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Ler Mais... - Associação de Fuzileiros

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homenagens<br />

Manuel dos Reis Florindo<br />

(1.º S H FZE)<br />

Sócio nº. 2074<br />

Tinha terminado o meu curso <strong>de</strong><br />

Enfermagem Geral no HM (Hospital da<br />

Marinha) havia meses. Era espectável<br />

que em qualquer momento seria colocado<br />

em uma qualquer unida<strong>de</strong> naval. Mas,<br />

contra todas as minhas espectativa, e<br />

recebi guia <strong>de</strong> marcha para a Escola <strong>de</strong><br />

<strong>Fuzileiros</strong> para frequentar o curso <strong>de</strong><br />

<strong>Fuzileiros</strong> Especiais.<br />

Terminado este e com aproveitamento fui<br />

convidado a integrar o DFE 12 que mais<br />

tar<strong>de</strong> seguiria para a Guiné-Bissau em<br />

missão <strong>de</strong> soberania. Essa mítica unida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> elite que naquelas paragens tão bem<br />

soube honrar as características genuínas<br />

e guerrilheiras dos <strong>Fuzileiros</strong> Especiais,<br />

integrava um Homem com o qual já antes<br />

iniciara uma relação <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, alicerçada<br />

em muitas horas <strong>de</strong> convívio durante e<br />

após o curso <strong>de</strong> fuzileiros e até, em algumas<br />

<strong>de</strong>las, em minha casa. Esta amiza<strong>de</strong>,<br />

este relacionamento, pautou-se sempre<br />

por uma inegável reciprocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respeito<br />

e senso comuns, norteando-se por uma<br />

comunhão <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais convergentes que<br />

cimentaram um entendimento amistoso,<br />

on<strong>de</strong> imperava a consi<strong>de</strong>ração e respeito<br />

mútuo que haviam <strong>de</strong> se perpetuar ao<br />

longo do tempo que juntos tivemos (tive)<br />

a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partilhar antes, durante e<br />

<strong>de</strong>pois da nossa missão daquela unida<strong>de</strong><br />

militar na Guiné. Já no INAB passávamos<br />

longas horas em amena cavaqueira on<strong>de</strong><br />

se ventilavam os assuntos mais variados,<br />

não só relacionados com o DFE12 mas<br />

também com os que se relacionavam com<br />

aspectos disciplinares do pessoal da forma<br />

como os militares se alimentavam, com o<br />

que faziam nas horas <strong>de</strong> ócio, com o seu<br />

estado sanitário, matéria para a qual eu<br />

tinha particular responsabilida<strong>de</strong>. Eram<br />

normais as conversas sobre a guerrilha na<br />

qual estávamos envolvidos, o porquê da<br />

nossa presença naquele território ultramarino,<br />

do êxito ou fracasso do nosso esforço<br />

bélico, da política local e nacional, etc. etc.<br />

Este Homem, que sempre confiou nos<br />

meus conhecimentos técnicos como<br />

Enfermeiro ao serviço do DFE12 (Obrigado<br />

Comandante Rebordão <strong>de</strong> Brito) senhor <strong>de</strong><br />

um espírito fortemente solidário, abnegado,<br />

criterioso, <strong>de</strong> profunda sensibilida<strong>de</strong><br />

humana, foi sempre visto pela comunida<strong>de</strong><br />

militar do DFE12 e não só, como um<br />

ídolo, um mentor, um estratega, com uma<br />

visão subtil e discernida no T.O. (teatro<br />

Homenagem a Rebordão <strong>de</strong> Brito<br />

operacional) interagindo <strong>de</strong> uma forma<br />

peculiar com a “maralha” que sempre,<br />

mas sempre, o acompanhava sem hesitar<br />

na preparação e execução dos “golpes <strong>de</strong><br />

mão”, quaisquer que fossem os obectivos<br />

traçados e os riscos previsíveis daí<br />

resultantes.<br />

Terminada a comissão <strong>de</strong> serviço o DFE12<br />

regresso a Lisboa mas, logo aseguir, por<br />

opção pessoal regresso à Guiné na Companhia<br />

N.º 11 <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong>. Dois anos <strong>de</strong>pois<br />

passo a integrar o serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do<br />

CDMG. Meses mais tar<strong>de</strong>, por exigências<br />

estratégicas do CDMG sou enviado para<br />

Bolama. Tive aí a sorte <strong>de</strong> encontrar novamente<br />

o Comt Rebordão <strong>de</strong> Brito. Foi mais<br />

uma oportunida<strong>de</strong> para po<strong>de</strong>rmos dissecar<br />

temas já nossos conhecidos, acrescidos<br />

agora <strong>de</strong> situações militares e pessoais diferentes<br />

que culminaria com a entrega do<br />

espólio das existências <strong>de</strong> material bélico,<br />

infraestruturas e material <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> aos<br />

militares do PAIGC. <strong>Mais</strong> uma vez constato<br />

que aquele Homem mantinha integro<br />

o carácter que conheci nos primeiros dias<br />

do curso <strong>de</strong> fuzileiros mantendo incólume<br />

a sua personalida<strong>de</strong> e atitu<strong>de</strong> cívica, nunca<br />

ostentando os “galões” para a resolução<br />

<strong>de</strong> quaisquer problemas disciplinares<br />

inerentes à sua condição <strong>de</strong> Comandante<br />

mas, nunca se inibindo <strong>de</strong> imprimir no seu<br />

discurso, a sua posição <strong>de</strong> oficial competente<br />

e responsável pela <strong>de</strong>fesa e condução<br />

dos militares ali instalados. Aquando<br />

do regresso <strong>de</strong>finitivo à Metrópole os nossos<br />

contactos pessoais diminuíram drasticamente.<br />

De quando em quando, num encontro<br />

casual ou nos tradicionais almoços<br />

anuais do DFE12 era pretexto para longos<br />

minutos <strong>de</strong> conversa, rememorando-se<br />

episódios e factos vividos e sofridos, naquela<br />

terra distante on<strong>de</strong> tantos homens<br />

<strong>de</strong>rramaram sangue suor e lágrimas e outros,<br />

infelizmente, per<strong>de</strong>ram a vida.<br />

Um dia... Inesperadamente ou talvez não,<br />

soube que o Comandante <strong>de</strong>ra entrada no<br />

HM por patologia clínica <strong>de</strong>sfavorável complicando-se<br />

o seu estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Com<br />

prognóstico bastante reservado fiquei com<br />

a nítida sensação <strong>de</strong> que a evolução da sua<br />

doença iria progressiva e vertiginosamente<br />

diminuir a sua presença entre nós. Fui<br />

visitá-lo várias vezes ao HM e sempre que<br />

o abraçava para me <strong>de</strong>spedir tinha a noção<br />

<strong>de</strong> que não era viável voltar a fazê-lo<br />

muitas mais vezes. Apesar <strong>de</strong> todo o seu<br />

optimismo contagiante, era evi<strong>de</strong>nte que a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> disfrutar da sua companhia<br />

estava cada vez mais comprometida.<br />

O fatídico <strong>de</strong>senlace era, infelizmente, previsível.<br />

Volvidos anos após a sua morte,<br />

não quero <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> prestar publicamente<br />

a minha sincera homenagem <strong>de</strong> gratidão e<br />

respeito para com este Homem que moldou<br />

subtilmente o meu ego, impregnando-<br />

-o <strong>de</strong> uma maior clarividência nas formas<br />

e conteúdos <strong>de</strong> como se <strong>de</strong>ve estar e viver<br />

na vida.<br />

A forma como fui recebido e tratado no<br />

seio dos fuzileiros Especiais do DFE12 com<br />

especial relevância para o Comandante<br />

Rebordão <strong>de</strong> Brito, foi e será sempre um<br />

traço in<strong>de</strong>lével na minha conduta como<br />

homem, militar e, com muito orgulho,<br />

como FUZILEIRO.<br />

Obrigado comandante por ter permitido<br />

partilhar consigo tantos momentos <strong>de</strong> sã<br />

camaradagem militar, pessoal e familiar.<br />

Paz à sua alma...<br />

26 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt

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