Para uma crítica da leitura hermenêutica da psicanálise* - PePSIC
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<strong>Para</strong> <strong>uma</strong> <strong>crítica</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> <strong>hermenêutica</strong> <strong>da</strong> psicanálise<br />
1998 [1953]), ele terminou por se afastar dessa posição, por considerá-la<br />
inadequa<strong>da</strong> para <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> clínica. Aliando-se posteriormente a outras<br />
referências, tais como o estruturalismo, a topologia e a teoria dos conjuntos,<br />
Lacan formulará conceitos que lhe permitirão ganhar um<br />
distanciamento crítico ain<strong>da</strong> maior em relação a esse tipo de <strong>leitura</strong> <strong>da</strong><br />
psicanálise. Desse modo, embora considere váli<strong>da</strong> a afirmação de que o<br />
analista li<strong>da</strong> com o registro <strong>da</strong>s significações – e não com o dos fatos –, ele<br />
terminou rejeitando a assimilação <strong>da</strong> psicanálise às ciências do sentido.<br />
Reconhecendo o mérito dessa posição, sobretudo quando ela ataca o preconceito<br />
segundo o qual só tem valor o que é objetivo, Lacan, entretanto,<br />
não pôde deixar de identificar seus impasses.<br />
Aceitamos que a recusa de Lacan em classificar a psicanálise<br />
como <strong>uma</strong> teoria do sentido não pode ser credita<strong>da</strong> a <strong>uma</strong> mera vontade<br />
sua de se diferenciar. Seria <strong>uma</strong> levian<strong>da</strong>de intelectual rejeitar <strong>uma</strong> posição<br />
movido apenas pelo desejo de originali<strong>da</strong>de. Se houve um afastamento<br />
de Lacan em relação a <strong>uma</strong> tese na qual ele mesmo se inspirou durante<br />
algum tempo, haverá razões que se devem a problemas internos àquela<br />
teoria. Por isso, julgamos ser possível circunscrever as insuficiências desse<br />
tipo de <strong>leitura</strong> sem que seja preciso qualquer cumplici<strong>da</strong>de do leitor com<br />
a orientação de Lacan.<br />
Este artigo seguirá o seguinte percurso. Primeiramente, realizaremos<br />
<strong>uma</strong> breve exposição <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> <strong>hermenêutica</strong> <strong>da</strong> psicanálise realiza<strong>da</strong><br />
por Paul Ricoeur. Na medi<strong>da</strong> em que serão abor<strong>da</strong>dos apenas os<br />
aspectos relevantes para o debate que nos concerne, a apresentação <strong>da</strong>s<br />
teses desse autor não pretende ser, portanto, exaustiva. Em um segundo<br />
momento, explicitaremos de que modo Paul Ricoeur solucionou a aparente<br />
divergência de princípios existente entre os textos metapsicológicos<br />
de Freud e os textos clínicos (que seriam os mais abertos a <strong>uma</strong> interpretação<br />
<strong>hermenêutica</strong>). Por último, examinaremos as limitações <strong>da</strong> solução<br />
proposta, anunciando alguns conceitos lacanianos que, a nosso ver, permitiriam<br />
resolver e/ou contornar o problema.<br />
Natureza H<strong>uma</strong>na 8(1): 9-33, jan.-jun. 2006<br />
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