidiram à sua a<strong>da</strong>ptação, <strong>de</strong><br />

modo a respeitar as especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> língua portuguesa.<br />

1. Mo<strong>de</strong>lo Psicolinguístico <strong>da</strong> PAL-PORT para a Compreensão Escrita e para<br />

a Leitura <strong>de</strong> Palavras<br />

2


Tal como acontece com os outros níveis <strong>de</strong> compreensão e produção<br />

linguísticas (compreensão oral <strong>de</strong> palavras, compreensão oral e escrita aos níveis<br />

morfológico e frásico, produção oral e escrita), a compreensão escrita e a leitura <strong>de</strong><br />

palavras po<strong>de</strong>, segundo Caplan (1992), ser entendi<strong>da</strong> à luz <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo<br />

psicolinguístico que especifica a operação <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> processos sobre<br />

diferentes representações linguísticas, transformando estas últimas em novas<br />

representações.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a compreensão <strong>de</strong> palavras escritas, o processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />

<strong>da</strong>s letras opera na palavra escrita, convertendo o estímulo numa representação: a<br />

i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s letras. Sobre esta representação vai actuar, por sua vez, um novo<br />

processo: o acesso léxico-ortográfico, através do qual a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s letras é<br />

transforma<strong>da</strong> <strong>de</strong> modo a ser reconheci<strong>da</strong> no léxico ortográfico <strong>de</strong> entra<strong>da</strong>. É esta<br />

última representação que permitirá, por fim, o acesso ao significado <strong>da</strong> palavra,<br />

graças à actuação do processo <strong>de</strong> acesso léxico-semântico (ver Figura 1).<br />

Palavra Escrita<br />

I<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong>s Letras<br />

I<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s Letras<br />

Acesso Léxico-Ortográfico<br />

Léxico Ortográfico <strong>de</strong> Entra<strong>da</strong><br />

Acesso Léxico-Semântico<br />

Significado <strong>da</strong> Palavra<br />

Fig. 1. Compreensão <strong>de</strong> Palavras Escritas<br />

Assim, a compreensão <strong>de</strong> palavras escritas implica, antes <strong>de</strong> mais, o seu<br />

reconhecimento através do acesso léxico-ortográfico. A activação <strong>de</strong>ste processo<br />

requer, contudo, a conversão prévia dos estímulos escritos em representações<br />

a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s. Assim, e sendo as palavras constituí<strong>da</strong>s por letras, é a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>stas<br />

últimas que vai <strong>da</strong>r origem ao estabelecimento <strong>de</strong> uma correspondência entre a<br />

palavra escrita <strong>de</strong> entra<strong>da</strong> e as formas existentes no léxico ortográfico. Só, então, após<br />

o reconhecimento <strong>da</strong>s palavras no léxico ortográfico <strong>de</strong> entra<strong>da</strong>, se torna possível a<br />

conexão <strong>da</strong> sua forma visual com um conceito, isto é, o acesso ao seu significado.<br />

Um distúrbio <strong>de</strong>tectado ao nível <strong>da</strong> compreensão escrita <strong>de</strong> palavras po<strong>de</strong>, à<br />

luz <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo, ficar a <strong>de</strong>ver-se a problemas localizados em diferentes pontos <strong>de</strong>ste<br />

3


circuito, isto é, po<strong>de</strong> resultar <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong> diferentes processos e/ou <strong>da</strong>s<br />

respectivas representações linguísticas. Com efeito, uma dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> ter origem<br />

na i<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong>s letras, no acesso léxico-ortográfico, ou, ain<strong>da</strong>, no acesso<br />

léxico-semântico.<br />

O caso <strong>da</strong> leitura <strong>de</strong> palavras, processo que mantém relações estreitas com o<br />

<strong>da</strong> compreensão <strong>de</strong> palavras escritas, é um pouco mais complexo. As provas <strong>da</strong> PAL<br />

pressupõem o mo<strong>de</strong>lo psicolinguístico <strong>de</strong> leitura, amplamente conhecido, <strong>da</strong> dupla via<br />

(Coltheart, 1978, 1985; Coltheart, Curtis, Atkins, & Haller, 1993; Morton, 1969,<br />

1979; cf., também, Castro & Gomes, 2000). Trata-se <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo que resultou dos<br />

numerosos estudos que se têm vindo a <strong>de</strong>senvolver na área <strong>da</strong> leitura, quer os que têm<br />

incidido em populações <strong>de</strong> leitores normais, quer os que se têm <strong>de</strong>bruçado sobre as<br />

perturbações <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e as <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> lesões cerebrais, como as<br />

afasias.<br />

A i<strong>de</strong>ia fun<strong>da</strong>mental do mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> dupla via é a <strong>de</strong> que existem duas formas<br />

essenciais <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r à leitura <strong>de</strong> material escrito: uma que assenta na conversão <strong>da</strong>s<br />

letras em sons e outra que se fun<strong>da</strong>menta num processo <strong>de</strong> reconhecimento <strong>da</strong> palavra<br />

como um todo. Assim, e para proce<strong>de</strong>r à leitura <strong>de</strong> palavras, dispomos <strong>de</strong> uma via<br />

mais indirecta (ou fonológica) e também <strong>de</strong> uma via mais directa (ou lexical).<br />

O recurso à via fonológica pressupõe que os grafemas que integram um<br />

sistema <strong>de</strong> escrita alfabético sejam convertidos em fones através <strong>da</strong> actuação <strong>de</strong> um<br />

conjunto <strong>de</strong> regras <strong>de</strong> Conversão Grafema-Fone ou CGF. A leitura resulta <strong>da</strong><br />

aplicação <strong>de</strong>ste sistema <strong>de</strong> regras, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo, gran<strong>de</strong>mente, <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

processamento fonológico. Como é facilmente compreensível, e na medi<strong>da</strong> em que a<br />

própria aprendizagem <strong>da</strong> leitura <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>de</strong>ste sistema <strong>de</strong> CGF, a via<br />

fonológica é aquela que predomina nas fases iniciais <strong>de</strong>ssa mesma aprendizagem,<br />

ce<strong>de</strong>ndo, à medi<strong>da</strong> que o leitor se torna mais proficiente, ca<strong>da</strong> vez maior<br />

proeminência à via lexical. Dito isto, ressalve-se que mesmo o leitor experiente terá,<br />

ain<strong>da</strong> assim, necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> manter a via fonológica operacional, sob pena <strong>de</strong> ficar<br />

impedido <strong>de</strong> ler palavras <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s e pseudopalavras que apenas po<strong>de</strong>m ser<br />

processa<strong>da</strong>s com recurso a tal via.<br />

Já a via lexical funciona através do acesso a um dicionário mental ou léxico<br />

interno on<strong>de</strong> estão representa<strong>da</strong>s as palavras já aprendi<strong>da</strong>s e conheci<strong>da</strong>s. A palavra<br />

impressa é reconheci<strong>da</strong> como um todo porque o seu processamento não requer a<br />

conversão <strong>da</strong>s respectivas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s sublexicais (isto é, os grafemas) nos fones<br />

4


correspon<strong>de</strong>ntes. A entra<strong>da</strong> lexical é activa<strong>da</strong> no dicionário mental directamente pela<br />

forma gráfica representa<strong>da</strong> no texto. Dito isto, concluir-se-á que a via lexical,<br />

dispensando a operação CGF, permite tão somente a leitura <strong>de</strong> palavras que já<br />

integram o léxico ortográfico, não sendo possível, através <strong>de</strong>la, processar quer<br />

palavras <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s, quer pseudopalavras.<br />

Este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> dupla via <strong>da</strong> leitura tem conhecido várias versões, sendo uma<br />

<strong>da</strong>s mais divulga<strong>da</strong>s aquela que é partilha<strong>da</strong> pelos autores <strong>da</strong> PAL. Nesta versão<br />

admitem-se, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, não estritamente duas, mas sim três vias (Caplan, 1992;<br />

Morton & Patterson, 1980), consi<strong>de</strong>rando-se que a via lexical po<strong>de</strong>, por sua vez, ser<br />

subdividi<strong>da</strong> em duas: uma que vai directamente do léxico ortográfico <strong>de</strong> entra<strong>da</strong> à<br />

produção oral <strong>da</strong> palavra, sem passar pelo sistema semântico, e uma outra, menos<br />

directa, que vai do léxico ortográfico <strong>de</strong> entra<strong>da</strong> ao sistema semântico, seguindo,<br />

<strong>de</strong>ste, até à produção oral. Esta versão não põe, propriamente, em causa o mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong><br />

dupla via: continua a prever-se a existência <strong>de</strong> duas rotas básicas, uma para a<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong> palavra como um todo e outra para a conversão dos grafemas em<br />

fones. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, nesta versão mais <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> em que assenta a arquitectura <strong>da</strong>s<br />

provas <strong>da</strong> bateria PAL apenas se admite que, em certos casos, a leitura pela via lexical<br />

po<strong>de</strong> dispensar o processamento semântico do material escrito por parte <strong>de</strong> quem lê.<br />

Outros mo<strong>de</strong>los explicativos <strong>da</strong> leitura <strong>de</strong> palavras têm surgido, <strong>de</strong>stacando-se,<br />

<strong>de</strong> entre estes, os que se baseiam no processamento paralelo, como o <strong>de</strong> Sei<strong>de</strong>nberg e<br />

McClelland (1989), e que prevêem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> modo, uma única via e não duas. Ain<strong>da</strong><br />

assim e apesar dos mo<strong>de</strong>los concorrentes, o mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> dupla via continua a ter um<br />

elevado nível <strong>de</strong> aceitação pelas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s que oferece para a explicação e<br />

compreensão do fenómeno <strong>da</strong> leitura <strong>de</strong> palavras, tanto em leitores normais, como em<br />

casos <strong>de</strong> distúrbios <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento ou <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> lesões cerebrais.<br />

1.1. Os Distúrbios <strong>de</strong> Leitura à Luz do Mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> Dupla Via<br />

Como foi dito, uma <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s vantagens do mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> dupla via resi<strong>de</strong> na<br />

sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> explicar os diferentes tipos <strong>de</strong> distúrbios <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> dislexia.<br />

Consi<strong>de</strong>rando agora apenas as perturbações adquiri<strong>da</strong>s, ou seja, as que resultam <strong>de</strong><br />

lesões cerebrais, e que caracterizam muitas <strong>da</strong>s afasias, é consensual a tipologia que<br />

admite três tipos fun<strong>da</strong>mentais <strong>de</strong> “dislexias centrais” (aquelas cuja origem se po<strong>de</strong><br />

5


localizar no funcionamento linguístico): a fonológica, a superficial e a profun<strong>da</strong> (cf.,<br />

entre outros, Ellis, 1989).<br />

A dislexia fonológica caracteriza-se por uma incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ler<br />

pseudopalavras e palavras <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s. Apesar <strong>de</strong>sta dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>, os pacientes com<br />

dislexia fonológica mostram-se capazes <strong>de</strong> ler palavras conheci<strong>da</strong>s. Trata-se <strong>de</strong> um<br />

distúrbio encontrado em doentes afásicos, reportado em trabalhos como os <strong>de</strong><br />

Beauvois e Derouesné (1979), Shallice e Warrington (1980) e Patterson (1980), entre<br />

outros. O comportamento <strong>de</strong>stes doentes explica-se, sinteticamente, do seguinte<br />

modo: tendo a via fonológica afecta<strong>da</strong>, estes disléxicos ficam impedidos <strong>de</strong> recorrer<br />

ao sistema <strong>de</strong> Conversão Grafema-Fone, e, logo assim, <strong>de</strong> processar pseudopalavras e<br />

palavras <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s, cuja leitura <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do bom funcionamento <strong>de</strong> tal sistema <strong>de</strong><br />

conversão <strong>de</strong> representações. A preservação <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> para ler palavras<br />

conheci<strong>da</strong>s mostra, contudo, que a via lexical está intacta nestes doentes, sendo a essa<br />

que recorrem na leitura.<br />

A dislexia superficial caracteriza-se por um quadro oposto ao <strong>da</strong> dislexia<br />

fonológica: os doentes conseguem ler, sem dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>, pseudopalavras e palavras<br />

regulares, ao mesmo tempo que apresentam muitos erros na leitura <strong>de</strong> palavras<br />

irregulares (Marshall & Newcombe, 1973; Patterson, Marshall, & Coltheart, 1985).<br />

Com efeito, neste tipo <strong>de</strong> dislexia, e estando controlados factores como a frequência e<br />

a extensão <strong>da</strong>s palavras, verifica-se uma gran<strong>de</strong> superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> na capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

leitura <strong>de</strong> palavras com correspondências grafema-fone regulares, relativamente a<br />

palavras em que essas correspondências são irregulares. Fala-se <strong>de</strong> correspondências<br />

regulares quando há uma relação grafema-fone <strong>de</strong> um-para-um, ou seja, quando a um<br />

grafema <strong>de</strong> uma palavra correspon<strong>de</strong> um só fone e, inversamente, <strong>de</strong><br />

correspondências irregulares, quando essa relação po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> um-para-muitos (um<br />

grafema passível <strong>de</strong> representar vários fones) ou <strong>de</strong> muitos-para-um (vários grafemas<br />

representam um só fone), sem que existam regras explícitas que regulem essas<br />

relações. Os portadores <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> dislexia proce<strong>de</strong>m a constantes “regularizações”<br />

na leitura <strong>de</strong> palavras irregulares. Tal comportamento evi<strong>de</strong>ncia que os doentes lêem<br />

através <strong>da</strong> activação do sistema CGF, mobilizando as respectivas regras <strong>de</strong> conversão<br />

dominantes. Na ausência <strong>de</strong> uma regra <strong>de</strong> CGF dominante para um <strong>da</strong>do caso, a<br />

leitura po<strong>de</strong> igualmente evi<strong>de</strong>nciar erros <strong>de</strong> conversão. A leitura baseia-se, pois,<br />

apenas na via fonológica, não havendo acesso à rota lexical que, nestes casos, se<br />

apresenta <strong>de</strong>ficiente.<br />

6


A dislexia profun<strong>da</strong>, pela multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sintomas que apresenta (cf., entre<br />

outros, Ellis, 1989; Funnell, 2000; Marshall & Newcombe, 1980), diz respeito a um<br />

quadro mais complexo, cuja origem tem sido e continua a ser amplamente <strong>de</strong>bati<strong>da</strong><br />

(Coltheart, Patterson, & Marshall, 1980). Os doentes com este tipo <strong>de</strong> perturbação<br />

mostram-se incapazes <strong>de</strong> ler pseudopalavras, o que é um sinal <strong>de</strong> que têm afecta<strong>da</strong> a<br />

via fonológica sublexical, facto que os impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar o sistema <strong>de</strong> regras <strong>de</strong> CGF. A<br />

perturbação <strong>de</strong>sta via também se manifesta nos erros visuais, frequentes nos<br />

portadores <strong>de</strong>sta dislexia, que se traduzem no seguinte comportamento: o doente, na<br />

presença <strong>de</strong> uma palavra escrita, lê uma outra que, sendo ortograficamente próxima<br />

<strong>da</strong> do estímulo, é, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, muito diferente <strong>de</strong>la quanto ao significado (cf. Funnell,<br />

2000).<br />

Mas, os doentes com dislexia profun<strong>da</strong> evi<strong>de</strong>nciam, ain<strong>da</strong>, outros erros típicos<br />

reveladores <strong>de</strong> que também a via lexical está afecta<strong>da</strong>. É o caso dos erros semânticos<br />

<strong>de</strong>tectados na leitura <strong>de</strong> palavras, caracterizados pelo facto <strong>de</strong> o produto <strong>da</strong> leitura ser<br />

uma palavra semanticamente próxima <strong>da</strong> que constitui o estímulo, mas muito<br />

diferente <strong>de</strong>sta do ponto <strong>de</strong> vista ortográfico. Outro indício <strong>de</strong> que a via lexical está,<br />

nestes doentes, afecta<strong>da</strong> é a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> por eles revela<strong>da</strong> em ler nomes abstractos,<br />

comparativamente a nomes concretos. Estes erros do foro semântico sugerem que este<br />

leitor disléxico baseia a sua leitura numa via léxico-semântica em que o significado é<br />

processado directamente a partir do estímulo impresso (cf. Morton & Patterson,<br />

1980). Em suma, e em função do mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> dulpa via, capaz, como salienta Caplan<br />

(1992, p. 184, Figura 5.5), <strong>de</strong> <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s características <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong><br />

perturbação, na dislexia profun<strong>da</strong> estão afecta<strong>da</strong>s quer a via lexical, quer a via<br />

fonológica sublexical.<br />

2. Provas <strong>da</strong> PAL-PORT na Avaliação <strong>da</strong> Compreensão Escrita e <strong>da</strong> Leitura<br />

<strong>de</strong> Palavras<br />

Porque se baseia num mo<strong>de</strong>lo psicolinguístico, a PAL-PORT permite uma<br />

análise fina <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s linguísticas manifesta<strong>da</strong>s por um <strong>de</strong>terminado doente.<br />

Deste modo, através <strong>da</strong> aplicação <strong>da</strong>quela bateria, torna-se possível levar a avaliação<br />

<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para além <strong>da</strong> mera constatação <strong>de</strong> problemas ao nível <strong>da</strong><br />

compreensão escrita ou <strong>da</strong> leitura, tal como acontece com as provas neuropsicológicas<br />

clássicas. A PAL-PORT inclui um conjunto <strong>de</strong> quatro provas <strong>de</strong> avaliação que<br />

7


inci<strong>de</strong>m nos diferentes processos linguísticos implicados na compreensão <strong>de</strong> palavras<br />

escritas, e conta, ain<strong>da</strong>, com uma prova que permite <strong>de</strong>tectar qual ou quais as vias<br />

intactas ou afecta<strong>da</strong>s na leitura. Como po<strong>de</strong>mos ver na Figura 2, a Prova 16 (Decisão<br />

Lexical) avalia problemas no acesso léxico-ortográfico, as Provas 17<br />

(Emparelhamento Palavra-Figura), 18 (Verificação <strong>de</strong> Atributos) e 19 (Juízos <strong>de</strong><br />

Similitu<strong>de</strong>-Palavras Abstractas) estão vocaciona<strong>da</strong>s para as potenciais perturbações<br />

no acesso léxico-semântico e a Prova 22 (Leitura Oral) possibilita uma i<strong>de</strong>ntificação<br />

<strong>da</strong> fonte <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s ao nível <strong>da</strong>s vias fonológica e/ou lexical.<br />

Fig.2 Provas <strong>de</strong> Compreensão Escrita e <strong>de</strong> Leitura <strong>de</strong> Palavras e Aspectos Avaliados por essas<br />

Mesmas Provas<br />

Com a aplicação <strong>de</strong>sta bateria, po<strong>de</strong>mos ficar a saber se os problemas <strong>de</strong><br />

leitura, apresentados por um <strong>de</strong>terminado paciente, se localizam nas primeiras fases<br />

do processo <strong>da</strong> leitura (relativas à compreensão <strong>de</strong> palavras escritas e que se po<strong>de</strong>m<br />

situar ao nível do acesso léxico-ortográfico e/ou do acesso léxico-semântico), ou se se<br />

ficam a <strong>de</strong>ver a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s na via fonológica e/ou lexical.<br />

No presente artigo, <strong>de</strong>bruçar-nos-emos, particularmente, sobre a avaliação <strong>da</strong>s<br />

duas vias <strong>da</strong> leitura (fonológica e lexical), tal como é realiza<strong>da</strong> pela Prova 22 (Leitura<br />

Oral).<br />

Provas PAL-PORT<br />

Prova 16. Decisão Lexical<br />

Prova 17. Emparelhamento Palavra Figura<br />

Prova 18. Verificação <strong>de</strong> Atributos<br />

Prova 19. Juízos <strong>de</strong> Similitu<strong>de</strong> Pal. Abstractas<br />

Prova 22. Leitura Oral<br />

Aspectos <strong>da</strong><br />

Compreensão Escrita<br />

e <strong>da</strong> Leitura <strong>de</strong><br />

Palavras Avaliados<br />

Acesso Léxico-Ortográfico<br />

Acesso Léxico-Semântico<br />

Vias Fonológica e Lexical<br />

8


2.1. A Prova <strong>de</strong> Leitura Oral<br />

A Prova <strong>de</strong> Leitura Oral <strong>da</strong> PAL original inclui cinquenta e sete itens: trinta e<br />

duas palavras e vinte e cinco pseudopalavras. A selecção <strong>da</strong>s palavras obe<strong>de</strong>ceu aos<br />

seguintes critérios: extensão, frequência, nível <strong>de</strong> abstracção e regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> na<br />

correspondência grafema-fone. A prova conta, assim, com <strong>de</strong>zasseis palavras<br />

regulares e <strong>de</strong>zasseis palavras irregulares, contendo ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>stas categorias igual<br />

número <strong>de</strong> palavras frequentes e pouco frequentes, extensas e curtas, e nomes<br />

concretos e abstractos. Já as vinte e cinco pseudopalavras se distribuem pelas<br />

seguintes categorias: ortografia simples-fonologia simples (cinco itens), ortografia<br />

simples-fonologia complexa (<strong>de</strong>z itens), ortografia complexa-fonologia simples<br />

(cinco itens) e ortografia complexa-fonologia complexa (cinco itens). Voltaremos a<br />

estas categorias e aos critérios que presi<strong>de</strong>m à sua <strong>de</strong>limitação quando apresentarmos<br />

as pseudopalavras selecciona<strong>da</strong>s para a respectiva prova <strong>da</strong> PAL-PORT.<br />

Tal como aconteceu com to<strong>da</strong>s as provas <strong>da</strong> PAL-PORT, a selecção dos itens<br />

<strong>da</strong> Prova <strong>de</strong> Leitura Oral (PAL-22) obe<strong>de</strong>ceu, na medi<strong>da</strong> em que tal era possível, aos<br />

mesmos critérios operantes na correspon<strong>de</strong>nte prova <strong>da</strong> PAL original, tendo sido<br />

respeita<strong>da</strong>s as variáveis psicolinguísticas segui<strong>da</strong>s pelos seus autores (Caplan, 1992;<br />

cf., também, Festas et al., 2006). No entanto, <strong>da</strong><strong>da</strong> a natureza <strong>de</strong>sta prova e a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r, na escolha <strong>de</strong> itens, às características <strong>da</strong> língua portuguesa, a<br />

sua elaboração conduziu à consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> alguns critérios diversos <strong>da</strong>queles patentes<br />

na prova original. Assim, e se alguns <strong>de</strong>stes critérios não colocaram qualquer<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicação e a<strong>da</strong>ptação ao português europeu, outros foram objecto <strong>de</strong><br />

uma pon<strong>de</strong>ração crítica, feita em colaboração com linguistas, <strong>de</strong> modo a que as<br />

especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> nossa língua pu<strong>de</strong>ssem ser igualmente respeita<strong>da</strong>s. Com efeito, a<br />

extensão e a frequência <strong>da</strong>s palavras e, ain<strong>da</strong>, o grau <strong>de</strong> abstracção não nos<br />

levantaram problemas, ao passo que a regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s relações grafema-fone no<br />

domínio <strong>da</strong>s palavras e, sobretudo, a <strong>de</strong>finição <strong>da</strong>s categorias a incluir na selecção <strong>da</strong>s<br />

pseudopalavras, nos exigiram um maior esforço <strong>de</strong> reflexão.<br />

A extensão dos itens é uma <strong>da</strong>s variáveis consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s na PAL, o que<br />

facilmente se enten<strong>de</strong>, <strong>da</strong><strong>da</strong> a sua importância no reconhecimento <strong>de</strong> palavras em<br />

situações <strong>de</strong> leitura. Está experimentalmente <strong>de</strong>monstrado que palavras curtas são<br />

li<strong>da</strong>s mais rapi<strong>da</strong>mente do que palavras extensas (Just & Carpenter, 1980). Na PAL<br />

original foram consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s como curtas as palavras com um sílaba fonética e como<br />

9


extensas as palavras com três ou mais sílabas. Este critério teve que ser a<strong>da</strong>ptado às<br />

particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> nossa língua, na qual as palavras monossilábicas são muito mais<br />

raras dos que as existentes na língua inglesa. Deste modo, consi<strong>de</strong>rámos como curtas<br />

as palavras com uma ou duas sílabas e como extensas as <strong>de</strong> três ou mais sílabas<br />

fonéticas. Recorremos à PORLEX (Gomes & Castro, 2003) para seleccionar os itens<br />

com base neste critério.<br />

Quanto à frequência dos itens, a sua importância <strong>de</strong>corre, não apenas <strong>da</strong>quilo<br />

que se sabe sobre leitores normais – o reconhecimento <strong>de</strong> palavras é mais fácil e<br />

rápido se estas forem frequentes (Forster & Chambers, 1973) -, como ain<strong>da</strong>, dos<br />

resultados conhecidos, relativos aos distúrbios <strong>de</strong> leitura, abor<strong>da</strong>dos no Ponto 1.1. A<br />

frequência po<strong>de</strong> ser importante, nomea<strong>da</strong>mente, no estudo <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> dislexia<br />

fonológica. Os doentes com esta perturbação são capazes, como vimos, <strong>de</strong> ler<br />

palavras regulares e mesmo irregulares <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sejam conheci<strong>da</strong>s/frequentes.<br />

Na selecção que fizemos dos itens <strong>da</strong> Prova 22, seguimos a mesma proporção<br />

adopta<strong>da</strong> na PAL original para estabelecer os limites <strong>de</strong> baixa e eleva<strong>da</strong> frequência,<br />

tendo ficado <strong>de</strong>finido como “pouco frequente” o limite máximo <strong>de</strong> 27 ocorrências e<br />

como “muito frequente” o limite mínimo <strong>de</strong> 162 ocorrências. Na <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>stas<br />

frequências, orientámo-nos pelos <strong>da</strong>dos disponíveis na base CORLEX (Centro <strong>de</strong><br />

Linguística <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa, 2003).<br />

No que concerne ao nível <strong>de</strong> abstracção dos nomes, esta é, como referimos,<br />

outra <strong>da</strong>s variáveis adopta<strong>da</strong>s na PAL para a escolha <strong>de</strong> palavras, critério cuja<br />

adopção permite a avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhos eventualmente distintos na leitura <strong>de</strong><br />

nomes concretos e na <strong>de</strong> nomes abstractos. Como já no Ponto 1.1. salientámos, uma<br />

<strong>da</strong>s características <strong>da</strong> dislexia profun<strong>da</strong> diz respeito à dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> manifesta<strong>da</strong> pelo<br />

doente em ler nomes abstractos, comparativamente a nomes concretos, e <strong>da</strong>í a<br />

importância <strong>de</strong> incluirmos estes dois tipos <strong>de</strong> itens na PAL-PORT.<br />

Tal como aduzimos, os principais problemas na selecção dos itens <strong>da</strong> Prova <strong>de</strong><br />

Leitura Oral puseram-se relativamente à variável regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> (palavras) e, sobretudo,<br />

no que respeitou à <strong>de</strong>finição <strong>da</strong>s categorias a consi<strong>de</strong>rar na construção <strong>da</strong>s<br />

pseudopalavras. A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> inclusão, numa prova <strong>de</strong> leitura, <strong>de</strong> palavras<br />

regulares e irregulares, bem como <strong>de</strong> pseudopalavras, ficou amplamente <strong>de</strong>monstra<strong>da</strong><br />

no Ponto 1.1, quando abordámos os diferentes tipos <strong>de</strong> dislexia: palavras irregulares<br />

são li<strong>da</strong>s com “regularizações” na dislexia superficial e as pseudopalavras são<br />

praticamente impossíveis <strong>de</strong> ler nas dislexias fonológica e profun<strong>da</strong>.<br />

10


É sabido que há uma gran<strong>de</strong> divergência na forma como as diferentes<br />

ortografias alfabéticas representam os sons <strong>da</strong> língua, po<strong>de</strong>ndo as mesmas situar-se<br />

num contínuo entre as mais transparentes e as mais opacas. Se a ortografia <strong>da</strong> língua<br />

inglesa se encontra entre as mais opacas e a italiana e a serbo-croata se consi<strong>de</strong>ram<br />

representativas <strong>da</strong>s mais transparentes, já a língua portuguesa estará numa posição<br />

intermédia <strong>de</strong>ste contínuo, a ten<strong>de</strong>r para o pólo <strong>da</strong> relação grafema-fone mais<br />

transparente (Veloso, 2005, p. 59-60). De facto, na representação ortográfica do<br />

português europeu, e apesar <strong>de</strong> encontrarmos alguns casos em que as relações<br />

grafema-fone não são unívocas, isto é, em que dispomos <strong>de</strong> um grafema para<br />

representar mais do que um fone, a gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong>stas conversões estão regula<strong>da</strong>s<br />

e são previsíveis (cf. Castro & Gomes, 2000).<br />

Tendo presente as consi<strong>de</strong>rações já feitas, adoptámos como critério <strong>de</strong>finidor<br />

<strong>de</strong> irregulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, não só o facto <strong>de</strong> um <strong>da</strong>do grafema po<strong>de</strong>r representar mais do que<br />

um fone, mas também o <strong>de</strong> que a respectiva conversão não fosse governa<strong>da</strong> por regras<br />

explícitas que tornassem essa conversão previsível. Para exemplificar a nossa opção,<br />

consi<strong>de</strong>re-se o caso do grafema . Este po<strong>de</strong> representar, na ortografia do português<br />

europeu, os seguintes sons: (i) mais frequentemente [k], antes <strong>de</strong> (como em<br />

casa, cola, cubo), mas também (ii) [s], antes <strong>de</strong> (como em cinto, cela), ou,<br />

ain<strong>da</strong>, (iii) [ø] (como em acto). Apenas o caso ilustrado pelo exemplo (iii) foi, por<br />

nós, consi<strong>de</strong>rado irregular, <strong>da</strong>do que, quer na leitura <strong>de</strong> (i), quer na <strong>de</strong> (ii) é possível<br />

ao leitor “calcular” a correcta conversão grafema-fone com recurso à respectiva regra<br />

explícita, a saber: lê-se [k] antes <strong>de</strong> ; lê-se [s] antes <strong>de</strong> .<br />

Assim e para seleccionarmos as palavras irregulares <strong>da</strong> PAL-PORT,<br />

consi<strong>de</strong>rámos os seguintes casos:<br />

- a ocorrência <strong>de</strong> uma consoante a prece<strong>de</strong>r outra consoante que, umas<br />

vezes, é mu<strong>da</strong> e, outras, se pronuncia (acto, pacto)<br />

- antes <strong>de</strong> ou que, umas vezes, se lê [k/g] e, outras,<br />

[kw/gw] (guia vs. água)<br />

- a consoante que po<strong>de</strong> ter vários valores: [] (caixa), [s]<br />

(máximo), [z] (exército) e [ks] [complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>).<br />

Situações <strong>de</strong> irregulari<strong>da</strong><strong>de</strong> como aquela que se verifica quando as vogais<br />

pretónicas grafa<strong>da</strong>s , e não sofrem o normal processo, no português<br />

europeu, <strong>de</strong> elevação e <strong>de</strong> redução (por exemplo, pa<strong>de</strong>iro, caveira, palavras em que<br />

11


se pronuncia [a] e não [], como se esperaria neste contexto) (cf. Teyssier, 1989),<br />

não foram utiliza<strong>da</strong>s, uma vez que não se encontravam nos limiares <strong>de</strong> frequência<br />

<strong>de</strong>finidos.<br />

Nas palavras regulares foram, então, seleccionados itens em que as<br />

correspondências grafema-fone são to<strong>da</strong>s <strong>de</strong> “um-para-um”.<br />

A escolha <strong>da</strong>s pseudopalavras foi a que levantou mais problemas, <strong>da</strong>í que os<br />

critérios que a essa selecção presidiram nos mereçam uma atenção especial neste<br />

artigo. Como já referimos, a Prova <strong>de</strong> Leitura Oral <strong>da</strong> bateria PAL original inclui<br />

vinte e cinco pseudopalavras, to<strong>da</strong>s monossilábicas, distribuí<strong>da</strong>s pelos seguintes<br />

grupos: a) ortografia simples-fonologia simples, b) ortografia simples-fonologia<br />

complexa, c) ortografia complexa-fonologia simples, e d) ortografia<br />

complexa-fonologia complexa. A observação <strong>da</strong>s pseudopalavras <strong>da</strong>s categorias a) e<br />

b) do teste original permitiu discernir que, numa perspectiva puramente segmental,<br />

todos os itens mantêm, com a respectiva forma fónica, uma relação unívoca do tipo<br />

um-para-um. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, a gran<strong>de</strong> distinção linguística entre os itens <strong>da</strong> categoria a) e<br />

os <strong>da</strong> categoria b) é que os segundos apresentam grupos consonânticos em ataque ou<br />

em co<strong>da</strong> <strong>de</strong> sílaba.<br />

Observa<strong>da</strong>s estas caraterísticas na prova original, seleccionámos para as<br />

correspon<strong>de</strong>ntes categorais <strong>da</strong> Prova <strong>de</strong> Leitura Oral <strong>da</strong> PAL-PORT, itens que<br />

ostentássem relações grafema-fone <strong>de</strong> um-para-um, incluindo, na categoria b),<br />

pseudopalavras que apresentassem grupos consonânticos em ataque <strong>de</strong> sílaba (já que<br />

as co<strong>da</strong>s constituí<strong>da</strong>s por mais do que um segmento são raras em português).<br />

Quanto às pseudopalavras <strong>da</strong>s categorias c) (ortografia complexa-fonologia<br />

simples) e d) (ortografia complexa-fonologia complexa), verificámos que estas<br />

assentam em relações <strong>de</strong> grafema–fone e fone-grafema <strong>de</strong> “um-para-muitos”. Os itens<br />

pertencentes a estas duas categorias apresentam algumas afini<strong>da</strong><strong>de</strong>s dignas <strong>de</strong> nota.<br />

Em primeiro lugar, regista-se o facto <strong>de</strong> alguns admitirem, para uma <strong>da</strong><strong>da</strong> sequência<br />

fónica, mais do que uma representação gráfica (por exemplo, a pseudopalavra TOPE,<br />

<strong>da</strong> prova original, apresenta uma <strong>da</strong><strong>da</strong> forma <strong>de</strong> representação gráfica <strong>da</strong> vogal longa,<br />

sendo que esta po<strong>de</strong>ria ser igualmente representa<strong>da</strong> através <strong>de</strong> uma outra grafia:<br />

“TOAP”; o mesmo se dirá do item PREAT que po<strong>de</strong> também ser graficamente<br />

representado por “PREET”). Outra afini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>tecta<strong>da</strong> entre os itens <strong>da</strong>s categorias c)<br />

e d) é o facto <strong>de</strong> requererem, para a representação gráfica <strong>de</strong> um <strong>da</strong>do som, o recurso<br />

12


a sequências gráficas ou a múltiplos grafemas cuja co-presença condiciona,<br />

precisamente, a dita pronúncia (é o caso do efeito <strong>de</strong> alongamento vocálico produzido<br />

pela presença <strong>de</strong> final em itens como BINE ou BLINE; cf. Caplan, 1992, p. 199).<br />

Tal como acontece com as categorias a) e b), a distinção entre a c) e d) pren<strong>de</strong>-se com<br />

a presença, nesta última, <strong>de</strong> itens que apresentam grupos consonânticos em ataque <strong>de</strong><br />

sílaba.<br />

Tendo-se procurado respeitar, na medi<strong>da</strong> do possível, os critérios <strong>de</strong> selecção<br />

dos itens <strong>da</strong> prova original para estas categorias, a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é que a relação entre a<br />

orali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a representação gráfica do português europeu, <strong>da</strong><strong>da</strong>, precisamente, a sua<br />

relativa transparência, não permite margem <strong>de</strong> manobra significativa para a escolha<br />

<strong>de</strong> itens. Com o intuito <strong>de</strong> ampliar essa margem, e ain<strong>da</strong> que apenas vogais sejam<br />

manipula<strong>da</strong>s na prova original, foi criado, na categoria c) (ortografia<br />

complexa-fonologia simples), um subgrupo <strong>de</strong> treze itens, no âmbito dos quais se<br />

manipulam as relações grafema-fone <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s consonânticas (e.g., gito), a par <strong>de</strong><br />

um outro, <strong>de</strong> sete itens, no qual se jogam apenas com estas relações no quadro <strong>da</strong>s<br />

vogais (e.g., lempo). Da<strong>da</strong> a escassez <strong>de</strong> formas vocabulares monossilábicas <strong>de</strong> tipo<br />

nominal em português, optou-se, nas pseudopalavras dos grupos c) e d), por<br />

representar estruturas bissilábicas.<br />

Dito isto, na categoria c) (ortografia complexa-fonologia simples) foram<br />

contemplados itens representativos <strong>de</strong> oito subgrupos <strong>de</strong> fenónemos<br />

linguístico-ortográficos. Os dois primeiros subgrupos <strong>de</strong> fenómenos (1 e 2) foram<br />

igualmente utilizados na criação <strong>de</strong> itens para a categoria d) (ortografia<br />

complexa-fonologia complexa).<br />

Apresentemos os fenómenos contemplados em ca<strong>da</strong> subgrupo:<br />

1. Os grafemas , e antes <strong>de</strong> induzem a leitura [], [] e [a],<br />

havendo, neste caso, uma situação <strong>de</strong> condicionamento do timbre <strong>da</strong> vogal em<br />

posição tónica pela presença <strong>da</strong> letra [e.g., futel para a categoria c) e frunol para a<br />

categoria d)];<br />

2. A sequência <strong>de</strong> grafemas po<strong>de</strong> ser oralmente realizado como vogal<br />

nasal [] ou como ditongo nasal []. Esta última realização ten<strong>de</strong> a ocorrer<br />

preferencialmente em final absoluto e requer, graficamente, o uso <strong>de</strong> um acento agudo<br />

[e.g., nilém para a categoria c) e trulém para a categoria d)];<br />

13


3. Há um condicionamento do valor fónico por <strong>de</strong>feito <strong>de</strong> pela presença<br />

<strong>da</strong>s letras ou . A letra antes <strong>de</strong> ou lê-se sempre [], mas em<br />

qualquer outro contexto lê-se [] [e.g., geto para a categoria c)];<br />

4. Há um condicionamento do valor fónico por <strong>de</strong>feito <strong>de</strong> pela presença<br />

<strong>da</strong>s letras ou . A letra antes <strong>de</strong> ou lê-se sempre [s], mas ,<br />

antes <strong>de</strong> qualquer outra vogal, lê-se [k] [e.g., cefo para a categoria c)];<br />

5. Para preservar a pronúncia [k] antes <strong>de</strong> ou , a letra tem <strong>de</strong> vir<br />

sempre acompanha<strong>da</strong> <strong>de</strong> que, neste contexto, assume uma função meramente<br />

diacrítica [e.g., quifo para a categoria c)];<br />

6. Para preservar a pronúncia [] antes <strong>de</strong> ou , a letra tem <strong>de</strong> vir<br />

sempre acompanha<strong>da</strong> <strong>de</strong> que, neste contexto, assume, igualmente, uma função<br />

meramente diacrítica [e.g., guigo para a categoria c)];<br />

7. A pronúncia [z] (e não [s]) <strong>da</strong> letra implica o reconhecimento <strong>de</strong> que<br />

ela se encontra em contexto intervocálico [e.g., fiso para a categoria c)];<br />

8. A representação ortográfica <strong>de</strong> [] e <strong>de</strong> [] é feita, em português, por meio<br />

<strong>de</strong> dígrafos, nos quais condiciona, e assim modifica os valores, por <strong>de</strong>feito, <strong>de</strong><br />

e ([e.g., tunho, dilho, para a categoria c)].<br />

Em síntese, seleccionados os itens <strong>de</strong> acordo com os critérios acabados <strong>de</strong><br />

explanar, obtivemos a Prova <strong>de</strong> Leitura, constituí<strong>da</strong> por cento e quarenta e sete itens,<br />

em que noventa e seis são palavras e cinquenta e um pseudopalavras 1 . As palavras<br />

divi<strong>de</strong>m-se em regulares e irregulares e, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>stas categorias, há a<br />

consi<strong>de</strong>rar as variáveis já analisa<strong>da</strong>s: frequência, extensão e nível <strong>de</strong> abstracção (ver<br />

Quadros 1 e 2, para as palavras regulares e irregulares, respectivamente).<br />

Quadro 1<br />

Palavras Regulares <strong>da</strong> PAL 22: Variáveis Psicolinguísticas, Número <strong>de</strong> Itens e Exemplos<br />

Variáveis Psicolinguísticas 1 Número <strong>de</strong> Itens Exemplos<br />

MF/C/C 6 burro<br />

MF/C/A 6 culpa<br />

MF/L/C 6 sardinha<br />

1 É importante referir que nos encontramos numa fase <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> provas em que estas não foram,<br />

ain<strong>da</strong>, sujeitas a um trabalho psicométrico que conduzirá, necessariamente, a uma redução do número<br />

<strong>de</strong> itens. O estabelecimento <strong>da</strong>s características psicométricas <strong>da</strong> PAL-PORT é não só possível, como<br />

<strong>de</strong>sejável, apresentando-se como uma <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s vantagens <strong>de</strong>sta bateria relativamente a outras<br />

existentes nesta área <strong>de</strong> avaliação (cf., Festas et al., 2006)<br />

14


MF/L/A 6 método<br />

PF/C/C 6 mica<br />

PF/C/A 6 faro<br />

PF/L/C 6 alfarroba<br />

PF/L/A 6 bravura<br />

1 MF/C/C: Muito Frequente/Curta/Concreto; MF/C/A: Muito Frequente/Curta/Abstracto; MF/L/C:<br />

Muito Frequente/Longa/Concreto; MF/L/A: Muito Frequente/Longa/Abstracto; PF/C/C: Pouco<br />

Frequente/Curta/Concreto; PF/C/A: Pouco Frequente/Curta/ Abstracto; PF/L/C: Pouco<br />

Frequente//Longa/Concreto; PF/L/A: Pouco Frequente//Longa/Abstracto<br />

Quadro 2<br />

Palavras Irregulares <strong>da</strong> PAL 22: Variáveis Psicolinguísticas, Número <strong>de</strong> Itens e Exemplos<br />

Variáveis Psicolinguísticas 1 Número <strong>de</strong> Itens Exemplos<br />

MF/C/C 6 táxi<br />

MF/C/A 6 pacto<br />

MF/L/C 6 arguido<br />

MF/L/A 6 convicção<br />

PF/C/C 6 néctar<br />

PF/C/A 6 flexão<br />

PF/L/C 6 axila<br />

PF/L/A 6 langui<strong>de</strong>z<br />

1 MF/C/C: Muito Frequente/Curta/Concreto; MF/C/A: Muito Frequente/Curta/Abstracto; MF/L/C:<br />

Muito Frequente/Longa/Concreto; MF/L/A: Muito Frequente/Longa/Abstracto; PF/C/C: Pouco<br />

Frequente/Curta/Concreto; PF/C/A: Pouco Frequente/Curta/ Abstracto; PF/L/C: Pouco<br />

Frequente//Longa/Concreto; PF/L/A: Pouco Frequente//Longa/Abstracto<br />

As pseudopalavras distribuem-se pelas quatro categorias acima apresenta<strong>da</strong>s:<br />

a) ortografia simples-fonologia simples, b) ortografia-simples-fonologia complexa, c)<br />

ortografia complexa-fonologia simples, e d) ortografia complexa-fonologia complexa<br />

(ver Quadro 3).<br />

Quadro 3<br />

Pseudopalavras <strong>da</strong> PAL 22: Categorias, Número <strong>de</strong> Itens e Exemplos<br />

Categorias Número <strong>de</strong> Itens Exemplos<br />

Ortografia Simples-Fonologia Simples 10 pafo<br />

Ortografia Simples-Fonologia Complexa 20 glafo<br />

Ortografia Complexa-Fonologia Simples 16 pudol<br />

Ortografia Complexa-Fonologia Complexa 5 glepal<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

No presente trabalho, abordámos a forma como se processa a avaliação <strong>da</strong><br />

compreensão escrita e <strong>da</strong> leitura num instrumento que estamos a a<strong>da</strong>ptar para a língua<br />

portuguesa – a PAL-PORT.<br />

Neste contexto, foi foca<strong>da</strong> a avaliação <strong>da</strong> leitura e a prova existente para esse<br />

efeito. Através <strong>da</strong> apresentação dos critérios a que obe<strong>de</strong>ceu a selecção dos seus itens,<br />

15


tentámos mostrar como a construção <strong>da</strong> prova se subordinou às especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong><br />

língua portuguesa, assim como aos objectivos que, com ela, nos propomos atingir,<br />

isto é, a avaliação dos diferentes tipos <strong>de</strong> dislexias apresenta<strong>da</strong>s por doentes afásicos.<br />

Parece-nos importante salientar que uma i<strong>de</strong>ia fun<strong>da</strong>mental <strong>de</strong>ste artigo é a <strong>de</strong><br />

que uma avaliação <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong>ve incluir um conjunto <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s<br />

que permitam uma análise fina <strong>de</strong>ssas mesmas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, bem como uma<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong> sua origem. Este propósito po<strong>de</strong> ser alcançado se a prova utiliza<strong>da</strong><br />

contemplar itens que avaliem as diferentes vias através <strong>da</strong>s quais se processa a leitura<br />

e, ain<strong>da</strong>, se existirem provas complementares que inci<strong>da</strong>m em aspectos igualmente<br />

<strong>de</strong>cisivos para o <strong>de</strong>sempenho do leitor. Referimo-nos, concretamente, a testes que<br />

discriminem se as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s se localizam nas primeiras fases do processo <strong>da</strong><br />

leitura, isto é, ao nível do acesso ao léxico-ortográfico ou do acesso léxico-semântico.<br />

Vimos como a PAL-PORT respon<strong>de</strong> a este objectivo, através <strong>de</strong> provas vocaciona<strong>da</strong>s<br />

para ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>stes processos. Uma avaliação <strong>de</strong>sta natureza só é possível porque a<br />

PAL-PORT se baseia num mo<strong>de</strong>lo cognitivo do funcionamento linguístico,<br />

especificando ca<strong>da</strong> um dos seus processos e representações.<br />

Consi<strong>de</strong>ramos que as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura só po<strong>de</strong>rão ser supera<strong>da</strong>s se o seu<br />

diagnóstico for fun<strong>da</strong>do num exame <strong>de</strong>talhado, tal como o que está previsto na<br />

PAL-PORT. Um programa educativo, para ser eficaz, <strong>de</strong>ve ter como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong><br />

uma análise fina dos problemas <strong>de</strong> leitura. Embora o presente artigo se tenha<br />

<strong>de</strong>bruçado sobre os distúrbios adquiridos, já que nos interessam particularmente as<br />

afasias, pensamos que o mo<strong>de</strong>lo seguido se po<strong>de</strong> aplicar a to<strong>da</strong>s as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

leitura, incluindo as <strong>de</strong>senvolvimentais, oferecendo, <strong>de</strong>sse modo, gran<strong>de</strong>s<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> intervenção educativa.<br />

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