14.04.2013 Views

a estação hidrobiológica da ilha do pinheiro: um ... - HCTE - UFRJ

a estação hidrobiológica da ilha do pinheiro: um ... - HCTE - UFRJ

a estação hidrobiológica da ilha do pinheiro: um ... - HCTE - UFRJ

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

governamentais, Lejeune de Oliveira e Luiza Krau se tornaram agentes importantes <strong>da</strong> gestão<br />

ambiental <strong>da</strong> Baía de Guanabara durante o século XX.<br />

Além disso, sua trajetória e a <strong>da</strong> Estação de Hidrobiologia na Baía de Guanabara suscita<br />

questões-chave sobre o controle <strong>da</strong> poluição e o desenvolvimento <strong>do</strong> conceito de conceito. O que era<br />

poluição? O que estava sen<strong>do</strong> medi<strong>do</strong> para indicar poluição? Para Lejeune, a poluição era mensura<strong>da</strong><br />

pela per<strong>da</strong> <strong>da</strong> utili<strong>da</strong>de que ele poderia oferecer ao Instituto: quanto mais poluí<strong>da</strong>s as águas, menos<br />

ele poderia encontrar a fauna marinha que o Instituto exigia para seus laboratórios. Poluição era,<br />

assim, medi<strong>da</strong> em termos de per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de. Mais tarde, ele relacionou estes indica<strong>do</strong>res de<br />

biodiversi<strong>da</strong>de a indica<strong>do</strong>res bioquímicos, como a deman<strong>da</strong> bioquímica de oxigênio, porque<br />

indica<strong>do</strong>res os mais "objetivos" poderiam ser utiliza<strong>do</strong>s para estu<strong>da</strong>r outros ecossistemas, enquanto os<br />

indica<strong>do</strong>res biológicos eram endêmicos para o ambiente de mangue. Esta acréscimo era resulta<strong>do</strong> em<br />

grande parte <strong>do</strong> contato com seus alunos engenheiros <strong>do</strong> Departamento de Águas, mas era bastante<br />

insatisfatório para seus objetivos. Eventualmente, Lejeune criou sua escala de poluição de 10 graus,<br />

em que mensurava a poluição de acor<strong>do</strong> com "paisagens". Não era tanto a ausência de certas<br />

espécies, era to<strong>do</strong> o ecossistema que importava. Poluição marítima criava paisagens distintas,<br />

promoven<strong>do</strong> a superpopulação de alg<strong>um</strong>as espécies oportunistas, enquanto outros esmaeciam ou<br />

pereciam.<br />

A Estação de Hidrobiologia não existia apenas em função de crustáceos, equinodermos, algas<br />

e manguezais. Este "baía biológica" se sobrepunha a <strong>um</strong>a "baía social" em que os crustáceos e<br />

mangue eram alimentos e lenha para as populações h<strong>um</strong>anas. Era <strong>um</strong>a baía também composta <strong>da</strong>s<br />

comuni<strong>da</strong>des de pesca<strong>do</strong>res que ameaçavam continuamente invadir a <strong>ilha</strong> e suas não-tão-bem-<br />

defini<strong>da</strong>s fronteiras científicas, que liam os indica<strong>do</strong>res biológicos de poluição to<strong>do</strong>s os dias quan<strong>do</strong><br />

saíam para pescar, que eram contrata<strong>do</strong>s pelo Instituto para pilotar os barcos e para guiar os cientistas<br />

em expedições de coleta de amostras. Finalmente, também compunham esta “baía social” as<br />

comuni<strong>da</strong>des favela<strong>da</strong>s que se mu<strong>da</strong>vam para as áreas de aterro, lançan<strong>do</strong> seu esgoto sem<br />

tratamento nas águas <strong>da</strong> baía, que temiam a remoção força<strong>da</strong> de suas casas pelas autori<strong>da</strong>des civis, e<br />

que trabalhavam nas novas fábricas instala<strong>da</strong>s nas margens <strong>do</strong> Baía. A esta baía biológica e baía<br />

social, se une a igualmente importante baía institucional, composta pelo Departamento de Águas, pela<br />

Marinha, pelo Instituto Oswal<strong>do</strong> Cruz, to<strong>do</strong>s com as suas disputas políticas, falta de financiamento e<br />

questões internas de gênero e poder. Além disso, esses cama<strong>da</strong>s sobrepostas de baías sofriam a<br />

influência <strong>da</strong>s marés internacionais e nacionais, de novos estu<strong>do</strong>s internacionais sobre a poluição, <strong>da</strong>s<br />

mu<strong>da</strong>nças de regime de governo na nação, ou <strong>da</strong>s transformações no aparelho burocrático.<br />

Na interação dessas múltiplas cama<strong>da</strong>s, Luiza Krau e Lejeune de Oliveira encontraram-se em<br />

<strong>um</strong> impasse: como produzir ciência quan<strong>do</strong> as condições políticas, naturais e sociais necessárias para<br />

esse trabalho mu<strong>da</strong>vam a tal ponto que suas práticas científicas anteriores já não se podiam aplicar?<br />

Eles responderam a esta pergunta reinventan<strong>do</strong> sua própria compreensão <strong>do</strong> que significava "produzir<br />

ciência", e propuseram novos termos de legitimi<strong>da</strong>de para sua Estação de Hidrobiologia. Ao registrar

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!