Revista da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras
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que se multiplicam como o gado que as cheias e secas não conseguem<br />
acabar <strong>de</strong> todo: tem sempre um cocuruto <strong>de</strong> terra firme, uma cordilheira<br />
compri<strong>da</strong>, um pirizeiro enlameado, barreiro minguado <strong>de</strong> água salobra<br />
pra po<strong>de</strong>rem sugar, respirar, viver, ficar pra sempre.<br />
Mas se acaso acabarem <strong>de</strong> vez, algum dia a gente vai ficar sabendo<br />
pra que que eles serviam.<br />
Não é <strong>de</strong> hoje que as balas se cruzam matando. Fazem cair lá <strong>de</strong><br />
cima o baque <strong>de</strong> agonia. Soar o grito <strong>de</strong> alerta. Grito que vai beira<strong>de</strong>ando<br />
poças ensangüenta<strong>da</strong>s, varando capões, feito um aboiar <strong>de</strong> mortos, por<br />
aí, retumbando sem ser escutado. Se some no rebojo <strong>de</strong>ste rio, se afun<strong>da</strong><br />
como a terra – morre como os bichos. E o mundo vai ficando vazio, filho,<br />
<strong>de</strong>sprotegido, que nem <strong>de</strong>funto sem choro.<br />
Seu avô viveu nessa época <strong>de</strong> dinheiro correndo que nem água <strong>de</strong><br />
corixo. Mandou e <strong>de</strong>smandou. Lutou contra ambição dos contrabandistas<br />
que vinham farejar lucro. Aventureiros que cobiçavam estes campos,<br />
estas campinas ver<strong>de</strong>s que o rio não maltratava. Cui<strong>da</strong>va.<br />
Defen<strong>de</strong>u a terra em que nasceu e se criou entre bugres, tomando<br />
chimarrão, guaraná ralado, boleando laço, comendo sapicuala<strong>da</strong>s <strong>de</strong> farofa<br />
com carne-seca, churrascos. Tereré.<br />
Festeiro, promoveu carreiras <strong>de</strong> cavalos, festas, on<strong>de</strong> <strong>da</strong>nçavam<br />
santa-fé, cururu – três dias <strong>de</strong> muito churrasco, rezas, e gemido <strong>de</strong> violas.<br />
Noite inteira, as cor<strong>da</strong>s <strong>de</strong> tripas <strong>de</strong> bugio soavam nos ranchos <strong>de</strong> acuri,<br />
fazendo a moça<strong>da</strong> arrastar o pé no chão <strong>de</strong> terra bati<strong>da</strong>, sapatear, gritar,<br />
botando versinhos.<br />
n. 7 – março <strong>de</strong> 2005<br />
Os rios formam os Pantanais<br />
Os rios <strong>de</strong>scem do planalto para influenciar a vi<strong>da</strong> na planície, seja<br />
ela animal ou vegetal. São os responsáveis por tudo o que acontece <strong>de</strong><br />
ruim e <strong>de</strong> bom e, além do mais, estabelecem normas e se fazem respeitar<br />
por suas manias e zangas. Quando cheios não são na<strong>da</strong> comportados:<br />
mu<strong>da</strong>m constantemente <strong>de</strong> curso, abrem bocas, <strong>de</strong>rrubam pontes, <strong>de</strong>vastam<br />
plantações ribeirinhas, entopem vazantes e baías, carregam entulhos,<br />
inun<strong>da</strong>m se<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fazen<strong>da</strong>s, cobrem campos <strong>de</strong> aviação e matam animais.<br />
Dizem que até tem rio que an<strong>da</strong> para trás, como o rio Negro, e outros<br />
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