TRADUÇÃO FIEL: A QUEM? A QUÊ? POR QUÊ?1 ... - Lenita Esteves
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Mas sendo ou não um produto cultural que reflete uma determinada época, o certo<br />
é que a noção de texto original existe e vigora na nossa época. Dizer que esse conceito é<br />
relativo não é dizer que ele não exista e não seja determinante na nossa prática de tradução<br />
atualmente.<br />
2. A fidelidade na Teoria e na Prática<br />
Após falar um pouco da fidelidade em termos gerais, gostaria de dar umas<br />
pinceladas nessa questão em termos mais específicos. A fidelidade, além de ser um<br />
conceito que muda através das épocas (sendo que nem existia em certos períodos), é<br />
também um compromisso que se modaliza de diferentes maneiras, das quais vou dar uns<br />
poucos exemplos. Além da fidelidade ao autor ou à obra original, existem outras fidelidades<br />
que devem ser mantidas, por exemplo, em relação aos editores. Sempre em nome de uma<br />
fidelidade ao autor, os editores muitas vezes nos impõem procedimentos que são contrários<br />
às nossas concepções a respeito do texto original. Mas como o próprio termo diz, essas<br />
imposições nos forçam a repensar nossa fidelidade em relação ao original e muitas vezes<br />
modificá-la. Em alguns casos a concepção que o próprio editor tem do que seja fidelidade<br />
parece bastante equivocada.<br />
Uma experiência recente que tive pode ilustrar bem a questão. Eu deveria<br />
traduzir o livro Allegories of Reading de Paul de Man. Nesse livro, o autor faz um estudo<br />
sobre quatro autores, a saber, Rilke, Proust, Nieztsche e Rousseau. Logo no prefácio,<br />
ficamos sabendo que alguns capítulos foram escritos originalmente em francês e depois<br />
traduzidos pelo próprio autor para a edição em língua inglesa. No caso de Rilke, por<br />
exemplo, os textos analisados são poemas, e Paul de Man apresenta cada poema em língua<br />
alemã e depois nos dá uma tradução sua para o inglês, fazendo ressalvas quanto à<br />
traduzibilidade de tais poemas. Nesse caso, a tradução deveria fazer o mesmo, apresentando<br />
o poema em alemão e a sua versão para o português. Quanto a isso, haveria dois<br />
procedimentos possíveis: eu poderia fazer uma tradução da tradução de Paul de Man, o que<br />
eu julgaria mais certo, ou procurar alguma versão já existente daquele texto para o<br />
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