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MITOLOGIA PELO MÉTODO CONFUSO<br />
COELHO DE MORAES<br />
Árt<strong>em</strong>is, <strong>de</strong>sse momento <strong>em</strong> diante per<strong>de</strong>u muito da paciência e<br />
da cordialida<strong>de</strong> com a humanida<strong>de</strong>, n<strong>em</strong> se sabe por que. O<br />
certo seria enfiar uma flecha na goela <strong>de</strong> Apolo. É minha<br />
opinião. Mas, <strong>em</strong> todo caso, ela tornou-se severa com os<br />
mortais que ousavam <strong>de</strong>safiá-la. E, não há mortal que não<br />
<strong>de</strong>safie os <strong>de</strong>uses. Trata-se, no fundo, <strong>de</strong> uma certeza <strong>de</strong> que<br />
os <strong>de</strong>uses não exist<strong>em</strong>.<br />
Uma antiga história, contada a mim pelo velho Tirésias, cego <strong>de</strong><br />
boa audição, dizia que, certa vez, como <strong>de</strong> costume, Árt<strong>em</strong>is<br />
banhava-se nas águas das fontes cristalinas; foi surpreendida<br />
pelo caçador Acteon que ali se dirigiu, com um bando <strong>de</strong> cães<br />
atrozes na caça, para saciar a se<strong>de</strong>. Acteon era conhecido,<br />
havia sido treinado pelo centauro Quiron, portanto era pessoa<br />
<strong>de</strong> fama e abrigo <strong>de</strong> soberba. Há qu<strong>em</strong> diga que Acteon parou<br />
para olhar a nu<strong>de</strong>z <strong>de</strong> Árt<strong>em</strong>is, - se b<strong>em</strong> que não precisava<br />
parar para isso, - e lançou uns sorrisinhos estranhos na<br />
direção da <strong>de</strong>usa.<br />
Árt<strong>em</strong>is, ao vê-lo assim ousado, saiu das águas, o líquido<br />
escorria pela pele, um apelo erótico para <strong>de</strong>sviar a atenção;<br />
aproximou-se do caçador. Em um movimento brusco, mas,<br />
elegante Árt<strong>em</strong>is o transformou <strong>em</strong> um veado e tornou-o vítima<br />
da própria matilha que o estraçalhou. Assim simplesmente.<br />
Outra história que o pân<strong>de</strong>go do Tirésias conta era o que ela fez<br />
com Agamêmnon. Mas esse merecia mesmo. Sujeito chato. O<br />
Rei Agamêmnon, muitas vezes <strong>de</strong> má m<strong>em</strong>ória, matou um<br />
cervo no bosque consagrado. S<strong>em</strong>pre cervos e veados. Até ai<br />
tudo b<strong>em</strong> já que Agamêmnon era doidivanas e s<strong>em</strong>pre que<br />
podia comia um veado. Árt<strong>em</strong>is exigiu do grego – no meio da<br />
viag<strong>em</strong> para Tróia - o sacrifício da filha, Ifigênia. Os ventos<br />
voltaram a soprar. A viag<strong>em</strong> seguiu. Mas, Árt<strong>em</strong>is, diferente <strong>de</strong><br />
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