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o professor de dança face ao aluno com necessidade educativa ...

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Revista Eletrônica Aboré - Publicação da Escola Superior <strong>de</strong> Artes e Turismo Manaus - Edição 04 Dez/2010<br />

ISSN 1980-6930<br />

171<br />

O PROFESSOR DE DANÇA FACE AO ALUNO COM<br />

NECESSIDADE EDUCATIVA ESPECIAL. ELE ESTÁ<br />

PREPARADO PARA ATUAR EM TAL REALIDADE?<br />

Érika da Silva Ramos ¹<br />

Orientadora: Profª MSc. Evelyn Lauria Noronha ²<br />

Resumo:<br />

Este texto surgiu <strong>com</strong> interesse <strong>de</strong> discorrer sobre a preparação, o primeiro contato e a caminhada do<br />

graduando em <strong>dança</strong> para atuar na realida<strong>de</strong> dos <strong>aluno</strong>s <strong>com</strong> necessida<strong>de</strong>s <strong>educativa</strong>s especiais, enfatizando pormenores<br />

para a construção <strong>de</strong> sua didática. Faz-se então uma reflexão sobre os <strong>de</strong>safios encontrados pelo <strong>professor</strong> que dispõemse<br />

a seguir a trajetória <strong>de</strong> ensinar a <strong>dança</strong> na educação especial. Consiste no <strong>com</strong>partilhar <strong>de</strong> experiência resultante do<br />

envolvimento da pesquisadora <strong>com</strong> <strong>aluno</strong>s <strong>de</strong>ficientes mentais em meio seus estudos em projetos <strong>de</strong> iniciação científica<br />

e também oriundos <strong>de</strong> seus trabalhos <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> curso.<br />

Palavras-Chave: Professor, Realida<strong>de</strong>, Aluno e Deficiente.<br />

Abstract:<br />

This book arose with interest to discuss the preparations, the first contact and walk on dana graduating to work<br />

in reality for stu<strong>de</strong>nts with special educational needs, emphasizing <strong>de</strong>tails to build your didtica. It is then a reflection on<br />

the challenges <strong>face</strong>d by the teacher who was willing to follow the trajetria to teach dance in particular educate. It consists<br />

of the share experience resulting from the involvement of the researcher with mentally disabled stu<strong>de</strong>nts in their studies<br />

through projects confi-starter and also from the conclusions of its work in progress.<br />

Keywords: Teacher, Reality, Stu<strong>de</strong>nts and Disabled.<br />

Desenvolvimento:<br />

O tema abordado neste texto propicia uma reflexão sobre a qualida<strong>de</strong>, preparação e aptidão<br />

do graduando (futuro <strong>professor</strong>) que aspira trabalhar<br />

<strong>educativa</strong> especial.<br />

direcionado <strong>ao</strong> <strong>aluno</strong> <strong>com</strong> necessida<strong>de</strong><br />

Não preten<strong>de</strong>-se aqui apenas expor uma conotação da realida<strong>de</strong> <strong>com</strong>o negativa sobre o<br />

envolvimento <strong>com</strong> docência <strong>ao</strong>s <strong>aluno</strong>s <strong>com</strong> alguma <strong>de</strong>ficiência, e sim alertar <strong>ao</strong>s interessados na<br />

área, que nem sempre é um caminho simples, trata-se pois <strong>de</strong> um caminho que quando explorado<br />

torna-se um universo do saber, da sensibilização e <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>ao</strong> crescimento, logo não só<br />

preenche o currículo do <strong>professor</strong>, mas acima <strong>de</strong> tudo o prepara para ser um profissional o qual<br />

contribuirá <strong>ao</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do <strong>aluno</strong> <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência, sendo tal contribuição o maior foco da<br />

educação especial.<br />

_________<br />

¹ Licenciatura em Dança (UEA), Graduanda do Curso <strong>de</strong> Psicologia (UNINORTE), Bolsista da FAPEAM, no Programa<br />

<strong>de</strong> Apoio a Iniciação Científica (PAIC), Especializanda em Psi<strong>com</strong>otricida<strong>de</strong> (GAMA FILHO).


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² Professora, Bacharel em Teologia (SP), Bacharel em Filosofia (UFRJ), Especialista em Psicopedagogia (UFAM),<br />

Mestre em Educação (UFAM) e Doutoranda em Sociologia da Infância – Instituto <strong>de</strong> Estudo da Criança (Universida<strong>de</strong><br />

do MINHO – Portugal).<br />

Dentre algumas dificulda<strong>de</strong>s encontradas pelos interessados no âmbito da educação especial,<br />

primeiramente, é preciso esclarecer que, a região Norte do Brasil, ainda está em estágio <strong>de</strong><br />

estabilização e crescimento a aplicação da arte na educação do <strong>aluno</strong> <strong>com</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>educativa</strong><br />

especial, sendo ainda poucos os profissionais que atuam nesse meio, fato que já <strong>de</strong>veria ter sido<br />

superado, uma vez que a arte é um excelente meio educativo que permite a construção <strong>de</strong> expressão,<br />

idiossincrasias e socialização do <strong>aluno</strong>.<br />

Outra situação a ser repensada é a falta qualificação <strong>de</strong> <strong>professor</strong>es para o trato <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ficientes, muitas vezes, tal <strong>de</strong>spreparo tem sua gênesis no próprio período <strong>de</strong> graduação, pois as<br />

universida<strong>de</strong>s quando fornecem <strong>com</strong>ponentes curriculares sobre a prática <strong>de</strong> ensino na educação<br />

especial, normalmente oferecem <strong>com</strong>o optativas, ou quando não, esses <strong>com</strong>ponentes curriculares<br />

aparecem <strong>com</strong>o “tópicos especiais” <strong>com</strong> carga horária curta mediante <strong>ao</strong> <strong>de</strong>masiado assunto a ser<br />

explorado, on<strong>de</strong> nem sempre há tempo <strong>de</strong> os graduandos visitarem organizações educacionais e<br />

terem contato maior <strong>com</strong> <strong>aluno</strong>s atendidos pela educação especial.<br />

Vale <strong>com</strong>entar ainda que é diminuta a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material bibliográfico e prático sobre<br />

arte <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficientes, produzido na região supracitada, sendo portanto um <strong>de</strong>safio para o graduando<br />

iniciante em pesquisas do ramo, pois além da pouca literatura, para maiores informações ele terá <strong>de</strong><br />

envolver-se em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> campo, <strong>com</strong>o ouvinte, estagiário voluntário ou até mesmo observaçãoparticipante,<br />

pois só assim ele construirá, para além do que é encontrado em livros, sua metodologia<br />

e adquirirá experiência para atuar diante das especificida<strong>de</strong>s das <strong>de</strong>ficiências (física, mental,<br />

auditiva, <strong>de</strong>ntre outras) apresentadas pelos <strong>aluno</strong>s.<br />

Superados e enfrentados porém, tais obstáculos, o resultado que po<strong>de</strong> ser alcançado quando<br />

unifica-se o trabalho <strong>de</strong> arte no <strong>de</strong>senvolvimento do <strong>aluno</strong> <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência é eficaz em vários<br />

aspectos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja bem direcionado e aplicado, por isso, a docência no campo da educação<br />

especial <strong>de</strong>ve estar nas mãos <strong>de</strong> profissionais ou graduandos que realmente busquem o bem-estar<br />

dos <strong>aluno</strong>s <strong>de</strong>ficientes e os reconheçam no seu potencial.<br />

Cada necessida<strong>de</strong> <strong>educativa</strong> especial ou <strong>de</strong>ficiência, necessita <strong>de</strong> estímulos específicos para<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento dos sujeitos que as apresentam, neste ponto, a arte está <strong>com</strong>o um meio<br />

estratégico <strong>de</strong> oferecer estímulos psi<strong>com</strong>otores, muitas vezes superiores a quaisquer outras<br />

ativida<strong>de</strong>s das quais o <strong>aluno</strong> <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência esteja envolvido, por isso é importante que o<br />

graduando já tenha a convicção <strong>de</strong> que seu papel tem <strong>de</strong> ir além do fazer filantrópico e sim do<br />

propiciar <strong>de</strong>senvolvimento dos <strong>aluno</strong>s <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiências através das aulas por ele ministradas.


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A arte, que nesta discussão passará sobretudo ser apontada pela prática da <strong>dança</strong>, quando sai<br />

da universida<strong>de</strong> e passa a ser aplicada <strong>ao</strong>s <strong>aluno</strong>s <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong>ve fugir do senso <strong>com</strong>um “fazer<br />

carida<strong>de</strong>”, ou “montar coreografias para ocasiões especiais das organizações ou escolas” e sim <strong>de</strong>ve<br />

a<strong>de</strong>ntrar na prática <strong>com</strong> objetivo <strong>de</strong> estimular o progresso educativo e o <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo<br />

e biológico do <strong>aluno</strong> <strong>com</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>educativa</strong> especial.<br />

O graduando em <strong>dança</strong>, que atuará em meio a educação especial, será um canal <strong>de</strong> contato<br />

entre o <strong>aluno</strong> <strong>de</strong>ficiente e a arte, portanto, sua postura ética e <strong>com</strong>promissada <strong>com</strong> seu curso<br />

superior e <strong>com</strong> os sujeitos educandos será essencial para o bem-estar da relação <strong>de</strong> ensino “<strong>dança</strong> +<br />

<strong>aluno</strong> <strong>com</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>educativa</strong> especial”.<br />

A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ALUNO<br />

Quando se faz pesquisa científica é <strong>com</strong>um primeiramente recolher informações sobre a<br />

realida<strong>de</strong> do <strong>aluno</strong> <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência, fazer análise do <strong>de</strong>senvolvimento do sujeito da pesquisa, para<br />

finalmente <strong>com</strong>parar se estavam certas as hipóteses refutadas pela metodologia da pesquisa.<br />

Entretanto, para se chegar a conclusão, é necessário o contato verídico <strong>com</strong> o <strong>aluno</strong> <strong>de</strong>ficiente, ou<br />

seja, não fazer o trabalho apenas <strong>com</strong> interesse <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r informações sobre o <strong>aluno</strong> sem moverse<br />

para que o mesmo cresça em alguma área, ou <strong>de</strong> aprendizagem, ou <strong>de</strong> socialização, ou motora,<br />

<strong>de</strong>ntre tantas outras.<br />

O êxito no relacionamento e conhecimento da história <strong>de</strong> vida do <strong>aluno</strong> contribui<br />

significativamente para o rendimento da pesquisa, e vai muito além do frio e superficial<br />

relacionamento profissional <strong>de</strong> <strong>professor</strong> e <strong>aluno</strong> (apenas durante ativida<strong>de</strong>s em sala <strong>de</strong> aula).<br />

Muitas vezes é pelo envolvimento e conhecimento da realida<strong>de</strong> familiar, pessoal e social do <strong>aluno</strong><br />

que <strong>de</strong>svendam-se algumas <strong>de</strong> suas características em relação a <strong>de</strong>ficiência (seja física, mental ou<br />

sensorial). Afinal, nem todos os livros, conferências e seminários são suficientes para formarem um<br />

caráter <strong>de</strong> educador em cada <strong>professor</strong> e sim há processos em que só mesmo uma seqüência<br />

vivencial, em contato <strong>com</strong> os <strong>aluno</strong>s <strong>de</strong>ficientes, dará condições para tal profissional ou graduando<br />

prosseguir <strong>com</strong> segurança e ética no campo da docência.<br />

Obtendo uma relação saudável equilibrada <strong>com</strong> seu <strong>aluno</strong> <strong>de</strong>ficiente, o <strong>professor</strong> acaba por<br />

discernir os fatos em evidência que norteiam a vida <strong>de</strong> seu <strong>aluno</strong> e conseqüentemente interferem no<br />

seu ritmo <strong>de</strong> aprendizagem e <strong>de</strong>senvolvimento. Através da relação amistosa, é possível averiguar se<br />

o <strong>aluno</strong> usa sua <strong>de</strong>ficiência <strong>com</strong>o pretexto para adquirir algumas “facilida<strong>de</strong>s” (fazendo chantagem<br />

emocional e atitu<strong>de</strong>s do tipo manhosas), ou do contrário, se luta agressivamente conta a <strong>de</strong>ficiência,


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negando-a, ou ainda se conforma-se <strong>com</strong> seu quadro e diagnóstico e age indiferente e <strong>de</strong>smotivado<br />

à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu progresso.<br />

Portanto, consi<strong>de</strong>ra-se que o progresso pessoal e social do <strong>aluno</strong> também é conquistado por<br />

diálogo extra-classe, quando o mesmo conta <strong>com</strong>o se sente, o que percebe da dinâmica social, o que<br />

pensa sobre... E assim por diante. Esta relação <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong> abre espaço para uma série <strong>de</strong><br />

acréscimos sentidos pelo <strong>de</strong>ficiente, on<strong>de</strong> ele se sentirá valorizado e por conseguinte gera<br />

fortalecimento <strong>de</strong> sua auto-estima bem <strong>com</strong>o motivação para o aprendizado.<br />

Sobre esse vínculo entre <strong>professor</strong> e <strong>aluno</strong> sabe-se que “igualmente importante é que o<br />

educador tenha em mente a importância do grupo <strong>com</strong>o fonte <strong>de</strong> sustentação individual e coletiva.<br />

Perceber-se <strong>com</strong>o um membro do grupo, mantendo <strong>com</strong> ele trocas afetivas, é um dos pontos-chave<br />

<strong>de</strong>ste trabalho” (MOYSÉS, 2001, p.107). Salienta-se, contudo que, limites precisam ser colocados<br />

para que dado relacionamento não torne-se mutuamente invasivo.<br />

Para o <strong>professor</strong> é primordial conhecer a singularida<strong>de</strong> dos <strong>aluno</strong>s, pois é através <strong>de</strong>sta<br />

visibilida<strong>de</strong> que ele po<strong>de</strong>rá melhor trabalhar seu plano <strong>de</strong> aula e metodologia <strong>de</strong> ensino, sabendo<br />

<strong>com</strong>o alcançar o <strong>aluno</strong> menos receptivo, o mais eufórico, o falante, o calado, enfim, fazendo <strong>de</strong> sua<br />

aula o ambiente mais coerente possível para acolher a subjetivida<strong>de</strong> dos <strong>aluno</strong>s e tornar a aula um<br />

momento equilibrado entre tantas diferenças pessoais.<br />

O <strong>aluno</strong> está cercado por um meio social, cujo, é formado por diferenças <strong>de</strong> todos os lados e<br />

sua habilida<strong>de</strong> social bem <strong>com</strong>o sua autonomia precisam ser forjadas tanto pela família quanto pela<br />

escola, pois “é sempre em um <strong>de</strong>terminado mundo (no contato <strong>com</strong> o outro) que o sujeito nasce,<br />

cresce, se <strong>de</strong>senvolve, se constitui. É este mundo (<strong>de</strong> incontáveis e encantáveis outros) que será, por<br />

ele, internalizado, no processo <strong>de</strong> sua constituição social (KASSAR, 1999, p.69).<br />

Por esse motivo o <strong>professor</strong> e o graduando em <strong>dança</strong> aspirante à área precisam ainda estar<br />

preparados para as mais inusitadas situações, que po<strong>de</strong>m surgir inesperadamente, tanto no meio <strong>de</strong><br />

uma aula, <strong>com</strong>o em uma hora mais informal e <strong>de</strong>scontraída <strong>de</strong> conversa e relacionamento <strong>com</strong> seus<br />

<strong>aluno</strong>s <strong>com</strong> alguma <strong>de</strong>ficiência.<br />

Na aula <strong>de</strong> <strong>dança</strong> on<strong>de</strong> o instrumento <strong>de</strong> trabalho é o corpo humano, é possível aparecerem<br />

<strong>com</strong>entários pejorativos sobre os movimentos usados na aula, on<strong>de</strong> o <strong>aluno</strong> <strong>de</strong>ficiente mental, por<br />

exemplo, po<strong>de</strong>rá relacionar o movimento corporal <strong>ao</strong> sexo, chegando inclusive a tocar em sua<br />

região genital publicamente; ou surgirem movimentos corporais violentos <strong>de</strong> um <strong>aluno</strong> <strong>com</strong> alta<br />

taxa <strong>de</strong> agressivida<strong>de</strong> para <strong>com</strong> o outro (acessos <strong>de</strong> raiva); ou até mesmo crises patológicas e<br />

<strong>com</strong>plicações <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>ficiências (<strong>com</strong>o convulsões relativas à quadro <strong>de</strong> epilepsia).


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Ainda exemplificando algumas situações inusitadas que po<strong>de</strong>m ocorrer durante uma aula <strong>de</strong><br />

<strong>dança</strong>, os motivos estão além do âmbito corporal, ou seja, <strong>de</strong> repente po<strong>de</strong> acontecer <strong>de</strong> um <strong>aluno</strong><br />

chorar <strong>com</strong>pulsivamente por fatos aparentemente simplórios³ (<strong>com</strong>o sauda<strong>de</strong> dos pais), há o <strong>aluno</strong><br />

que falta <strong>com</strong> a verda<strong>de</strong> em inúmeras <strong>de</strong> suas afirmações, há aquele que nega-se firmemente a<br />

_________<br />

³ Simplórios quando remete-se às situações simples, as quais aparentemente não representem fatos relevantes e<br />

indiferentes para alterarem o <strong>com</strong>portamento do sujeito. Mas do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> quem sofreu alguma situação <strong>de</strong><br />

trauma relacionado a um fato mesmo que este seja simples, é suficiente para que este torne-se posteriormente um<br />

reforço <strong>de</strong> bloqueio ou que ocasione mal estar.<br />

participar das ativida<strong>de</strong>s propostas pelo <strong>professor</strong>, aquele que exige sempre explicações redobradas<br />

sobre <strong>de</strong>terminado conteúdo, aquele que apren<strong>de</strong> o assunto rápido <strong>de</strong>mais e fica impaciente <strong>com</strong> a<br />

<strong>de</strong>mora <strong>de</strong> seus colegas.<br />

Em cada caso, <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar a área da necessida<strong>de</strong> <strong>educativa</strong> especial bem <strong>com</strong>o o<br />

nível <strong>de</strong> <strong>com</strong>prometimento <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>ficiência no <strong>aluno</strong>, é preciso que o <strong>professor</strong> tenha um diálogo<br />

aberto, respeitoso e confiável.<br />

O PROFESSOR LIDANDO COM AS SITUAÇÕES INUSITADAS EM AULA<br />

Os casos mais <strong>com</strong>uns <strong>de</strong> situações embaraçosas que po<strong>de</strong>m acontecer na aula <strong>de</strong> <strong>dança</strong> são<br />

a baixa auto-estima, a agressivida<strong>de</strong> ou a saliência sexual.<br />

Para a baixa auto-estima o <strong>professor</strong> ou graduando em <strong>dança</strong> <strong>de</strong>vem atentar para os fatores<br />

que ocasionam essa queda, e verificar qual o tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência envolvida. Seria a dificulda<strong>de</strong> do<br />

<strong>aluno</strong> <strong>de</strong> aceitar a sua condição <strong>de</strong> paralisia (hemiplegia, quadriplegia, diplegia)? Seria a inquietu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> o <strong>aluno</strong> surdo querer manter contato recíproco <strong>com</strong> o meio e muitas vezes não ser bem sucedido?<br />

Seria a frustração do <strong>aluno</strong> <strong>de</strong>ficiente mental <strong>de</strong> tentar enten<strong>de</strong>r o conteúdo e superar as expectativas<br />

colocadas sobre seu quoficiente <strong>de</strong> inteligência?<br />

Enfim, após, estudados os pormenores que levam à baixa auto-estima do <strong>aluno</strong> <strong>de</strong>ficiente o<br />

<strong>professor</strong> po<strong>de</strong> estimulá-lo na <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> seu valor próprio e mostrar as tantas potencialida<strong>de</strong>s<br />

que este <strong>aluno</strong> tem, <strong>de</strong>sta forma, se o <strong>aluno</strong> não apreen<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada célula coreográfica, ela<br />

po<strong>de</strong> ser adaptada, ou <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do nível <strong>de</strong> resiliência <strong>de</strong>ste <strong>aluno</strong>, ela po<strong>de</strong>rá servir <strong>com</strong>o um<br />

<strong>de</strong>safio para que ele busque a superação e esforce-se para apreen<strong>de</strong>r os movimentos.<br />

No âmbito da agressivida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong> ocorrer em aula, é necessário observar se é uma<br />

agressivida<strong>de</strong> do <strong>aluno</strong> para <strong>com</strong> ele mesmo ou para <strong>com</strong> outrem, as vezes, será preciso <strong>de</strong> diálogo<br />

<strong>com</strong> os familiares ou responsáveis para saber se tal <strong>com</strong>portamento agressivo é <strong>com</strong>um ou verificar<br />

em sala <strong>de</strong> aula em que situações a agressivida<strong>de</strong> se evi<strong>de</strong>ncia mais. Seria pela crítica <strong>de</strong> um colega?


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Seria por raiva <strong>de</strong> não a<strong>com</strong>panhar a aula tão bem quanto queria? Seria por dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar<br />

seu próprio corpo?<br />

Aqui a <strong>dança</strong> seria apresentada não <strong>com</strong>o uma repressora da agressivida<strong>de</strong>, mas até mesmo<br />

<strong>com</strong>o uma forma <strong>de</strong> extravasar a mesma, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a aula ocorra em nível salutar para todos os<br />

<strong>aluno</strong>s. O reforço <strong>de</strong>ve ser feito corporalmente, pelo <strong>professor</strong> e <strong>de</strong>stacada a importância do<br />

domínio próprio, consciência corporal e da aceitação das diferenças individuais dos <strong>aluno</strong>s. Cada<br />

aula consiste então em um laboratório para a construção da tolerância <strong>de</strong>ste <strong>aluno</strong> para <strong>com</strong> ele<br />

mesmo e seu grau <strong>de</strong> limitação e para o coletivo, on<strong>de</strong> um <strong>de</strong>ve aceitar o limite do outro<br />

respeitando-o.<br />

Já as situações embaraçosas na aula <strong>de</strong> <strong>dança</strong> que envolvam a questão da sexualida<strong>de</strong>, é<br />

<strong>com</strong>um que provenham <strong>de</strong> <strong>aluno</strong>s <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência mental (adolescente ou jovem em momento <strong>de</strong><br />

latência e ainda está confuso sobre <strong>com</strong>o explorar e lidar <strong>com</strong> sua sexualida<strong>de</strong>).<br />

Essa é uma questão que exige maturida<strong>de</strong> para ser tratada, pois remete-se à sexualida<strong>de</strong> que<br />

por sua vez envolve conceito <strong>de</strong> moral <strong>de</strong>ste <strong>aluno</strong> específico e também dos outros da sala que<br />

observam a atitu<strong>de</strong> “<strong>de</strong>sconhecida” ou “in<strong>com</strong>um” do <strong>aluno</strong> que se toca intimamente ou quer tocar<br />

os outros. Isto se dá pelo fato <strong>de</strong> a sexualida<strong>de</strong> junto às necessida<strong>de</strong>s do <strong>aluno</strong> <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência não<br />

serem discutidas <strong>com</strong> tanta clareza na família do <strong>aluno</strong>, na socieda<strong>de</strong> e até na escola. Por ser um<br />

assunto que gera certo constrangimento e <strong>de</strong>sconforto alguns pais não conversam sobre <strong>com</strong> os<br />

filhos que conseqüentemente extravasam suas energias e dúvidas em algum lugar (po<strong>de</strong>ndo ser<br />

muitas vezes no ambiente escolar).<br />

Por isso é uma vertente que precisa ser estudada e abordada pelo <strong>professor</strong>, para que tudo<br />

esteja bem resolvido, justamente para não ocorrer interrupções e <strong>de</strong>srespeito, principalmente em<br />

aulas <strong>de</strong> arte que envolvam ritmos mais ousados, às vezes pedindo <strong>com</strong>binações <strong>de</strong> pares, casais ou<br />

grupos para a realização <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> movimentos e criação <strong>de</strong> células coreográficas.<br />

Mesmo que as situações supracitadas causem certo receio <strong>ao</strong>s que iniciam seus estudos e<br />

pesquisas sobre <strong>aluno</strong>s <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência, não precisam ser um motivo para <strong>de</strong>sistência, pois apesar<br />

da estranheza, todas po<strong>de</strong>m ser resolvidas <strong>com</strong> excelência e ética, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tenha uma dosagem <strong>de</strong><br />

<strong>com</strong>preensão e didática <strong>de</strong> cada <strong>professor</strong>, elas somam às experiências e enriquecem humana e<br />

cientificamente o conteúdo <strong>de</strong>ste.<br />

Por fim, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-se aqui que é essencial para a concretização da missão do <strong>professor</strong><br />

estimular uma relação profissional e afetiva <strong>com</strong> o <strong>aluno</strong>, assim este último não o verá apenas <strong>com</strong><br />

temor, mas encontrará cordialida<strong>de</strong>, achará nas aulas, não só <strong>de</strong> arte, um momento <strong>de</strong>sejado e estará


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crescendo nos laços <strong>de</strong> confiança em si e nos outros, gerando então sua autonomia além é claro do<br />

aprendizado proposto pela aula.<br />

A DIVERSIDADE EM SALA DE AULA, COMO O PROFESSOR DEVE TRATAR?<br />

Po<strong>de</strong> acontecer <strong>de</strong> este mesmo <strong>professor</strong> não aten<strong>de</strong>r apenas um <strong>aluno</strong> diagnosticado <strong>com</strong><br />

alguma <strong>de</strong>ficiência, já que a educação é para todos, muitos outros <strong>aluno</strong>s po<strong>de</strong>m ter necessida<strong>de</strong>s<br />

<strong>educativa</strong>s especiais diversas e encaixarem-se na mesma turma, logo, <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar que cada<br />

<strong>aluno</strong> é um ser e único e portador <strong>de</strong> características inteiramente pessoais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das<br />

<strong>de</strong>ficiências apresentadas.<br />

Por isso o mínimo que o <strong>professor</strong> <strong>de</strong>ve ter é apreensão <strong>de</strong> que as <strong>de</strong>ficiências estão<br />

organizadas nos seguintes âmbitos e seguimentos: <strong>de</strong>ficiência física, mental e sensorial. Nas<br />

palavras <strong>de</strong> Vitor da Fonseca sobre <strong>de</strong>finição e classificação da <strong>de</strong>ficiência po<strong>de</strong>-se dizer que a<br />

criança <strong>de</strong>ficiente é a que diferencia-se das <strong>de</strong>mais por suas características mentais; aptidões<br />

sensoriais; características neuromusculares e corporais; <strong>com</strong>portamento emocional; aptidões <strong>de</strong><br />

<strong>com</strong>unicação; múltiplas <strong>de</strong>ficiências, “… até <strong>ao</strong> ponto <strong>de</strong> justificar e requerer a modificação das<br />

práticas educacionais ou a criação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> educação especial no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver <strong>ao</strong><br />

máximo as suas capacida<strong>de</strong>s” (FONSECA, 1995, p.25).<br />

Assim <strong>com</strong>o <strong>com</strong>entam outros estudiosos do tema, que <strong>ao</strong> <strong>de</strong>parar-se <strong>com</strong> <strong>aluno</strong> que apren<strong>de</strong><br />

em ritmo diferente, o <strong>professor</strong> tem <strong>de</strong> conviver <strong>com</strong> a alterida<strong>de</strong>, portanto, espera-se que o mesmo<br />

“saiba nomear as diferenças e consi<strong>de</strong>rar a diversida<strong>de</strong> cultural dos seus <strong>aluno</strong>s, ou seja,<br />

multiculturalmente <strong>com</strong>petente, capaz <strong>de</strong> fundamentar sua prática através <strong>de</strong> subsídios advindos das<br />

experiências e saberes dos distintos grupos” (GOMES, 2003, p.107). E através <strong>de</strong>ste conhecimento<br />

possa <strong>com</strong>o profissional <strong>com</strong>petente planejar ativida<strong>de</strong>s diversificadas <strong>com</strong> adaptações<br />

metodológicas ou não a fim <strong>de</strong> facilitar e suprir as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem dos <strong>aluno</strong>s.<br />

Ainda sobre a idéia <strong>de</strong> conhecer a diversida<strong>de</strong> do <strong>aluno</strong> e suas especificida<strong>de</strong>s enfatiza-se<br />

que ainda que o <strong>professor</strong> reconheça as dificulda<strong>de</strong>s apresentadas pelo <strong>aluno</strong> <strong>de</strong>vido a <strong>de</strong>ficiência,<br />

ele não <strong>de</strong>ve ocupar sempre um cargo <strong>de</strong> <strong>professor</strong> “bonzinho” que só solicita dos <strong>aluno</strong>s <strong>com</strong><br />

respostas psi<strong>com</strong>otoras simples, pois agindo assim estará encarnando um sofisma <strong>de</strong> educador e<br />

subestimando a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus <strong>aluno</strong>s, mesmo que essa não seja a intenção. Contudo, não<br />

estima-se aqui o papel do <strong>professor</strong> inexorável.<br />

... O reconhecimento da existência <strong>de</strong>ssas diferenças e a <strong>com</strong>preensão da<br />

exata extensão em que impõem limitação <strong>ao</strong> indivíduo são fundamentais para que se<br />

possa oferecer-lhe condições diferenciadas que assegurem a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

oportunida<strong>de</strong>s sem criar-lhes situações <strong>de</strong> privilégio por ser <strong>de</strong>ficiente. Não se po<strong>de</strong><br />

correr o risco <strong>de</strong>, <strong>de</strong>scuidadamente, consi<strong>de</strong>rar que todos somos igualmente


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capacitados. Somos diversamente capacitados, o que nos torna diferentes uns em<br />

relação a outros, sendo alguns tão acentuadamente diferentes que requerem<br />

condições especiais <strong>de</strong> tratamento para assegurar-lhes a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> direitos<br />

(OMOTE, 2001, p.48).<br />

Sabe-se também que é um invólucro <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho e <strong>de</strong>terminação optar por conhecer o<br />

<strong>aluno</strong> <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência, sendo assim, é necessário que o graduando em licenciatura em <strong>dança</strong>,<br />

busque sua capacitação, ainda que disciplinas não sejam vistas e disponibilizadas pelas<br />

universida<strong>de</strong>s, sem dúvida, cabe a consciência e integrida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste futuro <strong>professor</strong> para <strong>com</strong> seu<br />

<strong>aluno</strong>, pesquisar sobre as <strong>de</strong>ficiências presentes em seu corpo discente, a fim <strong>de</strong> melhor respaldar-se<br />

no assunto da realida<strong>de</strong> física e mental do acadêmico.<br />

Não que seja necessário ser conhecedor inquestionável da neurologia, fisiologia e áreas afins<br />

da medicina, mas também não se <strong>de</strong>ve limitar a aprendizagem do <strong>aluno</strong> em seu potencial criador e<br />

ativida<strong>de</strong>s estéticas, por não conhecer as singularida<strong>de</strong>s do mesmo, do contrário pe<strong>de</strong>-se que este<br />

<strong>professor</strong> tenha o conhecimento do quadro <strong>de</strong> seu <strong>aluno</strong> justamente para saber qual a área limítrofe<br />

não para focá-la erroneamente e sim para estimulá-la a superação.<br />

Embora afirme-se pelo estigma do senso <strong>com</strong>um que <strong>aluno</strong>s <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência não são<br />

incapazes <strong>de</strong> muitos afazeres, ainda têm <strong>professor</strong>es atuantes nas aulas <strong>com</strong> <strong>aluno</strong>s <strong>de</strong>ficientes, que<br />

quando questionados sobre sua perpétua metodologia <strong>de</strong> aula respon<strong>de</strong>m que seus <strong>aluno</strong>s “não<br />

apren<strong>de</strong>m coisas <strong>com</strong>plexas”... Afirmações <strong>de</strong> tal tipo são <strong>de</strong> causar consternação <strong>ao</strong>s que <strong>de</strong> fato<br />

preocupam-se <strong>com</strong> o rendimento e conquistas dos <strong>aluno</strong>s <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiências, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> quais<br />

sejam elas.<br />

Certamente não <strong>de</strong>ve-se agir <strong>de</strong> forma insensata ignorando os sintomas emitidos pelos<br />

próprios <strong>aluno</strong>s quando sentem dificulda<strong>de</strong>s ocasionadas pelas <strong>de</strong>ficiências por ele enfrentadas,<br />

mas sem dúvida <strong>de</strong>ve haver boa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os docentes envolvidos <strong>com</strong> tal público <strong>de</strong><br />

melhorarem sempre e estarem sensíveis.<br />

Como em todo grupo social, existe sempre em sala <strong>de</strong> aula afinida<strong>de</strong> entre os membros e<br />

ausência <strong>de</strong>la, portanto, é <strong>de</strong> se esperar também que em algumas ativida<strong>de</strong>s coor<strong>de</strong>nadas pelo<br />

<strong>professor</strong>, um <strong>aluno</strong> não queira trabalhar em equipe <strong>com</strong> o outro, não importando se ambos tenham<br />

a mesma <strong>de</strong>ficiência ou não (é importante colocar que refere-se aqui <strong>ao</strong> relacionamento <strong>de</strong> <strong>aluno</strong>s<br />

<strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiências e não menciona-se preconceito e sim falta <strong>de</strong> empatia mesmo). Neste caso o<br />

<strong>professor</strong> tem <strong>de</strong> conciliar a aula e facilitar o convívio entre os indivíduos, agindo <strong>de</strong> várias<br />

maneiras <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da situação. O importante é que os <strong>aluno</strong>s aprendam o conteúdo e<br />

mutuamente respeitem-se.


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Um dos objetivos <strong>de</strong> toda organização do <strong>professor</strong> está para que o <strong>aluno</strong> <strong>de</strong>senvolva sua<br />

<strong>com</strong>petência estética, também citada nos parâmetros curriculares nacionais, no quesito arte, que os<br />

<strong>aluno</strong>s sejam capazes <strong>de</strong>: “Expressar e saber <strong>com</strong>unicar-se em arte mantendo uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> busca<br />

pessoal e/ou coletiva, articulando a percepção, a imaginação, a emoção, a sensibilida<strong>de</strong> e a reflexão<br />

<strong>ao</strong> realizar e fruir produções artísticas” (BRASIL,1997, p.53).<br />

Este mesmo <strong>professor</strong> <strong>de</strong>para-se <strong>com</strong> <strong>aluno</strong>s <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiências que têm uma distorção<br />

<strong>de</strong>smedida sobre si e suas capacida<strong>de</strong>s, uns subestimam-se em <strong>de</strong>masia e inibem-se, outros<br />

<strong>de</strong>stacam-se em posição antagônica. As vezes o <strong>aluno</strong> <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência física em aulas <strong>de</strong> <strong>dança</strong> não<br />

dispõe-se <strong>com</strong> facilida<strong>de</strong> para o trabalho corporal, isto por inúmeros motivos <strong>com</strong>o o <strong>de</strong> <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong><br />

e serieda<strong>de</strong> física mesmo ou <strong>com</strong>o o <strong>de</strong> couraças musculares, apresentadas pela teoria reichiana*.<br />

Entretanto, a inferiorida<strong>de</strong> em relação a lo<strong>com</strong>oção <strong>de</strong>certo po<strong>de</strong> ser superada quando o <strong>professor</strong><br />

_________<br />

*Wilhelm Reich afirmava que é através do corpo que o homem se expressa. Este influenciou gran<strong>de</strong>mente o estudo<br />

sobre o corpo e sua interligação <strong>com</strong> o psicológico humano e aponta as couraças <strong>com</strong>o bloqueios psíquicos e<br />

musculares, sendo a soma <strong>de</strong> um meio recalcador <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa.<br />

assiste este <strong>aluno</strong>, quando outros <strong>aluno</strong>s o envolvem nas ativida<strong>de</strong>s e principalmente quando este<br />

<strong>aluno</strong> dá espaço para si mesmo aceitando-se, movendo-se e <strong>de</strong>ixando-se ser tocado, mas para<br />

ocorrerem dada evolução, nestes casos, o <strong>professor</strong> sempre funciona <strong>com</strong>o mediador.<br />

Por isso este <strong>professor</strong> <strong>de</strong>ve estar pronto para consi<strong>de</strong>rar seu <strong>aluno</strong> não pela óptica dualista<br />

cuja visa a mente separada do corpo, mas consi<strong>de</strong>rá-lo holisticamente, assim <strong>com</strong>o Aristóteles<br />

quando afirma que o corpo físico é indissociado da razão e da emoção (BOCK, 2001).<br />

O <strong>professor</strong> <strong>de</strong>ve apontar nos <strong>aluno</strong>s suas emoções, aspectos físicos e cognitivos, pois estes<br />

pormenores afetam consi<strong>de</strong>ravelmente no rendimento do <strong>aluno</strong> durante as aulas. Logo, enten<strong>de</strong>-se<br />

que este <strong>professor</strong> precisa dominar suas emoções e atitu<strong>de</strong>s a serem dirigidas <strong>ao</strong>s seus <strong>aluno</strong>s <strong>com</strong><br />

<strong>de</strong>ficiências. Uma palavra mal proferida e <strong>de</strong> entonação irregular para <strong>de</strong>terminadas situações<br />

po<strong>de</strong>m significar muito para estimular positivamente a interação do <strong>aluno</strong> <strong>com</strong> o meio ambiente.<br />

O conhecimento sobre a estirpe do <strong>aluno</strong> e da <strong>de</strong>ficiência que o cerca <strong>de</strong>ve sempre ser<br />

motivo para que o <strong>professor</strong> sempre questione e busque melhor posicionamento sobre o tema,<br />

indagando-se: “Que tipos <strong>de</strong> <strong>aluno</strong>s <strong>com</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>educativa</strong> especial po<strong>de</strong>m aparecer na sala?”,<br />

“<strong>com</strong>o ministra-se <strong>ao</strong> <strong>aluno</strong> <strong>de</strong>ficiente mental, ou <strong>ao</strong> cego, <strong>ao</strong> surdo, <strong>ao</strong> ca<strong>de</strong>irante?”. Tais dúvidas<br />

nem sempre têm um manual explicativo sobre <strong>com</strong>o o <strong>professor</strong> <strong>de</strong>ve proce<strong>de</strong>r, mas já são um bom<br />

<strong>com</strong>eço para que ele anele por respaldo teórico e encontre muitas vezes suas respostas na própria<br />

sala <strong>de</strong> aula.


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A TRAJETÓRIA DO PROFESSOR<br />

Quanto a trajetória do <strong>professor</strong> para finalmente chegar <strong>ao</strong> amadurecimento po<strong>de</strong>-se afirmar<br />

que ele enfrenta muitas situações agradáveis e <strong>de</strong>sagradáveis para o alcance <strong>de</strong> sua experiência. Este<br />

<strong>professor</strong> nunca será portador do conhecimento pleno sobre a docência <strong>com</strong> <strong>aluno</strong>s especiais e<br />

estará crescendo continuamente em cada sala <strong>de</strong> aula, cada turma nova representará um <strong>de</strong>safio e<br />

exigirá novas informações.<br />

É uma área educacional que tem sido renovada e reestruturada constantemente, na região<br />

Norte, impõe disponibilida<strong>de</strong>, esforços e carece <strong>de</strong> <strong>professor</strong>es que <strong>de</strong> fato <strong>de</strong>diquem-se <strong>ao</strong> valor da<br />

docência <strong>com</strong> humilda<strong>de</strong>, persistência e humanida<strong>de</strong>, a fim <strong>de</strong> que possam representar uma melhora<br />

significativa na vida daquele que precisa <strong>de</strong> a<strong>com</strong>panhamento – o <strong>aluno</strong> <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência.<br />

São poucos <strong>professor</strong>es que integram-se a este campo, pois reconhece-se a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

trabalhar <strong>com</strong> o público <strong>com</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>educativa</strong> especial, <strong>com</strong>o por exemplo não saberem <strong>com</strong>o<br />

lidar <strong>com</strong> o sujeito, por terem receio <strong>de</strong> fracassar em sua missão, ou ainda por não apresentarem<br />

interesse algum pela área aqui <strong>de</strong>stacada, <strong>ao</strong> <strong>com</strong>eçar pelas envergaduras que o a<strong>com</strong>panham <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a época <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong>, nem sempre ele receberá estímulos na organização em que estuda para<br />

prosseguir <strong>com</strong> pesquisas na área, po<strong>de</strong>ndo ainda encontrar dificulda<strong>de</strong> nos locais <strong>de</strong> estágio. Tais<br />

circunstâncias po<strong>de</strong>m ocasionar a <strong>de</strong>sistência <strong>de</strong> atuar na área ou que po<strong>de</strong>m servir <strong>com</strong>o um<br />

<strong>de</strong>safio pessoal e estímulo para continuar e tornar-se um <strong>professor</strong> <strong>de</strong> educação especial.<br />

Embora as idéias aqui expressas tenham parecido um tanto negativas, não é interesse <strong>de</strong>ste<br />

texto pontuar somente o lado difícil da realida<strong>de</strong> do <strong>professor</strong> <strong>face</strong> <strong>ao</strong> <strong>aluno</strong> <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência, e sim<br />

buscou-se mostrar a situação por um prisma realista, a fim <strong>de</strong> que o graduando não embarque no<br />

trajeto <strong>com</strong> uma visão romântica e utópica. Entretanto, não po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> <strong>com</strong>unicar que os<br />

poucos que realmente optam pela continuida<strong>de</strong> e envolvimento <strong>com</strong> a educação especial querem<br />

fazer diferença no seu trabalho são re<strong>com</strong>pensados imensuravelmente pelo evoluir dos <strong>aluno</strong>s em<br />

suas maiores dificulda<strong>de</strong>s e superações próprias.<br />

A <strong>dança</strong> e a arte <strong>com</strong>o um todo é um excelente <strong>com</strong>ponente construtivo <strong>ao</strong>s que apresentam<br />

<strong>de</strong>ficiências, pois em gran<strong>de</strong> parte dos casos tais sujeitos apresentam-se limítrofes em sua interação<br />

e autonomia precisando então <strong>de</strong> auxílio <strong>de</strong> familiares e <strong>professor</strong>es a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolverem-se<br />

integralmente, sendo a aula <strong>de</strong> arte um meio para estimular as funções cognitivas, motoras e sociais<br />

dos <strong>aluno</strong>s.<br />

A gratidão dos <strong>aluno</strong>s é exposta por diferentes e pessoais maneiras, sejam pelo olhar, gestos<br />

e sorriso daquele que não fala, seja pelo progresso na motricida<strong>de</strong> daquele que não lo<strong>com</strong>ove-se


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facilmente, seja pelas mãos e palavras daquele que não enxerga, seja pela coor<strong>de</strong>nação pessoal<br />

daquele que é atrasado mentalmente. Há sempre uma re<strong>com</strong>pensa em cada <strong>aluno</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do<br />

jeito que é <strong>de</strong>clarado.<br />

Os acréscimos obtidos pelo <strong>aluno</strong> <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência após o contato <strong>com</strong> a arte, estão para alem<br />

<strong>de</strong>ste texto. O âmbito psi<strong>com</strong>otor <strong>de</strong> dado <strong>aluno</strong> é acrescido <strong>de</strong> funções mais coor<strong>de</strong>nadas e os<br />

relatos das melhorias são reconhecidas não apenas pelos <strong>aluno</strong>s, <strong>com</strong>o pelos seus familiares e<br />

<strong>de</strong>mais pessoas <strong>de</strong> seu circulo <strong>de</strong> convivência, pois o que eles apren<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>senvolvem na sala <strong>de</strong><br />

aula, transcen<strong>de</strong>m as quatro pare<strong>de</strong>s e alojam-se na vida <strong>de</strong>le.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Trassi. Psicologias:<br />

uma introdução <strong>ao</strong> estudo <strong>de</strong> psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001.<br />

BRASIL, Secretaria <strong>de</strong> Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte.<br />

Brasília, MEC/SEF, 1997.<br />

FONSECA, Vítor da. Educação Especial: programa <strong>de</strong> estimulação precoce – uma introdução as<br />

idéias <strong>de</strong> Fuerstein. 2.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.<br />

GOMES, E. S.; COSTA, M. Currículo e Cotidiano no Trabalho <strong>com</strong> a Diversida<strong>de</strong>: Metáforas<br />

Representativas do Professor <strong>de</strong> Educação Especial. In: MARQUEZINE, Maria Cristina. et al.<br />

(Org.). Capacitação <strong>de</strong> Professores e Profissionais para Educação Especial e suas concepções<br />

sobre inclusão. Londrina: Eduel, 2003.<br />

KASSAR, Mônica <strong>de</strong> Carvalho Magalhães. Deficiência Múltipla e Educação no Brasil: discurso<br />

e silêncio na história <strong>de</strong> sujeitos. São Paulo: Autores Associados. 1999.<br />

MOYSÉS, Lúcia. A auto-estima se constrói passo a passo. 4. ed. São Paulo: Papirus, 2001.<br />

(Coleção Papirus Educação).<br />

OMOTE, Sad<strong>ao</strong>. A Concepção <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência e formação profissional em educação especial. In<br />

MARQUEZINE, Maria Cristina; (et al). (orgs.). Perspectivas Multidisciplinares em Educação<br />

Especial II. Londrina: Eduel, 2001.

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