SONETOS PORTUGUESES - Silva Carvalho
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A CHAGA<br />
Livre da tensão que é corpo e mundo venho,<br />
sublime, lembrar quem sou: um homem perdido,<br />
assalariado, acorrentado a esta época, de cenho<br />
franzido pelo uso banal do truísmo, despedido<br />
de quanto labor é a derisão a que me atenho.<br />
Encontro trevas, um desgaste inumano, igual<br />
desprezo em que me vejo. Imagem da solidão,<br />
solto risos, salto chamas. Gritos do animal<br />
que sou enclausurado dizem a pulverização.<br />
Nenhum espelho virgem, mas a chaga abissal.<br />
Querer ver não é mais argivo encanto. Edaz<br />
mecanismo da consciência, sofrer o clangor,<br />
viver a morte, suspeitar do espasmo loquaz,<br />
um golpe rompendo o rosto, um olhar de dor.<br />
4/2/85<br />
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