Corrente nº 34 – ago/2012 - WIZO Brasil
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eligião<br />
22 corrente<br />
A tradição nos ensina que existem quatro<br />
formas de estudar as escrituras:<br />
PSHAT -פ (literal); REMEZ -פ (alusivo);<br />
DRASH - (interpretativo) e SOD- (oculto).<br />
No Pshat, nos ocupamos com o a literalidade do<br />
texto. É como se estivéssemos lendo uma estória,<br />
mas ao contrário do que possa parecer, essa abordagem<br />
não é tão simples, uma vez que não tendo<br />
contato direto com o Autor, não existe literalidade<br />
absoluta. Nesse estudo, temos que sentir a textura<br />
do que está escrito, seria como desnudar (leafshit em<br />
hebraico) o texto. Serve de âncora também para não<br />
“viajarmos” demais.<br />
Em Remez, aprofundamos a experiência e devemos<br />
ficar atentos às dicas do texto. As palavras<br />
são alegorias e como alusões, servem de referências<br />
ao entendimento do que está escrito. Valem<br />
metáforas, parábolas e outros recursos para lermos<br />
as entrelinhas.<br />
Em Drash, descobrimos o significado do texto<br />
através de interpretações. Todas as experiências<br />
de vida servem de fonte para encontrarmos<br />
simbolicamente “contextualidade” no texto. Os<br />
mestres chassidicos estão sempre presentes com<br />
suas estórias e midrashim.<br />
Em Sod, cada letra, cada palavra, cada passuk<br />
(versículo) e assim por diante, ganha um significado<br />
místico. Seria como ler o que não está escrito.<br />
Até mesmo no branco do pergaminho buscamos<br />
mensagens. O relevo e a forma das letras e como se<br />
combinam, são cuidadosamente examinados.<br />
O acrônimo formado com a primeira letra de<br />
cada uma dessas abordagens forma a palavra PAR-<br />
DES (pomar) e nos remete ao deleite de uma visita<br />
a esse tão aprazível lugar, aonde nossos sentidos<br />
são aguçados ao extremo, diante de tantos aromas,<br />
sabores e texturas.<br />
Mas, como na estória dos quatro sábios que visitam<br />
o Pardes, se não tomarmos o devido cuidado,<br />
podemos acabar sucumbindo, enlouquecendo ou<br />
nos tornando hereges. O ideal seria sairmos sãos<br />
dessa incursão. Grandes saltos entre essas formas<br />
de estudo pode acabar resultando em algum desses<br />
riscos à integridade. Isso não quer dizer que o Criador<br />
tenha ditado o Livro Sagrado para ser escrito<br />
pela mão de Moises, para apenas um seleto grupo<br />
de privilegiados.<br />
Os ensinamentos estão ali e são acessíveis a todos,<br />
e é assim que está escrito:<br />
“Porque este mandamento que hoje te ordeno,<br />
não te é encoberto nem está longe de ti.<br />
Não está nos céus para dizeres: Quem subirá<br />
para nós aos céus, que o traga a nós e nos faça<br />
ouvi-lo, para que o observemos?<br />
Nem está além do mar, para dizeres: Quem<br />
passará por nós além do mar, para que o traga<br />
a nós e nos faça ouvi-lo, para que o observemos?<br />
Pois a coisa está muito perto de ti, na tua boca e<br />
no teu coração, para que a observes”.<br />
Deuteronômio <strong>–</strong> 30: 11-14<br />
O ser humano tem uma atração natural pelo<br />
oculto, pelos segredos e pelo místico, mas, perseguir<br />
essas fórmulas sem um embasamento, pode<br />
se tornar uma armadilha na busca pela ampliação<br />
da consciência. A falta de alicerces provoca<br />
desmoronamentos e nos torna espiritualmente<br />
inconscientes.<br />
Como numa experiência de mergulho em<br />
águas profundas, aonde nos deparamos com<br />
imagens surpreendentes, novas formas de vida e<br />
deslumbramento diante da imensidão, é sempre<br />
importante ficarmos atentos ao momento de<br />
voltar à tona.<br />
Cada momento de nossas vidas permite um<br />
novo enfoque nessa inesgotável fonte de estudos,<br />
sendo o ciclo de leitura e estudo da Torah permanente<br />
e sua cronologia atemporal. Dessa forma,<br />
o texto bíblico é sempre atual e contemporâneo,<br />
possibilitando infinitas re-leituras de uma parashá<br />
(porção semanal) da Torah, cada vez com novos aspectos<br />
tanto de seus personagens como dos fatos<br />
que nela aparecem.<br />
José London é Professor de Estudos da Parashá do<br />
Centro Cultural Midrash (www.midrash.org.br)