Ler Mais... - Associação de Fuzileiros
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As informações provenientes <strong>de</strong> Orlando<br />
Cristina eram assustadoras ou mesmo<br />
aterradoras. Eduardo Mondlane <strong>de</strong>ixou<br />
<strong>de</strong> ter controle na organização que veio a<br />
chamar-se Frelimo, quando os estalinistas<br />
Samora Machel e Marcelino dos Santos<br />
assumiram a chefia, contra tudo e contra<br />
todos. As cabeças <strong>de</strong> Mondlane e Uria Simango<br />
iriam rolar, porque eram pessoas<br />
mo<strong>de</strong>radas, civilizadas. Como é sabido,<br />
Eduardo Mondlane era casado com uma<br />
norte-americana e Uria Timóteo Simango,<br />
pastor evangélico, era casado com<br />
uma senhora muito respeitada <strong>de</strong> nome<br />
Celina. Esta situação <strong>de</strong> serem os presi<strong>de</strong>nte<br />
e vice-presi<strong>de</strong>nte da Frelimo, era<br />
inaceitável na URSS!! Consequentemente<br />
exigiram aos seus peões que os <strong>de</strong>pusessem<br />
e se livrassem <strong>de</strong>les. O Eduardo<br />
foi morto, porque os enfrentou. O Uria foi<br />
poupado para não haver conflitos com os<br />
seus seguidores religiosos. Logo a seguir<br />
ao 25 <strong>de</strong> Abril foi assassinado, bem como<br />
a Joana Simeão, o Gwambe e o Gwengere.<br />
O Lázaro Kawandame, regressado do<br />
Egipto, on<strong>de</strong> estava refugiado, para organizar<br />
um partido concorrente às eleições,<br />
também foi assassinado. O seu regresso<br />
tinha sido autorizado! Já <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1980<br />
foi assassinada a pobre Celina!... Como<br />
bem disse o Marcelino dos Santos, era<br />
necessário livrarem-se das oposições ao<br />
programa da Ferlimo.<br />
No meio da confusão o Orlando Cristina<br />
conseguiu pôr-se a salvo.<br />
REGRESSO DE ORLANDO CRISTINA<br />
Continuemos a história <strong>de</strong>ste homem<br />
impar, ao nível dos nossos heróis Alpoim<br />
Calvão, Rebordão <strong>de</strong> Brito, Teixeira, Jaime<br />
Neves e tantos outros.<br />
Como entretanto as chefias militares em<br />
Moçambique haviam mudado, o Orlando<br />
foi preso e acusado <strong>de</strong> <strong>de</strong>serção. As<br />
chefias <strong>de</strong>sconheciam as negociações<br />
que levaram a esta <strong>de</strong>cisão patriótica. Foi<br />
precisa a intervenção <strong>de</strong> Jorge Jardim e<br />
da Direcção Geral <strong>de</strong> Segurança para se<br />
Eng.º Jorge Jardim, patrão do Orlando<br />
esclarecer a situação. Daí dizer-se que<br />
pertenceu à PIDE, o que não tem o mínimo<br />
fundamento.<br />
Entre 1965 e 1974 Orlando Cristina às<br />
or<strong>de</strong>ns do Eng.º Jorge Jardim, <strong>de</strong>u instrução<br />
às Forças Armadas Portuguesas e<br />
aos grupos especiais constituídos por ex-<br />
-prisioneiros e voluntários. Foi neste período<br />
que os Destacamentos <strong>de</strong> <strong>Fuzileiros</strong><br />
Especiais pu<strong>de</strong>ram usufruir e aproveitar os<br />
seus ensinamentos para melhor <strong>de</strong>sempenharem<br />
as suas funções.<br />
PÓS 25 DE ABRIL<br />
Após o 25 <strong>de</strong> Abril, o nosso homem, conhecendo<br />
bem as populações do norte <strong>de</strong><br />
Moçambique e sabendo da simpatia que<br />
gerava entre todos, convenceu-se que<br />
bastaria a sua palavra para recuperar a<br />
confiança das populações, convencendo-<br />
-as a voltar as costas à Frelimo.<br />
Com um grupo <strong>de</strong> pequenos fazen<strong>de</strong>iros<br />
atravessou a fronteira para a Rodésia.<br />
Fundaram uma emissora que dia e noite,<br />
transmitia músicas que sabiam ser do<br />
agrado das populações, a par <strong>de</strong> as instigar<br />
a revoltarem-se contra os déspotas<br />
da Frelimo. Essa emissora era ouvida em<br />
todo o Moçambique e chamava-se “Moçambique<br />
Livre”.<br />
Entretanto, a triunfante Frelimo, a quem<br />
foi entregue o po<strong>de</strong>r pelos <strong>de</strong>mocratas <strong>de</strong><br />
Lisboa, criou um campo <strong>de</strong> concentração<br />
ou reeducação na Gorongosa, em Cudzo<br />
ou Secudzo. Para este campo eram remetidos<br />
todos aqueles que não davam garantias<br />
<strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>.<br />
É do conhecimento geral que a Gorongosa<br />
é uma região <strong>de</strong> leões, leopardos e hienas.<br />
Teoricamente os animais selvagens<br />
seriam impeditivos <strong>de</strong> que os prisioneiros<br />
fugissem. Contudo aconteceu que um<br />
belo dia um jovem <strong>de</strong> nome Matsangaíce,<br />
acompanhado <strong>de</strong> um número pouco numeroso,<br />
fugiu da Gorongosa e atravessou<br />
a fronteira da Rodésia. Foi dialogar com<br />
o Orlando Cristina e convencê-lo que a<br />
palavra tinha algum efeito mas era fundamental<br />
iniciarem a luta armada. Relutantemente,<br />
Orlando Cristina acabou por<br />
aceitar as teses <strong>de</strong> Matsangaíce.<br />
Este regressou a Moçambique e remetido<br />
para o Cudzo don<strong>de</strong> havia fugido. Começou<br />
então a mobilizar prisioneiros para pegarem<br />
em armas. Assim nasceu a Renamo.<br />
Primeiro a Rodésia e posteriormente<br />
a África do Sul começaram a apoiar estes<br />
revoltosos. Cristina que ficara impressionado<br />
com o carácter <strong>de</strong>ste bravo, <strong>de</strong>cidiu<br />
alterar o nome da emissora, chamando-<br />
-lhe agora “Resistência Nacional Moçambicana”.<br />
crónicas<br />
Inge Preis, sua protectora em Maputo<br />
Matsangaíce era muito inexperiente. Com<br />
os homens que dispunha tentou fazer um<br />
“golpe <strong>de</strong> mão” aos guardas do campo do<br />
Cudzo. Saiu-se mal e foi novamente preso.<br />
Fugiu mais uma vez e voltou à Rodésia.<br />
Agora regressou com homens batidos,<br />
experientes na “Arte da Guerra”. Desta<br />
vez o “golpe <strong>de</strong> mão” foi um sucesso. Libertados<br />
e armados os prisioneiros com<br />
espingardas na posse dos guardas, começaram<br />
a luta armada. Foi nomeado Secretário-Geral<br />
da Renamo o Orlando Cristina.<br />
Sendo branco manter-se-ia à frente dos<br />
militares até encontrarem africanos que<br />
o substituíssem. Como é evi<strong>de</strong>nte não se<br />
sentia muito seguro. Exigiu uma Assembleia<br />
Popular <strong>de</strong> que resultou continuar<br />
Secretário-Geral da Renamo e eleito Presi<strong>de</strong>nte<br />
o Afonso DhlaKama, <strong>de</strong>corrente da<br />
morte em combate <strong>de</strong> Matsangaíce.<br />
Os sul-africanos pretendiam que o Presi<strong>de</strong>nte<br />
fosse Domingos Arouca. Um intelectual<br />
com imenso prestígio <strong>de</strong>ntro e fora <strong>de</strong><br />
Moçambique, culturalmente muito superior<br />
aos <strong>de</strong>mais.<br />
Prevaleceu o sentido <strong>de</strong> que Domingos<br />
Arouca nunca <strong>de</strong>ra a cara. Que não seria<br />
justo afastar DhlaKama para entregar a<br />
presidência ao Domingos Arouca.<br />
Calcula-se que a luta entre a Renamo e<br />
a Frelimo tenha causado 1.000.000 (um<br />
milhão) <strong>de</strong> vítimas!<br />
Coisa pouca para os <strong>de</strong>mocratas portugueses<br />
ao serviço da URSS.<br />
Durante o conflito o Orlando Cristina <strong>de</strong>slocou-se<br />
a Lourenço Marques diversas<br />
vezes. Ficava aboletado em casa <strong>de</strong> uma<br />
senhora alemã, a Inge Preis. Deslocava-se<br />
nas viaturas da Frelimo a troco dumas cervejas<br />
ou maços <strong>de</strong> tabaco. Andava sempre<br />
“municiado”.<br />
A Inge Preis, realizadora <strong>de</strong> audiovisuais,<br />
ficou até bastante <strong>de</strong>pois da in<strong>de</strong>pendência.<br />
Por curiosida<strong>de</strong> junta-se uma foto<br />
<strong>de</strong>la, tirada há três anos em Cascais.<br />
O DESEMBARQUE • n.º 15 • Março <strong>de</strong> 2013 • www.associacao<strong>de</strong>fuzileiros.pt 41