Jose Estevao Sobrinho - Oktiva

Salviano, toda a vez que tinha aumento da passagem em Fortaleza,
aumentava o preço da passagem um pouquinho aqui também.
Hoje tem o Demutran para organizar o transporte. Os meninos do Demutran
estão planejando com as empresas, para no final do ano, fazer uma promoção
de alguns dias, diminuindo a passagem para R$ 1,00. Só que quem tem 1.000
passageiros por dia, pode fazer essa promoção. O pobrezinho do Zé Estevão
não pode, não. Meus ônibus só dão 200 passageiros por dia. Tem dia que nem
dão 200 passageiros... Mostre o faturamento, minha filha.
Houve uma reunião e nós combinamos com o Demutran de ficar usando esses
ônibus até 2015. Depois de 2015, só vamos poder rodar com ônibus de menos
de dez anos. Vai melhorar. Vão ficar carros bons. É bom para o passageiro e
bom para a gente, porque não vão dar muita preocupação.
Só que eu, agora, estou com esse horror de carro na garagem, sem poder mais
rodar para fora. Não posso mais fazer o fretamento para outros lugares, só
posso colocar ônibus dentro da cidade. Porque o Governo fez essa licitação
para o transporte intermunicipal e só podem rodar ônibus com menos de dez
anos.
Com meus ônibus só posso rodar se for clandestino. Se eu for para o Crato e
for pego, vou preso. Se for para Barbalha, vou preso. Se for para Caririaçú, vou
preso. Estamos numa situação em que não se vê saída, não. Temos que ter
muita calma para ver como vamos fazer. Meus ônibus são velhos, mas são
bons. Eles podem rodar até São Paulo, se quiserem. É só encher o tanque que
chegam até lá, mesmo o ônibus mais velho que eu tenho. Uma prova é a
ladeira do Horto. A maior ladeira que tem no município do Juazeiro se chama
ladeira do Horto. E meus ônibus sobem, com 60, 70 passageiros, todos os
anos.
Agora estão parados aí, se desmanchando, porque não posso usar para
fretamento. Quem vai querer comprar meus ônibus? Se eu não posso rodar
para fora, ninguém vai poder também... Eles valem uns 70 mil, mas não posso
vender... Então, o Governo do Estado do Ceará botou a gente dentro de uma
casa e trancou a porta. Não deu saída.
Essa é a minha história. Não teve acidente, não teve nada demais. Só trabalho.
Abaixo de Deus, só o “Cumpadi” Lunga, que é esse historiador, um cabra muito
sincero e muito seguro nas coisas que diz. E também o Seu Alfredo. Todos os
dois. Eles me ensinaram a comprar, a vender, a saber viver.