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Monitoramento Tecnológico: desafios para ir além do P&D

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Resumo<br />

<strong>Monitoramento</strong> <strong>Tecnológico</strong>: <strong>desafios</strong> <strong>para</strong> <strong>ir</strong> <strong>além</strong> <strong>do</strong> P&D<br />

As meto<strong>do</strong>logias de monitoramento tecnológico – entendidas como uma seqüência de<br />

procedimentos que envolvem indica<strong>do</strong>res e software dedica<strong>do</strong>s a realizar mapeamentos <strong>do</strong>s<br />

esforços tecnológicos – baseiam-se, em grande parte, na análise de patentes e de artigos<br />

científicos. Entretanto, esse princípio, com exceção de algumas proxies, não apreende to<strong>do</strong> o<br />

entorno no qual estão envolvi<strong>do</strong>s os processos de inovação, incluin<strong>do</strong> fatores institucionais<br />

relaciona<strong>do</strong>s à regulação, ao financiamento à P&D, às estruturas de merca<strong>do</strong> ou mesmo aos<br />

impactos sociais, econômicos, entre outros.<br />

Acredita-se, na verdade, que informações sobre o entorno da inovação podem ser obtidas<br />

exploran<strong>do</strong> bases de da<strong>do</strong>s de notícias de negócios, notícias de divulgação científica e<br />

informações finance<strong>ir</strong>as de empresas, e mesmo por meio de buscas livres na Internet.<br />

Normalmente este procedimento é realiza<strong>do</strong> de forma manual e analisa<strong>do</strong> por especialistas,<br />

da<strong>do</strong> que em geral tratam-se de bases menos estruturadas que as fontes típicas de informação<br />

sobre patentes e artigos científicos.<br />

Neste artigo, pretende-se discut<strong>ir</strong> os <strong>desafios</strong> teóricos e práticos de estender o monitoramento<br />

tecnológico <strong>para</strong> captar informações importantes (e muitas vezes, fundamentais) <strong>do</strong> entorno<br />

institucional que condicionam as inovações. A abordagem é realizada a part<strong>ir</strong> da experiência<br />

de desenvolvimento de uma meto<strong>do</strong>logia de monitoramento tecnológico iniciada em 2002, sob<br />

encomenda de órgão governamental da área de CT&I. Em 2005 foi concluída a prime<strong>ir</strong>a etapa<br />

da meto<strong>do</strong>logia e, neste mesmo ano, foi iniciada uma nova fase com o objetivo de aperfeiçoar<br />

os instrumentos de monitoramento concebi<strong>do</strong>s e ampliar as possibilidades de adaptação ao<br />

contexto das mudanças tecnológicas.<br />

Como estu<strong>do</strong> de caso foi escolhi<strong>do</strong> o campo da genômica, que vem se tornan<strong>do</strong> uma das mais<br />

importantes áreas da biotecnologia moderna. Exemplo deste crescimento é o aumento<br />

significativo <strong>do</strong> número de depósitos de patentes nos principais países, refletin<strong>do</strong> a corrida de<br />

seqüenciamento de DNA que hoje pre<strong>do</strong>mina na pesquisa biotecnológica mundial, com<br />

reflexos no financiamento a C,T&I e nas estratégias de empresas que trabalham com essa<br />

temática. Como resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s podem ser citadas a identificação de fontes de da<strong>do</strong>s<br />

complementares (currículos, notícias da imprensa escrita especializada e não-especializada,<br />

páginas na Internet) e a construção de novos indica<strong>do</strong>res a part<strong>ir</strong> dessas fontes.<br />

Introdução<br />

O monitoramento tecnológico é uma ferramenta tradicional de prospecção tecnológica, que<br />

vem sen<strong>do</strong> desenvolvida desde a década de 1970. Acompanhan<strong>do</strong> a trajetória destas<br />

meto<strong>do</strong>logias de estu<strong>do</strong>s que procuram antecipar/constru<strong>ir</strong> os acontecimentos futuros 1 , é<br />

1 A prospecção possui duas importantes abordagens: forecasting, que surgiu prime<strong>ir</strong>o, e foresight, desenvolvida a<br />

part<strong>ir</strong> da década de 80. Na maior parte <strong>do</strong>s casos, acrescenta-se o adjetivo tecnológico em cada abordagem, pois a<br />

área tecnológica tem si<strong>do</strong> a de maior atuação de ambas as abordagens. Mais recentemente, há uma tendência de<br />

ampliação <strong>do</strong> escopo da prospecção <strong>para</strong> <strong>além</strong> <strong>do</strong> âmbito tecnológico (Johnston, 2002; Zackiewicz, 2003).<br />

1


possível perceber as diversas mudanças ocorridas. Se no início a meto<strong>do</strong>logia enfatizava a<br />

previsão de ciclo de vida de sistemas tecnológicos e <strong>do</strong>s produtos e procurava dar parâmetros<br />

<strong>para</strong> a tomada de decisão (na linha pre<strong>do</strong>minante <strong>do</strong> forecasting), a part<strong>ir</strong> <strong>do</strong>s anos 90 ela foi<br />

imbuída de análises bibliométricas e o foco foi altera<strong>do</strong> <strong>para</strong> mapeamentos mais amplos <strong>do</strong><br />

processo de inovação, com o intuito de se entender os desenvolvimentos de uma determinada<br />

área tecnológica (já na linha <strong>do</strong> foresight) (Carne<strong>ir</strong>o, 2004).<br />

É possível traçar um <strong>para</strong>lelo entre a mudança que aconteceu no campo da prospecção (<strong>do</strong><br />

forecasting <strong>para</strong> o foresight) com os desenvolvimentos na teoria econômica sobre o processo<br />

inovativo, com as contribuições da abordagem evolucionista, especialmente na mudança de<br />

conceituação da inovação e da f<strong>ir</strong>ma. A antecipação é um imperativo na sociedade moderna<br />

devi<strong>do</strong> à combinação de <strong>do</strong>is fatores principais: por um la<strong>do</strong>, a aceleração da mudança técnica,<br />

social e econômica, diante da qual as instituições necessitam de uma visão de longo prazo; por<br />

outro la<strong>do</strong>, a fatores de inércia inerentes às estruturas e comportamentos, o que implica plantar<br />

hoje as sementes da mudança <strong>para</strong> colhê-las amanhã (Godet, 1993, p.30). A inércia está<br />

atrelada às competências internas das f<strong>ir</strong>mas e à coerência corporativa, que se referem a uma<br />

interação complexa entre aprendiza<strong>do</strong>, path dependencies, oportunidades tecnológicas e ativos<br />

complementares (Dosi, Teece e Winter, 1992).<br />

Ao mesmo tempo, corporações e governos sofrem contínua pressão <strong>para</strong> antecipar e dar conta<br />

da d<strong>ir</strong>eção e da taxa da mudança técnica (Coates et al., 2001). Para poder se antecipar, a f<strong>ir</strong>ma<br />

necessita monitorar o ambiente, o que não está relaciona<strong>do</strong> apenas com o acesso e o<br />

processamento da informação, mas com rotinas internas de solução de problemas. Isto implica<br />

que o exercício de monitoramento, por exemplo, seja visto não apenas como varredura de<br />

informações, mais ou menos completa, mas que esteja integra<strong>do</strong> às rotinas de planejamento e<br />

de aprendiza<strong>do</strong> (Carne<strong>ir</strong>o, 2004).<br />

Para dar conta desta evolução <strong>do</strong> entendimento <strong>do</strong> processo da inovação, a meto<strong>do</strong>logia de<br />

monitoramento tem pela frente uma série de <strong>desafios</strong> teóricos e operacionais. Em geral, os<br />

exercícios de monitoramento utilizam artigos científicos e patentes como principais fontes de<br />

da<strong>do</strong>s, visto, por exemplo, que as informações disponíveis nas patentes auxiliam na<br />

identificação de mudanças tecnológicas e inovação (Andersen, 2004; Jaffe e Trajtenberg,<br />

2002). Entretanto, ao la<strong>do</strong> da utilização destas, é necessária a utilização de outras fontes de<br />

da<strong>do</strong>s que tragam informações sobre o entorno da inovação tecnológica (e de outros tipos de<br />

inovação) e a criação de novos indica<strong>do</strong>res de monitoramento que consigam <strong>ir</strong> <strong>além</strong> <strong>do</strong><br />

ambiente de pesquisa e desenvolvimento (P&D).<br />

Neste artigo, discutem-se exatamente os <strong>desafios</strong> de estender o monitoramento tecnológico<br />

<strong>para</strong> captar informações úteis <strong>do</strong> entorno institucional que condicionam as inovações. A<br />

discussão é realizada a part<strong>ir</strong> da experiência de desenvolvimento de meto<strong>do</strong>logia de<br />

monitoramento tecnológico iniciada em 2002, sob encomenda de órgão governamental da área<br />

de CT&I. Em 2005, ano de conclusão da prime<strong>ir</strong>a etapa <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, foi iniciada uma nova fase<br />

com o objetivo de aperfeiçoar os instrumentos de monitoramento concebi<strong>do</strong>s e ampliar as<br />

possibilidades de adaptação ao contexto das mudanças tecnológicas.<br />

Como estu<strong>do</strong> de caso foi escolhi<strong>do</strong> o campo da genômica, que vem se tornan<strong>do</strong> uma das mais<br />

importantes áreas da biotecnologia moderna. Verifica-se um expressivo crescimento <strong>do</strong><br />

número de depósitos de patentes nos principais países, refletin<strong>do</strong> a corrida de seqüenciamento<br />

de DNA que hoje pre<strong>do</strong>mina na pesquisa biotecnológica mundial com reflexos no<br />

2


financiamento à pesquisa e desenvolvimento e nas estratégias de ocupação de merca<strong>do</strong>s de<br />

empresas envolvidas com essa temática, e da qual o Brasil participa<strong>do</strong> de mane<strong>ir</strong>a<br />

significativa.<br />

O artigo está estrutura<strong>do</strong> da seguinte forma. No prime<strong>ir</strong>o capítulo são discuti<strong>do</strong>s os <strong>desafios</strong><br />

teóricos que envolvem o monitoramento e como estes ajudam a pensar a incursão pelo entorno<br />

institucional da inovação aqui proposta. No segun<strong>do</strong> são aborda<strong>do</strong>s os <strong>desafios</strong> operacionais<br />

aos quais se incorreu <strong>para</strong> se estabelecer a agregação de novas bases de da<strong>do</strong>s e a construção<br />

de novos indica<strong>do</strong>res. No terce<strong>ir</strong>o capítulo apresenta-se o exercício de monitoramento em<br />

biotecnologia. No último são apresenta<strong>do</strong>s alguns resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> trabalho <strong>para</strong> ilustrar como a<br />

meto<strong>do</strong>logia está lidan<strong>do</strong> com os <strong>desafios</strong> discuti<strong>do</strong>s nos itens 2 e 3. Seguem as conclusões e<br />

as referências bibliográficas.<br />

1. Desafios teóricos<br />

Pelo menos desde a década de 90, a meto<strong>do</strong>logia de monitoramento utiliza os instrumentos<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s pela bibliometria, que se baseia na contagem de publicações, patentes, citações<br />

<strong>para</strong> med<strong>ir</strong> e interpretar avanços científicos e tecnológicos. Tais análises assumem que a<br />

contagem de artigos científicos ou patentes produz indicações úteis da atividade de P&D e<br />

inovação, dependen<strong>do</strong> das fontes examinadas (Watts e Porter, 1997). Neste senti<strong>do</strong> foram<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res sobre as relações de interdisciplinaridade, colaboração entre autores<br />

e instituições e com<strong>para</strong>bilidade de diferentes sistemas de pesquisa. O Science Citation Index<br />

(SCI) 2 , por exemplo, permite análises estatísticas da literatura científica em grande escala (van<br />

Raan, 2004).<br />

Entretanto, a bibliometria apresenta alguns limites <strong>para</strong> a análise de monitoramento. Um<br />

destes é que, dependen<strong>do</strong> da área, o conhecimento não é difundi<strong>do</strong> amplamente pela via das<br />

patentes e <strong>do</strong>s artigos científicos, pois são utiliza<strong>do</strong>s mecanismos de proteção da propriedade<br />

intelectual que limitam a c<strong>ir</strong>culação <strong>do</strong> conhecimento, tais como o segre<strong>do</strong> de negócio. Além<br />

disso, as práticas de publicação variam muito dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> tipo de organização e deve<br />

também ser considera<strong>do</strong> o “atraso” entre o desenvolvimento da P&D e a subseqüente<br />

publicação de seus resulta<strong>do</strong>s (Watts e Porter, 1997).<br />

Diversos esforços têm si<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>s <strong>para</strong> lidar com os limites da bibliometria e desenvolver<br />

novas ferramentas baseadas nestas mesmas fontes e em outras fontes de da<strong>do</strong>s capazes de<br />

complementar e avançar as análises. Watts e Porter (1997) apontam que as limitações da<br />

bibliometria podem ser minimizadas pela busca de tendências gerais mais <strong>do</strong> que eventos<br />

específicos, e que é fundamental a utilização da opinião <strong>do</strong>s especialistas no entendimento <strong>do</strong>s<br />

resulta<strong>do</strong>s, o que é reforça<strong>do</strong> por Zhu e Porter (2002).<br />

Outros avanços têm si<strong>do</strong> obti<strong>do</strong>s, por um la<strong>do</strong>, pelos estu<strong>do</strong>s econométricos que tentam<br />

relacionar os esforços de P&D e patentes, seguin<strong>do</strong> a idéia desenvolvida originalmente por<br />

Griliches (1984) e, por outro la<strong>do</strong>, pelo o uso das citações nas patentes. As citações são usadas<br />

2 Science Citation Index (SCI ®) é um índice de citação produzi<strong>do</strong> pelo Institute for Scientific Information (ISI),<br />

da Thomson Scientific. A versão online cobre mais de 5.800 periódicos de ciência e tecnologia e permite<br />

pesquisar os artigos que citaram determina<strong>do</strong> artigo, autor ou assunto <strong>além</strong> de identificar os artigos mais cita<strong>do</strong>s.<br />

3


<strong>para</strong> traçar os fluxos <strong>do</strong> conhecimento (seja de um inventor <strong>para</strong> outro, seja a geografia <strong>do</strong>s<br />

spillovers de conhecimento) e <strong>para</strong> caracterizar o impacto econômico e tecnológico de uma<br />

invenção (Jaffe e Trajtenberg, 2002).<br />

É sabi<strong>do</strong> que as invenções patenteadas não correspondem necessariamente a inovações, pois<br />

uma inovação de produto pode envolver várias patentes. Além disso, as invenções patenteadas<br />

geralmente não estão no formato “comercializável”, sen<strong>do</strong> necessários desenvolvimentos<br />

(tecnológicos, organizacionais, de marketing, entre outros) <strong>para</strong> que se transformem em<br />

inovações de produto ou processo, ou seja, que se transformem em produtos/processos<br />

introduzi<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong>. Isto fica claro na nova definição de inovação <strong>do</strong> Manual de Oslo,<br />

que considera inovação a implementação de um produto novo ou significativamente<br />

melhora<strong>do</strong> (bem ou serviço) ou processo, um novo méto<strong>do</strong> de merca<strong>do</strong> – marketing, ou um<br />

novo méto<strong>do</strong> organizacional, nas práticas de negócios, organização <strong>do</strong> local de trabalho ou<br />

relações externas <strong>para</strong> a empresa. Assim, um aspecto comum das inovações é que elas<br />

precisam ser implementadas (OECD/EUROSTAT, 2005).<br />

Em conseqüência disto, é preciso criar mecanismos <strong>para</strong> diferenciar as patentes no processo de<br />

análise de monitoramento e assim eliminar os ruí<strong>do</strong>s e também perceber melhor os chama<strong>do</strong>s<br />

“sinais fracos”. Nesta linha, Trajtenberg (2002) criou uma meto<strong>do</strong>logia <strong>para</strong> dar pesos<br />

diferencia<strong>do</strong>s <strong>para</strong> as patentes de acor<strong>do</strong> com a contagem de citações recebidas, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

pressuposto de que as citações são altamente correlacionadas com o benefício social gera<strong>do</strong><br />

pelas inovações. Desta forma, o número de citações é toma<strong>do</strong> como um indicativo da<br />

importância da patente, o que pode ser usa<strong>do</strong> como um mecanismo interno de validação na<br />

análise de patentes. O autor indica que podem também ser usa<strong>do</strong>s mecanismos externos de<br />

validação da importância das patentes, como valor de merca<strong>do</strong> das empresas.<br />

Fazen<strong>do</strong> outro <strong>para</strong>lelo entre a evolução <strong>do</strong> campo da prospecção e <strong>do</strong> avanço teórico sobre a<br />

inovação, é interessante notar que as ferramentas de monitoramento têm avança<strong>do</strong> partin<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

foco na tecnologia (monitoramento tecnológico) <strong>para</strong> o entorno da produção de tecnologia<br />

(marketing, comercialização, organização etc.) e <strong>para</strong> o entorno institucional (regulação,<br />

legislação, financiamento etc.), de forma semelhante ao que ocorreu no conceito de inovação<br />

<strong>do</strong> Manual de Oslo apresenta<strong>do</strong> acima.<br />

O monitoramento na área de genômica, estu<strong>do</strong> de caso apresenta<strong>do</strong> neste artigo, não enfrenta<br />

as limitações referentes à escassez de patentes e artigos, pois trata-se de uma área que utiliza<br />

amplamente estes <strong>do</strong>is instrumentos de difusão e de proteção <strong>do</strong> conhecimento. Por exemplo,<br />

Lage (2004) identificou um aumento significativo da pesquisa genômica e das patentes<br />

correspondentes na década de 2000 refletin<strong>do</strong> principalmente, segun<strong>do</strong> o autor, o crescimento<br />

<strong>do</strong> interesse pelo sequenciamento de genes. Além disso, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> país, é possível<br />

também utilizar outros tipos de registros como os certifica<strong>do</strong>s de proteção de cultivar 3 .<br />

3 A regulação da propriedade intelectual varia de acor<strong>do</strong> com o país. Por exemplo, pelo Acor<strong>do</strong> sobre Aspectos<br />

de Propriedade Intelectual Relaciona<strong>do</strong>s com o Comércio (TRIPs), as plantas geneticamente modificadas são<br />

passíveis de proteção via patentes, desde que observa<strong>do</strong>s os requisitos de novidade, atividade inventiva, não<br />

obviedade e descrição <strong>do</strong> invento. Já a Lei de Propriedade Industrial brasile<strong>ir</strong>a coloca como não patenteável “to<strong>do</strong><br />

ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontra<strong>do</strong>s na natureza, ou ainda que dela isola<strong>do</strong>s,<br />

inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais (LPI artigo<br />

10º, inciso IX). Assim, as seqüências genéticas foram excluídas de patenteamento, sen<strong>do</strong> que os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

esforços de engenharia genética podem ser apropria<strong>do</strong>s via proteção de cultivares. É interessante notar a<br />

diferença de proteção <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is instrumentos, pois a LPI protege as idéias e a Lei de Proteção de Cultivares (LPC),<br />

produtos (Salles-Filho e Yamamura, 2005).<br />

4


Em resumo, como menciona<strong>do</strong>, os <strong>desafios</strong> teóricos <strong>do</strong> desenvolvimento da meto<strong>do</strong>logia de<br />

monitoramento <strong>para</strong> a área de biotecnologia passam, por um la<strong>do</strong>, pela construção de<br />

indica<strong>do</strong>res <strong>para</strong> lidar com novos aspectos das bases tradicionais e, por outro la<strong>do</strong>, pela<br />

utilização de novas bases de da<strong>do</strong>s que tragam informações sobre o entorno <strong>do</strong> processo de<br />

inovação.<br />

Inicialmente, a preocupação <strong>do</strong> projeto em tela foi a de compreender e avançar a discussão em<br />

relação aos chama<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res de contexto institucional, ou seja, aqueles que abrangem o<br />

contexto e os aspectos institucionais da inovação, incluin<strong>do</strong>, como coloca<strong>do</strong> acima, os<br />

relaciona<strong>do</strong>s à regulação, financiamento, competição entre tecnologias, aspectos de merca<strong>do</strong>,<br />

impactos sociais, localização geográfica e concentração setorial da atividade econômica, entre<br />

outros possíveis (Watts e Porter, 2003). Alguns destes indica<strong>do</strong>res são discuti<strong>do</strong>s no terce<strong>ir</strong>o<br />

capítulo deste artigo.<br />

Outras experiências, como o projeto Dynamo 4 (Butter e Mook, 2004), relatam a montagem de<br />

bases de da<strong>do</strong>s mais amplas <strong>para</strong> uso de agências <strong>do</strong> governo, como parte de um processo de<br />

foresight a fim de ganhar uma visão melhor <strong>do</strong>s relevantes desenvolvimentos inovativos<br />

nacionais e internacionais. Tais bases usam diferentes fontes como insumo: análise de estu<strong>do</strong>s<br />

de foresight, programas de pesquisa nacionais e internacionais e atividades individuais de<br />

C&T. Esta experiência utiliza apenas bases de da<strong>do</strong>s estruturadas e validadas, não optan<strong>do</strong><br />

pelo uso de bases de da<strong>do</strong>s não estruturadas e que não podem ser verificadas, como notícias de<br />

jornais e buscas na Internet. Esta última até é usada <strong>para</strong> refinar os da<strong>do</strong>s existentes, mas como<br />

fonte. Os da<strong>do</strong>s incluí<strong>do</strong>s são avalia<strong>do</strong>s periodicamente, de mane<strong>ir</strong>a que a qualidade da<br />

informação é assegurada. Também a evolução das inovações futuras é monitorada,<br />

possibilitan<strong>do</strong> análises históricas.<br />

No caso em questão, optou-se exatamente pela utilização de bases não estruturadas, o que<br />

representa um desafio operacional importante, pois procura-se extra<strong>ir</strong> informações <strong>além</strong> das<br />

d<strong>ir</strong>etamente envolvidas com as atividades e resulta<strong>do</strong>s da P&D, amplian<strong>do</strong> o escopo da análise<br />

e da reflexão.<br />

2. Desafios operacionais<br />

Os <strong>desafios</strong> operacionais coloca<strong>do</strong>s visan<strong>do</strong> aprofundar os resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s na fase<br />

anterior <strong>do</strong> projeto de pesquisa, efetuada entre 2002-2005, estão relaciona<strong>do</strong>s com a ampliação<br />

<strong>do</strong> universo de busca, incluin<strong>do</strong> novas fontes como base de informação, e a construção de<br />

novos indica<strong>do</strong>res e aperfeiçoamento <strong>do</strong>s construí<strong>do</strong>s anteriormente.<br />

2.1. Agregação de novas bases de da<strong>do</strong>s<br />

O objetivo de obter informações sobre o entorno institucional das atividades inovativas de<br />

biotecnologia apontou a necessidade de incorporar outras fontes de informação, não<br />

necessariamente relacionadas à produção científica ou à propriedade intelectual. O esforço<br />

inicial concentrou-se em selecionar bases que pudessem fornecer informações adicionais<br />

àquelas relacionadas com atividades da biotecnologia dentro da comunidade científica ou<br />

4 O objetivo geral deste projeto era o de identificar o potencial da tecnologia <strong>para</strong> resolver os persistentes<br />

problemas ambientais, incluin<strong>do</strong> a necessidade de políticas. Para gerenciar a informação, as bases de da<strong>do</strong>s foram<br />

desenvolvidas unin<strong>do</strong> sistemas tecnológicos aos persistentes problemas ambientais.<br />

5


empresarial, captan<strong>do</strong> o contexto da opinião pública e de como a sociedade brasile<strong>ir</strong>a se<br />

relaciona com assuntos polêmicos como os transgênicos. Além disso, optou-se por fontes que<br />

tivessem no seu sistema a possibilidade de buscar informações ao longo <strong>do</strong>s anos com algum<br />

nível de estruturação. Foram avaliadas as seguintes fontes:<br />

• Notícias de jornal de c<strong>ir</strong>culação diária, sem enfoque específico, como Folha de São<br />

Paulo e Esta<strong>do</strong> de São Paulo;<br />

• Notícias de jornal de c<strong>ir</strong>culação diária, com enfoque econômico, como Valor<br />

Econômico;<br />

• Notícias de revista de divulgação científica, como Revista Pesquisa Fapesp;<br />

• Bases que reúnem notícias de negócios, como Google News 5 e ISI Emerging Market<br />

Information Service (EMIS) 6 ;<br />

• Base de grupos de pesquisa e currículos de pesquisa<strong>do</strong>res e estudantes da Plataforma<br />

Lattes <strong>do</strong> CNPq.<br />

A ampliação <strong>do</strong> universo das bases de da<strong>do</strong>s, com a inclusão de bases de notícias, menos<br />

estruturadas que as de patentes e artigos, acrescentou alguns <strong>desafios</strong> operacionais ao projeto,<br />

como criar formas de extra<strong>ir</strong> informação relevante de uma grande quantidade de informações<br />

já que a informação se encontra dispersa. Estes <strong>desafios</strong> podem ser evita<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> se opta<br />

por utilizar bases estruturadas de notícias, como os serviços da EMIS, que englobam<br />

informações previamente tratadas de diversos periódicos. Entretanto, o acesso a estas bases<br />

não é gratuito, pois fornecem um tipo de serviço diferencia<strong>do</strong>. A forma encontrada <strong>para</strong> lidar<br />

com estes <strong>desafios</strong> envolve a utilização de ferramentas de mineração de texto, detalhada a<br />

segu<strong>ir</strong>.<br />

No caso <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da Plataforma Lattes, o grande problema refere-se ao preenchimento das<br />

informações, que gera problemas de consistência. É uma situação diferente da Web of Science<br />

e da base de patentes, nas quais as informações são preenchidas por um número grande de<br />

pessoas (os autores, inventores, advoga<strong>do</strong>s etc.), mas são revisadas <strong>para</strong> enquadramento em<br />

padrões. No caso das bases de Currículos e de Grupos, cujo preenchimento é feito pelos<br />

próprios pesquisa<strong>do</strong>res, <strong>além</strong> de não haver uma revisão, não há instruções de fácil acesso que<br />

expliquem o objetivo de cada campo <strong>do</strong>s currículos das pessoas e <strong>do</strong>s grupos, o que gera<br />

sérios problemas de padronização. Isto dificulta o preenchimento, <strong>além</strong> de criar<br />

inconsistências na base e muitos campos com baixo índice de preenchimento. Todas essas<br />

informações não passam por uma verificação de terce<strong>ir</strong>os prejudican<strong>do</strong> ainda mais a<br />

padronização dessa base.<br />

Além destes problemas, há outros relaciona<strong>do</strong>s com a atualização <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s. Um exemplo é a<br />

base de da<strong>do</strong>s montada com os registros <strong>do</strong> D<strong>ir</strong>etório de Grupos, que é formada por apenas<br />

cerca de 10% da Base Corrente, pois a grande maioria <strong>do</strong>s grupos na base <strong>do</strong> projeto veio <strong>do</strong>s<br />

Censos de 2000, 2002 e 2004, o que significa que muitos já podem ter se extingui<strong>do</strong>. Ou seja,<br />

a maioria <strong>do</strong>s grupos não atualizou os da<strong>do</strong>s na base <strong>do</strong> CNPq ou deixou de exist<strong>ir</strong>, o que leva<br />

a um questionamento a respeito <strong>do</strong> grau de confiança <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Lattes <strong>para</strong> uma análise de<br />

competências em biotecnologia no país.<br />

5 http://news.google.com.br/<br />

6 http://www.securities.com/<br />

6


As dificuldades encontradas são intrínsecas à construção de uma meto<strong>do</strong>logia de<br />

monitoramento que tenta alcançar diversos aspectos de um determina<strong>do</strong> campo, como a<br />

produção científica, propriedade intelectual, opinião pública, competências e outros aspectos<br />

que perpassam por essas fontes analisadas. O grande passo é ter a percepção dessas<br />

dificuldades e focar esforços no intuito de entendê-los e transpô-los por meio de sua<br />

integração na meto<strong>do</strong>logia.<br />

2.2. Construção de novos indica<strong>do</strong>res<br />

2.2.1. Indica<strong>do</strong>res de Rede<br />

A inclusão de indica<strong>do</strong>res de rede nas análises das bases veio da necessidade de se mensurar a<br />

colaboração científica entre os atores sociais que produzem ciência e difundem seus resulta<strong>do</strong>s<br />

por meio de artigos científicos e/ou se apropriam da tecnologia via proteção de patentes e<br />

combinações e interrelações entre estas entidades (ciência e tecnologia de um la<strong>do</strong> e artigos e<br />

patentes de outro). A criação de indica<strong>do</strong>res deste tipo no projeto deu-se a part<strong>ir</strong> da revisão da<br />

literatura sobre colaboração científica (Dal Poz, 2006; Glanzël e Schubert, 2004; Oberski,<br />

1988; Franklin e Johnson, 1988; Bor<strong>do</strong>ns et al., 2004).<br />

Foram cria<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res relativos à co-autoria e co-citação. Os indica<strong>do</strong>res de rede por coautoria,<br />

explicita<strong>do</strong>s em Glanzël e Schubert (2004), mostram-se adequa<strong>do</strong>s por representar<br />

uma das mais tangíveis e bem <strong>do</strong>cumentadas formas de colaboração científica e tecnológica,<br />

esta última de forma menos acentuada 7 . A co-autoria é um fenômeno crescente, caracterizan<strong>do</strong><br />

um processo de mudança na pesquisa científica, já que a colaboração influencia d<strong>ir</strong>etamente<br />

nas atividades, produtividade e impacto de pesquisas, mas deve atuar de forma conjunta com<br />

outras análises de monitoramento de insumos e resulta<strong>do</strong>s <strong>para</strong> entender a real relação entre o<br />

processo científico e a formação de redes colaborativas. A co-autoria é analisada <strong>para</strong> artigos<br />

por meio das instituições autoras e <strong>para</strong> patentes por meio da instituição detentora da patente.<br />

Outro indica<strong>do</strong>r de rede aprofunda<strong>do</strong> foi a co-citação, defini<strong>do</strong> pela citação de duas<br />

publicações numa terce<strong>ir</strong>a, garantin<strong>do</strong> um grau de consenso sobre a existência de uma conexão<br />

entre as duas publicações, mesmo que sejam teorias conflitantes. Segun<strong>do</strong> Franklin e Johnson<br />

(1988), a análise de co-citação fornece a descrição <strong>do</strong> “front” da pesquisa internacional, <strong>além</strong><br />

de detectar padrões de colaboração internacional ou nacional. A análise de co-citação a part<strong>ir</strong><br />

de artigos científicos é facilitada por meio de um campo específico existente na base da Web<br />

of Science que indica quantas vezes um artigo foi cita<strong>do</strong>. Já a análise das co-citações de<br />

patentes, embora seja tão esclarece<strong>do</strong>ra e interessante <strong>para</strong> identificar fluxo de conhecimento e<br />

colaborações, dentre outros aspectos, exige a construção deste indica<strong>do</strong>r já que as bases de<br />

patentes não disponibilizam esta informação.<br />

O indica<strong>do</strong>r conta a freqüência de pares co-cita<strong>do</strong>s nas referências e a part<strong>ir</strong> da ligação desses<br />

pares co-cita<strong>do</strong>s é possível formar cluster de literaturas, conectan<strong>do</strong>-os de mane<strong>ir</strong>a hierárquica,<br />

definin<strong>do</strong> campos e subcampos, dentro de um recorte escolhi<strong>do</strong> de literatura. Há algumas<br />

limitações, como a questão de que os da<strong>do</strong>s da literatura científica provenientes de periódicos<br />

são mo<strong>do</strong>s formais e restritos de comunicação e são desconsideradas as pesquisas com baixo<br />

7 Há críticas na literatura sobre o fato de grande parte de pessoas envolvidas na pre<strong>para</strong>ção de um artigo ou<br />

patentes não aparecem nem como co-autor ou sub-autor (Glanzël e Schubert , 2004).<br />

7


consenso de referências. O indica<strong>do</strong>r de co-citação não descreve toda a pesquisa relacionada<br />

com áreas-alvo, mas ajuda a localizar estas áreas.<br />

2.2.2. Qualidade da Informação e Similaridades<br />

A fim de minimizar o problema de falta de estruturação das bases de da<strong>do</strong>s foram estudadas<br />

técnicas de qualificação de certas características destas. A técnica escolhida consiste na<br />

avaliação de critérios chama<strong>do</strong>s Critérios de Qualidade da Informação (QI), que não tratam<br />

apenas de qualificar a informação contida em uma base de da<strong>do</strong>s, mas também de melhorar a<br />

qualidade da base – por meio de técnicas de limpeza - e a qualidade da avaliação – por meio<br />

de seleção da informação dentro da base.<br />

A base <strong>para</strong> o desenvolvimento destas técnicas foram os trabalhos de Naumann (2001 e 2002).<br />

Alguns critérios foram, então, seleciona<strong>do</strong>s, adapta<strong>do</strong>s e computacionalmente implementa<strong>do</strong>s<br />

de acor<strong>do</strong> com as necessidades <strong>do</strong> projeto. Abaixo é feita uma breve descrição destes critérios.<br />

Como o prime<strong>ir</strong>o critério é o que requer maior esforço computacional será descrito mais<br />

detalhadamente.<br />

• Precisão: este critério é da<strong>do</strong> pelo cociente entre o número de valores corretos na fonte e o<br />

número total de valores na fonte. Por valor correto entendemos uma notícia ou um grupo<br />

de pesquisa que realmente estejam relaciona<strong>do</strong>s com o assunto de interesse. Como é<br />

impraticável a avaliação manual de cada valor foi desenvolvida uma ferramenta, chamada<br />

Similaridade, que trata de classificar cada valor como pertencente ao grupo de interesse ou<br />

não. A classificação é feita a part<strong>ir</strong> da contagem das freqüências das palavras <strong>do</strong> texto. A<br />

freqüência relativa de cada palavra <strong>do</strong> texto é então com<strong>para</strong>da com a freqüência relativa<br />

dessa palavra em cada grupo, fornecen<strong>do</strong> uma “distância” entre texto e grupos. Essa<br />

distância é depois ponderada de acor<strong>do</strong> com as palavras que ocorrem em um grupo e não<br />

ocorrem em um texto. Se uma palavra que ocorre muito em um grupo não aparece no<br />

texto, a ponderação faz com que a similaridade entre texto e grupo diminua. O mesmo<br />

ocorre quan<strong>do</strong> muitas palavras menos freqüentes em um grupo não aparecem em um texto.<br />

A similaridade assume valores entre 0 e 1 (sen<strong>do</strong> 1 a similaridade entre um texto e ele<br />

mesmo) e é simétrica (a similaridade entre A e B é a mesma que entre B e A).<br />

• Densidade: é o cociente entre o número de valores (itens) não nulos em uma base e o total<br />

de valores desse conjunto. Com esse indica<strong>do</strong>r conseguimos selecionar, por exemplo,<br />

campos <strong>do</strong> CV Lattes onde não se pode fazer inferência, pois poucas pessoas o preenchem.<br />

• Relevância: o valor desse indica<strong>do</strong>r é da<strong>do</strong> pelo número de <strong>do</strong>cumentos que possuem as<br />

palavras da query freqüentemente e/ou em posição proeminente no <strong>do</strong>cumento depois da<br />

limpeza da base.<br />

• Atualização: é a idade da informação. No caso <strong>do</strong> CV Lattes seria a data entre a última<br />

atualização <strong>do</strong> CV pelo autor e a data da coleta <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s.<br />

• Credibilidade: grau com o qual a informação é aceita como correta pelo usuário. A<br />

avaliação da credibilidade de uma fonte é feita com a ajuda de especialistas da área de<br />

interesse.<br />

• Objetividade: grau com o qual a informação é não viciada e imparcial. Essa análise<br />

também é feita com a ajuda de especialistas.<br />

8


• Reputação: grau com o qual a informação e sua fonte estão bem colocadas. Essa análise é<br />

feita por especialistas no assunto de interesse.<br />

• Quantidade de da<strong>do</strong>s: é o tamanho da sua base antes da limpeza. É certo que quanto maior<br />

for sua base mais cara (computacionalmente e em termos de tempo) será a limpeza dela,<br />

mas a probabilidade de se encontrar os melhores <strong>do</strong>cumentos de um assunto aumenta<br />

proporcionalmente ao tamanho da base. Deve-se então encontrar um ponto ótimo entre<br />

tamanho e custo.<br />

• Consistência: grau com o qual a estrutura da informação está conforme com informações<br />

retornadas anteriormente. Na base Lattes, por exemplo, existem campos onde cada pessoa<br />

coloca um tipo de informação. Esses campos têm baixa consistência e, assim como os com<br />

baixa densidade, não devem ser usa<strong>do</strong>s <strong>para</strong> fazer inferência.<br />

Como visto, os <strong>desafios</strong> são de diferentes naturezas, mas enfrentá-los pode contribu<strong>ir</strong> <strong>para</strong> a<br />

superação não somente das limitações operacionais, mas também <strong>para</strong> o avanço das discussões<br />

de cunho teórico-conceituais no que respeita os estu<strong>do</strong>s de futuro.<br />

3. Enfrentan<strong>do</strong> os <strong>desafios</strong><br />

Este capítulo tem por objetivo ilustrar como o projeto de aperfeiçoamento da meto<strong>do</strong>logia de<br />

monitoramento está lidan<strong>do</strong> com os <strong>desafios</strong> aponta<strong>do</strong>s acima. Este projeto, que vem sen<strong>do</strong><br />

desenvolvi<strong>do</strong> por um grupo de pesquisa (com atuação na área de inovação, planejamento e<br />

prospecção), tem como objetivo principal aperfeiçoar meto<strong>do</strong>logia de monitoramento de<br />

atividades de ciência, tecnologia e inovação relacionadas à moderna biotecnologia, a part<strong>ir</strong> de<br />

demanda <strong>do</strong> Ministério da Ciência e Tecnologia.<br />

Depois de levantamento de bibliografia, leitura e discussões foram selecionadas as seguintes<br />

bases de da<strong>do</strong>s <strong>para</strong> o desenvolvimento <strong>do</strong>s trabalhos, quais sejam: notícias <strong>do</strong> Jornal Valor<br />

Econômico e da Revista Pesquisa Fapesp, patentes <strong>do</strong> United States Patent and Trademark<br />

Office (USPTO), artigos científicos da base Web of Science e currículos de pessoas e de<br />

grupos da Plataforma Lattes <strong>do</strong> CNPq.<br />

Para testar os indica<strong>do</strong>res que estão sen<strong>do</strong> cria<strong>do</strong>s e aperfeiçoa<strong>do</strong>s, escolheu-se realizar um<br />

diagnóstico-teste com o tema genômica. Esta área foi escolhida ten<strong>do</strong> em vista que se tornou<br />

uma das mais importantes áreas da biotecnologia moderna. As patentes em genômica, por<br />

exemplo, têm cresci<strong>do</strong> significativamente em número de depósitos nos principais escritórios<br />

de patentes, refletin<strong>do</strong> a corrida pelo seqüenciamento de DNA que hoje pre<strong>do</strong>mina na pesquisa<br />

biotecnológica mundial. O Brasil vem se destacan<strong>do</strong> dentre os países que mais seqüenciam<br />

DNA 8 .<br />

Atualmente, a legislação brasile<strong>ir</strong>a de patentes (Lei 9279/96) não permite a apropriação<br />

industrial de genes naturais, ainda que isola<strong>do</strong>s da natureza, embora permita que qualquer<br />

processo ou produto utilizan<strong>do</strong> genes seja patentea<strong>do</strong>, desde que atenda aos requisitos de<br />

patenteabilidade (novidade, atividade inventiva e aplicação industrial). A não patenteabilidade<br />

8 Neste senti<strong>do</strong>, podem ser cita<strong>do</strong>s os projetos como o da Xyllela, <strong>do</strong> Genoma Humano <strong>do</strong> Câncer, da cana-deaçúcar,<br />

da bactéria Xanthomonas citri causa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> cancro cítrico, da bactéria Chromobacterium violaceum que<br />

produz compostos que podem ser emprega<strong>do</strong>s no tratamento de algumas <strong>do</strong>enças, <strong>do</strong> vírus Mycoplasma synoviae<br />

que ataca bovinos, <strong>do</strong> guaraná, dentre outros.<br />

9


de genes naturais tem si<strong>do</strong> questionada, tanto nos países que a reconhecem quanto no Brasil.<br />

Nesse contexto, é de alta relevância a aquisição de da<strong>do</strong>s que s<strong>ir</strong>vam de referência <strong>para</strong> se<br />

interpretar uma determinada trajetória tecnológica e <strong>para</strong> futuras tomadas de decisões no<br />

campo técnico-científico, institucional, <strong>do</strong> financiamento público e priva<strong>do</strong> das inovações,<br />

entre outros (Lage, 2004).<br />

Com a ajuda de especialistas foram seleciona<strong>do</strong>s termos relaciona<strong>do</strong>s a transgênicos e a<br />

organismos geneticamente modifica<strong>do</strong>s, da<strong>do</strong> que as tecnologias mais difundidas em<br />

genômica animal e vegetal estão focadas nesta temática. As queries foram construídas <strong>para</strong><br />

cada base, consideran<strong>do</strong>-se os campos específicos, a língua e a sua natureza. A título de<br />

exemplo, a query elaborada <strong>para</strong> busca nas duas fontes de notícias foi: (“transgênico(a)” ou<br />

“transgenia” ou “transgenicos (as)” ou “ogm” ou “engenharia metabolica” ou “tecnologia(s)<br />

<strong>do</strong> dna recombinante” ou “técnica(s) <strong>do</strong> dna recombinante” ou “geneticamente modifica<strong>do</strong>(a)”<br />

ou “transgenes” ou “pos-genomica” ou “proteomica” ou “anotação genomica” ou “anotação<br />

genica”), <strong>para</strong> o perío<strong>do</strong> de 2001 a 2006. Os resulta<strong>do</strong>s das buscas são apresenta<strong>do</strong>s no Quadro<br />

1.<br />

Quadro 1 – Número de registros das bases de da<strong>do</strong>s construídas no projeto (2000 a 2006)<br />

Base Número de registros<br />

Notícias <strong>do</strong> Jornal Valor Econômico e da Revista 171 notícias da Revista Pesquisa<br />

Pesquisa Fapesp<br />

FAPESP<br />

1.682 notícias <strong>do</strong> Valor Econômico<br />

Base de Artigos científicos – Web of Science 36.449 artigos<br />

Base de Patentes – USPTO 2.288 patentes concedidas<br />

9.278 patentes depositadas*<br />

Base de Currículos de pessoas e grupos – 26.254 currículos de pessoas<br />

Plataforma Lattes <strong>do</strong> CNPq<br />

1.846 currículos de grupos<br />

Fonte: Elaboração própria a part<strong>ir</strong> <strong>do</strong>s sites das bases de da<strong>do</strong>s.<br />

Nota: * Patentes que foram depositadas e encontram-se em fase de análise, já ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> publicadas devi<strong>do</strong> ao<br />

término <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de confidencialidade.<br />

Para ilustrar as soluções encontradas <strong>para</strong> lidar com os <strong>desafios</strong> teóricos e operacionais <strong>do</strong><br />

monitoramento tecnológico, descritos nos capítulos 1 e 2, abaixo apresenta-se um exemplo <strong>do</strong><br />

diagnóstico-teste relativo às instituições que atuam com o tema transgênicos no cenário<br />

brasile<strong>ir</strong>o. Para isso, partiu-se de uma análise da base de notícias <strong>para</strong> detectar as instituições<br />

que, por vários motivos, têm maior visibilidade nesta área no país<br />

Utilizan<strong>do</strong> a base de notícias, foi gerada a freqüência de todas as palavras que compõem essas<br />

notícias (171 da Revista Pesquisa Fapesp e 1.682 <strong>do</strong> Jornal Valor Econômico). A lista de<br />

palavras foi varrida em busca <strong>do</strong> nome de empresas e outras instituições de pesquisa, sen<strong>do</strong> os<br />

resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s na Tabela 1.<br />

Percebe-se, numa análise mesmo que superficial, que se trata de empresas com atuação na área<br />

agrícola, mas que trabalham também em outros segmentos econômicos – como é o caso da<br />

Basf, Bayer, Du Pont e da Votorantim. Há, por sua vez, importantes empresas atuantes no<br />

merca<strong>do</strong> de sementes, como Monsanto, Syngenta, Pionner, dentre as multinacionais, e a<br />

Embrapa – a maior instituição de pesquisa em agricultura tropical – e a Alellyx, pequena<br />

empresa de biotecnologia, <strong>do</strong> Grupo Votorantim. Não é de se estranhar que justamente a<br />

Monsanto, Embrapa e Syngenta apareçam nos prime<strong>ir</strong>os postos quan<strong>do</strong> deste tipo de<br />

levantamento.<br />

10


Tabela 1 – Freqüência de citações e de notícias<br />

Empresa Freqüência de citação* Frequência de notícias**<br />

Monsanto 939 393<br />

Embrapa 403 215<br />

Syngenta 177 82<br />

Bayer 165 63<br />

Maggi 68 42<br />

Cargill 64 35<br />

Votorantim 52 26<br />

Pioneer 47 24<br />

Du Pont 47 22<br />

Alellyx 40 22<br />

Aventis 38 21<br />

Basf 36 10<br />

Delta & Pine 29 4<br />

Fontes: Elaboração própria a part<strong>ir</strong> <strong>do</strong> Jornal Valor Econômico e da Revista Pesquisa Fapesp.<br />

Notas: * Frequência total de citações da empresa no conjunto de notícias; ** Frequência de notícias nas quais a<br />

empresa é citada<br />

Embora o exercício de monitoramento não tenha visa<strong>do</strong> especificamente a área agrícola, pois<br />

há aplicações de genômica utilizan<strong>do</strong> transgênicos também na área de saúde, esta é área <strong>do</strong>s<br />

transgênicos mais desenvolvida no país, seja em termos de pesquisa quanto de<br />

comercialização. O assunto mais freqüente nas notícias de um mo<strong>do</strong> geral versam sobre a soja<br />

transgênica, principalmente sobre a legalização e os problemas no Porto de Paranaguá<br />

(Paraná), mas também sobre importação e exportação de sementes. Existem muitas<br />

reportagens sobre a discussão ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s transgênicos, se devem ou não ser permiti<strong>do</strong>s, <strong>além</strong><br />

da discussão em torno de Medidas Provisórias e <strong>do</strong> Conselho de Biossegurança (CTNBio) e<br />

das normas de rotulagem e suas polêmicas no Brasil e Europa.<br />

Analisan<strong>do</strong> as notícias que citam a Embrapa <strong>para</strong> entender melhor a importância dessa<br />

empresa no contexto da genômica no Brasil percebe-se que seu nome esta atrela<strong>do</strong> à pesquisa<br />

nacional em transgênicos, d<strong>ir</strong>ecionada <strong>para</strong> agricultura, como era de se esperar. Um <strong>do</strong>s<br />

principais produtos das pesquisas é a soja, mas são muitas as culturas com as quais a<br />

instituição trabalha (aparecem termos na frequência de palavras como feijão, milho, algodão,<br />

trigo ...). Algumas notícias destacam o acor<strong>do</strong> entre a Embrapa e a Monsanto, e outras estão<br />

vinculadas à discussão sobre regulação e biossegurança, mostran<strong>do</strong> a Embrapa como um nome<br />

de prestígio <strong>para</strong> respaldar assuntos polêmicos como a produção de transgênicos em território<br />

nacional.<br />

Agregaram-se, posteriormente, informações advindas das outras bases de da<strong>do</strong>s apresentadas<br />

no Quadro 1 sobre estas empresas: artigos científicos e tecnológicos (Web of Science) e<br />

patentes concedidas e depositadas (USPTO). Foram geradas duas informações <strong>para</strong> cada base:<br />

o número de artigos e patentes de autoria/propriedade destas empresas e o número de vezes<br />

em que estas empresas são citadas em artigos e patentes (delas mesmas ou de outras<br />

instituições). O resulta<strong>do</strong> pode ser visto na Tabela 2.<br />

11


Tabela 2 – Número de artigos e patentes concedidas das empresas e que citam as empresas (2000-2006)<br />

Multinacionais<br />

Nacionais<br />

Empresa nº Artigos das empresas nº Artigos que citam o<br />

nome das empresas em<br />

seu conteú<strong>do</strong><br />

nº Patentes concedidas<br />

das empresas<br />

nº Patentes concedidas<br />

que citam o nome das<br />

empresas em seu<br />

conteú<strong>do</strong><br />

Monsanto 142 148 102 2<br />

Syngenta 104 109 49 0<br />

Bayer 144 145 58 0<br />

Maggi 0 0 0 0<br />

Cargill 5 6 5 0<br />

Pioneer 75 76 318 75<br />

E I Du Pont 80 0 42 2<br />

Aventis 54 55 27 0<br />

Basf 25 33 25 0<br />

Delta & Pine 0 0 12 0<br />

Embrapa 53 55 0 0<br />

Votorantim 0 0 0 0<br />

Alellyx 1 1 0 0<br />

Fontes: Elaboração própria a part<strong>ir</strong> de buscas na Web of Science e USPTO.<br />

A part<strong>ir</strong> da análise das atividades de patenteamento e de produção científica usan<strong>do</strong> como<br />

fontes de da<strong>do</strong>s a base americana de patentes (USPTO) e a Web of Science. Novamente, as<br />

maiores multinacionais aparecem nos prime<strong>ir</strong>os postos, tanto no que respeita número de<br />

artigos publica<strong>do</strong>s, número de patentes depositadas e requeridas e número de citações por<br />

outras organizações tanto em patentes, como em artigos. Já as nacionais apresentam um perfil<br />

diferente das não nacionais, pois não apresentam patentes na USPTO e mesmo um baixo<br />

número de publicações, especialmente consideran<strong>do</strong> o caso da Embrapa. Já o fato da<br />

Votorantim não apresentar publicações e patentes é bastante compreensível, pois quem tem<br />

trabalhos nessa área são empresas a ela ligadas, como a Alellyx, que ainda é uma empresa bem<br />

recente no merca<strong>do</strong>.<br />

Para aprofundar a discussão, tomaram-se quatro importantes empresas <strong>do</strong> conjunto levanta<strong>do</strong><br />

<strong>para</strong> uma análise com<strong>para</strong>tiva sobre número de artigos e patentes de sua autoria no perío<strong>do</strong><br />

estuda<strong>do</strong>, <strong>para</strong> evidenciar o peso que esta área da genômica possui nas atividades da empresa.<br />

O resulta<strong>do</strong> está na Tabela 3, abaixo.<br />

Tabela 3 – Número de artigos e patentes das empresas selecionadas (2000-2006)<br />

Empresas de origem de capital<br />

multinacional<br />

Instituição de<br />

pesquisa nacional<br />

Monsanto Bayer Syngenta Embrapa<br />

Número Total de Artigos na Web of Science (todas as áreas) 832 4307 1208 2654<br />

Número de artigos na área de genômica* 81 25 42 27<br />

% em genômica em relação ao total 9,7% 0,6% 3,5% 1,0%<br />

Número Total de Patentes concedidas (USPTO) 562 3051 466 6<br />

Número de patentes concedidas na área de genômica* 124 37 49 0<br />

% em genômica em relação ao total 22,1% 1,2% 10,5% 0,0%<br />

Número total de Patentes depositadas (USPTO) 287 572 110 0<br />

Número de patentes depositadas na área de genômica* 31 45 15 0<br />

% em genômica em relação ao total 10,8% 7,9% 13,6% 0,0%<br />

Fonte: Elaboração própria a part<strong>ir</strong> de site da USPTO (www.uspto.gov/patft/) e da Web of Science<br />

(http://portal.isiknowledge.com/).<br />

Nota: *artigos da área de genômica resulta<strong>do</strong> da query apresentada acima, com foco nos transgênicos.<br />

12


A part<strong>ir</strong> <strong>do</strong>s números de artigos é possível perceber que todas as empresas analisadas possuem<br />

produção científica significativa, característica de empresas que trabalham em áreas da<br />

chamada Ciências da Vida (áreas da saúde humana e animal, principalmente) e que necessitam<br />

de base científica <strong>para</strong> avançar em suas áreas de atuação. Destaque <strong>para</strong> Embrapa, fato<br />

compreensível <strong>para</strong> a mais importante instituição de pesquisa em agricultura tropical, como já<br />

dito, mas também <strong>para</strong> a Bayer, uma empresa centenária, que investe, desde sempre, somas<br />

expressivas em pesquisa e desenvolvimento.<br />

Entretanto, os números mudam quan<strong>do</strong> se restringe o levantamento <strong>para</strong> a genômica, surgin<strong>do</strong><br />

a Monsanto com números e indica<strong>do</strong>res expressivos nessa área, que é o seu foco de atuação,<br />

rivalizan<strong>do</strong> bem com a Syngenta, outra empresa de destaque nas Life Sciences. Por sua vez,<br />

caem bem os indica<strong>do</strong>res relativos da Bayer e da própria Embrapa. No caso da Bayer isso<br />

deve ser pondera<strong>do</strong> devi<strong>do</strong> ao fato que esse recorte considerou as três divisões da empresa:<br />

Bayer HealthCare, Bayer CropScience e Bayer MaterialScience, sen<strong>do</strong> que a área de genômica<br />

foca principalmente na divisão Bayer CropScience, enquanto que a maioria <strong>do</strong>s artigos vem da<br />

divisão HealthCare.<br />

Já no caso da Embrapa, os indica<strong>do</strong>res relativos à produção científica são bem melhores que<br />

os da produção técnica – leia-se nesse caso, patentes, mas é necessário lembrar que por ser<br />

uma instituição de pesquisa brasile<strong>ir</strong>a, seu foco de patenteamento é o território nacional, fato<br />

corrobora<strong>do</strong> pelos 63 processos de patentes realiza<strong>do</strong>s pela Embrapa no Instituto Nacional de<br />

Propriedade Intelectual (INPI) no mesmo perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> recorte.<br />

Para melhor visualização os gráficos abaixo mostram os números de patentes e artigos <strong>para</strong><br />

cada organização no perío<strong>do</strong> estuda<strong>do</strong>.<br />

Grafico 1– Gráfico Acumula<strong>do</strong> de artigos na área de genômica por empresa selecionada (2000-2006)<br />

Fonte: Elaboração própria a part<strong>ir</strong> de buscas na Web of Science<br />

13


140<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006<br />

Monsanto concedida Bayer concedida Syngenta concedida<br />

Monsanto depositada Bayer depositada Syngenta Depositada<br />

Grafico 2 – Gráfico acumula<strong>do</strong> de patentes concedidas e depositadas por empresa selecionada (2000-2006)<br />

Fonte: Elaboração própria a part<strong>ir</strong> de buscas na Web of Science<br />

Pelos da<strong>do</strong>s é possível perceber que a Embrapa produz uma quantidade significativa de artigos<br />

científicos, superan<strong>do</strong> a Bayer no ano de 2006, mas sua atividade em propriedade intelectual<br />

na área é bastante fraca, dentre outros fatores, pelo foco de atividades estar concentra<strong>do</strong> em<br />

território nacional, como já dito acima. Apesar da estagnação das patentes aprovadas <strong>para</strong> a<br />

Bayer e Syngenta, houve um grande salto no número de patentes publicadas, principalmente<br />

da Bayer, indican<strong>do</strong> um maior d<strong>ir</strong>ecionamento de tecnologias <strong>para</strong> a área de genômica nos<br />

últimos anos.<br />

Considerações finais<br />

O exercício realiza<strong>do</strong> aju<strong>do</strong>u a apontar os pontos positivos e as limitações de exercícios de<br />

monitoramento tecnológico basea<strong>do</strong> apenas em artigos e patentes. Se por um la<strong>do</strong>, há<br />

inúmeras informações que afloram com tal meto<strong>do</strong>logia, por outro la<strong>do</strong>, há também limites. A<br />

situação da Embrapa é exemplar, pois o fato de ter números relativamente menores de artigos<br />

e patentes, isso não desqualifica sua importante atuação na área de genômica no Brasil, tanto<br />

no senti<strong>do</strong> da sua produção científica (grande se com<strong>para</strong>da a outras instituições nacionais),<br />

quanto no papel que desempenha na discussão sobre transgênicos no país, como atestaram as<br />

notícias de periódicos de ampla c<strong>ir</strong>culação (Valor Econômico), quanto de divulgação científica<br />

(Revista Pesquisa Fapesp).<br />

Além disso, o fato das organizações nacionais, como Embrapa e Alellyx, terem poucas<br />

patentes, pode demonstrar a necessidade de associação com outras empresas detentoras de<br />

patentes nesta área, como mostra o acor<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> entre Embrapa e Monsanto retrata<strong>do</strong> nas<br />

notícias de jornal. Isto dá uma pista importante a ser seguida no trabalho de monitoramento: a<br />

necessidade de complementar as informações mais tradicionais de patentes e artigos com<br />

notícias de negócios, buscas na Internet, informações finance<strong>ir</strong>as sobre as empresas, dentre<br />

outras. Esta complementação levanta outros asspectos, como a qualidade das informações<br />

obtidas, o que se procurou lidar com o desenvolvimento <strong>do</strong> indica<strong>do</strong>r de qualidade.<br />

Assim, os elementos institucionais ajudam a explicar as diferenças e mesmos distorções que a<br />

bibliometria "objetiva" não mostra. Talvez seja mais útil usar as especificidades institucionais<br />

14


<strong>para</strong> explicar os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que querer monitorar efetivamente indica<strong>do</strong>res que caracterizem<br />

essas instituições e suas mudanças.<br />

Outro cuida<strong>do</strong> que este exercício aju<strong>do</strong>u a mostrar que é as ferramentas mais tradicionais <strong>do</strong><br />

monitoramento são boas <strong>para</strong> analisar as grandes tendências, posto que o erro imposto pela<br />

incapacidade de busca cresce na medida que tenta-se entrar no detalhe (que exige queries mais<br />

específicas). De toda forma, seja <strong>para</strong> analisar as grandes tendências quanto <strong>para</strong> olhar no<br />

detalhe, o olhar de especialista é imprescindível.<br />

O exercício com informações de diferentes naturezas enriquece a análise feita em torno de<br />

alguns temas, como no caso da genômica. Entretanto, os <strong>desafios</strong> continuam muito grandes,<br />

tanto de um ponto de vista conceitual, como no que foi chama<strong>do</strong> aqui de operacional. O que<br />

pode ser adianta<strong>do</strong> é que os números por si só não aportam a riqueza <strong>do</strong> contexto no qual as<br />

ações (pesquisa, investimento etc.) estão ocorren<strong>do</strong>. A participação de especialistas é, desde<br />

logo, essencial, desde o momento da construção das perguntas e argumentos que fundamentam<br />

os exercícios, até o momento da análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s que surgem de trabalhos como o<br />

desenvolvi<strong>do</strong> e apresenta<strong>do</strong> aqui.<br />

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