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Eu fiquei dezoito anos e meio trabalhando com o Seu Alfredo. Depois resolvi<br />
trabalhar para mim. Juntei uma bicicleta, um rádio, uma máquina de costura e<br />
vendi. Deu pouca coisa, uns 80 mil... O rádio precisava ficar chiando meia hora<br />
até chegar a fala... Tem gente que diz que, depois de tanto tempo de trabalho<br />
com o Seu Alfredo, eu merecia ganhar um ônibus. Hoje, se um motorista fica<br />
quinze dias trabalhando para você, já vai “procurar seus direitos” na Justiça. É<br />
isso que a gente vê hoje. Mas eu acho que não. Eu tinha o meu direito, que era<br />
o que eu recebia toda a semana para trabalhar.<br />
O “Cumpadi” Lunga tinha comprado aquele Chevrolet 1951 no Rio de Janeiro.<br />
Foi o primeiro ônibus de Juazeiro. Só passava dentro da cidade. Eu comprei o<br />
ônibus dele com os 80 mil e ele deixou que eu pagasse o resto em prestações,<br />
do jeito que pudesse.<br />
O ônibus era a gasolina, ficava rodando no meio dos matos. No inverno era<br />
lama, no verão era areia. Não deu certo, porque, naquele tempo, a cidade do<br />
Juazeiro ia só da Prefeitura ou do Mercado Central até a Matriz. Não tinha<br />
passageiro para circular. O que eu apurava no número de passageiros só dava<br />
para botar a gasolina.<br />
Quando eu terminei de pagar o ônibus, desmanchei e transformei num<br />
caminhão. Fiz sozinho. Então comecei carregando pedra, areia, tijolo, lenha.<br />
Era dia e noite, sem parar. Só eu na direção. Com o dinheiro desse caminhão,<br />
eu consegui comprar outro ônibus, mais moderno. Era um carrinho desses que<br />
levantava os vidros como um trem. Tinha janela de trem. Trabalhar com ônibus<br />
já tinha ficado melhor do que com caminhão.<br />
Depois vendi esse ônibus com janela de trem e comprei outro. Um Caio<br />
curtinho, muito antigo. Mais ou menos 1966 ou 1968... De lá para cá, fui<br />
trocando os ônibus até que passei a ter 5 Ciferal com janelinha, coisa de luxo.<br />
Foi com o ônibus Caio que eu consegui a linha do Horto. Foram o Padre Nestor<br />
mais o finado Leandro Bezerra que ajeitaram para mim. Começou com a linha<br />
do Juazeiro – Espinho - Sítio Taquari, o caminho dos romeiros. Naquele tempo,<br />
chegava muito romeiro no Juazeiro nos paus-de-arara. Eu ficava com o ônibus<br />
parado na Praça Padre Cícero e eles pediam: “- Vamos no Horto?”. Lá ia eu,<br />
fretado para o Horto. Quando chegava lá: “- Dá para o senhor esperar até a<br />
gente terminar a visita e nos levar de volta?”. Então eu esperava e voltava. E<br />
foram indo e voltando, até que deu essa ideia de registrar a linha. O Padre<br />
Nestor e o Leandro Bezerra registraram e depois deram para mim.<br />
Eu ainda não tinha empresa. Só tinha os ônibus registrados na Inspetoria do<br />
Trânsito, que ficava numa casinha de esquina, pertinho do Socorro. Ia até lá e<br />
emplacava. Para fazer a linha, não precisava ter empresa. Era o prefeito quem<br />
autorizava. Pagava-se uma taxa e pronto. Todo o mês, o prefeito dava aquela<br />
linha para mim. Me chamavam de “José Estevão da linha do Horto”. Vinha um<br />
carnezinho para pagar. Eu pagava o carnê e rodava. Só isso. Depois foi<br />
modernizando e o prefeito passou a receber por porcentagem. Era 2,5%,