a estação hidrobiológica da ilha do pinheiro: um ... - HCTE - UFRJ
a estação hidrobiológica da ilha do pinheiro: um ... - HCTE - UFRJ
a estação hidrobiológica da ilha do pinheiro: um ... - HCTE - UFRJ
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
previsto por Drach. Os pesca<strong>do</strong>res chamavam estas águas marrons de "Águas <strong>da</strong> City", <strong>um</strong> fenômeno<br />
que ocorria quan<strong>do</strong> a companhia de esgoto Rio de Janeiro City Improvements despejava suas águas<br />
servi<strong>da</strong>s, com pouco ou nenh<strong>um</strong> tratamento, na Baía. A água tinha <strong>um</strong>a cor escura e cheiro fecalóide,<br />
com alta concentração de Escherichia coli bacilo, e o novo regime de águas, altera<strong>do</strong> pelos aterros <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Brasil, não permitia suficiente diluição <strong>da</strong>s águas sujas no mar. 13<br />
A poluição também era causa<strong>da</strong> pelo lixo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Rio, despeja<strong>do</strong> na <strong>ilha</strong> de Sapucaia, e<br />
pelo óleo que provinha <strong>da</strong> Refinaria de Petróleo de Manguinhos a partir de 1953, segui<strong>da</strong> em 1961<br />
pelos despejos <strong>da</strong> REDUC <strong>da</strong> Petrobrás. Além disso, as águas <strong>do</strong>s rios Jacaré e Farias, que drenavam<br />
para Inhaúma, apareciam frequentemente em to<strong>da</strong>s as cores, cortesia <strong>da</strong> indústria têxtil rio acima. Os<br />
cientistas puderam respirar <strong>um</strong> pouco em 1959, quan<strong>do</strong> a prefeitura aprovou <strong>um</strong>a lei para incinerar o<br />
lixo ao invés de despejá-la na Ilha de Sapucaia. 14 Por <strong>um</strong> curto perío<strong>do</strong>, houve <strong>um</strong>a pequena melhora<br />
nas águas de Inhaúma. Mas era <strong>um</strong>a gota de água n<strong>um</strong> oceano sujo.<br />
Na déca<strong>da</strong> de 1960, a transformação na Ilha <strong>do</strong> Pinheiro era completa. O que tinha si<strong>do</strong> <strong>um</strong><br />
lugar perfeito para observar os crustáceos, com água fresca de três rios, em <strong>um</strong>a ensea<strong>da</strong> isola<strong>da</strong>,<br />
cerca<strong>da</strong> por outras pequenas <strong>ilha</strong>s, agora se transformara <strong>um</strong> <strong>do</strong>s pontos mais poluí<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Baía de<br />
Guanabara. Em vez de água fresca, a <strong>ilha</strong> recebia a poluição industrial <strong>da</strong>queles três rios, em <strong>um</strong>a<br />
ensea<strong>da</strong> onde a água mal circulava, espremi<strong>da</strong> entre aterros sanitários e por <strong>um</strong>a enorme <strong>ilha</strong> artificial,<br />
encharca<strong>da</strong> em óleo e sufoca<strong>da</strong> pelo lixo. Lejeune em 1960 alertava seus supervisores <strong>do</strong> Instituto<br />
Oswal<strong>do</strong> Cruz que, se quisessem estabelecer <strong>um</strong>a <strong>estação</strong> de hidrobiologia de fato, esta deveria ser<br />
realoca<strong>da</strong> fora <strong>da</strong> Baía de Guanabara. Até mesmo em 1977, ele tentava de novo migrar como as<br />
tainhas, dizen<strong>do</strong> que as águas [<strong>da</strong> ensea<strong>da</strong> de Inhaúma] de 1937-1957 foram muito boas, agravan<strong>do</strong>-<br />
se sua condição de 1957-1967 e, finalmente, depois de 1967, era inútil ter a Estação Hidrobiologia em<br />
Ilha <strong>do</strong> Pinheiro." 15<br />
Em 1958, Lejeune publicou seu primeiro artigo sobre a poluição nas águas <strong>da</strong> Baía de<br />
Guanabara e seu impacto sobre a fauna e flora. Ele também explicou sobre o que ele sentia ser o<br />
único uso possível para a Estação de Hidrobiologia, e não poupou o Instituto de alg<strong>um</strong>as ponta<strong>da</strong>s de<br />
ironia. Em contraste com a sua avaliação anterior de Ilha <strong>do</strong> Pinheiro, "<strong>um</strong>a localização invejável para<br />
estu<strong>da</strong>r crustáceos", Lejeune escreveu que não queria reclamar <strong>do</strong>s aterros ou <strong>do</strong> “progresso <strong>do</strong>s<br />
bairros vizinhos a Manguinhos, onde o pláci<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>no de outrora vai sen<strong>do</strong> substituí<strong>do</strong> pelo<br />
mourejar continua<strong>do</strong> <strong>da</strong>s fábricas” – ele só queria publicar <strong>da</strong><strong>do</strong>s que poderiam ser úteis “a quem se<br />
ocupar com estu<strong>do</strong>s de biologia de nossas ensea<strong>da</strong>s”. Finalmente, Lejeune lembra que muitos<br />
laboratórios de hidrobiologia nos EUA estavam localiza<strong>do</strong>s junto a corpos de água poluí<strong>do</strong>s,<br />
exatamente para que pudessem monitorar as transformações biológicas e físicas causa<strong>da</strong>s pela<br />
13<br />
Lejeune Pacheco Henrique de Oliveira, "Levantamento Biogeográfico <strong>da</strong> Baía <strong>da</strong> Guanabara," Memórias <strong>do</strong> Instituto<br />
Oswal<strong>do</strong> Cruz 48 (1950): 391.<br />
14<br />
Lejeune Pacheco Henrique de Oliveira, "Prospecção Hidrobiológica <strong>da</strong> Baía de Sepetiba," Memórias <strong>do</strong> Instituto<br />
Oswal<strong>do</strong> Cruz 69, no. 1 (1971): 18.<br />
15<br />
Lejeune Pacheco Henrique de Oliveira, "Relatório Anual 1977 - Laboratório de Hidrobiologia, Ativi<strong>da</strong>des Realiza<strong>da</strong>s"<br />
(Relatório, Rio de Janeiro, 3 de março 1977).