1374-1384 - Universidade de Coimbra
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fMJréeior e proprietário<br />
Dr. Teixeira <strong>de</strong> Carvalho<br />
Rcílacrâo c aHnisíração—ARCO DO BISPO, 3<br />
AMMlsitaturKN<br />
Anno, 2$>400 réis; semestre, 200 réis; trimestre,<br />
600 réis. Brasil e Africa, anno, 3$>6oo<br />
réis; semestre, i#8oo réis. Ilhas adjacentes,<br />
anno, 3#>ooo réis; semestre, i#5oo réis<br />
CompoRlçSo e ImpretiMUo<br />
Oflicina typographica M. Reis Gomes — COIMBRA<br />
Órgão do Partido Republicano <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
N.° 1:376 COIMBRA — Seganda-feira, 11 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1909 14.° ANNO<br />
A PAVOROSA<br />
Prepara-se.<br />
E' voz constante; todos os jornaes<br />
da oposição o dizem abertamente<br />
; todos os jornaes governamentaes<br />
o dão a enten<strong>de</strong>r.<br />
A monarchia julga-se forte, por<br />
isso procura dar um golpe que inutilise<br />
<strong>de</strong> vez, ou antes que ella julga<br />
inutilisará <strong>de</strong> vez os republicanos.<br />
Nos jornaes da opposição é voz<br />
geral: os monarchicos estão pouco<br />
unidos; os monarchicos precisam<br />
unir-se; porque os republicanos caminham.<br />
A monarchia julga-se na verda<strong>de</strong><br />
forte agora; mas tem medo dos republicanos<br />
por ver que, longe <strong>de</strong> diminuírem<br />
as adhesões ao nosso partido<br />
com a apparencia <strong>de</strong> consolidação,<br />
que preten<strong>de</strong>u dar-se ás instituições<br />
monarchicas com a união <strong>de</strong><br />
todos os partidos, a fraqueza das<br />
instituições resultou evi<strong>de</strong>nte da falsa<br />
liga, e por todo o paiz vae um movimento<br />
raro <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratisação, que<br />
se manifestou <strong>de</strong> forma irrefutável<br />
com a eleição das juntas <strong>de</strong> parochia,<br />
e que <strong>de</strong>pois não tem diminuído antes,<br />
pelo contrario, se tem accentuado,<br />
pela propaganda activa dos nossos<br />
correligionários que tem feito<br />
nascer núcleos fortes <strong>de</strong> republicanos<br />
em terras que se diziam completamente<br />
conquistadas peia monarchia<br />
e absolutamente adversas a i<strong>de</strong>ias<br />
<strong>de</strong>mocráticas.<br />
A monarchia vê que o chão lhe<br />
falta <strong>de</strong>baixo dos pés e procura por<br />
isso inutilizar os republicanos, que<br />
agora julga inferiores em numero,<br />
preten<strong>de</strong>ndo assim embaraçar o movimento<br />
da <strong>de</strong>mocratisação que se<br />
vae espalhando por todas as classes.<br />
Porque não é só no povo das al<strong>de</strong>ias,<br />
nas camadas que se dizem pouco<br />
instruídas que a i<strong>de</strong>ia republicana<br />
se radica e fruclifica por modo a fazer<br />
recear os monarchicos que as julgavam<br />
pela sua ignorancia e fanatis<br />
mo completamente á mercê da reacção,<br />
é também nos po<strong>de</strong>rosos e nos<br />
ricos que as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>mocráticas se<br />
tem infiltrado lentamente por forma<br />
a vencerem a tradição e os preconceitos<br />
<strong>de</strong> casta.<br />
A monarchia procura por isso todos<br />
os motivos para lançar o paiz<br />
numa conflagração geral, num com<br />
bate <strong>de</strong> ruas <strong>de</strong> que saia triumphante<br />
por forma a mais se impôr ao rei que<br />
já domina; por forma a garantir-se o<br />
appoio dos timidos, ou o dos que no<br />
nosso paiz vivem, no culto do pro<br />
prio interesse, da exploração dos outros.<br />
O regicídio não é hoje, nas gazetas<br />
governamentaes analysado á mesma<br />
luz com que foi visto na occasião<br />
em que se <strong>de</strong>u o trágico aconteci<br />
mento.<br />
Então era um facto para lastirfiar,<br />
mas que fôra muito antes previsto<br />
pelos seus jornaes que bem alto<br />
tinham gritado a el-rei D. Carlos a<br />
senda perigosa em que se havia mettido<br />
e por que caminhava tão <strong>de</strong>scuidosamente.<br />
O sr. José Luciano vaticinara<br />
tudo, e grasnara-o aos seus Íntimos,<br />
prophetico como os patos do capitolio.<br />
Descera a isto por amor da monarchia<br />
a aguia dos Navegantes.<br />
Fôra elle que ao separar-se do<br />
sr. João Franco lhe gritara, quando<br />
elle se julgava em pleno triumpho:<br />
oh homem você suicida-se!<br />
Phrase que passaria como antiga<br />
se fosse dita em latim ou grego.<br />
A aguia dos Navegantes per<strong>de</strong>u<br />
ainda <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za pela tacanhez dos<br />
tempos que atravessamos. ..<br />
Fôra também propheta o sr. Juio<br />
<strong>de</strong> Vilhena. . .<br />
Todos tinham prophetisado o sinistro;<br />
porque lodos diziam nas conversas<br />
particulares, citando phrases<br />
anteriores, que <strong>de</strong> longe tinham dado<br />
como inevitável a morte violenta <strong>de</strong><br />
el-rei.<br />
Apenas alguns diziam, sem saber<br />
explicar o caso, que tinham sempre<br />
imaginado que primeiro <strong>de</strong>veria ter<br />
sido, como aviso, a morte violenta do<br />
sr. João Franco, e dahi concluíam que<br />
a justiça divina nem sempre se parece<br />
com a humana!<br />
Tudo isto está escripto nos jornaes<br />
do tempo, e não passaram ainda<br />
mezes bastantes para não estar ainda<br />
bem impresso em todos os cerebros.<br />
Fez-se a manifestação ás victimas<br />
da policia. Cobriram-se as suas campas<br />
<strong>de</strong> flores. O extrangeiro dizia com<br />
admiração que a morte do soberano<br />
não fora sentida pelo paiz.<br />
Costa e Buiça foram enterrados<br />
secretamente, precipitadamente, não<br />
fosse o seu enterro, reclamado pela<br />
Associação do Registo Civil, pretexto<br />
para uma manifestação popular.<br />
Temia-se até a glorificação do regicidio!<br />
O enterro dos dois monarchas<br />
foi frio, sem or<strong>de</strong>m e sem enternecimento,<br />
feito <strong>de</strong> mau humor, como se<br />
cumpre uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> secretaria.<br />
Toda a gente o disse, todos os<br />
escreveram ou o <strong>de</strong>ram a enten<strong>de</strong>r.<br />
Pouco a pouco veio o lucto das<br />
damas, <strong>de</strong>pois as palmas das senhoras,<br />
<strong>de</strong>pois a invocação á mocida<strong>de</strong><br />
do novo rei, tão cedo experimentado<br />
pela <strong>de</strong>sgraça, e que todos teimavam<br />
em qualificar, não se sabe bem porque,<br />
<strong>de</strong> venturoso, como o seu antepassado<br />
do mesmo nome; faz-se a<br />
viagem ao Norte, e tudo muda.. .<br />
Quem evitava fallar no regicídio,<br />
começa a dizer alto que tão gran<strong>de</strong><br />
crime não po<strong>de</strong> ficar impune.<br />
Quem apresentou sempre o facto,<br />
como lastimavel e certo, e tanto que<br />
nenhum partido lhe quiz tomar a<br />
responsabilida<strong>de</strong>, mas como uma<br />
consequência fatal dum mau governo,<br />
quer uma expiação: o castigo<br />
dos criminosos e o monumento expiatório,<br />
como para Luiz XVI.<br />
Já não serve a lapi<strong>de</strong> do sr.<br />
Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arnoso, quer-se obra <strong>de</strong><br />
maior marca, e Teixeira Lopes está<br />
trabalhando no gran<strong>de</strong> monumento<br />
expiatorio do regicídio.<br />
Nada disto é porém um movimento<br />
sentido <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong>, e é apre-<br />
sentado com ares <strong>de</strong> provocação que<br />
tornam o facto absolutamente censurável.<br />
Sempre á beira dos tumulos se<br />
fallou a linguagem da paz e do<br />
amor,,,,<br />
Propaganda republicana<br />
Todos os dias, os jornaes republicanos<br />
estão publicando listas <strong>de</strong><br />
adhesões á causa <strong>de</strong>mocratica e surprehen<strong>de</strong><br />
ver como se constituem tão<br />
fortes núcleos, on<strong>de</strong> se não julgava<br />
não só não haver um <strong>de</strong>mocrático,<br />
como se affirmava nunca po<strong>de</strong>rem lá<br />
existir.<br />
O Minho era consi<strong>de</strong>rado como<br />
reducto inexpugnável <strong>de</strong> reaccionários.<br />
Eis o que <strong>de</strong> um comício realisado<br />
em Affife diz o nosso estimado collega<br />
<strong>de</strong> Vianna, O Povo:<br />
Este povo do norte, tão intelligente,<br />
tão activo, tão patriota, não<br />
ama ainda todo a Republica — porque<br />
a não conhece: aterra é<strong>de</strong> maravilhosa<br />
riqueza para fazer germinar,<br />
florir e fructificar a semente.<br />
Tem faltado o semeador.<br />
O exemplo está na conferencia<br />
que hontem se realisou em Afife, cujo<br />
êxito foi superior á mais optimista<br />
das previsões.<br />
Centenas <strong>de</strong> pessoas do concelho,<br />
sem annuncios, sem reclames, sem<br />
foguetes, sem musicas, sem outra<br />
suggestão que a do prestigio d'uma<br />
I<strong>de</strong>ia que representa a salvação da<br />
Patria, acorreram a ouvir a primeira<br />
d'uma série <strong>de</strong> conferencias que vão<br />
fazer-se no norte.<br />
Para nós, republicanos do norte,<br />
o dia d'hontem foi um dia bem ganho.<br />
Estamos satisfeitos.<br />
Por toda a parte, ao norte como<br />
ao sul, a opinião levanta-se a apoiar<br />
o partido repebiicano e os seus dirigentes.<br />
De Tabua acabam <strong>de</strong> participar<br />
a Antonio José <strong>de</strong> Almeida que adheriram<br />
á causa da republica os srs. :<br />
Germano Marques <strong>de</strong> Figueiredo,<br />
João Ma<strong>de</strong>ira Leal, Francisco Antunes<br />
Ferreira Júnior, José Francisco<br />
Morgado, José Faustino Dias, João<br />
Pedroso <strong>de</strong> Sá Nogueira, José Nunes<br />
<strong>de</strong> Brito, Bernardino Tavares. Francisco<br />
da Fonseca Povoas, Honorio<br />
Dias, Antonio Tavares Júnior e José<br />
Tavares, todos proprietários daquelle<br />
concelho; Antonio Castanheira<br />
Nunes Júnior e Antonio Alves Pereira,<br />
commerciantes e proprietários;<br />
Eugénio Amaro, capitalista, proprietário<br />
e quarenta maior contribuinte,<br />
e Francisco Garcia, trabalhador.<br />
Não é uma surpreza esta noticia<br />
porque eram já conhecidos os trabalhos<br />
dos nossos correligionários em<br />
Taboa, mas não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> impressio-<br />
nar o valor das adhesões.<br />
E esclareçamos.<br />
E' sempre motivo <strong>de</strong> satisfação<br />
ter <strong>de</strong> noticiar o alistamento <strong>de</strong> mais<br />
um soldado nas fileiras republicanas;<br />
mas pelo que representa como alteração<br />
profunda da socieda<strong>de</strong> portugueza,<br />
teem valor especial a <strong>de</strong> in<br />
dividuos que pela sua posição e pelos<br />
seus haveres são uma resposta<br />
<strong>de</strong>finitiva aos que dizem que a monarquia<br />
é o partido dos que tem que<br />
per<strong>de</strong>r.<br />
Os que tem que per<strong>de</strong>r começam<br />
a perceber quem os tem roubado e<br />
continuará a roubar...<br />
Fallecimento<br />
Está <strong>de</strong> lucto pela morte <strong>de</strong> seu<br />
tio, o sr. viscon<strong>de</strong> do Vinhal, o sr.<br />
dr. Basilio Soares da Costa Freire,<br />
illustre professor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.<br />
Sentidos pesames.<br />
Escola livre<br />
Realisou-se, como tínhamos annunciado,<br />
no dia 7 a posse dos novos<br />
corpos gerentes d'esta socieda<strong>de</strong>.<br />
Em breves dias <strong>de</strong>verá realisarse<br />
a primeira sessão da nova direcção<br />
em que esta apresentará o pro-<br />
gramma da sua futura administração,<br />
e os melhoramentos que tentará<br />
introduzir por fórma a promover<br />
o progresso da escola.<br />
•<br />
O sr. Albino Caetano da Silva,<br />
presi<strong>de</strong>nte da dfrecção cessante, oííereceu<br />
para a bibliotheca da escola<br />
collecções completas do Jornal para<br />
Todos e Gazeta Jllustrada, e um<br />
exemplar <strong>de</strong> Nerei<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arlem, edições<br />
illustradas da sua casa editora,<br />
que a escola não possuía.<br />
Sabemos <strong>de</strong> outras offertas que<br />
em breve serão feitas á nova direcção<br />
<strong>de</strong> livros <strong>de</strong> arte, tanto nacionaes<br />
como estrangeiros, escolhendo<br />
<strong>de</strong> prefencia os que se relacionam<br />
com a historia <strong>de</strong> arte no nosso paiz.<br />
De um anonymo recebeu já o sr.<br />
dr Teixeira <strong>de</strong> Carvalho, actual presi<strong>de</strong>nte,<br />
um exemplar da obra <strong>de</strong><br />
Murphy sobre o convento da Batalha,<br />
que será apresentada na próxima<br />
sessão.<br />
A obra <strong>de</strong> Murphy é rara, e ainda<br />
ha pouco tempo a não havia na Bibliotheca<br />
da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, lacuna<br />
que preencheu como muitas outras<br />
o actual director d'aquelle estabelecimento,<br />
o sr. dr. Men<strong>de</strong>s dos Remedios.<br />
A fervilhar<br />
Por <strong>Coimbra</strong> vae na politica o<br />
mesmo movimento <strong>de</strong>sorganisador<br />
que por todo o paiz.<br />
O partido regenerador dividiu-se<br />
em henriquistas e vilhenistas, ouhenricaceos<br />
ou vilhenaceos, como ao leitor<br />
mais quadrar.<br />
O sr. dr. Luiz Pereira da Costa<br />
ficou, ou antes, andou, ou passou, ou<br />
como melhor soar, para henricaceo,<br />
o sr. dr. Vicente Rocha ficou vilhenaceo.<br />
D'ahi as visitas.<br />
O sr- dr. Luiz Pereira da Costa e<br />
dr. José Miranda, têm andado em peditorio<br />
<strong>de</strong> adhesõespelacida<strong>de</strong>, acompanhados<br />
pelo sr. Soure, empregado<br />
do hospício <strong>de</strong> creanças abandonadas,<br />
o que é um tudo-nada symbolico.<br />
O sr. dr. Vicente Rocha, esse tem<br />
andado pelo campo, na mesma faina.<br />
Uma lucta <strong>de</strong> gigantes !...<br />
Orpheon<br />
Têem continuado os ensaios d'esle<br />
grupo académico, superiormente dirigido<br />
pelo sr. Joyce, que tem mostrado<br />
amor raro pela educação artística<br />
da aca<strong>de</strong>mia, antigamente tão<br />
brilhante e hoje tão <strong>de</strong>scurada, como<br />
aliás todos os interesses académicos.<br />
A apresentação do orpheon farse-ha<br />
no espectáculo que a aca<strong>de</strong>mia<br />
promove a favor das victimas<br />
dos terremotos no sul da Italia.<br />
O segundo espectáculo, que provavelmente<br />
terá logar em Lisboa,<br />
<strong>de</strong>stina-se á escola maternal que vae<br />
levantar-se em <strong>Coimbra</strong> e para que<br />
a camara já ce<strong>de</strong>u terreno, o único<br />
que tinha, e que nos não parece ser<br />
o mais proprio para uma construcção<br />
d'este genero.<br />
O sr. dr. João Arroyo, que tem<br />
acompanhado a formação do novo<br />
orpheon com o amor que tem por todas<br />
as emprezas musicaes e a sauda<strong>de</strong><br />
do primeiro orpheon conimbricense<br />
que ainda ninguém esqueceu,<br />
regerá provavelmente qualquer dos<br />
concertos.<br />
Ce<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> terreno<br />
Foi superiormente auctorisada a<br />
ce<strong>de</strong>ncia, ao sr. Joaquim P. <strong>de</strong> Miranda,<br />
<strong>de</strong> um terreno em S. João<br />
do Campo, pelo mesmo requerido á<br />
camara municipal, para alinhamento<br />
<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>.<br />
Balanço financeiro<br />
A nossa divida fluctuante no estrangeiro<br />
era em 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
1900 <strong>de</strong> 6:490 contos, e em 31 <strong>de</strong> outubro<br />
do anno que findou, elevava-se<br />
a 13:244 contos. Augmentou<br />
psrtanto 6:854 contos, o que correspon<strong>de</strong><br />
a um accresqimo annual médio<br />
<strong>de</strong> 855 contos. E' com este supplemento<br />
<strong>de</strong> ouro, pedido ao empréstimo,<br />
que o governo tem completado<br />
os seus pagamentos annuaes no estrangeiro.<br />
Deduzindo da totalida<strong>de</strong><br />
do <strong>de</strong>ficit geral mais esta parcella,<br />
só ficam restando 18 mil contos, que<br />
são cobertos á larga com os capitães<br />
estrangeiros, que todos os annos<br />
affluem a Portugal para negocios, e<br />
com o dinheiro do Brazil. Se assim<br />
não fosse, já sobre nós teria estalado<br />
outra bancarrota. Durante tres<br />
ou quatro annos ainda se po<strong>de</strong>ria<br />
evitar esse <strong>de</strong>sfecho, mesmo no regimen<br />
do papel moeda ou <strong>de</strong> moeda<br />
<strong>de</strong>preciada., mas ao cabo d'esse tempo<br />
não teria sido possível, sem o<br />
ouro, outra forma <strong>de</strong> liquidação, que<br />
não fosse a <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empréstimos<br />
externos, que se não fizeram, ou a<br />
<strong>de</strong> estrondosas fallencias commerciaes,<br />
que não houve.<br />
Devemos portanto concluir que é<br />
o dinheiro do Brazil que melhor nos<br />
serve para saldar a parte do <strong>de</strong>ficit<br />
geral em ouro, que o dinheiro das<br />
outras proveniências <strong>de</strong>ixa a <strong>de</strong>scoberto.<br />
Com effeito, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as melhoras<br />
do cambio do Rio sobre Londres<br />
não se avalia em menos <strong>de</strong> 16 a 18<br />
mil contos o dinheiro que todos os<br />
annos nos tem vindo do Brazil. po<strong>de</strong>ndo<br />
por isso repetir- se, cada vez<br />
com mais verda<strong>de</strong>, que é a emigração<br />
que nos salva. São os emigrantes<br />
que mais concorrem para sustentar<br />
o paiz, que os não sustentou<br />
a elles. São os pobres minhotos, que<br />
<strong>de</strong> aqui foram rotos e famintos, que<br />
pagam <strong>de</strong> lá as custas do <strong>de</strong>sgoverno<br />
do paiz on<strong>de</strong> não vivem, e as<br />
dividas para as <strong>de</strong>spezas do Estado<br />
que os enjeitou Vale-nos portanto<br />
a emigração nos nossos apuros <strong>de</strong><br />
contabilida<strong>de</strong> internacional. Por isso<br />
nos tem sempre parecido que este<br />
êxodo <strong>de</strong> gente, emquanto se não faz<br />
do paiz o que d'elle se pô<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve<br />
fazer, precisa <strong>de</strong> ser absolutamente<br />
livre, não havendo direito <strong>de</strong> forçar<br />
a permanecer no paiz gente a quem<br />
o paiz não sabe, não pô<strong>de</strong> ou não<br />
quer dar <strong>de</strong> comer. O nosso Portugal,<br />
paiz chamado agrícola com um<br />
terço do seu. territorio inculto, tem<br />
<strong>de</strong> importar substancias alimentícias<br />
para uma escassa população <strong>de</strong><br />
60 habitantes por kilometro, e sobra-lhe<br />
gente para exportar. E' um<br />
estranho facto. Comtudo ser exportador<br />
<strong>de</strong> gente é uma das suas maiores<br />
riquezas. E' isto um mal sem<br />
duvida, mas é para nós um mal necessário.<br />
E' um mal, a que o paiz,<br />
como Milton, na formosa invocação<br />
do seu poema, pô<strong>de</strong> chamar um bem.<br />
O quadro é tocante sem duvida.<br />
A nossa conta corrente com o Brazil<br />
no Deve e Hd-<strong>de</strong>-haver da emigração<br />
expressa-se por um saldo<br />
m.éaio annual contra nós, <strong>de</strong> 17 mil<br />
expatriados, fóra os que se vão ás<br />
escondidas nas correntes da emigração<br />
clan<strong>de</strong>stina. Por cada 100 emigrantes<br />
que partem, voltam pouco<br />
mais <strong>de</strong> 30. E' um terço. Com os<br />
restantes a /B accrescenta-se o stock<br />
da população portugueza no Brazil,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> preenchido o <strong>de</strong>sfalque da<br />
mortalida<strong>de</strong>. Mas a quanto montará<br />
essa mortalida<strong>de</strong>? Diz-se que nos resi<strong>de</strong>ntes<br />
é <strong>de</strong> 1 por cento, e nos emigrados<br />
<strong>de</strong> 10. Temos assim em 100<br />
emigantes, 10 obitos, 30 regressos e<br />
60 expatiiações <strong>de</strong>finitivas. Nesta<br />
proporção, em 17 mil, morrem 1700,<br />
voltam 5600 e ficam 9700. Por tudo<br />
isto é a nossa emigração um facto<br />
lamentavel no ponto <strong>de</strong> vista da humanida<strong>de</strong>,<br />
mas é um facto proveito*