a estação hidrobiológica da ilha do pinheiro: um ... - HCTE - UFRJ
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água limpa <strong>do</strong> mar para a praia, a mesma <strong>ilha</strong> podia ter alg<strong>um</strong>as praias no terceiro grau e alg<strong>um</strong>as no<br />
quinto.<br />
Poluição mu<strong>da</strong>va o ambiente <strong>da</strong> <strong>ilha</strong> mais rápi<strong>do</strong> <strong>do</strong> que a capaci<strong>da</strong>de de a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong> maioria<br />
<strong>da</strong>s populações permitia. Às vezes caranguejos, como o guaiamu grande, que fazia seus ninhos no<br />
alto <strong>da</strong>s árvores de mangue, podiam permanecer acima <strong>do</strong> nível <strong>da</strong> água e, portanto, a salvo de<br />
petróleo e outras formas de poluição. Mas esta estratégia de sobrevivência nas árvores não era<br />
suficiente para garantir a reprodução. As larvas de guaiamu morriam horas depois de deixar os ovos.<br />
Os guaiamus encontra<strong>do</strong>s na Ilha <strong>do</strong> Pinheiro na déca<strong>da</strong> de 50, refletiu Lejeune, provavelmente não<br />
nasceram lá. Eles chegaram com alg<strong>um</strong>a maré boa, quan<strong>do</strong> a água <strong>do</strong> mar venceu a má circulação<br />
<strong>do</strong>s canais estreitos, e morreriam ali, sem se reproduzir. Outras espécies conseguiam evitar a Ilha <strong>do</strong><br />
Pinheiro completamente: bagres e baiacus não se aproximavam <strong>da</strong>s águas <strong>da</strong> <strong>ilha</strong>. Portanto, no<br />
quinto grau de poluição, não havia mais pesca, as águas eram opacas, às vezes pretas, e o fun<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />
água era macroscopicamente abiótico. Isto significava que as cama<strong>da</strong>s mais fun<strong>da</strong>s <strong>da</strong> água tinham<br />
pouco ou nenh<strong>um</strong> oxigênio dissolvi<strong>do</strong>, nenh<strong>um</strong> animal, e <strong>um</strong> grande número de bactérias e<br />
protozoários, indica<strong>do</strong>res de <strong>um</strong>a regime polisapróbico ou de poluição quase absoluta. O<br />
Rhizophoracea fora quase completamente destruí<strong>do</strong>, e Lejeune não conseguia encontrar qualquer<br />
espécime de invertebra<strong>do</strong>s marinhos no substrato bentônico. 25<br />
A partir de 1968, as anotações de Lejeune sobre poluição ultrapassavam a simples listagem <strong>do</strong><br />
desaparecimento de espécies para incluir a descrição de paisagens quase lunares. Ele, então,<br />
identificou o que chamou de sexto grau de poluição: as praias eram negras e desertas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. As<br />
árvores de mangue não podiam mais sobreviver, e os seus troncos mortos e secos eram apenas local<br />
de repouso para os abutres que viviam <strong>do</strong> lixo na <strong>ilha</strong> artificial <strong>do</strong> Campus Universitário. Este era o<br />
grau de poluição na Ilha de Pinheiro em 1973, quan<strong>do</strong> a <strong>estação</strong> estava praticamente desativa<strong>da</strong>.<br />
Lejeune ain<strong>da</strong> desenvolveria a escala posteriormente, quebran<strong>do</strong> esta última etapa em graus sete,<br />
oito, nove e dez de poluição.<br />
Do ponto de vista de coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s sobre ambientes marinhos, o trabalho de Lejeune foi bem<br />
além <strong>da</strong> Ilha de Pinheiro. Desde 1944, sua pesquisa incluía o mapeamento <strong>da</strong> salini<strong>da</strong>de de mais de<br />
130 pontos de coleta na Baía de Guanabara, assim como a coleta de microplancton e crustáceos de<br />
to<strong>da</strong> a Baía. Ele visitou ensea<strong>da</strong>s, praias, lagoas e lagos em to<strong>da</strong> o Baía de Guanabara. De fato, a<br />
inclusão <strong>da</strong> bacia <strong>da</strong> baía de Sepetiba em seus estu<strong>do</strong>s o levou a expandir seu entendimento <strong>da</strong><br />
poluição, visto até então como <strong>um</strong> problema localizade e restrito a <strong>um</strong> área, como <strong>um</strong> aspecto<br />
onipresente nos processos de urbanização, com implicações para além <strong>do</strong> destino <strong>da</strong> Baía de<br />
Guanabara para o conceito mesmo de poluição. 26<br />
Mas em 1970, a degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> ecologia <strong>da</strong> Ilha Pinheiro sinalizava também a degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s<br />
relações entre a Estação de Hidrobiologia e o Instituto Oswal<strong>do</strong> Cruz. A Estação há muito já não podia<br />
25 Oliveira, "Aula 1920.1."<br />
26 Oliveira, "Conditions for Marine Biological Laboratory."