Revista da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras
Revista da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras
Revista da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Eram 11h <strong>da</strong> manhã, quando <strong>de</strong>sembarcaram as tropas e os canhões<br />
<strong>da</strong>s chatas e <strong>da</strong>s peças <strong>de</strong> campanha começaram a romper fogo contra<br />
as muralhas do forte.<br />
O dia inteiro houve violenta troca <strong>de</strong> tiros. A infantaria paraguaia<br />
atacava sem pena, abrindo brechas nas macegas <strong>da</strong>s margens, rolando<br />
pelas escarpas <strong>da</strong> morraria, tentando escalar as muralhas, mas não conseguia.<br />
Grana<strong>da</strong>s, estilhaça<strong>da</strong>s, provocavam estrondos e entusiasmo nos<br />
paraguaios, que já contavam com a vitória.<br />
Porém, à proporção que a tar<strong>de</strong> caía, ca<strong>da</strong> vez mais crescia no inimigo<br />
a certeza <strong>de</strong> que alguma força atuava em favor <strong>da</strong> guarnição brasileira,<br />
fazendo com que as balas batessem nas grossas pedras e ricocheteassem<br />
arrancando faíscas <strong>de</strong> fogo, per<strong>de</strong>ndo o alvo, caindo nas águas do rio.<br />
Barrios, então vendo a <strong>de</strong>silusão tomar conta dos seus sol<strong>da</strong>dos,<br />
or<strong>de</strong>nou que voltassem aos vapores para passar a noite, <strong>da</strong>ndo, assim,<br />
uma trégua ao bombar<strong>de</strong>io do dia 27.<br />
Uma heroína<br />
Mas se o <strong>de</strong>sânimo e as dúvi<strong>da</strong>s abatiam os sol<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> Barrios, o<br />
mesmo não acontecia por trás <strong>da</strong>quelas muralhas que resistiam como<br />
ferro. Fizeram um balanço na munição existente e chegaram à conclusão<br />
<strong>de</strong> que algo precisava <strong>de</strong> ser feito com urgência. Dos doze mil cartuchos<br />
apenas dois mil e quinhentos sobravam, coisa bastante insignificante para<br />
prosseguir a luta.<br />
E foi aí que, na cala<strong>da</strong> <strong>da</strong> noite, uma mulher surgiu como heroína.<br />
Chamava-se Ludovina e era a esposa do coman<strong>da</strong>nte. Dando exemplos<br />
<strong>de</strong> fibra, <strong>de</strong>dicação, coragem e patriotismo, reuniu setenta outras mulheres<br />
<strong>de</strong> militares que se encontravam recolhi<strong>da</strong>s no forte e passou a noite<br />
to<strong>da</strong> preparando cartuchos, conseguindo entregar aos sol<strong>da</strong>dos brasileiros<br />
mais seis mil para a <strong>de</strong>fesa do dia seguinte.<br />
De modo que uma esperança ain<strong>da</strong> existia quando a fuziliaria recomeçou<br />
naquela manhã do dia 28. Os paraguaios tentavam o assalto<br />
com mais vigor. Alguns sol<strong>da</strong>dos alcançaram as muralhas, iam saltá-las,<br />
mas foram varados pelas baionetas. Um pelotão, <strong>de</strong>scendo as íngremes<br />
escarpas, se aproximava, quando foi atingido pelas balas dos canhões <strong>da</strong><br />
Anhambaí, velha canhoneira, a única a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o forte nesse episódio<br />
n. 7 – março <strong>de</strong> 2005<br />
43