O poder do lóbi na UE - Escola Superior de Comunicação Social ...
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ANA RITA HENRIQ<strong>UE</strong>S<br />
16 DOSSIÊ<br />
ESCOLA PROFISSIONAL AGRÍCOLA D. DINIS DA PAIÃ<br />
ANA RITA HENRIQ<strong>UE</strong>S<br />
MARTA PAIS LOPES<br />
O dia é <strong>de</strong> festa <strong>na</strong> <strong>Escola</strong> Profissio<strong>na</strong>l<br />
D. Dinis <strong>na</strong> Paiã: o palco<br />
monta<strong>do</strong>, grupos <strong>de</strong> alunos prepara<strong>do</strong>s<br />
para dançar folclore,<br />
professores sua<strong>do</strong>s <strong>do</strong> jogo <strong>de</strong><br />
futebol contra os funcionários,<br />
mas em to<strong>do</strong>s se nota o cuida<strong>do</strong><br />
da roupa escolhida para aquele<br />
dia. Só o peditório para a<br />
garraiada daquele dia, que um<br />
aluno <strong>do</strong> terceiro ano estava a<br />
fazer <strong>de</strong> lata <strong>na</strong> mão, <strong>de</strong>ixava<br />
adivinhar que estávamos numa<br />
escola agrícola.<br />
Mas não era para a diversão<br />
que vínhamos. A parte formal<br />
<strong>do</strong> dia da escola estava a acontecer<br />
longe, nos campos mais<br />
abaixo, com uma visita guiada<br />
pelas instalações e os cinquenta<br />
e cinco hectares <strong>de</strong> exploração<br />
agrícola. Valeu-nos a boleia <strong>do</strong><br />
engenheiro Toni, responsável<br />
por toda a área agrícola, no seu<br />
Re<strong>na</strong>ult 4, que supúnhamos ser<br />
bege <strong>de</strong>baixo <strong>do</strong> cinzento da poeira.<br />
“Deixe-me só limpar aqui<br />
o banco. Sente-se em cima <strong>de</strong>ste<br />
saco <strong>de</strong> plástico.” Mesmo assim,<br />
a roupa saiu <strong>de</strong> lá amarela. Fi<strong>na</strong>lmente<br />
juntámo-nos ao grupo<br />
<strong>de</strong> professores, pais e convida<strong>do</strong>s,<br />
que ainda se <strong>de</strong>leitavam<br />
com a mesa <strong>de</strong> boas-vindas, <strong>de</strong><br />
croquetes e sumo <strong>de</strong> laranja.<br />
As gravatas e os saltos altos<br />
não nos pareceram apropria<strong>do</strong>s<br />
para o que se ia seguir.<br />
O Sr. Custódio, motorista da<br />
escola, hoje trocou os tractores<br />
pelo autocarro que conduz os<br />
visitantes. “À vossa esquerda,<br />
temos trigo. Temos ainda um<br />
pomar <strong>de</strong> macieiras e um pomar<br />
pedagógico, com as espécies<br />
mais representativas <strong>do</strong> país. À<br />
direita, três hectares <strong>de</strong> vinha.”<br />
- o engenheiro Aires, presi<strong>de</strong>nte<br />
<strong>do</strong> Conselho Directivo, é o<br />
On<strong>de</strong> estudar<br />
é or<strong>de</strong>nhar<br />
NO NONO ANO TOMA-SE A PRIMEIRA GRANDE DECISÃO. O Q<strong>UE</strong> LEVA ADOLESCENTES DE<br />
15 ANOS A ESCOLHER ESTUDAR AGRICULTURA? A VISITA A UMA ESCOLA Q<strong>UE</strong> É UM PEDA-<br />
CINHO DE CAMPO NO MEIO DE LISBOA.<br />
<br />
Sofia não sabe andar<br />
bem a cavalo, mas<br />
to<strong>do</strong>s os sába<strong>do</strong>s<br />
vai à escola ajudar a<br />
tratar <strong>do</strong> seu animal<br />
preferi<strong>do</strong>.<br />
cicerone da visita. De toda a escola,<br />
esta é a parte preferida <strong>de</strong><br />
Francisco. O miú<strong>do</strong> que vem <strong>de</strong><br />
Cascais, loiro, <strong>de</strong> olhos azuis,<br />
está no segun<strong>do</strong> ano <strong>do</strong> curso <strong>de</strong><br />
<br />
Produção Agrária e, tal como os<br />
seus colegas, para o ano terá <strong>de</strong><br />
escolher entre produção animal<br />
e produção vegetal. Francisco<br />
não tem dúvidas: “É vegetal, não<br />
estou muito vira<strong>do</strong> para os animais.<br />
Os suínos é horrível, tu<strong>do</strong><br />
menos suínos, é um cheiro… é<br />
nojento, é péssimo!”<br />
Depois das estufas e já <strong>de</strong> volta<br />
ao autocarro, sentimos os cheiros<br />
a mudar. A primeira paragem<br />
<strong>na</strong> parte da pecuária é o<br />
pica<strong>de</strong>iro. A receber-nos estão<br />
os alunos da escola <strong>de</strong> equitação<br />
da Paiã, que funcio<strong>na</strong> <strong>na</strong>s<br />
instalações da escola agrícola.<br />
Durante uns breves minutos os<br />
cavalos mostram toda a sua graça,<br />
em movimentos trei<strong>na</strong><strong>do</strong>s.<br />
Sofia não sabe andar bem a cavalo,<br />
mas to<strong>do</strong>s os sába<strong>do</strong>s vai à<br />
escola ajudar a tratar <strong>do</strong> seu animal<br />
preferi<strong>do</strong>. Tal como muitas<br />
raparigas da sua ida<strong>de</strong>, Sofia,<br />
18 anos, usa tops justos e calças<br />
<strong>de</strong>scaídas, ouve Black Eyed Peas<br />
e gosta <strong>do</strong>s Morangos com Açúcar.<br />
Como o Francisco, é loira,<br />
<strong>de</strong> olhos azuis. Mas, ao contrário<br />
<strong>do</strong> seu colega <strong>de</strong> turma, ela não<br />
tem nojo das vacas e <strong>do</strong>s porcos<br />
e, para o ano que vem, vai escolher<br />
produção animal.<br />
Sumário: Extracção <strong>do</strong> leite<br />
Foi junto a animais que encontrámos<br />
Sofia uns dias mais tar<strong>de</strong>,<br />
<strong>na</strong> aula <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nha, com o<br />
cós das calças <strong>do</strong>bra<strong>do</strong> por causa<br />
da tatuagem ainda fresca no<br />
fun<strong>do</strong> das costas. Apesar <strong>de</strong> gostar<br />
<strong>de</strong> tratar das vacas, quan<strong>do</strong><br />
chega a altura <strong>de</strong> tirar o leite,<br />
Ir e vir <strong>de</strong> Be<strong>na</strong>vente to<strong>do</strong>s os<br />
dias seria um encargo muito<br />
gran<strong>de</strong> para Carlos, 19 anos. Por<br />
isso, <strong>de</strong>cidiu ficar a viver <strong>na</strong> escola,<br />
com mais 20 alunos. O inter<strong>na</strong>to<br />
da <strong>Escola</strong> Agrícola funcio<strong>na</strong><br />
durante a sema<strong>na</strong> e custa<br />
a cada aluno 200 Euros por mês.<br />
Rapazes e raparigas estão separa<strong>do</strong>s<br />
e os horários são muitos<br />
rígi<strong>do</strong>s. Têm até, to<strong>do</strong>s os dias,<br />
duas hora <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, que nem<br />
sempre são usadas para esse<br />
fim: “nós somos obriga<strong>do</strong>s a estar<br />
<strong>na</strong> sala <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, não somos<br />
obriga<strong>do</strong>s a estudar. Po<strong>de</strong>mos<br />
jogar às cartas, monopólio...”,<br />
confessa Carlos. Os rapazes po<strong>de</strong>m<br />
ir estudar para a sala das<br />
JUNHO 2006 I 8ª COLINA<br />
ANA RITA HENRIQ<strong>UE</strong>S<br />
O INTERNATO<br />
não se sente muito segura: “Já<br />
não faço isto há muito tempo.<br />
Nós o ano passa<strong>do</strong> era todas as<br />
sema<strong>na</strong>s, mas este ano foi mesmo<br />
a primeira e última vez.” A<br />
professora Rosário vai dan<strong>do</strong><br />
indicações aos alunos <strong>do</strong> 2ºA.<br />
Primeiro limpa-se as tetas da<br />
vaca; <strong>de</strong>pois com as mãos tirase<br />
o primeiro leite e testa-se a<br />
sua qualida<strong>de</strong>; só então se coloca<br />
a máqui<strong>na</strong> para a extracção<br />
<strong>do</strong> leite e, no fi<strong>na</strong>l, <strong>de</strong>sinfecta-se<br />
as tetas. Sofia chama o Sr. Telmo,<br />
responsável pela vacaria,<br />
mas a professora não o <strong>de</strong>ixa<br />
ajudá-la. “Ela é insegura, mas<br />
As vacas estão <strong>na</strong> rua<br />
à espera da sua vez <strong>de</strong><br />
entrar.<br />
<strong>de</strong>pois faz sempre bem”, explica.<br />
Já Francisco, fazen<strong>do</strong> jus<br />
à hiperactivida<strong>de</strong> que lhe foi<br />
diagnosticada, não parece <strong>na</strong>da<br />
atrapalha<strong>do</strong> e até vai dan<strong>do</strong> uns<br />
palpites aos outros. “O que uma<br />
tem <strong>de</strong> auto-estima a menos, o<br />
outro tem a mais…”, critica,<br />
risonha, a professora Rosário.<br />
As vacas estão <strong>na</strong> rua à espera.<br />
Entram aos pares e, por isso, só<br />
<strong>do</strong>is alunos <strong>de</strong> cada vez po<strong>de</strong>m<br />
fazer a or<strong>de</strong>nha. Enquanto uns<br />
observam os colegas, outros vão<br />
preparar a alimentação <strong>do</strong>s vitelos,<br />
que só mamam <strong>do</strong> leite da<br />
mãe durante sete dias. A professora<br />
explica que, para ser misturada<br />
com o leite em pó, a água<br />
não po<strong>de</strong> estar nem muito fria,<br />
raparigas, mas o contrário não<br />
é permiti<strong>do</strong>. Apesar da rigi<strong>de</strong>z<br />
aparente, os alunos <strong>do</strong> inter<strong>na</strong>to<br />
não têm <strong>de</strong> cumprir as regras à<br />
risca. “Eu e os meus colegas <strong>do</strong><br />
terceiro ano, se quisermos sair<br />
to<strong>do</strong>s os dias, to<strong>do</strong>s os dias temos<br />
dispensa <strong>do</strong> engenheiro Aires<br />
até à meia-noite.” O quartos<br />
têm <strong>de</strong> estar sempre arruma<strong>do</strong>s<br />
e os alunos não po<strong>de</strong>m levar<br />
para lá <strong>na</strong>da além <strong>do</strong> básico.<br />
Mas as noites são animadas pela<br />
televisão, DVD e Playstation, que<br />
durante o dia não existem à vista<br />
<strong>de</strong> ninguém. Apesar <strong>de</strong> a vida<br />
no inter<strong>na</strong>to não ser <strong>de</strong>masia<strong>do</strong><br />
controlada, Carlos preferia ir<br />
para casa todas as noites.