Entre uma carta e outra.pmd - Teia Notícias
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mais o que fazer. Até que sem mais nem menos ele abriu a boca e eu caí no chão<br />
com <strong>uma</strong> dor jamais sentida. Lembro que rapidamente os vizinhos me<br />
socorreram, enfaixaram meu braço e de carro me levaram para o Posto de<br />
Saúde mais próximo. É por isso que me chamam de azarado, bastou eu ficar<br />
dois dias afastados para que a dona da casa comprasse um cachorro e ele na<br />
primeira ocasião me atacasse. Levei quatro pontos no braço e tenho essa<br />
cicatriz”.<br />
Cicatriz que, passados sete anos, ainda o incomoda. Jefferson lembra que<br />
por causa do acidente ficou quatorze dias parado. Como os Correios só cobrem<br />
quinze dias de licença médica, foi aconselhado a buscar <strong>uma</strong> nova licença no<br />
INSS, o que ele não fez, pois segundo ele “é muita burocracia até para as coisas<br />
mais simples”, então após o encerramento de sua licença voltou ao trabalho<br />
como o braço ainda inchado, com dor e com <strong>uma</strong> cicatriz que causava<br />
desconforto. Souza afirma que o fato aconteceu em <strong>uma</strong> época em que ele não<br />
sabia ao certo os seus direitos, que poderia ter processado a proprietária do<br />
cachorro para que ela cobrisse seus gastos com medicações. Segundo ele, os<br />
Correios pagaram boa parte do tratamento, menos os remédios, que foram<br />
muitos e <strong>uma</strong> operação estética do antebraço esquerdo de Jefferson. “Os<br />
Correios argumentaram que a cicatriz não alterava em nada meu rendimento,<br />
por isso negaram o pagamento da cirurgia plástica. Mas se quando entrei eu<br />
não tinha nenh<strong>uma</strong> cicatriz, e agora eu tenho por causa do trabalho, nada<br />
mais justo que eles pagarem. Até para ir à praia eu me sinto meio mal”, afirma<br />
ele, um pouco irritado.<br />
Após esse relato, feito durante a greve realizada em setembro de 2009, mais<br />
precisamente às 21h15, na calçada em frente à Sede Estadual dos Correios no<br />
Paraná na Rua João Negrão, Jefferson respira fundo, vai até a barraca<br />
improvisada, onde ele passaria a noite com mais quatro pessoas, e pega um<br />
cigarro. Esse era seu segundo cigarro da noite. O primeiro foi quando cheguei<br />
ao encontro dele e me apresentei. Num mecanismo automático de defesa, logo<br />
após eu falar a palavra “entrevista” dava para notar seu nervosismo e o alívio<br />
que o fumo dava. Interpretei então o fato de ele acender um novo cigarro como<br />
<strong>uma</strong> forma de aliviar a tensão e troquei de assunto. Fomos para a família.<br />
Jefferson está namorando há pouco mais de dois anos. Sua namorada<br />
também entrega <strong>carta</strong>s, mas esta história está descrita no próximo capítulo.<br />
Seu pai foi carteiro durante trinta anos e virou a inspiração para que ele tentasse<br />
o concurso público. Hoje sua maior alegria é seu filho de sete anos. Todos os<br />
momentos em que ele é citado seus olhos brilham. Ele conta que agora o filho<br />
está começando a entrar na fase difícil. Quer tudo para ele, não quer saber de<br />
estudar, só de jogar vídeo-game. “Esses dias aí ele quebrou os dois controles<br />
do PlayStation e eu não tive como jogar”, conta Souza, dando risada. A pior<br />
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