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Entrevista Médico pernambucano Enilton Egito ... - Revista Algomais

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Ano 4 | n o . 45 | Dezembro 2009 R$ 9,00 www.revistaalgomais.com.br<br />

Presídio<br />

Nova unidade em Itaquitinga<br />

sofre questionamentos<br />

<strong>Entrevista</strong><br />

<strong>Médico</strong> <strong>pernambucano</strong> <strong>Enilton</strong> <strong>Egito</strong><br />

fala do seu sucesso em São Paulo<br />

O Natal pós-crise<br />

dezembro ><br />

> 1


MOTORISTA LEGAL É MOTORISTA CONSCIENTE.<br />

2 > > dezembro


FIQUE ATENTO AOS<br />

MOTOCICLISTAS E<br />

SINALIZE SEMPRE ANTES<br />

DE MUDAR DE FAIXA.<br />

No trânsito é preciso ter sempre em mente o perigo<br />

que você pode causar aos outros e a si mesmo.<br />

Lembre-se que motos e bicicletas são mais frágeis<br />

e a segurança de quem as conduz depende da sua<br />

atenção. Dirija com consciência.<br />

dezembro ><br />

> 3


4 > ><br />

dezembro


dezembro ><br />

><br />

5


ilhos indicam, mãe pesquisa e pai paga”; “Produtos nata-<br />

“Flinos em alta”; “Lirismo motiva compras”; “Moda agrada<br />

a gregos e troianos” – estes títulos que dividem a reportagem<br />

de Capa desta edição, de Marcella Sampaio, indicam que o consumo,<br />

antes travado pela crise global, está voltando com toda a<br />

força justamente no Natal, a época do ano mais esperada pelo<br />

comércio. Em vez da “marolinha” (Lula tinha ou não razão?) falase,<br />

agora, em perspectivas de vendas – mais, ou menos, dez por<br />

cento de crescimento no movimento geral de compras? Como<br />

fazer essa estimativa? Afinal, apenas o pagamento do 13º salário<br />

injetará R$ 2,5 bilhões na economia pernambucana.<br />

Marcella ouviu os lojistas – de nove shoppings centers e de<br />

fora deles. Todos são otimistas, criaram 15 mil vagas temporárias<br />

de empregos, investiram em prêmios para estimular os consumidores.<br />

Até apartamento será sorteado pelo Papai Noel. E a moda,<br />

um capítulo especial da edição, indica que o modismo fashion<br />

para o Verão, que se estenderá aos primeiros meses de 2010,<br />

será liderado pelas cores neons, mas os acessórios darão um toque<br />

especial à estação, dizem os especialistas consultados.<br />

Depois do Natal e do fim do ano, a política predominará por<br />

todo o ano por causa das eleições de outubro. Ivo Dantas lembra,<br />

na página 26, que o calendário apertado promete definir o futuro<br />

da política em Pernambuco ainda no primeiro semestre. Já a partir<br />

Política<br />

Novo atraso em parque gera<br />

desgaste para os Joões 28<br />

Política<br />

A polêmica sobre a PPP<br />

do presídio de Itaquitinga 30<br />

Desenho<br />

Humor e história<br />

em Cartuns Postais 62<br />

6 > > dezembro<br />

Carta do Editor<br />

Edição 45<br />

Circulação | 4 de dezembro de 2009<br />

Criação | Adrianna Coutinho<br />

Tiragem | 15.000 exemplares<br />

Era marolinha?<br />

Sumário<br />

Seções<br />

Carta do Leitor<br />

<strong>Entrevista</strong><br />

Pano Rápido<br />

De Olho<br />

Pensando Bem<br />

João Alberto<br />

Artigo<br />

Gestão Mais<br />

Economia<br />

Memória Pernambucana<br />

Última Página<br />

de 1º de janeiro as pesquisas para intenção de voto estarão liberadas<br />

e os candidatos terão de largar os cargos públicos até 3 de<br />

abril. Consulte o calendário que publicamos na página 27.<br />

Ainda em Política, a discussão sobre a construção de presídio,<br />

na Zona da Mata Norte, através de PPP, para liberar o paraíso turístico<br />

de Itamaracá. Situação e Oposição concordam quanto aos<br />

benefícios, mas divergem sobre os custos do empreendimento e<br />

sua legalidade.<br />

Uma polêmica recorrente, por exemplo, quando se fala do Parque<br />

Dona Lindu, em Boa Viagem. A obra, que seria inaugurada em<br />

dezembro e foi mais uma vez postergada, já custou R$ 31 milhões<br />

graças aos aditivos impostos pela construtora. Um elefantão de<br />

presente de João pra João, confira na matéria da página 28.<br />

E para quem for passear no inacabado Dona Lindu e passar<br />

mal uma dica de consulta: o cardiologista <strong>pernambucano</strong> (de Timbaúba)<br />

<strong>Enilton</strong> <strong>Egito</strong> está à disposição em seu consultório no mais<br />

importante hospital especializado de São Paulo. Leia a entrevista<br />

que Antonio Magalhães fez com ele para esta edição e conheça a<br />

trajetória de sucesso de um profissional simples e extremamente<br />

conceituado cuja competência salvou dezenas de vidas – de <strong>pernambucano</strong>s<br />

e de gente de todo o Brasil. Uma boa leitura<br />

Roberto Tavares<br />

Editor Geral<br />

Reportagens<br />

Acertando os ponteiros<br />

De João pra João, um elefantão<br />

Entre a cruz e a espada<br />

Sob a proteção da Convenção de Haia<br />

Filhos indicam, mãe pesquisa e pai paga<br />

Artesanato de Pernambuco rompefronteiras<br />

Brasil e Pernambuco no Mundo Pós-crise<br />

Educação 2.0<br />

“Meta é atuar numa Copa”<br />

História e humor de mãos dadas nos cartuns de Humberto<br />

8<br />

10<br />

14<br />

18<br />

20<br />

22<br />

44<br />

46<br />

56<br />

64<br />

66<br />

26<br />

28<br />

30<br />

34<br />

36<br />

48<br />

54<br />

58<br />

60<br />

62


Rota Premium<br />

dezembro ><br />

> 7


Cartas do Leitor<br />

<strong>Algomais</strong> I<br />

<strong>Algomais</strong> enveredou por um assunto,<br />

que ainda vai gastar muita tinta e papel.<br />

Refiro-me a já muito falada Via Mangue. Tal<br />

obra viária há muito tempo anunciada, mais<br />

uma vez dizem irem começar suas obras.<br />

Esperamos ver finalmente um desafogo do<br />

hoje caótico trânsito de Boa Viagem. As promessas<br />

de manutenção do manguezal e seu<br />

aumento de área, espero não ser uma falácia.<br />

Palafitas dizem finalmente erradicarem.<br />

Temo por um incremento dessas moradias.<br />

Vou ficar mais vigilante-ambiental. Que não<br />

seja o novo “Túnel do Tempo” da Herculano<br />

Bandeira ou o prolongamento da Av. Dantas<br />

Barreto. Abraços,<br />

Carlos Tigre (Cacá)<br />

<strong>Algomais</strong> II<br />

A revista <strong>Algomais</strong> última está simplesmente<br />

espetacular. A reportagem sobre<br />

Arquitetura Inteligente (capa) está a exigir<br />

uma complementação: uma reportagem<br />

sobre o trânsito do Recife, cada vez mais<br />

atabalhoado diante de uma muito desbotada<br />

estratégia municipal - Arquitetura Inteligente<br />

X Trânsito Estupidificante.<br />

José Antônio Gonçalves – Recife<br />

<strong>Algomais</strong> III<br />

Parabéns pela edição 44: redonda, pernambucana.<br />

Luís Otávio Cavalcanti – Recife<br />

Foral<br />

Em 19 de novembro de 1709, o rei D.<br />

João V de Portugal mandou elevar o Recife a<br />

Vila e assinou o foral do Recife. Porque todo<br />

EXPEDIENTE<br />

Av. Domingos Ferreira, 890, sala 803<br />

Boa Viagem | 51110-050 | Recife/PE<br />

Fone: (81) 3327.3944<br />

Fax: (81) 3466.1308<br />

www.revistaalgomais.com.br<br />

Diretoria Executiva<br />

Sérgio Moury Fernandes<br />

sergiomoury@revistaalgomais.com.br<br />

Francisco Carneiro da Cunha<br />

franciscocunha@revistaalgomais.com.br<br />

Diretoria Comercial<br />

Luciano Moura<br />

lucianomoura@revistaalgomais.com.br<br />

8 > > dezembro<br />

o Município tinha então seu termo (freguesias<br />

e sítios que constituíam o território em<br />

que o município podia cobrar o foro), o rei<br />

deu ao Recife, e só ele o poderia fazer, os<br />

bairros do Recife, São José e Santo Antonio,<br />

o local de Afogados que era ligado ao<br />

bairro de São José por um aterro ponte, e<br />

as freguesias de Muribeca, Cabo de Santo<br />

Antonio e Ipojuca. Olinda ficou com a cidade,<br />

as suas freguesias até ao canal de Santa<br />

Cruz e à localidade dos Marcos na divisa<br />

com Goiana, mais o bairro da Boa Vista, e<br />

as freguesias de Várzea, São Lourenço (da<br />

Mata), Santo Antão (Vitória), Santo Amaro,<br />

Jaboatão, Nossa Senhora da Luz, Santo Antonio<br />

de Tracunhaem etc, etc. Se é assim<br />

e o prefeito dr. Germano Coelho resolveu<br />

cobrar o foro de todos os primitivos terrenos<br />

do foral de Olinda por que somente escolheu<br />

os locais mais ricos e nobres de Pernambuco?<br />

Por que não mandou cobrar o foro a todos<br />

os outros? Certamente porque sabia ser<br />

esse foro uma cobrança ilegal porque era a<br />

duplicação de um imposto já existe, ele não<br />

iria taxar a sua zona eleitoral onde, ao lançar<br />

mais esse imposto fantasia não teria nem<br />

mais um voto. Por que será que o sr. secretário<br />

da Fazenda de Olinda, que há alguns<br />

dias defendeu o direito de Olinda cobrar o<br />

foro de todos os terrenos do foral de 1537,<br />

não o faz?<br />

Delmar Rosado – Recife<br />

Abelardo da Hora<br />

Parabéns à <strong>Algomais</strong> pelo valor cultural,<br />

informativo e político do conteúdo da<br />

revista. A de Nº 44 ( novembro/2009 ) seção<br />

<strong>Entrevista</strong>: Abelardo da Hora, merece<br />

parabéns dobrado. Apesar de não ser artista<br />

e sim assistente social, fiquei emocio-<br />

Conselho Editorial<br />

Francisco Carneiro da Cunha (coordenador)<br />

Antonio Magalhães<br />

Luciano Moura<br />

Ricardo de Almeida<br />

Sérgio Moury Fernandes<br />

REDAÇÃO<br />

Fone: (81) 3327.3944/4348<br />

Fax: (81) 3466.1308<br />

redacao@revistaalgomais.com.br<br />

Editor-geral<br />

Roberto Tavares<br />

robertotavares@revistaalgomais.com.br<br />

Editor-executivo<br />

José Neves Cabral<br />

zeneves@revistaalgomais.com.br<br />

Reportagens<br />

Carolina Bradley<br />

carol@revistaalgomais.com.br<br />

Marcella Sampaio<br />

marcella@revistaalgomais.com.br<br />

Ivo Dantas<br />

ivodantas@revistaalgomais.com.br<br />

Fotografia<br />

Alexandre Albuquerque<br />

(81) 9212.9423<br />

Editoria de Arte<br />

e Editoração Eletrônica<br />

Adrianna Coutinho<br />

adrianna@revistaalgomais.com.br<br />

Rivaldo Neto<br />

rneto@revistaalgomais.com.br<br />

nada com o conteúdo do grande escultor e<br />

cheguei até as lágrimas com sua trajetória<br />

política pois vivenciei os anos difíceis da<br />

ditadura como militante estudantil e profissional.<br />

Maria do Socorro Silva Cajaseiras – Recife<br />

Ortografia<br />

Senhor Redator, à página 25 do nº. 44,<br />

novembro 2009, está escrito abaixo de uma<br />

fotografia: “DESISPERO”. O sentido desta<br />

observação é somente colaborar.<br />

Napoleão Tavares – Recife<br />

Chimbinha x Joelma<br />

Tenho o prazer de ler seu artigo na AL-<br />

GOMAIS , digitalizei e estou repassando<br />

também para os mesmos contatos, na esperança<br />

de que chegue a pelo menos um<br />

dos nossos representantes naquela casa.<br />

Um Estado com a história e a cultura que<br />

tem não poderia de forma alguma homenagear<br />

“aquelas” pessoas com tal comenda. É<br />

realmente lamentável, e por que não dizer<br />

que é falta do que fazer? Mais uma vez, parabéns.<br />

Dirceu Pereira Ramos<br />

Resposta de Paulo Caldas:<br />

Tenho respondido estas manifestações<br />

de apoio citando o nome dos responsáveis<br />

pelos projetos; Ivete Sangalo foi de João<br />

Negromonte e o casal Calypso de autoria de<br />

Nélson Pereira. Assim, sugiro que estes nomes<br />

sejam divulgados entre os nossos contatos<br />

e esquecidos nas próximas eleições, em<br />

2010. Palavra de cidadão <strong>pernambucano</strong>.<br />

Uma forma de vc concordar comigo, é fazer<br />

o mesmo.<br />

Assinatura<br />

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Fone: (81) 3325.5636<br />

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dezembro ><br />

> 9


<strong>Entrevista</strong><br />

10 > > dezembro<br />

<strong>Enilton</strong> do <strong>Egito</strong><br />

O bom trato do coração<br />

<strong>pernambucano</strong><br />

COMPENSAÇÃO | Os médicos formados em universidades públicas<br />

deveriam dar pelo menos dois anos de serviço generalista no Interior<br />

Por Antonio Magalhães<br />

cardiologista <strong>Enilton</strong> Sérgio Tabosa do<br />

O <strong>Egito</strong>, 59 anos, casado, cinco filhos,<br />

pode tanto ser encontrado num consultório<br />

do mais importante hospital especializado<br />

de São Paulo como na mais desbragada<br />

festa de Carnaval do Recife envergando<br />

uma fantasia, possivelmente a de Maurício<br />

de Nassau, o guru da confraria dos<br />

<strong>pernambucano</strong>s na capital paulista.<br />

O Dr. <strong>Enilton</strong> do <strong>Egito</strong> fez a travessia<br />

bem sucedida de Timbaúba, na Mata<br />

Norte de Pernambuco, onde foi criado,<br />

embora nascido na Fazenda Balanço em<br />

Macaparana, para o maior centro médico<br />

do País, São Paulo. Formado pela Faculdade<br />

de Ciências Médicas, da UPE, em 1974, ele<br />

foi naquele mesmo ano para Residência no<br />

Hospital da Beneficência Portuguesa com Dr.<br />

Adib Jatene e de lá, com o mesmo Jatene,<br />

para a chefia da emergência do Hospital do<br />

Coração. Lá, construiu uma carreira vitoriosa.<br />

Hoje, <strong>Enilton</strong> do <strong>Egito</strong> é referência médica<br />

nacional e, principalmente, entre os<br />

<strong>pernambucano</strong>s que vão procurá-lo em São<br />

Paulo para tratar dos males do coração.<br />

A metafórica coronária saudosa de outros<br />

<strong>pernambucano</strong>s que vivem em São Paulo,<br />

como ele, trata com doses exageradas de<br />

cultura pernambucana na Confraria Maurício<br />

de Nassau, onde é presidente. Um bom<br />

remédio para o coração, costuma dizer, é o<br />

bom relacionamento com as pessoas.<br />

E ele pratica. <strong>Enilton</strong> do <strong>Egito</strong> veio<br />

Alexandre Albuquerque<br />

comemorar os 35 anos de formatura com<br />

os colegas num resort de Pernambuco. Os<br />

velhos amigos. Lá, concedeu esta entrevista<br />

a <strong>Algomais</strong>. Durante a conversa, o médico<br />

emocionou-se profundamente duas vezes,<br />

travou a fala quando se referiu ao reencontro<br />

dos companheiros da primeira viagem a<br />

São Paulo e quando enfatizou o orgulho<br />

de exercer a profissão. Enfim, um homem<br />

ajustado e de bem com a vida.<br />

<strong>Algomais</strong> | Como foi sua trajetória de<br />

Timbaúba para São Paulo?<br />

<strong>Enilton</strong> do <strong>Egito</strong> | Aos 22 anos candidateime<br />

a vice-prefeito na chapa de oposição aos<br />

Ferreira Lima, uma oligarquia que dominava a<br />

cidade há 50 anos. Perdemos por 300 votos,<br />

quando na maioria das eleições eles ganhavam<br />

com uma diferença de até 10 mil votos. Depois<br />

da derrota fui fazer a residência médica em São<br />

Paulo e, como o mais velho, proibi meus irmãos<br />

de se meterem em política. No mesmo ano de<br />

formado, 1974, fui trabalhar com Dr. Adib Jatene,<br />

que já fazia pontes de safena. São Paulo<br />

só tinha dois centros de cirurgia cardíaca, o do<br />

Dr. Adib e o do Dr. Zerbini, o maior especialista<br />

da época em transplantes de coração. Fiz um<br />

grande relacionamento com Dr. Adib, o que<br />

me permitiu fazer uma ponte com os colegas<br />

cardiologistas do Recife, tirando dúvidas e resolvendo<br />

as broncas que aconteciam por aqui. O<br />

que não aconteceria hoje: o Recife é o segundo


centro médico do País e um importante centro<br />

da América Latina.<br />

AM | Como foi sua adaptação em São<br />

Paulo?<br />

EE | Foi um choque ver uma cidade tão grande.<br />

Mas morava na residência médica e quase<br />

não saia de lá. Era solteiro e não tinha tempo de<br />

passear. Só um ano depois, quando fui a show<br />

de Luiz Gonzaga, reencontrei velhos companheiros<br />

de viagem num velho fusca do Recife a São<br />

Paulo. Estavam lá Luciano Siqueira e Wilson Pimentel<br />

que não os via desde a chegada. Fiquei<br />

emocionado.<br />

AM | A adaptação foi lenta?<br />

EE | A minha atividade me absorvia muito. Não<br />

tinha lazer. Quando estava terminando a residência<br />

médica foi inaugurado o Hospital do Coração,<br />

o HCOR, e fui chamado por Dr. Adib para<br />

chefiar a emergência desse hospital. A partir daí,<br />

em 1976, fomos subindo juntos. Como o nordestino<br />

leva sua cidade dentro dele dentro, continuei<br />

ligado a minha terra, participando quando<br />

podia de atividades em Timbaúba e mantendo<br />

contato com colegas médicos daqui. O Hospital<br />

do Coração foi o começo de tudo.<br />

AM | São Paulo concentra 60% de todos<br />

os residentes médicos do Brasil. Não é<br />

uma grande concentração?<br />

EE | Esse é o grande problema da área médica<br />

no Brasil. Nosso país tem hoje 300 mil médicos.<br />

Só São Paulo deve abrigar pelo menos 150 mil,<br />

a metade deles. É um problema que as autoridades<br />

estão se voltando. Para fixar o médico<br />

fora dos grandes centros não é só dar um bom<br />

salário. Tem que oferecer também condições de<br />

trabalho. Ninguém quer ser médico em Altamira,<br />

no Pará, onde não há equipamentos fundamentais<br />

para um diagnóstico. As autoridades<br />

pensam em criar residências médicas no Norte<br />

e no Nordeste para fixar os profissionais. Se eles<br />

vão para São Paulo, se dão bem, são grandes as<br />

chances deles não voltarem aos seus estados.<br />

No Recife se sente menos isso, por conta do<br />

Polo <strong>Médico</strong>, mas no Interior há muita carência<br />

de médico especialista porque não se cria uma<br />

boa estrutura para o ato médico. Muita gente<br />

sai para trabalhar por lá e volta para a capital.<br />

AM | Quer dizer então que a Medicina<br />

está cada vez mais dependente dos<br />

equipamentos de alta tecnologia?<br />

Alexandre Albuquerque<br />

“Sem tecnologia<br />

não há a menor<br />

possibilidade<br />

de fixar o médico<br />

no interior”<br />

EE | Não tenha dúvida. A figura do médico com<br />

um estetoscópio é cada vez mais antiquada. Claro<br />

que a clinica médica continua soberana. O contato<br />

pessoal do médico com o paciente é muito<br />

importante. Mas ele tem que ficar atento, pois<br />

precisa de um diagnóstico. Hoje se cobra muito<br />

dos médicos o apoio tecnológico. E a tecnologia<br />

é cara: um aparelho de ressonância magnética,<br />

por exemplo, custa dois, três milhões de Reais<br />

que têm que se pagar. Há aí o problema crônico<br />

das cidades periféricas: sem a tecnologia não há<br />

possibilidade de fixar o médico no Interior.<br />

AM | A saúde pública então fica jogada<br />

às traças por falta de verbas para equipamentos<br />

de alta tecnologia?<br />

EE | Vou frequentemente a Macaparana, a São<br />

Vicente Ferrer, a Timbaúba, e vejo as dificuldades<br />

da área de saúde. Normalmente para se<br />

fixar no Interior, o médico vai se transformar em<br />

político, fazendeiro, ou marido da filha do líder<br />

político local. Essa é a maneira mais fácil que os<br />

colegas encontram para viver fora dos grandes<br />

centros. Vale mais o amor à camisa, a sua relação<br />

com a cidade, para um profissional trabalhar,<br />

por exemplo, em São Vicente Ferrer com<br />

poucas condições de infraestrutura na área.<br />

AM | A formação dos médicos é defi-<br />

ciente?<br />

EE | Veja bem, a Faculdade de Medicina ensina<br />

o indivíduo a aprender. Hoje para completar<br />

a formação são necessários 11 anos de estudo<br />

e prática – seis na faculdade, dois na residência<br />

médica e três anos de especialização. É uma formação<br />

complexa. O funil hoje não é o vestibular<br />

de Medicina, mas a Residência: são quatro mil<br />

vagas para 10 mil médicos que se formam por<br />

ano no Brasil.<br />

AM | O Brasil tem suficientes Faculdades<br />

de Medicina?<br />

EE | Demais até. São Paulo tem um médico<br />

para 500 habitantes, quando o ideal, segundo<br />

a Organização Mundial de Saúde, OMS, é em<br />

torno de um médico para mil habitantes. Pernambuco<br />

é um dos Estados que mais segurou<br />

a criação de novos cursos. Teve durante muito<br />

tempo duas faculdades de Medicina e agora<br />

chegou uma terceira. Já o Amapá tem quatro<br />

faculdades, vai ver que duas são do (senador)<br />

Sarney. São faculdades sem condições de formar<br />

médicos e que não contam sequer com um<br />

hospital. Uma faculdade de Medicina não é uma<br />

Escola Superior de Direito, onde o cara estuda no<br />

livro. Ela tem que ter a prática e para isso precisa<br />

de um hospital. Dr. Adib Jatene, que comanda<br />

hoje o Conselho Nacional de Residência Médica,<br />

tem brigado muito contra isso e vai fechar muita<br />

faculdade por aí.<br />

AM | Então a maior queixa não é pela<br />

falta de médicos, mas pela centralização<br />

deles em determinada região?<br />

EE | Certamente. Há uma revoada para os<br />

grandes centros. Em São Paulo não cabe mais.<br />

Todo ano vão centenas de médicos nordestinos<br />

e nortistas fazerem a Residência em São Paulo.<br />

O Estado que gastou na formação dos profissionais<br />

vai vê-los trabalhando para outro Estado.<br />

AM | Os formandos das faculdades públicas<br />

não deviam ter compromisso com<br />

o estado que possibilitou sua formação?<br />

EE | É o caminho certo. Não há outra saída.<br />

Deveriam dar pelo menos dois anos de serviço<br />

generalista no Interior. E essa opção está se definindo.<br />

AM | Recife é hoje um centro médico de<br />

excelência. E como era antes?<br />

EE | Quando saí do Recife existiam duas faculdades<br />

– a Ciências Médicas e a Federal. u uu<br />

dezembro ><br />

> 11


<strong>Entrevista</strong><br />

Mas tinham grande médicos, como Luís Tavares.<br />

que trouxe muita tecnologia para cá. Mas<br />

não tinham pessoas, por exemplo, formadas<br />

para cirurgias cardíacas. Era uma coisa muito<br />

nova. As cirurgias de ponte de safena completaram<br />

50 anos agora. Eu estou em São Paulo há<br />

35 anos. Embora hoje o Recife tenha uma estrutura<br />

muito boa, não dá mais para voltar. Tenho<br />

outras atividades extracurriculares. Sou diretor<br />

da Sociedade Brasileira de Cardiologia e muita<br />

coisa me prende em São Paulo.<br />

AM | Para o jovem médico o Recife é<br />

bom centro formador?<br />

EE | Sem dúvida. Ele pode tranquilamente<br />

escolher o Recife para praticar sua atividade.<br />

Ir para São Paulo só para estágios específicos,<br />

assim como se vai para Inglaterra ou Estados<br />

Unidos. E não, como já foi no passado, o único<br />

centro avançado para exercer a profissão.<br />

AM | Mas sua experiência paulista foi<br />

bem positiva?<br />

EE | De fato. Conheci no Hospital do Coração<br />

minha mulher, que é pernambucana e médica.<br />

Foi uma adaptação bem mais fácil porque tive<br />

logo o reconhecimento profissional e a sobrevivência<br />

garantida pelo emprego no hospital.<br />

O médico que tem que lutar pela sobrevivência<br />

tem mais dificuldades que podem prejudicar<br />

seu desempenho. Por outro lado, para suprir a<br />

carência afetiva ou saudade da nossa terra criamos<br />

há mais de 20 anos a Confraria Maurício de<br />

Nassau, que congrega <strong>pernambucano</strong>s.<br />

AM | Têm muitos <strong>pernambucano</strong>s como<br />

você na Confraria Maurício de Nassau<br />

de São Paulo?<br />

EE | Têm muitos médicos. E já houve mais. Alguns<br />

estão voltando. Quando o Banorte existia<br />

tinha mais gente de vários setores profissionais<br />

que participava da confraria. Depois que foi<br />

vendido ficou um grupo grande de médicos. Aí<br />

demos uma diminuída porque tinha virado um<br />

congresso. Não era mais uma confraria.<br />

AM | O que é a confraria?<br />

EE | É um ponto de encontro para conversas,<br />

discussões sobre a cultura pernambucana,<br />

apresentações de artistas, com jantares mensais,<br />

onde se é possível saber o que a nossa<br />

gente está fazendo em São Paulo. Fazemos<br />

festa de Carnaval, São João, mantemos nossas<br />

12 > > dezembro<br />

tradições e hábitos. Temos até um boneco de<br />

Maurício de Nassau feito pelo bonequeiro de<br />

Olinda Sílvio Botelho. Nas comemorações dos<br />

350 anos da vinda de Nassau ao Recife quiseram<br />

trazê-lo, mas ninguém queria se responsabilizar<br />

por ele. Não deixei.<br />

AM | Quer dizer que o <strong>pernambucano</strong> se<br />

mantém igual fora de casa?<br />

EE | Não perde nem o sotaque. Eu cheguei<br />

em 74 e aonde chego o cabra sabe de onde<br />

sou pelo sotaque. Ser de Pernambuco sempre<br />

foi um estimulo para nós. Cobram de você uma<br />

posição mais ética. E assim deve ser: você traz o<br />

Estado, tem uma obrigação. É uma coisa muito<br />

interessante.<br />

Alexandre Albuquerque<br />

“Quatro remédios<br />

salvam vidas hoje e<br />

mudaram a história<br />

da mortalidade na<br />

área cardíaca”<br />

AM | Os <strong>pernambucano</strong>s lhe procuram<br />

muito em São Paulo?<br />

EE | Tenho grandes amigos. Cada paciente termina<br />

um amigo. Tem dias que atendo até seis,<br />

sete <strong>pernambucano</strong>s. Cuido do coração e dou<br />

referências de outras especialidades. Inclusive<br />

para a parte social do Hospital do Coração que<br />

atende os carentes de qualquer parte do País.<br />

AM | Como está o coração do brasileiro?<br />

EE | O coração do brasileiro se compara aos<br />

corações do Primeiro Mundo ocidental. A quantidade<br />

de mortes aqui é igual a dos Estados<br />

Unidos. Perdemos 350 mil, 400 mil pacientes<br />

por ano por doenças cardíacas. Na fase mais<br />

produtiva e na meia idade. Por isso que se gasta<br />

tanto em Cardiologia porque pega o indivíduo<br />

na fase ascendente. Uma das causas que mais<br />

contribuem é o estresse. O que reduz o estresse<br />

é o que estou fazendo em Pernambuco, recarregando<br />

as baterias, revendo os amigos, como a<br />

confraria faz.<br />

AM | O fim do sedentarismo e mais exercícios<br />

ajudam também?<br />

EE | Do ponto de vista médico são corretos.<br />

Em Timbaúba a gente comia fígado, sarapatel,<br />

mas andava muito. Meu avô andava seis quilômetros<br />

para fazer qualquer coisa. As pessoas<br />

se exercitavam muito. Hoje não se mexe nem<br />

na alavanca para baixar o vidro do carro. É tudo<br />

botão, controle remoto. As pessoas estão cada<br />

vez mais sedentárias. A comida é fast food, pizza,<br />

hábitos alimentares errados.<br />

AM | Hoje as cirurgias cardíacas não<br />

preocupam?<br />

EE | Atualmente a mortalidade em cirurgia cardíaca<br />

é menos de um por cento. É uma rotina<br />

com poucos acidentes porque temos um check<br />

list. O cirurgião já sabe o que vai fazer com toda<br />

segurança. O stent, uma molinha que é colocada<br />

por um cateter dentro da coronária, esmaga a<br />

placa de gordura como se fosse um minúsculo<br />

bob de cabelo. A grande noticia é que hoje o<br />

stent é usado em 70% dos pacientes que eu<br />

abriria seu peito há 20 anos. Além do mais, a<br />

parte clinica melhorou muito. Quatro remédios<br />

que salvam vidas hoje: a Estatina contra o colesterol,<br />

a Aspirina, que afina o sangue, os inibidores<br />

de enzimas que protegem as artérias, e o beta<br />

bloqueador. Eles mudaram a história da mortalidade<br />

nessa área. Hoje, com remédio, o fim do<br />

cigarro, exercícios regulares, boa comida e bons<br />

relacionamentos, a história de um possível futuro<br />

enfartado é outra.<br />

AM | Qual o conselho que o senhor daria<br />

para um jovem estudante de Medicina?<br />

EE | Essa é uma profissão de sacrifício. É uma maneira<br />

de ajudar o próximo. Caso não pense assim,<br />

está na profissão errada. Vá ser comerciante, qualquer<br />

coisa. Por aí se diz que não tem médico pobre.<br />

É uma verdade desde que não seja preguiçoso.<br />

Porque, embora existam 300 mil médicos, há um<br />

mercado que necessita de profissionais. Alguns<br />

hoje cumprem uma tripla jornada de trabalho. Há<br />

espaço para os novos. Sinto muito orgulho de ser<br />

médico. Vivo o sonho que sonhei, ajudando as<br />

pessoas. Ser médico é ter que trabalhar e estudar<br />

muito. E também se inteirar com o que existe em<br />

volta, melhorar como ser humano para ser mais<br />

útil a si próprio e aos pacientes. Aconselho sempre<br />

que se mirem nos seus professores. n


dezembro ><br />

><br />

13


Tá explicado<br />

14 > > dezembro<br />

Pano rápido<br />

Sala de cirurgia do Hospital Português.<br />

Na época, o equipamento que<br />

acionava o bisturi elétrico era uma geringonça<br />

enorme, instalada bem no<br />

meio da sala. Dr. Aluízio Freire acionou<br />

o bisturi. A geringonça pegou fogo. Dr.<br />

Aluízio saiu às pressas da sala. Enquanto<br />

tentava desesperadamente tirar o extintor<br />

da parede, uma freirinha portuguesa<br />

esclarecia:<br />

— Dotoire, não sai. Mandei chumbálo<br />

pros ladrões não levá-lo.<br />

Que tão, tão<br />

Tonho e Bia se casaram em São<br />

José do Belmonte e no mesmo dia pegaram<br />

o pau-de-arara pra São Paulo.<br />

No terceiro dia de viagem, noite fria e<br />

escura quiném breu, o motorista do caminhão<br />

parou na beira da estrada pro<br />

pessoal descansar. Lá pras tantas, estavam<br />

todos (ou quase todos) dormindo.<br />

Bia cochicha pro marido: “Tonho,<br />

tas neu?” “Eu nãão!”<br />

— Então, tão.<br />

Fuga<br />

Aluízio Falcão, Antônio Carvalho e<br />

Orlando Boldrin saíram do Bar Jogral,<br />

na Rua Avanhadava, centro de São<br />

Paulo, o dia já amanhecido. Quando<br />

estavam passando pelo Cemitério da<br />

Consolação, avistaram duas velhinhas,<br />

mas muito velhinhas mesmo, saindo<br />

do cemitério. Carvalho mandou Boldrin<br />

parar o carro. E dirigiu-se às velhinhas:<br />

— Onde vocês pensam que vão? Já<br />

de volta pra dentro!<br />

Bons tempos<br />

Seu Tito, tio de Everardo Maciel, era comerciante<br />

em Pesqueira. Naquele tempo, as<br />

compras da Prefeitura eram feitas na base<br />

de bilhetes assinados pelo prefeito: “Favor<br />

enviar tantas grosas de lápis, tantas resmas<br />

de papel, tanto disso, tanto daquilo.” Era comum<br />

Seu Tito reduzir os pedidos pela metade.<br />

E mandar recados pelo portador:<br />

— Diga ao prefeito que a semana passada<br />

eu despachei o mesmo tanto. A Prefeitura<br />

tá gastando demais.<br />

Saiu Charles, entrou Waldemar.<br />

Carlos e Carlitos<br />

A Prefeitura do Recife desapropriou e<br />

reformou o Cine-Teatro do Parque, na Rua<br />

do Hospício. Na reinauguração, a peça Um<br />

sábado em 30, de Luiz Marinho, dirigida por<br />

Waldemar de Oliveira. Quadrinha do poeta<br />

Carlos Pena Filho:<br />

Desapropriaram o Parque,<br />

Nunca vi tanta besteira,<br />

Substituir Carlitos<br />

Por Waldemar de Oliveira<br />

Lado bom<br />

Joca Souza Leão<br />

jocasouzaleao@gmail.com<br />

Nascimento Brito, presidente do Jornal<br />

do Brasil, teve um derrame cerebral e<br />

ficou com o lado esquerdo paralisado. O<br />

cronista Oto Lara Resende foi visitá-lo no<br />

hospital. Quando voltou à redação do JB,<br />

comentou com os colegas:<br />

— O Nascimento tem um lado bom.<br />

Memórias<br />

O poeta Ascenso Ferreira, modesto<br />

funcionário público, se virava pra ganhar<br />

uns trocados. Vendia aos usineiros sacos de<br />

aniagem para embalar açúcar. E era quem<br />

vendia mais caro. Um concorrente quis saber<br />

qual era a mágica. Ascenso não se fez<br />

de rogado:<br />

— Digo que tô escrevendo um livro<br />

de memórias e que vou contar tudo que<br />

sei dos amigos e inimigos. Nunca pediram<br />

desconto.<br />

Compensação<br />

O bar e lanchonete Pic-nic, no oitão do<br />

Diário de Pernambuco, era frequentado por<br />

jornalistas e intelectuais. O dono, um português<br />

boa praça, enchia as paredes com cartazes,<br />

anunciando as novidades da casa.<br />

“Temos vinho gelado”. O escritor Renato<br />

Carneiro Campos caprichou na caligrafia:<br />

— Em compensação, a cerveja é quente.<br />

Conselho<br />

O senador Vitorino Freire, raposa do<br />

velho PSD maranhense, encontra com o<br />

jovem deputado federal Ney Maranhão,<br />

do PTB <strong>pernambucano</strong>, nos corredores<br />

do Senado no Rio de Janeiro, a capital<br />

da república de então.<br />

— Ney, meu filho, quando a pessoa é<br />

boa, Deus leva; quando não é, a gente ajuda.<br />

As histórias aqui contadas têm compromisso com os contadores de história que as contaram. E não, necessariamente, com a História.


dezembro ><br />

><br />

15


16 > ><br />

dezembro


dezembro ><br />

><br />

17


18 > > dezembro<br />

De Olho<br />

Som alto<br />

Está chegando ao fim o desaforo dos<br />

promotores de eventos com trios elétricos e<br />

altos decibeis. Nunca mais! Poderão bradar<br />

os moradores da orla e das proximidades do<br />

mar de Boa Viagem – ou de qualquer lugar<br />

de Pernambuco -, infernizados com paradas<br />

gays, caminhadas evangélicas e shows móveis<br />

de bandas de forró. O Ministério Público<br />

de Pernambuco produziu uma cartilha para<br />

o cidadão se defender da poluição sonora. A<br />

publicação explica como deve agir a vítima,<br />

detalhando seu comportamento diante do<br />

infrator e da polícia. A cartilha também enumera<br />

o aparato legal para garantir o bem estar<br />

das pessoas. Anexo à cartilha “Poluição<br />

Sonora” vem o CD ROM com modelos de<br />

ações judiciais.<br />

Destruição<br />

O pesquisador e professor Roberto<br />

Benjamim esteve nas terras da antiga Usina<br />

Jaboatão e notou que a Prefeitura demoliu<br />

as instalações industriais e se prepara para<br />

construir um conjunto habitacional. A antiga<br />

Casa Grande, datada de 1790, antiga sede<br />

do Engenho Suassuna, foi saqueada e está<br />

em ruínas. Foi lá que se reuniram os conspiradores<br />

para dar partida em 1801 a chamada<br />

Revolução dos Suassunas. O movimento<br />

inscreve-se entre os inspiradores da Revolução<br />

Pernambucana de 1817, um dos mais<br />

importantes eventos históricos do Estado.<br />

Literatura<br />

Na conversa paralela à entrevista com<br />

o cardiologista Enilto do <strong>Egito</strong>, destaque<br />

desta edição da <strong>Algomais</strong>, falou-se na<br />

importância do médico conhecer obras<br />

literárias que tratam de questões humanistas.<br />

Na Universidade Federal de São<br />

Paulo, profissionais da saúde se reúnem<br />

para discutir obras da literatura universal.<br />

Pegam emprestado sentimentos de Dom<br />

Quixote, Brás Cubas, Macbeth para humanizar<br />

o atendimento. O laboratório de humanidades<br />

da Unifesp já foi reconhecido<br />

como disciplina da pós-graduação.<br />

Sem resposta<br />

Está adormecido numa gaveta do Palácio<br />

do Campo das Princesas o levantamento<br />

que o deputado Pedro Eurico fez sobre a situação<br />

das antigas igrejas do Estado. Estão<br />

caindo aos pedaços sem atenção do poder<br />

público. Eurico, que é da Oposição, entregou<br />

o documento nas mãos do governador Eduardo<br />

Campos.<br />

Nem melhor, nem pior<br />

A retirada das placas comerciais do Recife,<br />

por decisão do prefeito João da Costa,<br />

não melhorou nem piorou o visual da cidade.<br />

Lonas de plástico negras cobrem boa parte<br />

das fachadas de lojas e escritórios de Boa<br />

Viagem. Em alguns casos, existem até denúncias<br />

de arbitrariedades dos fiscais da<br />

Prefeitura. Poucos deles entendem o que<br />

estão fazendo.<br />

Fim de ano<br />

Os comerciantes varejistas do Recife estão<br />

otimistas com o Natal. O presidente da<br />

Câmara de Dirigentes Lojistas, CDL-Recife, Sílvio<br />

Vasconcelos, acredita no crescimento das<br />

vendas em torno de 20%, em relação a 2008,<br />

quando se viveu o Natal da crise mundial. Mas<br />

o momento não é de paz: os comerciantes<br />

estão envolvidos numa disputa braba com as<br />

operadoras de cartão de crédito e com as autoridades<br />

econômicas. Querem dois preços para<br />

os produtos – à vista e no cartão. O dinheiro<br />

de plástico leva 5% de cada operação mais o<br />

custo do aluguel da máquina de registro dos<br />

cartões, que é monopólio de cada operadora.<br />

Vasconcelos garante que com os dois preços<br />

pode repassar a vantagem para o cliente.<br />

Resíduos, bom negócio<br />

O presidente da Federação das Indústrias<br />

de Pernambuco, Fiepe, Jorge Côrte Real, lançou<br />

a Bolsa de Resíduos. O serviço permite que<br />

empresas do Estado comercializem resíduos<br />

industriais pela Internet, aumentando a competividade<br />

dos negócios e contribuindo para a<br />

preservação do meio ambiente.<br />

Antônio Magalhães<br />

ajamagalhaes@yahoo.com.br<br />

Apagão<br />

Em tempos de apagão, o Nordeste<br />

oferece vantagens competitivas para<br />

investimentos em energia elétrica, via<br />

Sudene e Banco do Nordeste. O Fundo<br />

Constitucional, FNE, diz o consultor<br />

Ricardo Di Cavalcanti, oferece recursos<br />

com prazo de carência de 8 anos e<br />

amortização em até 20 anos, com encargo<br />

médio ao ano de 7,6%. Alguns municípios<br />

nordestinos estão correndo atrás<br />

das pequenas geradoras de energia com<br />

benefícios e incentivos interessantes.<br />

Abusado<br />

A saída intempestiva do governo Eduardo<br />

Campos revelou o ex-prefeito João<br />

Paulo como um político audacioso. Não<br />

se sabe o benefício nas urnas pelo gesto.<br />

Mas o fato é que se mostrou abusado. Na<br />

entrevista à <strong>Algomais</strong>, em julho de 2008,<br />

João Paulo já alertava: “Um político tem<br />

que estar preparado para as exigências do<br />

partido. E pode ser com ou sem mandato.<br />

Conversei com o presidente Lula e ele deseja<br />

que eu dispute o Senado. Mas como<br />

a conjuntura política pode mudar de um<br />

dia para o outro, então poderia disputar<br />

o Senado se a eleição fosse hoje. Daqui<br />

para frente não dá para saber como estará<br />

a conjuntura política, econômica e social.<br />

Portanto, é importante ter paciência,<br />

prudência e saber qual o próximo passo a<br />

ser dado. Não se pode errar em política”.<br />

Despedida<br />

Nas 45 edições mensais de <strong>Algomais</strong><br />

pude revelar ao leitor um pouco de<br />

Pernambuco e sua gente. Creio que as<br />

informações e entrevistas foram do gosto<br />

do público. Tive muita satisfação em<br />

desenvolver esse trabalho. Mas agora<br />

é chegada a hora de ir em frente. Hora<br />

também de agradecer aos que estiveram<br />

comigo desde os primeiros dias da revista<br />

e desejar boa sorte aos que virão. Ao<br />

leitor, um grande abraço.


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dezembro ><br />

> 19<br />

Leo Burnett Brasil


Pensando bem<br />

Prisão temporária veio no Governo<br />

A Sarney. Um atentado ao estado<br />

democrático de direito e sua harmonia<br />

com a matéria penal. Na ditadura,<br />

tentaram transformar em lei a prisão<br />

cautelar. Queriam dar suporte jurídico<br />

ao pecado repetido no cotidiano.<br />

Quantas vezes ouvi de autoridades,<br />

após o sorriso maroto: “Seu cliente<br />

não está preso, apenas detido”. Ficar<br />

sem roupa, algemado e recolhido atrás<br />

das grades parecia ser um detalhe<br />

irrelevante.<br />

Comum a liberação acontecer<br />

antes do Alvará Judicial chegar na<br />

Polícia. O abre alas acontecia no<br />

Pedido de informações do habeas<br />

corpus. E ficava por isso mesmo.<br />

Excepcionalmente, quando a mentira<br />

era fácil de apontar, o juiz condenava<br />

o delegado a pagar as custas<br />

processuais.<br />

A ditadura acabou com Tancredo Neves, em 1985. Tancredo<br />

adoeceu, morreu, todo mundo chorou, o Brasil parou, menos<br />

Sarney, que virou presidente. O <strong>pernambucano</strong> Fernando Lyra<br />

montou um time de campeões: Cristovam Buarque, Zé Paulinho<br />

Cavalcanti, Joaquim Falcão, no Ministério da Justiça estiveram<br />

no ataque. Lyra resistiu o quanto pode. Oscar Dias Correia e o<br />

consultor geral da República, Saulo Ramos, chegaram depois.<br />

Dizem que a ideia da temporária fora de Saulo. Todo dia a gente<br />

vê gente ser presa. Prisão dá o maior Ibope. E o assunto morre,<br />

sem continuidade da matéria jornalística. É um entra e sai danado.<br />

O processo de Maluf prescreveu depois que ele foi preso.<br />

A temporária permite a prisão do suspeito quando ainda é<br />

mero suspeito. Depois que vira réu e é condenado, o “coitadinho”<br />

recebe prêmios. Um condenado a 30 anos sai do alto muro com<br />

um sexto da pena ou dois quintos, se o crime for hediondo. Trinta<br />

é a pena máxima e, só quem é gente muito “boa”, chega nesse<br />

patamar. Pior ainda é a saída do fim de semana. Grande parte só<br />

volta quando é preso de novo, por outro crime. Tem detento que<br />

sai, faz, volta antes de voltar e ainda cria o álibi – “tava preso”.<br />

O indulto natalino é outra ignomínia sem par. A Carta Magna<br />

Inglesa, em 1215, consagrou o devido processo legal. Depois<br />

20 > > dezembro<br />

Gilberto Marques<br />

advgilbertomarques@hotmail.com<br />

A privacidade da cadeia<br />

e o indulto natalino<br />

de muita luta e da instituição da<br />

ONU, o due process of law venceu.<br />

A Monarquia dava, ao chefe do<br />

Executivo, prerrogativas e poderes<br />

que a história conta. O imperador e o<br />

rei faziam jurisprudência.<br />

No episódio do rei Salomão a mãe<br />

verdadeira cedeu – e pariu a Decisão<br />

Salomônica. Sabia que o poder do rei<br />

era tanto que ele, de fato, cortaria<br />

ao meio, o filho disputado. Ou seja,<br />

Salomão até aí tinha má fama.<br />

Não tem lógica o presidente da<br />

República virar Papai Noel de bandido,<br />

só porque é presidente. É resquício,<br />

puro, da monarquia absolutista. O<br />

réu é culpado quando não houver<br />

mais recurso, após a condenação<br />

tornar-se definitiva. Todo mundo que<br />

cumpre pena, portanto, é culpado aos<br />

olhos da Justiça e da Lei Maior. Aí<br />

vem o Natal e o presidente aplica o<br />

genérico. Escancara as portas da cadeia. O presente do criminoso<br />

é o infortúnio do cidadão. E tudo corre por fora do devido processo<br />

legal. A questão é financeira e orçamentária.<br />

Agora, surgiu essa idéia psicodélica: privatizar o presídio. A<br />

empresa privada difere, na origem, da pública. A máquina estatal<br />

é lenta, viciada, enferrujada e cara. Sem falar na população<br />

funcional gigantesca – e o quadro é efetivo! No mundo todo, a<br />

telefonia era privatizada, aqui não. Serjão Motta, o ministro de<br />

FHC, modernizou o sistema e entregou o invento de Graham Bell<br />

à turma da privada. O Brasil é mesmo especial: o maior número<br />

de reclamações do consumidor na Justiça e fora dela, envolve as<br />

empresas de telefonia.<br />

Nos EUA, presídio privado foi uma experiência que não vingou.<br />

A quantidade de empresas desse jaez, no planeta, é diminuta.<br />

Imaginem isso aqui. Diz-se que cada preso vai custar, de cara,<br />

R$ 2.000,00 (dois mil reais). O salário mínimo de Lula passou dos<br />

cem dólares, mas ainda é R$ 465,00. A maioria dos presos jamais<br />

ganhou um salário, mas custará quatro. Isso não vai dar certo. O<br />

criminoso lucra com o crime. O dono do cadeado vai ganhar do<br />

criminoso. O lucro faz parte do negócio e o conceito é jurídico.<br />

Feliz Natal!<br />

*Gilberto Marques é advogado


dezembro ><br />

><br />

21


22 > > dezembro<br />

João Alberto<br />

Boa ideia<br />

Foi aprovado pela Comissão de Direitos<br />

Humanos do Senado, projeto de lei tornando<br />

obrigatória a instalação em cinemas, teatros,<br />

ginásios, campos de futebol, salas de<br />

aula e até salas de espera, de cadeiras<br />

especiais para pessoas obesas ou portadora<br />

de deficiências. Esqueceram das poltronas<br />

dos ônibus e dos aviões, estas cada vez<br />

menores até para os que têm peso normal.<br />

Cinquentenário<br />

sem brilho<br />

No dia 15 de dezembro transcorre o<br />

cinquentenário da criação da Sudene. Até<br />

agora não se sabe de nenhum evento<br />

programado. O que, aliás, se justifica,<br />

pela total falta de brilho da nova fase da<br />

autarquia, que não consegue nem mesmo<br />

espaço na mídia. Qualquer pesquisa<br />

mostraria que a maioria da população não<br />

sabe que ela foi ressuscitada.<br />

Dose dupla<br />

A TAM já conseguiu autorização<br />

para voar uma vez por semana para<br />

Fernando de Noronha. Espera apenas<br />

a liberação do aeroporto da ilha para<br />

voos noturnos para solicitar uma<br />

segunda ligação, às quartas-feiras.<br />

A empresa ainda não definiu a tarifa<br />

que vai cobrar, mas certamente será<br />

menor do que as absurdas cobradas<br />

atualmente pela Varig e Trip.<br />

Lulu Pinheiro<br />

n Gabriela Zonari e Ana Helena Pinheiro<br />

Dose dupla<br />

Duas jovens e talentosas<br />

fotografas, de grande<br />

atuação especialmente<br />

no segmento dos grandes<br />

eventos sociais da nossa<br />

cidade, resolveram se<br />

unir. Gabriela Zonari<br />

agora é sócia de Ana<br />

Helena Pinheiro na<br />

Agência Portrait e estão<br />

pensando grandes projetos<br />

para o próximo ano.<br />

Sem carona<br />

Alguns deputados andam<br />

lamentando a saída de<br />

José Múcio Monteiro do<br />

ministério. É que ele tinha<br />

direito a um jatinho, para<br />

vir ao Recife nos fins de<br />

semana e tanto na ida<br />

quanto na volta a Brasília<br />

costumava dar carona<br />

a alguns parlamentares.<br />

Democraticamente,<br />

levava parlamentares da<br />

situação e da oposição.<br />

Apoio ao Galo<br />

Eduardo Campos teve uma longa conversa com Rômulo Menezes, presidente do Galo da<br />

Madrugada, sobre o apoio a algumas iniciativas daquele bloco carnavalesco. A começar da<br />

ida da agremiação para mostrar nosso frevo a várias cidades do Estado e o programa de<br />

responsabilidade social que o Galo realiza com as comunidades dos bairros de São José,<br />

Coque. Ilha Joana Bezerra, Coelhos e Pilar.


Luka Santos<br />

n Karla Paes e João Barbosa<br />

O QUE SE COMENTA....<br />

QUE o réveillon da Arcádia do Paço<br />

Alfândega, depois de uma ausência de<br />

dois anos, voltará a ser o mais badalado do<br />

Recife. u QUE Helena Brennand espera<br />

apenas o sinal do pai, Sérgio Guerra, para<br />

começar sua campanha para deputada<br />

federal. u QUE a turma do CQC está<br />

faturando altíssimo com seus shows de<br />

humor pelo país inteiro. u QUE a volta<br />

da boate Over Point está cada vez mais<br />

difícil, depois que os entendimentos com<br />

o Conselheiro não evoluíram. u QUE o<br />

Shopping Recife pretende incrementar a<br />

venda do seu cartão fidelidade, que evita<br />

filas para o pagamento do estacionamento.<br />

joaoalberto@revistaalgomais.com.br<br />

Brilho do Delta<br />

Há quatro anos, o empresário<br />

português João Barbosa deixou<br />

uma concessionária Fiat que<br />

tinha em Aveiro, em Portugal e<br />

veio para o Recife. Em sociedade<br />

com Eduardo Gusmão, criou a<br />

Eurobrasil, para representar no<br />

Brasil o Delta Café, Hoje, com lojas<br />

nos shoppings e no Recife Antigo<br />

e presente em 118 restaurantes,<br />

bares e hotéis do Recife, onde<br />

servirá três milhões de xícaras<br />

este ano, amplia a atuação. Acaba<br />

de lançar a Delta Q, máquina<br />

doméstica de café expresso<br />

e planeja para<br />

2010 chegar a<br />

São Paulo, Rio de<br />

Janeiro, Brasília<br />

e Salvador,<br />

além de Porto<br />

de Galinhas.<br />

Casou-se com<br />

a pernambucana<br />

Karla Paes,<br />

que é a diretora<br />

de marketing<br />

do grupo.<br />

dezembro ><br />

> 23


Divulgação<br />

n Laurentino Gomes<br />

Leitura eletrônica<br />

Gleyson Ramos<br />

24 > > dezembro<br />

João Alberto<br />

Pesquisas<br />

no Recife<br />

Laurentino Gomes, o maior<br />

vendedor de livros do país<br />

neste ano, com seu 1808,<br />

tem vindo constantemente<br />

ao Recife, dentro do seu<br />

programa de pesquisas para<br />

o próximo livro, 1822, que<br />

lançará em setembro do<br />

próximo ano. Conversando<br />

comigo na Fliporto, ele revelou que o tema será a<br />

Independência do Brasil, que ao contrário do que muitos<br />

pensam não foi feita sem a morte de muitos brasileiros.<br />

Obra vai desde a volta da corte portuguesa para Lisboa até<br />

a morte de Dom Pedro I, em Portugal, três anos depois de<br />

abdicar do trono brasileiro.<br />

Antônio Campos está investindo<br />

forte, através da sua Carpe<br />

Diem , em parceria com a<br />

Mix Tecnologia, no Mix Leitor<br />

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dezembro ><br />

><br />

25


Política<br />

Acertando<br />

os ponteiros<br />

ELEIÇÕES 2010 | Calendário apertado promete definir o futuro da política em<br />

Pernambuco ainda no primeiro semestre. Internet será grande arma dos partidos<br />

2009<br />

chega ao fim fervendo. O que<br />

parecia ser o maior trunfo do<br />

governador Eduardo Campos junto à oposição, a<br />

unidade em sua base partidária, demonstra sinais<br />

claros de fraqueza. A entrega do cargo de secretário<br />

por parte do ex-prefeito João Paulo (PT) e<br />

o acirramento da briga no partido do presidente<br />

Lula após as eleições internas no fim de novembro<br />

são apenas o início da acirrada disputa que<br />

movimentará a política pernambucana durante<br />

todo o próximo ano. A corrida começa cedo para<br />

n Espelhados na campanha 2.0 de Obama partidos prometem utilizar todo o potencial das ferramentas da web<br />

26 > > dezembro<br />

os partidos e Justiça Eleitoral. Os ponteiros serão<br />

acertados logo nos primeiros meses do ano,<br />

definindo o que se verá ao longo do segundo semestre.<br />

Muito do jogo político será definido até<br />

julho, com as convenções, o limite dos prazos<br />

para candidatos deixarem cargos públicos e o<br />

fechamento das chapinhas e chapões.<br />

Em de 1º de janeiro será dada a largada<br />

oficial das eleições com a liberação das pesquisas<br />

para intenção de voto. A partir daí o<br />

calendário só tende a acelerar. As principais<br />

decisões, como adiantado por <strong>Algomais</strong>, devem<br />

ficar mesmo para quando existirem dados<br />

mais concretos sobre o cenário eleitoral. “Jarbas<br />

só parte para a disputa com números favoráveis”,<br />

lembra o cientista político da Fundação<br />

Joaquim Nabuco Túlio Velho Barreto.<br />

Após o encerramento do prazo para a<br />

filiação partidária, no último mês de outubro,<br />

o próximo passo é o afastamento dos<br />

pré-candidatos do serviço público, como os<br />

secretários Humberto Costa (PT) e Fernan-


do Bezerra Coelho (PSB), independente do<br />

cargo que forem disputar. Segundo a legislação,<br />

os políticos devem deixar seus cargos<br />

até seis meses antes do pleito.<br />

Entre 10 e 30 de junho devem acontecer<br />

as convenções partidárias que definirão de<br />

uma vez por todas o futuro dos arranjos políticos,<br />

que devem ser registrados no dia 5 de<br />

julho junto à Justiça Eleitoral. A partir desse<br />

ano os partidos são obrigados a destinar 30%<br />

de suas vagas para mulheres e 5% dos recursos<br />

do Fundo Partidário para a capacitação de<br />

representantes do sexo feminino.<br />

Já o período de propaganda promete ser,<br />

mais uma vez, a maior preocupação por parte<br />

do judiciário nacional. Em tese, só será permitida<br />

a partir de 6 de julho, com restrições quanto ao<br />

uso de outdoors e propaganda de rua – ainda<br />

mais após o processo de limpeza visual da cidade<br />

do Recife – na televisão e no rádio o horário<br />

eleitoral gratuito inicia no dia 17 de agosto só<br />

terminando em 30 de setembro, poucos dias<br />

antes do primeiro turno no dia 3 de outubro.<br />

Nem bem começou o ano e os processos<br />

já aparecem no TRE/PE. “Já tivemos um pedido<br />

do PR para retirar uma publicidade do senador<br />

Jarbas Vasconcelos (PMDB), mas que não foi<br />

aceito. O TSE só considera propaganda fora de<br />

época se disser o cargo e pedir voto. O que<br />

se tem visto pela cidade não é esse tipo de<br />

campanha”, explica o assessor chefe da Corregedoria<br />

do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco,<br />

Orson Lemos.<br />

UM ANO CHEIO DE NOVIDADES<br />

Pernambuco terá pela primeira vez uma<br />

votação por urna biométrica. Quatro municípios<br />

do Estado servirão como piloto para o teste do<br />

novo sistema que prevê o uso da impressão<br />

digital na hora do voto. Segundo explica Orson<br />

Lemos Itapissuma, Itamaracá, Rio Formoso e<br />

Tamandaré foram escolhidos por terem um número<br />

reduzido de eleitores (15 a 17 mil cada),<br />

serem próximas da capital e contarem com uma<br />

parcela significativa de trabalhadores com dificuldade<br />

para colher digitais, atestando a eficiência<br />

das novas urnas. “Muitos trabalham com as<br />

mãos e acabam desgastando a pele, tornando<br />

mais difícil a identificação. Assim, se der certo<br />

com esses eleitores, dará para todos”.<br />

Nas eleições de 2008 o processo foi testado<br />

nos municípios de Fátima do Sul e São João<br />

Batista (SC), além de Colorado do Oeste (RO).<br />

Ao todo, 48 mil eleitores votaram por biometria,<br />

com um índice de 1,8% de erro. “Esses<br />

números são extremamente positivos para<br />

Alexandre Albuquerque<br />

n Orson Lemos: urna biométrica será a grande novidade para o pleito<br />

qualquer lugar do mundo”, comemora Lemos.<br />

Aqueles que falharem no reconhecimento da<br />

impressão digital podem votar com o uso de<br />

um documento com foto.<br />

Outra novidade que pode aparecer para o<br />

eleitor é a tela-resumo, na qual constará todos<br />

os dados da votação. Ou seja, após os votos<br />

para cada cargo será preciso confirmar o conjunto,<br />

caso contrário o votante terá de repetir todos<br />

os passos. “Ainda está sendo analisado pelo<br />

Tribunal Superior Eleitoral, mas, se confirmado,<br />

poderá aumentar o tempo da votação, podendo<br />

até criar filas”, alerta o corregedor.<br />

Com a aprovação da minireforma eleitoral<br />

sancionada pelo presidente Lula em setembro<br />

algumas mudanças serão sentidas a partir dessas<br />

eleições. Dentre elas, a liberação do uso da<br />

internet para campanha é a que promete trazer<br />

as maiores consequências.<br />

O uso de blogs, Orkut, Facebook, Twitter,<br />

site, mensagens instantâneas está liberado,<br />

desde que o autor se identifique e o direito de<br />

resposta seja permitido. A doação eleitoral, símbolo<br />

da Campanha 2.0 de Obama, é permitida<br />

através de cartões de débito e crédito, boleto<br />

bancário e até cobrança na conta de telefone.<br />

Paulo Moura, da Exata Consulting, vencedor<br />

do Reed Awards, considerado o Oscar do<br />

marketing político, vai além. Para ele, essas<br />

eleições deverão ir além do que se viu nos Estados<br />

Unidos. “Já temos condições de realizar<br />

uma Campanha 3.0, com integração total entre<br />

as mídias sociais e demais ferramentas online”.<br />

Mas alerta “É preciso entender o modelo americano<br />

e desenvolver soluções locais. Quem copiar<br />

vai adotar uma estratégia errada”.<br />

Quem não perdeu tempo foi o grupo de<br />

apoio da ministra Dilma Hussef, que tratou logo<br />

de contratar o responsável pelo departamento<br />

técnico das eleições de Obama, Ben Self. Resta<br />

apenas resolver um impasse, já que o marqueteiro<br />

não quer assinar contrato de exclusividade<br />

com o PT, fato que não agrada a cúpula petista.<br />

“Ele é um nome muito bom, mas é importante<br />

frisar que não é o cérebro por detrás da belíssima<br />

campanha do democrata americano, diferentemente<br />

do que vem circulando na imprensa”,<br />

alerta Moura. n<br />

dezembro ><br />

> 27


Política<br />

De João pra João,<br />

um elefantão<br />

POLÊMICA | Previsão da PCR era de que o Parque Dona Lindu seria concluído em<br />

dezembro. Com o prazo estendido novamente, a oposição ganha fôlego para criticar<br />

Iniciado pelo prefeito João Paulo, no ano passado,<br />

o Parque Dona Lindu virou um elefante<br />

sentado no colo de seu sucessor, João da Costa.<br />

O primeiro João enfrentou ações judiciais<br />

em série, que atrasaram as obras da edificação,<br />

mas conseguiu inaugurar parte da construção<br />

no apagar das luzes de seu mandato, tendo<br />

como convidado de honra o presidente Lula. O<br />

segundo João enfrenta os dissabores da pressa<br />

do João I, as dificuldades burocráticas e, mesmo<br />

tendo prometido que a obra seria concluída<br />

neste mês de dezembro, não vai conseguir. Por<br />

isso, a PCR já admitiu publicamente que o término<br />

das obras só ocorrerá em 2010.<br />

Os percalços enfrentados pelos Joões<br />

para concluir o projeto suscitam críticas da<br />

oposição e, naturalmente, desgaste político.<br />

Principal voz da Câmara Municipal contra a<br />

construção do Parque Dona Lindu, a vereadora<br />

Priscila Krause diz que João da Costa é “useiro<br />

e vezeiro” em prometer e não cumprir. “Foi<br />

assim com a Rua Capitão Temudo e com a Via<br />

Mangue. Também está sendo com o parque<br />

que foi feito de uma forma que a população<br />

não queria”, atira Priscila.<br />

O secretário de Planejamento da PCR, Amir<br />

Schwartz, afirmou em entrevistas aos jornais<br />

locais que não existe possibilidade de o parque<br />

ser concluído em dezembro, como havia prometido<br />

João da Costa em julho passado. Schwartz<br />

informou que no final do ano apenas a parte civil<br />

da construção será concluída.<br />

O atraso abre a guarda da prefeitura para<br />

as críticas da oposição. Segundo Priscila Krause,<br />

a PCR vai incluir mais aditivo de verba no<br />

projeto. “A obra já está em R$ 31 milhões, R$<br />

29 milhões da construção e R$ 2 milhões com<br />

28 > > dezembro<br />

o projeto. Não é justo o povo do Recife arcar<br />

com mais este valor”, critica. Ela diz ainda que<br />

vai fazer um pedido de informações à PCR sobre<br />

esse aditivo e que, de posse das explicações,<br />

vai encaminhá-las ao Ministério Público e ao<br />

Tribunal de Contas do Estado. “Aquele parque<br />

é um elefante branco, mas já que eles começaram<br />

então que terminem.”<br />

Schwatz garante, porém, que o contrato<br />

aditivo que será feito para atualizar o equipamento<br />

do teatro não elevará os custos. A obra é<br />

executada pela construtora Concrepoxi/Triunfo.<br />

E o projeto é do arquiteto Oscar Niemayer.<br />

No pique da construção, no ano passado,<br />

cerca de 300 trabalhadores estavam envolvidos.<br />

Atualmente, o número varia entre 150 e 200.<br />

As principais queixas da população em<br />

relação ao Parque Dona Lindu são a falta de<br />

espaço para as crianças brincarem. “No final<br />

da tarde, quando viemos aqui para passear<br />

os brinquedos são poucos para o número de<br />

crianças que frequenta o local. A prefeitura não<br />

teve sensibilidade para entender que isso aqui<br />

era para ter uma área verde maior, e não esses<br />

dois prédios”, explica o comerciante Sebastião<br />

Pereira. n


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Construção e Incorporação:<br />

Sky Park: projeto aprovado pela PCR sob o nº 760823308 em 07/03/2008. Memorial de incorporação prenotado no 1º RGI sob o nº 309.799. Green Park: projeto aprovado pela PCR sob o nº 760821108 em 30/01/2008. Memorial de<br />

incorporação prenotado no 1º RGI sob o nº 309.797. Grand Park: projeto aprovado pela PCR sob o nº 760825208 em 09/04/2008. Memorial de incorporação prenotado no 1º RGI sob o nº 309.798. Sun Park: dezembro > projeto aprovado > pela PCR sob o 29<br />

nº 760819308 em 08/01/2008. Memorial de incorporação prenotado no 1º RGI sob o nº 311.645. Sea Park: projeto aprovado pela PCR sob o nº 760821308 em 11/02/2008. Memorial de incorporação prenotado no 1º RGI sob o nº 313.778.<br />

Imagens meramente ilustrativas.<br />

8814.1122


Política<br />

Entre a cruz<br />

e a espada<br />

PPP |Construção de presídio através de Parceria Público-Privada sinaliza melhora<br />

no sistema carcerário em Pernambuco, mas enfrenta críticas sobre custos e legalidade<br />

Por Ivo Dantas<br />

Unidades superlotadas, estrutura precária,<br />

baixo índice de ressocialização,<br />

lentidão nos julgamentos. O cenário é típico<br />

de qualquer sistema penitenciário no Brasil.<br />

A equação é simples. Falta de investimentos<br />

ao longo das últimas décadas, somada ao<br />

aumento da criminalidade, acabaram por sobrecarregar<br />

as cadeias públicas país afora.<br />

Para se ter uma ideia da ineficiência do<br />

sistema brasileiro basta dar uma olhada nos<br />

dados liberados pelo Conselho Nacional de<br />

Justiça (CNJ), que realizou em setembro um<br />

mutirão para atualizar a situação dos processos<br />

criminais. Dos 40 mil analisados, 7,4 mil<br />

estavam encarcerados de forma indevida.<br />

Foram libertados mais de 4,9 mil presos pro-<br />

Alexandre Albuquerque<br />

30 > > dezembro<br />

visórios, que ainda não foram julgados, e 2,5<br />

mil com a pena cumprida em sua totalidade.<br />

Só em Pernambuco foram quase 500 alvarás<br />

de soltura dentro de um sistema carcerário<br />

de 14 estabelecimentos superlotados,<br />

alguns com mais de mil pessoas detidas.<br />

Somente no Aníbal Bruno, segundo maior<br />

em quantidade de presos no Brasil, são<br />

aproximadamente 3.600 detentos, quando a<br />

capacidade é de apenas 1.148.<br />

A promessa de mudar esse cenário surgiu<br />

a partir das Câmaras Técnicas, criadas<br />

como parte do Pacto pela Vida. “Durante as<br />

reuniões foram identificados diversos pontos<br />

a serem melhorados dentro da segurança<br />

pública e um deles foi o sistema penitenciário.<br />

Além da superlotação nas cadeias, boa<br />

parte está localizada na Região Metropoli-<br />

tana do Recife”, diz o líder do Governo na<br />

Assembléia Legislativa, Isaltino Nascimento<br />

(PT).<br />

Próximo ao modelo implantado pelo governador<br />

de Minas Gerais, Aécio Neves, em<br />

Ribeirão das Neves, e do visto em outros<br />

países, como Inglaterra, França e Estados<br />

Unidos, a nova unidade prisional será localizada<br />

no município de Itaquitinga, Zona da<br />

Mata Norte, a 66 km do Recife, e contará<br />

com um sistema de Parceria Público-Privada<br />

(PPP) em sua administração.<br />

O Centro Integrado de Ressocialização<br />

(CIR), como será chamado o novo presídio<br />

<strong>pernambucano</strong>, será gerido pela SPE Reintegra<br />

Brasil S.A., consórcio vencedor da<br />

licitação, e custaria inicialmente R$ 287<br />

milhões, dos quais R$ 230 milhões eram<br />

n Penitenciária em Itamaracá, destino turístico: 18 meses para ser desativada pelo Governo do Estado. Oposição apoia


n Visita do secretário Roldão Joaquim às obras do Complexo Penitenciário em Itaquitinga, Zona da Mata Norte<br />

provenientes de empréstimo junto ao Banco<br />

do Nordeste do Brasil (BNB). No entanto, os<br />

cálculos teriam sido refeitos e o projeto passou<br />

a custar R$ 350 milhões, sendo R$ 239<br />

milhões conseguidos junto ao BNB.<br />

Apesar de não sair diretamente dos cofres<br />

públicos, já que os investimentos para<br />

a construção do complexo são da iniciativa<br />

privada, os custos deverão ser pagos ao<br />

longo dos próximos 30 anos através de uma<br />

mensalidade de R$ 2,2 mil por pessoa, algo<br />

em torno de R$ 74 por dia, custo similar ao<br />

de Minas Gerais, onde o contrato é de 27<br />

anos e o custo para construção de R$ 190<br />

milhões, oferecendo 3.040 vagas.<br />

Com esse valor, equivalente a 4,7 salários<br />

mínimos, daria para comprar mais de<br />

90 cestas básicas, com preço aproximado<br />

de R$ 23 nos principais supermercados da<br />

Região Metropolitana do Recife. “Em uma<br />

lógica orientada pelo lucro, fim máximo da<br />

iniciativa privada, não há como os valores não<br />

serem superiores aos praticados pela gestão<br />

pública”, diz a advogada e pesquisadora<br />

Alessandra Teixeira, presidente da Comissão<br />

sobre Sistema Prisional do Instituto Brasileiro<br />

de Ciências Criminais (IBCCRIM). “No fim das<br />

contas, se somarmos o valor per capita pago<br />

hoje aos custos indiretos, o valor fica equivalente”,<br />

discorda Isaltino Nascimento.<br />

Ao longo do contrato, o Governo aplicará<br />

mais de R$ 1,9 bilhão no CIR, que terá capacidade<br />

para abrigar 3.126 detentos vindos<br />

das penitenciárias Professor Barreto Campelo<br />

e Agroindustrial São João, localizadas na<br />

Ilha de Itamaracá. Com uma área de 98 hectares,<br />

a unidade prisional será distribuída em<br />

cinco pavilhões, sendo dois para o regime<br />

semiaberto, totalizando 1.200 vagas, e três<br />

para o fechado, com 1.926 detentos.<br />

Nem a desativação dos presídios em Ita-<br />

n Isaltino: valor fica equivalente<br />

maracá fica fora das críticas. Para a cientista<br />

social e pesquisadora da Fundação Joaquim<br />

Nabuco Ronidalva Melo, manter as unidades<br />

seria uma forma de reduzir o déficit do<br />

sistema penitenciário no Estado. “Mantendo<br />

as prisões de Itamaracá e racionalizando a<br />

sua ocupação teríamos, ao invés de 3 mil<br />

vagas, 5 mil. O efeito principal é o reconhecimento<br />

da incompetência dos que lidam com<br />

turismo, que só vêem como saída para seus<br />

negócios a destruição do que foi historicamente<br />

produzido”.<br />

Segundo ela, se as prisões estivessem<br />

em uma ilha americana o setor turístico tiraria<br />

proveito disso e ainda ganharia dinheiro com<br />

sua existência. “Isso denuncia o fracasso<br />

do Estado, uma vez que a ligação é que não<br />

existe controle dos presos e suas famílias<br />

em Itamaracá. Anos atrás, ir para a ilha e ter<br />

contato com presos oferecendo o artesanato,<br />

doces e comidas que produziam era um agregado<br />

turístico para que quem frequentava a<br />

ilha”, diz a pesquisadora da Fundaj.<br />

Como recompensa por abrigar a nova<br />

unidade, Itaquitinga ganhará um acréscimo<br />

no repasse do Imposto sobre Circulação<br />

de Mercadorias e Prestação de Serviços<br />

(ICMS) para o município, segundo emenda<br />

de autoria da deputada Terezinha Nunes<br />

(PSDB), aprovada pela Alepe. Além u uu<br />

dezembro ><br />

> 31


Política<br />

de um acréscimo de R$ 475 mil mensais de<br />

Imposto Sobre Serviços (ISS).<br />

Pelo texto da lei 1% dos 3% da arrecadação<br />

do ICMS destinados à segurança pública<br />

devem ir para municípios que abrigam penitenciárias.<br />

Itamaracá, por exemplo, passará<br />

a receber a partir de janeiro de 2010 R$ 7<br />

milhões, ao invés dos atuais R$ 1,6. “Quando<br />

a unidade de Itaquitinga estiver em funcionamento<br />

esse percentual terá novo destino,<br />

dando possibilidades à gestão municipal de<br />

melhorar a infra-estrutura da cidade e compensar<br />

o ônus que é ter uma cadeia em seu<br />

território”, explica a deputada do PSDB.<br />

Outro ponto positivo para a cidade será a<br />

geração de três mil empregos durante a construção<br />

do complexo e, quando da entrega da<br />

obra, mil e duzentos postos de trabalho com<br />

carteira assinada. “A partir da construção da<br />

nova unidade, o município será contemplado<br />

com desenvolvimento econômico, tornandose<br />

destaque entre as demais cidades da Mata<br />

Norte”, comemorou o prefeito de Itaquitinga,<br />

Geovani Melo, durante visita do secretário<br />

Roldão Joaquim às obras do CIR.<br />

COMPLEXO SERIA INCONSTITUCIONAL<br />

Além dos custos envolvidos outro ponto<br />

bastante criticado é a terceirização da segurança<br />

pública por parte do Estado. Segundo<br />

advogados ouvidos por <strong>Algomais</strong>, a construção<br />

de um presídio baseado no sistema de<br />

n Alessandra Teixeira:<br />

lógica falaciosa<br />

32 > > dezembro<br />

Alexandre Albuquerque<br />

n Terezinha: “vai tudo para o ralo”<br />

Parceria Público-Privada não deveria se concretizar<br />

por enfrentar problemas de legalidade.<br />

“As PPPs perpetuam a privatização de alguma<br />

forma. Pode não ser no modo mais amplo do<br />

termo, mas se você transfere uma atividade<br />

pública para uma entidade privada, ao invés de<br />

ser orientada pelo interesse público, será pelo<br />

lucro, mesmo o processo não sendo feito de<br />

forma integral”, explica Alexandra Teixeira.<br />

No caso do sistema penitenciário haveria<br />

fatores agravantes, como o conflito entre<br />

o interesse da demanda e ressocialização.<br />

“Se você tem uma empresa quer que exista<br />

mais demanda, ou seja, interesse em mais<br />

pessoas presas. O 1º artigo da Lei de Execução<br />

Penal é muito claro sobre o papel do Estado<br />

na reintegração do preso à sociedade.<br />

Como garantir que uma entidade privada vá<br />

conferir esse direito, inclusive com a garantia<br />

da liberdade antecipada. Delegar o papel<br />

da segurança pública é inconstitucional”,<br />

critica a advogada do IBCCRIM.<br />

Já existem casos em que a privatização<br />

foi cancelada. No Ceará, a Justiça determinou<br />

o fim da gestão privada de três presídios,<br />

por ter identificado irregularidades na<br />

forma como o contrato foi realizado. “Existe<br />

a dúvida se entregar para o sistema privado<br />

é legal, então se amanhã for declarado inconstitucional<br />

vai tudo para o ralo”, reclama<br />

a deputada estadual Terezinha Nunes.<br />

Do outro lado, os que defendem o sistema<br />

de gestão privada dos presídios apelam<br />

para a humanização dos presos e ao fato do<br />

Estado não ter condições reais de prover<br />

melhores condições para as penitenciárias.<br />

“É preciso fazer alguma coisa, não dá para<br />

deixar como está. Retirar as penitenciárias<br />

de Itamaracá é algo antigo e necessário, o<br />

Estado não tem condições de administrar<br />

de forma eficiente por causa das distorções<br />

que existem no serviço público. Não resolve,<br />

mas é um avanço importante”, diz o deputado<br />

estadual Augusto Coutinho (DEM).<br />

Para Isaltino Nascimento, não existe<br />

ilegalidade no projeto já que o Estado não<br />

repassará as funções de segurança pública<br />

para a empresa gestora. Segundo o projeto<br />

da PPP, que teve suas obras iniciadas em<br />

outubro passado e devem durar 18 meses,<br />

o Governo será responsável pela diretoria,<br />

chefia de segurança, policiais militares,<br />

além dos supervisores de áreas especializadas.<br />

“Apenas a gestão administrativa é<br />

terceirizada, a polícia vai cumprir as regras<br />

do sistema prisional, cuidar da segurança<br />

na área externa. O Estado não deixará de<br />

fazer o estabelecido pela lei, o que vai haver<br />

é apenas o repasse da gestão”, defende o<br />

líder do governo na Alepe.<br />

Discurso que ainda não convence a advogada<br />

Alessandra Teixeira da constitucionalidade<br />

da Parceria Público-Privada. “Essa<br />

lógica é falaciosa. Todo o aparato está dentro<br />

da execução da pena. O agente privado que<br />

irá fornecer elementos para o juiz de como<br />

é o dia a dia do encarcerado. Além disso, as<br />

experiências que existem são pontuais, não<br />

se estendendo para todo o sistema penitenciário.<br />

O que se acaba criando é apenas um<br />

caso-modelo”. n<br />

n Coutinho: é necessário retirar as<br />

pernitênciárias de Itamaracá


dezembro ><br />

><br />

33


Geral<br />

Sob a proteção da<br />

Convenção de Haia<br />

SEQUESTRO PARENTAL | Criança de pais alemão e pernambucana<br />

aguarda no Recife decisão da Justiça para voltar a viver na Alemanha<br />

Por Edi Souza<br />

Especial para <strong>Algomais</strong><br />

J<br />

.L.K.K nasceu na Alemanha de mãe pernambucana<br />

e pai alemão. Até os três<br />

anos de idade vivia a rotina de uma família<br />

feliz. Na tranquila cidade de Würzburg,<br />

norte daquele país, brincava, passeava e<br />

frequentava a escola, quando em junho de<br />

2007 tudo mudou. Mãe e filho vieram ao<br />

Recife passar férias e não voltaram para<br />

casa. Este é mais um caso de sequestro<br />

parental de crianças que tramita na Justiça<br />

Federal desde a promulgação da Convenção<br />

de Haia. Hoje, são 300 casos semelhantes,<br />

espalhados por todo o Brasil, 10% dos quais<br />

no Nordeste.<br />

Essa Convenção, criada em 1980 na Cidade<br />

de Haia, na Holanda, foi extraída da Conferên-<br />

34 > > dezembro<br />

cia de cooperação jurídica internacional e tem<br />

como objetivo Restituir a criança ao país de sua<br />

residência habitual de forma rápida para que na<br />

jurisdição do país de origem se resolva a guarda.<br />

O Brasil é signatário ao lado de outros 77 países,<br />

e desde o ano 2000 acata a Convenção, que foi<br />

promulgada pelo decreto nº 3.413, com o fim<br />

de julgar os seqüestros internacionais. “Trata-se<br />

de um procedimento de pedido de cooperação<br />

pela via direta para resolver o sequestro parental,<br />

configurado sempre que um parente transfere<br />

ou retem, ilicitamente, um menor, privando-o<br />

da convivência do outro, que detinha unilateral<br />

ou conjuntamente a sua guarda”, explica a sócia<br />

especialista na área de direito de família do<br />

Escritório da Fonte Advogados, Marisa Hardman<br />

Paranhos.<br />

Embasado nessa Convenção, o pai, o advogado<br />

Matthias Kübel, 31, acionou a Justi-<br />

ça brasileira, ainda em 2007, para garantir o<br />

retorno do filho, pois, quando chegou ao Recife<br />

para buscar a família, foi surpreendido<br />

por decisão judicial de concessão de guarda<br />

provisória à mãe, Camila Pinheiro, 28, proferida<br />

pela primeira instância da Justiça Estadual<br />

de Pernambuco, que impedia a saída<br />

do menor do País. “Para ele foi uma grande<br />

surpresa, porque a mãe jamais demonstrou<br />

não ter interesse em retornar à Alemanha,<br />

tanto é que lá deixou roupas, objetos de uso<br />

pessoal e brinquedos da criança. Além disso,<br />

o casal vivia uma rotina de afeto, com<br />

várias demonstrações de amor por ambos”,<br />

revela Paranhos, que defende o caso como<br />

advogada assistente da União Federal, a favor<br />

de Kübel.<br />

Não faltaram tentativas, por parte da Autoridade<br />

Central, que é o órgão responsável


para fazer cumprir os termos da Convenção<br />

de Haia, sendo representada no Brasil pela<br />

Secretaria Especial dos Direitos Humanos –<br />

SEDH, da Presidência da República. Entre<br />

as investidas, a mãe foi notificada para um<br />

acordo amigável de restituição voluntária do<br />

garoto. Tudo com o fim de preservar os interesses<br />

do menor, garantindo o seu regresso<br />

com o mínimo de prejuízo.<br />

Na falta de acordo, o processo seguiu<br />

na Justiça até que em outubro, a 3ª turma<br />

do Tribunal Regional Federal da 5ª Região<br />

decidiu, por unanimidade, o retorno do menor,<br />

hoje com cinco anos. “Essa decisão<br />

foi importante para todo o Brasil, pois, ao<br />

confirmar a aplicabilidade da Convenção de<br />

Haia, o País demonstra respeitar os compromissos<br />

que assume internacionalmente,<br />

reforçando a credibilidade que tem conquistado<br />

nos últimos tempos. Até então, a Justiça<br />

brasileira discutia, no âmbito do processo<br />

de restituição, questões relacionadas à<br />

guarda do menor, o que não é cabível, já que<br />

tal decisão deverá ser proferida pelo Poder<br />

Judiciário do Estado de origem do menor -<br />

Alemanha”, explica Paranhos.<br />

Embora todas as decisões proferidas<br />

pela Justiça Estadual e Federal já tenham<br />

reconhecido a Convenção em primeira e<br />

segunda instâncias, o garoto continua no<br />

Recife, aguardando julgamento de recurso<br />

da mãe. Segundo Paranhos, em outubro,<br />

n Marisa: advogando em favor da<br />

volta de J.L.K.K. à Alemanha<br />

quando Kübel veio ao Recife, acompanhar<br />

o processo, o menino mostrou estar com<br />

muitas saudades.<br />

Além deste caso envolvendo Pernambuco,<br />

outros dois seguem em segredo de<br />

Justiça no Nordeste. Nos últimos seis anos,<br />

292 casos são acompanhados pela Secretaria<br />

Especial dos Direitos Humanos – SEDH,<br />

da Presidência da República. Destes, 76 foram<br />

resolvidos por meio de acordo entre as<br />

partes ou pelo retorno do menor por decisão<br />

da Justiça.<br />

“O objetivo da Convenção é também agilizar<br />

processos. Casos de disputa de guarda<br />

entre pais que vivem em países distintos<br />

podem demorar muito tempo, pois pela via<br />

judicial normal, uma decisão da justiça de um<br />

país deve ser tramitada para o outro país através<br />

de carta rogatória. Pela via da Convenção<br />

de Haia, que é a via da cooperação direta entre<br />

autoridades centrais, um pedido de restituição<br />

de criança é tramitado diretamente de<br />

uma autoridade central a outra em questão<br />

de dias por correio, podendo o pedido ser antecipado<br />

por fax em questão de horas.”, destaca<br />

a coordenadora da Autoridade Central<br />

da Secretaria Especial dos Direitos Humanos,<br />

em Brasília, Patrícia Lamego.<br />

O trâmite para início da ação é simples,<br />

se dá por meio do preenchimento de um formulário<br />

padronizado disponibilizado no site da<br />

SEDH, onde o parente, que está requerendo o<br />

retorno do menor, comprova por meio de documentos<br />

a relação que tem com a criança,<br />

mostrando ainda que ela não residia no país<br />

onde se encontra. “Após a análise de todos<br />

os papéis, em 48 horas é possível enviar o<br />

pedido para a Autoridade Central do outro<br />

País, sendo deflagrado o processo entre os<br />

dois países”, completa Lamego.<br />

Além da celeridade, a Convenção traz<br />

ainda o benefício da isenção de custos. Iniciada<br />

a ação, a Autoridade Central do País<br />

onde a criança se encontra, deverá arcar com<br />

os custos da defesa legal do pedido de cooperação,<br />

se este for aceito. “Contratar um<br />

profissional em outro país exigiria um custo<br />

financeiro alto para a pessoa que requer a<br />

repatriação da criança. Através da via direta<br />

da Convenção o requerente não terá custos<br />

de representação legal no outro país, pois<br />

tal responsabilidade é da Autoridade Central<br />

requerida. No Brasil, a representação legal<br />

é feita pela Advocacia-Geral da União, após<br />

ter sido acionada pela Secretaria Especial<br />

dos Direitos Humanos.”, conclui. n<br />

dezembro ><br />

> 35


Capa<br />

Filhos<br />

indicam, mãe<br />

pesquisa e<br />

pai paga<br />

CONSUMO | Os <strong>pernambucano</strong>s<br />

começam a mobilização das compras<br />

natalinas atraídos pelas promoções<br />

e impulsionados pela liberação<br />

do 13 o . salário<br />

Por Marcella Sampaio<br />

Os cânticos natalinos começam a soar no Estado,<br />

mas os sinos das caixas registradoras<br />

do comércio já badalam no ritmo das celebrações<br />

e confraternizações. O manifesto dos sentidos<br />

somados a superstição de que ano novo<br />

significa roupa e sapato novo surtem o efeito<br />

desejado pelo comércio. As vendas fortalecidas<br />

pela disponibilidade adicional do 13º salário injetará<br />

na economia pernambucana R$ 2,5 bilhões. u uu<br />

36 > > dezembro


dezembro ><br />

><br />

37


Capa<br />

“Supondo uma propensão média<br />

a consumir de 70%, isso significaria<br />

um reforço de R$1,5 bilhão<br />

nas vendas”, explica o economista<br />

Jocildo Bezerra.<br />

O apelo do Papai Noel não será<br />

responsável pelo maior índice de vendas.<br />

As Mamães Noel é quem irão liderar<br />

o consumo e contarão com o auxílio da figura<br />

masculina apenas para finalizar o ato<br />

da compra. “As compras de final ano tem<br />

um apelo familiar muito forte, os filhos indicam<br />

a mãe pesquisa e o pai paga”, explica o<br />

presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas<br />

(CDL), Sílvio Vasconcelos.<br />

Após o tormento da crise, o clima realmente<br />

é de animação. Prospecções da CDL<br />

prevêem um crescimento de vendas em torno<br />

de 15% a 18% em relação ao mesmo período<br />

do ano passado. “Não temos dúvidas<br />

que sairemos do Natal da crise para o Natal<br />

do crescimento”, comemora Vasconcelos.<br />

Os hábitos de consumo deverão permanecer<br />

os mesmos, mas o incentivo sobre<br />

a linha branca impulsionam o varejo. O<br />

Depois do turbulento período da crise<br />

e das altas do dólar, os atacarejos do setor<br />

de decoração e construção civil voltam a<br />

respirar aliviados. “O dólar com essa cotação<br />

propicia maior poder de compra para<br />

enfeites natalinos importados. E isso é<br />

ótimo porque possibilita-nos oferecer tudo<br />

para construir, reformar e decorar num<br />

mesmo lugar”, explica o gerente de marketing<br />

da Ferreira Costa, Gilson Medeiros. As<br />

compras de fim de ano soam como uma<br />

orquestra afinada com as máquinas registradoras<br />

voltando a trabalhar a todo vapor.<br />

A expectativa é o acréscimo nas vendas de<br />

15% em relação ao ano passado.<br />

Segundo o diretor comercial da Jurandir<br />

Pires, Fábio Pires, o perfil das compras<br />

acompanhará a tendência do mercado, 25%<br />

à vista e 75% à prazo, graças a queda dos<br />

juros. Nas duas grandes lojas, a árvores de<br />

Natal irá liderar a procura, assim como os<br />

produtos de decoração específicos para o<br />

período. Há espaço também para os tradicionais<br />

cristais.<br />

38 > > dezembro<br />

n Sílvio Vasconcelos, da CDL: compras<br />

de Natal tem apelo familiar muito forte<br />

setor de eletrodoméstico desponta como<br />

o grande beneficiado da vez, a redução do<br />

IPI e a demanda reprimida do ano passado<br />

contribuirão para o desempenho destaque.<br />

Produtos natalinos em alta<br />

n Loja da Ferreira Costa: tudo para construir, reformar e decorar num mesmo lugar<br />

Criatividade e diferenciação é o mote do<br />

Natal da Vila Papel, há um ano no mercado<br />

a empresa planeja aumentar em 20% as<br />

vendas oferecendo itens exclusivos e inova-<br />

Em seguida aparecerão os bens de consumo<br />

clássico, confecções e calçados, e os eletrônicos,<br />

estimulados pelas ofertas de crédito.<br />

O crédito surtirá efeito também na opção<br />

pelo pagamento. De acordo com Jocildo Bezerra,<br />

é provável que cresçam mais as vendas<br />

a prazo, porque os consumidores precisam<br />

guardar parte da receita adicional para enfrentarem<br />

as despesas de início de ano.<br />

Responsável pela sustentação da economia<br />

no período de crise, a ascensão das<br />

classes D e E no Brasil também alimentará o<br />

comércio no final do ano, segundo a pesquisa<br />

Índice de Intenção de Compras na Região<br />

Metropolitana do Recife divulgada pelo Gemepe/Fafire.<br />

EMPREGO<br />

O aumento nas vendas terá reflexo positivo<br />

na oferta de emprego. A previsão da<br />

CDL é que o comércio varejista do Recife<br />

disponibilize uma oferta de 13 mil a 15 mil<br />

vagas temporárias para o período. O aumento<br />

é mais de 20% em relação ao ano passado.<br />

O momento também é propício para garantir<br />

a estabilidade. Segundo Sílvio Vasconcelos,<br />

15% dos funcionários temporários se tornam<br />

efetivos.<br />

dores. “Todos os nossos objetos de Natal são<br />

escolhidos a dedo para serem diferentes do<br />

comum. Não se encontra em qualquer lugar”,<br />

diz a empresária Viviane Mendonça.


Lirismo motiva compras<br />

Manuela Malta<br />

O consumo<br />

deverá crescer<br />

em todos os<br />

lugares, mas<br />

é nos nove<br />

shoppings pern<br />

a m b u c a n o s<br />

que o hábito<br />

terá melhor aproveitamento.<br />

À procura<br />

de bom preço, condições de<br />

pagamento e atendimento, os consumidores<br />

podem elevar em até 20% as vendas dos<br />

malls. “O fantasma da crise que existia no ano<br />

passado foi superado, o crédito voltou para o<br />

consumidor e ainda temos fatores como a antecipação<br />

do pagamento, anunciada pelo Governo<br />

do Estado, do salário de dezembro e do<br />

13o salário, para antes do Natal”, comemora o<br />

superintendente do Tacaruna, Elenio Tolomei.<br />

A Associação Brasileira de Shopping Centers<br />

(Abrasce) espera que no ano de 2009 o<br />

faturamento das vendas nos malls de todo o<br />

país ultrapasse os R$ 70 bilhões. Para atrair a<br />

demanda formada em 56% por mulheres, os<br />

centros lançam mão das mais variadas e tentadoras<br />

promoções, que vão desde sorteios de<br />

apartamento, vale compras de R$ 25 mil aos<br />

kits promocionais.<br />

Espetáculos de luzes, cores e sons dão<br />

lirismo à indústria de shoppings centers, que<br />

possui apenas em Pernambuco mais de 249<br />

mil metros quadrados de área bruta locável.<br />

Sob o mote “Natal que você sempre sonhou”,<br />

o Plaza Shopping investiu R$ 310 mil na decoração<br />

do centro para ampliar o fluxo de clientes<br />

em 15%. De olho no grande filão das compras,<br />

firmou uma parceria com o Hipercard para premiar,<br />

a cada R$ 200 em compras no cartão, o<br />

cliente com um boneco de madeira do Pinóquio.<br />

Além disso, cinco novas lojas incrementam<br />

a oferta do mall.<br />

O Shopping Recife investiu em ação promocional<br />

mais tentadora: sortear um apartamento<br />

da Queiroz Galvão com 3 quartos, em<br />

Boa Viagem, pronto para morar. Para participar,<br />

o cliente precisa juntar R$200,00 em compras<br />

nas lojas do shopping e trocar por um cupom.<br />

Ao todo, o maior mall da América Latina<br />

investirá R$ 2,2 milhões no período, 40% a<br />

mais que no ano passado. Desse montante,<br />

n Decoração natalina: apelo direto ao bolso do consumidor<br />

R$ 600 mil foram aplicados apenas na decoração<br />

interna e externa do empreendimento,<br />

que espera receber mais 3,8 milhões de pessoas.<br />

A estrutura administrativa também será<br />

incrementada. “Estimamos que ocorra a contratação<br />

de mais de 3 mil empregos, contando<br />

com as equipes das lojas e com o nosso quadro<br />

funcional. Para ter uma estrutura adequada<br />

ao movimento do Natal temos que reforçar<br />

vários departamentos internos, como limpeza,<br />

estacionamento e segurança. Deveremos ter<br />

um acréscimo em torno de 35% na equipe do<br />

Shopping”, finaliza o superintendente, Luiz Lacombe.<br />

O mix será fortalecido por mais cinco<br />

lojas e uma ampliação, boa parte voltada para<br />

a classe A, líder em consumo com 76% de<br />

contribuição.<br />

No limite entre Recife e Olinda, o Shopping<br />

Tacaruna aplicou mais de R$ 1,3 milhão no planejamento<br />

de fim de ano. O consolidado empreendimento<br />

não prevê grandes aumentos no<br />

fluxo de clientes, apenas 5%. Vestuário, eletrodomésticos<br />

e artigos de informática deverão<br />

ficar entre os destaques de venda, 70% representada<br />

pela classe A e B. A novidade do mall<br />

fica por conta das oficinas para decoração de<br />

natal e inauguração de novas operações como:<br />

Imaginarium (presentes); Siriguela e Planetário<br />

(gastronomia); My Shoes (calçados).<br />

Já o Shopping Guararapes optou por oferecer<br />

além da decoração especial para o período,<br />

serviços de comodidade. Isso porque o fluxo<br />

diário de consumidores, que normalmente é de<br />

45 mil, pode atingir uma média de 70 mil na<br />

semana do Natal. “No ano passado disponibilizamos<br />

maridódromo, guarda-compras e manobrista<br />

grátis para os nossos clientes. Estamos<br />

planejando os serviços que serão oferecidos<br />

neste Natal”, adianta a gerente de Marketing,<br />

Denielly Halinski. O resultado positivo fecha<br />

um ano marcado por vários investimentos no<br />

empreendimento, incluindo: a inauguração de<br />

um novo mall, com doze novas lojas e outras<br />

24 novas operações, resultantes de reformas,<br />

redução da vacância e fortalecimento do mix.<br />

Um dos destaques é a megaloja da Infobox.<br />

O incremento de 10% das vendas durante<br />

o período considerado mais importante pelo<br />

varejo demandou do Shopping Boa Vista investimento<br />

de R$ 850 mil em ações para o Natal.<br />

O centro de compras, que tem um fluxo médio<br />

de 45 mil pessoas por dia, estima que a quantidade<br />

de freqüentadores aumente em 10% em<br />

relação ao Natal de 2008. A demanda exigirá<br />

a criação de 500 vagas temporárias.<br />

Para aproveitar o momento propício às<br />

vendas, o Shopping Costa Dourada aquece a<br />

oferta do maior distrito industrial do Estado e<br />

mais importante polo turístico da região. Beneficiando<br />

mais de 340 mil pessoas, o empreendimento,<br />

segundo estudo realizado pelo Instituto<br />

de Pesquisa & Desenvolvimento u uu<br />

dezembro ><br />

> 39


Capa<br />

de Mercado (IPDM), possui um potencial de<br />

compras de R$ 34 milhões/mês. O número<br />

corresponde a 67% das pessoas residentes<br />

nas cidades do Cabo de Santo Agostinho, Escada<br />

e Ipojuca que costumam ir a shoppings<br />

centers e fazem compras no Recife e Jaboatão<br />

dos Guararapes. Apenas nesse mês, o mall<br />

espera vender R$ 16 milhões. “Acredito que<br />

alimentação deverá ter um peso expressivo<br />

nas vendas, seguido de vestuário feminino”,<br />

conta o gerente, Wilson Colobiali.<br />

Após um ano e meio “arrumando a casa” do<br />

Paço Alfândega, o grupo carioca Realesis Empreendimentos<br />

S.A. ainda não poderá seguir as receitas<br />

pré-estabelecidas para o período natalino.<br />

“Estamos na fase de adotar ações para manutenção<br />

mínima da imagem do empreendimento,<br />

mas tão logo estejamos prontos, com nosso mix<br />

completo e associado ao novo conceito, vamos<br />

retomar nossas ações dirigidas a incrementar<br />

nosso fluxo, vendas e ofertas de serviços”, garante<br />

o superintendente, Hélio Azevedo.<br />

INTERIOR<br />

Embalados pelo mesmo momento positivo,<br />

os empreendimentos do Agreste e do Sertão<br />

<strong>pernambucano</strong> vibram com as excelentes<br />

expectativas para o final de ano. A gerente de<br />

marketing do shopping Caruaru, Amélia Dutra,<br />

Franquia investe em<br />

linha especial para<br />

presentes de natal<br />

O Boticário, maior rede de franquia de cosméticos<br />

e perfumaria do mundo, com cerca de<br />

2,7 mil lojas no Brasil, sendo 688 apenas no<br />

Nordeste, investe em linha exclusiva para o fim<br />

do ano. O esforço, que exige uma gerente de<br />

produto especial para lançamentos de datas<br />

comemorativas, é essencial para garantir o<br />

incremento nas vendas de fim de ano.<br />

“O Natal é o período mais significativo<br />

em vendas para o varejo e no Boticário, reconhecido<br />

como uma das principais marcas<br />

para compra de presentes no Brasil, não é<br />

diferente. Por isso, ano a ano, renovamos<br />

nossas opções para atender uma demanda<br />

cada vez mais exigente”, afirma Mirele<br />

Martinez, gerente de produto do Boticário,<br />

40 > > dezembro<br />

n Shopping: prontos para os consumidores do Natal<br />

comemora e adianta que o Natal chegou mais<br />

cedo para o empreendimento. “Estamos com<br />

um crescimento contínuo e acima do varejo<br />

nacional ano após ano. Por isso, apostamos<br />

que o crescimento em 2009 não será diferente,<br />

estará acompanhando o crescimento que<br />

vem acontecendo todos os meses. Para as<br />

responsável pelos lançamentos de datas comemorativas.<br />

Com o mote “Acredite na Be-<br />

vendas natalinas planejamos<br />

um incremento de 17% ante<br />

2008.” O ânimo se estende<br />

ao setor de contratação que<br />

prevê um aumento de 10%<br />

tanto na administração do<br />

shopping, como das lojas.<br />

O Polo Comercial de Caruaru<br />

desfruta do mesmo clima,<br />

apostando até em 30 novas<br />

operações e ampliações.<br />

“Tudo para oferecer ainda mais<br />

conforto e um mix ainda maior<br />

de confecções para nossos<br />

clientes”, conta o gerente de<br />

relacionamento institucional<br />

do Polo, Marco Aurélio Sodré.<br />

Para atrair o público o empreendimento<br />

investiu em torno<br />

de R$ 90 mil em publicidade<br />

para Pernambuco e Alagoas.<br />

Com novas operações<br />

no River Shopping, o Vale do<br />

São Francisco terá mais opções<br />

de compras. A expectativa<br />

é que com o aumento em 6% no fluxo,<br />

o empreendimento nos dois últimos meses<br />

do ano movimente cerca de R$ 20 milhões.<br />

“Os clientes serão motivados pela promoção<br />

que irá sortear um vale compras de R$ 25 mil<br />

em móveis planejados Bentec”, explica o superintendente,<br />

Paulo Modesto.<br />

leza”, a marca lançou mais de 70 opções de<br />

presentes apenas para este Natal. u uu


dezembro ><br />

><br />

41


Capa<br />

Moda agrada<br />

gregos e troianos<br />

Que roupa usar? No fim de ano essa é<br />

a frase mais recorrente entre os ciclos<br />

sociais. Entra festa e sai festa e lá está a dor<br />

de cabeça de ter no armário uma peça nova<br />

para comemorar as duas celebrações mais<br />

esperadas: Natal e Réveillon. As lojas compõem<br />

suas modas, com looks cada vez mais<br />

variados e que agradam todos os estilos.<br />

O difícil é saber qual composição combina<br />

mais com a ocasião.<br />

Ao que tudo indica o modismo fashion<br />

liderado pelas cores neons, brilhos e paetês<br />

iluminam a estação. Mesmo com a profusão<br />

dos tons vibrantes, os tradicionais branco,<br />

prata, dourado e amarelo sempre são os que<br />

dominam os looks de final de ano. “As cole-<br />

42 > > dezembro<br />

ções da BobStore estão com muito dourado,<br />

azul marinho e cores cítricas – essas últimas<br />

bastante procuradas. Mas para fim de ano<br />

a pedida é o mix dourado, azul marinho e<br />

vermelho”, adianta Cyntya Verçosa, gerente<br />

da BobStore Casa Forte.<br />

O hit feminino da estação serão os vestidos.<br />

“Com modelagens variadas, lisos ou estampados,<br />

eles ganham seu espaço proporcionando<br />

à mulher o desejo de liberdade”, adianta Keila<br />

Benício, da Blu K. O carro chefe aparecerá em<br />

formatos de túnica, fluídos até os bandagem.<br />

“Não há um look determinado, a ideia é que<br />

cada um procure roupas adequadas a seu estilo,<br />

que pode ser moderno, clássico, fashion”,<br />

explica Herácliton Diniz, da Empório HD. “<br />

A saruel aparecerá novamente<br />

nos macacões, bermudas<br />

e calças. Sídia Haiut, da<br />

MOB, defende que a modelagem<br />

seja a pedida coringa<br />

dos presentes junto com os<br />

coletes. Mas, o segredo para<br />

evitar erros, ainda é comprar<br />

peças que tenham o estilo<br />

da pessoa a ser presenteada.<br />

“Uma boa dica seria looks em<br />

algodão que serão bem utilizados<br />

na temporada de férias”,<br />

destaca Tereza Penna, do Grupo<br />

Musa.<br />

As mais clássicas podem<br />

apostar nos bordados com<br />

cores mais fortes como rosa,<br />

mostarda e verde escuro. “São<br />

atemporais e caem bem com<br />

qualquer tipo de festa. Seja<br />

onde você for comemorar, as<br />

peças da nossa coleção são<br />

únicas e diferentes, perfeitas<br />

para qualquer ocasião” recomenda<br />

Fátima Megulhão, diretora<br />

da Fátima Rendas.<br />

O look masculino continua apostando nas<br />

camisas de tecido, polo, tradicional jeans e<br />

bermudas. Nos pés, sandálias ou mocassim.<br />

A recomendação é de escolhas sempre<br />

adequadas ao estilo da festa. “Momentos<br />

em família, composições mais discretas. Se<br />

o ambiente for uma<br />

festa em boate,<br />

por exemplo, o<br />

look pode ser mais<br />

fashion. Para elas, um<br />

discreto decote. Para<br />

eles, camiseta<br />

tipo pólo ou<br />

‘slim fit’, com<br />

modelagem<br />

mais justa<br />

ao corpo.”,<br />

explica Celso<br />

Lieiri,<br />

diretor comercial<br />

da<br />

DonaSanta<br />

| SantoHomem.<br />

Em clubes,<br />

ambientes fechados<br />

ou festas<br />

sociais, as<br />

mulheres devem<br />

optar por vestidos<br />

curtos e fluídos<br />

ou bermudas


com alfaiataria, com blusas e tops elaborados<br />

de tecidos mais especiais, como seda, cetim<br />

ou até um brilho discreto e o famoso salto alto.<br />

Já os homens devem compor o visual com<br />

calça de algodão ou linho, camisas de mangas<br />

curtas ou longas e mocassim.<br />

Acessórios dominam estação<br />

O toque especial do looks de final do<br />

ano ficará por conta dos acessórios. O hit<br />

é extravasar com maxi peças. Atendendo a<br />

todos os estilos, a moda mistura banhos em<br />

ouro, prata e pedrarias.<br />

O diferencial do up grade no Recife fica por<br />

conta do designer das peças da Fabrizio Giannone,<br />

comandada no Recife por Henriqueta<br />

Petribu. A coleção reúne sofisticação com as<br />

cores e formas das pedrarias brasileiras. “Para<br />

o look de fim de ano o nosso colar Vitória Régia,<br />

com pedra howlita, ou um brinco poderoso<br />

de madeira com drusa, com uma carteira de<br />

phyton rosa pink, não podem faltar.”<br />

No cabelo, as tiaras e fivelas continuam<br />

sofisticando o look. E não precisam ser dispensadas<br />

se o visual pedir um brinco mais elaborado.<br />

“Pode-se usar uma tiara mais discreta no<br />

mesmo tom do cabelo”, recomenda Petribu.<br />

Os acessórios são fundamentais, a tendência<br />

pede o uso de muitas peças sobrepostas,<br />

como cintos misturados, muitas pulseiras,<br />

sobreposição de colares. “O segredo<br />

é descombinar os tons, mas com harmonia”<br />

explica Herácliton Diniz, da Empório HD.<br />

Para finalizar o look, as bolsas grandes<br />

para o dia a dia, e as carteiras para as demais<br />

ocasiões. Nos pés, rasteiras, saltos<br />

ou plataformas coloridas. “Para as baladas<br />

e festas de fim de ano, os calçados meia<br />

“pata”, com glíter e acetinados.”, recomenda<br />

Zênia Villarim, da My Shoes. n<br />

dezembro ><br />

> 43


Artigo<br />

Zé Lineu e Raimundo Nonato são<br />

dois nordestinos; por dedução,<br />

são brasileiros. Moram numa capital<br />

nordestina e nasceram em terras<br />

distantes de Estados diferentes.<br />

Vieram para a cidade grande, porque,<br />

segundo eles, “a coisa tava braba”. O<br />

primeiro, mais falante, chegou a dizer<br />

que, se lá permanecesse, morreria<br />

de fome. Ambos são ambulantes. Um<br />

vende produtos ‘genéricos’, também<br />

chamados de piratas. O outro se diz<br />

empresário. Comercializa produtos<br />

fabricados pela ‘patroa’. Gosto de<br />

trocar dois dedos de prosa com eles,<br />

principalmente com o primeiro, que<br />

sempre tem uma tirada para cada<br />

provocação.<br />

Sobrevivem e sustentam as suas famílias com a renda<br />

proporcionada pelos seus ‘negócios’. Um mora numa<br />

‘puxadinha’ erguida em terreno não se sabe de quem,<br />

construída, como afirma, ‘a custo de muito esforço’. Diz que<br />

não dorme quando chove, preocupado com os deslizamentos<br />

que podem ocorrer na área. “Não é pela casa, é pela mulher<br />

e filhos”. O segundo mora noutro ‘puxadinho’ construído<br />

nos fundos de um terreno onde se encontra a casa de um<br />

parente.<br />

Em ocasiões distintas, perguntei se gostariam de voltar<br />

a morar nas terras onde nasceram. O primeiro foi taxativo:<br />

“Não!”. Alegou que os filhos já estavam “grandes”, que não<br />

se acostumaria com a vida que levava antes. O segundo<br />

não disse nem sim nem não. Falou das dificuldades do<br />

recomeço, questionou do que sobreviveria e lamentou não<br />

ter um pedacinho de terra para “erguer um barraco, criar uns<br />

bodes e plantar umas coisas”.<br />

Lineu e Nonato são mais dois exemplos de nordestinos<br />

que abandonaram as origens em busca da sobrevivência.<br />

Não vou entrar no detalhe da legalidade do comércio que<br />

Lineu atua para levar o dinheiro do arroz e feijão para sua<br />

casa. Certa vez, indagado, foi enfático: “O meu trabalho é<br />

honesto. Não tiro de ninguém, não peço esmola e nem vivo<br />

à custa do governo”. É a sua visão, ainda que alguém possa<br />

dizer que se trata de uma visão equivocada ou distorcida.<br />

Lineu e Nonato são nomes fictícios, mas os personagens<br />

são reais numa terra de desigualdades. São nativos do<br />

44 > > dezembro<br />

José Carlos L. Poroca*<br />

jcporoca@uol.com.br<br />

Feliz e Próspero 2011<br />

país que tem o maior número<br />

de horas trabalhadas para pagar<br />

impostos: 2.600 horas. A média, na<br />

América Latina, é de 563 horas. Os<br />

personagens nasceram e vivem num<br />

país que ocupa a 129ª posição numa<br />

lista dos países onde é mais difícil<br />

fazer negócio, onde a burocracia e o<br />

jeitinho prevalecem sobre a técnica e<br />

a lei.<br />

Os ‘prêmios’ conquistados pelo<br />

Brasil refletem a nossa realidade:<br />

temos, de um lado, um dos maiores<br />

PIBs do mundo e, do outro, altos<br />

índices de desemprego, a ampliação<br />

progressiva da produção informal e a<br />

evolução conformista (o “aceite”) do<br />

toma lá dá cá para resolver questões<br />

que a burocracia incentiva e não dá sinais de querer mudar.<br />

Voltemos aos personagens. Não se queixam da vida, estão<br />

sempre alegres, alertas para a gozação em cima de fulano ou<br />

beltrano a cada fato presenciado. Ficam chateados com a<br />

derrota dos seus times (torcem por clubes diferentes), com<br />

a possibilidade de ficar doentes (perda de receita) e com as<br />

notícias quase que diárias sobre as peraltices e travessuras<br />

que passaram a integrar a vida do brasileiro.<br />

Estão otimistas. Alguém - não sei quem - falou para eles<br />

que o Brasil vai se transformar numa potência em 2011 e que<br />

todos os brasileiros vão ficar endinheirados. “Tão dizendo<br />

que, ao invés de água, vai sair dinheiro pelas torneiras”<br />

– disse Lineu em tom de brincadeira. Peguei o gancho e<br />

perguntei o que pretendia fazer, em 2011, se a previsão se<br />

transformasse em realidade. O primeiro ato, segundo ele,<br />

seria sair de onde mora para ir “morar decente”; o segundo,<br />

“pegar a patroa e os meninos para fazer umas compras”.<br />

Perguntei pelo terceiro. Respondeu: “vou comprar um<br />

chapéu bonito, como aqueles americanos da TV...”.<br />

Tomara que o ‘profeta’ esteja certo. Tomara que<br />

2010 passe rápido. Pode ser que, mesmo com excesso<br />

de otimismo, surjam, até lá (2011), homens públicos que<br />

sobreponham os valores da Nação a objetivos individuais<br />

ou a objetivos de grupos ou partidos. Tomara que a palavra<br />

vergonha volte a ter o significado que consta nos dicionários.<br />

Tomara que Lineu consiga realizar os seus sonhos, pelo<br />

menos o terceiro.<br />

*José Carlos L. Poroca é advogado e executivo do segmento shopping centers


dezembro ><br />

><br />

45


Gestão Mais<br />

“A elegância é a arte de não se fazer notar misturada ao cuidado sutil de se deixar distinguir.”<br />

Paul Valery, 1871-1945, poeta francês<br />

46 > > dezembro<br />

Etiqueta para fim de ano<br />

Poucos terrenos são tão férteis para gerar<br />

gafes, constrangimentos e, algumas vezes,<br />

problemas para a imagem do profissional<br />

quanto as festas de confraternização de final de<br />

ano do trabalho. Estimulados pelo teor alcoólico<br />

e pelo clima de descontração que costumam<br />

embalar eventos dessa natureza, mesmo os<br />

profissionais mais experientes correm o risco<br />

de acordar no dia seguinte com uma dor<br />

de cabeça grande — e não apenas pela<br />

ressaca.<br />

Claro que o momento é de celebração<br />

e de alegria, e ninguém vai exigir a<br />

mesma postura sóbria e responsável dos<br />

outros 364 dias do ano. Porém, é importante<br />

lembrar que tudo dito ou feito na<br />

festa, mesmo em clima de<br />

brincadeira, reflete a imagem<br />

do profissional e será<br />

lembrado por todos — in-<br />

Nunca é demais lembrar:<br />

1. A confraternização de fim de ano<br />

da empresa não é o ambiente mais<br />

propício para, por exemplo, você<br />

acertar as contas com seu chefe,<br />

confidenciando-lhe as mágoas acumuladas<br />

durante o ano.<br />

2. Aliás, como regra, evite qualquer<br />

tipo de confidência após a segunda<br />

dose, a qualquer pessoa.<br />

3. Brinque, divirta-se, dance, mas sem excessos.<br />

4. Não tente, em uma noite, “tornar-se íntimo”<br />

de colegas com quem teve um relacionamento<br />

apenas profissional durante todo o<br />

ano.<br />

5. Segure a língua. Nada de aproveitar o am-<br />

cluindo o chefe — no dia seguinte.<br />

Pelo potencial explosivo, as confraternizações<br />

de fim de ano no trabalho mereceriam<br />

um pequeno manual de etiqueta<br />

próprio, com algumas dicas de como<br />

evitar sair mal na fita. E a bebida não é a<br />

única fonte de dúvidas e problemas. Para<br />

algumas pessoas, a própria festa já é motivo<br />

de angústia: é mesmo obrigatório ir,<br />

mesmo sem vontade? A especialista em<br />

etiqueta Glória Kalil esclarece: a festa de<br />

final de ano do escritório é praticamente<br />

uma obrigação profissional. Tem que<br />

ir. Mas ela dá uma dica para quem não<br />

estiver muito empolgado com a ideia.<br />

“Pode-se seguir a regra dos quatro S:<br />

Surgir, Saudar, Sorrir e Sumir”. Educadamente,cumprimentando<br />

todos e sempre com<br />

um sorriso nos lábios.<br />

biente festivo para contar ou trazer<br />

à tona fofocas sobre algum colega.<br />

6. Não vá virar o principal assunto<br />

do escritório no dia seguinte. Mantenha<br />

os limites.<br />

7. Se vir algum colega começando a<br />

desrespeitar essas regras, seja um<br />

bom amigo e o alerte.<br />

O conteúdo desta página é de responsabilidade da TGI Consultoria em Gestão. (www.tgi.com.br)


dezembro ><br />

> 47


Arte<br />

Artesanato de<br />

Pernambuco<br />

rompe fronteiras<br />

EXPORTAÇÃO | Empresas de artesanato formam associação com fins<br />

de exportação, mas cobram mais apoio do Governo do Estado.<br />

Por Carol Bradley<br />

Já diz a sabedoria popular: a união faz<br />

a força. Acreditando nesse princípio,<br />

um grupo de empresas de artesanato de<br />

Pernambuco se reuniu, com o apoio do<br />

Sebrae, para criar a Exportarte. A associação<br />

funciona desde 2005 e atualmente<br />

15 empresas fazem parte deste grupo,<br />

que leva o artesanato <strong>pernambucano</strong> para<br />

diversas regiões do país, além de países<br />

como Estados Unidos, Portugal, Dinamarca,<br />

Itália, Alemanha e Angola. São produtos<br />

diferenciados e de alta qualidade,<br />

que levam em consideração a produção<br />

sustentável; mas apesar do sucesso que<br />

fazem fora do Estado, aqui ainda são pouco<br />

reconhecidos.<br />

Quando se fala em artesanato, logo<br />

vem a ideia daquele artista produzindo manualmente<br />

os objetos - de forma individual,<br />

ou no máximo, familiar – expondo o seu<br />

trabalho nas feirinhas de bairro. Essa, sem<br />

dúvida, é uma forma importante de arte e<br />

deve ser valorizada, porém não é a única.<br />

Em 2004, o Sebrae selecionou 40 empresas,<br />

que receberam visitas dos consultores<br />

para conhecer sua forma de produção.<br />

Dessas, 18 foram selecionadas, porque<br />

tinham condição de se reunir e criar uma<br />

associação com o fim de exportação. Os<br />

48 > > dezembro<br />

requisitos eram ter produtos de qualidade e<br />

capacidade de produção. Com um design<br />

diferenciado, responsabilidade social e<br />

ecológica, o artesanato das empresas<br />

do grupo já aportou nas lojas da Tok Stok,<br />

Daslu e até no cenário da novela global<br />

Cama de Gato, o que demonstra o cuidado<br />

com a qualidade do trabalho.<br />

Tanto que no Prêmio Sebrae Top 100<br />

de Artesanato deste ano, que seleciona<br />

as cem unidades mais competitivas do<br />

país, levando em conta, além do valor artístico<br />

e cultural, a qualidade e adequação<br />

comercial dos produtos, quatro<br />

empresas da Exportarte<br />

foram contempladas, e<br />

fazem parte de um catálogo<br />

com as demais<br />

vencedoras. A Mar e Arte é<br />

uma das ganhadoras do Top<br />

100. Localizada na comunidade<br />

de Brasília Teimosa,<br />

no Recife, utiliza<br />

como matéria-prima<br />

escamas e couro de<br />

peixe: o lixo transforma-se<br />

em arte,<br />

e a empresa atualmente<br />

vende<br />

e produz mais<br />

de 200 itens


que vão desde porta guardanapos e flores<br />

na haste até pulseiras, bolsas, luminárias<br />

e mantas, objetos que surpreendem pela<br />

originalidade e qualidade.<br />

O trabalho é desenvolvido em parceria<br />

com o frigorífico Noronha Pescados. “Como<br />

o frigorífico trabalha em escala industrial,<br />

o lixo produzido, que são as escamas e o<br />

couro do peixe era muito, e prejudicava as<br />

nascentes dos rios, o trabalho da gente começou<br />

para dar uma finalidade mais útil e<br />

melhor para esse lixo,” explica Camila Haeckel,<br />

sócia da Mar e Arte. Além de ecologicamente<br />

correto, a empresa também tem<br />

uma função social, já que as artesãs do<br />

projeto são mulheres da comunidade, que<br />

encontram no trabalho uma alternativa de<br />

renda. A empresa exporta para os Estados<br />

Unidos, França, Alemanha e Portugal; as<br />

peças mais exportadas são as carteiras de<br />

couro de peixe. “É uma febre”, diz Camila.<br />

Com a crise econômica as exportações pararam,<br />

mas o ritmo já está sendo retomado<br />

e agora de 30 a 40% da produção vão para<br />

o exterior.<br />

“Todas as empresas da Exportarte têm<br />

essa filosofia de aproveitar tudo, o importador<br />

exige isso: o cuidado com o meio ambiente,”<br />

explica Mona Holanda, presidente<br />

da associação. Ao contrário do pequeno artesão<br />

que vende seus produtos na cidade,<br />

essas empresas que produzem artesanato<br />

em grande escala, vendem seus produtos<br />

nas feiras internacionais, a principal delas<br />

é a Gift Fair que acontece em São Paulo<br />

duas vezes por ano: em março e agosto.<br />

Alexandre Albuquerque<br />

n Camila transforma<br />

escamas de peixe em arte<br />

“Se você não vai para a feira as pessoas<br />

não te vêem, a feira é o parâmetro, é uma<br />

vitrine. O lojista sabe que quem está na Gift<br />

está credenciado a fornecer. Vem u uu<br />

dezembro ><br />

> 49


Arte<br />

gente do Brasil todo, vários lojistas e importadores,<br />

que compram os nossos produtos,”<br />

explica Holanda, que fica bastante<br />

satisfeita com a repercussão do grupo na<br />

feira. “Todo mundo elogia muito o artesanato<br />

de Pernambuco e a qualidade dos<br />

nossos produtos.”<br />

A Art Laranjeiras, encabeçada pela<br />

assistente social e design Marta Pontes,<br />

faz parte desse grupo. A produção é toda<br />

feita em conjunto com mulheres da Usina<br />

Laranjeiras, em Vicência, na Zona da Mata<br />

pernambucana, que após cursos de capacitação<br />

se transformaram em artesãs.<br />

“Sempre trabalhei nas usinas e vi que as<br />

mulheres não tinham oportunidade de trabalho.<br />

A gente começou a pensar em como<br />

poderia aumentar a renda delas, e decidimos<br />

mexer com alguma coisa da terra,”<br />

ressalta Pontes. Aproveitando a máxima<br />

“vamos tirar da terra o que a terra tem para<br />

nos dar”, a design passou a adotar como<br />

matéria-prima a palha da bananeira, que<br />

tem em abundância naquela região, já que<br />

Vicência é conhecida como a cidade da banana<br />

e do açúcar.<br />

O trabalho começou em 2002. As primeiras<br />

peças foram caixas feitas a partir<br />

do tronco da bananeira, que é tratado e<br />

impermeabilizado; a criação é compartilhada<br />

entre a design e as artesãs. Hoje a<br />

empresa tem uma linha de mais de 400<br />

itens e produz uma média 500 peças por<br />

mês, dentre elas bandejas, panelas, fruteiras,<br />

mesas e luminárias. Em homenagem<br />

a próxima Copa do Mundo, a<br />

empresa lançou a coleção Copa<br />

África 2010 com bonecas<br />

africanas, onde o corpo é de<br />

cerâmica e a saia de palha,<br />

mas também tem mandalas,<br />

jarros e pratos, tudo<br />

estilizado com motivos<br />

tribais, aliando beleza<br />

e qualidade.<br />

Sobre o trabalho,<br />

Marta Pontes<br />

ressalta: “Além de<br />

social é ecológico<br />

porque a gente<br />

tira a palha da bananeira<br />

que já está<br />

morta, e o tronco<br />

50 > > dezembro<br />

“O homem do<br />

campo tem muito<br />

preconceito e isso<br />

é uma forma de<br />

as mulheres se<br />

valorizarem”<br />

Marta Pontes<br />

continua vivo. A bananeira precisa ser<br />

limpa, a gente usa o que ela não vai mais<br />

aproveitar.” Hoje tem mais de 40 pessoas<br />

produzindo, todas mulheres da usina.<br />

“Viver no campo não é fácil,<br />

o homem do campo tem<br />

muito preconceito<br />

e isso é<br />

uma forma<br />

de<br />

as mul<br />

h e r e s<br />

se valorizarem,”<br />

e x p l i c a<br />

a design.<br />

Carla Almeida,<br />

artesã de<br />

18 anos. Ela<br />

diz que o trabalho<br />

mudou a<br />

sua vida. “É um<br />

aprendizado a<br />

mais e também a contribuição financeira<br />

me tornou mais independente, agora eu<br />

tenho como contribuir com a renda familiar,<br />

os meus pais vêem que eu me esforço.”<br />

Atualmente a empresa exporta para os<br />

Estados Unidos. No Brasil vende para todas<br />

as regiões. Quem mais compra é São<br />

Paulo e os Estados do Sul: Santa Catarina<br />

e Rio Grande do Sul, mas lojas como Daslu<br />

e Tok Stok também são clientes. Recentemente<br />

uma boneca da Art Laranjeiras<br />

apareceu no cenário da novela “Cama de<br />

Gato”. “O povo do Sul é enlouquecido pelo<br />

nosso artesanato”, destaca Pontes, e diz<br />

que no Recife não tem muito reconhecimento.<br />

“Nós vendemos mais para fora do<br />

que para Pernambuco. O Recife conhece<br />

muito pouco o nosso trabalho, aqui as<br />

pessoas não valorizam muito o artesanato,”<br />

lamenta a design.<br />

Assim como para as<br />

outras empresas da Exportarte,<br />

a Gift Fair é a<br />

oportunidade de fazer<br />

bons negócios e vender os<br />

produtos. “Se nós fizermos<br />

uma boa feira, nós temos pedido”,<br />

explica Pontes, que, no entanto,<br />

informa que a despesa para<br />

participar dessas feiras é muito alta, já<br />

que tem a compra e a montagem do espaço,<br />

transporte das peças, além de transporte<br />

e hospedagem de quem vai participar<br />

da feira. Neste ano a Art Laranjeiras<br />

gastou cerca de R$ 30 mil para levar seus<br />

produtos para a Gift. “A<br />

gente tem o apoio do<br />

Sebrae, mas o Governo<br />

do Estado poderia<br />

dar mais<br />

apoio,” reivindica<br />

a design.<br />

n Coleção Copa África: boneca africana tem corpo de cerâmica e saia de palha


n Objetos de arte são feitos do tronco da bananeira<br />

Opinião semelhante tem o artista plástico<br />

Alex Mont’Elberto, que fundou em<br />

1996 a empresa Alexander Mont’Elberto<br />

Oficina de Artes, uma das quatro empresas<br />

da Exportarte contempladas com o Prêmio<br />

Sebrae Top 100 de Artesanato. “A Exportarte<br />

é recente como associação, mas as<br />

empresas têm um histórico de muito profissionalismo.<br />

Quando empresas com tanta<br />

qualidade se juntam o resultado só pode ser<br />

bom, e eu acho que o Estado ganha muito<br />

com isso. Eu só sinto que pelo resultado<br />

Alexandre Albuquerque<br />

n Mulheres do campo aprendem uma profissão<br />

que o grupo tem dado requer mais apoio<br />

do Governo do Estado. O Sebrae sempre<br />

mantem esse apoio, nunca deixou de nos<br />

apoiar, já o Estado tem sido esporádico, eu<br />

acho que com um apoio mais permanente,<br />

com certeza o resultado vai ser bom não<br />

só para as empresas, mas principalmente<br />

para o Estado.”<br />

Mont´Elberto propõe que se crie aqui<br />

uma estrutura de exposição permanente.<br />

“O governo poderia abrir uma estrutura<br />

permanente de exposição aqui em Per-<br />

nambuco. A Fenneart traz<br />

um público, por que a Exportarte<br />

não pode receber<br />

um apoio para trazer outro<br />

público de compradores<br />

para cá? A Fenneart já<br />

existe para o artesão simples,<br />

mas poderia se abrir<br />

um mercado para o artesanato<br />

empresarial, isso vai<br />

trazer consequências tanto<br />

de divisa para o Estado<br />

quanto vai ajudar a abrir o<br />

mercado para os produtores<br />

independentes. Se a<br />

Exportarte já faz isso fora,<br />

por que não fazer aqui?,”<br />

questiona o artista.<br />

Formado na Escola de<br />

Belas Artes e também no<br />

curso de design, mesmo<br />

antes do apelo por produtos<br />

ecológicos, Mont´Elberto,<br />

já trabalhava com materiais reciclados,<br />

principalmente o alumínio. Com uma linha<br />

diversificada que inclui esculturas, paineis,<br />

fruteiras, e móveis como mesas e cadeiras,<br />

os produtos <strong>pernambucano</strong>s hoje chegam<br />

na Dinamarca, Alemanha e Itália. A linha In<br />

Natura que faz muito sucesso no exterior<br />

utiliza madeira dos coqueiros da região. “O<br />

carro chefe são as esculturas de parede,<br />

onde homenageio as praias de Pernambuco,<br />

que é de onde retiramos a madeira do<br />

coqueiro. Só que esse coqueiro é u uu<br />

Alexandre Albuquerque<br />

n Marta Pontes encabeça a Art Laranjeira<br />

dezembro ><br />

> 51


Arte<br />

residual, porque quando ele atinge uma<br />

certa idade, que não produz mais, é descartado<br />

para dar lugar a um coqueiro novo,<br />

então nós o compramos da comunidade,”<br />

explica o artista, que este ano participou da<br />

exposição Design e Natureza em São Paulo,<br />

voltada exclusivamente para produtos<br />

de eco design, e também da Gift Fair onde<br />

vende seus produtos.<br />

Apesar de não ser um trabalho simples,<br />

o resultado compensa. “É uma seleção que<br />

exige muito conhecimento, a gente passou<br />

muito tempo fazendo pesquisa, pois a perda<br />

é grande, mas vale a pena porque é um<br />

material residual. Eu não estou derrubando<br />

árvore e dá um efeito muito bom,” ressalta<br />

Mont´Elberto. Artista plástico desde 1978,<br />

em 1991, fez junto com Jobson Figueiredo<br />

um monumento na Cidade do Porto, em Portugal,<br />

que simboliza a amizade Recife/Porto,<br />

doado pela prefeitura do Recife para a cidade<br />

portuguesa. Porém, como a produção de<br />

escultura é muito cara e exige uma estrutura<br />

grande, Mont´Elberto, decidiu aumentar e diversificar<br />

a produção, que hoje conta com um<br />

mix de quase 1.000 produtos. Como se não<br />

bastasse o trabalho de escultor e de empresário,<br />

é também técnico de restauração de<br />

monumentos da Prefeitura do Recife e consultor<br />

do Sebrae. Sobre o lema da empresa,<br />

ressalta: “A sustentabilidade é o lema principal<br />

da nossa empresa, a gente não descarta<br />

n Elementos<br />

da natureza como o<br />

coco inspiram a criação<br />

do artista plástico Alex<br />

Mont’Elbert<br />

52 > > dezembro<br />

n Madeira do coqueiro é utilizada para produzir esculturas<br />

“A sustentabilidade<br />

é o lema principal<br />

da nossa empresa. A<br />

gente não descarta<br />

praticamente nada,<br />

recicla tudo, o<br />

descarte é mínimo”<br />

Alex Mont’Elberto<br />

praticamente nada, recicla tudo, o descarte<br />

é mínimo.”<br />

Outra empresa de destaque é a Artes<br />

e Ofícios. Formada por cinco mulheres da<br />

mesma família, três irmãs e duas sobrinhas:<br />

Silvia Guerra, Maria Eduarda, Maria de Meira<br />

Lins, Margarida Amaral e Ana Cristina Meira<br />

Lins, começou há 21 anos, com uma loja<br />

embaixo e o ateliê em cima. As peças eram<br />

feitas no ateliê e vendidas na loja. Em 1991<br />

montaram a fábrica. Os produtos são feitos<br />

por artesão na casa deles, com o desenho e<br />

orientação das sócias, e na fábrica é feita<br />

toda a parte de montagem e acabamento


das peças. Atualmente a empresa tem um<br />

mix com 600 itens, que vão desde fruteiras,<br />

castiçais e luminárias a pequenos móveis.<br />

Utilizando materiais reciclados, madeira de<br />

reflorestamento e de coqueiro, a empresa<br />

exporta para países como Venezuela,<br />

Bolívia e Angola e recebeu da Associação<br />

Brasileira da Indústria de Móveis o “Quality<br />

for Export”, selo que certifica a qualidade<br />

os produtos.<br />

Uma das marcas registradas das lojas<br />

de Porto de Galinhas são os peixes coloridos<br />

de vidro. Esse trabalho é desenvolvido<br />

por Iara Tenório, há mais de 15 anos. Com<br />

um ateliê em Piedade e uma loja no Paço<br />

Alfândega, exporta seus objetos para países<br />

como França, Espanha e Alemanha.<br />

Formada pela Escola Pan Americana de<br />

Arte de São Paulo, a designer utiliza materiais<br />

novos e também reciclados. No ateliê<br />

usa um forno de alta temperatura para derreter<br />

as chapas de vidro dentro da forma,<br />

o que resulta em um trabalho que é a cara<br />

do verão <strong>pernambucano</strong>: colorido e alegre.<br />

Os vidros de Tenório viram flor, mandalas,<br />

folhagens e também os conhecidos peixes.<br />

“A aceitação é muito boa, mas a gente precisa<br />

divulgar mais. É um vidro colorido, uma<br />

releitura da cor natural e tem uma cara bem<br />

brasileira pelo colorido tropical. Na Europa<br />

as cores são mais sóbrias, aqui tem a cor<br />

de praia” ressalta a design.<br />

Além de coqueiros, tronco de bananeira,<br />

couro e escamas de peixe e vidros,<br />

no grupo da Exportarte tubos de PVC também<br />

viram objetos de decoração. Esta<br />

foi uma ideia do arquiteto Isnaldo Reis,<br />

hoje bastante popular em lojas e feiras<br />

de bairro. Em 2000, ele fez a primeira<br />

exposição na Associação Comercial. Em<br />

2002 ganhou o primeiro lugar na feira internacional<br />

The New York Homes Textiles<br />

Show, nos Estados Unidos, na categoria<br />

assessórios para casa. A empresa Isnaldo<br />

Reis Designer foi criada em 2004 e<br />

também foi contemplada com o Prêmio<br />

Sebrae Top 100 de Artesanato deste ano.<br />

Além de luminárias, a empresa produz<br />

outros objetos como mandalas e suplás.<br />

Com uma capacidade de produção de<br />

500 peças mensais, exporta para a França,<br />

Alemanha e Estados Unidos, que, no<br />

entanto, deu uma parada por conta da<br />

crise econômica, mas já está aos poucos<br />

retomando o ritmo normal.<br />

“Nós criamos aqui o primeiro emprego,<br />

Alexandre Albuquerque<br />

n Luminárias de PVC são exportas para Europa e Estados Unidos<br />

todos os nossos funcionários entram com 18<br />

anos, sem qualquer experiência e nós assinamos<br />

a carteira profissional pela primeira vez.<br />

Ele não precisa ter um conhecimento específico,<br />

mas tem que ter jeito com trabalho<br />

manual, que ele goste e se sinta bem com<br />

este tipo de trabalho,” explica Mona Holanda,<br />

sócia de Isnaldo Reis. Além da responsabilidade<br />

social, a empresa busca também não<br />

desperdiçar nada. “A gente trabalha com o<br />

Alexandre Albuquerque<br />

n Mona Holanda cobra mais<br />

apoio do Governo<br />

aproveitamento do lixo, nós tínhamos muito<br />

retraço, então surgiram as peças pequenas<br />

como saboneteira, porta guardanapo, porta<br />

copo, bijuterias. O que iria para o lixo vira obra<br />

de arte,” destaca Holanda.<br />

“Todas as empresas da Exportarte tem<br />

essa filosofia de aproveitar tudo. Nós queremos<br />

chegar mais junto do Governo do Estado<br />

para que tenhamos um apoio maior. O<br />

Governo incentiva muito o artesanato suvenir,<br />

mas ele precisa também incentivar as<br />

micro empresas. A gente está empregando<br />

pessoas, está contribuindo, e pagando imposto.<br />

Nós temos qualidade, produção, mas<br />

nunca conseguimos participar de feiras no<br />

exterior porque as dificuldades são muito<br />

grandes. Nós sabemos que anos atrás, no<br />

governo de Miguel Arraes, ele conseguiu<br />

levar algumas empresa para o exterior com<br />

o apoio do Estado. A gente aqui ainda não<br />

teve isso,” destaca Holanda.<br />

De fato, com tantas empresas multinacionais<br />

vindo para Pernambuco é importante<br />

ter reforçada a identidade local, e sem dúvida<br />

um artesanato forte, que é o resultado<br />

da criatividade e do trabalho destes artistas<br />

contribui para fortalecer essa identidade.<br />

Tanto os pequenos artesãos quanto os que<br />

produzem em grande escala e com isso<br />

levam a arte pernambucana para os mais<br />

distantes lugares merecem todo apoio do<br />

Governo do Estado e da sociedade pernambucana.<br />

Valorizar esses artistas é valorizar a<br />

arte de Pernambuco. n<br />

dezembro ><br />

> 53


Livro<br />

Brasil e Pernambuco<br />

no Mundo Pós-crise<br />

SALA DE AULA | No lançamento da Agenda TGI 2010, o consultor Francisco<br />

Cunha avaliou a conjuntura atual e traçou cenários para os próximos anos<br />

P ouco mais de um ano após o epicentro<br />

da crise econômica que varreu o<br />

mundo, as perspectivas otimistas sobre o<br />

Brasil se confirmaram. O País foi um dos<br />

primeiros a sair da crise, com economia<br />

forte, inflação sob controle e uma nova<br />

classe média em ascensão, resultado da<br />

elevação real da renda da população mais<br />

pobre. Pernambuco também passou ao largo<br />

da turbulência global. Os investimentos<br />

nos projetos estruturadores foram mantidos<br />

e o Estado continua diante de sua<br />

melhor oportunidade de desenvolvimento<br />

dos últimos 50 anos. O grande desafio que<br />

se impõe ao Governo, empresários e gestores<br />

é potencializar o capital intelectual<br />

instalado visando à profissionalização da<br />

gestão empresarial e o desenvolvimento<br />

de uma economia criativa, capaz de enfrentar<br />

a concorrência acirrada que se instala<br />

no Estado.<br />

A avaliação foi feita pelo consultor<br />

Francisco Cunha, diretor da TGI Consultoria<br />

em Gestão, durante o lançamento<br />

da Agenda TGI 2010, realizado no Teatro<br />

Guararapes, no Centro de Convenções de<br />

Pernambuco, no dia 30 de novembro. Ele<br />

falou para cerca de 1.200 empresários,<br />

executivos e profissionais convidados<br />

sobre o tema “Perspectivas do Mundo<br />

Pós-Crise: Oportunidades, Ameaças e<br />

Desafios do Brasil e de Pernambuco”,<br />

avaliando a conjuntura atual e traçando<br />

os cenários mais prováveis para os próximos<br />

anos no mundo, no Brasil e em<br />

Pernambuco.<br />

De acordo com Francisco, o modelo<br />

econômico que deve emergir desse cená- n Agenda TGI: lançamento com avaliação sobre as perspectivas do mundo pós-crise<br />

54 > > dezembro


io pós turbulência será mais equilibrado. A<br />

crença no mercado autorregulado e em um<br />

sistema financeiro onipotente deve dar lugar<br />

a um modelo mais sustentável de desenvolvimento.<br />

A conta, entretanto, foi alta. Estima-se<br />

que os governos, com o norte-americano<br />

à frente, tenha gasto cerca de US$ 14 trilhões,<br />

bancados pelos contribuintes, nos<br />

pacotes de saneamento do sistema bancário<br />

e de estímulo à economia. A crise<br />

causou impactos significativos no comportamento<br />

da população. Consumidores<br />

contumazes, os norte-americanos estão<br />

gastando menos, cortando despesas e<br />

adotando novos hábitos de consumo desde<br />

que começaram a sentir os efeitos da<br />

crise.<br />

Além dessa “nova ordem econômica”, o<br />

crescimento dos países emergentes é, para<br />

o consultor, outro fator que contribui para<br />

um maior equilíbrio econômico em escala<br />

mundial. Em 2014, segundo projeções do<br />

FMI, o PIB Mundial deve alcançar a marca<br />

de US$ 89 trilhões, sendo 51% dos países<br />

pobres e 49% dos países ricos. Em 2000, a<br />

participação no PIB mundial de US$ 41 trilhões<br />

era de 37% dos países pobres e de<br />

63% dos países ricos.<br />

BRASIL<br />

Há um ano, no lançamento da Agenda<br />

2009, Francisco Cunha afirmava que<br />

o Brasil seria um dos países que menos<br />

sofreria com a crise, por estar em uma<br />

situação privilegiada para enfrentar as<br />

turbulências externas. A ex-<br />

pectativa se concretizou. A “blindagem”<br />

ocorreu por uma combinação de fatores,<br />

com destaque para a manutenção da<br />

base macroeconômica e as reservas que<br />

eliminaram a dívida externa pública. “Outro<br />

fator determinante<br />

para o bom momento da<br />

economia brasileira foi<br />

a inclusão social registrada<br />

nos últimos anos,<br />

com políticas de redistribuição<br />

de renda e<br />

crescimento da classe<br />

média”, destacou.<br />

Para Francisco, há<br />

inúmeras razões para<br />

projetar um cenário<br />

otimista para o País,<br />

neste momento pós<br />

crise. Entre elas: (1)<br />

Reservas de mais de<br />

200 de bilhões de<br />

dólares intocadas<br />

depois de 11 meses<br />

de crise. (2) Bancos<br />

competentes, regulados,<br />

com baixa<br />

exposição a riscos e<br />

provisionados contra<br />

calotes. (3) Ausência<br />

de bolhas de crédito<br />

e imobiliária, com potencial<br />

de crescimento<br />

real dos setores.<br />

(4) Mercado interno<br />

forte, crescendo em<br />

poder de compra e<br />

em proporção da população<br />

e (5) Matriz<br />

energética mais ‘verde’<br />

do mundo, com<br />

independência de<br />

petróleo importado.<br />

“O problema está<br />

no médio e longo<br />

prazos se questões<br />

básicas como poupança<br />

para investimento<br />

em infraestrutura,<br />

educação e<br />

segurança não forem<br />

tratadas como políticas<br />

de desenvolvimento<br />

sustentado e<br />

não apenas conjunturais”,<br />

analisou.<br />

PERNAMBUCO<br />

Pernambuco mantém-se em um cenário<br />

otimista, na melhor oportunidade de desenvolvimento<br />

dos últimos cinquenta anos.<br />

Durante a apresentação, Francisco Cunha<br />

traçou uma avaliação estratégica para o Estado.<br />

“Para aproveitar essa janela de oportunidades,<br />

Pernambuco tem como principal<br />

força sua tradição de empreendedorismo e<br />

acúmulo de know how técnico —capital intelectual<br />

— para condução dos negócios”.<br />

Ele ressaltou, entretanto, que é preciso<br />

estar atento às ameaças: acirramento<br />

da concorrência, em especial a vinda de<br />

fora, e ambiente empresarial adverso —<br />

alta carga tributária, financiamento caro<br />

e raro, infraestrutura deficiente, baixa<br />

capacitação da mão de obra, burocracia.<br />

“Também é importante que empresários<br />

e gestores enfrentem uma grave fraqueza<br />

- o baixo índice de “empresariamento”<br />

e forte conservadorismo na gestão, com<br />

apego às formas tradicionais de administração”,<br />

assinalou. n<br />

dezembro ><br />

> 55


crise econômica da qual o Brasil está- com sucesso- se<br />

A recuperando mais rapidamente do que a média mundial<br />

deixou, com alguma inércia, uma outra, de natureza fiscal, que<br />

ainda está atingindo todos os níveis de governo, especialmente<br />

Estados e Municípios. De fato, a União perdeu arrecadação<br />

de impostos e contribuições por conta da queda no nível da<br />

atividade econômica e em decorrência da renúncia fiscal do IPI.<br />

Essa última foi desenhada para mitigar os efeitos da demanda<br />

cadente e da escassez de crédito sobre o produto e o emprego<br />

da indústria automotiva e de bens duráveis de consumo da<br />

linha branca (fogões, máquinas de lavar, refrigeradores etc.).<br />

Os Estados e Municípios perderam também receita própria por<br />

conta da crise e, adicionalmente, foram adversamente atingidos<br />

pela renúncia fiscal do Governo Federal.<br />

A União, além disso, aumentou os gastos de custeio e de<br />

pessoal, em comportamento típico do estado brasileiro em ano<br />

pré-eleitoral. Queda de arrecadação e aumento dos gastos públicos<br />

tem deteriorado as contas do Governo Federal: o déficit nominal<br />

em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) aumentou de 3,09%<br />

nos doze meses terminados em maio último para 4,29% nos doze<br />

meses findos em setembro passado. Nos mesmos doze meses de<br />

comparação, o dinheiro que o Governo poupa para pagar os juros da<br />

divida - denominado de resultado primário-caiu de 2,29% para 1,17%<br />

do PIB. Por sua vez a trajetória da relação divida interna/PIB elevouse<br />

de 38,8% em 2008, para 45% em outubro de 2009, revertendo<br />

uma tendência de recuperação que começou a partir de 2004.<br />

O incentivo fiscal à indústria automobilística e de bens<br />

duráveis de consumo da linha branca deu-se também à custa<br />

dos Estados e Municípios que tiveram subtraída da base de<br />

recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do<br />

Fundo de Participação dos Municípios (FPM) a renúncia fiscal<br />

do IPI. Ou seja, o nível de emprego no setor automotivo e no<br />

setor produtor de fogões, refrigeradores etc., foi mantido com a<br />

<br />

56 > > dezembro<br />

Economia<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Crise e Renúncia Fiscal:<br />

impactos regionais<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Jorge Jatobá<br />

jorgejatoba@revistaalgomais.com.br<br />

contribuição compulsória de Estados e Municípios que sofreram<br />

queda ainda maior do FPE e do FPM além daquela decorrente<br />

da própria inibição da atividade econômica. Isto é, por cima da<br />

queda, coice. A União fez generosidade fiscal com imposto que<br />

compartilha com os demais entes federados e não com impostos<br />

e contribuições de sua exclusiva titularidade.<br />

Para compensar essas perdas os municípios demandaram<br />

e conseguiram, em parte, obter recursos, a fundo perdido, do<br />

Governo Federal. Todavia, os Estados não tiveram o mesmo<br />

tratamento. A eles foi concedido linha de crédito do BNDES. Isto<br />

é, tiveram que se endividar para compensar parcialmente a perda<br />

de recursos advindas da crise em si e da política de incentivo<br />

fiscal da União. Esses recursos, todavia, estão carimbados<br />

apenas para investimentos. Os gastos com o custeio e com<br />

pessoal terão que ser cobertos com arrecadação própria que<br />

ainda está sofrendo os efeitos da queda da atividade econômica.<br />

Uma das consequências desse desajuste fiscal foi que os<br />

governos tiveram que endurecer com os seus funcionários no<br />

que diz respeito às demandas por reajustes salariais. Tal restrição<br />

intensificou o atrito entre governos estaduais e sindicatos de<br />

servidores por promessas e compromissos assumidos quando<br />

no horizonte fiscal tudo ainda era bonança. As greves recentes e<br />

em curso tem esta gênese.<br />

O resultado da política fiscal anti-crise foi manter o emprego<br />

nos Estados que hospedam os empreendimentos da indústria<br />

automotiva e da linha branca entre os quais não se situa<br />

Pernambuco. Ou seja, ajudamos a manter o emprego dos<br />

outros e aumentamos a nossa divida em uma iniciativa que-bem<br />

sucedida do ponto de vista do país como um todo-foi perversa<br />

para os Estados menos afluentes. Denomina-se esse fenômeno<br />

de efeitos implícitos e regionalmente adversos da política anticiclica<br />

do Governo Federal sobre os Estados não produtores dos<br />

bens premiados pela renúncia fiscal.


dezembro ><br />

><br />

57


Tecnologia<br />

Educação 2.0<br />

SALA DE AULA | Notebooks para professores e alunos, novas metodologias,<br />

quadros sensíveis ao toque, aulas de robótica. Entenda como a tecnologia está<br />

mudando o ensino nas escolas pernambucanas e o que ainda está por vir<br />

Conversar com Yasmin Campos Arraes,<br />

11 anos, é descobrir uma nova faceta<br />

da juventude pernambucana. Apesar de ser<br />

aluna do 6º ano, fala com desenvoltura de<br />

quem já tem muito tempo de estrada no<br />

mercado profissional. O movimento seguro<br />

das mãos, o vocabulário, a seriedade. Tudo<br />

graças à metodologia inovadora implementada<br />

pelo educador Walewsky Adriano Lima,<br />

diretor do Colégio Neo Planos, no Recife.<br />

Desde o ano passado os alunos passaram<br />

a contar com uma nova rotina na sala de aula.<br />

Notebooks convivendo com cadernos, grupos<br />

ao invés de fileiras, aulas de liderança, tutor<br />

pedagógico. “Não basta colocar a tecnologia no<br />

dia-a-dia dos estudantes, é preciso criar novas<br />

ferramentas para adequar o ensino a essa nova<br />

realidade, muito mais dinâmica”, diz Walewsky.<br />

Alexandre Albuquerque<br />

n Tecnologia e<br />

criatividade: alunos<br />

do Neo Planos aprovam<br />

nova metodologia<br />

58 > > dezembro<br />

A ideia surgiu há cinco anos, quando<br />

ele começou a pesquisar processos educacionais<br />

desenvolvidos por teóricos como<br />

Piaget, Paulo Freire, Rubem Alves para criar<br />

uma nova metodologia. “Percebemos que a<br />

educação do século XXI ainda era a mesma<br />

do passado, onde o aluno é estático. Esta é<br />

a primeira geração que já nasceu com a internet,<br />

mas chega à escola e para por causa<br />

dos métodos tradicionais”, explica.<br />

Ao contrário do que normalmente se<br />

vê nos colégios, os alunos do Neo Planos<br />

contam com um ensino construtivo, onde o<br />

aluno faz a aula junto com o professor. Independente<br />

da matéria, o educador passa<br />

uma explicação geral sobre o assunto para,<br />

então, os alunos acessarem os notebooks –<br />

todos com conexão Wi-Fi – e fazerem uma<br />

apresentação em Power Point com o que<br />

encontraram na web, que ainda deve ter<br />

sugestões de exercícios. Daí pra frente os<br />

grupos repassam seus slides via e-mail para<br />

todos os alunos da turma e explicam o que<br />

encontraram. Tudo acompanhado pela professora<br />

e uma tutora pedagógica.<br />

Já a figura da pedagoga aparece como<br />

uma forma de personalizar o atendimento<br />

aos alunos. Enquanto o professor passa por<br />

diversas turmas para dar o assunto em que<br />

é especialista, o tutor é fixo em cada série.<br />

“Ela conhece os problemas de cada um de<br />

nós e nos ajuda”, conta Yasmin.<br />

Implantada há pouco mais de um ano, a<br />

nova metodologia vem se provando eficiente.<br />

Os professores, normalmente grande<br />

barreira para esse tipo de mudança, relatam


Alexandre Albuquerque<br />

n Walewsky: colégio tem<br />

que evoluir junto com a sociedade<br />

ter mais facilidade para passar o conhecimento<br />

e controlar as turmas. O número de<br />

equipamentos danificados na escola caiu<br />

em mais da metade, os problemas de relacionamento<br />

entre os estudantes também<br />

foram reduzidos. A escola já recebeu até<br />

visitas da diretoria da Microsoft e do senador<br />

Cristovam Buarque, interessados em<br />

conhecer a metodologia. “Tínhamos alunos<br />

indisciplinados que melhoraram de forma<br />

significativa com o uso dos PCs na sala.<br />

Por ser mais dinâmico, próximo com a vida<br />

deles fora da escola, fica mais fácil prender<br />

a atenção”, comemora a professora<br />

Alexandre Albuquerque<br />

n Cláudio de Castro:<br />

R$ 8,9 milhões<br />

só no primeiro ano<br />

de atividade da E-duc<br />

de matemática Vera Gomes.<br />

“Temos que mudar a ideia de<br />

que o computador serve só<br />

para jogar”, complementa a<br />

pedagoga Ana Cavalcanti.<br />

No setor público, o programa<br />

Professor Conectado,<br />

do Governo do Estado, distribuiu<br />

mais de 26 mil notebooks<br />

para os docentes da<br />

rede de ensino, possibilitando<br />

uma maior integração entre<br />

eles e a tecnologia que em<br />

breve deverá estar presente<br />

no dia-a-dia das escolas. Os<br />

computadores com configuração<br />

de ponta contam ainda<br />

com um pacote de softwares<br />

educacionais fornecidos pela<br />

Educandus, a enciclopédia digital UNO e do<br />

dicionário Houaiss.<br />

Bem sucedido, o projeto inspirou a Prefeitura<br />

do Recife a adotar um modelo parecido,<br />

o Professor.com, lançado em outubro<br />

passado. A ideia é beneficiar os 4.750 professores<br />

do Grupo Ocupacional Magistério<br />

da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer.<br />

O grande trunfo, porém, está na novidade<br />

da ajuda de custo para que os professores<br />

tenham conexão à internet e a criação do<br />

portal Educar Recife, que servirá como espaço<br />

para troca de experiências e formação<br />

contínua.<br />

A Sala<br />

do Futuro<br />

O encontro entre tecnologia e educação<br />

não deve parar por aí. Quem garante é o empresário<br />

Cláudio de Castro, sócio da pernambucana<br />

E-duc. Especializada em comercializar soluções<br />

de última geração para o setor educacional, a<br />

empresa vem faturando alto durante o pouco<br />

mais de um ano em que está na ativa. Já são<br />

mais de R$ 8,9 milhões em faturamento e a expectativa<br />

de crescer 150% em 2010.<br />

Com produtos desenvolvidos em parceria<br />

com diversas empresas do setor de Tecnologia<br />

da Informação (T.I), descobertas durante mais<br />

de um ano de visitas a feiras de educação, a Educ<br />

já possui em sua carteira clientes de nove<br />

Estados, além do Distrito Federal.<br />

Dentre o mix de soluções oferecidas, a Sala<br />

do Futuro é a que vem chamando mais a atenção<br />

dos gestores por englobar diversas revoluções<br />

no método de ensino. Tudo por conta da<br />

empresa pernambucana, que se responsabiliza<br />

até pelas mesas e cadeiras utilizadas e a capacitação<br />

dos professores para utilizarem as novas<br />

tecnológicas, como lousa digital, prancheta<br />

eletrônica e projetos de robótica. “Com a Sala<br />

do Futuro propomos uma mudança no ensino<br />

como um todo, em seu método e equipamentos.<br />

Os computadores, por exemplo, contam<br />

com um aplicativo que permite os alunos mexer<br />

livremente, sem risco de desconfigurar a máquina,<br />

acabando com um dos grandes problemas<br />

enfrentados pelas escolas. Além disso, temos<br />

um sistema de monitoramento para impedir<br />

roubos e furtos”, explica Castro.<br />

Em Pernambuco, a solução pode ser integrada<br />

nas escolas a partir de 2010, quando<br />

será aberto um processo de licitação por parte<br />

do Governo do Estado. “O difícil é convencer os<br />

gestores porque, ao contrário do que se pensa,<br />

os professores ficam até mais motivados de dar<br />

aula em uma sala dessas”, diz o sócio da E-duc.<br />

O sucesso foi tanto que antes mesmo<br />

de completar o primeiro ano de atividades a<br />

empresa anunciou um plano de expansão ancorado<br />

na paraibana NE Digital, com a qual já<br />

trabalha há seis meses em modelo de sociedade.<br />

Segundo ele, os novos projetos que são<br />

encaminhados para a análise da empresa podem<br />

se tornar uma solução se tiver mercado e<br />

condições de ser produzida. A patente fica com<br />

o inventor e a E-duc assina um contrato de exclusividade<br />

na comercialização da novidade. n<br />

dezembro ><br />

> 59


Futebol<br />

“Meta é atuar numa Copa”<br />

ARBITRAGEM | O <strong>pernambucano</strong> Nielson Nogueira se firma<br />

entre os melhores do Brasil na temporada e já sonha com<br />

uma vaga no quadro da Fifa e, naturalmente, uma Copa do Mundo<br />

futebol <strong>pernambucano</strong> passou o<br />

O Campeonato Brasileiro da Série A<br />

agonizando com os pífios resultados de<br />

Sport e Náutico. De positivo, apenas a<br />

atuação dos árbitros <strong>pernambucano</strong>s na<br />

competição. Nielson Nogueira e Cláudio<br />

Mercante saíram ilesos de um campeonato<br />

em que a arbitragem acabou desgastada<br />

por atuações que influíram em resultados<br />

de jogos e podem até ter mudado o destino<br />

da competição, tanto dos rebaixados<br />

quanto dos classificados à Libertadores.<br />

O capitão da Polícia Militar Nielson<br />

Nogueira foi o que mais se destacou,<br />

dirigindo nove partidas da Série A até<br />

a 34ª rodada, sete na Série B, uma na<br />

Copa do Brasil e uma na D, exatamente<br />

um dos jogos mais complicados em<br />

âmbito local, Central 1x0 Santa Cruz,<br />

em Caruaru. Aos 35 anos, ele já fez<br />

quatro cursos de aperfeiçoamento, um<br />

deles com participação do presidente da<br />

Confederação Sul-Americana de Futebol<br />

e diz que a busca pelo conhecimento e o<br />

estudo das regras vem dando resultados.<br />

Atualmente, espera que surja uma<br />

vaga para entrar no quadro da FIFA. O<br />

próximo posto a ficar vago será o do<br />

gaúcho Carlos Eugênio Simon, indicado<br />

para atuar no Mundial de 2010 na África<br />

do Sul, mas bastante desgastado após<br />

suas péssimas atuações este ano no<br />

Brasileiro.<br />

A segunda vaga que pode surgir é a do<br />

gaúcho Leonardo Gaciba, reprovado em<br />

vários testes da Comissão Nacional de<br />

Arbitragem, mas que continua atuando e<br />

tendo seu trabalho questionado.<br />

“Todo jogador sonha em um dia chegar à<br />

60 > > dezembro<br />

seleção brasileira, e todo árbitro sonha em<br />

trabalhar numa Copa do Mundo e dirigir<br />

uma final, este é o meu objetivo”, conta<br />

Nielson. “No caso de uma final de Copa<br />

seria uma alegria e uma tristeza, porque<br />

neste caso o Brasil teria de estar fora da<br />

decisão”, comenta.<br />

Nielson é filho do ex-árbitro e major<br />

reformado da PMPE Nelson Gonçalves<br />

Dias, que se formou pela Federação<br />

Pernambucana de Futebol na década de<br />

70, não dando continuidade a carreira de<br />

árbitro profissional.<br />

“Às vezes, o árbitro<br />

vê coisas que<br />

a tevê não mostra,<br />

mas também<br />

acontece<br />

o contrário”<br />

<strong>Algomais</strong> |Como é marcar dois pênaltis<br />

contra o Flamengo, no Maracanã<br />

(jogo Flamengo 1x0 Santos)?<br />

Nielson Nogueira | O Flamengo é mais um<br />

time entre os 20 que participam do Brasileiro<br />

série A, todo árbitro tem que encarar desta<br />

maneira, embora saibamos que é um clube<br />

de muita tradição. Da mesma forma que marquei<br />

os dois pênaltis, marquei três num jogo<br />

Santa Cruz x Vera Cruz, no Arruda, todos a<br />

favor do Santa Cruz. Os dois pênaltis ficaram<br />

visíveis para mim. A imagem dentro de campo<br />

estava muito nítida pra mim. Às vezes, o<br />

árbitro vê coisas em campo que as câmeras,<br />

pelo posicionamento, não conseguem registrar,<br />

como também acontece o contrário.<br />

AM | E o caso Ronaldo, ele pediu para<br />

tomar um cartão amarelo?<br />

NN | Eu não tinha a informação de que Ronaldo<br />

tinha dois cartões amarelos. No intervalo<br />

da partida, ele passou por mim, mas não pediu<br />

para receber um cartão. O que aconteceu<br />

é que o atleta Túlio, do Grêmio, ex-jogador<br />

do Corinthians, estava chateado, talvez porque<br />

não teve tantas oportunidades quando<br />

estava no Corinthians, bem como ter perdido<br />

aquela partida e resolveu falar isso. Ronaldo<br />

me perguntou o que é que ele faria para levar<br />

um cartão, isso com aquele jeito bonachão<br />

dele, o semblante engraçado. Fiquei até sem<br />

resposta para ele e me virei. Poderia até ter<br />

respondido de forma irônica, tipo é só fazer<br />

outro gol (ele já havia marcado um gol no primeiro<br />

tempo), ir lá no alambrado e mostrar a<br />

barriga para a torcida, mas não fiz isso, pois<br />

a ética e o profissionalismo não me permitem<br />

dar uma resposta dessas. Depois é que fiquei<br />

sabendo que ele tinha dois cartões.<br />

AM | Como é a sua preparação?<br />

NN | Sigo uma rotina de treinamentos com<br />

a orientação de um professor de educação<br />

física e faço provas a cada dois meses, as<br />

avaliações são feitas pelo chefe da Comissão<br />

de Arbitragem da Federação Pernambucana<br />

de Futebol, Francisco Domingos. Após<br />

cada partida em que atuo, assisto aos vídeos<br />

junto com os assistentes para verificar os<br />

erros. Isso é mais um aprendizado.<br />

AM | Você acha que os árbitros prejudicaram<br />

os clubes <strong>pernambucano</strong>s<br />

neste Brasileiro?<br />

NN | De acordo com um estudo da International<br />

Board, um árbitro toma de 120 a<br />

180 decisões por partida. A International<br />

Board diz que 5% é o limite tolerável de<br />

erros dessas decisões, mas se dentro des-


ses 5% houver erros que alterem o resultado<br />

da partida isso é inadmissível. Agora, se os<br />

erros foram superiores a este percentual e<br />

influenciaram no resultado da partida, com<br />

certeza, eles prejudicaram.<br />

AM | Vocês sentem que um erro do árbitro<br />

pode abalar uma equipe?<br />

NN | Sim, um erro pode abalar um time.<br />

Mas é bom lembrar que, às vezes, os jogadores<br />

não estão emocionalmente preparados<br />

para atuar numa partida. Mesmo aqueles<br />

que ganham um alto salário mostram<br />

descontrole.<br />

AM | Que exemplos você pode dar a<br />

esse respeito?<br />

NN | O que já me chamou a atenção foi Nildo,<br />

aquele que jogou no Sport, no Náutico e<br />

no Santa Cruz. Em todas as entrevistas, ele<br />

sempre coloca o nome de Cristo, e eu até<br />

acredito que ele é realmente um sujeito religioso,<br />

as entrevistas dele são todas voltadas<br />

para o evangelho, mas dentro de campo ele<br />

toma certas atitudes que nem o Satanás iria<br />

perdoar. Já aquele goleiro do Náutico, Eduardo,<br />

é uma pessoa muito equilibrada, total-<br />

n Nielson chegando à Granja Comary, em Teresópolis-RJ, para curso de aperfeiçoamento<br />

promovido pela Conmebol<br />

mente calma em situações de tensão.<br />

AM | E os treinadores?<br />

NN | Se colocar um microfone na beira do<br />

gramado, é possível ver o que eles fazem, pois<br />

alguns, com seus gritos, acabam desequilibrando<br />

totalmente os jogadores, alguns atletas<br />

ficam até intimidados e com medo de jogar.<br />

AM | Quais são os árbitros que você<br />

escolheu como bons exemplos?<br />

NN | Sempre procuramos extrair dos nossos<br />

companheiros os bons exemplos e dentre<br />

aqueles que se destacam mais, por ser de Pernambuco<br />

e está maior tempo em contato nas<br />

atividades comigo, destacaria: Antônio André,<br />

Jossemmar Diniz, Salmo Valentim, Emerson Sobral,<br />

Cláudio Mercante e Erich Bandeira. Todos<br />

tem muito a repassar não só na parte técnica<br />

dentro de campo, mas também são exemplos<br />

de bom caráter e personalidade forte. No Brasil<br />

destaco o Sálvio Spínola de FIFA/SP. n<br />

dezembro ><br />

> 61


Desenho<br />

História e humor<br />

de mãos dadas<br />

nos cartuns<br />

de Humberto<br />

LIVRO | Cartunista lança álbum luxuoso, pela Edições Bagaço, mostrando de<br />

forma bem-humorada os monumentos históricos <strong>pernambucano</strong>s<br />

Por José Neves Cabral<br />

traço fino e, equilibradamente, bem humora-<br />

O do que o cartunista Humberto Araújo expõe<br />

nas páginas dos jornais locais há 34 anos (iniciou<br />

a carreira aos 15 no Diário de Pernambuco e atualmente<br />

trabalha no Jornal do Commercio) presta<br />

um serviço aos <strong>pernambucano</strong>s, ávidos em<br />

conhecer os monumentos históricos do estado,<br />

e também aos turistas. No mês passado, este<br />

craque do desenho, formado em Arquitetura<br />

pela UFPE, lançou o livro Cartuns Postais.<br />

O álbum, da Edições Bagaço, recebeu<br />

um luxuoso tratamento gráfico e editorial,<br />

62 > > dezembro<br />

que justifica o preço cobrado pelo exemplar<br />

R$ 120, e reúne 40 imagens publicadas durante<br />

dois anos na <strong>Revista</strong> JC. Ao lado dos<br />

desenhos, há as fotos dos monumentos<br />

com texto explicativo de autoria da jornalista<br />

Cleide Alves. O sucesso do lançamento,<br />

no último dia 12, no Paço Alfândega, levou<br />

o autor a pensar numa edição mais simples,<br />

acessível aos estudantes interessados em<br />

conhecer os monumentos <strong>pernambucano</strong>s.<br />

Com o trabalho, o autor revela seu olhar<br />

atento sobre o estado e o cotidiano das pessoas<br />

que passam diariamente pelos monumentos,<br />

como na imagem da escultura do abolicionista<br />

Joaquim Nabuco, segurando uma corrente quebrada,<br />

nas proximidades da Ponte da Boa Vista<br />

(Ponte de Ferro) ou da moça de saia curtíssima<br />

diante da coluna de cristal feita pelo artista<br />

plástico Francisco Brennand, no Marco Zero,<br />

ao mesmo tempo em que é observada por um<br />

rapaz. Outra cena que estimula e dá margem a<br />

várias interpretações é a de São Pedro jogando<br />

a chave da igreja, fechada, para o padre que<br />

está chegando.<br />

“Já ouvi diversas opiniões a respeito desta<br />

imagem, cada pessoa faz a sua, umas dizem<br />

que é a igreja se fechando para a participação<br />

popular, outras que é São Pedro convidando o<br />

padre para subir... em vez de entrar. A interpretação<br />

é livre. Nada como o humor para seduzir e<br />

conquistar”, comenta.<br />

O carttunista diz que as pessoas passam<br />

pelos monumentos, mas não conhecem. “E<br />

não se gosta do que não se conhece, a partir<br />

do momento que elas conhecem, passam a se<br />

alimentar muito mais deles”, explica.<br />

Como chargista, ilustrador e cartunista,<br />

Humberto já conquistou três prêmios Cristina<br />

Tavares, além de ter participado de diversos<br />

salões de humor pelo Brasil. Cartuns Postais<br />

é o quarto livro de sua carreira. Está à venda<br />

nas livrarias da cidade e também pode ser<br />

adquirido por pedido de entrega em domicílio<br />

pelos números 3205 0133/0134.


“As pessoas só gostam<br />

do que elas conhecem”<br />

<strong>Algomais</strong> | Como surgiu a ideia de fazer<br />

o livro?<br />

Humberto Araújo | A minha própria formação<br />

de arquiteto me levou a esse tipo<br />

de levantamento. Os desenhos com as situações<br />

de humor complementam a minha<br />

formação de arquiteto e cartunista. Os cartuns<br />

trazem informações históricas abastecidas<br />

pelo humor do cotidiano. Os desenhos<br />

também passaram a ser um levantamento<br />

histórico dos prédios.<br />

AM | Na verdade, em alguns você colocou<br />

o humor do cotidiano, como naquela<br />

imagem da moça com uma saia<br />

curtíssima observando a coluna de<br />

cristal feita por Francisco Brennand,<br />

muito associada a um falo?<br />

HA | É uma situação de humor criada a<br />

partir da história dos lugares. Quando Brennand<br />

fez aquele monumento surgiram vários<br />

questionamentos. E isso alimentou a ideia<br />

para se gerasse uma situação de humor. Então,<br />

através do desenho do monumento, do<br />

prédio, eu crio uma situação de humor que<br />

faz parte da história do lugar.<br />

AM | Além do humor, o livro é também<br />

didático porque contém sempre um texto<br />

de apoio feito pela jornalista Cleide<br />

Alves (uma autoridade em patrimônio<br />

histórico), sobre esses monumentos,<br />

ao mesmo tempo em que pode também<br />

servir como informação turística (Os<br />

textos são traduzidos para o inglês).<br />

HA | A função do jornalista é oferecer a todos<br />

os níveis de leitores numa linguagem precisa as<br />

informações necessárias para que eles conheçam<br />

os monumentos, tanto o leitor que mora<br />

na cidade e às vezes passa por esses lugares<br />

sem prestar atenção, quanto ao turista.<br />

AM | Dessa forma o livro é uma forma<br />

de fazer os próprios <strong>pernambucano</strong>s<br />

conhecerem a cidade.<br />

HA | A gente não gosta do que não conhece,<br />

a gente não ama quem não conhece. Então,<br />

n São Pedro jogando<br />

a chave da Igreja para<br />

o padre dá margem a várias<br />

interpretações<br />

a partir do momento<br />

em que você passa<br />

a conhecer os lugares,<br />

você se alimenta<br />

muito mais deles.<br />

Cleide fez isso com<br />

muita competência.<br />

E nós somos de<br />

uma geração que<br />

vivenciava muito<br />

mais a rua. Hoje, se<br />

vivencia muito pouco<br />

a rua, o que gera<br />

essa necessidade.<br />

Através da informática,<br />

com a internet,<br />

você pode até conhecer<br />

o fato, mas<br />

conhecer é uma<br />

coisa e vivenciar é<br />

outra.<br />

AM | A arquitetura,<br />

neste aspecto,<br />

assume<br />

seu papel histórico<br />

no livro?<br />

HA | A arquitetura assume o papel de contar<br />

a história. Para mim, fazer esse livro com<br />

os cartuns postais foi fantástico. Fantástico e<br />

prazeroso.<br />

AM | Você também aprendeu nesse<br />

roteiro de monumentos?<br />

HA | Com tanto tempo de freqüência e de<br />

andanças pelo Recife eu não havia percebido<br />

que ali, na Pracinha de Boa Viagem, havia<br />

um obelisco. Eu não tinha observado até<br />

então que ele existia e que é um marco da<br />

construção da Avenida Boa Viagem.<br />

AM | Qual foi a sua orientação para fazer<br />

esse roteiro de monumentos históricos?<br />

HA | A orientação foi emocional. Mas também<br />

me guiei pelo calendário turístico do Estado. É<br />

basicamente o que Pernambuco oferece em<br />

termos de atração aos turistas. n<br />

dezembro ><br />

> 63


Memória Pernambucana<br />

O cangaceiro<br />

das flores<br />

GRANDE MESTRE | Wellington Virgolino semeou vida com a beleza das flores,<br />

das borboletas e de meninos meio alegres meio enigmáticos que povoam suas telas<br />

Uma agência de propaganda recifense<br />

era o ponto de encontro de muitos dos<br />

maiores artistas plásticos da época com o<br />

pintor Wellington Virgolino, um dos sócios da<br />

empresa. Sócio durante pouco tempo, diga-se,<br />

já que o artista resolveu, ainda bem, dedicar-se<br />

integralmente ao seu talento. Melhor para as<br />

artes plásticas, como logo se veria.<br />

O começo foi assim: de infância materialmente<br />

pobre, a riqueza de experiências logo<br />

fez aflorar a criatividade que o acompanharia<br />

vida afora. Sem dinheiro para comprá-los, produzia<br />

os próprios brinquedos, como bicicletas<br />

de madeira, revólveres que atiravam balas<br />

de feijão e milho, espadas que não cortavam<br />

nem furavam, violões a partir de latas de doce,<br />

telefones a partir dos fundos das latas de talco,<br />

projetores de cinema feitos de caixas de<br />

charutos, lentes de aumento a partir de lâmpadas<br />

incandescentes queimadas, carrinhos<br />

de rolimã. Criava um mundo de fantasia que<br />

afloraria também nos cadernos escolares, nas<br />

cartolinas, nos lápis de cor, nas aquarelas, nos<br />

guaches e, definitivamente, na sua pintura tão<br />

bela quanto inconfundível.<br />

Nos anos 1950 juntou-se a vários artistas<br />

e fundou um ateliê coletivo em que trabalhavam,<br />

trocavam experiências, dividiam conhecimentos.<br />

Havia, aliás, uma inter-relação tão<br />

pronunciada, que eram muitos os trabalhos dos<br />

quais não se sabia quem era o verdadeiro autor.<br />

Ninguém assinava as telas, é claro.<br />

Um dia, porém, Wellington Virgolino e<br />

João Câmara, em um ato de ousadia, executaram<br />

um quadro conjunto, concebendo-o de<br />

um modo que as pinturas não se chocavam.<br />

Pelo contrário, se integravam. Na pintura, uma<br />

mulher pintada por João Câmara segurava um<br />

64 > > dezembro<br />

estandarte pintado por Virgolino, formando no<br />

conjunto uma obra de extrema beleza e originalidade.<br />

Estava ali mais uma materialização do<br />

talento <strong>pernambucano</strong>.<br />

Wellington Virgolino era recifense de corpo<br />

e alma. De corpo, porque aqui nascido, de<br />

alma pelo amor que devotava à cidade que viveu<br />

amplamente, conhecendo-lhe os recantos,<br />

os tipos e os lugares pitorescos. Os detalhes,<br />

enfim. Cresceu, como homem e como artista,<br />

em um Recife de cultura borbulhante, à frente o<br />

sociólogo Gilberto Freyre, que, graças ao seu reconhecimento<br />

internacional, nos descolonizava<br />

culturalmente do Rio de Janeiro e São Paulo. As<br />

novidades vinham diretamente da França, da<br />

Inglaterra, da Alemanha e dos Estados Unidos.<br />

Pois saiba que Gilberto Freyre tratava Wellington<br />

Virgolino por colega, e costumava escrever<br />

elogiosos comentários sobre a sua obra.<br />

Os anos 1960 marcaram a<br />

grande ascensão virgoliniana.<br />

A aceitação dos seus trabalhos<br />

na VI Bienal de São Paulo,<br />

ecoou, como não poderia<br />

deixar de ser. Todos os seus<br />

quadros, todos, repita-se,<br />

foram comprados e havia uma<br />

alentada relação de pedidos<br />

de novos trabalhos.<br />

A fama cresceu, e Wellington Virgolino já não<br />

era um pintor doméstico. Era um artista nacional.<br />

Foi um passo para a sua primeira mostra individual<br />

em São Paulo, o maior mercado do Brasil.<br />

O tom era de blague, advirta-se, mas os quadros<br />

com a assinatura W. Virgolino, dizia-se, eram<br />

como o cheque ouro do Banco do Brasil, aceitos<br />

em todos os lugares. Foi quase uma centena de<br />

exposições individuais e coletivas no Japão, em<br />

Portugal, na Inglaterra, no Rio de Janeiro, em<br />

São Paulo, em Belo Horizonte, em Porto Alegre,<br />

em Salvador, em Brasília, além do Recife, claro,<br />

dessas, uma dúzia de exposições póstumas.<br />

Virgolino era um supersticioso e se considerava<br />

cabalisticamente ligado ao número nove.<br />

Será que ele vislumbrava alguma coisa diante de<br />

sua crença? Nascera em 19/9/1929, em uma<br />

casa de número 5149, comungou em 1939,<br />

conheceu Marinete, que viria a ser sua esposa,<br />

em um dia 29, ao casar foi morar em uma casa<br />

de número 9, sua filha nasceu no mês 9 (setembro),<br />

calçava 39, o nome Virgolino é feito de 9<br />

letras, sua altura era 1,69m, sua primeira exposição<br />

na Ranulpho Galeria em 1969. Faleceu no<br />

mês 9 (setembro), após realizar 19 exposições


n Reprodução do Guerreiro Mascarado do Cavalo Verde, de 1972<br />

individuais, um marco na vida brasileira.<br />

Farrista convicto, muitas<br />

vezes saía da boêmia para<br />

o trabalho. Uma vez, porém,<br />

para comoção do Brasil, saiu<br />

para a última morada.<br />

Terminara uma triunfante entrevista na<br />

TV Universitária e fora comemorar o sucesso.<br />

Estava eufórico. De madrugada, já em casa,<br />

sentindo-se mal foi levado ao hospital, onde<br />

protagonizou uma cruenta batalha pela vida.<br />

Lamentavelmente, no entanto, no dia 23 de setembro<br />

(mês 9), Virgolino se foi. As palavras do<br />

seu irmão, o artista plástico e escritor Wilton de<br />

Souza, autor do livro Virgolino – O Cangaceiro<br />

das Flores bem retratam a dor: “Durante<br />

sua vida, Wellington criou seu próprio jardim,<br />

um mundo novo com flores feitas à mão por ele<br />

mesmo, onde cada pétala tem a cor de sua preferência<br />

e cavalga em borboletas multicoloridas,<br />

reinventando ilusões. Reinventou inventos de<br />

sua infância, negando sua maneira de ser adulto.<br />

Reinventou objetos e brinquedos que ninguém<br />

tinha igual. Contava estórias em suas telas. Reinventou,<br />

também, em sua pintura a guerra com<br />

espadas de madeira que não feriam, não destruíam,<br />

não matavam... O circo e suas próprias<br />

invenções. A espada que traspassou a sua vida<br />

e o matou feriu o meu coração, cheio de dor e<br />

emoções. Wellington só não conseguiu reinventar<br />

sua própria morte, levando consigo aquelas<br />

mesmas flores e um sorriso indecifrável da vida.<br />

Éramos irmãos. Na infância da vida e nas artes,<br />

pintores e amigos. Tive o privilégio de ter sido<br />

seu irmão, amigo e companheiro ao longo da<br />

vida, testemunhando o carinho como realizava o<br />

* Marcelo Alcoforado é publicitário e jornalista<br />

marceloalcoforado@surfix.com.br<br />

encontro com suas criações. Sempre reconheci<br />

o grande mestre que tinha tão próximo e que,<br />

nessa convivência, acompanhei até o momento<br />

que deixou esta vida de reinvenções. Nas horas<br />

difíceis, sempre estávamos juntos, contando<br />

com uma palavra, uma brincadeira, sobretudo,<br />

ao grande valor e alto conceito que ele me tinha.<br />

Wellington fragilmente ausentou-se nas asas de<br />

uma de suas múltiplas borboletas, tão ricamente<br />

coloridas. Saudades de você, querido Letinho.”<br />

Dois cangaceiros, duas épocas, duas vidas<br />

diferentes. Virgolino Ferreira da Silva, o temido<br />

Lampião, foi o cangaceiro que deixou um rastro<br />

de mortes por onde passou. Outro Virgolino, o<br />

Wellington, semeou vida com a beleza das flores,<br />

das borboletas e de meninos meio alegres meio<br />

enigmáticos que povoam suas telas e imprimem<br />

uma página indelével na memória dos<br />

<strong>pernambucano</strong>s.<br />

dezembro ><br />

> 65


O s<br />

66 > > dezembro<br />

Última página<br />

A Ferida de Guararapes<br />

Montes Guararapes estão inscritos<br />

na história do país como<br />

berço da nacionalidade e local onde<br />

nasceu o Exército Brasileiro. Foi lá<br />

que, por duas vezes consecutivas<br />

(em 1648 e em 1649) um aglomerado<br />

de brancos, negros e índios, toscamente<br />

armados de paus, pedras e<br />

poucas armas de fogo, comandados<br />

por brasileiros com escassa experiência<br />

militar e um marechal de campo<br />

português, derrotaram um bem<br />

armado exército holandês que, na<br />

primeira batalha, contava com mais de 5.000 soldados profissionais<br />

(contra pouco mais de 2.000 nacionais) e, na segunda, com<br />

3.500 contra 2.600. As duas vitórias heróicas foram decisivas<br />

para a derrota e expulsão dos invasores, cinco anos depois.<br />

Sobre a importância das batalhas para a nação brasileira, disse<br />

Gilberto Freyre em discurso na Câmara dos Deputados no ano de<br />

1948: “Nas duas batalhas dos Guararapes escreveu-se a sangue o<br />

endereço do Brasil: o de ser um Brasil só e não dois ou três.”<br />

Hoje, o sítio (de 363 hectares) está tombado e constitui o Parque<br />

Histórico Nacional do Guararapes, no município de Jaboatão,<br />

protegido pelo Exército. São três os montes: o primeiro, de quem<br />

vai do Recife para Jaboatão, do Telégrafo, o segundo do Oitizeiro<br />

e o terceiro da Ferradura (onde encontra-se a belíssima Igreja de<br />

Nossa Senhora dos Prazeres, monumento nacional da arquitetura<br />

religiosa barroca, cuja primitiva capela foi mandada construir pelo<br />

então capitão-mor de Pernambuco, Francisco Barreto de Menezes,<br />

em ação de graças pelas duas vitórias alcançadas, e onde estão os<br />

restos mortais de João Fernandes Vieira e André Vital de Negreiros,<br />

dois dos comandantes da Guerra da Restauração).<br />

Pois bem, embora o perímetro esteja cercado e o parque<br />

relativamente preservado, o primeiro dos três morros, o do Telégrafo,<br />

está sendo submetido a um intenso processo de erosão da<br />

sua face norte. Tão intenso e extenso que pode ser visto de pra-<br />

Francisco Cunha<br />

franciscocunha@revistaalgomais.com.br<br />

ticamente toda a planície do Recife,<br />

a partir de determinada altura, se a<br />

vista estiver desimpedida na direção<br />

sul. É essa erosão que eu chamo de<br />

“ferida” pela péssima impressão que<br />

causa ao observador, inclusive àqueles<br />

que chegam e partem pelo Aeroporto<br />

Internacional do Guararapes<br />

que fica de frente para o morro erodido.<br />

Pode ser facilmente reconhecida<br />

pela cor de barro avermelhado que<br />

apresenta em contraste com a cor<br />

predominantemente esverdeada da<br />

continuação da elevação na direção oeste e, de um modo geral,<br />

de todo o cinturão de morros que contorna, em forma de anfiteatro,<br />

a planície do Recife.<br />

Esse “anfiteatro”, uma marca natural indelével da paisagem<br />

recifense, começa ao norte na colina histórica de Olinda, segue<br />

na direção oeste, passando por Casa Amarela, fazendo a “curva”<br />

em Dois Irmãos, Camaragibe, Curado e retomando a direção do<br />

mar pelo Jordão até os Montes Guararapes.<br />

Estancar este processo, preservando o morro histórico do<br />

desmonte e a paisagem recifense da visão mutiladora, é urgente,<br />

sobretudo porque a situação piora à medida que o tempo passa.<br />

Apesar da magnitude da obra de engenharia necessária (contenção<br />

de uma escarpa de mais de 60 metros de altura e de cerca<br />

de 1.000 metros de perímetro não é, com certeza, uma tarefa<br />

simples), já existe um precedente bem sucedido (ainda que carente<br />

de manutenção) a poucos metros e área semelhante: uma<br />

contenção em degraus com vegetação apropriada, junto ao aeroporto,<br />

feita, certamente, pelo Infraero e/ou pela Aeronáutica.<br />

No caso do Morro do Telégrafo, dada a dimensão da obra, o<br />

esforço terá que ser conjunto. Exército, Aeronáutica, Prefeitura<br />

do Recife, Prefeitura do Jaboatão, Iphan, Infraero, Governo do Estado,<br />

Governo Federal. Todos em prol da preservação. A História<br />

do Brasil e a Geografia do Recife agradecem.


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