JEFFERSON AIRPLANE Marcus Vinícius Marcelini I found her in the alley the desolation road. Ela é formada em letras e dá aula em cursinhos de inglês, o mundo manda um rugido a todo momento e não sei como a vida me fez, esse moleque diz que já viu tudo no auge dos seus treze anos cospe com um cachimbo na mão. Ela dá aulas de inglês e guarda a cerveja preta que lhe dei, ouço seus passos ainda na chuva pernas pelo bar, esse moleque que viu tudo diz que a viu passar, tenho três palavras que não me saem da cabeça e uma intangibilidade em pronunciá-las quero essa cerveja preta essa minha preta preta beijando um hash ao luar. REVISTA 52 BEATBRASILIS
SOLIDÃO Mateus Marcelini cinco da matina. chego em casa sozinho, sento no sofá, acendo um cigarro. as luzes apagadas. as pernas dela ainda estão marcadas no fundo dos meus olhos, e pra onde quer que eu olhe lá elas estão, a se cruzar, chegando à divisão da bunda coberta pelo short jeans, do tamanho da mão. eu sei que ela é como eu, como você, e nesse momento deve estar em sua cama, sozinha, agarrada ao cobertor, ou abraçada ao travesseiro, sonhando com alguma coisa. eu só precisava saber com o que. eu só precisava dizer alguma coisa. eu só precisava me aproximar lentamente de sua boca. a mão puxando pelo braço. a outra no rosto, talvez. e meus amigos com suas namoradas, seus casos de alguns dias, suas putas, ou suas garrafas na mão. o cachorro do estacionamento atrás do prédio não pára de latir, ele não tem culpa, todas as noites latindo sem fim, é só o que se ouve na rua deserta, seu latido sem fim, até que alguém jogue pelo portão sua última refeição, e na noite seguinte não se ouça mais o latido solitário do cachorro sem fim. os homens querem silêncio em seu sono descanso merecido. pois que tenham seu silêncio, e que façam sua refeição pela manhã, enxaguem o rosto, coloquem aquela roupa de trabalho, e façam o que tiverem de fazer, sejam senhor sejam escravo, sejam patrão ou funcionário. as pernas dela eram brancas quase rosadas, e minha fome cresce a cada dia. minha vida some a cada instante, nos pêlos que crescem no meu rosto e em tudo o que eu planejo um dia fazer. incluindo todas as pernas que já estiveram deitadas em minha cama, REVISTA 53 BEATBRASILIS pelas quais meus dedos corriam de madrugada. eu nunca consegui dormir ao lado de uma mulher. você pode imaginar os motivos. eu nunca fiz psicanálise. mas como sonham essas mulheres. como respiram fundo, com seus peitos de variados tamanhos se expandindo e retrocedendo, seus narizes de formatos diversos soltando e puxando ar, assoviando em tons agudos. os olhos fechados. como são belas as mulheres quando dormem. e até no momento em que acordam, serenas e calmas, complacentes, a beleza do sono ainda resta em seus olhos semi-abertos e em seus movimentos lentos. depois do sexo, parecem esquecer suas angústias de mulher e simplesmente respirar. mas a solidão nos chama de volta como a mulher mais fiel e a primeira, mítica companheira. tão sutil, tão rasteira, ela não bate na porta, não liga nem manda mensagens. quando você menos espera, ela está deitada ao seu lado, com as pernas cruzadas, e você não consegue parar de olhar para elas. as pernas brancas no fundo dos olhos. as pernas brancas que já foram morenas, que já foram bundas, cabelos, bocetas, bocas e olhos, já foram pés delicados. cinturas e vozes. pescoço quente com cheiro de criança. e ela estava me esperando aquela noite, numa encruzilhada, eu vi, mas não foi dessa vez. ela até se vestiu com a roupa que eu gosto, aquele vestido preto curto, mas não foi dessa vez. ela espera o dia que eu seja só dela, mas não foi dessa vez. eu ainda resisto, respirando, e ela deitada com a cabeça sobre as minhas pernas, me olhando nos olhos, as pernas brancas cruzadas ao longo do sofá, mas ela sabe que amanhã eu posso me dar bem, e posso não voltar. ela sabe, e deve ter colocado alguma coisa no meu copo, pra me fazer dormir, me puxando pelo colarinho, me beijando no rosto, eu me deito sem medo, e sei que ela não vai me deixar ir pro trabalho... que se dane. hoje a noite é dela.
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