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TRADUÇÃO FIEL: A QUEM? A QUÊ? POR QUÊ?1 ... - Lenita Esteves

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Essa relação de posse, de autoria, subjaz sempre à noção de fidelidade e, a ela<br />

subjazendo, a povoa de elementos paradoxais. Para entendermos melhor essa relação de<br />

posse de um tradutor para com o seu texto, proponho que recorramos à noção de plágio,<br />

com a qual temos contato freqüente devido a acusações de apropriação indébita, seja no<br />

campo da música popular ou na comunidade científica, por exemplo. Em suma, plagiar é<br />

escrever um texto (musical ou não) que guarda uma certa quantidade de semelhanças com<br />

um outro texto já produzido. O crime está no fato de que o plagiador age como se o texto<br />

fosse seu, quando na verdade tal texto é apenas uma cópia (que, no caso da lei do plágio,<br />

não precisa ser perfeita) de um outro texto já existente. Cometendo tal crime, o plagiador<br />

se transforma em um apropriador indébito de um objeto que não lhe pertence.<br />

O tradutor é uma espécie de plagiador, mas ocupa uma posição diferente. No seu<br />

caso, o texto que produz deve guardar semelhanças com um outro texto, e isso levado ao<br />

máximo da possibilidade. Quanto mais semelhanças, tanto melhor. Só que o tradutor<br />

assume a posição de não ser o dono desse texto que, paradoxalmente, foi escrito por ele. O<br />

crime, no caso do tradutor, consistiria na traição, ou seja, em não guardar um certo número<br />

de semelhanças com o texto original. Nesse ponto, tradutor e plagiador ocupam posições<br />

radicalmente opostas: o êxito de um é o crime do outro, e vice-versa.<br />

Mas se analisarmos a analogia a partir de um outro ponto de vista, poderíamos<br />

também dizer que ambas as atividades, a tradução e o plágio, são muito parecidas, ou seja,<br />

no sentido de que as “cópias” produzidas nunca são perfeitas. Aliás, o que caracteriza uma<br />

cópia é a sua não-perfeição. Se um plagiador fizer a cópia perfeita de uma canção, por<br />

exemplo, ele estará apenas repetindo essa canção. O plágio precisa de certa forma ser<br />

disfarçado. Precisa ter elementos que o façam um pouco dessemelhante em relação ao texto<br />

plagiado. E esse fato nos leva direto à questão do original.<br />

O conceito de “original”, e também o de “fidelidade”, têm sido, nos últimos<br />

tempos, questionados e rearticulados nos estudos em teoria da tradução. O termo “original”<br />

deriva do termo “origem”, que nos faz pensar na criação. Um autor cria um texto, mas esse<br />

texto só será chamado de “original” quando dele for feita uma tradução. Nesse sentido, a<br />

necessidade se conceitualizar o que seja um original nasce juntamente com a tradução.<br />

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