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Ler Mais... - Associação de Fuzileiros

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crónicas<br />

Era com as roupas do marido, 1,90 m, que<br />

o Cristina viajara para a Europa ou para as<br />

USA em representação da Renamo.<br />

ERRO FATAL<br />

No <strong>de</strong>correr da luta armada <strong>de</strong>sertou da<br />

Frelimo para a Renamo o piloto-aviador,<br />

Adriano Bomba. Esta <strong>de</strong>serção foi preparada<br />

por seu irmão Boaventura Bomba<br />

ligado aos Serviços Secretos da África do<br />

Sul.<br />

Dhlakama <strong>de</strong>sconfiava da àfrica do Sul,<br />

sobretudo da pressão que exercia para<br />

que os Bomba tivessem mais notorieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro da Renamo. Os dirigentes sul-<br />

-africanos pretendiam que ambos fossem<br />

nomeados “comissários políticos” e integrados<br />

nos quadros da Renamo.<br />

cartas ao director<br />

O Afonso Dhlakama con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>u por<br />

pressão <strong>de</strong> Orlando Cristina. Segundo o<br />

Historiador João Cabrita, foi o seu Erro<br />

Fatal.<br />

Boaventura Bomba assassinou o Orlando<br />

Cristina, na casa <strong>de</strong>ste, arredores <strong>de</strong><br />

Pretónia, em 17 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1983. Ainda<br />

correram boatos que o Orlando fora abatido<br />

pela companheira também pertencente<br />

aos Serviços Secretos da Africa do Sul.<br />

Os mesmos Serviços Secretos julgaram o<br />

Boaventura Bomba e os quatro cúmplices<br />

con<strong>de</strong>naram-nos à morte. Foram executados<br />

no Sudoeste africano e lançados ao<br />

mar a partir dum helicóptero.<br />

Ao tempo era adido militar na África do Sul<br />

o Coronel Fernando Ramos. Viveu <strong>de</strong> perto<br />

toda esta tragédia e o seu testemunho não<br />

A história <strong>de</strong> um Fuzileiro e da<br />

sua namorada Fernanda<br />

(1961 e 1965)<br />

Tudo começou no princípio do ano<br />

<strong>de</strong> 1961, quando rebentou a guerra<br />

nas nossas colónias. Eu, Augusto<br />

Beja, com 20 anos, e a minha namorada<br />

Fernanda com 17 anos tivémos <strong>de</strong> nos<br />

separar, em boa parte, <strong>de</strong>vido à Guerra do<br />

Ultramar.<br />

A Fernanda, em Fevereiro <strong>de</strong> 1961, partiu<br />

para Orléans-França, on<strong>de</strong> era esperada<br />

por seu pai, emigrante instalado nesta<br />

cida<strong>de</strong> e eu, como não quis arriscar, fiquei.<br />

Na verda<strong>de</strong>, logo compreendi que só tinha<br />

duas soluções: apresentar-me ao serviço<br />

militar conforme a convocação que me<br />

tinha sido enviada, ou então fugir do meu<br />

país como muitos fizeram. Foi bastante<br />

difícil a escolha mas, finalmente, acabei<br />

por me apresentar no quartel em Vila<br />

Franca <strong>de</strong> Xira para cumprir o meu serviço<br />

militar, em Março <strong>de</strong> 1961.<br />

Acontece que, com a <strong>de</strong>cisão que tomei<br />

<strong>de</strong> servir o meu país, a situação ficou a<br />

partir daí um pouco complicada, para mim<br />

e para a Fernanda já que, em Junho <strong>de</strong><br />

1963 tive que embarcar para Angola, o<br />

que nos veio provocar uma terrível separação<br />

<strong>de</strong> 4 anos.<br />

Exm.º Senhor Director, permita-me que, <strong>de</strong> França, lhes conte:<br />

Posso afirmar que foi preciso muita vonta<strong>de</strong><br />

mas, finalmente, quando acabei o meu<br />

serviço militar, em Maio <strong>de</strong> 1965 fiquei<br />

<strong>de</strong> braços abertos à espera do Domingo<br />

(8 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1965) data por nós marcada<br />

para aquele tão <strong>de</strong>sejado dia, o dia<br />

do nosso casamento. Foi o dia mais feliz<br />

da minha vida mas, infelizmente, 15 dias<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> casados tivemos mais uma vez<br />

<strong>de</strong> nos separar.<br />

Acontece que me recusaram o passaporte<br />

turístico <strong>de</strong>vido à minha situação <strong>de</strong><br />

reservista e, assim me impediram <strong>de</strong><br />

acompanhar minha esposa até Orléans.<br />

Foi uma injustiça muita dura <strong>de</strong> aceitar,<br />

a tal ponto que, mais tar<strong>de</strong> tentei chegar<br />

Orléans clan<strong>de</strong>stinamente mas, “o salto”<br />

correu muito mal. Fui apanhado pela<br />

polícia espanhola <strong>de</strong>ntro do comboio na<br />

fronteira <strong>de</strong> Irum.<br />

Foram um calvário aqueles 44 dias que<br />

passei <strong>de</strong> prisão em prisão repartidos<br />

entre Irum, Vitória, Burgos, Valladoli<strong>de</strong> e<br />

Salamanca, até chegar à nossa fronteira<br />

<strong>de</strong> Vilar Formoso.<br />

Foi muito complicado mas enfim, no interrogatório<br />

na nossa fronteira, não tive<br />

<strong>de</strong>ixa dúvidas. O Orlando foi abatido pelo<br />

Boaventura Bomba.<br />

O seu irmão morreu numa emboscada<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> Moçambique.<br />

Há uma outra versão: Maquiavélica! Sem<br />

dúvida o Orlando foi assassinado por Boaventura<br />

Bomba mas… a mando das autorida<strong>de</strong>s<br />

sul-africanas. Porquê? Porque<br />

alcançada a paz no Acordo <strong>de</strong> Roma, terminavam<br />

as hostilida<strong>de</strong>s e a necessida<strong>de</strong><br />

dos serviços do Orlando.<br />

Seja como for, paz à sua alma. É um homem<br />

inesquecível.<br />

José Cardoso Moniz<br />

Augusto Beja<br />

Sóc. Orig. n.º 36<br />

Cofundador da AFZ<br />

problemas, isto por duas razões: em primeiro<br />

lugar, por provar que estava a chegar<br />

<strong>de</strong> Angola e com um total <strong>de</strong> quatro<br />

anos <strong>de</strong> presença na Armada mas, sobretudo,<br />

por ter provado que minha esposa<br />

tinha a sua residência em Orléans. Assim,<br />

facilmente me abriram as portas da prisão.<br />

Lá saí da prisão <strong>de</strong> Vilar Formoso mas, por<br />

eu não aceitar esta situação, 15 dias <strong>de</strong>pois<br />

fiz nova tentativa <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> Portugal<br />

e <strong>de</strong>sta vez tudo correu bem. Lá cheguei<br />

a Orléans, no dia 1 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1966,<br />

com toda a família <strong>de</strong> braços no ar, à minha<br />

espera, para me abraçar.<br />

Acredito que, no fundo, fomos recompensados<br />

porque, já lá vão 47 anos <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong><br />

com a Fernanda, junto dos nossos<br />

filhos e <strong>de</strong> quatro maravilhosos netos.<br />

Valeu a pena…<br />

Termino dizendo que, para além <strong>de</strong> todo o<br />

mal que nos fizeram, da distância que nos<br />

separa do nosso país temos, e com muita<br />

emoção, Portugal no Coração.<br />

Augusto Beja<br />

Sócio n.º 1687<br />

42 O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt

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