Revista da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras
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aionetas, os fuzis, os canhões e também gritaram, empolgados: “Viva!<br />
Viva Nuestra Señora <strong>de</strong>l Carmem!...” Esse diálogo <strong>de</strong> fé e <strong>de</strong>voção durou<br />
um pouco, ecoando na imensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Pantanal.<br />
É ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que a luta recomeçou <strong>de</strong>pois que o sol<strong>da</strong>do levou a<br />
imagem <strong>da</strong> Santa para o seu lugar <strong>de</strong> origem, mas voltou sem ânimo, sem<br />
ardor, logo parou com a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> noite escura.<br />
A retira<strong>da</strong><br />
Uma garoa fina caía quando o dia 29 amanheceu e os sol<strong>da</strong>dos<br />
paraguaios se colocaram a postos, talvez com uma última esperança <strong>de</strong><br />
invadir o baluarte.<br />
Avançaram pelas margens maceguentas, subiram e <strong>de</strong>sceram escarpas<br />
úmi<strong>da</strong>s, aproximaram-se <strong>da</strong>s muralhas, penetraram no interior do<br />
forte e, surpresos, constataram que tudo estava vazio.<br />
Lá <strong>de</strong>ntro não existia vivalma! Apenas gemidos <strong>de</strong> feridos escutaram<br />
chegar <strong>de</strong> um compartimento escurecido. Eram prisioneiros, companheiros<br />
seus, que Portocarrero man<strong>da</strong>ra recolher pouco antes <strong>da</strong> retira<strong>da</strong>.<br />
Verificaram, também, que não havia perigo <strong>de</strong> explosão <strong>de</strong> pólvora<br />
naquelas brasas que agonizavam. Que havia utensílios, borras <strong>de</strong> café,<br />
restos <strong>de</strong> comi<strong>da</strong>, peças <strong>de</strong> uniforme joga<strong>da</strong>s ao chão, <strong>da</strong>ndo sinal do<br />
abandono.<br />
Durante aquela noite, Portocarrero armara todo o esquema <strong>da</strong><br />
retira<strong>da</strong>.<br />
Or<strong>de</strong>nou ao coman<strong>da</strong>nte Balduíno que atiçasse fogo nas máquinas<br />
<strong>da</strong> canhoneira e to<strong>da</strong>s as providências foram toma<strong>da</strong>s para que a <strong>de</strong>ban<strong>da</strong><strong>da</strong><br />
se realizasse com êxito. As mulheres e as crianças embarcaram<br />
primeiro. Ninguém <strong>de</strong>ixou o posto <strong>de</strong> vigilância sem que para isso recebesse<br />
or<strong>de</strong>ns. Mandou arriar a ban<strong>de</strong>ira segundo as honras militares.<br />
Inspecionou todo o recinto e certificou-se <strong>de</strong> que não havia mortos nem<br />
feridos entre os seus.<br />
Nossa Senhora do Carmo foi conduzi<strong>da</strong> pelas mãos <strong>de</strong> uma menina<br />
<strong>de</strong> treze anos, filha <strong>de</strong> um militar <strong>da</strong> al<strong>de</strong>ia. O embarque <strong>da</strong>s tropas<br />
efetuou-se em duas turmas. Os índios guaicurus, que auxiliaram os brasileiros<br />
nesse episódio, tomaram o rumo <strong>da</strong>s trilhas, embrenharam-se nas<br />
matas conheci<strong>da</strong>s.<br />
n. 7 – março <strong>de</strong> 2005<br />
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