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ano 14 - Diocese de Jundiai

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O VERBO<br />

Voz <strong>de</strong> Roma<br />

O Advento é o tempo da presença e da espera do eterno<br />

Divulgamos, a seguir, a íntegra da homilia do Santo Padre, o Papa Bento XVI, proferida durante a celebração<br />

das Primeiras Vésperas do I Domingo do Advento, no dia 28 <strong>de</strong> novembro, na Basílica Vaticana.<br />

Caros irmãos e irmãs,<br />

Com esta celebração<br />

vespertina entramos<br />

no tempo litúrgico do<br />

Advento. Na leitura bíblica<br />

que acabamos <strong>de</strong> ouvir, extraída<br />

da 1ª Carta aos Tessalonicenses,<br />

o Apóstolo Paulo nos<br />

convida a preparar a “vinda<br />

<strong>de</strong> Nosso Senhor Jesus Cristo”<br />

(5,23) guardando-nos irrepreensíveis,<br />

com a graça <strong>de</strong><br />

Deus. Paulo usa exatamente<br />

a palavra “vinda”, em latim<br />

adventus, da qual provém o<br />

termo Advento.<br />

Reflitamos brevemente<br />

sobre o significado <strong>de</strong>sta palavra,<br />

que po<strong>de</strong> ser traduzida<br />

como “presença”, “chegada”,<br />

“vinda”. Na linguagem do<br />

mundo antigo era um termo<br />

técnico, utilizado para indicar<br />

a chegada <strong>de</strong> um funcionário,<br />

a visita do rei ou do imperador<br />

em uma província. Mas,<br />

podia também indicar a vinda<br />

da divinda<strong>de</strong>, que sai <strong>de</strong> seu<br />

escondimento para se manifestar<br />

com po<strong>de</strong>r, ou que é<br />

celebrada por sua presença no<br />

culto. Os cristãos adotaram<br />

a palavra “advento” para expressar<br />

a sua relação com Jesus<br />

Cristo: Jesus é o Rei, que<br />

entra nesta pobre “província”<br />

<strong>de</strong>nominada terra para visitar<br />

a todos; na festa <strong>de</strong> seu<br />

advento faz participar todos<br />

os que n’Ele creem, todos os<br />

que creem em sua presença<br />

em meio à assembleia litúrgica.<br />

Com a palavra adventus,<br />

se pretendia substancialmente<br />

dizer: Deus está aqui, ele<br />

não se retirou do mundo, não<br />

nos <strong>de</strong>ixou a sós. Embora não<br />

possamos vê-lo nem tocá-lo<br />

como acontece com as realida<strong>de</strong>s<br />

sensíveis, Ele está aqui<br />

e vem visitar-nos em diversos<br />

modos.<br />

O significado da expressão<br />

“advento” compreen<strong>de</strong><br />

então também o <strong>de</strong> visitatio,<br />

que quer dizer simples e diretamente<br />

“visita”; neste caso,<br />

trata-se <strong>de</strong> uma visita divina:<br />

Ele entra em minha vida e<br />

quer se dirigir a mim. Todos<br />

experimentamos na existência<br />

cotidiana, o fato <strong>de</strong> termos<br />

pouco tempo para o Senhor e<br />

pouco tempo também para<br />

nós. Acabamos <strong>de</strong>ixando-nos<br />

absorver pelo “fazer”. Não<br />

seria talvez apropriado dizer<br />

que somos muitas vezes tomados<br />

pela ativida<strong>de</strong>, que a<br />

socieda<strong>de</strong> com seus múltiplos<br />

interesses monopoliza a nossa<br />

atenção? Não seria talvez<br />

apropriado afirmar que se <strong>de</strong>dica<br />

muito tempo à diversão<br />

e ao lazer <strong>de</strong> diferentes tipos?<br />

Às vezes as coisas nos “arrastam”.<br />

O Advento, este tempo<br />

litúrgico forte que estamos<br />

iniciando, nos convida a parar<br />

em silêncio para compreen<strong>de</strong>r<br />

uma presença. É um convite a<br />

enten<strong>de</strong>r que cada evento do<br />

dia são sinais que Deus dirige<br />

a nós, prova da atenção que<br />

Ele tem por cada um <strong>de</strong> nós.<br />

Quão frequentemente Deus<br />

nos faz perceber algo <strong>de</strong> seu<br />

amor! Manter, por assim dizer,<br />

um “diário interior” <strong>de</strong>ste<br />

amor seria uma bonita e salutar<br />

tarefa para a nossa vida!<br />

O Advento nos convida e nos<br />

impulsiona à contemplação<br />

do Senhor presente. A certeza<br />

<strong>de</strong> sua presença não <strong>de</strong>veria<br />

nos ajudar a ver o mundo com<br />

olhos diferentes? Não <strong>de</strong>veria<br />

nos ajudar a consi<strong>de</strong>rar toda a<br />

nossa existência como “visita”,<br />

como um modo no qual<br />

Ele po<strong>de</strong> vir a nós e nos tornar<br />

mais próximos, em cada<br />

situação?<br />

Outro elemento fundamental<br />

do Advento é a espera,<br />

espera que ao mesmo tempo<br />

esperança. O Advento nos impele<br />

a compreen<strong>de</strong>r o sentido<br />

do tempo e da história como<br />

“kairós”, como ocasião favorável<br />

à nossa salvação. Jesus<br />

mostrou esta realida<strong>de</strong> misteriosa<br />

em muitas parábolas: no<br />

relato dos servos convidados<br />

a esperar o retorno do patrão;<br />

na parábola das virgens que<br />

esperam o esposo; ou ainda<br />

nos relatos sobre a semeadura<br />

e colheita. O homem, em sua<br />

vida, está em constante espera:<br />

quando é criança, quer<br />

crescer; quando adulto busca<br />

a realização e o sucesso; com<br />

o passar dos <strong>ano</strong>s, aspira ao<br />

merecido repouso. Mas chega<br />

o tempo no qual ele <strong>de</strong>scobre<br />

que esperou pouco se,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da profissão ou<br />

do status social, não lhe resta<br />

mais nada para esperar. A<br />

esperança marca o caminho<br />

da humanida<strong>de</strong>, mas para os<br />

cristãos esta é animada por<br />

uma certeza: o Senhor está<br />

presente no correr da nossa<br />

vida, nos acompanha e um<br />

dia enxugará também as nossas<br />

lágrimas.<br />

Um dia, não distante, tudo<br />

encontrará seu cumprimento<br />

no Reino <strong>de</strong> Deus, Reino <strong>de</strong><br />

justiça e <strong>de</strong> paz.<br />

2ª QUINZENA - NOVEMBRO/2009 - Nº 307<br />

Mas existem maneiras<br />

muito diferentes <strong>de</strong> esperar.<br />

Se o tempo não é preenchido<br />

por um presente dotado <strong>de</strong><br />

sentido, a espera po<strong>de</strong> tornarse<br />

insuportável; se espera-se<br />

algo, mas no momento não há<br />

nada, se o presente permanece<br />

vazio, cada segundo que passa<br />

parece infinitamente longo,<br />

e a espera se transforma num<br />

fardo muito pesado, porque o<br />

futuro permanece totalmente<br />

incerto. Quando, porém, o<br />

tempo é dotado <strong>de</strong> sentido, e<br />

em cada instante percebemos<br />

algo <strong>de</strong> específico e <strong>de</strong> válido,<br />

então a alegria da espera torna<br />

o presente mais precioso.<br />

Caros irmãos e irmãs, vivamos<br />

intensamente o presente<br />

on<strong>de</strong> já nos alcançam<br />

os dons do Senhor, vivamo-lo<br />

com nosso olhar voltado para<br />

o futuro, um futuro cheio <strong>de</strong><br />

esperança. O Advento cristão<br />

se torna assim ocasião para<br />

reavivar em nós o verda<strong>de</strong>iro<br />

sentido da espera, retornando<br />

ao coração da nossa fé,<br />

que é o mistério <strong>de</strong> Cristo, o<br />

Messias esperado ao longo <strong>de</strong><br />

séculos e nascido na pobreza<br />

<strong>de</strong> Belém. Vindo em meio a<br />

nós, nos encontrou e continua<br />

a nos oferecer o dom <strong>de</strong><br />

seu amor e <strong>de</strong> sua salvação.<br />

Presente entre nós, nos fala<br />

em diversos modos: na Sagrada<br />

Escritura, no <strong>ano</strong> litúrgico,<br />

nos santos, nos eventos<br />

da vida cotidiana, em toda a<br />

criação, que muda <strong>de</strong> aspecto<br />

conforme a condição <strong>de</strong> que<br />

Ele lhe esteja por <strong>de</strong>trás ou<br />

que seja ofuscada pela névoa<br />

<strong>de</strong> uma origem incerta e <strong>de</strong><br />

futuro incerto. Por sua vez,<br />

nós po<strong>de</strong>mos falar com Ele,<br />

apresentar a ele os sofrimentos<br />

que nos afligem, a impaciência,<br />

as perguntas que brotam<br />

no coração. Acreditemos<br />

que Ele sempre nos ouve! E<br />

se Jesus está presente, não<br />

existe mais nenhum momento<br />

vazio e sem sentido.<br />

Se Ele está presente, po<strong>de</strong>mos<br />

prosseguir esperando<br />

também quando os outros não<br />

po<strong>de</strong>m nos assegurar ajuda;<br />

também quando o presente se<br />

torna cansativo.<br />

Caros amigos, o Advento<br />

é o tempo da presença e da<br />

espera do eterno. Exatamente<br />

por este motivo, em particular,<br />

é um tempo <strong>de</strong> alegria, <strong>de</strong><br />

alegria interiorizada, que nenhum<br />

sofrimento po<strong>de</strong> cancelar.<br />

A alegria pelo fato <strong>de</strong> que<br />

Deus se fez criança. Esta alegria,<br />

em modo invisível presente<br />

entre nós, nos encoraja<br />

a caminhar confiantes. Mo<strong>de</strong>lo<br />

e apoio <strong>de</strong>ste íntimo gáudio<br />

é a Virgem Maria, através da<br />

qual nos foi dado o Menino<br />

Jesus. Que Ela obtenha para<br />

nós, como fiel discípula <strong>de</strong><br />

seu Filho, a graça <strong>de</strong> viver<br />

este tempo litúrgico vigilantes<br />

e laboriosos na espera.<br />

Amém!<br />

Benedictus PP XVI<br />

Fonte: vatican.va<br />

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