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O poder do lóbi na UE - Escola Superior de Comunicação Social ...

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26 LETRAS CONTO<br />

SÍLVIA CANECO<br />

Olho-a pelo canto <strong>do</strong><br />

olho, to<strong>do</strong>s os dias ela<br />

<strong>na</strong>quela ca<strong>de</strong>ira encostada<br />

ao vidro, to<strong>do</strong>s os<br />

dias por instantes os seus <strong>de</strong><strong>do</strong>s<br />

a massajarem-lhe as rugas, por<br />

instantes as suas rugas a <strong>na</strong>ufragarem<br />

<strong>na</strong> ari<strong>de</strong>z <strong>do</strong>s seus <strong>de</strong><strong>do</strong>s. A<br />

sua pali<strong>de</strong>z esboçada no bule pousa<strong>do</strong><br />

<strong>na</strong> mesa, a sua boca inquieta<br />

a soprar o chá com assobios <strong>de</strong> cuspo<br />

rente à boca da cháve<strong>na</strong>, rente<br />

à boca da cháve<strong>na</strong>. To<strong>do</strong>s os dias<br />

saber que os meus olhos a fitam e<br />

muitos outros a <strong>de</strong>voram, saber<br />

que ao meu la<strong>do</strong> muitos comentam<br />

a sua figura, olha-me só para<br />

aquela que já <strong>de</strong>via ter ida<strong>de</strong> para<br />

ter juízo, olha lá que já podia ser<br />

nossa avó, saber que ela o sente e o<br />

sabe e a incomoda e saber quan<strong>do</strong><br />

me olha nos olhos o seu <strong>de</strong>sejo e o<br />

sangue <strong>de</strong> uma ferida que vai crescen<strong>do</strong>,<br />

crescen<strong>do</strong>, crescen<strong>do</strong>.<br />

Olho-a pelo canto <strong>do</strong> olho, to<strong>do</strong>s<br />

os dias ela e o seu rosto <strong>de</strong> pólvora<br />

no precipício <strong>do</strong> vidro, to<strong>do</strong>s os<br />

dias o seu olhar baço a olhar fixamente<br />

para o vidro <strong>do</strong> bule, para o<br />

vidro da cháve<strong>na</strong>, para o vidro <strong>do</strong><br />

vidro. To<strong>do</strong>s os dias o seu rosto a<br />

disfarçar-se <strong>de</strong> garboso pela blusa<br />

<strong>de</strong> renda guardada há anos <strong>na</strong><br />

gaveta, to<strong>do</strong>s os dias o perfume<br />

compra<strong>do</strong> <strong>na</strong> mercearia da esqui<strong>na</strong><br />

para disfarçar o cheiro a mofo,<br />

os cabelos brancos meticulosamente<br />

enrola<strong>do</strong>s numa <strong>de</strong>ze<strong>na</strong> <strong>de</strong><br />

ganchos, olhar-se ao espelho nem<br />

que seja por esta vez e repetir-lhe<br />

ajuda-me a querer-me, ajuda-me a<br />

querer-me, ajuda-me a querer-me.<br />

E os seus <strong>de</strong><strong>do</strong>s trémulos como os<br />

<strong>de</strong> uma criança, e os seus <strong>de</strong><strong>do</strong>s trémulos<br />

como os <strong>de</strong> alguém que se dá<br />

a outrem pela primeira vez, porque<br />

está tu<strong>do</strong> a olhar para mim? e os<br />

seus <strong>de</strong><strong>do</strong>s <strong>de</strong>sajeita<strong>do</strong>s, e o cigarro<br />

rente aos lábios, e os travos <strong>de</strong>sajeita<strong>do</strong>s,<br />

o rosto contorci<strong>do</strong> a olhar<br />

timidamente para o la<strong>do</strong> para ver<br />

se alguém repara, o conter a tosse<br />

e o fumo a sair compulsivo e <strong>de</strong>sajeita<strong>do</strong><br />

rente ao seu rosto, pu<strong>de</strong>sse<br />

Artigo1º<br />

(Âmbito e aplicação)<br />

1. Po<strong>de</strong>m participar no concurso literário<br />

to<strong>do</strong>s os jovens até aos 30 anos<br />

resi<strong>de</strong>ntes em Portugal e <strong>na</strong>s Regiões<br />

Autónomas que não possuam qualquer<br />

obra publicada. Estão excluí<strong>do</strong>s à partida<br />

to<strong>do</strong>s os colabora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l.<br />

2. O concurso terá duas categorias distintas:<br />

prosa e poesia.<br />

3. Serão admiti<strong>do</strong>s a concurso textos<br />

inéditos escritos em português.<br />

Artigo 2º<br />

(Apresentação <strong>do</strong>s Trabalhos)<br />

1. Cada concorrente <strong>po<strong>de</strong>r</strong>á ape<strong>na</strong>s apresentar<br />

uma obra para cada categoria.<br />

2. Os trabalhos entregues terão <strong>de</strong> ser<br />

assi<strong>na</strong><strong>do</strong>s com o verda<strong>de</strong>iro nome <strong>do</strong><br />

concorrente, anexan<strong>do</strong>-lhe uma ficha<br />

com os da<strong>do</strong>s pessoais (nome comple-<br />

A única coincidência<br />

que os une<br />

eu morrer hoje como me morreste<br />

<strong>na</strong>quela noite, e to<strong>do</strong>s os números,<br />

todas as imagens, todas as datas,<br />

toda uma vida num só traço <strong>de</strong> nevoeiro<br />

e carvão.<br />

A caminho <strong>de</strong> casa sempre o mesmo<br />

pensamento <strong>de</strong> não conseguir <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong> pensar nela. E não conseguir<br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> pensar nele. E sempre a<br />

mesma questão: o cigarro mata?<br />

E ele <strong>de</strong> que nem me lembro, ele<br />

<strong>de</strong> quem nunca vi o rosto, ele cuja<br />

to, morada, telefone e e-mail). É ainda<br />

obrigatória a entrega <strong>de</strong> uma cópia <strong>do</strong><br />

Bilhete <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

3. Os trabalhos terão <strong>de</strong> ser elabora<strong>do</strong>s<br />

com o tipo <strong>de</strong> letra Arial 10, duplo espaçamento<br />

entre as linhas e pági<strong>na</strong>s enumeradas<br />

sequencialmente. A dimensão<br />

máxima é <strong>de</strong> 10.000 caracteres.<br />

Artigo 3º<br />

(Entrega <strong>do</strong>s Trabalhos)<br />

1. Os trabalhos <strong>de</strong>vem ser envia<strong>do</strong>s para<br />

o en<strong>de</strong>reço electrónico oitavacoli<strong>na</strong>@<br />

gmail.com ou para a seguinte morada:<br />

Concurso Literário ‘Oitava Coli<strong>na</strong>’, Jor<strong>na</strong>l<br />

Oitava Coli<strong>na</strong>, <strong>Escola</strong> <strong>Superior</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Comunicação</strong> <strong>Social</strong> <strong>de</strong> Lisboa, Campus<br />

<strong>de</strong> Benfica <strong>do</strong> IPL, 1549-014 Lisboa.<br />

3. A data limite <strong>de</strong> entrega <strong>do</strong>s textos é<br />

31 <strong>de</strong> Agosto.<br />

inocência quase podia jurar. Ele<br />

que nem posso olhar to<strong>do</strong>s os dias<br />

pelo canto <strong>do</strong> olho. Tão jovem.<br />

Ouvir a história e pensar a maior<br />

das ba<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>s: como era jovem.<br />

To<strong>do</strong>s os dias, não olhá-lo sequer<br />

pelo canto <strong>do</strong> olho. Coita<strong>do</strong>, como<br />

era jovem. E ele que era pobre, 17<br />

anos e a chegada a um lugar novo,<br />

sem <strong>de</strong>moras arranjar dinheiro<br />

para a família e o Sr. Ernesto a<br />

arranjar-lhe um trabalhinho <strong>na</strong><br />

única mercearia da terra. E a<br />

inocência a pedir para durar. A<br />

inocência no seu corpo franzino a<br />

implorar Não me aban<strong>do</strong>nes, não<br />

me aban<strong>do</strong>nes, não me aban<strong>do</strong>nes…<br />

E logo um grupo <strong>de</strong> rapazes<br />

mais velhos a convencê-lo a roubar<br />

um maço para fumarem às<br />

escondidas, não, não posso fazer<br />

isso, sou <strong>de</strong>spedi<strong>do</strong>, não tenho dinheiro<br />

para o comprar, não posso,<br />

não posso, não posso, os outros a<br />

Artigo 4º<br />

(Júri <strong>do</strong> Concurso)<br />

1. O júri será composto por um elemento<br />

da redacção <strong>do</strong> 8º Coli<strong>na</strong> e <strong>do</strong>is reconheci<strong>do</strong>s<br />

especialistas <strong>na</strong> área <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s<br />

literários.<br />

2. Caberá ao júri <strong>de</strong>finir os critérios a<br />

a<strong>do</strong>ptar <strong>na</strong> avaliação <strong>do</strong>s trabalhos.<br />

Artigo 5º<br />

(Textos a premiar)<br />

1. De entre os trabalhos apresenta<strong>do</strong>s<br />

será premia<strong>do</strong> o melhor texto <strong>na</strong> categoria<br />

<strong>de</strong> prosa e o melhor texto <strong>na</strong> categoria<br />

<strong>de</strong> poesia.<br />

2. A <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> júri é sobera<strong>na</strong> sen<strong>do</strong><br />

que, da mesma, não haverá recurso.<br />

Artigo 6º<br />

(Prémio e comunicação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s)<br />

JUNHO 2006 I 8ª COLINA<br />

dizer-lhe és mesmo um puto e nem<br />

isso és capaz <strong>de</strong> fazer, a vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ser o mais forte a falar mais<br />

alto, a vergonha <strong>de</strong> <strong>po<strong>de</strong>r</strong> ser pisa<strong>do</strong><br />

a falar ainda mais alto, e o<br />

patrão furioso, o patrão que tinha<br />

os maços conta<strong>do</strong>s a perguntar o<br />

que andaste tu a roubar? Quero<br />

que me chames já a tua mãe. E o<br />

seu coração a sangrar, a sangrar, a<br />

sangrar, por favor tu<strong>do</strong> menos a<br />

minha mãe, fazes isso e mato-me.<br />

Prefiro matar-me a que faças a<br />

minha mãe passar por essa vergonha.<br />

Prefiro matar-me. Prefiro<br />

matar-me. Horas <strong>de</strong>pois a mãe a<br />

reclamar-lhe a educação, a mãe a<br />

gritar aos seus ouvi<strong>do</strong>s, que vergonha,<br />

somos novos <strong>na</strong> terra e o<br />

que é que vão pensar, quan<strong>do</strong> o<br />

teu pai souber que cara vai ter ele<br />

para olhar para o Sr. Ernesto que<br />

foi um bom homem e te arranjou<br />

emprego, roubar cigarros? Amanhã<br />

no merca<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s a falarem<br />

<strong>de</strong> nós, a comentarem com os vizinhos,<br />

a comentarem por trás das<br />

nossas costas, que vergonha Custódio<br />

Emanuel, que vergonha. E<br />

<strong>de</strong>le nem um único si<strong>na</strong>l exterior,<br />

nem uma lágrima, nem uma palavra.<br />

E, no dia seguinte, ao primeiro<br />

minuto livre, prefiro matar-me<br />

a ver a minha mãe passar por<br />

essa vergonha, a ameaça surda<br />

<strong>de</strong> um trovão e o coração ainda a<br />

sangrar mais, Coita<strong>do</strong> <strong>do</strong> Custódio,<br />

era um rapaz tão jovem, e a<br />

vergonha a morrer nos olhares <strong>de</strong><br />

quem se sentia cúmplice. A morte<br />

<strong>de</strong>itada no lençol da terra. E a<br />

vergonha a <strong>de</strong>finhar lentamente<br />

com uma corda no pescoço e o<br />

sobreiro a guardar para sempre o<br />

seu grito sur<strong>do</strong> <strong>de</strong> socorro.<br />

Olho-a pelo canto <strong>do</strong> olho e nunca<br />

consigo <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> pensar nele. Nele<br />

e nela e em como o cigarro é a única<br />

coincidência que os une. E penso<br />

como um cigarro mata. Como<br />

um cigarro mata a solidão.<br />

Ela é a senhora <strong>de</strong> 70 anos que<br />

encontro regularmente num café<br />

em Benfica. Ele era o irmão mais<br />

novo da minha mãe.<br />

R E G U L A M E N T O<br />

Prémio literário “8ª Coli<strong>na</strong>”<br />

SARA MATOS<br />

1.O trabalho premia<strong>do</strong> será publica<strong>do</strong> <strong>na</strong><br />

próxima edição <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l Oitava Coli<strong>na</strong>,<br />

sem prejuízo para outros prémios que<br />

venham a existir.<br />

2. O titular <strong>do</strong> prémio será notifica<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

mesmo ainda antes <strong>de</strong> o seu texto ser<br />

publica<strong>do</strong> <strong>na</strong> edição <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l.<br />

3. Os trabalhos não premia<strong>do</strong>s não serão<br />

<strong>de</strong>volvi<strong>do</strong>s aos seus autores.<br />

Artigo 7º<br />

(Não aceitação <strong>do</strong>s Textos)<br />

Os promotores <strong>de</strong>sta iniciativa reservam-se<br />

o direito <strong>de</strong> não aceitar os textos a concurso<br />

que não obe<strong>de</strong>cem às regras estabelecidas<br />

no presente regulamento.<br />

Artigo 8º (Aceitação)<br />

O simples facto <strong>de</strong> participar neste concurso<br />

implica a aceitação <strong>de</strong> todas as regras<br />

<strong>de</strong>finidas no presente regulamento.

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