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uma reflexão sobre o papel da escola no ensino da leitura

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Revista Eletrônica Aboré - Publicação <strong>da</strong> Escola Superior de Artes e Turismo Manaus Edição 03 Nov/2007<br />

ISSN 1980-6930<br />

UMA REFLEXÃO SOBRE O PAPEL DA ESCOLA<br />

NO ENSINO DA LEITURA<br />

Suely Barros Bernardi<strong>no</strong> <strong>da</strong> Silva 1<br />

RESUMO: O ato de ler vai além <strong>da</strong> ação de decodificar símbolos. É <strong>uma</strong> prática que<br />

deve ser ensina<strong>da</strong> aos alu<strong>no</strong>s desde os primeiros a<strong>no</strong>s de <strong>escola</strong> e deve prosseguir até os<br />

níveis mais adiantados. Portanto, é necessário que os professores estejam conscientes de<br />

seu <strong>papel</strong> nesse processo. A <strong>leitura</strong> deve ser feita com o objetivo de buscar informações<br />

explícitas e as que estão nas entrelinhas.<br />

PALAVRAS-CHAVE: <strong>leitura</strong>, ensi<strong>no</strong>, texto, livro, professor.<br />

ABASTRACT: The act of reading goes beyond decoding symbols. It is a practice that<br />

must be taught to pupils since first school years to the most advanced school years.<br />

Therefore, it is necessary that teachers are conscious about their role in this process. The<br />

reading must be done in order to find out the explicit information and those are between<br />

the lines.<br />

KEY WORDS: reading, teaching, text, book, teacher.<br />

O título deste texto <strong>no</strong>s remete à seguinte pergunta: O que é ler?<br />

Aparentemente, é fácil de ser respondi<strong>da</strong>, mas não é.<br />

Ler, segundo Buarque (1986), é decifrar o que está escrito; é reconhecer as<br />

palavras; é interpretar a <strong>leitura</strong>. Por exemplo, ao vermos <strong>uma</strong> charge ou um sinal surdo-<br />

mudo, tentamos decifrá-los, então isso também é um tipo de <strong>leitura</strong>, apenas os códigos<br />

decodificados são diferentes.<br />

Segundo Orlandi (1999), a <strong>leitura</strong> pode ter vários sentidos: na <strong>escola</strong> significa<br />

aprender a ler e a escrever; <strong>no</strong> meio acadêmico pode significar a construção de um<br />

aparato teórico e metodológico de aproximação de um texto, várias são as formas de<br />

compreender um texto; assim como pode ser <strong>uma</strong> ideologia, de forma mais ou me<strong>no</strong>s<br />

geral e indiferencia<strong>da</strong>.<br />

Existem inúmeras definições de <strong>leitura</strong>, entretanto, quando se diz que ler é<br />

saber compreender e interpretar é preciso ter claro que essa compreensão e interpretação<br />

não são únicas, ou seja, depende de ca<strong>da</strong> pessoa: de seu contexto de vi<strong>da</strong>, de sua<br />

1 Mestre em Socie<strong>da</strong>de e Cultura na Amazônia, pela Universi<strong>da</strong>de Federal do Amazonas, professora <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de do Estado do Amazonas.


maturi<strong>da</strong>de e experiência, do momento histórico, do seu estado emocional, nível<br />

intelectual do ambiente familiar e social em que vive.<br />

A <strong>leitura</strong>, para ser interpreta<strong>da</strong> e compreendi<strong>da</strong>, depende do leitor virtual que<br />

se insere dentro do texto; Orlandi faz a seguinte colocação: A relação entre o<br />

leitor<br />

virtual (leitor para quem o autor destina o texto) e o leitor real (pessoa que lê o texto) é<br />

muito distante. É por isso que os alu<strong>no</strong>s têm <strong>uma</strong> grande dificul<strong>da</strong>de em entender os<br />

autores dos livros didáticos, porque esses intelectuais esquecem o leitor para quem se<br />

destina seus livros. Escrevem de <strong>uma</strong> forma complica<strong>da</strong> além do acúmulo de<br />

informações conti<strong>da</strong>s em um mesmo texto, o que dificulta ain<strong>da</strong> mais a compreensão. E<br />

segundo Freire (1998), a compreensão do texto a ser alcança<strong>da</strong> por <strong>uma</strong> <strong>leitura</strong> crítica<br />

implica a percepção <strong>da</strong>s relações entre o texto e o contexto . Então, compreensão do<br />

texto é mais importante do que simplesmente decodificar as palavras, e faz com que a<br />

<strong>leitura</strong> seja um momento de <strong>reflexão</strong> crítica. A <strong>leitura</strong> é tão importante que, desde o<br />

início <strong>da</strong>s civilizações, quem detinha a palavra ou a capaci<strong>da</strong>de de comunicação, quase<br />

sempre, eram os detentores do poder e até hoje continua assim. Cultura, entre outras<br />

coisas, é desenvolvimento intelectual, é saber (conhecimento), e isso só se adquire<br />

através de <strong>leitura</strong>s.<br />

Logo, se faz necessário mu<strong>da</strong>r a política <strong>da</strong> educação e a concepção do<br />

professor com relação à sua pe<strong>da</strong>gogia - o ato de ensinar. É de fun<strong>da</strong>mental importância<br />

e urgente, que a <strong>escola</strong> analise este assunto com os professores, para evitar a alienação<br />

cultural, social e política.<br />

Na reali<strong>da</strong>de, a preocupação com os estudos <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> na <strong>escola</strong> tem-se<br />

acentuado a partir <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de se rever os conceitos do o que é e do para quê<br />

se ensinar <strong>leitura</strong> oral como prática oral do texto, ou a <strong>leitura</strong> visual, já que a <strong>escola</strong><br />

atual tem <strong>da</strong>do priori<strong>da</strong>de para o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> escrita, por entendê-la como instrumento de<br />

dominação, o objeto de desejo de to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong>de. Ao percorremos as orientações<br />

curriculares do ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental e médio, a <strong>leitura</strong> estará presente durante os onze<br />

a<strong>no</strong>s de estudo nesses dois níveis, como um dos tópicos de ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> cadeira de Língua<br />

Portuguesa sem, entretanto, apresentar um projeto pe<strong>da</strong>gógico definido, cristali<strong>no</strong> e<br />

viável, que venha realmente contribuir para o desenvolvimento do ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong>,<br />

tendo por base as manifestações <strong>da</strong> linguagem, sejam elas verbais, visuais ou gestuais.<br />

Um projeto que retorne, em suas idéias, à ver<strong>da</strong>deira razão de ser <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> em sala de<br />

aula, com o estudo do seu funcionamento, com seus textos, suas ativi<strong>da</strong>des bem


programa<strong>da</strong>s, sua oralização, sua interpretação, ... pois é ela, e não a escrita, a fonte<br />

perene de educação, com ou sem <strong>escola</strong>. (CAGLIARI, 1993, p. 173).<br />

Porém, recentemente, em <strong>no</strong>sso país, o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> tem sido alvo de<br />

inúmeras reflexões e, definitivamente, a grande maioria tem-se voltado para os<br />

princípios sociais e psico-pe<strong>da</strong>gógicos do ato de ler, muito embora o centro <strong>da</strong>s<br />

discussões acerca do assunto ain<strong>da</strong> esteja colocado mais especificamente na procura do<br />

ensinar a começar a ler , afinal estão envolvidos nesse processo dois fatores<br />

preponderantes: a língua e o alu<strong>no</strong>, e um terceiro: a <strong>escola</strong>.<br />

O <strong>papel</strong> <strong>da</strong> <strong>escola</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> deve ser entendido como um processo<br />

que tem início na alfabetização (processo formal) mas não tem fim, ou seja, continua<br />

por to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>. Em <strong>leitura</strong> há um processo constante e ascendente - desenvolvemos<br />

<strong>no</strong>ssas habili<strong>da</strong>des e vamos ampliando <strong>no</strong>ssas experiências.<br />

Silva (2003) classifica a <strong>leitura</strong> em seis estágios:<br />

estágio preparatório (a<br />

criança alcança a prontidão para a aprendizagem <strong>da</strong> <strong>leitura</strong>); estágio inicial (período<br />

dedicado ao desenvolvimento do trabalho de alfabetização); estágio do<br />

desenvolvimento rápido (1 a a 2 a série). Nesta fase as crianças tropeçam um pouco nas<br />

palavras <strong>no</strong>vas... São capazes de ler com maior desembaraço e começam a usar a <strong>leitura</strong><br />

como fonte de recreação e informação; estágio do desenvolvimento gradual e<br />

contínuo ( 3 a e 4 a séries). Continua o desenvolvimento <strong>da</strong> fase anterior. Estágio <strong>da</strong><br />

expansão <strong>da</strong>s experiências (5 a a 8 a série). Nesta fase os alu<strong>no</strong>s são capazes de<br />

consultar fontes de <strong>leitura</strong> específicas a determina<strong>da</strong>s áreas de ensi<strong>no</strong>; estágio de<br />

aperfeiçoamento (ensi<strong>no</strong>s médio e superior). Nesta fase os alu<strong>no</strong>s já são capazes de<br />

comparar materiais de <strong>leitura</strong>, julgá-los e chegar a conclusões próprias. É preciso deixar<br />

bem claro que os estágios estão intimamente relacionados, <strong>uma</strong> vez que ca<strong>da</strong> estágio<br />

servirá de base para o seguinte. Entretanto, é comum alu<strong>no</strong>s de 5 a a 8 a série continuarem<br />

<strong>no</strong> quarto estágio, o do desenvolvimento contínuo.<br />

A <strong>leitura</strong> deveria apresentar-se como um instrumento de conscientização e<br />

interação do indivíduo com a produção cultural, além de promover o acesso ao<br />

conhecimento determinando, assim, por parte do leitor, a possibili<strong>da</strong>de de <strong>reflexão</strong> e<br />

crítica perante o texto. Como em outra qualquer tarefa cognitiva, o ato de ler é<br />

complexo e sua prática engaja vários fatores como a memória, a percepção, a atenção, o<br />

que é essencial se quer chegar ao sentido do texto. Entretanto, estes aspectos, quando<br />

têm sido vistos, na prática, ocorrem de forma independente, ora do sistema, ora <strong>da</strong><br />

instituição, ora dos professores, ca<strong>da</strong> um deles tentando e, é claro, sem se ter conseguido


chegar a <strong>uma</strong> comunhão de forças que faça do ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> <strong>uma</strong> ativi<strong>da</strong>de cultural,<br />

ideológica, filosófica, semântica, fonética e fo<strong>no</strong>lógica, buscando, to<strong>da</strong>via, não ferir a<br />

auto<strong>no</strong>mia de ca<strong>da</strong> um destes aspectos.<br />

Do ponto de vista do sistema, a <strong>leitura</strong> expressa o comprometimento do Estado<br />

com as necessi<strong>da</strong>des de cunho social, promovendo, ou pensando promover, o ato de<br />

transformação coletiva, na reali<strong>da</strong>de, se transforma <strong>no</strong> que é tido como educação<br />

compensatória de populações de baixa ren<strong>da</strong> e procedimentos de atitudes paternalistas,<br />

como é o caso de distribuição de livros às <strong>escola</strong>s e bibliotecas - isto quando eles<br />

chegam.<br />

Para o leitor em formação, a aprendizagem <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> não se faz só na <strong>escola</strong>.<br />

São vários os fatores que influenciam a maneira como <strong>uma</strong> criança aprende a ler. As<br />

atitudes e os valores sociais que a rodeiam talvez sejam invisíveis, mas, nem por isso,<br />

me<strong>no</strong>s reais. Além disso, tudo o que <strong>uma</strong> criança lê contribui para estimular essa<br />

aprendizagem e acelerar o seu ritmo, mas as informações acerca do ato de ler e suas<br />

múltiplas faces e objetivos chegam por meio <strong>da</strong> <strong>escola</strong> e seus professores. A partir <strong>da</strong>í,<br />

tem-se a culminância do processo desarticulado entre as instâncias que participam e<br />

patrocinam o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong>. A última destas, o professor, <strong>no</strong>rmalmente sofre as<br />

conseqüências desta não articulação, transferindo para o alu<strong>no</strong> os resultados e reflexos<br />

desse processo.<br />

Embora a língua e cultura nas quais o aprendiz se insere e vive sejam<br />

importantes, o processo <strong>da</strong> sua aprendizagem <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> envolve ain<strong>da</strong> um intermediário:<br />

o professor. A tarefa de ensinar a ler cabe ao professor do ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental, mas é<br />

impossível se pensar em exigir-lhe que apresente soluções para todos os problemas<br />

decorrentes <strong>da</strong>s eternas questões que atravessam o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> de ponta a ponta, e<br />

que afligem seus alu<strong>no</strong>s e lhes dificultam o processo de aprendizagem. No máximo, este<br />

professor poderá detectar alguns problemas; outros, porém, só poderão ser vistos se este<br />

professor possuir formação mais especializa<strong>da</strong> que, em geral, o mesmo não recebe.<br />

Mesmo assim, alguns encontram ou propõem soluções adequa<strong>da</strong>s aos seus trabalhos,<br />

conseguindo êxito. Por outro lado, o professor que não apresentar capaci<strong>da</strong>de de<br />

conviver e tomar <strong>uma</strong> posição com relação às concepções de <strong>leitura</strong>, isso aliado às<br />

deformações em sua própria formação, definitivamente reproduzirá as estruturas<br />

negativas ain<strong>da</strong> vigentes <strong>da</strong> <strong>leitura</strong>.<br />

Mais adiante, o aprendiz de leitor, chegando ao nível de 5 a a 8 a séries e ao<br />

nível médio, entrará em contato com o professor de Língua Portuguesa que, assim como


o professor de educação básica, em nível de magistério, atravessou to<strong>da</strong> <strong>uma</strong> série de<br />

problemas em sua formação de graduação superior. Tais problemas decorrem do mesmo<br />

sistema, sem projeto pe<strong>da</strong>gógico definido para a <strong>leitura</strong>, porém com o mesmo discurso<br />

<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de do ensi<strong>no</strong> de linguagem ser pautado nas questões de escrita. Neste nível<br />

o professor, louvem-se as exceções, basicamente, trabalha as questões <strong>da</strong> teoria<br />

gramatical, propriamente ditas, na cadeira de Língua Portuguesa, ou seja, a velha,<br />

antiqua<strong>da</strong> e rançosa metalinguagem.<br />

Na déca<strong>da</strong> de 80, <strong>no</strong> processo de ensi<strong>no</strong> ditado pelo sistema, houve a criação<br />

<strong>da</strong> disciplina Técnica de Re<strong>da</strong>ção como mais um paliativo para os resultados observados<br />

ao final do segundo grau, com a Re<strong>da</strong>ção <strong>no</strong>s vestibulares; nessa disciplina que,<br />

primeiramente, não se compreende desvincula<strong>da</strong> dos estudos de língua, o trabalho é<br />

desenvolvido, unicamente, visando a re<strong>da</strong>ção com seus temas vazios, suas formas, o<br />

número de linhas necessárias para a avaliação, entre outros aspectos que não somente a<br />

afama<strong>da</strong> re<strong>da</strong>ção. A conseqüência deste modelo de ensi<strong>no</strong> é assim expressa por<br />

FARACO (1985, p. 19): Os alu<strong>no</strong>s deixam a <strong>escola</strong> sem saber redigir, sem ter<br />

desenvolvi<strong>da</strong> a capaci<strong>da</strong>de de escrever (escrever é muito mais que desenhar letras <strong>no</strong><br />

<strong>papel</strong>...), incapazes de preencher, de modo inteligível, alg<strong>uma</strong>s poucas linhas.<br />

Nestes níveis, o que aconteceu com a <strong>leitura</strong>? A <strong>leitura</strong> que deveria<br />

proporcionar a penetração na mensagem e sua apreciação de forma mais crítica? A<br />

<strong>leitura</strong> que deveria apresentar um desenvolvimento de sua mecânica buscando ser clara<br />

e fluente? A <strong>leitura</strong> que buscaria desenvolver, ao mesmo tempo, um processo cognitivo<br />

e um processo de linguagem? A <strong>leitura</strong> que seria um processo exemplar de<br />

aprendizagem? Simplesmente foi deixa<strong>da</strong> num segundo pla<strong>no</strong> dentro <strong>da</strong> hierarquia <strong>da</strong>s<br />

priori<strong>da</strong>des <strong>da</strong> <strong>escola</strong>. Generalizar acerca destes aspectos não é totalmente ver<strong>da</strong>de,<br />

porém, praticamente, na maioria <strong>da</strong>s <strong>escola</strong>s, a <strong>leitura</strong> apresenta esta concepção e é feita<br />

rotineiramente <strong>no</strong> seu sentido restrito. Daí surgem as mais varia<strong>da</strong>s justificativas para o<br />

fato de a <strong>leitura</strong> não, ou quase não, existir como ativi<strong>da</strong>de pe<strong>da</strong>gógica. Falta de tempo ,<br />

dizem alguns; é difícil de tomar lições de <strong>leitura</strong> n<strong>uma</strong> sala de aula numerosa , dizem<br />

outros; os alu<strong>no</strong>s não gostam de ler mesmo , é outra afirmativa; só serve para <strong>da</strong>r<br />

<strong>no</strong>ta , desculpam-se outros tantos. E todos culpam os textos para <strong>leitura</strong> do livro<br />

didático, ou sua ausência, pela situação.<br />

Hoje em dia, tem-se procurado, apenas <strong>no</strong> seio <strong>da</strong> <strong>escola</strong>, o grande culpado<br />

pela situação negativa do ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> e esta se divide informando: o ensi<strong>no</strong><br />

superior culpa o ensi<strong>no</strong> médio, este culpa o ensi<strong>no</strong> fun<strong>da</strong>mental (5 a a 8 a séries) e este,


por sua vez, lança as culpas para o pessoal de 1 a a 4 a séries que, para não levar a parte<br />

do leão , considera como antecedente problemático o pré-<strong>escola</strong>r e, este, a família.<br />

Parece que, a partir deste nível, encontramos o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> num silencioso beco<br />

sem saí<strong>da</strong> , silencioso porque, assim como em todos os demais níveis, apesar <strong>da</strong>s<br />

estrepitosas justificativas, também não apresenta <strong>uma</strong> proposta viável e exeqüível para o<br />

ato de ler.<br />

Em todos os níveis de ensi<strong>no</strong>, sempre é cobra<strong>da</strong> a <strong>leitura</strong> como resultado do<br />

nível anterior, muito embora este nível anterior também não tenha desenvolvido um<br />

trabalho em busca de perceber nem a complexi<strong>da</strong>de, nem a viabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s práticas de<br />

<strong>leitura</strong> na sala de aula. Entretanto, se observarmos bem, este processo funciona como<br />

um eixo eixo sem-fim , afinal, a <strong>escola</strong> formadora de professores, professores de<br />

<strong>leitura</strong>, é a mesma <strong>escola</strong> que não tem projeto pe<strong>da</strong>gógico para a <strong>leitura</strong> e, quando<br />

muito, apresenta-se carrega<strong>da</strong> de milagrosas metodologias.<br />

Ain<strong>da</strong> assim, a <strong>escola</strong> continua a sua <strong>leitura</strong>, sim! Bem ou mal, pode-se dizer,<br />

mas afirmar-se que <strong>uma</strong> instituição que vive de <strong>leitura</strong> e escrita não realiza <strong>uma</strong> <strong>leitura</strong><br />

mínima de seus textos é negar <strong>uma</strong> reali<strong>da</strong>de que ain<strong>da</strong> é um dos privilégios <strong>da</strong>queles<br />

que conseguem freqüentar esta instituição, ain<strong>da</strong> que seja apenas para decifrar<br />

estritamente aquilo que o texto diz ou o professor pensa que o texto diz, sem procurar<br />

chegar às entrelinhas, ou tentar procurar algo significativo mais adiante.<br />

Além disso, é sempre bom lembrar que a <strong>leitura</strong>, seja ela oral ou visual, não<br />

constitui <strong>uma</strong> Matéria . Uma vez que não possui um conteúdo específico, não pode ser<br />

ensina<strong>da</strong> separa<strong>da</strong>mente como a maioria <strong>da</strong>s outras Matérias do currículo. Ao contrário,<br />

a <strong>leitura</strong> faz parte de to<strong>da</strong>s as Matérias e deveria ser mais freqüentemente encara<strong>da</strong><br />

como um instrumento para facilitar e promover muitos dos tipos de aprendizagem, <strong>no</strong>s<br />

diferentes campos do conhecimento.<br />

Se aceitarmos a educação de leitores críticos e criativos como a finali<strong>da</strong>de<br />

primordial dos trabalhos com <strong>leitura</strong> <strong>escola</strong>r, então deveremos verificar suas<br />

implicações na esfera dos conteúdos e <strong>da</strong>s metodologias de <strong>leitura</strong>. Em outros termos,<br />

<strong>uma</strong> <strong>no</strong>va proposta para o ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> deve apresentar <strong>uma</strong> coerência ou<br />

consistência entre fins e meios, entre teoria e prática, entre discurso e ação, sem o que<br />

não há mu<strong>da</strong>nça concreta. A mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> mentali<strong>da</strong>de dos professores é condição<br />

necessária mas, sem transformá-la em ações conseqüentes junto aos alu<strong>no</strong>s, ela não será<br />

suficiente.


Como já foi dito, ler para compreender os textos, participando criticamente <strong>da</strong><br />

dinâmica do mundo <strong>da</strong> escrita e posicionando-se frente à reali<strong>da</strong>de, é a finali<strong>da</strong>de básica<br />

que estabelecemos para as práticas de <strong>leitura</strong> na <strong>escola</strong>. Neste conceito está implícita a<br />

idéia de que os professores lançam mão de determinados textos, produzidos por certos<br />

autores, para instigar e esmerar a compreensão, a crítica e o posicionamento dos seus<br />

alu<strong>no</strong>s. Basicamente, os docentes executam um trabalho de direção cognitiva, fazendo<br />

<strong>uma</strong> intermediação entre os alu<strong>no</strong>s e os textos (ou registros verbais <strong>da</strong> cultura). Esses<br />

últimos, por sua vez, remetem os alu<strong>no</strong>s-leitores para determinados referenciais, <strong>da</strong>ndo<br />

origem a espaços discursivos específicos em sala de aula e/ou fora dela. Isto posto, vale<br />

a pena refletir <strong>sobre</strong> a natureza dos textos colocados à disposição dos alu<strong>no</strong>s-leitores.<br />

O professor deve entender que o livro didático não é um professor, e que este<br />

não é feito para todos os alu<strong>no</strong>s. Assim, não pode limitar-se a ele, mas compreender<br />

aqueles estu<strong>da</strong>ntes com dificul<strong>da</strong>de de <strong>leitura</strong>, ensinando-os de maneira que possam<br />

entendê-la e interpretá-la.<br />

A escolha do texto é muito importante, por isso, o professor, antes, deve<br />

verificar se ele é atraente e se contém <strong>no</strong> seu contexto algo que seja do interesse dos<br />

alu<strong>no</strong>s. Esses mesmos critérios aplicam-se na escolha dos livros de literatura. Não se<br />

pode esquecer que é melhor <strong>uma</strong> página li<strong>da</strong> com prazer do que 100 devora<strong>da</strong>s por<br />

obrigação.<br />

Uma <strong>da</strong>s preocupações mais constantes do bom professor deve ser a de variar<br />

as oportuni<strong>da</strong>des de <strong>leitura</strong>, tendo em vista o objetivo de fazer com que seus alu<strong>no</strong>s<br />

leiam bem, leiam bastante, leiam bons livros ou textos adequados, bem como apren<strong>da</strong>m<br />

a valer-se <strong>da</strong> <strong>leitura</strong> como um instrumento de pesquisa e fonte inesgotável de<br />

entretenimento, tirando tudo que de bom ela pode proporcionar.<br />

É importante que o professor escute o que os alu<strong>no</strong>s têm a dizer <strong>sobre</strong> os<br />

referenciais dos textos, conduzindo, sistematizando as idéias gera<strong>da</strong>s, aprendendo com<br />

elas e fornecendo outros significados que os leitores, em função de suas limitações, não<br />

conseguiram destacar. Neste processo de enriquecimento mútuo, a <strong>leitura</strong> deixa de ser a<br />

mera repetição ou reprodução de significados institucionalizados e petrificados, para se<br />

constituir em dinâmica viva, democrática e produtiva, levando à concretização de um ou<br />

mais circuitos de <strong>leitura</strong> em sala de aula e, talvez, em todos os quadrantes <strong>da</strong> <strong>escola</strong>.<br />

Freire (1998), <strong>no</strong>s diz que existe <strong>uma</strong> relação mútua entre a <strong>leitura</strong> do mundo e<br />

a <strong>leitura</strong> <strong>da</strong> palavra, entre a linguagem e a reali<strong>da</strong>de, entre o texto e o contexto. Por<br />

acreditar que essa relação é irrefutável, podemos atribuir importância e relevância às


práticas de <strong>leitura</strong> <strong>escola</strong>r quando o leitor é levado à condição de sujeito, trabalhando<br />

ativamente com seus pares na busca de compreensão de diferentes aspectos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />

através dos textos. Isso requer movimentos dinâmicos entre os textos e as experiências<br />

de vi<strong>da</strong> dos leitores e vice-versa; na ausência desses movimentos, vistos aqui como<br />

geradores de significação/compreensão e passíveis de serem orientados<br />

pe<strong>da</strong>gogicamente pelo professor, a <strong>leitura</strong> perde em vitali<strong>da</strong>de, adquire o estatuto de<br />

bancária e dificilmente se encarna na vi<strong>da</strong> de <strong>uma</strong> pessoa.<br />

Uma boa <strong>leitura</strong>, fun<strong>da</strong>mental ou básica, passa por seis etapas, que são<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s, <strong>no</strong> mínimo, em <strong>uma</strong> semana: a) Incentivação (despertar o interesse dos<br />

alu<strong>no</strong>s para a <strong>leitura</strong>; b) Estudo <strong>da</strong>s palavras desconheci<strong>da</strong>s; c) Leitura silenciosa; d)<br />

Leitura oral; e) ativi<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s, tais como: construção de frases como<br />

palavras <strong>da</strong> <strong>leitura</strong>, associação de sinônimos e antônimos, coro falado quando o texto se<br />

prestar para tal; f) ativi<strong>da</strong>des de enriquecimento: desenhos relacionados ao texto,<br />

dramatizações, organização de mural, entrevistas e excursões sugeri<strong>da</strong>s pelo assunto <strong>da</strong><br />

<strong>leitura</strong>, visita às livrarias e bibliotecas, dentre outras. Este texto não foi escrito pensando<br />

<strong>da</strong>r <strong>uma</strong> receita pronta, mas aju<strong>da</strong>r os docentes em seu trabalho, com alg<strong>uma</strong>s sugestões<br />

<strong>sobre</strong> como explorar a <strong>leitura</strong>.<br />

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