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Jose Estevao Sobrinho - Oktiva

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Eu fiquei dezoito anos e meio trabalhando com o Seu Alfredo. Depois resolvi<br />

trabalhar para mim. Juntei uma bicicleta, um rádio, uma máquina de costura e<br />

vendi. Deu pouca coisa, uns 80 mil... O rádio precisava ficar chiando meia hora<br />

até chegar a fala... Tem gente que diz que, depois de tanto tempo de trabalho<br />

com o Seu Alfredo, eu merecia ganhar um ônibus. Hoje, se um motorista fica<br />

quinze dias trabalhando para você, já vai “procurar seus direitos” na Justiça. É<br />

isso que a gente vê hoje. Mas eu acho que não. Eu tinha o meu direito, que era<br />

o que eu recebia toda a semana para trabalhar.<br />

O “Cumpadi” Lunga tinha comprado aquele Chevrolet 1951 no Rio de Janeiro.<br />

Foi o primeiro ônibus de Juazeiro. Só passava dentro da cidade. Eu comprei o<br />

ônibus dele com os 80 mil e ele deixou que eu pagasse o resto em prestações,<br />

do jeito que pudesse.<br />

O ônibus era a gasolina, ficava rodando no meio dos matos. No inverno era<br />

lama, no verão era areia. Não deu certo, porque, naquele tempo, a cidade do<br />

Juazeiro ia só da Prefeitura ou do Mercado Central até a Matriz. Não tinha<br />

passageiro para circular. O que eu apurava no número de passageiros só dava<br />

para botar a gasolina.<br />

Quando eu terminei de pagar o ônibus, desmanchei e transformei num<br />

caminhão. Fiz sozinho. Então comecei carregando pedra, areia, tijolo, lenha.<br />

Era dia e noite, sem parar. Só eu na direção. Com o dinheiro desse caminhão,<br />

eu consegui comprar outro ônibus, mais moderno. Era um carrinho desses que<br />

levantava os vidros como um trem. Tinha janela de trem. Trabalhar com ônibus<br />

já tinha ficado melhor do que com caminhão.<br />

Depois vendi esse ônibus com janela de trem e comprei outro. Um Caio<br />

curtinho, muito antigo. Mais ou menos 1966 ou 1968... De lá para cá, fui<br />

trocando os ônibus até que passei a ter 5 Ciferal com janelinha, coisa de luxo.<br />

Foi com o ônibus Caio que eu consegui a linha do Horto. Foram o Padre Nestor<br />

mais o finado Leandro Bezerra que ajeitaram para mim. Começou com a linha<br />

do Juazeiro – Espinho - Sítio Taquari, o caminho dos romeiros. Naquele tempo,<br />

chegava muito romeiro no Juazeiro nos paus-de-arara. Eu ficava com o ônibus<br />

parado na Praça Padre Cícero e eles pediam: “- Vamos no Horto?”. Lá ia eu,<br />

fretado para o Horto. Quando chegava lá: “- Dá para o senhor esperar até a<br />

gente terminar a visita e nos levar de volta?”. Então eu esperava e voltava. E<br />

foram indo e voltando, até que deu essa ideia de registrar a linha. O Padre<br />

Nestor e o Leandro Bezerra registraram e depois deram para mim.<br />

Eu ainda não tinha empresa. Só tinha os ônibus registrados na Inspetoria do<br />

Trânsito, que ficava numa casinha de esquina, pertinho do Socorro. Ia até lá e<br />

emplacava. Para fazer a linha, não precisava ter empresa. Era o prefeito quem<br />

autorizava. Pagava-se uma taxa e pronto. Todo o mês, o prefeito dava aquela<br />

linha para mim. Me chamavam de “José Estevão da linha do Horto”. Vinha um<br />

carnezinho para pagar. Eu pagava o carnê e rodava. Só isso. Depois foi<br />

modernizando e o prefeito passou a receber por porcentagem. Era 2,5%,

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