SONETOS PORTUGUESES - Silva Carvalho
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DEMAIS<br />
Labuto a indisciplina entre as quatro paredes do ser.<br />
Alago a forma de deformações, o escárnio, a alegria,<br />
estações da revelação, simulacros do agoural poder.<br />
Finjo que estou onde me espanto. Procuro a acalmia,<br />
sentir que é homem quanto vivo no eventual prazer.<br />
Não há forma, mas limites da consciência caligante.<br />
Rodear o ser, cercar a palavra, o ofício, a escravatura.<br />
Ilusão, pensar a eternidade num poema ágil, opiante.<br />
Tudo o mais é demais, e quando acaba mal, é loucura.<br />
É da sua natureza acabar mal. Só a origem, o começo,<br />
trazem ao corpo a alacridade da carne. A liberdade<br />
do bem dura pouco, e quando o olhar fere, o recesso<br />
da verdade eclode: finge-se então uma perversidade,<br />
a vingança do espírito frente ao mortífero arremesso.<br />
28/2/85<br />
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