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Em Busca da Cidadania - 1 - Merlinton Braff

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<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 1


EM BUSCA DA CIDADANIA<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 2


MERLINTON JOÃO BRAFF<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong><br />

CIDADANIA<br />

CIDADANIA É EVOLUÇÃO SOCIAL<br />

IDÉIAS, PROPOSTAS E UM GRANDE DESEJO<br />

DE OBSERVAR AJUSTES DE CONDUTA<br />

E DE CULTURA POPULAR<br />

PARA QUE A CIDADANIA SEJA MAIS PROVEITOSA,<br />

PARTICIPATIVA E COMUM.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 3


Copyright © 2006 by <strong>Merlinton</strong> João <strong>Braff</strong><br />

Capa<br />

MERLINTON JOÃO BRAFF<br />

Tela "Olá"<br />

Coordenador Executivo<br />

NICANOR COELHO<br />

Coordenador Editorial<br />

CARLOS MAGNO MIERES AMARILHA<br />

Editor Junior e Projeto Gráfico<br />

LUCIANO SERAFIM<br />

Impressão e Acabamento<br />

GRÁFICA ESTRELA<br />

(67) 3427-0111<br />

ISBN<br />

85-98598-27-5<br />

978-85-98598-27-7<br />

Todos os direitos desta edição reservados por<br />

Rua Nelson de Araújo, 436 casa 04<br />

Centro<br />

Caixa Postal 475<br />

Dourados, MS<br />

CEP 79840-170<br />

Telefones: (67) 9238-0022 e 3423-0020<br />

Internet:<br />

www.nicanorcoelhoeditor.com.br<br />

www.arandunews.com.br<br />

www.literaturanews.com.br<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 4


Agradecimentos<br />

Às enti<strong>da</strong>des que permitiram a minha existência aqui e agora, aos meus genitores<br />

que contribuíram para que assim fosse, à queri<strong>da</strong> Nélsia pela sua paciência, aos filhos<br />

Nélinton e Lícia por me encherem de orgulho e não me causarem preocupações, aos<br />

meus netos e netas pelo amor e esperança. Aos mestres, aos alunos e aos colegas, todos<br />

partícipes do meu engajamento na peregrinação em busca <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 5


ÍNDICE<br />

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 9<br />

POLÍTICA E CIVISMO ............................................................................................... 11<br />

REPÚBLICA..................................................................................................................... 11<br />

Discussão <strong>da</strong> Reeleição ...................................................................................................................... 11<br />

Responsabili<strong>da</strong>de Fiscal ..................................................................................................................... 12<br />

As Reformas ....................................................................................................................................... 14<br />

DEMOCRACIA ................................................................................................................ 16<br />

Democracia Subdesenvolvi<strong>da</strong> ............................................................................................................ 16<br />

Relativi<strong>da</strong>de Democrática .................................................................................................................. 18<br />

Alternância do Governo ..................................................................................................................... 19<br />

Procuração Obrigatória...................................................................................................................... 20<br />

Militância Política .............................................................................................................................. 22<br />

SOCIOLOGIA .................................................................................................................. 24<br />

Iluminismo ......................................................................................................................................... 24<br />

Esquer<strong>da</strong>, Direita ............................................................................................................................... 25<br />

A Revolução ....................................................................................................................................... 27<br />

Marx/Engels ....................................................................................................................................... 29<br />

Revisionismo Às Avessas .................................................................................................................... 29<br />

Atualização do Esquerdismo .............................................................................................................. 30<br />

Utopia e Dialética .............................................................................................................................. 31<br />

Dissuasão <strong>da</strong> Utopia .......................................................................................................................... 33<br />

Comunismo ........................................................................................................................................ 35<br />

ENGODO HISTÓRICO ...................................................................................................... 38<br />

Luta de Classes ................................................................................................................................... 38<br />

Classe Dominante .............................................................................................................................. 40<br />

O Bolo Brasileiro ................................................................................................................................ 42<br />

ÉTICA ..................................................................................................................... 44<br />

RESPONSABILIDADE SOCIAL ........................................................................................... 44<br />

Merecimento ..................................................................................................................................... 44<br />

Privilégios ........................................................................................................................................... 46<br />

Terra Selvagem .................................................................................................................................. 48<br />

IMPARCIALIDADE NA OBSERVAÇÃO, .............................................................................. 53<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 6


SISO NA INTERPRETAÇÃO ............................................................................................... 53<br />

Errando e Aprendendo ...................................................................................................................... 53<br />

A Ver<strong>da</strong>de Por Trás dos Fatos ............................................................................................................ 55<br />

Direitos a Quem Merecer .................................................................................................................. 56<br />

Pobreza e Riqueza.............................................................................................................................. 58<br />

VAZAMENTO DO AMEALHADO ....................................................................................... 61<br />

Um Bode Que Carregue a Culpa ........................................................................................................ 61<br />

O Caminho Do ‘Rombo' ..................................................................................................................... 62<br />

Legalizando a Discriminação .............................................................................................................. 65<br />

Aposentadoria Mecânica ................................................................................................................... 66<br />

Aposentadoria Ativa .......................................................................................................................... 67<br />

IDENTIDADE COLETIVA ........................................................................................... 69<br />

CULTURA ....................................................................................................................... 69<br />

A Cultura na Quali<strong>da</strong>de de Vi<strong>da</strong> ......................................................................................................... 69<br />

Incentivo à Arte ................................................................................................................................. 70<br />

O Bicho Homem ................................................................................................................................. 71<br />

O Apetite ............................................................................................................................................ 73<br />

URBANOFILIA ................................................................................................................ 75<br />

O Santuário ........................................................................................................................................ 75<br />

Mu<strong>da</strong> Brasil! ....................................................................................................................................... 77<br />

Ci<strong>da</strong>dão e Semelhante ....................................................................................................................... 79<br />

Denominar "É Preciso" ...................................................................................................................... 80<br />

Rua Pastor <strong>Braff</strong> ................................................................................................................................. 81<br />

HISTÓRIA SINCERA ......................................................................................................... 84<br />

O Exagero e o Boato .......................................................................................................................... 84<br />

Rigor No Relato, Tolerância Na Discussão ......................................................................................... 85<br />

SEGURANÇA PÚBLICA ............................................................................................. 87<br />

DIREITO ......................................................................................................................... 87<br />

Legali<strong>da</strong>de .......................................................................................................................................... 87<br />

Discriminação .................................................................................................................................... 88<br />

Direito ao Sigilo e à Privaci<strong>da</strong>de ........................................................................................................ 90<br />

IDÉIAS SOBRE SEGURANÇA ............................................................................................. 92<br />

Bandido ou Mocinho ......................................................................................................................... 92<br />

Convivendo com o Perigo .................................................................................................................. 94<br />

A Caça Farta e Fácil ............................................................................................................................ 95<br />

Os Alienígenas nos Atacam ................................................................................................................ 97<br />

IMPUTABILIDDE GRADUAL ............................................................................................. 98<br />

Bandidinho ......................................................................................................................................... 98<br />

Tudo ou Na<strong>da</strong> .................................................................................................................................... 99<br />

O Cálculo <strong>da</strong> Responsabili<strong>da</strong>de ........................................................................................................ 100<br />

Penali<strong>da</strong>des ...................................................................................................................................... 102<br />

Trabalho Gratuito ............................................................................................................................ 103<br />

Os Imprestáveis ............................................................................................................................... 105<br />

Sugestões ......................................................................................................................................... 106<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 7


<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 8


INTRODUÇÃO<br />

As diversas nações cotejam-se atualmente pelas vias <strong>da</strong> globalização. Elas<br />

apresentam contrastes de diversos tipos: um povo exibe incríveis dispari<strong>da</strong>des de poder<br />

aquisitivo na sua composição social, com grande prosperi<strong>da</strong>de de alguns indivíduos<br />

enquanto a maioria sobrevive na marginali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> miséria; outro povo apresenta<br />

razoável uniformi<strong>da</strong>de na distribuição de ren<strong>da</strong>, mas quase não há prosperi<strong>da</strong>de; existe<br />

povo próspero que também tem os seus mendigos — voto de pobreza? Acredito que<br />

mesmo entre os povos afortunados exista quem cultive a ‘ideologia <strong>da</strong> mendicância', são<br />

aqueles que exigem o amor do próximo, porém são egoístas ou não entendem de<br />

reciproci<strong>da</strong>de, já que preferem uma vi<strong>da</strong> miserável a produzir algo em benefício alheio.<br />

Mas entre os povos prósperos e evolucionais a população geral se enquadra no sistema<br />

de capitalismo democrático e abomina a anarquia e a barbaria. A comuni<strong>da</strong>de funciona<br />

como uma grande cooperativa. Os engajados na socie<strong>da</strong>de participativa assumem a<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia com os respectivos direitos e obrigações, onde ca<strong>da</strong> um deseja integrar-se<br />

ativa e soli<strong>da</strong>riamente ao invés de excluir-se e marginalizar-se.<br />

Feliz é o país em que ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dão pretende participar na construção, na produção, no<br />

consumo, no desfrute, e nas vantagens conquista<strong>da</strong>s pela Ciência. O ci<strong>da</strong>dão é patriota,<br />

produtivo e contribuinte do erário. Por isso tem o direito de ser atendido com saúde, educação,<br />

consumo, conforto, lazer, comunicação, esporte, cultura, organização e segurança. Esses<br />

benefícios são a contraparti<strong>da</strong> pela sua participação e contribuição. Tanto os produtores de<br />

mercadorias como os operários, os funcionários, consultores, os clientes, etc. são todos<br />

contribuintes de diversos impostos e taxas. A soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de de quem pode contribuir leva-o a<br />

concor<strong>da</strong>r com a extensão dos seus direitos aos que não têm capaci<strong>da</strong>de contributiva, a menos<br />

que estejam empregando suas habili<strong>da</strong>des em prejuízo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 9


O ver<strong>da</strong>deiro ci<strong>da</strong>dão solidário e responsável não se deixa seduzir pela ideologia<br />

dos falsos líderes que pretendem construir os seus redutos e currais sobre o<br />

assistencialismo demagógico, esbanjando o erário no sustento de quem prefere manter-<br />

se na baixa ren<strong>da</strong>, somente para receber aju<strong>da</strong> em troca de compromissos eleitoreiros.<br />

Conheço uma nação cujos dirigentes são insaciáveis na parceria com os dirigidos<br />

e por isso, os tributos retirados por ano para sustentar o serviço público além dos juros,<br />

<strong>da</strong>s burocracias, oligarquias, mordomias, chegam quase à metade de todo o produto<br />

nacional bruto do mesmo período. Suponho que sacrificam o poder de produção dos<br />

contribuintes para fazer ‘cari<strong>da</strong>de' junto aos miseráveis e às ‘minorias' entre elas os que<br />

se acomo<strong>da</strong>m na condição de ‘parasitas e sanguessugas', bem como aos criminosos que<br />

exigem os direitos ‘humanos' em troca de cumplici<strong>da</strong>de em produto de crimes e até na<br />

disputa pelo voto. Entre outros fatores, isso causa grande insatisfação porque mantêm o<br />

eterno subdesenvolvimento.<br />

A eficiência arreca<strong>da</strong>dora não soluciona o descumprimento <strong>da</strong>s obrigações dos<br />

administradores para com os administrados (que em última análise deviam ser<br />

considerados como man<strong>da</strong>ntes porque votam e porque custeiam os man<strong>da</strong>tários eleitos)<br />

antes garante a festa dos desvios fraudulentos. Comparando em termos de saúde, eu<br />

diria que um parasito deveria pelo menos ter a parcimônia de alimentar-se sem<br />

provocar a anemia do hospedeiro, pois assim garantiria a continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> sua<br />

subsistência.<br />

Procuro criticar as instituições e os procedimentos com muito remorso e tristeza.<br />

Não estou condenando ou debochando, estou apenas procurando definir e equacionar<br />

problemas para que surjam soluções, porque acredito que a sina ou destino é produto e<br />

resultado do que pensamos e fazemos.<br />

Apresento aqui as minhas opiniões, as quais você, leitor, pode adotar, contanto<br />

que cite a fonte, ou remodelar segundo as suas próprias convicções.<br />

Dourados, MS, 20 de agosto de 2006.<br />

O autor<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 10


POLÍTICA E CIVISMO<br />

REPÚBLICA<br />

Discussão <strong>da</strong> Reeleição<br />

Durante a campanha do plebiscito de 21/04/1993 para a escolha do sistema de<br />

governo brasileiro, foram amplamente demonstra<strong>da</strong>s as vantagens do governo fixo em<br />

comparação com o governo de rodízio - sistemas monárquicos e republicanos.<br />

Na república em que ca<strong>da</strong> eleito tem quatro anos de prazo para aproveitar-se <strong>da</strong><br />

condição de dono <strong>da</strong> situação, só os ingênuos fazem um governo sério e de boa fé. A<br />

‘regra' é tirar o maior proveito <strong>da</strong> chance, e tentar se estabelecer como preferido. Para<br />

isso será necessário muito cacife, o que não é difícil. Quanto mais explorar (ou espoliar)<br />

o Estado, mais ingovernável ele se torna para o man<strong>da</strong>tário seguinte, o que resulta<br />

extremamente interessante: com um ‘péssimo’ sucessor, o povo terá sau<strong>da</strong>de do<br />

malandro ‘empreendedor' e cairá na cantilena demagógica sem capaci<strong>da</strong>de de refletir<br />

sobre motivos complicados contentando-se com a evidência de que "Roubou, mas fez".<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 11


Na ótica do demagogo safado, o negócio é evitar os gastos de manutenção (deixa<br />

as aparelhagens, viaturas, imóveis, etc. em pan<strong>da</strong>recos para o seguinte) porque assim ele<br />

terá alguns anos com o que se ocupar, antes de começar a competir (fazer algo que<br />

apareça); não apronta obras que divulguem nome de adversário e quando no final do<br />

man<strong>da</strong>to estiver com alguma obra sua pela metade, arrisca pintar a facha<strong>da</strong> com o seu<br />

sobrenome e inaugura. Assim o sucessor poderá ficar malvisto se não fizer funcionar,<br />

porque o povo pensará que o monumento ficou pronto para funcionar, mas está<br />

faltando "vontade política", e não examinará o tamanho do investimento necessário ao<br />

acabamento.<br />

Diziam os monarquistas que no Sistema Monárquico o rei sente-se responsável<br />

perpétuo pelo bem-estar dos súditos e pela segurança do patrimônio público; não<br />

depende de explorá-los ou sugar-lhes as forças para perpetuar-se, mas sim de mantê-los<br />

sempre em boas condições produtivas. Citavam países prósperos cujos sistemas de<br />

governo continuam monárquicos. Os monarquistas se evadiam <strong>da</strong> armadilha de um<br />

possível ‘monarca-desqualificado', dizendo que ele seria preparado desde o nascimento,<br />

mas se mesmo assim não prestasse, "poderia" ser substituído.<br />

O Brasil em seus diversos níveis de governo (federal, estadual e municipal), já<br />

vive sob um regime em que os governantes "são donos" apenas temporariamente, sem o<br />

temor <strong>da</strong> permanência de um man<strong>da</strong>tário despreparado, pois "pode" ser substituído,<br />

mesmo antes de completar o man<strong>da</strong>to. No entanto a latência <strong>da</strong> transitorie<strong>da</strong>de é um<br />

irresistível fator de irresponsabili<strong>da</strong>de do eleito em relação ao estado em que deixará o<br />

Estado para seu sucessor. Se o man<strong>da</strong>tário seguinte pudesse ser ele mesmo (caso de<br />

reeleição) então sua atitude administrativa seria muito diferente. Não destruiria a<br />

governabili<strong>da</strong>de porque isso seria criar dificul<strong>da</strong>des terríveis para si próprio. <strong>Em</strong> vez de<br />

prejudicar milhões de pessoas com o intuito de atrapalhar um suposto adversário,<br />

preservaria o interesse geral visando o seu próprio.<br />

Responsabili<strong>da</strong>de Fiscal<br />

Até entrar em cogitação uma lei estabelecendo os parâmetros de dispêndio e<br />

endivi<strong>da</strong>mento para obrigar os administradores do patrimônio público a limitarem suas<br />

megalomanias dentro <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, restringirem suas realizações conforme o alcance <strong>da</strong>s<br />

possibili<strong>da</strong>des orçamentárias, a maioria dos estados e municípios brasileiros seguia<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 12


festivamente uma velha rotina rumo ao desastre. Logo o Brasil, país-continente, que<br />

dispõe <strong>da</strong>s melhores condições físicas, geográficas e humanas para se tornar autosuficiente.<br />

O sistema de governo republicano, não permitia que em final de man<strong>da</strong>to<br />

alguém pudesse candi<strong>da</strong>tar-se ao man<strong>da</strong>to seguinte. Por isso, no intuito de garantir a<br />

alternância, pegar quatro anos de ‘descanso' e voltar ao poder no período seguinte, os<br />

man<strong>da</strong>tários <strong>da</strong> vez cumpriam os dois primeiros anos numa penúria, alegando a dívi<strong>da</strong><br />

her<strong>da</strong><strong>da</strong>, como também para fazer caixa, e mesmo porque os dois primeiros anos do<br />

período são logo esquecidos, diante <strong>da</strong> pujança administrativa dos dois anos seguintes,<br />

quando "deslanchavam" obras mirabolantes, renúncia fiscal, esbanjamento de bon<strong>da</strong>de<br />

aos apadrinhados e até aos adversários políticos, tendo como objetivo o máximo de<br />

endivi<strong>da</strong>mento e sucateamento, comprometendo a governabili<strong>da</strong>de do man<strong>da</strong>to<br />

seguinte. O povo (os eleitores) comparava e sentia sau<strong>da</strong>de do homem de "visão<br />

administrativa".<br />

Depois que saiu a permissão de candi<strong>da</strong>tura em segundo man<strong>da</strong>to imediato, a<br />

gastança já crescera tanto que muitos estados e municípios tinham apenas a folha de<br />

pagamentos superior ao total <strong>da</strong> receita, impedindo autonomia para as despesas<br />

ordinárias de manutenção, conservação e atualização de tudo aquilo que depende <strong>da</strong>s<br />

vontades políticas. Geralmente proliferavam os "elefantes brancos" (obras faraônicas,<br />

inicia<strong>da</strong>s por governante anterior) que atestavam a irracionali<strong>da</strong>de do desperdício.<br />

A gastança não podia ser acudi<strong>da</strong> pelo aumento dos impostos, porque já estavam<br />

passando dos limites aceitáveis e porque havia anistias de fim de man<strong>da</strong>to, para os<br />

contribuintes/eleitores "inadimplentes".<br />

Enquanto a política permanecia nessas delongas, chegou o tempo de<br />

globalização, quando o mundo ficou pequeno diante <strong>da</strong> rapidez <strong>da</strong>s comunicações,<br />

escancarando a situação precária <strong>da</strong> economia brasileira, obrigando-nos ao vexame do<br />

monitoramento do FMI.<br />

Para ser bonzinho perante a cobiça estrangeira e para cativar a complacência dos<br />

credores, o Brasil esteve fazendo a liqui<strong>da</strong>ção do patrimônio público, vendendo as<br />

empresas estatais, inclusive estratégicas como as de interesse comunitário, vendendo<br />

para empresas estrangeiras e multinacionais que agora importam matéria prima e até<br />

serviços, a preços superfaturados e exportam para suas matrizes o produto a preços<br />

subfaturados, aumentando a evasão de divisas.<br />

Hoje (ano 2000) a dívi<strong>da</strong> declara<strong>da</strong> do Brasil (interna e externa) é 50% de tudo<br />

que o nosso país consegue produzir durante um ano. Se pagarmos 18% ao ano de juros<br />

reais, teremos uma despesa anual de 9% de tudo que produzimos. Necessitaríamos que o<br />

PIB crescesse 9% ao ano para não regredir. Se a nossa recessão não escan<strong>da</strong>liza, é por ser<br />

camufla<strong>da</strong> pelo crescente endivi<strong>da</strong>mento financeiro. Quem duvi<strong>da</strong>r, procure saber qual<br />

a proporção do nosso PIB que se esvai em juros, para saber se existe crescimento real.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 13


Outra comparação importante é a que diz respeito ao Orçamento. Com os juros<br />

nas alturas, as receitas governamentais são sempre insuficientes, faltando margem até<br />

para a manutenção do serviço público. Investimento então somente uma miséria em<br />

ano eleitoral. Na hora de votar o Orçamento, parece viável, mas na hora de aplicar, os<br />

cortes são contundentes, inviabilizando quase tudo.<br />

A Lei de Responsabili<strong>da</strong>de Fiscal tem que ser implanta<strong>da</strong> e respeita<strong>da</strong>.<br />

Lamentavelmente tardia, mas imprescindível para vislumbrarmos um futuro promissor,<br />

embora remoto.<br />

O Brasil tem solução. Quem não tem jeito são as nossas lideranças, se<br />

continuarem brincando com coisa séria.<br />

As Reformas<br />

É desagradável ocupar-me de um assunto constrangedor, principalmente<br />

quando envolve autori<strong>da</strong>des de quem eu gostaria de me ufanar. Mas não posso calar-me<br />

diante <strong>da</strong> iminência de ver os grandes equívocos degra<strong>da</strong>rem as instituições.<br />

Reformar pode ser a troca de uma instituição envelheci<strong>da</strong> pelos maus tratos, por<br />

outra que só não se degradou ain<strong>da</strong> por estar na fase de implantação. Antes que um bom<br />

sistema chegue a ser bem compreendido, trocam por outro mais fácil de entender.<br />

Os governantes geralmente aspiram ser autores ou reformadores de instituições,<br />

visando impor a marca pessoal. Se não são mais sábios do que os reformadores<br />

anteriores, vão apenas satisfazer o próprio egoísmo e arrogância.<br />

Quando os possíveis investidores estrangeiros batem palmas para as promessas<br />

de reforma do Brasil, estão a supor que assim vamos corrigir algo que julgam primitivo e<br />

mal arranjado ou desorganizado, portanto vamos ficar mais civilizados. A ‘ordem'<br />

brasileira pode até estar escassa do lado de fora <strong>da</strong> nossa bandeira, mas a trava do nosso<br />

progresso vem mais <strong>da</strong> desonesti<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> corrupção, <strong>da</strong> falta de patriotismo do que <strong>da</strong><br />

incompetência organizacional. Quando os nossos deputados e senadores são<br />

condescendentes com a desonesti<strong>da</strong>de de alguns dos seus pares, não é por burrice,<br />

desordem ou incompetência. É por má fé e cumplici<strong>da</strong>de mesmo.<br />

Boas reformas são necessárias na Segurança Pública, com punição mais severa a<br />

alguns policiais traidores, que se vendem para os bandidos; assim como os covardes que<br />

se julgam valentes ao espancarem aqueles que já estão sob custódia, como se isso fosse<br />

diversão.<br />

Quando as autori<strong>da</strong>des se sentem ameaça<strong>da</strong>s pelo banditismo, exclamam "lugar<br />

de bandido é na cadeia!", mas logo que o pavor passa, a escala<strong>da</strong> do crime continua<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 14


assustadora. Ca<strong>da</strong> vez que presenciamos aqueles desabafos ficamos na esperança de que<br />

‘agora é p'ra valer' e continuamos na mesma mansidão.<br />

Precisam de reforma alguns juizes que aceitam cálculos que ‘atualizam' valores<br />

em que um pão de ontem vale um caminhão de hoje; outros que aceitam a defesa de<br />

criminosos na sonegação de impostos legítimos, concedendo liminar; outros ain<strong>da</strong><br />

vendem habeas-corpus para o ‘crime organizado', acumpliciando-se. Já vimos caso de<br />

autori<strong>da</strong>de judiciária angariar ‘recursos' a partir de direitos alheios, enquanto os<br />

legítimos interessados permaneciam na esperança. Não é com satisfação que ouvimos o<br />

propósito de ser criado um controle externo do Poder Judiciário, mas diante de tantos<br />

desvios, torna-se aceitável. O que parece uma certeza é que nenhum humano merece<br />

plena confiança a ponto de ser autorizado a brincar de deus acima de qualquer suspeita<br />

e livre de crítica ou de denúncia. É por isso que devemos amparar a república<br />

democrática, em que os legisladores trabalham em prol de todos os eleitores e os meios<br />

de comunicação têm liber<strong>da</strong>de de noticiar as falcatruas.<br />

Sem generalizar, sabe-se que a grande maioria dos magistrados é gente boa e<br />

séria que arrisca a vi<strong>da</strong> ou tomba no cumprimento do dever; mas alguns não perdem<br />

uma oportuni<strong>da</strong>de de ‘descansar' do ofício e bancar o ‘esperto' quando se ‘compensam'<br />

agindo às avessas. São aqueles que escolheram o Direito para disfarçar o caráter torto.<br />

Existem normas do Direito que são conquistas <strong>da</strong> Civilização. Delas vertem leis<br />

pétreas que não podem ser mu<strong>da</strong><strong>da</strong>s por decreto. Como explicar a manobra de taxação<br />

dos inativos que já contribuíram até alcançar o direito do beneficio? Pagar outra vez?<br />

Precisamos reformar primeiro os nossos reformadores. Do contrário a reforma<br />

<strong>da</strong>s instituições sairá pareci<strong>da</strong> com eles.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 15


DEMOCRACIA<br />

Democracia Subdesenvolvi<strong>da</strong><br />

<strong>Em</strong> governo democrático o poder dos líderes emana de sua capaci<strong>da</strong>de de<br />

atender os interesses populares.<br />

Para gerir a coletivi<strong>da</strong>de, o povo escolhe aqueles que lhe parece mais se<br />

identificarem com as causas públicas, enquanto as grandes questões são resolvi<strong>da</strong>s<br />

consultando o povo em plebiscito depois de um debate em que as partes antagônicas<br />

tenham igual chance de manifestação.<br />

Até aí parece tudo certo com a Democracia, porém um povo muito atrasado e<br />

sem descortino necessita de alguém mais iluminado como líder, para a manutenção <strong>da</strong><br />

ordem social, justiça, segurança, saúde, educação, cultura, pesquisas, comércio,<br />

indústria, serviços, mei os de transporte e comunicação, relações internacionais,<br />

tributação e arreca<strong>da</strong>ção de impostos para o custeio <strong>da</strong> administração pública,<br />

observando a capaci<strong>da</strong>de contributiva em relação aos três governos: Municipal, Estadual<br />

e Federal; respeitando a harmonia dos setores produtivos de mercadorias e serviços.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 16


Tudo para uma convivência feliz e tranqüila e para encaminhar a nação rumo ao<br />

desenvolvimento.<br />

Um povo atrasado carece de algum bom administrador como gestor dos bens e<br />

interesses públicos, mas é raríssimo aquele que não misturaria os bens públicos com os<br />

próprios. Então precisa ser monitorado ou supervisionado por uma autori<strong>da</strong>de<br />

fiscalizadora. Mas quem fiscalizaria a fiscalização?<br />

Agora vamos supor que existe alguém com o perfil adequado: é inteligente,<br />

formação profissional apropria<strong>da</strong>, altruísta, nacionalista sem xenofobia; porém tudo isso<br />

será insuficiente se faltar encanto e sedução. Um eleitorado iludido não vota no bom<br />

administrador. Vota no vigarista ‘simpático' ou no esperto 'salvador <strong>da</strong> pátria'.<br />

Sendo eleito aquele que parecia reunir as melhores condições, de conformi<strong>da</strong>de<br />

com as promessas, e posteriormente verificando-se que a propagan<strong>da</strong> era enganosa,<br />

pode ser constatado que na disputa eleitoral houve concorrência desleal, vencendo<br />

aquele que prometeu o impossível no exercício <strong>da</strong> demagogia e dos artifícios<br />

fraudulentos. <strong>Em</strong> concurso assim vence o pior. É uma pena que alguns mentirosos não<br />

sejam punidos criminalmente, principalmente durante exercício de man<strong>da</strong>to.<br />

Para que a votação seja boa, é necessário que o eleitorado seja bom. Enquanto<br />

houver quem ven<strong>da</strong> o seu voto para o pilantra que pagar mais, os impostores<br />

prosperarão com as suas enganações. Enquanto o povo não perceber os indícios <strong>da</strong><br />

demagogia, não estranhará o político descumpridor de promessas. Enquanto os maiores<br />

ladrões não forem expurgados do convívio social, continuarão dominando uma<br />

democracia desvirtua<strong>da</strong> e marcarão presença na mídia como paradigma de uma cultura<br />

corrompi<strong>da</strong>.<br />

Fica evidente a relativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> eficiência democrática em função <strong>da</strong> idonei<strong>da</strong>de<br />

do eleitorado. Um povo levemente ingênuo elege os demagogos e falsos líderes, que<br />

mostram sempre o seu mais convincente sorriso mesmo diante de provas irrecorríveis<br />

dos seus delitos. Esbanjam simpatia política e inventam as saí<strong>da</strong>s mais desbraga<strong>da</strong>s para<br />

negar as suas falcatruas. Acreditam que se não forem pegos em flagrante estarão livres<br />

porque nunca vão lavrar confissão com firma reconheci <strong>da</strong> em cartório para ‘convencer'<br />

os que não querem ver as ‘provas materiais'. As ‘explicações' ou desculpas geralmente<br />

são aceitas pelo eleitorado idólatra, ficando a justiça constrangi<strong>da</strong> ante a preferência<br />

popular. Ao final <strong>da</strong>s contas, será "tudo pelo social" porque até as pessoas de bem temem<br />

abalar as instituições democráticas quando se trata de incriminar ou punir uma<br />

autori<strong>da</strong>de criminosa. Enquanto isso o eleitorado merece (?) o governo de sua escolha.<br />

Reeleito o demagogo, escapa <strong>da</strong>s malhas <strong>da</strong> lenta justiça, alegando ‘direitos' por<br />

ser detentor de cargo eletivo, o que equivale a uma avocação do eleitorado em<br />

cumplici<strong>da</strong>de. Então ele se vinga dos promotores do Ministério Publico, promovendo<br />

condições para inviabilizar a honesti<strong>da</strong>de na gerência do patrimônio comunitário (com<br />

reflexos na cultura popular). Vinga-se criando barreiras burocráticas para impedir o<br />

cumprimento do dever <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des policiais e fiscalizadoras, alegando ilegitimi<strong>da</strong>de<br />

dos promotores (que são os homens <strong>da</strong> lei) para investigar os seus crimes, como se<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 17


ninguém tivesse o direito e o dever de denunciar, enquanto detentores desse privilégio<br />

só podem agir se forem acionados por denúncia. Uma ‘maravilhosa' maranha, o paraíso<br />

<strong>da</strong> impuni<strong>da</strong>de, um labirinto preparado para a Justiça se perder.<br />

Então, por isso vamos voltar para a ditadura? Não! Vamos investir mais em<br />

educação para sermos uma grande nação, onde o povo tenha competência na hora de<br />

escolher seus melhores representantes e na hora de expressar sua vontade nas grandes<br />

decisões, sem depender de intermediários que quando mal vigiados geralmente torcem<br />

o man<strong>da</strong>to em favor do interesse próprio. Devemos investir mais na democracia e no<br />

pluriparti<strong>da</strong>rismo em número adequado de partidos.<br />

Relativi<strong>da</strong>de Democrática<br />

Um país que parece muito bom apenas para uma minoria não é um lugar seguro<br />

e feliz nem para essa mesma minoria.<br />

Um povo muito atrasado governado por um tirano, tende a permanecer atrasado<br />

por tempo indeterminado. Se for libertado do despotismo sem monitoramento, pode<br />

recair sob nova tirania. Para um país tradicionalmente acomo<strong>da</strong>do na ditadura entrar<br />

para o rol dos países democráticos requer um monitoramento, um ‘controle externo'<br />

equivalente a uma mu<strong>da</strong>nça de cultura. Um Estado não tem o direito de impor a outro<br />

uma mu<strong>da</strong>nça de cultura, a não ser que isso seja necessário para evitar o terrorismo<br />

internacional, se a guerra <strong>da</strong>í resultante não apresentar prejuízo ain<strong>da</strong> maior.<br />

Uma assistência externa para uma nação, é tão traumática que funciona em<br />

decorrência de guerra, se um povo ameaçador for dominado, os vencedores concedem o<br />

armistício ou a liber<strong>da</strong>de relativa em troca de algumas exigências, entre as quais as que<br />

evitem a recaí<strong>da</strong> nas velhas hostili<strong>da</strong>des, o que geralmente requer mu<strong>da</strong>nças ideológicas<br />

e até culturais. O interesse em mu<strong>da</strong>nça de cultura pode também surgir de motivos<br />

religiosos, mas geralmente uma nação adianta<strong>da</strong> não intervem na organização social de<br />

uma nação atrasa<strong>da</strong> com o intento de aju<strong>da</strong>-la a emergir do atraso. O enfoque <strong>da</strong><br />

intervenção geralmente é afastar o perigo de mau comportamento internacional, mas<br />

não raro existe a intenção de participar <strong>da</strong>s riquezas do subsolo estrangeiro. A cari<strong>da</strong>de é<br />

uma virtude individual ou de pequenos grupos. Uma empresa ou uma nação não é<br />

movi<strong>da</strong> pelo amor ao próximo. Não faz cari<strong>da</strong>de, sem segun<strong>da</strong>s intenções, para com as<br />

suas semelhantes, e muito menos para com as suas rivais. A desculpa de justificar o<br />

intervencionismo como meio de salvar ou aju<strong>da</strong>r um povo deve ser vista com<br />

desconfiança.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 18


Alternância do Governo<br />

É usual entre as democracias a consulta periódica <strong>da</strong> vontade popular. A questão<br />

mais comum é sobre a escolha <strong>da</strong> gerência do patrimônio e dos serviços públicos, bem<br />

como dos que devem legitimar a organização desses serviços e traçar as diretrizes que<br />

norteiam as relações entre os particulares entre si, relações sociais com particulares e dos<br />

particulares com as socie<strong>da</strong>des. A escolha periódica pelo voto é adequa<strong>da</strong> para garantir<br />

que a vontade popular seja respeita<strong>da</strong> e manti<strong>da</strong>, acompanhando as tendências e os<br />

progressos evolutivos <strong>da</strong> organização social.<br />

Quando os ci<strong>da</strong>dãos — do mais pobre ao mais rico — todos detêm igual poder<br />

de voto para escolher os man<strong>da</strong>tários e decidir as grandes questões, esse poder funciona<br />

como o grande patrão a quem os eleitos prestam contas dos seus atos e procuram se<br />

esmerar como servidores públicos para continuar merecendo a confiança. Mas isso só<br />

acontece com a condição <strong>da</strong> maioria do povo possuir uma boa cultura e inspirar um<br />

respeito somente alcançado por meio <strong>da</strong> educação.<br />

Muitos candi<strong>da</strong>tos procuram adivinhar as expectativas dos eleitores, não para<br />

satisfaze-las, mas para engabela-los.<br />

Para se inscrever como eleitor, o requerente deveria preencher condições mais<br />

criteriosas do que apenas alcançar a i<strong>da</strong>de mínima exigi<strong>da</strong> e conhecer o alfabeto. A<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia não precisaria contemplar a todos os que detêm aparente capaci<strong>da</strong>de de ser<br />

responsável. Pessoas de caráter degenerado votarão nos seus semelhantes: os vigaristas,<br />

os torturadores, os ladrões, os traficantes, enfim, os que vivem <strong>da</strong> desgraça alheia. Esses<br />

não devem ser considerados merecedores de representativi<strong>da</strong>de na composição social,<br />

porque manifestam uma anti-socie<strong>da</strong>de. Ao invés de associação, causam desagregação.<br />

O Artigo Quinto <strong>da</strong> Constituição bem que podia começar por definir os seres humanos<br />

dignos de serem considerados iguais perante a Lei, para que os anti-sociais e os<br />

pre<strong>da</strong>dores sofressem a mereci<strong>da</strong> distinção.<br />

Qualquer exigência ou proibição exerci<strong>da</strong> pelo poder público, sem legitimi<strong>da</strong>de<br />

legal (e a legali<strong>da</strong>de deve revestir-se de legítima representativi<strong>da</strong>de), sobre o indivíduo<br />

cumpridor <strong>da</strong>s suas obrigações sociais, poderia ser entendi<strong>da</strong> como ato antidemocrático.<br />

É discutível a obrigatorie<strong>da</strong>de do voto, ain<strong>da</strong> mais quando extensiva aos criminosos.<br />

Por que não exigir boa conduta para conceder a alguém o nobre título e a<br />

sublime função de eleitor? Ao que me consta, boa conduta não significa preferência<br />

partidária. A per<strong>da</strong> dos direitos políticos (conheci<strong>da</strong> pela cassação do man<strong>da</strong>to) deveria<br />

ser estendi<strong>da</strong> aos eleitores em geral, quando se desviassem do decoro parlamentar,<br />

ministerial e até do decoro de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia comum. As leis orgânicas poderiam gerar<br />

subsídios para uma lei mais complexa do comportamento ci<strong>da</strong>dão em função dos<br />

direitos políticos.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 19


Por que a Lei não exige boa conduta e formação profissional adequa<strong>da</strong> de quem<br />

postula a condição de candi<strong>da</strong>to a componente do Governo, em qualquer nível, em<br />

qualquer dos três poderes? Naturalmente as pessoas mais criteriosas e escrupulosas, por<br />

mais capacita<strong>da</strong>s que sejam sempre continuam exigentes de si para consigo mesmas, e,<br />

por isso, modestas. Então sobra a chance para os inescrupulosos, charlatões,<br />

trambiqueiros, etc. porque não titubeiam em mentir para se engrandecer e se eleger. Se<br />

um ‘líder' cometeu crime na função de parlamentar, defende-se baseado na ‘impuni<strong>da</strong>de<br />

parlamentar' mas se estiver iminente a cassação, então renuncia ao cargo eletivo porque<br />

no ano seguinte o crime não será obstante. Se a falcatrua do figurão foi cometi<strong>da</strong> antes<br />

de ser eleito, não será considera<strong>da</strong> falta de decoro, a não ser em caso de crime eleitoral. É<br />

como se o voto valesse como perdão. Seria assim se a culpa fosse transferível para os<br />

eleitores como cúmplices, o que não ocorre se o candi<strong>da</strong>to usa má fé. A legali<strong>da</strong>de dá as<br />

voltas que aten<strong>da</strong>m aos interesses dos mal intencionados. É isso o que esperamos <strong>da</strong><br />

Democracia?<br />

Todos são iguais perante a Lei ao nascer, depois uns vão adquirindo méritos e<br />

outros vão somando deméritos. Se depois de tanto esforço dos beneméritos eles valem o<br />

mesmo dos indignos, fica a sensação de que não valeu a pena ou de que ‘o crime<br />

compensa'. De que lado os legisladores estavam quando a lei quis assim? Do lado de<br />

dentro ou fora <strong>da</strong> lei? Sabiam eles a quem incentivariam com esse tipo de igual<strong>da</strong>de?<br />

Na democracia ideal e auto-sustentável, os direitos de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, inclusive o de<br />

votar e ser votado, deveriam ser outorgados proporcionalmente às pessoas cuja<br />

probi<strong>da</strong>de e responsabili<strong>da</strong>de fosse aferi<strong>da</strong> e gradua<strong>da</strong> por critérios isentos de<br />

favorecimento ou de perseguição, mediante parâmetros legais para premiação dos<br />

merecedores. Uma pena que isso seja utopia.<br />

Se o ideal fosse a excelência de caráter, e o crime não compensasse, somente os<br />

tolos seriam criminosos.<br />

Um povo influente não é apenas aquele que tem um governo forte. Uma nação<br />

poderosa e importante é sempre composta de ci<strong>da</strong>dãos felizes, inteligentes, produtivos,<br />

ricos e principalmente solidários.<br />

Procuração Obrigatória<br />

O voto é uma procuração. O eleito um man<strong>da</strong>tário de todos os que o aceitam<br />

como representante.<br />

É você que man<strong>da</strong> por intermédio do seu representante, mas a autorização é<br />

obrigatória. O man<strong>da</strong>tário (legislador-parlamentar) julgou-se man<strong>da</strong>nte ao obrigar você<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 20


a votar. Isso só é admissível em republiquetas de instabili<strong>da</strong>de política em democracia<br />

periclitante.<br />

O sufrágio é a oportuni<strong>da</strong>de na qual os eleitores escolhem os políticos que os<br />

representarão mais adequa<strong>da</strong>mente a fim de imprimirem à evolução social o ritmo e o<br />

rumo julgados ideais segundo as convicções de ca<strong>da</strong> eleitor. Dessa forma os eleitos<br />

configuram-se como prolongamentos do poder <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de de gerir o seu próprio<br />

destino.<br />

Todo político eleito tem obrigações a cumprir em nome dos seus eleitores.<br />

Assim, além <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de manter-se atualizado em assuntos políticos, tem o dever<br />

de estu<strong>da</strong>r o grupo que o apóia para saber interpretar as suas esperanças, procurar<br />

satisfazer os seus anseios, defender os seus interesses coletivos, tudo à luz <strong>da</strong> sua própria<br />

consciência. Essa seria a ver<strong>da</strong>deira fideli<strong>da</strong>de partidária. Sua omissão em reuniões<br />

deliberativas que afetem os interesses coletivos <strong>da</strong> sua alça<strong>da</strong> é falta grave que os seus<br />

eleitores não devem perdoar. <strong>Em</strong> se tratando de patrimônio público, política ou filosofia<br />

partidária, todo e qualquer assunto a estu<strong>da</strong>r e decidir tem seu grau de influência na<br />

quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> de ca<strong>da</strong> membro <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.<br />

O ci<strong>da</strong>dão comum que pela natureza de suas ativi<strong>da</strong>des, sua cultura, seus<br />

interesses, não puder especializar-se em política não deveria ter a obrigação de votar.<br />

Isso deveria ser um direito, assim como o de reclamar ou sugerir idéias diretamente a<br />

seu vereador ou seu deputado, pois também aí não é coagido.<br />

Segundo me parece, o eleitor comum não precisa ser partidário. A eleição não<br />

deve ser feita com chapas vincula<strong>da</strong>s. Se você não se dedicou a conhecer a natureza de<br />

ca<strong>da</strong> partido político, não se decidiu por um deles e nem sabe se essas agremiações<br />

aglutinam grupos de indivíduos com homogenei<strong>da</strong>de ideológica, não poderá confiar em<br />

determinado candi<strong>da</strong>to só porque é indicado por essa ou aquela sigla.<br />

Quem vota em cabeça de chapa, raramente pensa no anexo, no apenso. O voto<br />

vinculado tende a anexar parasitos a bons candi<strong>da</strong>tos. A escolha do vice deveria recair<br />

sobre o segundo colocado na votação geral, já que as agremiações alia<strong>da</strong>s ou opostas não<br />

diferem substancialmente na hora de cumprir as promessas de campanha. Não há<br />

conveniência em acirramento <strong>da</strong> polarização partidária que resulta em ódio,<br />

discriminação e desarmonia. Torci<strong>da</strong> radical não é paixão, é estupidez, seja em política,<br />

esporte ou religião. Os eleitores vitoriosos <strong>da</strong> sigla ‘A' não escravizarão os vencidos <strong>da</strong><br />

sigla ‘B'. O prefeito eleito não devassará votos para escolher os munícipes ‘dignos' de<br />

contemplação de serviços públicos. Qual a razão de vincular o vice em chapa de titu lar?<br />

Naturalmente ao assumir a titulari<strong>da</strong>de o vice buscará ser merecedor <strong>da</strong> honra. Não<br />

trairá a expectativa dos eleitores do principal, mesmo porque seria muito difícil<br />

distinguir o eleitorado de um e de outro. Não poderia captar precisamente as diferenças<br />

de expectativa.<br />

Persistindo (na esfera deliberativa <strong>da</strong> política nacional) a ‘convicção' <strong>da</strong><br />

importância do partido político escolhido, acima <strong>da</strong> votação individual de ca<strong>da</strong><br />

concorrente, nesse caso, seria mais apropriado que ca<strong>da</strong> partido concorresse com<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 21


diversos candi<strong>da</strong>tos para ca<strong>da</strong> cargo eletivo do Executivo, como ocorre em relação ao<br />

Legislativo. Ca<strong>da</strong> aliança partidária teria a soma de todos os votos (para o prefeito, por<br />

exemplo) atribuí<strong>da</strong> ao seu mais votado, no confronto com as outras siglas ou alianças. O<br />

vice então poderia ser o segundo colocado <strong>da</strong> mesma aliança.<br />

Enquanto o político deve jurar obrigação de ser ativo em to<strong>da</strong>s deliberações de<br />

sua competência no âmbito do diretório partidário, o eleitor comum não deveria ser<br />

forçado a votar em agremiações políticas ou em candi<strong>da</strong>tos. O seu ato de votar deveria<br />

ser um direito gratuito e sigiloso. É como passar uma procuração ou firmar um<br />

contrato, ninguém obriga outro a esse procedimento. A reação à obrigatorie<strong>da</strong>de do<br />

voto pode ser a eleição de um rinoceronte (lembre-se do Cacareco) como representante<br />

de pessoas, o que em muito contribuiria para desmoralizar o poder constituído, as<br />

instituições democráticas, a organização social e a digni<strong>da</strong>de humana.<br />

Militância Política<br />

A humani<strong>da</strong>de é constituí<strong>da</strong> de seres políticos, mas como estamos numa<br />

civilização de especializações torna-se necessária existência de uma classe específica para<br />

essa função. Quando um ci<strong>da</strong>dão comum vai escolher um partido político para ser a sua<br />

diretriz e o seu patrocínio profissional, é seu dever estu<strong>da</strong>r todos os <strong>da</strong>dos disponíveis de<br />

ca<strong>da</strong> partido existente na legali<strong>da</strong>de do seu país a fim de encontrar aquele que mais se<br />

aproxima de sua própria filosofia.<br />

Escolhido o seu partido, deve o político integrar-se no consenso partidário,<br />

acatando suas normas mesmo que eventualmente alguma esteja em desacordo com as<br />

suas pretensões, mas essa integração não deve dominar o seu comportamento nas horas<br />

de discussão de âmbito particular do Partido, pois essa é a ocasião, esse é o momento de<br />

ca<strong>da</strong> um procurar convencer os demais afiliados sobre o seu próprio ponto de vista.<br />

Se a evolução <strong>da</strong>s regras do seu partido tomar um rumo oposto às suas<br />

convicções ou se o seu modo de entender a coisa pública sofrer drásticas alterações, deve<br />

o político repetir o procedimento <strong>da</strong> escolha partidária e se tiver que mu<strong>da</strong>r, mude-se<br />

com to<strong>da</strong> a digni<strong>da</strong>de, pois esse é um ato soberano e essencial ao amadurecimento<br />

político de um povo, sem o remorso de ‘virar a casaca'.<br />

Nestas condições ca<strong>da</strong> membro seguiria a orientação <strong>da</strong> própria consciência sem<br />

o mínimo constrangimento, cui<strong>da</strong>ndo apenas <strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong> integri<strong>da</strong>de partidária<br />

porque tem a sua importância social e depende de comportamento coeso. No entanto a<br />

"fideli<strong>da</strong>de partidária" não deveria ser lembra<strong>da</strong> nas deliberações tanto convencionais<br />

internas do partido como em plenário, pois se o fosse, melhor seria um confronto<br />

apenas de lideranças, excluindo a análise e a síntese <strong>da</strong>s idéias ecléticas que ocorrem nas<br />

discussões interpartidárias, mas assim não seria democracia. A pior infideli<strong>da</strong>de<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 22


partidária aqui seria a ven<strong>da</strong> do voto, caro ou barato. Esse deve ser motivo para expulsão<br />

<strong>da</strong> agremiação e a cassação dos direitos políticos, para evitar o convívio pernicioso.<br />

O excesso de zelo partidário desfocado e ilegítimo tem levado as pessoas a<br />

entorpecerem o que elas têm de maior valor: suas consciências. Quando um deputado<br />

resolve beneficiar uma ci<strong>da</strong>de com a criação de uma universi<strong>da</strong>de, talvez esteja<br />

pensando mais em autopromover-se e promover o seu partido do que concorrer para a<br />

evolução intelectual <strong>da</strong> sua gente, mas quando os seus oponentes combatem a sua<br />

pretensão, não estão desejando manter o seu povo na ignorância. Estão simplesmente<br />

querendo mostrar serviço como opositores na luta pela ‘fideli<strong>da</strong>de partidária', sem<br />

perceber a abrangência do estrago nacional que aquela atitude possa causar. Contudo<br />

existe a hipótese do elefante branco ou <strong>da</strong> chuva no molhado ou <strong>da</strong> edificação de uma<br />

mesquita onde só existem católicos. Há casos que além de consenso, carecem de bomsenso.<br />

Poucos a mais do que os políticos de carreira ou de alguns outros que gostariam<br />

de sê-lo devem filiar-se às agremiações partidárias, visto que ao ocupar-se<br />

suficientemente deste assunto (examinar os atos, fatos, repercussões e desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> Política) ocupar-se-iam insuficientemente <strong>da</strong>s demais ativi<strong>da</strong>des produtivas e<br />

proveitosas que dependem de especialização, dedicação e profissionalismo. Não<br />

obstante, todo e qualquer ci<strong>da</strong>dão tem o direito e o dever de interessar-se pela boa<br />

política e pelo comportamento dos seus agentes, porque é <strong>da</strong>í que sai a decadência ou o<br />

desenvolvimento de uma pátria. A fideli<strong>da</strong>de partidária impingi<strong>da</strong> sobre os incautos<br />

para ‘benefício' corporativista disfarçado transforma-os em "inocentes úteis" em<br />

detrimento dos seus próprios interesses. A fideli<strong>da</strong>de partidária não pode ser<br />

confundi<strong>da</strong> nem mistura<strong>da</strong> com patriotismo e compromisso com a segurança nacional,<br />

mas sim com os interesses e a perpetui<strong>da</strong>de de determina<strong>da</strong>s facções a despeito de sua<br />

possível obsolescência.<br />

O eleitor comum tem maior liber<strong>da</strong>de de evitar os maus elementos e suas<br />

companhias na hora do voto.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 23


SOCIOLOGIA<br />

Iluminismo<br />

O primeiro iluminismo europeu, a partir do século XV, era de caráter místico e<br />

supunha que ao enclausurar-se em passivi<strong>da</strong>de quase absoluta a pessoa ficava em<br />

comunhão íntima com Deus. Talvez tivesse muita importância, poder e glória com isso,<br />

mas não se permitia obter proveito prático.<br />

O segundo iluminismo na Europa foi o Século <strong>da</strong>s Luzes, século XVIII, que<br />

‘coincidentemente' produziu maravilhas nas artes e nas ciências. Mediante a aplicação<br />

<strong>da</strong> dialética Hegeliana de análise <strong>da</strong>s causas e dos efeitos, em que uma síntese é o<br />

resultado do processo <strong>da</strong> união de uma tese com a sua antítese, podemos verificar que o<br />

Iluminismo teve fatores que o causaram. O absolutismo foi muito incrementado<br />

durante o reinado de Luís XIV (que começou a governar de fato em 1661 e durou até<br />

1715), quando o rei se considerava divino, denominava-se "Rei Sol" e declarava: "o<br />

Estado, sou eu", Luís XIV foi o rei e o próprio primeiro ministro. Colbert, seu ministro<br />

<strong>da</strong>s finanças iniciou um período de prosperi<strong>da</strong>de para a França e o rei foi um grande<br />

protetor <strong>da</strong>s ciências e <strong>da</strong>s artes; durante o seu reinado no século XVII floresceu a<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 24


melhor época <strong>da</strong> literatura francesa. Foi Luís XIV que mandou construir o Palácio de<br />

Versalhes. Os monarcas seguintes aproveitaram o fausto e a pompa do Rei Sol, mas<br />

faltando o brilho, evidenciou-se uma descabi<strong>da</strong> arrogância absolutista que perdurou até<br />

1789 e descontentava até a nobreza, incrementando como reação o segundo iluminismo<br />

<strong>da</strong> Europa, no decorrer do século XVIII. Os filósofos produziam argumentações e as<br />

divulgavam em oposição à tirania, mas não havia unanimi<strong>da</strong>de de opiniões, porém a<br />

discussão era bem aceita. Foi um movimento cultural de destaque à razão que se<br />

motivou como reação ao excesso de dogmatismo do clero, além de envolver-se em<br />

questões de direito, de liber<strong>da</strong>de, igual<strong>da</strong>de e fraterni<strong>da</strong>de, culminando pela revolução<br />

francesa, que é comemora<strong>da</strong> no dia 14 de julho (1789) por ser o aniversário <strong>da</strong> toma<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> Bastilha. Esse fato simboliza a vitória contra o absolutismo real.<br />

Surgiu durante o iluminismo a idéia de que Deus criou a Terra e tudo mais,<br />

porém legou às criaturas, principalmente aos humanos a capaci<strong>da</strong>de de determinar o<br />

próprio destino.<br />

Enquanto o dogmatismo religioso e o autoritarismo absolutista proibiam<br />

terminantemente a crítica ou a discussão <strong>da</strong>s ‘ver<strong>da</strong>des', produzindo uma ‘filosofia'<br />

extática e desanimadora aos pensadores, o iluminismo abriu o caminho para a<br />

criativi<strong>da</strong>de e o questionamento, para o interesse pelas ciências naturais e pela liber<strong>da</strong>de<br />

de opinião, pela lógica e a razão.<br />

Os iluministas formaram muitas correntes de pensamento como: ceticismo,<br />

deísmo, ateísmo, empirismo, materialismo. O iluminismo reagiu às tradições, tentando<br />

vislumbrar novos caminhos para o método científico, para a religião, para a filosofia,<br />

para a política. Todos os velhos paradigmas teriam que ser revistos à luz <strong>da</strong> razão.<br />

O iluminismo fez o século <strong>da</strong>s luzes, mas não salvou a França de sérios revezes<br />

posteriores.<br />

A Revolução Francesa derrubou a monarquia e estabeleceu o terror <strong>da</strong><br />

guilhotina, alternou entre a ditadura e a república diversas vezes. Entre 1932 e 1936 a<br />

França teve dez governos diferentes. Já a Inglaterra é monarquista desde muitos séculos<br />

e ao que parece, o Reino Unido é constituído de nações organiza<strong>da</strong>s, prósperas,<br />

orgulhosas, felizes e razoavelmente tolerantes com relação aos diferentes.<br />

Ao optar pela luta de classes, pela revolução violenta, pode-se criar crises<br />

irreversíveis.<br />

Esquer<strong>da</strong>, Direita<br />

Foi na Convenção Nacional Francesa em 1792 (uns três anos depois <strong>da</strong> que<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

bastilha) que teve origem a classificação <strong>da</strong>s tendências de direita para os totalitaristas e<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 25


conservadores e de esquer<strong>da</strong> para os que faziam oposição ao governo, movidos por<br />

convicções filosóficas que eles proclamavam como idéias avança<strong>da</strong>s, porque defendiam<br />

os comerciantes, os industriais e os intelectuais do jugo <strong>da</strong> nobreza e <strong>da</strong> Igreja. Os<br />

convencionais situacionistas tinham acento á direita e os oposicionistas à esquer<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

mesa dirigente.<br />

Karl Marx e Engels, filósofos contagiados pelo iluminismo perceberam que a<br />

que<strong>da</strong> do absolutismo e <strong>da</strong> aristocracia, <strong>da</strong>ndo lugar à ascensão <strong>da</strong> burguesia, não<br />

resolveu o problema <strong>da</strong> cruel<strong>da</strong>de trabalhista. A Revolução Industrial parecia considerar<br />

os operários apenas como engrenagens para o máximo proveito na produtivi<strong>da</strong>de, mas a<br />

remuneração não existia com esse significado na ver<strong>da</strong>deira acepção. No tempo em que<br />

a escravidão ain<strong>da</strong> era tolera<strong>da</strong> até por sábios, os trabalhadores eram tidos por animais<br />

domésticos.<br />

Acudir a classe mais popular passou a ser atribuição do esquerdismo. To<strong>da</strong>via os<br />

exagerados defenderam as idéias anarquistas com a intenção de banir a organização <strong>da</strong><br />

hierarquia, do direito de domínio e de proprie<strong>da</strong>de. Como o poder <strong>da</strong> aristocracia não<br />

era bom, foi substituído pelo poder <strong>da</strong> burguesia. Como o poder <strong>da</strong> burguesia não estava<br />

bom, devia ser substituído pelo do proletariado... Talvez o mal fosse a existência de<br />

chefia.<br />

A anarquia (ausência de governo) seria como voltar ao primitivismo do início <strong>da</strong><br />

civilização, quando não existia o conceito de proprie<strong>da</strong>de e a Socie<strong>da</strong>de não passava de<br />

uma reunião de famílias solidárias na sua defesa contra outras tribos, contra as feras e<br />

contra a fome, fazendo sempre a divisão e distribuição do produto <strong>da</strong> caça e <strong>da</strong> coleta.<br />

Os esquerdistas exagerados adotavam a meta do comunismo, em que tudo seria<br />

repartido igualmente entre os aguerridos, os motivados, os folgados e os mendigos e não<br />

haveria hierarquia, ninguém a man<strong>da</strong>r, ninguém a obedecer, ninguém por todos e<br />

ninguém por um.<br />

Os direitistas defenderiam os proprietários burgueses e pequeno-burgueses do<br />

van<strong>da</strong>lismo, dos saques e <strong>da</strong>s invasões <strong>da</strong>s hor<strong>da</strong>s. O direitismo exagerado seria o<br />

partido dos defensores do conservadorismo e do totalitarismo, com ativi<strong>da</strong>des secretas<br />

no sentido de neutralizar qualquer autor de ‘idéias avança<strong>da</strong>s'.<br />

Neste contexto os centristas são conservadores devido à suposição de que o<br />

governo faz o que deve ser feito. Acreditam na conveniência de manter a<br />

governabili<strong>da</strong>de tranqüila. Não aceitam interpretação esperta e destorci<strong>da</strong> <strong>da</strong> lei. Sim,<br />

porque ca<strong>da</strong> facção quer torcer a Justiça a seu favor.<br />

Todo efeito tem uma causa ou mais. A Revolução Marxista foi desencadea<strong>da</strong><br />

pelas condições inadmissíveis de vi<strong>da</strong> dos trabalhadores, supostamente resquícios do<br />

feu<strong>da</strong>lismo. Outra motivação foi o florescimento filosófico iniciado no século <strong>da</strong>s luzes<br />

do Rei Luís XIV, quando tudo passou a ser submetido à razão do iluminismo. Se a<br />

referi<strong>da</strong> revolução visava apenas luta de classes, isso não acaba nunca, porque quando<br />

uma classe dominante é desbanca<strong>da</strong>, surge outra em seu lugar, que em segui<strong>da</strong> terá<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 26


opositores que se fortalecerão até a substituírem, e assim sucessivamente, porque sem<br />

classe dominante a civilização voltaria para a estaca zero. Se essa revolução tinha o<br />

objetivo de libertar o proletariado <strong>da</strong>s condições desumanas, então já cumpriu o<br />

compromisso. Agora basta fiscalizar o cumprimento <strong>da</strong>s leis trabalhistas e deixar que a<br />

Democracia faça a manutenção e encaminhamento <strong>da</strong> sua evolução. Ao continuar com<br />

as lutas de classes que destrói uma organização para deixar crescer outra em seu lugar,<br />

seria um atraso milenar como no caso <strong>da</strong> Revolução Francesa que demorou séculos a<br />

permitir estabili<strong>da</strong>de política na França.<br />

Quanto aos partidos de esquer<strong>da</strong> e direita, já é tempo de corrigir e ajustar os seus<br />

rumos. Os propósitos dos ‘movimentos' e <strong>da</strong>s ‘manifestações' devem ser explicados à luz<br />

<strong>da</strong> razão para que a comuni<strong>da</strong>de possa julgar se é defensável, e possa tomar posição.<br />

A falta de interesse pela ideologia e o excessivo intertesse pelo voto, leva o<br />

político a agir com hipocrisia, assumindo uma postura que facilmente descamba para a<br />

traição dos propósitos aos quais foi eleito, mas a conivência ou cumplici<strong>da</strong>de com as<br />

falcatruas, assim como a demagogia está ficando indisfarçável. Se o povo eleitor se<br />

esclarecer e se politizar, adquirirá mais discernimento e saberá evitar os impostores.<br />

A Revolução<br />

No século XIX a bandeira de luta acena à classe dos trabalhadores sem terra nem<br />

teto numa tentativa de cativar o proletariado cansado de ser explorado pela burguesia. A<br />

luta seria cruenta, acenando com a promessa de subverter a situação de domínio que ao<br />

povo domesticado garantiu até agora o pão na mesa, às custas de trabalhos forçados,<br />

sem direito ao descanso, aos cui<strong>da</strong>dos com a saúde, ao lazer, à instrução, à digni<strong>da</strong>de.<br />

Uma luta de classes que consiga subverter a situação de domínio. A vitória do<br />

proletariado <strong>da</strong>rá oportuni<strong>da</strong>de ao braçal de obrigar o capataz a capinar, a encher a<br />

carriola de terra e lixo. E ai dele se reclamar, porque pode até ser deportado para a<br />

Sibéria.<br />

Uma sublevação total, provavelmente implicaria em passar o comando <strong>da</strong> ‘tropa'<br />

para um sol<strong>da</strong>do raso eleito. Para evitar polêmica os sargentos seriam proibidos de<br />

votar. Os engenheiros esqueceriam as pranchetas, os mapas e as plantas. Seriam<br />

‘promovidos' a viradores de concreto e varredores de rua. Os alunos colocariam o<br />

professor de castigo para ver o quê que é bom. O enfermo receitando o tratamento do<br />

médico. Os fazendeiros e os agrônomos virariam acampados sem terra, transformados<br />

em perseguidores de calangos e as terras seriam dividi<strong>da</strong>s entre os peões. Ninguém seria<br />

deportado, porque reclamar... Nem pensar!<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 27


Uma subversão assim seria produto de mente ingênua e caótica, apaixona<strong>da</strong><br />

pelas promessas mirabolantes com finali<strong>da</strong>de demagógica, na<strong>da</strong> a ver com o nosso<br />

eleitorado.<br />

O Socialismo do século XIX tinha três ramos: a) os retóricos, que desejavam<br />

persuadir os povos a aceitarem um novo modelo político; b) os revolucionários, que<br />

pregavam a insurreição violenta para a que<strong>da</strong> de um sistema com a promessa <strong>da</strong><br />

substituição por outro sistema mais humano nas relações entre o capital e o trabalho,<br />

com per<strong>da</strong> <strong>da</strong> importância do capital (dominado pela burguesia) que na época estava<br />

supervalorizado ante o trabalho; c) a Social-Democracia teve o seu maior<br />

desenvolvimento na Alemanha onde funcionou o maior partido social-democrata. O<br />

seu objetivo era conseguir as mu<strong>da</strong>nças políticas almeja<strong>da</strong>s com diplomacia, por meios<br />

parlamentares, democráticos, eleitorais, etc.<br />

Na Rússia o socialismo leninista fun<strong>da</strong>mentou-se no marxismo e pretendia<br />

libertar o proletariado <strong>da</strong> exploração capitalista tomando o poder a força para impedir<br />

que o empregador se apoderasse <strong>da</strong> mais-valia sobre o produto do trabalho, embora na<br />

Rússia do final do século XIX não existissem as condições de exploração do proletariado<br />

como descritas por Engels sobre a Revolução Industrial inglesa.<br />

Lênin liderou a revolução russa de 1917 e instalou o primeiro sistema de governo<br />

socialista democrata do mundo. Quase no fim de 1918 foi vítima de um atentado que<br />

prejudicou sua saúde, vindo a falecer no começo do ano de 1924, quando foi substituído<br />

por Stalin, o eliminador dos divergentes e <strong>da</strong> democracia.<br />

Na reali<strong>da</strong>de, o Estado Socialista tornou-se o empregador geral, o que me leva a<br />

crer que se o lucro ain<strong>da</strong> era bom e se a sua legali<strong>da</strong>de estava em discussão, pronto, fica<br />

para o Leão "e não se fala mais nisto". Entretanto é bom lembrar que sem o estímulo do<br />

lucro, o indivíduo perde a iniciativa e a criativi<strong>da</strong>de. A ‘Ditadura do Proletariado' tinha<br />

dono: Stalin. O interesse na produtivi<strong>da</strong>de passou a ser exclusivi<strong>da</strong>de do Ditador e esse<br />

tinha que forçar o proletariado.<br />

O poder do Estado é equivalente à capaci<strong>da</strong>de do seu povo, e essa capaci<strong>da</strong>de<br />

depende de condições políticas. Quando o governo pode tudo, os governados na<strong>da</strong><br />

podem. O governo não é um fim, é um meio de realizar a nação. O totalitarista julga-se<br />

como fazendeiro sendo que a nação é a sua pecuária.<br />

O socialismo stalinista era semelhante a um imperialismo totalitário, justamente<br />

o inverso dos ideais comunistas.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 28


Marx/Engels<br />

O bacharel em Direito, Filosofia, História e estudioso de Economia Política,<br />

principalmente <strong>da</strong> grande obra "A Riqueza <strong>da</strong>s Nações" de A<strong>da</strong>m Smith, publicado em<br />

1776 e "Princípios de Economia Política e Tributação" de David Ricardo, publicado em<br />

1817, o bacharel Karl Marxe seu amigo Frederich Engels estu<strong>da</strong>ram a Revolução<br />

Industrial Britânica ain<strong>da</strong> injusta, rechea<strong>da</strong> de exploração com maus tratos aos<br />

trabalhadores. A partir dessa ‘revolução' construíram a sua doutrina política<br />

fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> na luta de classes e na Revolução (econômica, cultural e política) com o<br />

determinismo <strong>da</strong> ‘inexorável' vitória do socialismo sobre a burguesia, apontando o<br />

exemplo inglês como prenúncio de catástrofe social, mas com possibili<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>r início<br />

a uma nova ordem social mais justa, com a prosperi<strong>da</strong>de econômica e cultural ao<br />

alcance de to<strong>da</strong> a Socie<strong>da</strong>de.<br />

Na visão do marxismo o ideal comunista ‘fatalmente' desembocaria numa<br />

socie<strong>da</strong>de perfeita sem a necessi<strong>da</strong>de de governo. Os marxistas supunham que não seria<br />

possível melhorar a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> do proletariado sem luta <strong>da</strong> classe trabalhadora<br />

contra a burguesia. É notável que a solução para o problema britânico serviu para<br />

muitos países onde a exploração do proletariado não era tão significativa, mesmo<br />

porque o proletariado existe onde tem indústria e na época a industria britânica era<br />

incomparável. Mas na Grã-Bretanha aqueles motivos não foram suficientes para a<br />

preconiza<strong>da</strong> subversão.<br />

Eduard Bernstein foi um dos revisionistas que no início do século XX<br />

perceberam a obsolescência <strong>da</strong> teoria do marxismo revolucionário, visto que a ‘profecia'<br />

<strong>da</strong> intensificação <strong>da</strong>s diferenças entre as classes não se confirmou. Ao contrário, com o<br />

crescimento <strong>da</strong> produção de bens e a sua comercialização em grande escala, com a<br />

globalização, com os paises pobres tornando-se potências econômicas; ocorreu uma<br />

prosperi<strong>da</strong>de geral, melhorando as condições de vi<strong>da</strong> e apagando a premência <strong>da</strong>s lutas<br />

de classe.<br />

Revisionismo Às Avessas<br />

<strong>Em</strong> qualquer parte do mundo devem existir classes sociais. O que é condenável é<br />

a manutenção estanque, em que uma costureira seja proibi<strong>da</strong> de ser empresária de<br />

confecções, um jornaleiro de ser jornalista. No Brasil, quem desejar empreender recebe<br />

apoio de órgãos oficiais. <strong>Em</strong> vez de morrer e matar de inveja, ca<strong>da</strong> rico e ca<strong>da</strong> pobre tem<br />

liber<strong>da</strong>de de escolher o seu empreendimento e a sua classe.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 29


Atualmente, um dos poucos países emergentes onde persistem as injustas<br />

condições sociais e o contraste entre os mais pobres e os mais ricos é o Brasil. Seria<br />

interessante uma revisão <strong>da</strong> CLT, comparando-a com as leis trabalhistas de países onde<br />

existe maior justiça social, considerado que até mesmo o assistencialismo pode<br />

constituir-se em injustiça social às avessas.<br />

Sobre a luta de classes, vejamos um panorama quase verosímil:<br />

Agora a bandeira <strong>da</strong> luta acena à classe dos empregados numa tentativa de<br />

cativar o ‘proletariado' supostamente cansado de ser explorado pelos empregadores,<br />

acenando com a ingrata promessa revanchista e vingativa de subverter a situação de<br />

domínio que até agora garantiu subsistência ao assalariado, faça chuva, faça sol. Mas o<br />

empregado não tem a preocupação <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> do produto, do cumprimento <strong>da</strong>s<br />

enciclopédicas leis trabalhistas e tributárias, não tem cui<strong>da</strong>dos com outras burocracias e<br />

com a concorrência, com o financiamento a juros escorchantes, com o preconceito de<br />

algumas ‘organizações não governamentais' que tudo inventam para dissuadir o<br />

governo de cumprir suas obrigações para com a classe ‘burguesa'. Tudo muito cansativo<br />

para eles, os patrões que trabalham dia e noite sem registro na carteira e sem direito a<br />

férias. Enquanto isso, os novos burgueses, chefes dos invasores, viajam sempre de avião<br />

e ocupam hotéis cinco estrelas de onde coman<strong>da</strong>m o ‘proletariado acampado' para<br />

destruir o que custou vinte anos de trabalho e estudo na criação de tecnologia que seria<br />

utiliza<strong>da</strong> em benefício <strong>da</strong> nação laboriosa e pagadora de impostos para sustento<br />

inclusive dos acampados.<br />

Atualização do Esquerdismo<br />

Uma forma de classificar a ideologia política na convivência democrática <strong>da</strong><br />

diversi<strong>da</strong>de partidária que me parece bastante adequa<strong>da</strong> coloca no Centro o governo,<br />

seja ele conservador, liberalista, renovador, trabalhista, elitista ou "deixa como está para<br />

ver como é que fica" e com o governo os que o elegeram e continuam seus partidários;<br />

na Direita os que ganham dinheiro e favores para sustentar a governabili<strong>da</strong>de, os que se<br />

vendem; na Esquer<strong>da</strong> coloca-se a oposição coerente que não vende o voto, mas pode<br />

apoiar o governo nas decisões de boa fé. A Esquer<strong>da</strong> defenderia os interesses dos<br />

eleitores sem prejudicar a macroeconomia ou a macro-cultura e planejaria o<br />

encaminhamento <strong>da</strong> evolução social, não pela igual<strong>da</strong>de dos indivíduos, não pela<br />

extinção <strong>da</strong>s classes sociais, <strong>da</strong> organização e <strong>da</strong> hierarquia, mas pela harmonia e<br />

autodeterminação <strong>da</strong> iniciativa priva<strong>da</strong>, pelo prestígio de to<strong>da</strong>s as profissões, pela<br />

criação de empregos, pelo equilíbrio entre a oferta e a procura, principalmente dos<br />

produtos componentes <strong>da</strong> ‘cesta básica', um equilíbrio para evitar os altos e baixos que<br />

provocam preços altíssimos na ocasião <strong>da</strong> escassez. Os preços altos causam<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 30


superprodução que fora de controle acaba em aviltamento de preços. O preço baixo<br />

inviabiliza a produção causando o desabastecimento. A falta do produto força a elevação<br />

dos preços e assim por diante na ro<strong>da</strong> viva <strong>da</strong> incompetência, do descontrole e <strong>da</strong> falta<br />

de planejamento. É certo que na agropecuária existem outros fatores que contribuem<br />

para a superprodução ou o desabastecimento, como a variação climática e as epidemias,<br />

mas isso não torna desnecessário o planejamento do equilíbrio entre a oferta e a<br />

procura. Além de tudo isso, seriam as esquer<strong>da</strong>s que vigiariam o modo de vi<strong>da</strong> dos mais<br />

necessitados exigindo o socorro e amparo, possíveis e razoáveis.<br />

Para evitar que a oposição seja maioria e esmague a governabili<strong>da</strong>de, bom seria<br />

se o Poder Executivo, o poder de Centro, governasse sob critérios ‘esquerdistas',<br />

respeitando a digni<strong>da</strong>de dos mais pobres, amparando as partes mais fracas <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de, contanto que visse como interesse <strong>da</strong>s classes menos favoreci<strong>da</strong>s, não a<br />

exaustão <strong>da</strong> burguesia, não o desalento do ‘empreendedorismo', não a humilhação <strong>da</strong>s<br />

elites, não o abate <strong>da</strong>s poedeiras dos ovos de ouro, mas a prosperi<strong>da</strong>de de todos e a<br />

fiscalização pela segurança dos interesses coletivos, porque esses constituem a<br />

conveniência nacional.<br />

A velha mania de classificar os políticos, de esquerdista e direitista, situação e<br />

oposição, seria desnecessária se não houvesse hipocrisia, se as discussões fossem<br />

esclarecedoras, se não houvesse dificul<strong>da</strong>de em confessar uma culpa, quando a<br />

compreensão de um equívoco resultasse na retratação. Se houvesse patriotismo e<br />

leal<strong>da</strong>de acima do corporativismo.<br />

Utopia e Dialética<br />

A tradição <strong>da</strong> religiosi<strong>da</strong>de humana é multimilenar e me parece que nunca foi<br />

monopólio dos judeus porque muito antes de Abraão já existiam os sacerdotes egípcios.<br />

Além disso, os povos <strong>da</strong> América pré-colombiana eram religiosos, adoradores de<br />

divin<strong>da</strong>des de denominações diferentes <strong>da</strong>s africanas, européias ou asiáticas. Os homens<br />

e as mulheres tinham que adorar. Aqueles que não queriam ou não podiam adorar a<br />

Javé ou Alá, adoravam outros deuses ou ídolos.<br />

Tomás More (Thomas Morus), estadista e escritor inglês imaginou uma nação<br />

ideal e mítica no século XVI. Durante a Renascença italiana, nos séculos XV e XVI<br />

houve um reavivamento <strong>da</strong> filosofia e <strong>da</strong>s artes clássicas, incluindo humanismo. Isso<br />

mexeu fundo no obscurantismo medieval e na fé inabalável que durava um milênio.<br />

Dois séculos após chegou a vez do Iluminismo francês, inglês e alemão que aceitava<br />

quaisquer discussões contanto que respeitassem a Razão. Os homens foram empurrados<br />

ao enfrentamento <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de dos destinos e muitos viram desfazer-se a<br />

miragem do Paraíso Prometido. A reação foi reativar utopias que substituíssem a<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 31


eligião por novos paradigmas que possibilitassem preparar a humani<strong>da</strong>de para um<br />

socialismo paradisíaco neste mundo mesmo. ‘Talvez as religiões que mantiveram a<br />

humani<strong>da</strong>de enleva<strong>da</strong> por milênios não passassem de sonhos'. Uma boa utopia também<br />

não passa de um doce sonho. Portanto, talvez influenciados por Platão os utopistas<br />

desenvolveram a sua filosofia como arte, mas alguns acabaram por adota-la como<br />

política.<br />

O Socialismo Utópico teve origem muito antes <strong>da</strong> Revolução Francesa do final<br />

do século XVIII. Esses pensadores sonharam com um país onde os bens seriam<br />

públicos, sem proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>; lá existiria um socialismo perfeito, como alternativa<br />

ao despotismo. Lá não haveria distribuição <strong>da</strong>s riquezas por critérios de privilégio nem a<br />

possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> superexploração dos vassalos. Geralmente propunham uma socie<strong>da</strong>de<br />

sem senhores, mas com liber<strong>da</strong>de de pensamento e expressão. Alguns seguidores do<br />

Socialismo Utópico defendiam ain<strong>da</strong> um despotismo em que um magistrado reinaria e<br />

imporia a educação física e intelectual intensa, além de interferir na reprodução humana<br />

a fim de aprimorar a raça. Alguns utopistas queriam a felici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s classes mais baixas,<br />

outros, ao que parece, queriam um tirano feliz. Essas utopias funcionavam nas cabeças<br />

dos seus autores como ‘viagem', como escape de um estado de coisas de então, que<br />

seriam inaceitáveis em sã consciência. Hoje é fácil criticá-los em comparação com o<br />

atual estágio <strong>da</strong> Civilização com os conhecimentos atuais, com a atual organização legal,<br />

mas eles foram bastante arrojados em suas épocas. Sem as pessoas capazes de idealizar<br />

novos paradigmas, mesmo que impraticáveis, ficaríamos pisando no mesmo lugar pelos<br />

milênios afora.<br />

No século XIX parecia que a Razão e a Ciência eram divinas substitutas de Deus.<br />

Uma doutrina que parecesse científica seria aceita como um novo catecismo científico.<br />

Os socialistas do século XIX desistiram <strong>da</strong> esperança de que os burgueses se<br />

pautassem pela Razão, porquanto surgidos do século <strong>da</strong>s luzes e já conhecedores do<br />

Socialismo Utópico que podia ser idealizado como meta para a construção de uma<br />

socie<strong>da</strong>de que fosse mais justa, como foi o caso de Charles Fourier pregador do<br />

cooperativismo como motor do desenvolvimento <strong>da</strong>s aptidões humanas, mas a<br />

burguesia colocou o lucro no pedestal <strong>da</strong> idolatria e pressionou a força do proletariado<br />

trabalhador como era costume nos tempos de escravidão.<br />

Foi nesse mesmo século XIX que surgiu um estudioso (Marx) que encontrou as<br />

vantagens e as desvantagens de diversas utopias. Estudou a filosofia <strong>da</strong> dialética idealista<br />

de Hegel — qualquer ato, fato, qualquer ser é ou será submetido ao seu oposto (ação e<br />

reação, tese e antítese) tendo como resultado do confronto, a respectiva síntese — a<br />

História teria um curso quase previsível mesmo estando em constante alteração,<br />

revolucionando-se dialeticamente conforme os desígnios do Absoluto. A Política<br />

seguiria sua marcha inexorável até realizar-se na liber<strong>da</strong>de. O Estado então seria como<br />

uma liber<strong>da</strong>de organiza<strong>da</strong>.<br />

Marx, sendo ateu, ajustou a Dialética Hegeliana segundo a sua ótica materialista.<br />

Não havendo desígnios divinos, tudo o que existe e todos os motivos procedem <strong>da</strong><br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 32


matéria. Elaborou então juntamente com o amigo e colaborador Friedrich Engels o seu<br />

sistema, a que denominou de Socialismo Científico, não mais com propósito de sonho<br />

utópico, mas planejado com estratégias de viabili<strong>da</strong>de, procurando juntar e observar os<br />

fatos e definir as conseqüências, e então preparar o caminho para a realização. Sendo a<br />

dialética de Hegel um tanto idealista e espiritualista, produziria uma História um pouco<br />

indeterminável, mas a dialética materialista aplica<strong>da</strong> ao estudo e à dinâmica <strong>da</strong> história<br />

‘poderia produzir' fatos e eventos previsíveis.<br />

Como preparação ao ‘Socialismo Científico' seria abolido o direito de<br />

proprie<strong>da</strong>de tanto rural como urbana. Como os bens móveis, imóveis e semoventes<br />

passariam a ser proprie<strong>da</strong>de pública, o governo confiscaria tudo e redistribuiria em<br />

como<strong>da</strong>to racionalmente. A produção seria planeja<strong>da</strong> e o produto racionado.<br />

A idéia era a de transformar a Socie<strong>da</strong>de, por bem ou por mal. Ninguém<br />

precisaria ter mais de uma vaca nem duas túnicas, duas casas. Naquela época as grandes<br />

áreas de pecuária ou agricultura ain<strong>da</strong> não significavam empresa rural como emprego e<br />

amparo de sustento para muitas famílias. Existia o estigma do feu<strong>da</strong>lismo latifundiário<br />

como regime injusto a ser excomungado.<br />

Eu conheci em 1966 uma situação semelhante num seringal de Rondônia em que<br />

os seringueiros (produtores de látex) eram obrigados a vender o seu produto a um<br />

atravessador que lhes fornecia os gêneros de consumo a preços exorbitantes para mantêlos<br />

dependentes e fiéis devedores.<br />

Dissuasão <strong>da</strong> Utopia<br />

Os socialistas filósofos almejavam o comunismo. Os socialistas governantes<br />

apoiavam o totalitarismo. Enquanto ‘filósofos' os políticos tinham que ser coerentes e<br />

sinceros para amealhar confiança e adesões. No poder, caiam na reali<strong>da</strong>de de que a<br />

massa trabalhadora não tem espontanei<strong>da</strong>de nem organização suficiente para tarefas<br />

complica<strong>da</strong>s ou realização penosa, necessitando gerência que torna a liber<strong>da</strong>de relativa.<br />

É como disse alguém: "não há maior reacionário do que um revolucionário no poder".<br />

Teoricamente no comunismo não existiria governo nem proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>,<br />

mas sem gerência não haveria execução de serviço, sem governo não haveria<br />

comuni<strong>da</strong>de organiza<strong>da</strong>; sem proprie<strong>da</strong>de particular ninguém possui o que produz, por<br />

isso o trabalho sai forçado como se fosse castigo. Portanto, essa é uma promessa utópica,<br />

demagógica. Sem proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>, o comunismo seria uma socie<strong>da</strong>de organiza<strong>da</strong><br />

como um cupinzeiro, um formigueiro ou uma colméia, onde vivem milhões de insetos<br />

em consciência coletiva. O instinto de conservação de ca<strong>da</strong> um desses insetos funciona<br />

em primeiro lugar pela preservação <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de ficando em segundo plano a vi<strong>da</strong><br />

individual. Com a humani<strong>da</strong>de esse tipo de ‘civilização' é impossível, porque ca<strong>da</strong><br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 33


indivíduo possui a consciência de si próprio e por isso o instinto humano de<br />

conservação é egoísta. O resultado <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de absoluta <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de seria a<br />

inibição <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> iniciativa própria. A coletivi<strong>da</strong>de se organizaria, se<br />

estabilizaria, se escravizaria e chegaria a um estágio de paralisia <strong>da</strong>s inovações.<br />

Semelhante à perfeição social dos insetos que fazem tudo igual há milhares de séculos.<br />

É evidente que os empreendimentos governamentais em educação, justiça,<br />

estra<strong>da</strong>s, pontes, saúde, habitação, etc., geralmente não são esmerados, mas custam mais<br />

recursos do que os que são tocados pela iniciativa priva<strong>da</strong>, instiga<strong>da</strong> pala concorrência e<br />

pela exigência de habili<strong>da</strong>de, diferentemente do protegido monopólio governamental<br />

que tem preço garantido sem preocupações com melhorias.<br />

Pelo mesmo princípio o assistencialismo, é um arremedo de assistência social<br />

que contribui para a sobrevivência, mas também para a dependência <strong>da</strong> população<br />

pobre, manti<strong>da</strong> sem necessi<strong>da</strong>de de esforço, sem vontade de melhorar o padrão de vi<strong>da</strong>.<br />

Um pouquinho de ambição seria a salvação.<br />

O voto do submisso vale igual ao do crítico, e é mais previsível. Os assistidos<br />

(não falo dos socorridos) acabam acostumando e aceitando favores como se fossem<br />

direitos. Então acreditam que devem ser servidos e ficam sem incentivo ao esforço pela<br />

autonomia, perdendo a iniciativa. O comunismo de Estado provedor e paternalista<br />

funciona como uma família em que o patriarca avisa que sustentará os filhos enquanto<br />

eles não se sustentarem. É o suficiente para ultrapassarem os quarenta anos de i<strong>da</strong>de na<br />

escola ou em qualquer ativi<strong>da</strong>de não lucrativa. Sem outra priori<strong>da</strong>de, dedicam-se<br />

exclusiva e despreocupa<strong>da</strong>mente aos divertimentos. Para que casar, se pode ser amante?<br />

Para que arranjar emprego se o sustento paternal é satisfatório?<br />

O comunista (proletário no Estado Socialista) sabe que se ‘desenterrar' algum<br />

talento seu, ficará a mercê <strong>da</strong> Burocracia (Nomenklatura) que irá sobrecarrega-lo de<br />

obrigações com prejuízo dos seus programas de lazer, e <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de de satisfazer as suas<br />

curiosi<strong>da</strong>des. Para ele parece que o ‘preferível seria usufruir o igualitário direito ao<br />

assistencialismo estatal'.<br />

De onde o Estado arranjaria os recursos para o assistencialismo, se todos fossem<br />

‘espertos' permanecendo no ninho com o biquinho aberto?<br />

O proletariado sem governo, e desde que tomasse posse de to<strong>da</strong> a riqueza pública<br />

e priva<strong>da</strong>, depois que cansasse de brincar e de destruir descobriria que sem previdência<br />

(ao não ser previdente) iria passar fome. Então procuraria trazer de volta a<br />

desmantela<strong>da</strong> burocracia para organizar a sobra <strong>da</strong> anarquia. Assim cairia na sua<br />

própria armadilha ao perceber que depois do excesso de liber<strong>da</strong>de seria forçado pela<br />

repressão e ficaria mais subjugado do que ao tempo <strong>da</strong> luta de classes.<br />

A nova burocracia reinstala<strong>da</strong> não permitiria nem a liber<strong>da</strong>de de consciência.<br />

Todos seriam obrigados a fazer coro com o déspota, único dono <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de. Seria assim<br />

uma burocracia reguladora do que você come, o que você bebe, o seu lazer, sua arte, sua<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 34


eligião, o que você fala e se possível, o que você pensa. Não há concorrência, tudo é<br />

monopólio.<br />

Uma linha lhe é imposta. Se você pisa fora vai para o paredão ou para o degredo.<br />

O indivíduo não tem importância, sua vi<strong>da</strong> não vale na<strong>da</strong> se a Burocracia entender que<br />

ele atrapalha a comuni<strong>da</strong>de, ou se achar que diverge conceitualmente do dono <strong>da</strong><br />

ver<strong>da</strong>de. Se o divergente tentar asilo político, será perseguido pela ‘KGB'. Sair do país<br />

seria como sair <strong>da</strong> Máfia. Seria considerado um arquivo vivo, uma ameaça para a<br />

sobrevivência comunal.<br />

Mas as utopias encara<strong>da</strong>s como fantasias e não como dogmas são de extrema<br />

importância sociológica.<br />

As utopias devem ser cultiva<strong>da</strong>s como arte, como filosofia. São modos<br />

experimentais de entender os paradigmas vigentes do lado de dentro do Sistema e ao<br />

mesmo tempo espreitar fora à procura de outras alternativas que possam ser estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s e<br />

confronta<strong>da</strong>s. Como seria possível saber se o que você faz é o melhor se não tivesse com<br />

o que comparar?<br />

Comunismo<br />

O comunismo seria o ideal político a ser almejado se a massa humana fosse mais<br />

domesticável e homogênea, se a educação produzisse resultados exatos e previsíveis e se<br />

a justiça fosse ágil e eficaz.<br />

Felizmente existe a diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> espécie humana para <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong>de à<br />

evolução, mas em parte o preço é a democracia, o capitalismo, os presídios, os<br />

incentivos fiscais, as dissuasões, a burguesia.<br />

Seria possível uma espécie de comunismo tribal como aglomeração de famílias<br />

nômades em continente de caça abun<strong>da</strong>nte como nas savanas dos gnus ou nas pra<strong>da</strong>rias<br />

dos bisões <strong>da</strong> pré-história. Para isso seria necessário que o padrão de consumo se<br />

restringisse ao ‘feito em casa'. Mesmo assim, aquele ‘comunal' que desse os melhores<br />

palpi tes para ação em conjunto, em cooperativa seria mais assediado em<br />

aconselhamento, até tornar-se chefe.<br />

Se fosse um comunismo em que todo o povo se nivelasse como classe operária<br />

com um governo absolutista, não haveria estímulo para substituir o interesse e a<br />

criativi<strong>da</strong>de vigente antes do ‘empare<strong>da</strong>mento' <strong>da</strong> classe burguesa. Por isso, o<br />

patrimônio seria dilapi<strong>da</strong>do, chegando o momento em que o proletariado seria<br />

escravizado como tentativa de re-encetar a organização <strong>da</strong> produção. Com a que<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

produção, os bens naturais não renováveis passariam a ser moe<strong>da</strong> de troca por<br />

alimentos importados até o desesperado retorno <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong> e do<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 35


capitalismo e uma profun<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça cultural. E uma mu<strong>da</strong>nça assim pode acontecer,<br />

mas passa por uma quase morte social.<br />

O comunismo de Marx e Engels foi inspirado no desalento e falta de perspectiva<br />

dos operários, em comparação com as expectativas dos dirigentes e proprietários. Os<br />

idealizadores do marxismo não aceitavam o fato dos operários agregarem mais valor à<br />

matéria prima, ao transformá-la em mercadoria, do que o valor revertido em salário,<br />

ficando a "mais-valia" com o dono <strong>da</strong>s instalações que normalmente era também o<br />

administrador, o comerciante e o contribuinte dos tributos. Também pudera, a<br />

diferença entre as regalias dos donos e as dos serviçais era descabi<strong>da</strong> e eram irrisórios os<br />

salários. Só que provavelmente havia proletariado sobrando e com disposição para fazer<br />

qualquer coisa que salvasse a família <strong>da</strong> fome no começo <strong>da</strong> Revolução Industrial. Ain<strong>da</strong><br />

faltava o equilíbrio entre a procura de serviço e a oferta de emprego.<br />

Se o operário pudesse produzir e comercializar sem depender de patrão, ficando<br />

com a mais-valia, logicamente não seria um simples operário. Se fosse preferível<br />

depender do emprego, até mesmo naquelas condições, fica entendido que a relação<br />

entre empregado e empregador era de conveniência recíproca. Se de um lado o<br />

empregador queria arriscar o seu capital na produção que dependeria <strong>da</strong> compra de<br />

matéria prima e de responsabili<strong>da</strong>de pelo treinamento do proletariado, ocupação, saúde<br />

e salário, além <strong>da</strong> comercialização do produto em condições de retorno do investimento<br />

com lucro para reserva de segurança: de outro lado, numa condição de primitiva<br />

miséria, os antigos ‘sem-terra' estavam dispostos a qualquer sacrifício em troca <strong>da</strong><br />

sobrevivência. Ao que parece este aspecto <strong>da</strong> situação não foi observado pelos autores<br />

do Manifesto Comunista, porque o seu objetivo era ‘revolucionar' a Revolução. Como a<br />

Revolução Francesa derrubou as regalias <strong>da</strong> nobreza e alçou a burguesia ao poder em<br />

1789, alentando as esperanças do proletariado de que a burguesia seria mais piedosa do<br />

que a aristocracia, <strong>da</strong>ndo por isso o seu apoio braçal na conquista, mais de meio século<br />

depois chegou a vez <strong>da</strong> que<strong>da</strong> <strong>da</strong> burguesia para elevação do proletariado porque ain<strong>da</strong><br />

não tinham conquistado vantagem com a Revolução.<br />

Marx e Engels queriam acabar com as classes sociais. Não conseguiram. Quando<br />

os burgueses tiveram que executar os trabalhos mais humildes, os proletários abusaram<br />

como se fossem de classe superior aproveitando a oportuni<strong>da</strong>de de revanche. Além<br />

disso, havia os burocratas como Classe Dominante.<br />

A argumentação de "lutas de classe" e "classe dominante" é váli<strong>da</strong> só até<br />

conseguir o intento que é enxotar de um território os seus ocupantes para acampar-se<br />

em seu lugar.<br />

O que fica evidente é que ninguém gosta de ser considerado inferior. Fica<br />

invejoso e torce pelo insucesso de quem tem talento, almeja usurpar.<br />

Atualmente, nesta civilização capitalista, repleta de funções especializa<strong>da</strong>s, as<br />

indústrias e os serviços, são precedidos de cui<strong>da</strong>dosos estudos e projetos, para execução<br />

em equipe treina<strong>da</strong>, organiza<strong>da</strong> e administra<strong>da</strong>. Isso requer um grau de estruturação<br />

social jamais imaginado pelo marxismo-leninismo, em compensação os horizontes se<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 36


abrem a um fantástico descortino que vai chegando junto com o aumento de poder <strong>da</strong><br />

nossa espécie. Só falta estender as oportuni<strong>da</strong>des a todos os que as buscarem.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 37


ENGODO HISTÓRICO<br />

Luta de Classes<br />

Um chavão ou um pregão, um jargão de chorumelas, às vezes é repetido até<br />

parecer ‘lei natural'. De tanto ler e ouvir as palavras "luta de classes", "classe dominante"<br />

e socialismo científico, palavras que exerceram função útil e gloriosa logo após a<br />

Revolução Francesa, no século XVIII quando os burgueses entenderam que poderiam<br />

libertar-se <strong>da</strong> tirania do absolutismo; na Revolução Industrial que a princípio impunha<br />

condições sobre-humanas aos operários antes <strong>da</strong>s conquistas trabalhistas, quando o<br />

empregado era maltratado; carga horária até a exaustão, salário ínfimo, sem direito a<br />

férias nem fim de semana, etc., de tanto insistir no antagonismo entre exploradores<br />

impiedosos dos escravos, dos colonos, dos operários, dos empregados, esse<br />

discursocontinuou sendo surrado depois de surtir o efeito desejado até no século XX,<br />

passando as fases de: necessário, inócuo e agora perturbador.<br />

Desde a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s leis trabalhistas a luta de classes devia ser abran<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

até sobrar apenas alguma greve para exigir o cumprimento <strong>da</strong> Lei. As depre<strong>da</strong>ções dos<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 38


ônibus são atos de terrorismo que deviam mobilizar as forças arma<strong>da</strong>s de defesa<br />

nacional, por não representarem nenhum esforço de amparo dos interesses sociais, e<br />

vulgarizarem o terrorismo. Configura-se como uma tentativa de desestruturar as<br />

instituições e a segurança do ci<strong>da</strong>dão contribuinte, enfim, um banditismo<br />

antidemocrático pior do que uma guerra declara<strong>da</strong>. Uma barbárie que não foi tolera<strong>da</strong><br />

nem durante a ingenui<strong>da</strong>de que deu origem às idéias de socie<strong>da</strong>de anárquica, porque os<br />

maiores anarquistas que chegaram ao poder, na prática revelaram-se imperialistas<br />

absolutistas, na Espanha e na Rússia.<br />

As revoluções ti<strong>da</strong>s como movimento de vanguar<strong>da</strong>, sempre foram precedi<strong>da</strong>s<br />

por brilhantes teorias, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s como reação às práticas irresponsáveis ou<br />

irracionais vigorantes em séculos passados. A liber<strong>da</strong>de de culto e de consciência<br />

determina<strong>da</strong> pela Constituição brasileira, não veio para facilitar a bandi<strong>da</strong>gem que é<br />

pre<strong>da</strong>tória <strong>da</strong>quilo que a Civilização conseguiu de melhor e mais belo, veio para <strong>da</strong>r<br />

chance à Socie<strong>da</strong>de de continuar evoluindo. A liber<strong>da</strong>de de consciência serve para<br />

propiciar a diversificação cultural, para construir e não para destruir a comuni<strong>da</strong>de. Os<br />

atos de terrorismo e de van<strong>da</strong>lismo não se comparam com as revoluções defendi<strong>da</strong>s<br />

pelos marxistas, nem são manifestações políticas. É banditismo descarado pior do que<br />

guerra <strong>da</strong>s hor<strong>da</strong>s invasoras e saqueadoras dos primórdios <strong>da</strong> Civilização.<br />

Se até agora ain<strong>da</strong> existe gente morrendo de exaustão operária, acontece por dois<br />

motivos, mão-de-obra mal remunera<strong>da</strong> forçando aumento voluntário de esforço e carga<br />

horária, além <strong>da</strong> falta de denúncia. O fato é que os ‘novos burgueses' estão ao alcance do<br />

braço pesado <strong>da</strong> Lei.<br />

Sabemos que as antigas ‘elites' brasileiras conseguiram a revanche e se<br />

restabeleceram "pegando o vácuo" pela trilha do poder na ‘sombra' <strong>da</strong> Revolução de<br />

1964. Mas o que quero enfocar é que ao declarar guerra à "Classe Dominante", corre-se<br />

o risco de injuriar as instituições públicas e promover amotinação contra o governo<br />

democrático, atrasando o desenvolvimento e pondo em risco a segurança nacional, só<br />

para garantir uma ideologia ultrapassa<strong>da</strong> e inoportuna. Afinal a anarquia sempre foi<br />

utopia e de agora em diante poderia ser comparável a genocídio, tal a inviabili<strong>da</strong>de em<br />

que se encontra. Não podemos mais <strong>da</strong>r status de direito político, mas sim de<br />

delinqüência social. Se existe decepção com o rumo governamental e suas ‘medi<strong>da</strong>s', de<br />

na<strong>da</strong> vale atentar contra a Democracia. Ca<strong>da</strong> povo terá o governo que merecer, porque é<br />

escolhido pela maioria. O único remédio para um mau governo é melhorar a opinião<br />

pública.<br />

Liber<strong>da</strong>de de pensamento, tudo bem, mas liber<strong>da</strong>de de ação, apenas quando não<br />

arranha direitos de outrem. Quem não estiver contente com o seu governo, que<br />

encontre nele as falhas que justifiquem a sua troca imediata ou espere até as próximas<br />

eleições. O que não pode tentar é destruir as instituições sem justificar uma reação<br />

guerreira e legítima <strong>da</strong> nova ‘classe dominante'.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 39


Classe Dominante<br />

Quando no governo Vargas (Brasil) os direitos trabalhistas foram instituídos, o<br />

salário mínimo era suficiente para o padrão de vi<strong>da</strong> que era muito mais simples naquele<br />

tempo. Os valores dos bens e serviços eram muito diferentes dos atuais e a carga<br />

tributária também. Até o PIB era mais bem repartido do que hoje. Mas essa decadência<br />

resulta de outras crises.<br />

O que poderíamos intitular de classe dominante antes de Vargas — as<br />

oligarquias — foram reduzi<strong>da</strong>s à ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia comum, elas se enquadraram no sistema<br />

democrático legal e perderam parte do domínio, mas tentaram se restabelecer após a<br />

renúncia de Jânio Quadros. Entretanto a CLT (Consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s Leis do Trabalho)<br />

continua em vigor até hoje (2004).<br />

Como fica o conceito de ‘Classe Dominante' depois do "fortalecimento do Estado<br />

como forma de combater as oligarquias regionais" e que agora parece ter função na<br />

neutralização <strong>da</strong>s ‘elites'? Agora que a escolha dos governantes é livre e o voto estendido<br />

a to<strong>da</strong>s as pessoas a partir dos dezesseis anos de i<strong>da</strong>de; onde fica a figura comunitária<br />

<strong>da</strong>s minorias dominantes? Aliás, já não está na hora <strong>da</strong> nova ‘classe dominante<br />

governamental' parar de inviabilizar as ‘elites'?<br />

Não raro a ‘classe dominante' a que se referem os anarquistas nem é uma classe<br />

articula<strong>da</strong> ou organiza<strong>da</strong>, mas apenas "lobby" de setores diversos e independentes,<br />

defendendo interesses específicos, como fazem os sindicatos.<br />

O cientista político deve observar as disputas <strong>da</strong>s várias cama<strong>da</strong>s sociais pela<br />

ótica do macro interesse nacional, deixando às facções interessa<strong>da</strong>s as ‘brigas' pelos seus<br />

desígnios.<br />

Creio que a conjuntura de classe dominante já foi substituí<strong>da</strong> pelo eleitorado <strong>da</strong><br />

Democracia. Porém restam os oportunistas de ambos os lados <strong>da</strong> luta de classes, uns<br />

tentando o lucro fácil, "doa a quem doer" e do outro lado os baderneiros iludidos por<br />

um ‘dogmatismo' equivocado. Esses sofismas indicam que a Democracia não é a<br />

chega<strong>da</strong> no paraíso. A Democracia é um longo caminho. Entretanto os oprimidos de<br />

agora já podem alimentar esperanças enquanto mantiverem o alento para emergir<br />

quando aprenderem a ser democratas e eleitores conscientes.<br />

A soberania popular (o poder do voto) proporciona uma alternância mais<br />

legítima <strong>da</strong> administração pública, uma depuração <strong>da</strong> charlatanice política contanto que<br />

os sufrágios sejam livres de influências do poder econômico, livres de manipulações dos<br />

resultados, livres de boatos que caluniam os candi<strong>da</strong>tos adversários, livres de promessas<br />

mirabolantes, livres de compra e ven<strong>da</strong> dos votos, livres do voto obrigatório (quem vota<br />

sem querer, vota mal).<br />

Quando a classe dominante era constituí<strong>da</strong> de oligarcas golpistas, as classes<br />

oprimi<strong>da</strong>s se rebelavam com razão, porque não havia outro meio de defender os seus<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 40


direitos. Hodiernamente, com o advento <strong>da</strong> República Democrática, os oprimidos<br />

escolhem quem tenha poder para corrigir legalmente as causas <strong>da</strong> opressão, com nova<br />

escolha de quatro em quatro anos, além dos gestores (poder executivo) do patrimônio<br />

social, <strong>da</strong> arreca<strong>da</strong>ção de impostos e <strong>da</strong> destinação dos recursos de conformi<strong>da</strong>de com a<br />

Lei Orçamentária. Portanto, a classe dominante agora é a maioria dos eleitores, bem<br />

como as pessoas que melhor equacionam os problemas e apresentam as melhores<br />

alternativas de solução. Pena que os patrões (eleitores), em sua maioria sejam tão pobres<br />

enquanto os man<strong>da</strong>tários ficam tão ricos. Como representantes eles deviam contentarse<br />

com um nível econômico idêntico ao <strong>da</strong> média dos man<strong>da</strong>ntes. Quem sabe se assim<br />

os ‘representantes' se preocupassem mais com os miseráveis para melhorar a média?<br />

O conceito de elite foi deturpado pelas classes oprimi<strong>da</strong>s, provavelmente por<br />

compor, no passado, parte <strong>da</strong>s oligarquias, ou mesmo pelo preconceito contra as<br />

pessoas bem sucedi<strong>da</strong>s que por isso lembram <strong>da</strong> burguesia. De onde mais poderiam<br />

surgir os indivíduos mais aptos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, senão dentre as famílias que souberam<br />

prosperar e por isso são capazes de melhor custear a educação? Existem exceções, alguns<br />

saem <strong>da</strong> miséria e com inteligência e esforço dobrados, atingem os mais altos graus em<br />

educação, sem complexo de culpa por ambicionarem o status de elite. Daí conclui-se<br />

que elite não é uma classe social estável. Enquanto alguns alcançam outros despencam.<br />

Não considero de elite quem não age como tal, mesmo que seja um dos mais ricos<br />

economicamente.<br />

Os primeiros revolucionários pró-socialismo introduziram a confusão entre os<br />

conceitos de prodígio intelectual e perigoso opressor. Assim, repudiaram os bons<br />

elementos por constituírem a elite e prestigiaram os mais humildes. Na<strong>da</strong> contra a<br />

defesa dos mais humildes, desde que aponte para eles o melhor caminho do<br />

desenvolvimento. Almejar um ideal social de comunismo focado na pobreza e na<br />

miséria; posar de demagogo paternalista, só pode ser incentivo de torci<strong>da</strong> alienígena ou<br />

de postulante ao despotismo.<br />

Mesmo diante do exposto a idéia de ‘classes dominantes' não pode ser descarta<strong>da</strong><br />

como se fosse mera ficção. Existem regiões em que a miséria facilita a ‘generosi<strong>da</strong>de',<br />

sendo por isso a penúria cultua<strong>da</strong> pelos caciques políticos. Ain<strong>da</strong> persiste a má<br />

distribuição de ren<strong>da</strong> no Brasil, provavelmente motiva<strong>da</strong> pelo assistencialismo como<br />

também a insuficiência de estabelecimentos de ensino profissionalizante que valorizem<br />

a mão-de-obra e os prestadores de serviço amparados na produtivi<strong>da</strong>de. Marx ficaria<br />

escan<strong>da</strong>lizado se conhecesse o desamparo a que são submetidos os proprietários rurais:<br />

o preço do leite pago aos donos <strong>da</strong>s vacas e patrões dos ordenhadores é geralmente um<br />

quinto do preço aos consumidores. Com uma dispari<strong>da</strong>de assim não é estranhável a má<br />

distribuição de ren<strong>da</strong> no Brasil. Contudo fica a advertência de que devemos evitar o<br />

exagero de antagonismo estimulado entre as ‘castas' pelos chavões esquerdistas. Mas não<br />

tenho argumentação caso você prefira uma ‘enchente que o carregue' só para ser ‘um<br />

bom cúmplice' do movimento político <strong>da</strong> sua preferência, sem preocupação com as<br />

finali<strong>da</strong>des ocultas. Para quem prefere o mal, não há outra solução.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 41


O Bolo Brasileiro<br />

Os brasileiros nascidos antes <strong>da</strong> morte de Vargas (24/08/1954), devem lembrarse<br />

do mote de 1964, de que não seriam atenua<strong>da</strong>s as desigual<strong>da</strong>des econômicas e nem<br />

realizados os necessários investimentos sociais, porque a priori<strong>da</strong>de era deixar bolo<br />

crescer para depois repartir.<br />

Até 1964 o partido político mais sensível ao "lobby" dos patrões e dos banqueiros<br />

(Classe Dominante segundo a ideologia marxista), era a UDN que passou a ser uma<br />

classe adversária <strong>da</strong> outra que era o PTB, um partido mais popular. Aí está a luta de<br />

classes de que resulta uma dominante, intitula<strong>da</strong> de ‘Partido Situacionista' e as classes<br />

‘domina<strong>da</strong>s' ou intitula<strong>da</strong>s de partidos <strong>da</strong> oposição.<br />

Getúlio Vargas conseguiu equilibrar os poderes <strong>da</strong>s classes dominantes e<br />

domina<strong>da</strong>s nas relações trabalhistas do Brasil, mas os banqueiros e os patrões brasileiros<br />

tiveram na Revolução de 31 de março de 1964 (Revolução Primeiro de Abril) a revanche<br />

<strong>da</strong> ‘Classe Dominante'. Se a ‘Revolução' não serviu para derrubar a CLT, pode ter<br />

servido pelo menos para reduzir o rendimento salarial, atendendo e adotando aquela<br />

advertência ministerial que afirmava ser necessário adiar a divisão do ‘bolo'. Acontece<br />

que o bolo fermentou e o Governo aumentou a sua arreca<strong>da</strong>ção. Quanto à distribuição<br />

do PIB só aumentaram as desigual<strong>da</strong>des. Hoje (2004) a média salarial dos brasileiros<br />

não viabiliza um consumo decente.<br />

Caricaturando a administração, diríamos que os municípios e os estados só<br />

queriam esbanjar e gastar para o engrandecimento dos ‘poderosos chefões' eleitos,<br />

deixando a ingovernabili<strong>da</strong>de para o sucessor, que se valia do paternalismo federal. O<br />

resultado foi uma ‘gastança destrambelha<strong>da</strong>' que era manti<strong>da</strong> despudora<strong>da</strong>mente pela<br />

inflação (enquanto o dinheiro desvalorizava na mão do brasileiro comum, a diferença<br />

era reposta por emissão do Banco Central para o Tesouro, como uma legitimação de<br />

arreca<strong>da</strong>ção virtual). Como a emissão de dinheiro desencadeava uma inflação galopante,<br />

‘foi necessário' instituir a ven<strong>da</strong> e recompra de ORTN (obrigações reajustáveis do<br />

tesouro nacional), vendi<strong>da</strong> pelo Governo a um preço e depois compra<strong>da</strong> por outro<br />

acrescido de juros e correção monetária. Parece que não houve preocupação com<br />

limites, preferindo-se supor que fosse o ‘milagre <strong>da</strong> multiplicação'. Parecia que ninguém<br />

levantava a vista para ver a avalanche do endivi<strong>da</strong>mento que se avultava.<br />

A irresponsabili<strong>da</strong>de gerencial nas finanças brasileiras sofreu forte incremento a<br />

partir do governo ‘revolucionário', por ocasião do retorno <strong>da</strong> inflação, quando um<br />

ministro <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> insinuou que administrar a dívi<strong>da</strong> estatal é empurrar para o<br />

sucessor, o que significa conseguir sempre um empréstimo externo do tamanho <strong>da</strong><br />

parcela venci<strong>da</strong>, soma<strong>da</strong> ao valor dos juros. Esse objetivo trouxe uma aparente<br />

prosperi<strong>da</strong>de momentânea, mas esqueceram-se de puxar o freio em tempo. Chegamos a<br />

uma situação em que os financiadores e investidores externos viram a bola de neve se<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 42


tornando avalanche (o bolo <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong>), o que forçou o governo a oferecer juros mais e<br />

mais elevados. Isso parecia bom porque para quem estava montado, o empenho<br />

hipotecário do Brasil parecia apenas dificul<strong>da</strong>de para o governante subseqüente.<br />

Agora que já demos ouro para o bem do Brasil (deveria pagar as dívi<strong>da</strong>s do<br />

Tesouro) seremos obrigados a agüentar impostos escorchantes sem os investimentos<br />

esperados, até a volta <strong>da</strong> normali<strong>da</strong>de financeira, quando o bolo estiver consumido pelos<br />

juros. Quando não há crescimento econômico que ultrapasse as despesas com juros <strong>da</strong><br />

dívi<strong>da</strong> interna e externa, o ‘jeito' é descapitalizar-se enquanto é tempo de voltar à<br />

normalização financeira, caso contrário o crescimento econômico continuará<br />

insignificante e mascarado.<br />

O governo segurou um juro alto na taxa básica, que contribuiu fortemente para o<br />

super endivi<strong>da</strong>mento. Além disso, protegeu o sistema bancário, que sempre foi a<br />

ativi<strong>da</strong>de mais lucrativa do Brasil (descontando as ilícitas), garantindo juros<br />

exorbitantes sobre financiamentos ao consumidor (para inibir o crescimento<br />

econômico), e socorrendo as instituições bancárias que se encontravam em moratória<br />

devido a gerência fraudulenta. Hoje o "serviço <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> pública" pesa tanto no<br />

orçamento que a infra-estrutura nacional, como a rede ferroviária, a rodoviária, aérea,<br />

fluvial, etc. ficaram precárias ou sucata<strong>da</strong>s, porque quase tudo o que poderia ser<br />

investido, vai para o ‘serviço <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong>'.<br />

As greves no serviço público atestam a insatisfação geral e a que<strong>da</strong> <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> do<br />

funcionalismo. Enquanto os gastos de manutenção e os investimentos vão<br />

sistematicamente sofrendo reduções, a tabela do IR não sofre correção monetária,<br />

arreca<strong>da</strong>ndo mais e mais dinheiro para a evasão de divisas, causando o empobrecimento<br />

dos assalariados. Faltam contratações de médicos e remédios nos hospitais públicos, a<br />

remuneração dos conveniados do SUS deixou de ser interessante a ponto de<br />

desencadear o descredenciamento em massa. Enquanto isso quem não pode custear os<br />

atendimentos médicos morre sem assistência porque a CPMF vai para outros buracos.<br />

A fiscalização sanitária <strong>da</strong> agro-pecuária fracassou a ponto de voltarem os focos de febre<br />

aftosa, com prejuízos de muitos bilhões como resultado <strong>da</strong> economia de meia dúzia de<br />

milhões, para garantir um ‘bom' superávit primário. Tudo isso é resultado do descabido<br />

endivi<strong>da</strong>mento público, o ver<strong>da</strong>deiro bolo que cresceu e agora está sendo partilhado.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 43


ÉTICA<br />

RESPONSABILIDADE SOCIAL<br />

Merecimento<br />

Devemos, se é que devemos, alguma reparação e melhor amparo a alguém, como<br />

indenização por abuso de poder, ou por seqüestro, trabalho forçado, apropriação<br />

indébita ou qualquer outra transgressão a alguma lei vigente no tempo <strong>da</strong> escravidão,<br />

devemos aos negros e às negras, mas apenas os puros descendentes dos escravos. Creio<br />

que alguns negros do Brasil sejam descendentes de negros imigrantes, mas esse seria<br />

outro caso. Como é outro caso o dos brancos arregimentados com lin<strong>da</strong>s promessas<br />

para trabalhar em fazen<strong>da</strong>s remotas e depois descobrem que são vítimas de escravidão<br />

atual. Quanto aos pardos, com ou sem alguma percentagem de parentesco com antigos<br />

escravos, esses somos nos, mistura de ‘raças' os brasileiros pagadores de impostos,<br />

usuários do serviço público, solidários <strong>da</strong>s dívi<strong>da</strong>s e <strong>da</strong>s glórias brasileiras. Solidários em<br />

tudo que afeta o País tanto do bem quanto do mal.<br />

Não seja cobra<strong>da</strong> dos inocentes, uma reparação pelo que outros cometeram.<br />

Apenas paguem os senhores escravizadores, pelo que amealharam indevi<strong>da</strong>mente e pelo<br />

constrangimento causado, (que em alguns casos não chegou a ser ilegal em seu tempo).<br />

Deveria ser calculado o que os negros deixaram de ter e de ser se ficassem em paz na<br />

vidinha que levavam na Mãe África antes do seqüestro, para recompor na medi<strong>da</strong> do<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 44


possível, se eles desejassem. Se houver ressarcimento com descuido de extensão e<br />

quantificação, ao correr a notícia dos privilégios, muita gente negra <strong>da</strong> América, <strong>da</strong><br />

Europa, e de outras partes do mundo podem pegar carona e baldearem-se para cá, assim<br />

como está acontecendo com os brasiguaios e desaldeados de países vizinhos (índios ou<br />

mestiços), só para levar vantagem sobre a nossa confusão com os ‘direitos' dos sem terra<br />

e dos índios. Assim como os incentivos fiscais atraem investimentos produtivos, os<br />

privilégios atraem milhões de interessados em ‘levar vantagem' sobre a ingenui<strong>da</strong>de<br />

oficial.<br />

Já os mulatos e as mulatas são brasileiros e brasileiras comuns como eu,<br />

entrosados, participantes e patriotas. Acredito que os negros puro sangue também são.<br />

Enfim, todos os que se escan<strong>da</strong>lizam com falcatruas vergonhosas e se orgulham com as<br />

vitórias e conquistas leais em nome do Brasil são os ver<strong>da</strong>deiros patrícios, sem<br />

diferenças por causa de cor <strong>da</strong> pele, sexo ou raça.<br />

Muitos dos costumes que hoje parecem "politicamente corretos" serão<br />

descabidos <strong>da</strong>qui a um século, se o XXI melhorar, e quando isso acontece, aparecem os<br />

‘injustiçados' a reclamar indenizações. Ora, pois os culpados devedores do século<br />

dezenove não existem mais. Nós os ‘descendentes' estamos misturados até com as<br />

vítimas, os ‘credores' injustiçados. Alguns de nós podemos ter uma partícula de<br />

‘descendência culpa<strong>da</strong>', com igual partícula de vítima, difícil de determinar.<br />

Consertar os erros é dever de quem for capaz. Obrigar descendentes a pagar<br />

pelas culpas dos antepassados seria injustiça.<br />

As preferências populares por tipos étnicos são passageiras como as mo<strong>da</strong>s.<br />

Muitos(as) se maquiam para parecerem mais claros(as), outros(as) passam horas ao sol<br />

para parecerem mais escuros(as), mas todos(as) gostam de parecerem brasileiros. A<br />

conquista <strong>da</strong> simpatia popular não pode ser imposta por lei e por cobranças descabi<strong>da</strong>s,<br />

mas sim por comportamento amistoso. Não sendo assim, <strong>da</strong>qui a pouco mais de<br />

noventa por cento <strong>da</strong> nossa população poderá reivindicar os seus direitos a regalias<br />

(talvez por não estarem plenamente satisfeitos com a própria cor ou com a composição<br />

do código genético). Quem sobraria para arcar? Suponhamos que a exceção devia ser<br />

uma pequena parte fora <strong>da</strong> regra e não o principal. Por acaso não seria uma terrível<br />

discriminação perseguir os mais ‘branquelos' para obriga-los a nos pagar indenizações<br />

absur<strong>da</strong>s como se eles se mantivessem no gozo de um privilégio indevido, uma<br />

vantagem usurpa<strong>da</strong> dos morenos?<br />

Todos nós somos credores do nosso Governo, pelas contribuições e impostos<br />

que viraram caixa dois para a compra de apoio <strong>da</strong>s negociatas; pela CPMF que não foi<br />

aplica<strong>da</strong> em saúde, pelas obras, serviços etc. superfatura<strong>da</strong>s e pagas com o dinheiro que<br />

o contribuinte confiou ao Tesouro; pelo essencial que não foi feito e pelo supérfluo que<br />

foi começado para nunca ser terminado, apenas servir como despesa de publici<strong>da</strong>de.<br />

Mas somos também solidários porque a falência do Governo seria a falência do Brasil e<br />

de todos os brasileiros.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 45


Se todos os que foram prejudicados pelos erros ideológicos fossem agora<br />

ressarcidos, a ruína seria geral, a começar pelas Igrejas, que promoveram massacres em<br />

nome de Jesus, Maomé e Alá. Normalmente, as autori<strong>da</strong>des atuais pedem desculpas<br />

pelos erros <strong>da</strong>s anteriores, procurando viver em paz.<br />

Todos nós somos devedores a Deus pelo que Ele fez por nós e pelo que falta<br />

fazermos por Ele, bem como pelos nossos erros. Tudo o que somos devemos a Ele.<br />

Ocorre que Ele só espera que ca<strong>da</strong> um reconheça, se arrepen<strong>da</strong> e não erre mais. O que<br />

Deus espera de nós é o que esperamos de nossos filhos, desenvolvam-se. É como o bom<br />

pai que se empenha para que o filho encontre o melhor caminho.<br />

Privilégios<br />

Não é lógico separar uma parte <strong>da</strong>s vagas nas nossas universi<strong>da</strong>des para serem<br />

preenchi<strong>da</strong>s por privilegiados, mesmo que se considerem menos iguais que os outros. Se<br />

não temos condições de oferecer vagas suficientes no terceiro grau, para todos os<br />

pretendentes graduados no segundo, então vamos em frente com o vestibular, que na<strong>da</strong><br />

mais é do que um concurso público, em que devem prevalecer regrasabsolutas,<br />

equânimes e sem apadrinhamentos na distribuição de vagas escassas. As instituições do<br />

Direito não suportam contemplações de privilégio sem perderem o respeito.<br />

Na seleção dos candi<strong>da</strong>tos às poucas vagas dos melhores cursos de terceiro grau,<br />

deve haver um meio de ocultar a identi<strong>da</strong>de dos vestibulandos, para impedir influências<br />

de preconceitos ou fraudes tanto de proteção como de perseguição por motivo de<br />

amizade, religião, futebol, partido político, beleza ou feiúra física, poder aquisitivo, raça,<br />

cor <strong>da</strong> pele, etc. As únicas quali<strong>da</strong>des admissíveis para a escolha dos vencedores na<br />

disputa por vagas escassas no terceiro grau devem ser as provas de conhecimento,<br />

aptidão inteligência, do esforço estu<strong>da</strong>ntil e do aproveitamento, para garantir a<br />

formação de excelentes profissionais que orgulhem os educandários e o Brasil.<br />

Ocupar vagas que sejam objetos de concurso público pelo modo discriminatório<br />

<strong>da</strong>s cotas, é uma mu<strong>da</strong>nça nas regras do jogo que degra<strong>da</strong>, desvirtua e desalenta os<br />

ideais de excelência profissional dos jovens pretendentes.<br />

A confiabili<strong>da</strong>de que sustenta a aceitação e define a imagem, a preferência e a<br />

honradez do estabelecimento de ensino depende de cui<strong>da</strong>dos extremosos para manterse<br />

em equilíbrio. A serie<strong>da</strong>de e o respeito devem imperar na classificação ou escolha dos<br />

que serão encarregados do progresso <strong>da</strong>s ciências.<br />

A honesti<strong>da</strong>de deve ser prioritária durante a educação para que o resultado não<br />

seja a formação de corruptos.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 46


Existem ci<strong>da</strong>des brasileiras onde os que se declaram negros são a maioria. Outras<br />

há onde o negro é raro. Parece que o legislador responsável pelo sistema de cotas não<br />

levou isso em consideração. Sobrarão cotas onde haja escassez de negros.<br />

As ‘melhores cabeças' geralmente iniciam os estudos em escolas particulares<br />

desde o pré-primário, inacessível à pobreza. Isso na<strong>da</strong> tem a ver com a aparência externa<br />

<strong>da</strong>s pessoas. Quem vê a cor <strong>da</strong> pele não adivinha a inteligência e a dedicação que ela<br />

abriga. Na questão <strong>da</strong> inteligência as ‘raças' em média são iguais. Por isso se compõem<br />

de pessoas de todos os graus de capacitação, desde que sujeitas às mesmas condições.<br />

Os negros precisam de maior encorajamento para o convívio social. Conheço<br />

negros bem sucedidos porque mantêm uma invejável alegria de viver.<br />

A consciência negra deve continuar se empenhando no desenvolvimento <strong>da</strong>s<br />

motivações necessárias para conquistar e ampliar a simpatia dos outros grupos,<br />

buscando sempre a integração e abrindo mão <strong>da</strong> exclusão e <strong>da</strong> segregação. Quando<br />

socialmente integrados, os negros contribuem com muitos heróis, principalmente por<br />

meio <strong>da</strong>s artes e dos esportes, uma forte vocação dos meus irmãos negros que são<br />

imbatíveis em algumas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des. Devemos balizar as nossas aspirações, os nossos<br />

ideais, não por uma ‘raça', não por um ídolo, mas pelos feitos humanos, sejam proezas<br />

de saltimbancos, seja cultura indígena, seja arte africana, seja malabarismo chinês ou<br />

aprimoramento técnico japonês, seja o siso musical alemão do século dezenove. To<strong>da</strong> a<br />

filosofia, to<strong>da</strong> descoberta científica, to<strong>da</strong> maravilha <strong>da</strong> arte pode repercutir em<br />

benefícios para a humani<strong>da</strong>de inseri<strong>da</strong> na Globalização e serve de rumo para novos<br />

objetivos a serem alcançados.<br />

<strong>Em</strong> vez de quebrar as regras básicas do concurso vestibular, não seria muito<br />

melhor garantir aos mais pobres uma boa formação escolar desde o pré? Contudo não<br />

esqueçamos de um detalhe: um bom ou mau curso esmaece de importância quando a<br />

pessoa continua se aprimorando até desenterrar o seu talento. Então o que conta já não<br />

é a preparação, mas uma produção intelectual de alto nível, embora geralmente o<br />

educandário formador seja contemplado pelo destaque.<br />

O Governo sempre corta boa parte do orçamento, principalmente os<br />

investimentos, como também verbas destina<strong>da</strong>s apenas à manutenção <strong>da</strong>s instituições.<br />

Por isso a degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s escolas públicas. As ‘melhores cabeças' embarcam nas<br />

universi<strong>da</strong>des públicas, mas os melhores profissionais formam-se nas particulares, mais<br />

bem equipa<strong>da</strong>s. O Poder Público não terá o direito de bagunçar o sistema de escolha nas<br />

instituições particulares. Não deve descambar pela falta de serie<strong>da</strong>de dos legisladores. Se<br />

as instituições públicas se degra<strong>da</strong>m, pior será se arrastarem consigo também as<br />

instituições particulares.<br />

Os estu<strong>da</strong>ntes que alcançam as melhores colocações, geralmente iniciam os<br />

estudos em escolas particulares desde o prezinho, inacessível à pobreza.<br />

Pelas estatísticas divulga<strong>da</strong>s, os descendentes de negros são mais pobres e<br />

permanecem estu<strong>da</strong>ntes por menos tempo do que os brancos. Muito claro está que no<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 47


Brasil quem é mais pobre não consegue custear estudos em educandários empresariais.<br />

A mão-de-obra juvenil é indispensável para o sustento <strong>da</strong>s famílias pobres. Sem avançar<br />

nos estudos, eles perdem na competitivi<strong>da</strong>de e assim fica muito difícil emergir <strong>da</strong><br />

pobreza e ingressar em melhor classe, quando a ascensão social seria viável com melhor<br />

formação escolar e profissional.<br />

<strong>Em</strong> vez de quebrar as regras básicas do concurso vestibular, não seria muito<br />

melhor garantir aos mais pobres uma formação escolar tão boa quanto a dos ricos?<br />

Terra Selvagem<br />

Este país é a pátria de todos os brasileiros? Ou teremos que devolvê-lo todo aos<br />

índios?<br />

Os índios já foram (e boa parte ain<strong>da</strong> são) aborígines, ingênuos, fósseis vivos,<br />

"prato cheio" para os arqueólogos e antropólogos que estu<strong>da</strong>m os povos de civilizações<br />

antigas para situar as crises atuais e saber de onde viemos e para onde vamos.<br />

Hoje muitas aldeias são manti<strong>da</strong>s pela Fazen<strong>da</strong> Pública no entorno urbano,<br />

como se os aldeães fossem merecedores <strong>da</strong> nossa indenização ou porque nós os novos<br />

ingênuos, usurpamos as suas terras que provavelmente estavam abandona<strong>da</strong>s devido ao<br />

nomadismo. Agora, depois de séculos, no retorno às antigas querências eles aos poucos<br />

vão querendo de ‘volta' e vão invadindo, ‘retomando'. Eles só têm que desejar, porque<br />

para eles tudo deve ser gratuito, garantido pela nossa própria Constituição.<br />

Na<strong>da</strong> contra a cari<strong>da</strong>de, em momentos de penúria ou catástrofe. Agora! Tolerar<br />

‘nações' internas, onde as leis brasileiras são letra morta. E ain<strong>da</strong> tendo que sustentar<br />

com cestas básicas e aposentadorias, como se eles pudessem tributar-nos! Tolerar<br />

seqüestros, humilhações e depre<strong>da</strong>ções em grande escala. Ficar olhando como se eles<br />

fossem seres deste mundo enquanto nós fossemos alienígenas ou os politicamente<br />

incorretos!<br />

Desarmar os ci<strong>da</strong>dãos de bem, cumpridores <strong>da</strong>s obrigações sociais e permitir que<br />

os ‘estranhos' nos ameacem com lanças, porretes e flechas e exerçam um domínio que<br />

nem o poder legítimo exerce, pela inaceitável barbari<strong>da</strong>de que seria. Demarcar uma<br />

gleba tamanho nação para meia dúzia de famílias como fez o ex-presidente Collor para<br />

os ianomamis, e ain<strong>da</strong> tolerar outras ‘nações-reserva' onde as autori<strong>da</strong>des e as leis<br />

brasileiras não são permiti<strong>da</strong>s, isso tudo mais parece trabalho de marionete manobra<strong>da</strong><br />

por algumas ONG(s) de ideologia inconfessável ou até por determinados ‘missionários<br />

estrangeiros', que gostariam de considerar como terra sem dono, a maior parte do<br />

Brasil.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 48


Eu gostaria de ser contestado, mas unicamente pela ver<strong>da</strong>de. Sei que peco por<br />

generalizar, visto que existem tribos que já encontraram a sua maneira de ser<br />

participativos, assim como sei que grande parte dos ditos civilizados ou ‘brancos'<br />

continuam ‘mamando' depois de adultos, pois se passarem a ser produtivos<br />

contribuintes, perderão a mamata.<br />

Claro que enquanto os ‘nativos' man<strong>da</strong>m, nós obedecemos e a Constituição<br />

garante, eles não terão nenhum interesse em perder regalias para serem integrados à<br />

civilização.<br />

A mim parece que os autóctones europeus foram todos assimilados pela<br />

globalização; os asiáticos estão acompanhando a civilização vigente <strong>da</strong> melhor maneira<br />

disponível em ca<strong>da</strong> local onde vivem; os nativos paraguaios, os australianos, os<br />

mexicanos, etc., não são ci<strong>da</strong>dãos comuns? No mínimo camponeses?<br />

No prazo de uma geração, uma pessoa ou até uma etnia integra<strong>da</strong> é capaz de<br />

absorver a nova cultura local, geralmente interagindo e contribuindo para o<br />

enriquecimento <strong>da</strong> civilização, como ocorreu com a imigração de diversos povos no<br />

Brasil. <strong>Em</strong> média, todos os homens são iguais se submetidos à mesma educação. Não é<br />

necessário aprender o Guarani para entender o dialeto de um pequeno autóctone filho<br />

adotivo desde bebê. Fala a tua língua que quando ele crescer será a dele também, assim<br />

como o resto <strong>da</strong> tua cultura.<br />

Porque tivemos que manter selvagens esses povos e sob tutela por quinhentos<br />

anos, como se eles fossem bichos e nós fossemos seus hospedes indesejáveis por todo<br />

esse período? Confuso, não é?<br />

Se nós, que somos constituídos desta mistura de negro, italiano, português,<br />

sueco, alemão, russo, chinês, polonês, judeu, índio, etc., ain<strong>da</strong> temos de ostentar a pecha<br />

de invasores em nossa pátria, então acaso deveríamos ser estraçalhados para que as<br />

nossas partículas fossem devolvi<strong>da</strong>s para as terras desconheci<strong>da</strong>s que nos ‘produziram'?<br />

Acontece que não existem mais os invasores de 505 anos passados, nem os ‘índios atuais<br />

são os aborígines que aceitaram a invasão.<br />

Não aceito e não vejo com simpatia a idéia que os ‘missionários' tentam impor<br />

aos nossos irmãos ‘autóctones' de que nós temos para com eles uma dívi<strong>da</strong> impagável.<br />

Essa é uma fraude que esgota a nossa paciência.<br />

Já se foi o bom tempo em que o Barão do Rio Branco defendia o Patrimônio<br />

Nacional, com patriotismo. Hoje o que vemos é uma situação tal que algumas ONG(s)<br />

prosperam contra a nossa soberania. Incutiram nos nossos ‘líderes' a idéia de que os<br />

índios eram os donos do Brasil e que nós somos os "sem terra" invasores; outras<br />

‘ensinam' que eles devem ser mantidos na barbárie, para o estudo <strong>da</strong> pré-história.<br />

Passaram a idéia de que os índios, quando invadem, roubam, seqüestram e depre<strong>da</strong>m,<br />

estão apenas ‘reocupando' como se este país estivesse desocupado e fosse todo deles, e<br />

que os criminosos fossemos nós já que (segundo afirmação de um senador) nunca um<br />

antropólogo consultado declarou uma área recém invadi<strong>da</strong> pelos índios como de<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 49


legítima proprie<strong>da</strong>de do fazendeiro alijado. Até mesmo a nossa Constituição de 1988<br />

ficou deturpa<strong>da</strong> a esse respeito, se não reconhece como proprie<strong>da</strong>des particulares (ao<br />

menos para fins de indenização) áreas que apresentam cadeia dominial legítima,<br />

centenária e originária de decreto do Governo.<br />

Sem dúvi<strong>da</strong> "as áreas tradicionalmente ocupa<strong>da</strong>s pelos índios destinam-se à sua<br />

posse permanente", e nos casos em que eles foram escorraçados merecem o retorno e<br />

outras compensações. No entanto, como identificar as marcas de passagem de<br />

autóctones por um sítio produzi<strong>da</strong>s por uma determina<strong>da</strong> tribo? Não basta descobrir o<br />

cemitério para acreditar que o reclamante seja legítimo. Os ossos podem ser plantados<br />

onde convier. Além <strong>da</strong> genética, e <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de dos vestígios, é necessário um histórico<br />

dominial e de ocupação para o reconhecimento. Pode haver a usurpação do direito de<br />

um ancestral, mas agora outro estranho tenta passar-se como descendente.<br />

Se for lícito o apossamento de qualquer tribo moderna porque a milhares de<br />

anos a área era ocupa<strong>da</strong> pelos neandertais, ou por outros <strong>da</strong> época, então devemos<br />

descobrir quais e quantos de nós poderemos ser considerados seus herdeiros e se eles<br />

haviam registrado escritura de posse.<br />

Parece que o conceito de nação indígena foi criado com o fim perverso de<br />

distinguir as áreas mais primitivas e incultas <strong>da</strong>s terras brasileiras. Sendo nações, não<br />

precisam pagar impostos e nem obedecer as nossas leis. Tendo que sustenta-los, é como<br />

se eles cobrassem tributos. Enquanto os ‘índios' semi-integrados são protegidos, quem<br />

se lembra de assistir os brasileiros desconhecidos que perecem na seca <strong>da</strong> Amazônia no<br />

mês de outubro de 2005?<br />

Quando os índios nos visitam na ci<strong>da</strong>de, somos tentados a fazer doações. Eles se<br />

sentem normais, porém nós supomos que eles estão necessitando de aju<strong>da</strong>. Quando nós<br />

os visitamos na aldeia, corremos risco de seqüestro ou morte porque lá não temos a<br />

proteção <strong>da</strong> Lei. Nem para desenvolver o turismo servem. To<strong>da</strong>via, se as áreas ‘deles',<br />

não são brasileiras, ‘podem' ser explora<strong>da</strong>s pelos ‘missionários'? Esses podem mais do<br />

que nós?<br />

Se os aborígines são segregados em aldeias, mantêm secular hostili<strong>da</strong>de, não<br />

obstante a convivência, eles exigem alimentação, mas se reservam o direito de deixar os<br />

seus pequenos indefesos perecer de fome, para poder reformular exigências e acusações.<br />

A tolerância fica difícil.<br />

Agora vejamos o conceito de invasão x conquista: Se os israelitas invadem<br />

Canaã, derrubam os muros de Jericó, guerreiam e conquistam, passam à condição de<br />

senhores e escravizam os vencidos, são aplaudidos pelos feitos ‘heróicos', tornando-se<br />

proprietários de Canaã. Esse rito repetiu-se na historia de todos os povos bárbaros,<br />

romanos, britânicos, continuando pela URSS na formação, como na desagregação; na<br />

disputa entre as diferentes facções iraquianas, como também na intolerante competição<br />

por um pe<strong>da</strong>cinho de Canaã entre israelenses e palestinos, etc. No nosso caso, está<br />

ficando invertido, parece que fomos induzidos a uma crise de consciência para bajular<br />

os que nos maltratam e bendizer os que nos assaltam, sem ânimo para defender os<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 50


nossos irmãos e filhos. Menciono isso pelos colonos sitiados de Panambizinho,<br />

Douradina, Picadinha, Santa Luzia, Japorã, Antônio João, etc.<br />

Faltou uma previsão no Artigo 231 <strong>da</strong> nova Constituição, porque vai aumentar a<br />

reivindicação por mais áreas, quando as condições de sobrevivência dos índios se<br />

igualarem às <strong>da</strong> classe média. Enquanto nós já aprendemos a restringir a nossa<br />

reprodução pela simples responsabili<strong>da</strong>de dos custos, eles continuarão com a média de<br />

oito filhos por casal por muito tempo. Vai chegar o momento em que o discurso <strong>da</strong><br />

‘espécie em perigo de extinção' será um absurdo. Não podemos esperar pelo momento<br />

<strong>da</strong> adequação legal. Depende de diversos fatores simultâneos: de inteligência, bom<br />

senso, poder e vontade política. Uma coincidência improvável.<br />

Não vamos abandonar os nossos ‘primitivos' à sua própria sorte. Somos em<br />

maioria religiosos e os índios, ain<strong>da</strong> que manobrados de fora, são humanos como o<br />

nosso próximo; mas permitir que nos desrespeitem, como se estivéssemos em<br />

republiqueta de araque, ou como se a nossa cultura fosse suici<strong>da</strong>, é um despropósito.<br />

Devemos sim propiciar a sua integração em nossa socie<strong>da</strong>de em igual<strong>da</strong>de de justiça na<br />

capacitação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e na procura <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des. Devemos resgatá-los dos<br />

‘guetos', contemplando-os com os direitos e deveres constitucionais <strong>da</strong>í decorrentes,<br />

sem impor-lhes uma religião. Sua cultura, que seja documenta<strong>da</strong> para estudos<br />

antropológicos e manti<strong>da</strong> pelos aficionados, mas condenar todos ao primitivismo<br />

eterno, é o cúmulo. Na dúvi<strong>da</strong>, pergunte a eles.<br />

Alegar a alteri<strong>da</strong>de legal e cultural como direito dos índios, seria admissível se<br />

eles não fossem brasileiros eleitores. Direito a certas alteri<strong>da</strong>des, qualquer um de nós<br />

pode avocar, contanto que não implique em restrição de prerrogativas de outrem e nem<br />

de obrigações <strong>da</strong>í decorrentes.<br />

A minha proposta é a instituição de alguns territórios federais, onde culturas<br />

exóticas possam ser tolera<strong>da</strong>s por legislação especialmente adequa<strong>da</strong> nos locais onde<br />

ain<strong>da</strong> existem nativos primitivos. Então transferir para esses territórios to<strong>da</strong>s as tribos<br />

ou famílias primitivas que vivem a esmo nas proximi<strong>da</strong>des. Aqueles que estão<br />

atualmente confinados em malocas dentro dos municípios brasileiros devem ser<br />

registrados e receber a Carteira de Trabalho, orientação profissional e escritura <strong>da</strong> sua<br />

área de terreno. Aquelas famílias que não aceitarem a integração social, terão a liber<strong>da</strong>de<br />

de ingressar na indigência ou pedir transferência para alguma reserva regular acima<br />

referi<strong>da</strong>. Poderiam ain<strong>da</strong> tornar-se marginais acampados sem terra até se a<strong>da</strong>ptarem ou<br />

até serem ‘assentados'. Quanto eu saiba, nos países do ‘primeiro mundo' existem<br />

mendigos. Existem religiosos que fazem voto de pobreza. Há outros grupos que<br />

preferem a prosperi<strong>da</strong>de, esses sustentam o Governo e o Governo sustenta os marginais<br />

indigentes. O que não devemos é proporcionar melhor vi<strong>da</strong> para os marginais ‘folgados'<br />

do que para os pobres esforçados.<br />

A não ser assim, façamos a guerra antes de aceitar o armistício e entregar o<br />

poder, porque se eles não aceitarem a civilização e quiserem ficar misturados, teremos<br />

que disputar o território. Qualquer nação que se preze vai à luta em defesa do seu<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 51


território. Existiria causa para uma nação indígena se pintar para a guerra de conquista<br />

de terreno brasileiro, <strong>da</strong>nçar provocativamente, depre<strong>da</strong>r o patrimônio, abater animais<br />

domésticos e não conseguir oposição a esses propósitos? Não teríamos competência<br />

nem para garantir que estamos no Brasil?<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 52


IMPARCIALIDADE NA OBSERVAÇÃO,<br />

SISO NA INTERPRETAÇÃO<br />

Errando e Aprendendo<br />

O estudo <strong>da</strong> História é fun<strong>da</strong>mental para que a cultura de um povo e mesmo a<br />

civilização percorra um caminho seguro rumo ao desenvolvimento. No comportamento<br />

social e nas decisões dos três poderes de governo, muitos erros e muitos acertos são<br />

cometidos. Os erros são a parte negativa e os acertos a parte positiva. Tudo pode ser de<br />

utili<strong>da</strong>de para o aprimoramento <strong>da</strong> ciência. Por isso todos os acontecimentos que se<br />

tornaram história devem ser cui<strong>da</strong>dosamente observados e investigados até o pleno<br />

entendimento, para que sirvam de lição salutar, capacitando-nos a identificar as causas a<br />

partir dos efeitos, habilitando-nos ain<strong>da</strong> a prever os efeitos futuros correspondentes às<br />

decisões atuais enquanto há tempo para os ajustes. Acontecimentos não esclarecidos ou<br />

mal contados devem ser investigados e apurados, porque é previsível que ver<strong>da</strong>des<br />

importantíssimas ain<strong>da</strong> estejam ocultas, impedindo decisões que poderiam resultar em<br />

arranca<strong>da</strong> para o desenvolvimento moral, intelectual, artístico, econômico, etc.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 53


Quando encontramos a ver<strong>da</strong>de, ela pode libertar-nos <strong>da</strong>s influências tendentes<br />

para pontos de vista errôneos, viciosos e bitolados, ou pelo menos para evitar decisões<br />

desastrosas. É mais difícil existir sabedoria fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> sobre os equívocos do que<br />

firma<strong>da</strong> na sensatez e na ver<strong>da</strong>de. Conhecendo os fatos e suas conseqüências,<br />

poderemos evitar repetições de erros e tirar conclusões seguras para o melhor<br />

encaminhamento do nosso destino.<br />

Os atos, os acidentes e os incidentes históricos e os respectivos fatos são<br />

comumente examinados por alguém que, ao relatá-los, talvez involuntariamente, insere<br />

conceitos de aprovação ou condenação; melhor dizendo, é difícil manter-se isento<br />

<strong>da</strong>quilo que se conta. Seja por vínculo de interesse, seja por empatia, seja por estar<br />

inserido num contexto cultural sujeito a variações, dificilmente o jornalista ou<br />

historiador alcança a sereni<strong>da</strong>de ideal no seu mister.<br />

Estamos sempre localizados em algum ponto de vista, a partir do qual notamos a<br />

ocorrência dos fatos (e o perigo dos boatos). Por isso, antes de examinar um assunto, é<br />

necessário observar-nos a nós mesmos para ajustar o ponto de vista, imbuindo-nos do<br />

senso de justiça. Para isso necessitamos de ética atemporal, não sujeita a mo<strong>da</strong> e nem a<br />

privilégios discriminatórios.<br />

Ao aprender com a História, é preciso encontrar os nexos de causa e efeito dos<br />

acontecimentos e seus motivos, descobrir os agentes responsáveis por atos ou fatos que<br />

alterem o equilíbrio do direito ou <strong>da</strong> obrigação, identificar os beneficiários ou as vítimas,<br />

buscando soluções para os fracassos, aprendendo e aproveitando lições, sem<br />

revanchismo. Mais para perdão do que condenação, mais para construir do que para<br />

destruir.<br />

Os erros do passado remoto, dos antepassados já foram penitenciados ou<br />

resgatados. Não é o caso dos crimes recentes, que precisam ser julgados e os criminosos<br />

corrigidos, sob pena de erosão dos paradigmas sociais. Ao tentar vingança para erros<br />

centenários, poderíamos nos defrontar com oponentes Desumanos.<br />

Com o erro não se brinca. Quem comete as faltas leves, tolera sem remorso as<br />

pesa<strong>da</strong>s. A punição de um criminoso raramente resgata o prejuízo que ele causou. Para<br />

libertar o criminoso <strong>da</strong> sua mal<strong>da</strong>de é necessária uma recuperação muito difícil de se<br />

garantir. Um facínora solto gera desgraça a milhares de infelizes. Um facínora preso é<br />

dispendioso tanto quanto uma classe escolar e o pior é que já não existem vagas. O ideal<br />

é preparar cui<strong>da</strong>dosamente a educação, exigindo no magistério pe<strong>da</strong>gogos de caráter<br />

íntegro, formadores de opinião positiva. Aqueles que estu<strong>da</strong>m conceitos equivocados<br />

vão ensinar falsi<strong>da</strong>des.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 54


A Ver<strong>da</strong>de Por Trás dos Fatos<br />

O historiador, assim como o repórter deve assumir suas funções como<br />

contribuições científicas para a construção do cabe<strong>da</strong>l dos conhecimentos humanos.<br />

Estória para divertir é anedota; estória para homenagear ou denegrir é fofoca. A História<br />

e o Jornalismo existem para esclarecer, e para incentivar ou prevenir.<br />

Se possível: quem abraça a carreira de prestador de informações de interesse<br />

geral ou utili<strong>da</strong>de pública, deve iniciar a observação, in<strong>da</strong>gação ou pesquisa dos atos ou<br />

fatos, totalmente isento de preconceito, paixão ou parciali<strong>da</strong>de, enquanto não chegar ao<br />

pleno ou o suficiente conhecimento, na aproximação máxima <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, acreditando<br />

que sua informação servirá de modelo, aviso ou algo de real importância, sem ênfases,<br />

exageros omissões ou acréscimos. Não estou me referindo às opiniões. <strong>Em</strong>itir opinião<br />

própria é um outro ofício cujo produto não deve ser encarado como dogma, nem como<br />

preceito, nem como informação, mas sim como alimentação de algum debate que pode<br />

servir de esclarecimento até melhor conclusão. Mesmo assim, a sinceri<strong>da</strong>de é<br />

imprescindível.<br />

O emissor de um simples parecer deve estar sempre atento para o fato de que<br />

inadverti<strong>da</strong>mente a sua idéia pode ser toma<strong>da</strong> por premissa e assim participar de<br />

doutrina. Parece glorioso, mas o mal <strong>da</strong> civilização é constituído <strong>da</strong>s normas, dos<br />

princípios e <strong>da</strong>s leis calca<strong>da</strong>s em preceitos ou proposições equivoca<strong>da</strong>s. Os grandes<br />

empecilhos são os tabus mantidos como indiscutíveis, engendrados a partir de<br />

suposições.<br />

O problema é que somos todos humanos e ain<strong>da</strong> não conseguimos limpar-nos<br />

<strong>da</strong>s imperfeições. A nossa interação com a história que contamos resulta sempre na<br />

nossa versão <strong>da</strong> mesma conforme distinguimos a partir dos nossos recursos culturais.<br />

Além disso, as coisas e os enigmas dos acontecimentos não se mostram no absoluto do<br />

que implicam e causam. Para piorar, os sentidos (sensores) disponíveis à mente humana<br />

são limitados.<br />

É possível o equívoco inocente de algum memorialista ao firmar opinião<br />

favorável a uma causa antiética de interesses ocultos; mas isso pode ser sinal de<br />

levian<strong>da</strong>de, preparo profissional insuficiente ou falta de transparência e ocultação dos<br />

indícios que balizaram o convencimento. Contudo a desculpa não desfaz o erro e nem o<br />

justifica.<br />

Assim como nos julgamentos existe a defesa e a acusação, para que o Tribunal<br />

conheça todo o contraditório de onde surge a conclusão, também os jornalistas devem<br />

ter cui<strong>da</strong>do ao divulgar uma denúncia, ou mesmo um fato de interesse público, ouvindo<br />

as partes antes de se acumpliciar, quem sabe inocente ou ingenuamente, numa mentira,<br />

cujo <strong>da</strong>no social pode ser incalculável. Da mesma forma, o historiador moderno deve<br />

sempre buscar a ver<strong>da</strong>de, embora por vezes a ver<strong>da</strong>de absoluta seja utópica.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 55


O historiador, assim como o jornalista está muitas vezes no meio do fogo<br />

cruzado <strong>da</strong>s opiniões digladiantes que buscam defender ou proteger interesses de todo<br />

tipo, inclusive ilegítimos. Aquele que não tiver uma boa formação técnica, moral,<br />

política, filosófica, etc., corre o risco de ser torcedor; ser "inocente útil" ou até cúmplice<br />

por assumir conivência na defesa de interesse ilícito.<br />

No caso de uma guerra, por exemplo, a versão oficial, geralmente é a do<br />

vencedor, a que se converte em história, mas existe a explicação conta<strong>da</strong> pelo perdedor.<br />

São versões! A ver<strong>da</strong>de é outra história que depende de imparciali<strong>da</strong>de e observação<br />

perfeita. Ca<strong>da</strong> estória é um caso e geralmente ca<strong>da</strong> caso tem os seus responsáveis e<br />

irresponsáveis, seus agentes e seus pacientes, seus culpados, suas vítimas e seus<br />

defensores. Muitas vezes surgem confusões e erros de interpretação que arruínam a<br />

compreensão.<br />

Direitos a Quem Merecer<br />

As minorias mais fracas devem ser protegi<strong>da</strong>s, até porque elas participam <strong>da</strong><br />

diversi<strong>da</strong>de que tempera a criativi<strong>da</strong>de e a cultura comunitária. Obviamente sem os<br />

indivíduos não haveria socie<strong>da</strong>de. Os direitos <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de confundem-se com direitos<br />

individuais. As obrigações e as prerrogativas de uma socie<strong>da</strong>de incluem to<strong>da</strong>s e ca<strong>da</strong><br />

uma dos indivíduos integrados. Entretanto é um contra-senso priorizar os direitos <strong>da</strong>s<br />

minorias marginaliza<strong>da</strong>s em detrimento <strong>da</strong>s maiorias, mas a recíproca nem sempre é<br />

ver<strong>da</strong>deira. Priori<strong>da</strong>de é uma questão de classificação por importância ou urgência.<br />

Ca<strong>da</strong> qual na sua escala. Governo democrático não privilegia em atendimento os mais<br />

poderosos, nem os mendigos, muito menos os vagabundos e os delinqüentes, mas<br />

atende as suas legítimas necessi<strong>da</strong>des, com a esperança de que a ‘marginali<strong>da</strong>de' deixe de<br />

ser um peso e passe a ser participativa, integrando-se à ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

Do mesmo modo que os governantes não priorizam o atendimento às minorias<br />

marginaliza<strong>da</strong>s, mas cumprem com o necessário, também não faltariam com as suas<br />

obrigações às minorias chama<strong>da</strong>s elites, já que é geralmente <strong>da</strong>í que vertem os maiores<br />

benefícios e soluções para os problemas sociais. Elite aqui não se refere aos<br />

inescrupulosos que aproveitam o poder econômico para tiranizar os mais pobres; a<br />

referi<strong>da</strong> elite não significa o impiedoso explorador <strong>da</strong> mão de obra humilde e submissa.<br />

A elite que considero é a parcela mais criativa <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de; são aqueles indivíduos<br />

dotados de aptidões especiais em qualquer função exerci<strong>da</strong> para o bem comum.<br />

Os direitos de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia inclusive de votar ou ser votado dignificam os ci<strong>da</strong>dãos,<br />

mas algumas feras travesti<strong>da</strong>s tiram o maior proveito.<br />

Todos os humanos são iguais perante a lei. A exclusão ou o privilégio, a<br />

discriminação de pessoas por diferença de cor, de posses, de credo ou de partido político<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 56


é e deve permanecer ilegal. Porém algumas características adquiri<strong>da</strong>s, como digni<strong>da</strong>de<br />

de confiança, preparo profissional, sereni<strong>da</strong>de, etc. devem pesar nos merecimentos,<br />

assim como os hábitos nocivos devem ‘marcar' as pessoas inconvenientes e torpes. Se<br />

não houver alguma vantagem que estimule o bom comportamento; se não inventarmos<br />

alguns desalentos para dissuasão <strong>da</strong> delinqüência, não haverá futuro, a comuni<strong>da</strong>de<br />

entrará em colapso e a socie<strong>da</strong>de perderá a razão de ser.<br />

Se todos fossem iguais, não haveria necessi<strong>da</strong>de de concurso para preenchimento<br />

de vagas no serviço público. Não seriam necessárias regras para definir a classificação. Se<br />

o delinqüente fosse igual a você, não haveria cadeia.<br />

Assim como uma prova de QI ou de conhecimentos ou de aptidão indica que<br />

não há duas pessoas iguais em inteligência conceitual, também poderiam ser desiguais<br />

quanto aos méritos e deméritos. Ain<strong>da</strong> que todos fossem dotados <strong>da</strong> mesma quanti<strong>da</strong>de<br />

de inteligência, qualitativamente seriam todos diferentes.<br />

Há casos de entes que nasceram para se tornar pessoas, mas abandonaram<br />

voluntariamente esta vocação. Tornaram-se desumanos. Agora são ratos ou víboras,<br />

mas quando são pegos reivindicam direitos humanos.<br />

Os nossos pre<strong>da</strong>dores não poderiam ser considerados iguais a nós. São piores do<br />

que canibais aqueles que não titubeiam em matar o seu semelhante para ‘sugar-lhe' os<br />

pertences.<br />

Um tigre não mata por dinheiro, ele quer carne. Um assaltante não mata por<br />

carne, ele quer dinheiro. O tigre assalta os seus diferentes porque quer comer, mas o<br />

assaltante desumano e sem ideologia, mata os seus irmãos, porque não quer trabalhar.<br />

Poderíamos aprender com as socie<strong>da</strong>des animais. No cardume de peixinhos, e na<br />

nuvem de andorinhas, os movimentos evidenciam uma coreografia e uma ordem que<br />

denota a mais pura soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, um admirável companheirismo. Num formigueiro ou<br />

cupinzeiro, numa colméia; numa matilha; qualquer indivíduo pode sacrificar a própria<br />

vi<strong>da</strong> em defesa dos seus semelhantes. O amor ao próximo é maior do que o egoísmo,<br />

maior do que o instinto de sobrevivência.<br />

A obrigação é a recíproca do direito. O teu direito é decorrência do meu dever. O<br />

Direito regula os interesses interpessoais. O quadrilheiro do ‘crime organizado' ou não,<br />

exige tudo o que deseja sem oferecer na<strong>da</strong> em troca, muito pelo contrário, aproveita<br />

qualquer oportuni<strong>da</strong>de para injuriar, ofender, humilhar, matar.<br />

Robin Hood, o bandido bonzinho, é um blefe que ain<strong>da</strong> romantiza as cabecinhas<br />

ingênuas. Foi uma estória interessante porque no século XII os senhores feu<strong>da</strong>is<br />

tiranizavam os seus domínios e não existiam leis e direitos trabalhistas, além disso, o<br />

‘herói' chefiava um grupo reacionário contra os conquistadores e usurpadores. Era fácil<br />

apoiar a revanche. Hoje o nosso governo é legítimo, embora o eleitorado não seja<br />

idealmente esclarecido.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 57


Alegar ‘cari<strong>da</strong>de' para defender direitos exorbitantes dos bandidos apenados é<br />

cumplici<strong>da</strong>de ou propagan<strong>da</strong> anti-social. <strong>Em</strong> qualquer caso indica depravação e<br />

inversão de valores.<br />

Iludir a opinião pública com um discurso de compaixão a fim de conseguir a<br />

complacência social para com as monstruosi<strong>da</strong>des, é uma política de ingenui<strong>da</strong>de e<br />

autodestruição. Um romantismo do martírio em que os ingênuos parece quererem<br />

penitenciar a Socie<strong>da</strong>de.<br />

Bom mesmo seria a inexistência dos desnaturados e corruptos, entretanto eles<br />

existem e o que devemos fazer é mantê-los na ‘rédea curta' para tornar mais e mais<br />

difícil a disseminação <strong>da</strong> epidemia psíquica, <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção e desagregação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

Existem os dois lados <strong>da</strong> Lei, o lado de dentro e o lado de fora. Os "fora <strong>da</strong> lei"<br />

não podem ser considerados iguais aos de dentro quanto aos direitos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Eles<br />

não pertencem à nossa socie<strong>da</strong>de, eles são a doença que deve ser expurga<strong>da</strong>. Os políticos<br />

e os líderes que preferirem estar do lado de dentro serão honestos e éticos. Nunca acima<br />

e nem à margem, porém do lado de dentro <strong>da</strong> Lei e <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de.<br />

Se os bandidos fossem considerados ci<strong>da</strong>dãos e protegidos pela Democracia e se<br />

fossem atendi<strong>da</strong>s as suas exigências, logo deixariam de ser minoria porque todo mundo<br />

ia preferir o banditismo. Agora, supondo que até os governantes fossem corruptos,<br />

provavelmente os bandidos seriam colegas. Mas, continuando nesse raciocínio ao<br />

imaginar que fosse preso um declarado malfeitor, colega dos não declarados. ‘Entraria<br />

pela porta <strong>da</strong> frente e sairia pela do fundo'. A Segurança se tornaria uma farsa e quem<br />

sofreria as penas dos crimes seriam os inocentes e os denunciantes, até chegar ao<br />

aniquilamento <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de, pois todos desejariam ser ladrões até que não houvesse<br />

mais produtores de bens roubáveis.<br />

As leis deveriam premiar pelos méritos de quem constrói e punir pelos<br />

deméritos de quem destrói.<br />

Direitos para quem ‘an<strong>da</strong> direito'.<br />

Pobreza e Riqueza<br />

Algumas seitas exaltam a pobreza como garantia de honesti<strong>da</strong>de ou moe<strong>da</strong> para<br />

a compra <strong>da</strong> mora<strong>da</strong> celestial. A pobreza assim preconiza<strong>da</strong> serve de consolo para<br />

muitos frustrados, que não tiveram sorte em seus empreendimentos. Acostumados com<br />

o consolo, acreditam que enquanto pobres ‘continuam virtuosos'. A degra<strong>da</strong>ção desse<br />

princípio começa quando bate uma inveja <strong>da</strong>na<strong>da</strong>. Os que foram bem sucedidos passam<br />

a ser apontados como ‘desonestos', devido à ilusão de que seja impossível fazer algo de<br />

real valor sem roubar, vender-se, chantagear ou aplicar outros recursos delituosos<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 58


durante uma existência. Ao se compararem, jamais admitiriam a própria incompetência<br />

ou qualquer vantagem intelectual alheia. O pior é que esse tipo de mentali<strong>da</strong>de talvez<br />

seja o responsável pelas limitações e pelo conformismo.<br />

O acúmulo de riqueza já foi execrado, porque, antes de existirem os<br />

instrumentos e as fábricas, quando alguém se propunha a produzir além do próprio<br />

consumo era necessário tanto esforço que parecia impossível sem o concurso <strong>da</strong><br />

escravidão. Então o consenso não admitia a possibili<strong>da</strong>de de riqueza sem a participação<br />

<strong>da</strong> cruel<strong>da</strong>de.<br />

Atualmente, o empreendimento bem sucedido quase sempre vem acompanhado<br />

<strong>da</strong> multiplicação e oferecimento do tão sonhado emprego assalariado, além <strong>da</strong> geração<br />

dos impostos que sustentam a administração dos serviços públicos. O problema é que a<br />

torci<strong>da</strong> e o discurso de abjeção <strong>da</strong> prosperi<strong>da</strong>de decorado e assumido pelos grupos<br />

retrógrados é milenar ou pelo menos centenário, e continua existindo, mesmo depois de<br />

cessa<strong>da</strong> a sua motivação.<br />

Aqueles que são pobres com digni<strong>da</strong>de consideram os ricos e até os remediados<br />

como modelo exemplar, meta e objetivo a ser alcançado. Mas existem alguns<br />

preguiçosos e invejosos. Eles odeiam os que souberam produzir, poupar e prosperar,<br />

como se fossem ameaça poderosa à sua fragili<strong>da</strong>de, à sua inferiori<strong>da</strong>de. Isso é assim por<br />

falta de amor e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de. O próspero passa a ser odiado. Pode ser alvo de calúnias<br />

ou outras ‘punições' <strong>da</strong> parte dos que se julgam honestos, mas cobiçam os tesouros<br />

alheios. Enquanto os invejosos pregam a ‘virtude <strong>da</strong> pobreza', planejam assaltos à<br />

proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>; uma atitude que só incentiva a indolência, a intolerância e o crime.<br />

Nós os pobres podemos manter a auto-estima e ter como conforto o fato de que<br />

não basta ser inteligente e competente para ficar rico. A riqueza, como a loteria, é uma<br />

questão de sorte e oportuni<strong>da</strong>de, nem sempre sob controle humano.<br />

Por que há quem se julga no direito de exigir que os fazendeiros repartam tudo,<br />

até ficarem sem na<strong>da</strong>? Será mal<strong>da</strong>de ser provedor <strong>da</strong> alimentação dos povos, justamente<br />

num país como o Brasil, onde os recursos do Erário Público não são desviados para<br />

sustentar os produtores rurais, como acontece nos EUA ou na Europa?<br />

Por hipótese um fazendeiro poderia ‘descobrir' que não merece na<strong>da</strong> do que<br />

poupou, e então fazer voto de pobreza e doar, para os invejosos, tudo o que ele<br />

conseguira amealhar. Num primeiro momento, ele poderia ser considerado o bonzinho,<br />

o herói. <strong>Em</strong> segundo momento, seria mais um marginal carente, acampado a espera de<br />

cari<strong>da</strong>de, por conta dos contribuintes dos impostos. Se os apologistas <strong>da</strong> ‘generosi<strong>da</strong>de<br />

alheia' conseguissem o seu intento, os contribuintes também escolheriam o caminho<br />

fácil e ninguém mais teria motivo para trabalhar nem para invadir, porque todos<br />

ficariam pobres, virtuosos e famintos.<br />

Os líderes políticos e religiosos, os educadores, os formadores de opinião devem<br />

continuar na orientação <strong>da</strong> cultura popular, mas colocando os interesses permanentes<br />

<strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de acima dos interesses corporativos e transitórios. Devem atender a<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 59


comuni<strong>da</strong>de como algo a ser preservado a qualquer custo. Esqueçam Robin Hood.<br />

Agora os tempos são outros e as riquezas dos fazendeiros são bem conheci<strong>da</strong>s dos<br />

bancos credores. A sua maior riqueza é a sua coragem e determinação.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 60


VAZAMENTO DO AMEALHADO<br />

Um Bode Que Carregue a Culpa<br />

Não querendo reconhecer a incompetência gerencial <strong>da</strong> macro-economia<br />

brasileira, que avulta a Dívi<strong>da</strong> Pública e inviabiliza o Orçamento no cumprimento <strong>da</strong>s<br />

obrigações do Estado, elegeram-se as aposentadorias como "bode expiatório", culpado<br />

pelo ‘rombo orçamentário'.<br />

De há muito que o Governo deixava algo a desejar no cumprimento de suas mais<br />

básicas obrigações, quanto à saúde, segurança, educação, meios de transporte, bem estar<br />

social, austeri<strong>da</strong>de, etc. Ao mesmo tempo sobrava dinheiro no Tesouro para ‘investir'<br />

em obras faraônicas inacabáveis e mesmo para ‘salvar' banqueiros <strong>da</strong> falência<br />

fraudulenta e financiar grandes investidores estrangeiros que se ‘arriscavam' ao comprar<br />

o nosso patrimônio público sem trazer divisas, mas com financiamento brasileiro, como<br />

se franqueássemos assim: te pago tanto para assumires isso. Ao invés de ‘quem dá mais'?<br />

Era: ‘quem quer mais'? Parece que isso era agradável aos investidores, que "não estão<br />

nem aí" para a nossa ingenui<strong>da</strong>de, desde que lhes ofereçamos ótimas oportuni<strong>da</strong>des.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 61


Eles não nos consideram nem amigos e nem parceiros, só conveniências deles. Não sei<br />

de muitos casos assim, mas mesmo que fosse apenas um, já me faria o estrago, motivo<br />

deste desabafo.<br />

São bem-vindos os investimentos diretos, porque apostam seu capital no nosso<br />

desenvolvimento, mas o que me causava mal estar era a incompetência política e a falta<br />

de patriotismo dos nossos líderes, que aceitavam as propostas inconvenientes, ou não<br />

fiscalizavam cumprimento de promessas. Causou-me espanto, num momento em que o<br />

Brasil já oferecia um juro temerário; a ousadia de dobrar o juro básico de uma hora para<br />

a outra, chegando a mais de 40% aa. Será que o então presidente do Banco Central tinha<br />

conhecimento de que 1% de aumento <strong>da</strong> taxa básica representava mais 9 bilhões ao ano<br />

<strong>da</strong> dívi<strong>da</strong>? Isso representava pouco menos do que o Brasil investia no sistema público de<br />

saúde Sabendo-se que depois teria que baixar de meio em meio ponto a grandes<br />

intervalos, para não perturbar o humor do ‘capital volátil'. Enquanto isso, o Brasil<br />

importava menos do que exportava.<br />

A ‘fatia' <strong>da</strong> receita geral consumi<strong>da</strong> pelo serviço <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> chegou a ponto de<br />

assustar os financiadores e investidores que ron<strong>da</strong>vam a nossa pátria feito abutres já<br />

rejeitando a carniça pelo estado avançado de deterioração, o que elevou o "Risco Brasil",<br />

forçando a alta dos juros e acelerando o giro do ‘círculo vicioso' — quanto mais são<br />

eleva<strong>da</strong>s as taxas, mais será difícil pagá-las. Isso força novos financiamentos<br />

aumentando o risco dos investidores, ‘justificando' o oferecimento de juros ain<strong>da</strong><br />

maiores. Os nossos tecnocratas leram na ‘cartilha' que o aumento dos juros atrai<br />

capitais, não sabiam que para tudo há limite.<br />

Então o governo (nos três níveis) ficou desesperado a cata de recursos gratuitos<br />

que refreassem a sangria dos juros <strong>da</strong> gigantesca dívi<strong>da</strong> pública. O resultado é uma<br />

busca desenfrea<strong>da</strong> por novas receitas e o enxugamento <strong>da</strong>s maiores despesas,<br />

sacrificando a manutenção de obras públicas essenciais. Como a situação ficou<br />

vexatória, e o Governo não aceita a responsabili<strong>da</strong>de pelo vexame, e querendo encontrar<br />

um ‘bode expiatório', elegeu os servidores públicos como causadores do ‘rombo'.<br />

O Caminho Do ‘Rombo'<br />

Muitos dos criminosos pre<strong>da</strong>dores do patrimônio público, mesmo os<br />

denunciados, não foram impedidos de continuar enganando o eleitorado,<br />

permanecendo na impuni<strong>da</strong>de institucionaliza<strong>da</strong>, já que quem consegue enganar o<br />

povo, ao ser eleito ganha carta branca para continuar com mais gana em sua ‘nobreza<br />

criminosa' portanto voltam ao poder pelo voto, continuando a influir no destino<br />

brasileiro, como se estivessem apenas praticando triviali<strong>da</strong>des e merecessem a simpatia<br />

<strong>da</strong>s vítimas (contribuintes/eleitores).<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 62


Traidores não merecem procuração e nem confiança. Quando alguém é eleito<br />

por simular bom comportamento para depois ser flagrado em contradição, merece<br />

perder a procuração e o man<strong>da</strong>to. É como vender um automóvel novo e entregar um<br />

ferro velho; como vender uma carga de soja pura e entregar uma carga com metade soja<br />

e metade areia; comprometer Raquel e entregar Lia.<br />

Muito já se falou de auditoria externa para o Judiciário. A mim parece que está<br />

passando <strong>da</strong> hora de falar também no controle externo do Legislativo. Seria um órgão<br />

composto de comissão mista que na competência <strong>da</strong> sua função de apurar fatos teria<br />

poder superior ao do Supremo (na<strong>da</strong> de liminares, habeas-corpus ou alvará do<br />

mentiroso). Muitos parlamentares não estão se comportando como representantes<br />

comunitários, chegam a alegar em seu favor o Regimento Interno, que eles mesmos<br />

instituíram apropriado para cobri-los de generosi<strong>da</strong>des.<br />

O Poder Executivo ‘não precisa ser' auditorado a não ser pelo Tribunal de<br />

Contas, mas como auditorar o seu patrão? O Judiciário é freguês do Executivo enquanto<br />

subalterno de ministério nomeado pelo Presidente <strong>da</strong> República e o Legislativo seu<br />

sócio, desde que muitos membros se deixam comprar, a ponto de neutralizar a oposição.<br />

Não sei se isso sempre acontece, só sei que acontece. Se o Governo deve ser<br />

democrático, se devem existir os três poderes, os parlamentares como defensores dos<br />

interesses coletivos, não devem ser perturbados pelo Poder Executivo a fim de traírem<br />

os seus legítimos desígnios, nem com o tesouro do erário, nem com chantagem, nem<br />

com promessa de atendimento preferencial. O Poder Executivo não é Todo-Poderoso e<br />

nem dono <strong>da</strong> Nação, é encabeçado por um administrador temporário que durante a<br />

campanha eleitoral prometia ser o melhor. Agora no poder, deve administrar<br />

respeitando as leis e a probi<strong>da</strong>de no trato com os valores comunitários.<br />

Não me agra<strong>da</strong> a ‘esperteza' consenti<strong>da</strong> dos marajás — <strong>da</strong>queles que<br />

inexplicavelmente recebem vencimentos com adicionais fantásticos (os Tribunais de<br />

Contas deviam corrigir se não fossem participantes. Se a falha é <strong>da</strong> lei, cabe proposta ou<br />

projeto de alteração). Mas não podemos generalizar a partir <strong>da</strong>í, jogando a pecha<br />

indiscrimina<strong>da</strong>men-te no funcionalismo.<br />

Ao longo <strong>da</strong> ‘irresponsabili<strong>da</strong>de fiscal' posterior ao deslumbramento chamado<br />

"Milagre Econômico", as ‘raposas políticas' expandiam ao máximo o endivi<strong>da</strong>mento do<br />

Estado em fim de man<strong>da</strong>to, para que o sucessor encontrasse um Estado ingovernável,<br />

preparando assim o eleitorado para o retorno <strong>da</strong> ‘raposa'. Uma esperteza de político, um<br />

desastre econômico para a Pátria. Um ministro chegou a declarar que "dívi<strong>da</strong> não se<br />

paga, empurra-se com a barriga". Depois veio o desastre <strong>da</strong> Moratória que mexeu<br />

drasticamente no "Risco Brasil", empurrando os juros <strong>da</strong> nossa dívi<strong>da</strong> para as nuvens.<br />

A meu ver a Lei de Responsabili<strong>da</strong>de Fiscal, foi o melhor acontecimento dos dois<br />

man<strong>da</strong>tos de FHC, depois do controle <strong>da</strong> inflação.<br />

A estabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> nossa moe<strong>da</strong> poderia ser mais meritória se de começo<br />

corrigisse os juros escorchantes que vieram <strong>da</strong> inflação galopante e adentraram sem<br />

retoque na vigência <strong>da</strong> deflação, além <strong>da</strong>s multas escan<strong>da</strong>losas, que coexistiram muito<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 63


tempo com a nova moe<strong>da</strong> estabiliza<strong>da</strong>. A instituição que mais se aproveitou dessa<br />

sacanagem foi a que devia ter sido exemplar.<br />

Faltou prudência na hora em que se abriu o mercado interno às importações que<br />

adentravam no Brasil subsidia<strong>da</strong>s de fora. Importações nocivas à nossa capaci<strong>da</strong>de<br />

produtiva, importações causadoras do alto desemprego. Na hora de castigar os meios<br />

produtivos como se fossem culpados pela alta inflação, deixaram que quem quisesse<br />

quebrar o Brasil com a concorrência desleal, recebesse o nosso mercado desprotegido,<br />

mas na hora de adequar os juros básicos e os comuns à brusca que<strong>da</strong> <strong>da</strong> inflação, o que<br />

vimos foi pusilanimi<strong>da</strong>de ao deixar que o endivi<strong>da</strong>mento se assoberbasse para gáudio<br />

dos credores. Tudo isso depois que o governo (Collor) resolveu ‘confiscar' a poupança<br />

interna.<br />

Pareciam manobras orquestra<strong>da</strong>s por adversários do Brasil. São fatos que<br />

deveriam cair no esquecimento para não envergonhar a nos sa história. Enquanto os<br />

‘líderes' continuam empertigados e faceiros pelos resultados de suas façanhas, nós do<br />

povo seguimos atônitos e desonrados.<br />

Do desastre <strong>da</strong> incompetência resultou o crescimento <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> brasileira, além<br />

de atrasar o nosso desenvolvimento industrial e causar o alto desemprego. Os<br />

desempregados caíram na informali<strong>da</strong>de e pararam de recolher as contribuições ao<br />

INSS.<br />

Antes de 1994 a correção monetária era indexa<strong>da</strong> à inflação e a Constituição<br />

proibia a redução salarial. Parece que alguns ‘poderosos' não perceberam o perigo de<br />

inadimplência, visto que entupiam os cabides de emprego nos três poderes,<br />

principalmente o Legislativo e o Executivo de alguns estados federativos, chegando a<br />

ultrapassar a arreca<strong>da</strong>ção com a folha de pagamentos. Se a Receita era inferior ao<br />

dispêndio com salários, como ficavam as outras obrigações?<br />

A Lei Camata surgiu para limitar o percentual <strong>da</strong> despesa com o funcionalismo<br />

sobre o orçamento, na União, nos Estados e Municípios, mas o estrago já estava feito. O<br />

Governo Federal socorreu muitos Estados inadimplentes com empréstimos, mas esses<br />

agora estão pagando caro.<br />

Com a estabilização <strong>da</strong> nossa moe<strong>da</strong>, foi extinta a correção monetária, e<br />

mantidos os salários sem reajustes. A Receita continuava crescendo, mas a dívi<strong>da</strong><br />

pública também. Então o Governo já não se socorria <strong>da</strong>s antigas emissões desregra<strong>da</strong>s<br />

do Banco Central. Parece que tudo crescia: o desemprego, o abandono <strong>da</strong>s rodovias, as<br />

filas madrugadoras nos postos de saúde, etc. Com as metas de inflação (e o setor<br />

tarifário foi o que mais se esforçou em prol do retorno <strong>da</strong> inflação) e os salários<br />

congelados por oito anos, o achatamento salarial foi um ‘sucesso'. Só que a Previdência<br />

começou a ‘fazer água' e a fome do Leão exacerba<strong>da</strong>. Agora apregoam que quem causa o<br />

rombo é a Previdência. Afinal, qual é maior, o déficit <strong>da</strong> Previdência ou o serviço <strong>da</strong><br />

dívi<strong>da</strong> pública?<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 64


Legalizando a Discriminação<br />

Antes de abor<strong>da</strong>r o motivo central deste tema, é necessário colocar disponíveis<br />

algumas considerações como premissas esclarecedoras.<br />

"Taxar é estabelecer uma alíquota para um tributo".<br />

Na cobrança de taxas "em razão do exercício do poder de polícia ou pela<br />

utilização efetiva ou potencial de serviços públicos específicos e divisíveis prestados ao<br />

contribuinte"... "não se poderá tomar como base de cálculo a que tenha servido para a<br />

incidência dos impostos".<br />

O sistema previdenciário brasileiro divide-se em três mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des: a) a dos<br />

servidores públicos; b) a do INSS, que beneficia os empregados contribuintes "de<br />

carteirinha" e até desempregados não-contribuintes; c) a do complemento<br />

previdenciário mantido por bancos, para quem quiser uma aposentadoria maior do que<br />

a ‘ofereci<strong>da</strong> oficialmente', e tiver um rendimento que suporte as contribuições. Ora! Se o<br />

sistema bancário (empresas de serviço com a finali<strong>da</strong>de lucrativa) pode encarregar-se <strong>da</strong><br />

Previdência Complementar, por que não conceder essa fatia adicional ao instituto já<br />

encarregado <strong>da</strong> previdência? Porque ficaria deficitário se o lucrativo sistema bancário<br />

suporta?<br />

Os contribuintes do INSS têm limite máximo (teto) de parcela contributiva.<br />

Reciprocamente terão ‘salário-aposentadoria' ou benefício igualmente limitado. Creio<br />

que essa limitação foi imposta sem consulta de cálculos fidedignos.<br />

Segundo rumores a serem apurados, perto do fim do século XX quem recolhia<br />

por alíquota sobre 20 salários mínimos, depois que se aposentou teve um teto de<br />

vencimentos que foi rebaixando até emparelhar com os que contribuíam bem menos. Já<br />

outros ganharam ‘direito' a benefício vitalício sem haver contribuído. A Lei devia ser<br />

mais honrosa e equânime. Quem não respeita pode ser desrespeitado. A figura que me<br />

acode é a de um leão arrancando a perna humana de um dos súditos e repartindo-a com<br />

um dos filhotes.<br />

Segundo <strong>da</strong>dos divulgados pelos noticiários, o INSS está deficitário em 17<br />

bilhões de reais (2003). — Mas esses <strong>da</strong>dos não revelam quanto custa sustentar os que<br />

não foram contribuintes. Na<strong>da</strong> contra a assistência quanto possível, a questão é o uso de<br />

argumentação falaciosa. A mesma divulgação refere-se a um ‘rombo previdenciário' do<br />

funcionalismo público de 40 bilhões. Esquecem de dizer que na quali<strong>da</strong>de de<br />

empregador, o Estado tem que pagar a sua cota previdenciária.<br />

Assim como as empresas e pessoas físicas têm o dever de sustentar a<br />

aposentadoria dos seus idosos (recolhendo as contribuições ao INSS), deve o Governo<br />

aposentar os seus velhos, sem a malícia de instigar a ‘Opinião Pública'.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 65


A meu ver os recolhimentos mensais com alíquota sobre o ‘rendimento' de quem<br />

está na ‘ativa', seja do serviço público ou privado, têm a finali<strong>da</strong>de de garantir a<br />

aposentadoria como retorno. De outra forma seria mais um IRPF cumulativo.<br />

A ‘contribuição' que o Governo deseja impor aos aposentados deve ter melhor<br />

denominação. Quem contribuiu para um fundo previdenciário, esteve depositando<br />

como numa poupança, mas a finali<strong>da</strong>de é resgatar mensalmente quando aposentar.<br />

Agora, para continuar contribuindo, estando aposentado, será necessário esclarecer a<br />

finali<strong>da</strong>de. Como será o retorno? Não parece uma tentativa de fazer o milagre <strong>da</strong><br />

multiplicação nas costas dos inocentes?<br />

O "rombo" <strong>da</strong>s previdências é de R$ 57 bilhões, mas o rombo que os sonegadores<br />

e inadimplentes deixam na Previdência, pode estar acima de 250 bilhões. Sem falar na<br />

sonegação dos impostos.<br />

A pontuali<strong>da</strong>de dos contribuintes <strong>da</strong> Previdência renderia muito mais do que a<br />

inadequa<strong>da</strong> taxação dos vencimentos de aposentadoria. Por que não cobrar?<br />

Se quem já está aposentado, fosse taxado com alíquota sobre os vencimentos, <strong>da</strong><br />

mesma forma como o IRPF, estaria sendo discriminado com uma bitributação.<br />

Fica mais fácil descontar em ‘folha' dos aposentados do que cobrar as dívi<strong>da</strong>s dos<br />

sonegadores.<br />

Aposentadoria Mecânica<br />

Quando ‘fazer reforma' é apenas "trocar seis por meia dúzia", ain<strong>da</strong> é bom,<br />

satisfaz vai<strong>da</strong>des sem maiores <strong>da</strong>nos. Mas se existe mesmo boa intenção, lá vai uma<br />

sugestão. — Na medi<strong>da</strong> em que a tecnologia aumenta a produtivi<strong>da</strong>de, mas causa<br />

desemprego, o Governo pode compensar criando condições (cotas) de ocupação para os<br />

‘sem emprego' em qualquer ativi<strong>da</strong>de remunera<strong>da</strong>, tanto no serviço público quanto<br />

privado (responsabili<strong>da</strong>de social <strong>da</strong>s empresas). Sim, porque o ci<strong>da</strong>dão civilizado não<br />

merece ser induzido à mendicância por puro descarte dos seus préstimos.<br />

A tão necessária redistribuição <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> nacional não seria originária<br />

necessariamente <strong>da</strong> iniciativa priva<strong>da</strong>, porque a obrigação <strong>da</strong> empresa é lucrar,<br />

enquanto a finali<strong>da</strong>de do governo democrático é liderança, coordenação, harmonia e<br />

bem estar social. Afinal na Democracia, importante é o povo. O capital e as empresas<br />

existem para proveito de todos, segundo suas participações e merecimentos..<br />

Quando o Egito se tornou um reino, inventou a escrita. 420 anos depois<br />

começou a construir as grandes pirâmides, iniciando pela do rei Djoser. Os reis <strong>da</strong> mais<br />

longa organização política <strong>da</strong> nossa história assumiram a sabedoria de governar segundo<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 66


as necessi<strong>da</strong>des do País. Já que a principal ocupação popular era a agricultura, e essa<br />

ativi<strong>da</strong>de era sazonal devido às enchentes dos vales férteis, que eram pontuais, o<br />

Governo armazenava a sua parte <strong>da</strong> produção e com ela sustentava a população<br />

ocupa<strong>da</strong>, durante os períodos de entressafra.<br />

Atualmente com a globalização, é impossível manter uma nação na<br />

marginali<strong>da</strong>de do primitivismo. Com o desenvolvimento <strong>da</strong> automação <strong>da</strong> produção, a<br />

máquina está substituindo a mão de obra humana. Não é justo o povo ficar ca<strong>da</strong> vez<br />

mais pobre enquanto o País e as multinacionais ficam ca<strong>da</strong> vez mais ricos.<br />

Compreendendo que a compensação pelo aumento do desemprego motivado<br />

pelo incremento <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de tanto nas empresas públicas quanto nas de iniciativa<br />

priva<strong>da</strong>, pode ser uma competência governamental, um fundo específico deve ser<br />

mantido ain<strong>da</strong> que por encargos tributários.<br />

A contribuição <strong>da</strong> parte <strong>da</strong>s empresas para a Previdência deveria ser deduzi<strong>da</strong> do<br />

faturamento e não <strong>da</strong> folha de pagamentos salariais, para não eximir, de encargos com a<br />

Previdência, as empresas que substituem a mão-de-obra por recursos tecnológicos.<br />

Nós somos animais sociais, e como tais, solidários, possibilitando que todos se<br />

beneficiem parcialmente do talento de ca<strong>da</strong> um. A civilização requer que a ciência, a<br />

tecnologia, a arte, a cultura em geral beneficiem não apenas um ou outro inventor, mas<br />

a comuni<strong>da</strong>de. Um inventor bem sucedido merece estímulos e compensações, mas não<br />

se admite o direito de explorar a humani<strong>da</strong>de com extorsão, tal qual chantagem, como<br />

os cientistas loucos <strong>da</strong> ‘ficção', que procuram inventar algo que aterrorize a humani<strong>da</strong>de<br />

para melhor dominá-la.<br />

É justo que os impostos incidentes sobre a indústria amparem o segurodesemprego.<br />

Salvo em alguns detalhes, estas idéias não são minhas. Da minha parte, abro mão<br />

<strong>da</strong> autoria, mas espero que aqueles que a viabilizarem não se vangloriem.<br />

Aposentadoria Ativa<br />

Não estou interessado em demonstrar a minha erudição em legislação<br />

trabalhista, muito menos a minha ignorância a esse respeito. Desejo apenas oferecer<br />

sugestões que sirvam para considerações democráticas ou para cobrança dos<br />

responsáveis pela nossa legislação e cumprimento <strong>da</strong> mesma.<br />

A primeira questão é: O Brasil pode <strong>da</strong>r-se o luxo de desperdiçar a sua melhor<br />

quarta parte <strong>da</strong> força contributiva e produtiva?<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 67


Essa pergunta parece inconsistente ou até contraproducente por envolver<br />

questão largamente debati<strong>da</strong> no Congresso. Entretanto o que já ficou evidente foi o<br />

desespero do Governo que está vendo a carga do endivi<strong>da</strong>mento irresponsável do<br />

passado obstaculizar a emergência brasileira.<br />

Não estou torcendo pela sobrecarga contributiva dos servidores aposentados,<br />

uma solução paliativa. A degra<strong>da</strong>ção dos direitos legítimos só seria tábua de salvação em<br />

não havendo alternativa melhor.<br />

A segun<strong>da</strong> questão é: Será mesmo que todos os trabalhadores que completaram<br />

trinta e cinco anos de serviço perderam a capaci<strong>da</strong>de produtiva e a utili<strong>da</strong>de? Estariam<br />

todos os idosos desejando gozar a boa vi<strong>da</strong>, sabendo que para isso os ci<strong>da</strong>dãos <strong>da</strong> ativa<br />

são sacrificados com altas alíquotas de contribuição?<br />

Enquanto o Governo lamenta o custo <strong>da</strong>s aposentadorias, por que não investe<br />

numa educação mais eficiente? Poderia tornar as pessoas muito mais produtivas e com<br />

menos dispêndio. Se os aposentados, mais instruídos, mantivessem a iniciativa e a<br />

criativi<strong>da</strong>de produtiva, a macroeconomia cresceria e eles não seriam pesados porque o<br />

erário seria muito maior. Afinal, é <strong>da</strong> tributação sobre a produção e comercialização de<br />

bens e serviços que se abastece o Tesouro. O investimento em quali<strong>da</strong>de na educação<br />

retorna multiplicado pela produtivi<strong>da</strong>de.<br />

Uma educação agradável e instigante é o que está faltando para evitar os desvios<br />

de comportamento como os de delinqüência, beligerância, intolerância e rapinagem,<br />

para debelar a inveja, o ódio e o preconceito.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 68


IDENTIDADE COLETIVA<br />

CULTURA<br />

A Cultura na Quali<strong>da</strong>de de Vi<strong>da</strong><br />

Qual a ver<strong>da</strong>deira identi<strong>da</strong>de de uma pessoa, a de uma família, a de uma tribo?<br />

Uma cadernetinha com os apontamentos de nome, sexo, endereço, i<strong>da</strong>de,<br />

filiação, naturali<strong>da</strong>de, QI, escolari<strong>da</strong>de, profissão, experiência; apontamentos de saúde:<br />

vacinas, tipo sanguíneo, doenças sofri<strong>da</strong>s, cor <strong>da</strong> pele, ficha corri<strong>da</strong>: cor <strong>da</strong> bandeira<br />

partidária, <strong>da</strong> escola de samba, do grêmio esportivo, cigarro, bebi<strong>da</strong>, leituras?<br />

Tudo isso é importante, mas insuficiente.<br />

Identi<strong>da</strong>de também é todo o conjunto dos seus atributos que possam pesar na<br />

satisfação, no amor próprio, na digni<strong>da</strong>de, no brio, na motivação. São componentes <strong>da</strong><br />

identi<strong>da</strong>de os seus traços de caráter, como o heroísmo, a honesti<strong>da</strong>de, o empenho na<br />

boa convivência social e na participação construtiva, amor aos semelhantes, tolerância e<br />

respeito aos diferentes, leal<strong>da</strong>de e ética; responsabili<strong>da</strong>de e zelo pelos direitos individuais<br />

e sociais. Uma pessoa é avalia<strong>da</strong> pelos seus dotes culturais, suas boas intenções, sua<br />

potenciali<strong>da</strong>de de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, tudo o que resulta em quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>. Alguma quali<strong>da</strong>de<br />

pode sobressair a ponto de ofuscar alguma imperfeição. Voltaire foi doentio desde o<br />

nascimento até o fim, mais de oitenta anos. Pela intelectuali<strong>da</strong>de foi considerado o<br />

homem do século XVIII.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 69


A depressão e a tristeza, a apatia, a felici<strong>da</strong>de, a euforia, enfim, as atitudes e os<br />

estados de ânimo são ingredientes com potencial dinâmico, bom ou perverso, que<br />

podem se alternar na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas conforme a variação do cardápio dos interesses.<br />

‘Entre o Céu e o Inferno', existe uma infini<strong>da</strong>de de outros interesses mais<br />

cotidianos e práticos que dão sentido à existência venturosa ou desastra<strong>da</strong> para os<br />

diversos grupos humanos e os seus custodiados (animais, vegetais e minerais) a<br />

preservar.<br />

Bill Crosby afirmou que "não existe trabalho indigno para o homem se ele o<br />

realiza bem". Podemos acrescentar que tudo o que é feito com arte, atrai a admiração e,<br />

se possível, a imitação.<br />

Já senti um emocionante orgulho de ter escolhido morar numa ci<strong>da</strong>de onde a<br />

população dispõe de praças de recreio, esporte e entretenimento, teatro e Casa <strong>da</strong><br />

Cultura (onde encontrei o jovem mestre violinista Tiago). Atualmente me ufano de<br />

continuar numa ci<strong>da</strong>de que é capaz de resolver paulatinamente todos os seus problemas,<br />

porque tratou de investir mais em educação.<br />

São comoventes os testemunhos dos menores de qualquer parte do Brasil,<br />

quando demonstram a satisfação por terem escolhido a arte e não o crime como<br />

suprema meta de suas vi<strong>da</strong>s. Principalmente aqueles convertidos que foram resgatados<br />

<strong>da</strong> fase destrutiva e perversa para o melhor convívio social.<br />

Incentivo à Arte<br />

Neste mundo capitalista e competitivo em que tudo o que se produz deve ser<br />

repartido com o Governo para que ele cuide de algumas conveniências sociais, fica<br />

difícil conseguir patrocínio particular para o lançamento de um artista que não esteja no<br />

auge <strong>da</strong> fama. Ninguém está disposto a fazer investimento arriscado. Cabe ao Governo<br />

(se desejar) tornar possíveis as pesquisas e experimentações científicas, tecnológicas e<br />

artísticas que possibilitem a evolução social. Na socie<strong>da</strong>de, organiza<strong>da</strong>, é como no<br />

futebol, onde existe diretoria, equipe e torci<strong>da</strong>; todos participam como uma cadeia autosustentável.<br />

Se ca<strong>da</strong> peça funcionar no que lhe compete, tudo continua adequando-se e<br />

corrigindo a trajetória para um destino mais glorioso.<br />

Algumas pessoas especiais, com ou sem deficiência, que investem no autoaprimoramento<br />

até atingir uma prodigiosa desenvoltura na arte merecem amparo e<br />

incentivo quando desejam brin<strong>da</strong>r a Socie<strong>da</strong>de com seus dons. Ao reconhecer alguém<br />

nessa situação e que esteja sem oportuni<strong>da</strong>de e perspectiva de cumprimento dos<br />

objetivos, cabe o apoio e a orientação governamental. To<strong>da</strong>via, é importante distinguir<br />

entre os cui<strong>da</strong>dos que se deve tomar com o plantio de uma mudinha, os tratamentos<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 70


iniciais para que uma árvore frutifique e, de outro modo o trato a pão-de-ló em cocheira<br />

do potro fi<strong>da</strong>lgo, sem a exigência dos exercícios que lhe tornariam um campeão. Melhor<br />

explicando: não se deve confundir apoio e orientação com assistencialismo privilegiado.<br />

O resultado pode não corresponder ao investimento.<br />

Sempre que um ci<strong>da</strong>dão se revela exímio artista, ao se apresentar com sucesso, os<br />

jovens e as crianças colocam-no em seu imaginário como objetivo a ser almejado, mas<br />

nem sempre os ‘modelos' colocados no ‘imaginário público' pela mídia são os<br />

preferíveis. Por falta de melhor opção muitos jovens seguem os maus exemplos.<br />

Na Socie<strong>da</strong>de existe uma competição de poderosas forças de influência: na mo<strong>da</strong>,<br />

nos costumes, na expectativa de realização profissional, nos rumos <strong>da</strong> cultura. Quando<br />

as forças benignas dormem, as malignas avançam. Já é notável a porcentagem de<br />

juventude desencaminha<strong>da</strong> entre nós. Existem boas iniciativas de motivação em prol <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e <strong>da</strong> civili<strong>da</strong>de, mas seriam suficientes? O zelo pela moral e os bons costumes<br />

não pode ser atributo e monopólio <strong>da</strong>s religiões. Interessa a to<strong>da</strong> a comuni<strong>da</strong>de. Deveria<br />

haver um ca<strong>da</strong>stramento dos desinteressados para estudá-los e prevenir a Socie<strong>da</strong>de dos<br />

descami-nhos.<br />

Agora espero que o Governo (federal, estadual e municipal), os clubes de serviço,<br />

as universi<strong>da</strong>des, as igrejas, os militares, todos os setores influentes disponham de<br />

ânimo, sabedoria e recursos a fim de atrair o nosso povo para um futuro melhor, onde<br />

não haja lugar para o crime e para a degra<strong>da</strong>ção dos bons costumes. <strong>Em</strong> vez de depositar<br />

os menores em internatos ‘corretivos', que tendem a se tornar clandestinamente escolas<br />

do crime, existem melhores alternativas como incrementação de estabelecimentos para<br />

o ensino <strong>da</strong>s profissões e <strong>da</strong>s artes, oficinas de aprendizado dos ofícios, parlamentos de<br />

pesquisa de opinião, discussão e sugestões, formação de grupos culturais, Escotismo,<br />

Guar<strong>da</strong> Mirim, Arte (bem melhor do que quadrilhas para o crime organizado). É claro<br />

que as casas e os sítios correcionais são inevitáveis, mas poderão ficar mais ociosas no<br />

futuro se os atuais candi<strong>da</strong>tos a prisioneiros bandearem-se para o nosso lado, adotando<br />

uma profissão decente.<br />

O Bicho Homem<br />

Convencionalmente existem atribuições de tarefas masculinas e tarefas<br />

femininas. Devem ser vestígios <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pedra lasca<strong>da</strong>, quando os humanos<br />

passavam quase todo o tempo de que dispunham ocupados com os problemas<br />

alimentares. Então os homens caçavam enquanto as mulheres cui<strong>da</strong>vam dos serviços<br />

domésticos, <strong>da</strong> moradia, do conforto e zelavam pelos filhos.<br />

A especialização dos caçadores exigia deles um ‘instinto' feroz, como condição de<br />

competência na captura e abate <strong>da</strong>s presas. A seleção natural, como sempre, melhor<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 71


preservou os portadores <strong>da</strong>s características necessárias ao sucesso na luta pela<br />

sobrevivência.<br />

Atualmente ain<strong>da</strong> permanece alguma idéia de que os homens devem ser<br />

insensíveis, bravos, violentos e estúpidos. As mulheres seriam delica<strong>da</strong>s, virtuosas,<br />

amorosas e honestas. Enquanto os homens se aprimoravam no terrorismo, as mulheres<br />

esmeravam-se na passivi<strong>da</strong>de. Assim viveram, elas infelizes e eles caronas ou<br />

procrastinadores. Diante destas divagações, suponho que ain<strong>da</strong> hoje, entre os povos<br />

mais primitivos e atrasados, os homens obrigam as suas mulheres a ‘empurrar o bonde'<br />

enquanto eles festejam no seu interior.<br />

Aqueles que se julgam muito machos, pensam que o homem que é bem homem<br />

não pode ser vaidoso, não se dedica à cultura física, não faz controle do peso. Alguns<br />

homens têm vergonha de dedicar-se a serviços intelectuais, são <strong>da</strong>dos a extravagâncias<br />

alimentares, orgulham-se dos porres e <strong>da</strong>s grosserias. Fumam para demonstrar<br />

destemor mesmo com sacrifício <strong>da</strong> saúde. Nem quero comentar as manias dos que se<br />

drogam. Entendem que se evitassem atitudes extremas passariam por covardes. Eles<br />

pensam que "não fogem à luta", por absur<strong>da</strong> que seja. Não conhecem o ver<strong>da</strong>deiro<br />

significado de ser Homem com amor, responsabili<strong>da</strong>de, inteligência, sonhos, esperança.<br />

Esquecemos que entre os mamíferos e as aves, os machos geralmente são<br />

maiores, mais altivos e defensores <strong>da</strong> alcatéia, <strong>da</strong> vara, do rebanho, <strong>da</strong> tribo.<br />

Acho muito positivo encorajarmos a beleza e a importância <strong>da</strong>s fêmeas humanas,<br />

porque tanto elas como nós somos partes do mesmo grupo, mas para distingui-las, seria<br />

necessário os homens preferirem o oposto (descuido com a saúde e a beleza)? Visto que<br />

só elas teriam o direito de se cui<strong>da</strong>r, é evidente que só eles seriam os escolhedores na<br />

formação dos pares, mas isso pode ser cultura transitória.<br />

Existem escolas universitárias com predominância feminina e talvez até ausência<br />

masculina. <strong>Em</strong> contraparti<strong>da</strong>, dificilmente se encontra um curso profissionalizante em<br />

que as mulheres sejam minoria. Parece que nós os homens estamos mais<br />

preconceituosos e embaraçados do que elas.<br />

Que bom seria se não fosse obrigatória a identificação sexual d@s pessoas, ao<br />

referirmo-nos a el@s, afinal somos tod@s human@s. No entanto persiste a estupidez <strong>da</strong><br />

definição sexual <strong>da</strong>s coisas, como O rio, A estra<strong>da</strong>, A pedra, O tijolo, A folha, O galho,<br />

etc.<br />

Aproveitei a sugestão d@ mestr@ Odila Schwingel Lange, na sua primorosa<br />

opinião publica<strong>da</strong> na segun<strong>da</strong> página do primeiro caderno do jornal "O Progresso" do<br />

dia 10 de fevereiro de 2006, onde abor<strong>da</strong> mais uma aplicação para o símbolo arroba (@).<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 72


O Apetite<br />

Os pais desejam guiar o desenvolvimento dos filhos <strong>da</strong> melhor maneira que<br />

esteja ao seu alcance. Quanto à nutrição, a preocupação maior é com a quanti<strong>da</strong>de e a<br />

menor é com a quali<strong>da</strong>de. Enquanto pequenas as crianças limpam orgulhosamente o<br />

prato, mas depois de adultos não sabem por que estão obesas e assim permanecem,<br />

supondo que assim são, sem maiores cui<strong>da</strong>dos científicos. Já com os animais<br />

industrializáveis...<br />

Para conseguir bons resultados nos desfiles e concursos de saúde e beleza animal,<br />

os humanos procuram atender as necessi<strong>da</strong>des dos bichos cientificamente com higiene,<br />

conforto, medicamentos e alimentação <strong>da</strong> melhor quali<strong>da</strong>de nutricional e em<br />

quanti<strong>da</strong>de ótima. Nesses casos, um embrião bovino pode valer até R$ 40.000,00. Quase<br />

o preço de dois automóveis novos. Entretanto nós, os desvalorizáveis, queremos bebi<strong>da</strong>s<br />

caríssimas, cujas virtudes na<strong>da</strong> têm em comum com os preços. Na<strong>da</strong> a ver com<br />

balanceamento nutritivo. Um sorvete que pode valer até meses de cesta básica; ovos de<br />

espécies quase extintas são avi<strong>da</strong>mente consumidos. Problemas de saúde só interessam<br />

aos médicos. Na melhor <strong>da</strong>s hipóteses, ao comer, beber e fumar, os humanos estão<br />

irracionalmente pensando apenas na sacie<strong>da</strong>de dos instintos viciados. Enfim,<br />

arrogância, estroinices, bravatas e outras atitudes de grande importância em ambiente<br />

esnobe.<br />

Os mesmos cui<strong>da</strong>dos que temos com os animais puxadores <strong>da</strong> evolução genética,<br />

deveríamos ter conosco, mas somos muito ciosos <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des de amealhar fatores<br />

lucrativos. A relutância dos mais ricos em passar gratuitamente preceitos, receitas e<br />

descobertas úteis, adquiridos por meio de caríssimas pesquisas, condena os mais pobres<br />

à marginali<strong>da</strong>de e à exclusão social. É aí que surge a tarefa do Governo de equilibrar a<br />

oferta de cultura e informações por meio de incentivos. Ao invés de olhar com maus<br />

olhos a livre iniciativa particular e com desconfiança os contribuintes dos impostos, que<br />

teimam em praticar o capitalismo defendendo os próprios tesouros contra a pirataria e a<br />

inveja dos improdutivos. A classe dominante ou ‘elite governamental' bem que poderia<br />

otimizar as condições de produção e divulgação dos fatores de saúde pública. Os<br />

brasileiros que são mais ricos e produtores de riquezas repartem compulsoriamente (via<br />

impostos) a sua produção com os mais pobres em alta porcentagem. Se esses recursos<br />

não estão chegando até os necessitados, é porque seguem a rota dos juros <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong><br />

pública.<br />

Ao otimizar as condições de vulgarização de tecnologia, é necessário muito<br />

estudo e grande cui<strong>da</strong>do. Quando o Governo avança muito em divulgação tecnológica,<br />

pratica uma cari<strong>da</strong>de imediata, mas a médio-prazo pode inviabilizar o interesse pelo<br />

investimento particular em pesquisa científica, por desvalorizar produtos em<br />

desequilíbrio com os insumos.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 73


A otimização <strong>da</strong>s condições de produção de tecnologia depende de fatores<br />

políticos. Compare-se a quanti<strong>da</strong>de de novas patentes dos países capitalistas com a dos<br />

socialistas. Posso adivinhar que onde tudo é feito pelo social a conveniência<br />

incentivadora é mais fraca do que onde quase tudo é feito pelo social. Bem diferente dos<br />

países mal administrados e muito endivi<strong>da</strong>dos, onde quase tudo é feito para pagar juros.<br />

Nos países socialistas que proíbem o capitalismo, ninguém tem interesse de inventar,<br />

desenvolver ou trabalhar mais do que seja de obrigação, porque o atendimento estatal<br />

racionado é o mesmo para os gênios e para os idiotas.<br />

Já foi sobejamente verificado que o governo socialista totalitário, nunca será<br />

satisfatoriamente provedor <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des proletárias. As repúblicas e democracias<br />

socialistas devem suprir a oferta de cultura e tecnologia, com muito cui<strong>da</strong>do para não<br />

quebrar a livre iniciativa, mas temos um exemplo de investimento público de extrema<br />

importância em tecnologia que é o <strong>da</strong> EMBRAPA (Instituto Brasileiro de Pesquisa<br />

Agropecuária). Ela faz pesquisa de ponta, disponibiliza as suas conclusões aos<br />

interessados sem inibir as avança<strong>da</strong>s experimentações particulares. Os resultados<br />

atestam o acerto do investimento público em tecnologia. Tanto é assim que o Brasil é<br />

uma potência mundial na produção de alimentos.<br />

Nos países democráticos, os donos <strong>da</strong>s patentes não devem usa-las com ganância<br />

de seqüestradores porque o mérito de uma autoria não pertence apenas ao autor, mas a<br />

todos os que colaboraram ao longo de muitos séculos para o desenvolvimento <strong>da</strong> sua<br />

educação e conhecimento. Os inventores e os descobridores deveriam desejar a<br />

recompensa ou retorno apenas equivalente ao dispêndio com o objeto inventado,<br />

somado ao mérito <strong>da</strong> descoberta ou <strong>da</strong> invenção, porque a quali<strong>da</strong>de intelectual também<br />

deve ser prestigia<strong>da</strong> como fator de produção. O problema é que ninguém sabe avaliar<br />

corretamente o seu próprio mérito.<br />

Uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de contravenção que deveria ser puni<strong>da</strong> como apropriação<br />

indébita é freqüentemente pratica<strong>da</strong> pelos capitalistas de nação rica de dinheiro, mas<br />

pobre de ética que tentam apropriar-se de tecnologia que secularmente encontra-se no<br />

domínio público de uma região. Quem quiser pode produzir rapadura, caipirinha,<br />

bati<strong>da</strong> de abacate com banana, suco de laranja, sala<strong>da</strong>, purê, calça e camisa sem<br />

exclusivi<strong>da</strong>de de marca, sem cometer pirataria, pode manufaturar de maneira artesanal<br />

ou industrial no sistema de um país pobre, onde a honra pelos direitos é espontânea,<br />

com ou sem registro em cartório. Então surge alguém, não sei de onde, rouba a idéia e<br />

proíbe a produção dos pobres, como se o pobre não necessitasse consideração,<br />

digni<strong>da</strong>de, respeito.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 74


URBANOFILIA<br />

O Santuário<br />

Quando um bairro de qualquer ci<strong>da</strong>de revela-se inóspito, devido a condições<br />

naturais impróprias para habitação, ou quando o interesse econômico ou político<br />

particular se impõe ao social, sempre é possível transplantar uma população, de um<br />

local para outro. Mas quando é proposta uma obra de interesse social, para melhorar a<br />

vi<strong>da</strong> de centenas de milhares de pessoas, e sem prejudicar quem quer que seja, surgem<br />

obstáculos ‘éticos', religiosos, legais e até inconfessáveis, para o embargo.<br />

Surgiu um ‘grande' transtorno ao preparar o terreno para a construção do<br />

Shopping Aveni<strong>da</strong> de Dourados, porque descobriram uma <strong>da</strong>s pequenas nascentes<br />

tributárias do lago do Parque Arnulfo Fioravanti de Dourados, MS, com pequena poça<br />

d'água e provavelmente habita<strong>da</strong> por alguns lambaris. Qualquer poça d'água durável<br />

onde os pássaros tenham liber<strong>da</strong>de de banhar-se cria peixinhos.<br />

Quanto ao problema <strong>da</strong> preservação <strong>da</strong> nascente, é lastimável saber que alguém<br />

teme a morte do olho d'água em decorrência <strong>da</strong> construção sobre o afloramento. Não<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 75


tem como impedir com tampão a água que brota <strong>da</strong> terra. Ela tem pressão e acaba<br />

encontrando caminho para aflorar, mesmo que em outro ponto. Se a água encaminhouse<br />

por ‘veias' até emergir, não mu<strong>da</strong>rá para vinho se for entuba<strong>da</strong> ou drena<strong>da</strong> para sair<br />

alguns metros mais adiante. Quando se fura um poço profundo, geralmente interfere-se<br />

nos ‘desígnios' <strong>da</strong> Natureza em sua circulação interna de umi<strong>da</strong>de. <strong>Em</strong> compensação<br />

provê-se o abastecimento de água potável a uma população humana, e ninguém fica<br />

pensando que precisa de relatório de impacto ambiental por isso. Entretanto, pode<br />

ocorrer que uma pequena afloração seque e o lençol freático baixe em decorrência <strong>da</strong><br />

subtração de águas mais profun<strong>da</strong>s.<br />

Se alguma idéia ‘brilhante' para o progresso do bem estar social pode ser<br />

socialmente adversa ou <strong>da</strong>nosa a alguma espécie em extinção, há pressa em descobrir as<br />

falhas, avaliá-las e corrigi-las. Se for necessário o enriquecimento de uma empresa para<br />

que um atendimento comercial e de lazer comunitário aconteça, qual é o problema?<br />

Alguém enriquece. <strong>Em</strong> compensação centenas conseguem ocupação rendosa enquanto<br />

muitos milhares ficam felizes pela concentração e proximi<strong>da</strong>de do abastecimento. O que<br />

não podemos é criar barreiras e embromações indiscrimina<strong>da</strong>mente para qualquer<br />

inovação que perturbe a nossa inépcia. Se necessário, devemos calcular quais<br />

exatamente os ‘animais' deverão ser transferidos em comparação a quantos seres<br />

humanos serão beneficiados. Não sei até que ponto nós poderíamos agredir o meioambiente<br />

em perseguição a um inseto causador de epidemia. To<strong>da</strong>s as formas de vi<strong>da</strong><br />

são importantes. Ca<strong>da</strong> um merece o seu lugar, mas sem exageros.<br />

Os animais aquáticos que sobem para as cabeceiras até onde podem para<br />

desovar, desovam onde puderem chegar.<br />

Se não podemos transferir alguns peixinhos ou insetos ou micróbios para novo<br />

hábitat, por considerarmos desrespeito, ou "crime inafiançável" enquanto matamos<br />

milhares de bois, frangos, suínos, etc. por dia para suprir as mesas; enquanto 137<br />

brasileiros são assassinados por dia apenas para sustento do status dos traficantes,<br />

parece que só os viventes ‘naturais' são importantes. Está parecendo que eles são deuses<br />

e intocáveis. Então, se eles são deuses seria porque são mais inocentes do que nós? Que<br />

somos nós? Não seria o Diabo mais inocente do que Deus? Por quê motivo um natural é<br />

mais respeitável do que você que também não é artificial, mas que é honesto e bem<br />

intencionado? Você não é natural? Temos que execrar tudo o que parece artificial? Se<br />

você é execrável (em comparação com os peixinhos <strong>da</strong> nascente), por ser inteligente,<br />

será que você vai ficando mais distante de Deus enquanto evolui, enquanto desenvolve a<br />

compreensão? Não. A parte <strong>da</strong> inteligência que é maligna é aquela que serve ao crime.<br />

Tudo o que surge de boa intenção merece respeito e consideração, ain<strong>da</strong> que<br />

envolva dinheiro (quem abomina o dinheiro que esteja em boas mãos não está bem<br />

intencionado). O que não podemos é ficar obnubilados nas nossas considerações e<br />

esquecer que os valores existem para serem cotejados, conferidos e comparados. Se Deus<br />

criou a natureza to<strong>da</strong>, criou também a humani<strong>da</strong>de. É muito lamentável que existam<br />

casos de descuido humano com a vi<strong>da</strong> selvagem, contribuindo para a extinção de<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 76


algumas espécies. Contudo, a não interferência humana no ecossistema não se aplica no<br />

caso <strong>da</strong>s tartarugas marinhas e dos jacarés do papo amarelo, do mico-leão-dourado, de<br />

muitos animais que estão sendo salvos pelos homens e pelas mulheres. Aqui na Terra, a<br />

humani<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> será a melhor realização <strong>da</strong> criação.<br />

Mu<strong>da</strong> Brasil!<br />

Naturalmente é com desalento e repulsa que critico a política brasileira.<br />

Desalento porque me presto ao trabalho de meditar sobre as negativi<strong>da</strong>des opressoras<br />

<strong>da</strong> esperança; repulsa, porque sei que a reação à crítica pode ser oposta às expectativas.<br />

Contudo, poderia haver melhora a longo-prazo.<br />

O Brasil ain<strong>da</strong> está necessitando de urgentes mu<strong>da</strong>nças. O atendimento judicial<br />

está em franca expansão dos prazos de conclusão; piorou o atendimento <strong>da</strong> saúde<br />

pública; a alfabetização ‘funcional' continua sofrível; as nossas vias fluviais continuam<br />

mal aproveita<strong>da</strong>s, no país mais bem servido de recursos hídricos; ain<strong>da</strong> não começou a<br />

expansão ferroviária; as vagas de serviços técnicos foram preenchi<strong>da</strong>s em função <strong>da</strong><br />

política; o programa Fome Zero pouco passou de promessa; as ‘bolsas isto' e as ‘bolsas<br />

aquilo' não foram organiza<strong>da</strong>s com priori<strong>da</strong>de de assistência aos mais necessitados;<br />

alguns ‘intelectuais' ain<strong>da</strong> consideram os assaltos e seqüestros como simples ‘protestos<br />

políticos'; muitos advogados tornam-se cúmplices dos criminosos e continuam a exercer<br />

a ‘nobre missão' como se ain<strong>da</strong> fossem homens <strong>da</strong> lei; a corrupção de colarinho branco e<br />

dos políticos está mais tolera<strong>da</strong> e a impuni<strong>da</strong>de parlamentar é festeja<strong>da</strong> com <strong>da</strong>nças<br />

comemorativas e congratulações no palácio legislativo, como se o Poder Legislativo não<br />

soubesse que um crime deve ser punido, execrado. Não deve ser festejado.<br />

As pessoas que não podem alegar ignorância <strong>da</strong> legali<strong>da</strong>de são os legisladores e<br />

as legisladoras, sob pena <strong>da</strong> mais absoluta incompetência e inaptidão. O poder<br />

Executivo tem a incumbência de cumprir as leis e executar o plano orçamentário. Não<br />

lhe compete apoiar o crime com a desculpa de ignorá-lo ou de admiti-lo como tradição.<br />

O civismo é uma quali<strong>da</strong>de imprescindível ao desenvolvimento <strong>da</strong>s<br />

potenciali<strong>da</strong>des de qualquer socie<strong>da</strong>de. A degeneração do civismo e do bom senso está<br />

se tornando epidemia por falta de interesse do clero (em suas diversas denominações),<br />

<strong>da</strong> política, do magistério, do funcionalismo público e de setores do Judiciário. É claro<br />

que se as partes mais responsáveis desta nação não estão nem um pouco preocupa<strong>da</strong>s<br />

com o equilíbrio no relacionamento entre pessoas ou grupos; se não se importam com a<br />

clareza, com a virtude e com a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s leis, com a harmonia, com a<br />

funcionali<strong>da</strong>de e o cumprimento <strong>da</strong>s normas legais, com o atendimento <strong>da</strong>s obrigações<br />

do governo para com os contribuintes; dificilmente o ci<strong>da</strong>dão comum terá forças para<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 77


exigir os direitos próprios ou alheios. Reclamar a quem? Se for atendido, entra numa fila<br />

interminável para depois saber que entrou na fila erra<strong>da</strong>.<br />

Enquanto a metade dos parcos recursos reservados para atender a conservação<br />

<strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s e pontes estiver caindo nos bolsos degenerados (como se vê na primeira<br />

capa do jornal "O Progresso" de 4 e 5 de março de 2006); enquanto o imposto pró-saúde<br />

(CPMF) não estiver todo canalizado para a sua finali<strong>da</strong>de, para complementar o que já<br />

era devido; enquanto o jogo for proibido ao ci<strong>da</strong>dão, porém estimulado como prática<br />

governamental para angariar ‘recurso oficializado'; enquanto a destruição <strong>da</strong>s florestas<br />

nativas for proibi<strong>da</strong> para a iniciativa priva<strong>da</strong>, mas libera<strong>da</strong> para alguns setores<br />

situacionistas; enquanto o programa Fome Zero servir apenas de pretexto para<br />

transformar os ‘pobres companheiros', de trabalhadores em dependentes do erário e<br />

‘eleitores conscientes'; enquanto os lucros dos banqueiros e <strong>da</strong> Petrobrás continuam em<br />

curva ascendente em contraste com a exigüi<strong>da</strong>de do PIB; enquanto o Banco Central<br />

finge que deseja manter a inflação sob controle, mas as tarifas voam alto, puxando o<br />

resto. Enquanto permanece esse estado de coisas, a socie<strong>da</strong>de vai afun<strong>da</strong>ndo na areia<br />

movediça <strong>da</strong> confusão e <strong>da</strong> deterioração. Por que motivo um litro de gasolina brasileira<br />

está valendo mais de nove litros de gasolina venezuelana? Por que a lei abole os<br />

obstáculos quebradores de automóveis e as prefeituras municipais seguem mantendo os<br />

obstáculos e a transgressão, como se a lei federal man<strong>da</strong>sse apenas fora dos limites<br />

municipais? Onde vigoraria essa lei federal?<br />

Até parece governo suici<strong>da</strong>, que preferisse o ‘quanto pior melhor', porque assim<br />

acabaria logo a democracia para <strong>da</strong>r lugar à anarquia.<br />

A maior prova de que as ‘lomba<strong>da</strong>s eletrônicas' foram uma invenção de<br />

assaltantes eletrônicos para apropriação indébita dos recursos particulares, quando<br />

deveriam ser instrumentos de educação do trânsito, é que quando deixaram de <strong>da</strong>r<br />

‘lucro' foram desativados. Nem todos os locais onde as tais lomba<strong>da</strong>s ‘obrigavam' os<br />

motoristas a passar a menos de 30 Km/h, tinham necessi<strong>da</strong>de de tanta reverência,<br />

porque agora são passados a 60 Km/h sem problemas. Agora parece que a gula dos<br />

donos dos ‘obstáculos eletrônicos' não permite o uso racional e não restará aos alcaides<br />

outra alternativa senão a de construir as proscritas lomba<strong>da</strong>s de concreto.<br />

O Brasil é um país que pelo tipo <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s e ruas é de terceiro mundo, mas se<br />

arroga o esnobismo de exibir os automóveis de primeiro. <strong>Em</strong> Dourados, como em<br />

muitos outros municípios existem as lomba<strong>da</strong>s de concreto sulca<strong>da</strong>s de tanto bater<br />

barriga de carro, porque as vias são dimensiona<strong>da</strong>s para picapes rurais ou tratores. Não<br />

adianta passar quase parando, porque pode encalhar. O meu assombro e o meu encanto<br />

é a placidez <strong>da</strong> nossa queri<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de que consegue conviver com tanto descaso,<br />

com tanto cinismo, com tanto descalabro sem entrar em pânico.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 78


Ci<strong>da</strong>dão e Semelhante<br />

A comuni<strong>da</strong>de depende de organização para harmonizar e otimizar as diversas<br />

ativi<strong>da</strong>des, no sentido de conjugar esforços e interesses visando alcançar os melhores<br />

objetivos para satisfação pública.<br />

A estrutura dessa organização tem uma complexi<strong>da</strong>de proporcional à fase<br />

evolutiva <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, portanto está sempre sofrendo alterações, ajustes e<br />

acréscimos. Os aditamentos necessários podem surgir de simples críticas ou opiniões<br />

despretensiosas como a que segue.<br />

Numa ci<strong>da</strong>de ideal o ci<strong>da</strong>dão é um típico ser humano, companheiro, parceiro e<br />

amigo dos demais componentes ativos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. O relacionamento social e<br />

comercial viabiliza as diversas especializações ensejando o aprimoramento funcional de<br />

ca<strong>da</strong> indivíduo para benefício de todos com a eleva<strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> um.<br />

Naturalmente o ci<strong>da</strong>dão que faz jus ao benefício <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

especialização diversifica<strong>da</strong> <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, é o que tem obrigações como participante na<br />

produção geral, para ter direito a um bom padrão de consumo.<br />

A porção de merecimento às regalias de ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dão seria muito difícil de<br />

estabelecer sem o artifício <strong>da</strong> remuneração pecuniária. Individualmente, o melhor<br />

destino dos recursos amealhados é assunto <strong>da</strong> competência de quem faz jus. Quem se<br />

esforçou para ganhar, merece fazer bom uso e proveito. Só o necessitado sente a sua<br />

necessi<strong>da</strong>de para saber como mitigá-la e com isso sentir-se compensado.<br />

Numa socie<strong>da</strong>de assim não há lugar para os preguiçosos e para os inimigos<br />

públicos. Teoricamente os aventureiros tolerados não prejudicam os semelhantes nem o<br />

patrimônio. A tolerância fun<strong>da</strong>menta-se na esperança de que os ‘artistas' sejam como<br />

pesquisadores à procura de novas descobertas tecnológicas e conceituais para o<br />

enriquecimento cultural, intelectual e <strong>da</strong>s diversas quali<strong>da</strong>des de alegria, satisfação,<br />

afirmação e consentimento.<br />

O semelhante aqui referido parece ci<strong>da</strong>dão, mas não é. É um dos próximos,<br />

porém não podemos considerá-lo ci<strong>da</strong>dão, porque ele não merece os plenos direitos <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia já que não tem as obrigações recíprocas. Alguns assemelhados a ci<strong>da</strong>dão são<br />

seres humanos dignos de compaixão, outros não merecem nem a pie<strong>da</strong>de e nem o asco.<br />

A socie<strong>da</strong>de deve conceder-lhes um mínimo de atendimento para que não causem a<br />

degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de dos ci<strong>da</strong>dãos, já que muitos mendigos talvez dispensem ou<br />

rejeitem a digni<strong>da</strong>de própria por falta de orgulho e amor-próprio ou mesmo por um<br />

egoísmo tão concentrado que prefiram viver improdutivos na miséria a produzir algo<br />

que possa ser desfrutado por outrem. Existem ain<strong>da</strong> os semelhantes que devem ser<br />

reprimidos porque manifestam a vocação, para a nocivi<strong>da</strong>de, para a periculosi<strong>da</strong>de, para<br />

o ódio. Como pre<strong>da</strong>dores dos humanos não fazem jus aos ‘direitos humanos'.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 79


Como proteção à socie<strong>da</strong>de, os seres desumanos carecem de tratamento<br />

repressivo. O atendimento às suas necessi<strong>da</strong>des primárias é necessário por motivos<br />

higiênicos e filantrópicos, mas não por merecimento porque quem faz investimento em<br />

desgraça sabe qual o tipo de retorno deve esperar.<br />

A nossa socie<strong>da</strong>de recolhe os seus criminosos e os exibe à opinião pública<br />

estrangeira bem vitaminados e exercitados ao sol e até felizes, como se os criminosos<br />

<strong>da</strong>qui estivessem a serviço dos ci<strong>da</strong>dãos de lá ou fossem seus representantes e por isso<br />

merecessem um tratamento respeitoso, bem diferente do que merecem as nossas<br />

parasitas.<br />

O tratamento na reclusão do ladrão e do facínora não deve ser tão bom que<br />

estimule o mendigo a ser criminoso para almejar melhor quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> na prisão.<br />

Os vagabundos, os indolentes, os desempregados sem teto, os que perderam o<br />

impulso <strong>da</strong> iniciativa porque não tiveram apoio na infância são os próximos e<br />

semelhantes necessitados de albergues onde possam se alimentar e morar, mas as<br />

condições de conforto devem ser inferiores às de hospe<strong>da</strong>rias baratas e a quali<strong>da</strong>de de<br />

vi<strong>da</strong> deve ser infe-rior à dos trabalhadores humildes, porque é importante a manutenção<br />

<strong>da</strong> expectativa de melhora para que eles se interessem por um trabalho digno.<br />

A Socie<strong>da</strong>de deve organizar-se de modo a garantir que o ci<strong>da</strong>dão trabalhador<br />

sinta o consolo de que a sua quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> não sendo a que ele esperava, pelo menos<br />

é a possível e mereci<strong>da</strong>, já que os egoístas e irresponsáveis não conseguem viver melhor<br />

do que aqueles que assumem e cumprem suas obrigações. "Aqui se faz, aqui se paga".<br />

O assistencialismo deve primar mais pelo incentivo ao trabalho do que pela<br />

mendicância.<br />

Denominar "É Preciso"<br />

É lamentável a existência de ruas sem as suas placas de denominação. Qualquer<br />

ci<strong>da</strong>de que aspire ser referência turística deve estar equipa<strong>da</strong> com estrutura urbana que<br />

evidencie um mínimo de atenção para com os transeuntes e visitantes. Isso inclui o<br />

direito de saber aonde pisam. Quem nunca sentiu a angústia de percorrer vários<br />

quilômetros a procura de um nome de rua para poder situar-se? Eu já passei por isso<br />

numa capital!<br />

Cheguei a Dourados em fevereiro de 1959, quando isso aqui era uma pequena<br />

sede de um grande município. Ain<strong>da</strong> parecia quase desnecessário o emplacamento <strong>da</strong>s<br />

ruas porque na época era possível sabê-las de cor. A Cabeceira Alegre, distante, parecia<br />

outra vila. A Aveni<strong>da</strong> Marcelino Pires, como sempre, era a principal, mas muito menor<br />

do que agora. Suas paralelas do Sul eram as ruas Paraná, Santa Catarina, São Paulo e<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 80


Cuiabá; a Av. Weimar Torres era Rio Grande do Sul, a João Cândido <strong>da</strong> Câmara era<br />

Minas Gerais, etc. Eu mesmo estava presente na troca de nome <strong>da</strong> Rua Campo Grande,<br />

quando passou a denominar-se Rua João Vicente Ferreira, cuja primeira placa, por mim<br />

pinta<strong>da</strong> por encomen<strong>da</strong>, foi solenemente afixa<strong>da</strong> no Hospital Santa Rosa.<br />

Hoje o anonimato de logradouros, corredores públicos e estra<strong>da</strong>s é inadmissível<br />

até mesmo em lugarejos, entretanto ain<strong>da</strong> temos ruas com três nomes, como a minha<br />

pequena rua Pastor <strong>Braff</strong>, ou Traman<strong>da</strong>í, ou Projeta<strong>da</strong> Um. Estes são nomes que existem<br />

(teoricamente), apenas em mapas e nas correspondências. Aliás, a única rua do Brasil<br />

detentora do CEP 79826-210 é a Rua Pastor <strong>Braff</strong>, <strong>da</strong> Cohafaba III de Dourados, MS, de<br />

acordo com o Guia Postal Brasileiro, edição 92 (1992).<br />

Outro problema é o nome do meu bairro, Cohafaba III, BNH Terceiro Plano ou<br />

Jardim Santana. Como o nome não aparece em placa oficial, continua a confusão. Não<br />

sei como podemos conviver tanto tempo com um embaraço tão fácil de desembaraçar.<br />

Tudo bem que se use apelido, como no caso <strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong> Hayel Bon Faker, antiga Rua<br />

Bahia. Podemos falar do modo mais fácil, mas na hora de escrever, deve ser o nome<br />

correto. No caso <strong>da</strong> Rua Bahia, não tem confusão, visto que existem as placas oficiais<br />

denominativas. Já o conjunto residencial, Cohafaba III foi registrado no Cartório com a<br />

designação "Santa Ana", mas nós os desavisados, conhecemos por diversos nomes,<br />

menos pelo ver<strong>da</strong>deiro.<br />

Eu poderia dizer: "lá no bairro Santa Ana", ou "lá em Santa Ana onde eu moro...",<br />

ninguém saberia localizar. Quem nunca viu a beleza urbana de um bairro nobre como o<br />

Terceiro Plano, <strong>da</strong>qui de Dourados, pode pensar que é tão atrasado que nem foi<br />

definitivamente denominado ain<strong>da</strong>, embora já exista há quase trinta anos.<br />

Rua Pastor <strong>Braff</strong><br />

Denominar rua com nome de gente é homenagear alguém que deve ser<br />

conhecido e lembrado.<br />

O Pastor <strong>Braff</strong>, como era conhecido, tem a seguinte estória: Manoel João <strong>Braff</strong>,<br />

filho de Pablo Juan Calbo e Wihelmina Carlota <strong>Braff</strong>, ele espanhol e ela sueca, ain<strong>da</strong><br />

eram crianças quando chegaram ao Brasil, formaram um casal de colonos brasileiros de<br />

família numerosa. Manoel nasceu no lugarejo denominado Pedras Brancas, então<br />

distrito de Santo Antônio <strong>da</strong> Patrulha, RS, em 9 de abril de 1910 e faleceu em Primavera<br />

do Leste, MT, em agosto de 1998.<br />

Ain<strong>da</strong> em tenra i<strong>da</strong>de, Manoel sentiu-se fortemente atraído para os assuntos<br />

religiosos. Estudou, foi professor em escolas adventistas e era encarregado <strong>da</strong> Igreja em<br />

ca<strong>da</strong> local onde lecionou, em diversos municípios gaúchos. Muito patriota, ordenava a<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 81


formação dos alunos em fileiras ou colunas, para cantar um hino à Pátria antes de<br />

entrarem para a classe, principalmente em <strong>da</strong>tas comemorativas, quando palestrava<br />

sobre o tema. Sempre estudioso e zeloso para com os assuntos religiosos, finalmente foi<br />

consagrado pastor em 1951 se bem me lembro.<br />

Depois veio a ser designado para o grande Município de Dourados, MS, que<br />

naquela época ain<strong>da</strong> abrangia, entre outros distritos, Vila Angélica, Ivinhema, Caarapó,<br />

Santa Luzia, Naviraí, Vila Brasil, Vila Jateí, Vila Glória, Douradina etc. Foi pastor <strong>da</strong><br />

Igreja Adventista do Sétimo Dia em Dourados durante os anos de 1959/60. Eu casei em<br />

1959 e permaneci em Dourados enquanto meu pai e o resto <strong>da</strong> família seguiu para<br />

outras locali<strong>da</strong>des como Três Lagoas - MS, alguns municípios de Santa Catarina, alguns<br />

do Paraná e por último, Primavera do Leste, MT. A organização adventista não deixava<br />

um pastor permanecer muito tempo no mesmo lugar, por questão de política<br />

administrativa.<br />

<strong>Em</strong> 1964 o Pastor <strong>Braff</strong> esteve em Dourados visitando-nos. Era tempo de<br />

silêncio; proibido discursar; tempo de ‘caçar as bruxas para inquisição' <strong>da</strong> Revolução de<br />

31 de março. O medo era a tônica, mas Pastor <strong>Braff</strong>, não se continha em sofrer calado.<br />

Enquanto explicava a um companheiro de viagem (de ônibus) o motivo por que era<br />

anticomunista, estava sendo observado. Chegando a Vila Brasil (hoje Fátima do Sul),<br />

recebeu ordem de prisão como se fosse comunista. A cadeia era em Dourados, onde<br />

hoje funciona o Corpo de Bombeiros.<br />

O professor Celso Müller do Amaral descobriu o equívoco, quando viu que entre<br />

os ‘hospedes' <strong>da</strong> cadeia havia um que <strong>da</strong>va lições bíbli-cas aos outros e tinha o<br />

sobrenome <strong>Braff</strong>.<br />

Nesse tempo a minha esposa já era a escrivã eleitoral de Dourados (Dona Nélsia<br />

como é conheci<strong>da</strong>), enquanto eu lecionava à noite no Colégio Presidente Vargas e<br />

durante o dia era topógrafo <strong>da</strong> Prefeitura sendo, portanto, conhecidos do prof. Celso.<br />

Nélsia foi consulta<strong>da</strong> sobre a suposição de estar preso um parente. Foi quando descobri<br />

o acontecido com meu próprio pai.<br />

Até hoje sinto repulsa pela injustiça. Sendo um fervoroso nacionalista, defensor<br />

dos interesses brasileiros, meu pai criticava o comunismo por considerá-lo materialista e<br />

intolerante quanto à liber<strong>da</strong>de de consciência religiosa.<br />

A lei que deu o nome de Rua Pastor <strong>Braff</strong> foi de autoria do então vereador Celso<br />

Müller do Amaral, prestando homenagem e desagravo a quem foi severamente<br />

injustiçado.<br />

Tempos depois, em outra legislatura, o vereador Juarez Fiel Alves, supondo que<br />

esta rua ain<strong>da</strong> mantivesse a denominação de ‘Projeta<strong>da</strong> 1', deu-lhe o nome de<br />

‘Traman<strong>da</strong>í', uma praia do Rio Grande do Sul, como também denominou com nomes<br />

de praias diversas ruas do bairro Santa Ana ou Santana (antigo "BNH 3 º PLANO").<br />

Ocorre que uma denominação que homenageia acidente geográfico pode ser troca<strong>da</strong><br />

por outra que homenageie pessoa, mas não cabe a troca inversa.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 82


Uma sugestão: as placas que denominam ruas com nomes de pessoas, poderiam<br />

indicar, além <strong>da</strong> denominação oficial em letras garrafais, também o nome completo do<br />

personagem em letras menores, e poderiam conter ain<strong>da</strong> o nome do bairro e o CEP por<br />

onde passam. É um auxílio aos carteiros, uma atenção aos estu<strong>da</strong>ntes e um atendimento<br />

necessário aos visitantes ou turistas, beneficiando até mesmo os habitantes locais, além<br />

de facilitar a vi<strong>da</strong> de quem ama a sua ci<strong>da</strong>de.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 83


HISTÓRIA SINCERA<br />

O Exagero e o Boato<br />

O historiador deve examinar e relatar os fatos sem afetação, sem paixão e sem<br />

demonstrar-se escan<strong>da</strong>lizado, já que essas atitudes são movi<strong>da</strong>s por fatores culturais, e<br />

assim estão sujeitas a variações no tempo e no espaço, conforme a etnia e o estágio de<br />

desenvolvimento. Aquilo que hoje parece inadmissível, já foi considerado natural. Seria<br />

genial um índio pré-colombiano que invocasse os ‘direitos humanos', como hoje são<br />

vigentes, como argumento para contrariar os sacrifícios na civilização inca. Quem sabe<br />

alguma atitude "politicamente incorreta" de hoje poderá ser aceita como norma no<br />

futuro? Então, vamos tratar os casos como eles são, sem desvirtuá-los ou enfeitá-los.<br />

Se o historiador ou o jornalista de hoje desejar não parecer ingênuo amanhã,<br />

deve tentar dominar os arroubos de emoção em seus documentários e comunicados,<br />

evitando permitir-se os exageros <strong>da</strong> paixão de torcedor ou partidário ao relatar uma<br />

injustiça. Conter a própria empolgação é como contar uma anedota com a naturali<strong>da</strong>de<br />

de quem fala sério; causa maior emoção ou humor. De outro modo, a energia do humor<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 84


já se dissipa quando o sujeito conta alguma pia<strong>da</strong> junto com uma carga de risa<strong>da</strong>.<br />

Também pode acontecer com a notícia e até com o fato histórico, se o jornalista mostrase<br />

mais indignado do que deve ao relatar um caso. O "público alvo" tende a soli<strong>da</strong>rizarse<br />

com a parte ‘injustiça<strong>da</strong>', provocando um efeito oposto ao pretendido pelo ‘formador<br />

de opinião', mas quando é ver<strong>da</strong>deiro e imparcial promove uma reação mais justa.<br />

O historiador, como o cientista e o filósofo, o político, etc., deve abor<strong>da</strong>r os fatos<br />

e suas circunstâncias, revestido de parâmetros morais evitando contaminar-se com as<br />

estratégias e com o cinismo do jogo sujo com que alguns espertalhões ludibriam e<br />

exploram a opinião pública buscando a autopromoção a qualquer custo social. O boato<br />

como estratégia política deve ser punido como crime proporcional ao <strong>da</strong>no que cause. A<br />

arte <strong>da</strong> informação não pode ser mistura<strong>da</strong> com a <strong>da</strong> ficção. A liber<strong>da</strong>de de expressão e<br />

opinião deve sempre servir a bons e legítimos propósitos, do ponto de vista social em<br />

primeiro lugar e individual em segundo.<br />

A velha idéia de que "os fins justificam os meios", é uma equação equivoca<strong>da</strong> e<br />

simplória em que os termos não são suficientemente avaliados. "Os fins" beneficiam<br />

alguns e "os meios" prejudicam outros. Mesmo que os custos e os benefícios fossem<br />

corretamente repartidos entre os ativos e os passivos (agentes e pacientes), restaria a<br />

falta de consentimento esclarecido <strong>da</strong> parte dos passivos prejudicados. Se isso fosse<br />

lícito, você obteria licença para apoiar e <strong>da</strong>r guari<strong>da</strong> ao ladrão que prometesse repartir o<br />

‘produto', a muamba, com os mendigos. Uma ação assim não justifica a outra, muito<br />

menos quando está em fase de promessa. Um boato é uma mentira e como tal um<br />

delito, maior ou menor, dependendo do <strong>da</strong>no previsto ou imprevisto que cause, para<br />

quem quer que seja.<br />

Rigor No Relato, Tolerância Na Discussão<br />

A consciência acadêmica do estu<strong>da</strong>nte de história ou de jornalismo deveria ser<br />

periodicamente aferi<strong>da</strong> ou ajusta<strong>da</strong> para evitar que uma carga de conceito referente a<br />

uma ocorrência contamine o caso seguinte, virando preconceito, principalmente em<br />

casos litigiosos. O preconceito existe porque os fatos são observados com a incumbência<br />

<strong>da</strong> descrição. Como observadores somos expectadores, e como espectadores, facilmente<br />

seremos torcedores. Nós, como torcedores, dificilmente seremos imparciais<br />

suficientemente para descrever um fato com isenção de exagero.<br />

Na fase acadêmica, a pessoa tende para um pouco de ‘bitolagem do alinhamento'<br />

(tem que concor<strong>da</strong>r para ser aprovado), uma fase em que pode uma informação ou<br />

preceito ruim passar por bom pela falta de confronto com outras versões, e assim<br />

reforçar a influência que se robustece com aceitação, concordância e companheirismo<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 85


antes dos esclarecimentos que quando tardios tendem a não alterar opiniões<br />

sedimenta<strong>da</strong>s.<br />

O acadêmico que tem e defende opiniões próprias, certamente ficará em<br />

desvantagem se confrontar suas opiniões com as do mestre. Pode ser difícil distinguir<br />

entre o consenso e o bom senso. O estu<strong>da</strong>nte deve ficar atento para não se enre<strong>da</strong>r nos<br />

conceitos viciosos e nem contrariar as idéias acadêmicas até desvencilhar-se dos<br />

mesmos ao assumir o profissionalismo.<br />

As mensagens ideológicas e jornalísticas a serviço do poder (público ou privado),<br />

somente são condenáveis e devem ser combati<strong>da</strong>s quando são enganosas ou causadoras<br />

de desastres. Só pelo fato de serem oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong> oposição ou <strong>da</strong> situação ou de ‘francoatirador',<br />

não há motivo para censura ou proibição. Ca<strong>da</strong> facção se vê no centro do<br />

Direito e <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong>de e condena tudo aquilo que não lhe seja conveniente ou que<br />

contrarie suas convicções. No entanto, os acusadores ou denunciantes assim como as<br />

suas ‘inocentes vítimas', devem conhecer os limites dos seus direitos antes de tentar<br />

tolher os movimentos dos seus ‘adversários'.<br />

Infelizmente nos campos <strong>da</strong> política ain<strong>da</strong> deparamos com ‘ovelha alinha<strong>da</strong> vai<br />

com as outras' em ‘rebanhos' diversos com forte opinião partidária grupal, totalmente<br />

desvincula<strong>da</strong> <strong>da</strong> prudência, ou dos interesses nacionais. Discutem as grandes questões,<br />

mais como imposição do que como admoestação.<br />

Ao recrudescer o radicalismo, o voto seria desnecessário, e o votante também.<br />

Seria a morte <strong>da</strong> democracia. No Brasil já coexistem pacificamente as religiões e as raças.<br />

Por que não coexistiriam os partidos políticos que aparentemente só se diferem pela cor<br />

e sigla?<br />

Com respeito e tolerância as discussões entre doutrinas divergentes tendem ao<br />

encaminhamento rumo à ver<strong>da</strong>de e à perfeição. <strong>Em</strong> contraparti<strong>da</strong> a intolerância<br />

partidária, como um fun<strong>da</strong>mentalismo desembocaria no Totalitarismo, o inverso <strong>da</strong><br />

Democracia. Enquanto a Democracia oportuniza a livre expressão, a liber<strong>da</strong>de de<br />

consciência, o Direito e o voluntarismo, para felici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> maioria e possibili<strong>da</strong>de de<br />

manifestação <strong>da</strong>s aptidões e <strong>da</strong>s invenções de to<strong>da</strong>s as pessoas talentosas, o Despotismo<br />

amor<strong>da</strong>ça qualquer divergência de opinião, proibindo qualquer esclarecimento.<br />

Uma boa discussão deve ser um processo em que as idéias se cotejam e se<br />

ajustam. As doutrinas não brigam, por absur<strong>da</strong>s que sejam, brigam as pessoas<br />

partidárias, por mais semelhantes que sejam.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 86


SEGURANÇA PÚBLICA<br />

DIREITO<br />

Legali<strong>da</strong>de<br />

Se o descumprimento de uma lei só é ato ilícito se foi cometido durante a<br />

vigência <strong>da</strong> mesma, por que motivo julgar agora as perpetrações de outrora, de ações<br />

que sem proibição eram permiti<strong>da</strong>s? Quando um ato vai a julgamento pressupõe<br />

absolvição ou condenação. A condenação exige a pena.<br />

Para mencionar uma idéia ou para alegar uma circunstância ou uma hipótese;<br />

para referir-se a uma lei de reação, de causa e conseqüência, são dispensáveis o<br />

enquadramento, a vigência e a hierarquia <strong>da</strong> norma utópica (se existir). Apenas poderá<br />

alguém tentar destacar o seu desvio do bom-senso, <strong>da</strong> lógica e <strong>da</strong>s boas intenções. O<br />

caráter antiético e anti-social é cúmplice do preconceito e dos interesses escusos e se<br />

manifesta geralmente quando alguém torce o conhecimento dos fatos ou interpreta a lei<br />

com visível dubie<strong>da</strong>de segundo as suas conveniências.<br />

A alegação <strong>da</strong> insuficiência de provas ou a negativa simplória <strong>da</strong>s evidências; o<br />

transcurso do prazo (de prescrição, vali<strong>da</strong>de) não desfaz os efeitos maléficos de um<br />

crime. A demora proposital até transcursar o ‘prazo' para julgamento do roubo de 345<br />

milhões de dólares não zera o rombo, nem conserta o estrago, e a impuni<strong>da</strong>de traz um<br />

efeito cascata irrecuperável. Nesse caso a demora proposital não deve ser vista como<br />

manobra esperta <strong>da</strong> defesa, senão como indício <strong>da</strong> formação de cumplici<strong>da</strong>de no crime.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 87


Não é rara a legislação maliciosa. As leis humanas não são eternas e passam por<br />

atualizações e ajustes. No caso de uma legislatura aprovar uma lei maliciosamente, mas<br />

que em legislatura posterior seja examina<strong>da</strong> e seja descoberta a malícia; ou por outra, se<br />

uma lei cria<strong>da</strong> para garantir benefícios inconfessáveis a uma ‘camarilha' sobrevive aos<br />

beneficiários, uma legislatura posterior pode até resgatar a incorreção textual, mas a<br />

dívi<strong>da</strong> do Legislativo para com os man<strong>da</strong>ntes dos man<strong>da</strong>tários será reconheci<strong>da</strong>?<br />

Corrige supondo que está apenas aperfeiçoando, mas se os prejuízos futuros chegarem a<br />

ser evitados, os passados provavelmente serão considerados legítimos sob a vigência<br />

<strong>da</strong>quela conveniência (inconveniência para nós).<br />

<strong>Em</strong> se tratando de legislação, a antigui<strong>da</strong>de não é defeito. O ‘vício' fica por conta<br />

de quem arranja a desculpa <strong>da</strong> antigui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> lei para promover uma ‘conveniente'<br />

atualização. Existe lei com mais de três mil anos que ninguém tenta atualizar.<br />

Quem praticou ato ilícito inocentemente, sem dolo, não merece castigo maior do<br />

que a reparação, sem vingança, sem punição, mas com repreensão educativa. Porém a<br />

delinqüência dolosa, tentando tirar proveito <strong>da</strong> desgraça alheia, ou apenas para se<br />

divertir ao ofender, desrespeitar ou constranger pessoa de bem, requer reparo e punição<br />

proporcional ou equivalente.<br />

É possível o equívoco inocente de algum memorialista ao firmar opinião<br />

favorável a uma causa antiética de interesses inconfessáveis; mas isso pode ser sinal de<br />

levian<strong>da</strong>de, preparo profissional insuficiente ou confusão dos indícios que balizaram o<br />

convencimento. De qualquer modo a desculpa não desfaz o erro e nem o justifica.<br />

Assim como no Direito existe a defesa e a acusação, para que o Tribunal conheça<br />

todo o contraditório (muitas vezes deturpado pelas mentiras dos mais afoitos em<br />

defender interesses particulares, sem compromisso com a legali<strong>da</strong>de) de onde se extrai a<br />

conclusão, também os jornalistas devem ter cui<strong>da</strong>do ao divulgar uma denúncia, ou<br />

mesmo um fato de interesse público, ouvindo as partes envolvi<strong>da</strong>s e devem manter<br />

provisoriamente a neutrali<strong>da</strong>de antes de se acumpliciar, quem sabe inocentemente,<br />

numa mentira, cujo <strong>da</strong>no social pode ser incalculável. Da mesma forma, o historiador<br />

moderno deve sempre preferir a ver<strong>da</strong>de. <strong>Em</strong>bora por vezes a ver<strong>da</strong>de absoluta seja<br />

utópica, ela deve ser a meta.<br />

Discriminação<br />

Quando as pessoas não se entendem, surgem as desavenças, sentem-se ataca<strong>da</strong>s<br />

de xenofobia e brigam.<br />

O ser humano devora seus animais domésticos, salvo os animais de estimação.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 88


Os povos vão à caça e à guerra contra seus estranhos, seus inimigos. Os romanos<br />

guerreavam ferozmente contra os bárbaros (nome que <strong>da</strong>vam a todos os povos que não<br />

conheciam bem).<br />

Muitos colonizadores do Novo Mundo acreditavam que os índios (que não<br />

falavam o Português) não tinham alma e por isso tentaram escravizá-los. Se os animais<br />

silvestres pudessem comunicar sentimentos e pensamentos inteligentes e<br />

compreensíveis aos caçadores, talvez seriam poupados e considerados parceiros.<br />

Suponho que muitos canídeos, eqüinos, suínos, caprinos e bovinos conseguiram chegar<br />

bem perto disso. Ao deixarem-se domesticar, muitos são escravizados.<br />

Duas vergonhas para a raça humana foram: a escravidão e a intenção nazista de<br />

exterminar os judeus. Os negros eram caçados para escravização, transportados como<br />

gado nos navios negreiros. A integri<strong>da</strong>de familiar não era leva<strong>da</strong> em conta pelos<br />

traficantes e pelos fazendeiros compradores. Só por parecerem um pouco diferentes,<br />

eram considerados como mercadoria.<br />

<strong>Em</strong> regra geral, os ‘diferentes' compõem as minorias, os comuns são a maioria,<br />

mas nos governos imperialistas e totalitaristas existem as pessoas de classe dominante,<br />

as quais, quer sejam comuns ou diferentes, consideram-se principais.<br />

Hoje sabemos que to<strong>da</strong>s as etnias, em média e estatisticamente são dota<strong>da</strong>s de<br />

igual capaci<strong>da</strong>de de compreensão, inteligência e competência humanitária. Seja de que<br />

‘raça' for, a espécie é uma só, com iguais atributos. A aparente diferença fica por conta<br />

<strong>da</strong> intolerância religiosa e dos preconceitos culturais. Outras desigual<strong>da</strong>des étnicas<br />

podem existir por conseqüência do maior ou menor acesso à tecnologia e aos diferentes<br />

instrumentos culturais (como exemplos: falar uma boa língua e ter fácil acesso às<br />

informações) disponíveis a ca<strong>da</strong> grupo comunitário; um problema que ain<strong>da</strong> pode se<br />

encaminhar para a solução com o avanço <strong>da</strong> globalização <strong>da</strong> nova era.<br />

Quanto mais primitiva for a cultura, mais tempo se gasta e maior é o custo <strong>da</strong><br />

alimentação. Enquanto o gado passa a maior parte do seu tempo buscando alimentar-se<br />

e na hora de descansar deve ruminar, os humanos primitivos podiam construir<br />

mora<strong>da</strong>s, manufaturar as suas vestimentas, domesticar os seus animais, etc. Os humanos<br />

mais sofisticados, além <strong>da</strong> busca pela alimentação, constroem casas, estra<strong>da</strong>s,<br />

automóveis, aviões, rádio, telefone, televisão, criam cultura, praticam esporte,<br />

desven<strong>da</strong>m mistérios <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> morte e ain<strong>da</strong> sobra tempo para divertimentos.<br />

Os povos mais pobres são prejudicados na quali<strong>da</strong>de e quanti<strong>da</strong>de dos<br />

conhecimentos adquiridos por ser minguado o tempo dedicado ao aprendizado,<br />

enquanto insuficiente para as necessi<strong>da</strong>des primárias. Os mais pobres geram prole<br />

numerosa, parcialmente confina<strong>da</strong> na força de trabalho para o sustento <strong>da</strong> família.<br />

Como poderiam investir dezessete anos de estudo para ca<strong>da</strong> filho? Mesmo assim,<br />

adquirem uma cultura peculiar. Seus problemas não são os mesmos <strong>da</strong> classe média,<br />

mas as soluções são igualmente persegui<strong>da</strong>s. O tempo que poderiam aproveitar nos<br />

bancos escolares eles ‘perdem' na escola <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e no trabalho cotidiano.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 89


Da comparação durante a mistura de culturas diferentes é que pode surgir a<br />

capaci<strong>da</strong>de de discernimento para compreender os problemas e soluciona-los, surgindo<br />

também o enriquecimento <strong>da</strong> sabedoria e aprimoramento intelectual, porquanto até a<br />

pessoa mais humilde possui alguma particulari<strong>da</strong>de digna de respeito pelas demais.<br />

A possibili<strong>da</strong>de de que seja oferecido algum privilégio a um ser humano em<br />

detrimento de outro por motivo de diferença racial é motivo de vergonha para to<strong>da</strong> a<br />

espécie humana, mas espero que a discriminação seja uma ‘espécie de atitude' em<br />

extinção.<br />

Direito ao Sigilo e à Privaci<strong>da</strong>de<br />

Sem compromisso com a Jurisprudência, sem a autori<strong>da</strong>de professoral, mas<br />

como ci<strong>da</strong>dão que ama a Socie<strong>da</strong>de e procura a sua defesa contra uma silenciosa e<br />

imperceptível degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s intenções originais dos legisladores, ou mesmo de<br />

interpretações equivoca<strong>da</strong>s, permito-me expressar algumas preocupações, já que<br />

naturalmente as autori<strong>da</strong>des responsáveis estão mais atentas aos ditames legais do que<br />

aos consensuais.<br />

Estão garantindo muita proteção aos maus elementos em detrimento dos bons.<br />

Sendo ver<strong>da</strong>de que quem não deve não teme, e que com a quebra do sigilo bancário a<br />

Polícia poderia desven<strong>da</strong>r falcatruas como: super faturamento, lavagem de dinheiro<br />

oriundo de tráfico de drogas, resgate de seqüestros, produtos de grandes roubos,<br />

sonegação de impostos e falência fraudulenta, etc., por que não perguntar a quem<br />

interessa o sigilo bancário? Quem ganha com isso? Não seria o formato dessa lei do<br />

sigilo ‘convenientemente' maliciosa? Não defendo a violação de correspondência<br />

comum, muito menos o grampo telefônico, mas se em algum caso isso servir para livrar<br />

a Socie<strong>da</strong>de de um perigo grave, (mantido o segredo ético profissional, como o do padre<br />

e do médico, que ocultam <strong>da</strong> fofocagem), por que não? Quando é inquestionável a<br />

autoria de um crime, ou a iminência de embaraço ao processo judicial por delito grave,<br />

— teria cabimento atender primeiro o ‘direito' do réu contra a garantia de punição e<br />

contra a tranqüili<strong>da</strong>de e segurança <strong>da</strong> população? <strong>Em</strong> garantia pouca, a do bandido<br />

primeira?<br />

Se o réu é inocente uma vistoria reserva<strong>da</strong> nos seus ‘segredos' irá confirmar a<br />

inocência, mas se é culpado, é a Socie<strong>da</strong>de que necessita de defesa.<br />

Muito engraçado que se você tiver conhecimento de um crime e não der ciência<br />

à Polícia, você pode ser considerado conivente, cúmplice ou acusado de obstruir a<br />

justiça. Se você testemunhou um delito, você deve guar<strong>da</strong>r sigilo ou deve alertar a<br />

polícia? — Alertar a Polícia, é claro.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 90


Se um conhecimento de crime estiver em gravação telefônica, como poderá<br />

chegar à Polícia ou à CPMI? Só pode pedir investigação se souber do delito, mas para<br />

saber teria de quebrar o sigilo, então pode ser preferível que o criminoso fique impune?<br />

Se para isso precisar de provas ‘materiais', e as provas materiais só existirem nos<br />

‘invioláveis' telefonemas ou no extrato bancário, a inviolabili<strong>da</strong>de não parece uma<br />

brecha para a impuni<strong>da</strong>de?<br />

Para ser coerente, a lei devia ater-se mais aos fatos delituosos do que aos meios<br />

de apurá-los. Muitas vezes um pequeno e perdoável ato proibido serve de escudo para<br />

garantia <strong>da</strong> impuni<strong>da</strong>de do crime maior.<br />

Se um crime hediondo foi descoberto, esclarecido por meio ilícito, então existe<br />

ou crime e uma ilicitude. Seria razoável punir apenas o delito leve? Um pequeno ilícito,<br />

talvez praticado por alguém interessado em garantir a segurança social não pode fazer<br />

sombra a um crime praticado por um perigoso ladrão ou assassino.<br />

A meu ver a investigação de uma intimi<strong>da</strong>de qualquer poderia ser justifica<strong>da</strong><br />

pela descoberta de um ilícito que envolvesse interesse comunitário, mas sem man<strong>da</strong>do<br />

judicial e não confirmado o ilícito, constitui-se em delito.<br />

O que deveria ser a Justiça, não raro funciona às avessas por força <strong>da</strong>s brechas<br />

deixa<strong>da</strong>s por legisladores supostamente interessados nas evasivas.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 91


IDÉIAS SOBRE SEGURANÇA<br />

Bandido ou Mocinho<br />

Quero comentar meus pontos de vista, a respeito do comportamento e <strong>da</strong>s<br />

atitudes sociais ante o crescimento <strong>da</strong> violência no Brasil, não apenas para<br />

compreendermos alguns fatos geradores, quero também lançar idéias polêmicas,<br />

contribuindo gratuitamente numa discussão que deveria ventilar a legislação e o sistema<br />

penal. Assim sendo, estarei mais norteado pelo ‘bom senso' (espero que seja bom<br />

mesmo) do que pela Constituição.<br />

Considero-me um cumpridor <strong>da</strong>s leis em vigor no País. Apenas abro parênteses<br />

em discussão para observá-las com mais consciência. Continuo jurando respeito e<br />

obediência para com a Constituição Brasileira que esteja em vigor, mas sinto-me no<br />

dever de externar algumas críticas para que o Poder Legislativo, estimulado pela opinião<br />

pública, possa estu<strong>da</strong>r algumas possibili<strong>da</strong>des de inserir reparos.<br />

A violência no Brasil já passou dos limites há muito tempo, notavelmente depois<br />

de 1988, quando foi decidi<strong>da</strong> a proibição de prender quem foge do flagrante, decidido<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 92


que o crime cometido antes do infrator completar dezoito anos não pode ser apenado<br />

após essa i<strong>da</strong>de e a proibição de empregar menores antes de dezesseis anos de i<strong>da</strong>de.<br />

Sabendo-se <strong>da</strong> evasão escolar, que sobra muita gente fora <strong>da</strong> escola depois dos dez anos<br />

de i<strong>da</strong>de, fica fácil perceber que, para uma legião de menores, sobra apenas o caminho<br />

<strong>da</strong> marginali<strong>da</strong>de.<br />

Há alguns anos, era muito comentado o comportamento de batedores de carteira<br />

e de bolsa que disputavam ‘pontos' dentro <strong>da</strong> capital de São Paulo entre outros grandes<br />

centros. O lance incrível era o <strong>da</strong> imprensa que via tudo e a Polícia que parecia não ver<br />

na<strong>da</strong>. Isso gerava medo no ci<strong>da</strong>dão. Se alguém machucasse um punguista, parece que<br />

poderia ser tratado como quem estorva a sobrevivência de ‘pessoas comuns' na sua<br />

labuta diária pelo sustento <strong>da</strong> família. Não era fácil saber de que lado estava o policial.<br />

Faz-se necessário reconhecer que não podendo prender bandido (mesmo que seja<br />

conhecido) sem flagrante ou ordem judicial, não resta muito espaço para a prevenção no<br />

serviço <strong>da</strong> Polícia.<br />

O problema <strong>da</strong> exigência de flagrante se agrava ao ser considera<strong>da</strong> uma falta de<br />

ética, ou de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, ou ain<strong>da</strong> politicamente incorreta a atitude de ‘invadir a<br />

privaci<strong>da</strong>de' de algum bandido enquanto ele sorrateiro vigia a sua próxima presa para<br />

planejar o bote. Como poderia um homem <strong>da</strong> lei vigiar o ‘fora <strong>da</strong> lei' sem cometer a<br />

‘invasão'?<br />

Creio que em Dourados, os arrombamentos de residência e outros delitos<br />

praticados principalmente por jovens, nos tempos em que os pátios de estacionamento<br />

dos supermercados estavam sobrecarregados de ‘guar<strong>da</strong>dores de carro' eram mais<br />

freqüentes do que depois <strong>da</strong> estruturação <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Mirim.<br />

O combate à violência passa pela clareza de propósitos <strong>da</strong> Polícia e pelo<br />

encaminhamento educacional, pela oferta de alternativas de ocupação, inclusive aos<br />

aprendizes de alguma profissão. Mas seguiremos perdendo a batalha se continuarmos só<br />

esperando que o Governo (três poderes) tome to<strong>da</strong>s as providências. Precisamos ser<br />

mais legais, mais legalistas. Temos que parar de torcer pelos bandidos e marginais. Seria<br />

ingenui<strong>da</strong>de acreditar que com o dinheiro do resgate <strong>da</strong> filha do Sílvio Santos, os<br />

bandidos distribuiriam cestas básicas para os pobres, como alegaram na esperança de<br />

serem considerados heróis. Eles contribuiriam para o seu sindicato e para os<br />

achacadores. O roubo só combina com o altruísmo, em estórias <strong>da</strong> Carochinha.<br />

Precisamos considerar-nos como os ci<strong>da</strong>dãos a quem o serviço público deve servir.<br />

Sendo a Segurança Pública um serviço a nosso favor, só lucramos com o seu<br />

aprimoramento.<br />

Quem sabe como bons cristãos estamos consolando e acudindo os ‘coitadinhos'<br />

dos encarcerados e perseguidos, enquanto as pessoas de bem que lutam pelo sustento <strong>da</strong><br />

família estão perdendo o emprego ou arruinando-se por causa de despesas com saúde?<br />

Precisamos parar de ver os assaltantes de caixa forte e os seqüestradores como heróis<br />

guerrilheiros que querem libertar o nosso país <strong>da</strong> Ditadura Militar. Isso foi uma<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 93


desculpa para praticar o banditismo, foi um grande equívoco que no seu tempo sacudiu<br />

as instituições e atualmente não cabe mais, como não cabe o revanchismo.<br />

Convivendo com o Perigo<br />

Quando os ‘sem terra' ou os ‘sem teto' cometem seus atos reprováveis contra os<br />

transportadores de mercadorias, ou contra o patrimônio público e privado, devemos<br />

compreender que já chegamos ao século 21; não é mais 1917 e que aqui não é a Rússia<br />

dos Czares. Antigamente parar alguém exigindo dinheiro era oficio de abjetos<br />

salteadores. Praticar van<strong>da</strong>lismo em patrimônio alheio, invadir e depre<strong>da</strong>r eram<br />

ocupações de hor<strong>da</strong>s selvagens e não manifestação social reivindicatória de<br />

trabalhadores pedindo uma área de terra. Se alguma vez o Governo atrasa a distribuição<br />

de cesta básica, seria o caso de pedirem para o comércio, para as igrejas, para os<br />

fazendeiros ou perceber a inviabili<strong>da</strong>de do acampamento como forma reivindicatória (já<br />

que muitos acampados escondem sua classe média), mas nunca apelar para o saque, e o<br />

terrorismo.<br />

Trabalhador acampado esperando serviço ou terra, a meu ver, seria<br />

comportamento de pessoa humilde, na condição de trabalhador desempregado, e nunca<br />

a de invasor e vân<strong>da</strong>lo.<br />

Você já viu um acampado a espera de terreno defender fazendeiro contra<br />

van<strong>da</strong>lismo? Os acampados serão adversários dos proprietários enquanto não forem<br />

proprietários também.<br />

Quando um governo se julga muito esquerdista não se interessa pelos problemas<br />

dos contribuintes que não exibem erudição marxista, e que por isso são considerados<br />

pequenos burgueses, ignorando que o proletariado defendido por Marx e Engels era<br />

uma grande casta que vivia e trabalhava em regime equivalente ao <strong>da</strong> escravidão e que<br />

os burgueses do século dezenove era uma minoria exploradora que ain<strong>da</strong> confundia<br />

proletariado com mercadoria, faltando com o respeito humano. Atualmente existe a<br />

justiça trabalhista que age quando aciona<strong>da</strong>.<br />

É uma pena que a simpatia e admiração devota<strong>da</strong> aos "trabalhadores sem terra"<br />

não resulte em reforma agrária séria, com distribuição, assistência técnica e condições<br />

auto-sustentáveis adequa<strong>da</strong>s, tanto para os novos proprietários como para os antigos.<br />

No tempo <strong>da</strong> enxa<strong>da</strong>, do jacá e <strong>da</strong> agricultura manual, a população brasileira era<br />

de oitenta por cento na roça e vinte por cento nas ci<strong>da</strong>des. Hoje a tecnologia global<br />

inverteu aquela estatística. Como resultado, a agropecuária à mo<strong>da</strong> antiga ficou inviável<br />

na vi<strong>da</strong> moderna, porque ela não supre uma grande parte <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des humanas,<br />

cujos bens e serviços precisam ser comprados. Sendo a agropecuária atual desenvolvi<strong>da</strong><br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 94


como empresa de alta produtivi<strong>da</strong>de, enfrentando a concorrência dos países ricos com<br />

seus subsídios, trabalhando como empresa, mas sempre correndo riscos de falência, está<br />

claro que o minifúndio dos assentamentos será sempre um peso para governo ao teimar<br />

com a idéia de "Revolução Campesina". O ‘Êxodo Rural' não é mais do que uma<br />

decorrência <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de, que barateou o custo <strong>da</strong> alimentação em face <strong>da</strong><br />

produtivi<strong>da</strong>de de escala alcança<strong>da</strong> nas fazen<strong>da</strong>s empresariais.<br />

O custo social do inchamento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des é um problema do qual os governantes<br />

não podem se esquivar, porque aflige a todos nós. Uma solução seria desenvolver<br />

projetos de produção de mercadorias de alto valor, mas que fossem dependentes de<br />

serviço manual e assistência individual, sem a possibili<strong>da</strong>de de automatização e o<br />

conseqüente aviltamento de preço.<br />

Ao que me consta, na déca<strong>da</strong> de noventa os acampados não queriam aceitar o<br />

ca<strong>da</strong>stramento que seria utilizado para saber quais foram assentados e quem são os que<br />

ain<strong>da</strong> esperam. Medo de quê? De não voltar a ganhar terra outras vezes ou de revelar<br />

que não é pobre e nem trabalhador? Isso leva a crer que o ‘estimulante' para os que<br />

querem terreno é o movimento problemático e não a sua solução. Quando agem assim,<br />

estão saindo fora do objetivo do acampamento.<br />

Desrespeitar ordem judicial ou até organizar milícia para lutar contra os<br />

brasileiros aqui dentro do nosso país devia chamar a atenção <strong>da</strong>s Forças Arma<strong>da</strong>s. Será<br />

que guerra ou guerrilha só será assim considera<strong>da</strong> se vier de fora <strong>da</strong>s fronteiras para<br />

dentro?<br />

Pouco adianta vigiar todo o espaço aéreo <strong>da</strong> fronteira para evitar exércitos<br />

invasores, se eles se formam aqui no interior <strong>da</strong> pátria e atacam os<br />

produtores/contribuintes que trabalham duro pela grandeza <strong>da</strong> nação. Os ver<strong>da</strong>deiros<br />

agricultores, aqueles que os anarquistas consideram inimigos por serem proprietários,<br />

são os brasileiros interessados em conhecer o significado <strong>da</strong>s leis para poder cumpri-las.<br />

Enquanto a Socie<strong>da</strong>de for condescendente com qualquer forma de delito, estará<br />

alimentando a sua autodestruição na mão <strong>da</strong> delinqüência e não há como impedir a<br />

escala<strong>da</strong> do crime. Errar é um problema <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, mas persistir no erro é tolice.<br />

A baderna não é atributo <strong>da</strong> democracia e sim <strong>da</strong> anarquia, do caos e <strong>da</strong> desordem, <strong>da</strong><br />

dissolução <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

A Caça Farta e Fácil<br />

As críticas e propostas aqui coloca<strong>da</strong>s poderiam até parecer atos de rebeldia<br />

contra as instituições, mas não passam de idéias a serem discuti<strong>da</strong>s à luz <strong>da</strong> democracia.<br />

Não para combatê-la, mas para torná-la mais bela. Algumas menções a casos concretos<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 95


devem ser considera<strong>da</strong>s como se fossem de ficção, pois a intenção é a mera ilustração de<br />

um raciocínio.<br />

Muitos bandidos invejosos, inconformados com a prosperi<strong>da</strong>de dos<br />

empreendedores de negócios — que são os industriais, os comerciantes e outros<br />

pagadores de impostos — os invejosos organizaram-se para tirar-lhes a liber<strong>da</strong>de para<br />

depois de muita tortura desnecessária, oferecê-la em troca de grande soma monetária.<br />

Isso é mais sofisticado do que a prática do canibalismo, mas igualmente repugnante.<br />

Para variar, esses pre<strong>da</strong>dores entraram no ‘serviço' em escala varejista e começaram a<br />

‘prender' pessoas comuns do povo e assassinar aqueles que forem ‘julgados' de pouco<br />

valor. Como se o povo (que para alguns bons políticos, é a origem de onde emana o<br />

poder) fosse o campo de caça, onde os ladrões se servem à vontade. O modo de agir do<br />

bandido em seus relacionamentos com as pessoas de bem, geralmente está<br />

absolutamente fora dos padrões humanos, está muito primitivo e animalesco.<br />

Muitos já fizeram movimentos de rebeldia em grandes presídios com incêndios e<br />

assassinatos, para chamar a atenção dos ‘defensores dos direitos humanos' tentando<br />

envolver a mídia em protestos contra a superlotação. Os que queimaram seus próprios<br />

colchões, deviam ganhar então uma esteira à prova de fogo para durar o tempo previsto<br />

para aquele colchão que foi queimado. Se bem que a superlotação não deixa de ser uma<br />

falta de investimento que não se contorna com racionamento. Nos EUA, onde existe<br />

pena de morte, o sistema carcerário comporta 1% <strong>da</strong> população, sem as manhas de 1/3<br />

ou 1/6 <strong>da</strong> pena. Não sei qual é a percentagem de brasileiros ‘amigos do alheio' e inimigos<br />

do ‘próximo', portanto candi<strong>da</strong>tos à prisão, para dimensionar a ampliação do<br />

‘atendimento', mas um por cento <strong>da</strong> população de Dourados, para sustentar alguns<br />

anos, já representa algo em torno de duas mil vagas, sem levar em conta o atendimento<br />

dos municípios vizinhos.<br />

O presídio de Dourados foi projetado para abrigar uma quarta parte <strong>da</strong><br />

necessi<strong>da</strong>de local. Claro que faltam presídios, mas os que cumprem pena deviam saber<br />

que eles é que estão sobrando.<br />

Agora surge o crime organizado, querendo mostrar quem é que man<strong>da</strong>. Como<br />

demonstração de força, matam até os chefes do Poder Executivo. Coman<strong>da</strong>m os de<br />

dentro e os de fora, com telefone celular. Se os parentes e visitantes aproveitam os<br />

encontros para passar-lhes drogas, armas, telefones, etc., por que adoçar suas penas com<br />

as visitas? Direitos iguais para os ci<strong>da</strong>dãos? Precisamos rever quem merece ser<br />

considerado ci<strong>da</strong>dão! Os direitos dos condenados devem passar por uma severa<br />

discussão interna, sem clonar sistemas adotados em países em que o crime está sob<br />

controle.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 96


Os Alienígenas nos Atacam<br />

Ultimamente ficou evidenciado que o tal ‘crime organizado' parece estar ligado a<br />

‘especialistas' estrangeiros, que fizeram curso de guerrilha em algum país onde há escola<br />

de ‘terrorismo latino' e agora, como são condenados e cassados nos países de origem,<br />

querem ser caçadores no Brasil, (próspero ultimamente), enquanto não conseguem<br />

atacar seu ‘grande vilão' EUA, mais próspero, porém mais severo com o banditismo.<br />

Visam o Brasil talvez por inveja, talvez porque aqui esteja mais fácil agir contra a Lei do<br />

que no Chile, na Argentina, no Canadá ou na Itália. Quando são apanhados pela nossa<br />

polícia, logo surge a ‘costa quente' diplomática de lá e diz: man<strong>da</strong> para cá, deporta que<br />

esses bandidos são meus. — Depois de deportados são soltos já que lhes parece<br />

simpático ofender o estrangeiro brasileño. O estrangeiro não é o ‘próximo' como diz no<br />

Man<strong>da</strong>mento. Então pronto? — soltemos os nossos bandidos também para não se<br />

sentirem prejudicados ou inferiorizados perante os colegas estrangeiros heroificados por<br />

hostilizarem a nós os seus estrangeiros?<br />

Entendemos que sempre será mais fácil agir a favor <strong>da</strong> torci<strong>da</strong> do que<br />

tecnicamente. Mas a favor de quem? Qual torci<strong>da</strong>? Quando um juiz argumenta que não<br />

é influenciado pelo ano eleitoral (2002) em suas decisões, querendo com isso insinuar<br />

que é imparcial, podemos supor que a influência esteja surtindo efeito ao reverso, por<br />

aproveitar-se de superiori<strong>da</strong>de hierárquica desautorizando ato jurídico - para beneficiar<br />

salafrários <strong>da</strong> pior estirpe, com pressa surpreendente.<br />

A corrente é tão resistente quanto o mais fraco de seus elos. Não adianta a<br />

Polícia ser eficiente se o Judiciário for o azarão. Se to<strong>da</strong> ação <strong>da</strong> Justiça for legal e puder<br />

se enquadrar na Lei, então o problema é com a legislação. Mas parece que há distúrbio<br />

no consenso do terceiro poder, porque lamentavelmente alguns servidores se<br />

desentendem.<br />

Contra crime organizado, só polícia mais organiza<strong>da</strong> ain<strong>da</strong>. Mas quando a<br />

organização criminosa tem estrangeiros na sua composição, agindo contra nós dentro<br />

do nosso território, esses devem ser tratados como inimigos <strong>da</strong> pátria brasileira, embora<br />

aleguem ideologia política. A punição não deve ser meramente educativa, porquanto a<br />

educação dos alienígenas não é <strong>da</strong> nossa responsabili<strong>da</strong>de e nem devemos escutar os<br />

berros de seus simpatizantes (ou cúmplices). Crimes contra nós, no nosso território,<br />

devem ser processados pelas nossas leis, seja o praticado por nosso irmão ou por nosso<br />

‘hospede'. Extradição só se aplica quando o crime ocorreu lá fora e o Brasil serve apenas<br />

de esconderijo. A meu ver deve-se examinar pedido de extradição para crime praticado<br />

no nosso território se agressor e vítima são estrangeiros, sem prejuízo para brasileiros.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 97


IMPUTABILIDDE GRADUAL<br />

Bandidinho<br />

No terceiro artigo <strong>da</strong>s Disposições Transitórias <strong>da</strong> Constituição Federal de 1988,<br />

consta a previsão para revisão constitucional a ocorrer em 1993, antes <strong>da</strong> primeira posse<br />

do atual (2001) presidente <strong>da</strong> República Federativa (FHC). Depois disso a Constituição<br />

foi emen<strong>da</strong><strong>da</strong> para concor<strong>da</strong>r com algumas reformas, e ain<strong>da</strong> são necessárias outras<br />

mais, como é do conhecimento e expectativa geral. As propostas aqui apresenta<strong>da</strong>s não<br />

servem de diretriz, sugestão ou pretexto para qualquer ação. Servem apenas de subsídio<br />

para debates parlamentares, mas se isso acontecer, poderão mu<strong>da</strong>r o Brasil.<br />

Não cabe a nós humanos o julgamento perfeito nem a escolha <strong>da</strong> pena mais<br />

adequa<strong>da</strong> ao delinqüente, mas alguns parâmetros podem ser definidos, para simplificar<br />

decisões ou sentenças quando os ‘iguais perante a Lei' são realmente desiguais. Não sei<br />

por que um homem de dezoito anos incompletos, alto QI, alta classe social, grande<br />

capaci<strong>da</strong>de de liderança, pode ser menos imputável que outro homem, baixo QI, baixa<br />

classe social, indeciso, mas com os dezoito anos já completos. Acho que sei! É<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 98


obediência à lei! Mas, seria uma lei divina e eterna, sem possibili<strong>da</strong>de de alteração? Não<br />

sei o porquê de um ter 0% de responsabili<strong>da</strong>de enquanto o outro, por ser um mês mais<br />

velho tem 100%; são eles iguais perante a lei? Apenas por alguns dias de diferença de<br />

i<strong>da</strong>de cronológica, sem considerar a i<strong>da</strong>de psicológica? A própria lei poderia ser<br />

incoerente ou contraditória.<br />

A impuni<strong>da</strong>de do menor é uma atitude que, mesmo sendo ‘legal' é estimuladora<br />

de experiências delituosas. <strong>Em</strong> lar de pouco ou nenhum amor, a criança cresce sentindo<br />

complexo de inferiori<strong>da</strong>de e medo, sendo obriga<strong>da</strong> a respeitar os maiores e mais fortes.<br />

Quando descobre que não é bem assim, que a lei é severa só com os adultos,<br />

contemplando os ‘menores' com direitos, sem deveres ou obrigações nem culpa, resolve<br />

ir à revanche, que muitas vezes é estendi<strong>da</strong> a to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong>de, ou simplesmente<br />

desabrocha o egoísmo e aproveita a oportuni<strong>da</strong>de de gozar vantagens enquanto é<br />

tempo. Depois de satisfeito, pode pegar gosto e profissionalizar-se nos delitos que<br />

exacerbam a egolatria, transformando isso em meio de vi<strong>da</strong>. Um elemento assim<br />

contamina um grupo de adolescentes que passam a oferecer provas de coragem para<br />

serem aprovados e aceitos na gangue.<br />

Façam-se leis ou refaçam-se, mas a Socie<strong>da</strong>de, a Cultura e os bons costumes<br />

devem ser o principal objetivo. Devemos ser escravos <strong>da</strong> Lei, mas queremos vê-la<br />

aperfeiçoa<strong>da</strong> a fim de prestar bons serviços no relacionamento e na convivência <strong>da</strong>s<br />

pessoas.<br />

Para que a nossa servidão sob a Lei seja prazerosa, tornam-se necessários<br />

motivos para admirá-la, respeitá-la e sentir orgulho pela sua excelência.<br />

Tudo ou Na<strong>da</strong><br />

Ao perceber a inconveniência e a irracionali<strong>da</strong>de dos dispositivos legais, que<br />

permitem a alguém passar <strong>da</strong> condição de delinqüente inimputável (equivalente a de<br />

inocente), protegido pelo Estatuto do Menor e do Adolescente, para a de hediondo<br />

criminoso pelas mesmas faltas ao passar um dia de aniversário; de outra maneira, se um<br />

homem de dezessete anos comete um crime hediondo e fica visado como perigo em<br />

potencial, vai ficar com a ficha limpa depois do aniversário; cogitamos uma carga de<br />

imputabili<strong>da</strong>de proporcional à responsabili<strong>da</strong>de gra<strong>da</strong>tiva, pois aquele que completou<br />

dezoito anos não é outro senão aquele que tinha dezessete.<br />

Seria oportuno e necessário um estudo para esclarecer quais os motivos e objetos<br />

que compõem uma plena responsabili<strong>da</strong>de, como administrar justiça exigindo ou<br />

outorgando a ca<strong>da</strong> um tudo e só aquilo que seus méritos ou deméritos requerem.<br />

Estabelecidos os parâmetros <strong>da</strong> graduação de responsabili<strong>da</strong>des e imputabili<strong>da</strong>des,<br />

segundo me parece, torna-se evidente que são raras as pessoas cem por cento<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 99


esponsáveis e criminosas, porque alimento a expectativa de que a pessoa de melhor<br />

perfil psíquico, melhor grau de compreensão e responsabili<strong>da</strong>de não se desvia do bom<br />

caminho.<br />

Para chegarmos mais perto de um perfeito julgamento <strong>da</strong>s diferentes pessoas e<br />

seus delitos, são necessários muitos fatores. Podemos citar: i<strong>da</strong>de, escolari<strong>da</strong>de,<br />

sani<strong>da</strong>de, QI, capaci<strong>da</strong>de de liderança, autocontrole, vícios, saúde, cultura, motivos para<br />

sentir-se revoltado ou injustiçado, etc.<br />

Apenas escolhendo e cruzando os dois parâmetros aqui preconizados: i<strong>da</strong>de e<br />

escolari<strong>da</strong>de, já a Justiça <strong>da</strong>ria um grande passo para emergir de um paradoxo<br />

desarrazoado para a racionali<strong>da</strong>de. Que me perdoem os signatários <strong>da</strong> ‘lei tudo ou na<strong>da</strong>',<br />

mas parece que o bom-senso teve um longo cochilo ao deixar passar um sistema<br />

simplório como diretriz <strong>da</strong> Justiça.<br />

O Cálculo <strong>da</strong> Responsabili<strong>da</strong>de<br />

Naturalmente na família ideal os pais são os responsáveis pela educação dos<br />

filhos e respondem soli<strong>da</strong>riamente pelos seus atos. O que ocorre é que nem sempre isso<br />

funciona na prática, até porque alguns filhinhos se libertaram do domínio e <strong>da</strong><br />

influência paterna e materna. Alem disso os pais são aconselhados a obedecer a<br />

restrições legais no disciplinamento.<br />

A proposta Lei de Responsabili<strong>da</strong>de Proporcional deve ressalvar casos em que a<br />

punição do pai ou <strong>da</strong> mãe seria eficaz na educação dos filhos menores. O que fica claro é<br />

que estando limita<strong>da</strong> a ação educativa dos pais e sendo eles os punidos pelos delitos dos<br />

filhos, não se pode pensar em melhores dias para a Socie<strong>da</strong>de que agora se esboça.<br />

‘Maior eficácia' teria o delito inverso, seqüestrar e torturar as crianças para obrigar os<br />

pais a fazer o que não querem. Geralmente os filhos não se compadecem tanto pelos pais<br />

como os pais pelos filhos, mas castigar alguém para obrigar outro, não me parece<br />

diferente do crime de constrangimento, chantagem ou extorsão.<br />

Para tabular a imputação por meio de coordena<strong>da</strong>s cartesianas. O fator i<strong>da</strong>de é<br />

estabelecido como curva sobre uma linha horizontal que marca a i<strong>da</strong>de e uma linha<br />

vertical representando a percentagem de responsabili<strong>da</strong>de ou imputabili<strong>da</strong>de, chegando<br />

até a altura de 50% aos 40, 45 anos e <strong>da</strong>í a curva vai descendo até encontrar novamente o<br />

nível próximo de zero aos 100 anos. São necessários pesquisas e estudos estatísticos para<br />

aperfeiçoar esta curva.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 100


% DE RESPONSABILIDADE - ZERO A CINQÜENTA<br />

IDADE<br />

Quem é muito jovem está aprendendo e quem é muito velho já desaprendeu ou<br />

está menos capaz, por força <strong>da</strong>s seqüelas adquiri<strong>da</strong>s ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

O fator multiplicador de escolari<strong>da</strong>de, também é determinado por uma curva<br />

sobre uma linha horizontal, de zero a 20 anos (de escolari<strong>da</strong>de), subindo a partir do<br />

ponto zero <strong>da</strong> horizontal, uma linha vertical representando o índice multiplicador de<br />

responsabili<strong>da</strong>de com valores gra<strong>da</strong>tivos compreendidos no intervalo de 1 a 2. A curva<br />

<strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de sobe em aclive suave até 9 anos; em rampa mais íngreme até 15 anos e<br />

novamente suave até 20 anos, permanecendo índice 2 <strong>da</strong>í em diante, o que multiplicado<br />

por 50% dá 100% de responsabili<strong>da</strong>de.<br />

ÍNDICE MULTIPLICADOR - UM A DOIS<br />

ANOS DE ESCOLARIDADE<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 101


Só i<strong>da</strong>de/escolari<strong>da</strong>de não resolve outros problemas, como o do esquizofrênico e<br />

do retar<strong>da</strong>do, sendo então necessário outro índice multiplicador, também de 1 a 2 a ser<br />

aplicado sobre o resultado acima, com variação gradual, <strong>da</strong> isenção à máxima culpa.<br />

Entretanto, dependendo do tipo de deficiência, as pessoas que carregam grandes<br />

limitações não alcançam alta escolari<strong>da</strong>de.<br />

A Psicologia poderia criar um método para definir o fator autodomínio, mas<br />

então seria necessário confrontá-lo com o fator periculosi<strong>da</strong>de também, visto que é mais<br />

imputável o delinqüente com autodomínio e menos responsável quem é mais impulsivo<br />

ou escravo de certas manias, entretanto quem não se controla pode ser mais perigoso<br />

(candi<strong>da</strong>to a reclusão). Outro parâmetro poderia ser o QI, sendo imprescindível corrigir<br />

os métodos de avaliação, com ênfase para o grau de conscientização do avaliado para<br />

determinar sua responsabili<strong>da</strong>de.<br />

Até a situação financeira pode oferecer subsídio sobre o grau de imputabili<strong>da</strong>de,<br />

visto que (presumivelmente) o rico tem mais poder de fogo e menos motivo ou<br />

justificativa de revolta e vingança do que o pobre. Oferece maior perigo direto a quem<br />

ofende e indireto a quem induz, quem procura ser maligno por divertimento. A sua<br />

mal<strong>da</strong>de é mais perversa.<br />

É quase certo que a ciência Psicologia dispõe de ferramentas mais eficazes que<br />

não me acodem, o que mais me autoriza a prever a viabili<strong>da</strong>de e eficácia deste<br />

planejamento (se estas idéias forem encampa<strong>da</strong>s e aditiva<strong>da</strong>s pelas autori<strong>da</strong>des).<br />

O resultado do cálculo do índice de responsabili<strong>da</strong>de penal aju<strong>da</strong>ria a determinar<br />

o rigor e extensão <strong>da</strong> pena e/ou o tipo de estabelecimento de correção. Poderia ain<strong>da</strong><br />

subsidiar os esforços de recuperação dos depravados, bem como <strong>da</strong> ciência<br />

comportamental que definiria melhor os tipos recuperáveis, para separá-los dos mais<br />

pervertidos.<br />

Penali<strong>da</strong>des<br />

Os pais de pequenos delinqüentes poderiam sofrer pequenos castigos<br />

reparatórios além <strong>da</strong> privação temporária do domínio pátrio, para que os ‘anjinhos'<br />

sofressem a mereci<strong>da</strong> punição, dissuasão <strong>da</strong> delinqüência e persuasão do<br />

aprimoramento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e <strong>da</strong> urbani<strong>da</strong>de. Quando os pais não sabem ou não<br />

podem preparar os filhos para o convívio social, é dever do Estado socorrê-los nesse<br />

mister, antes que seja muito mais dispendioso.<br />

A ênfase e principal finali<strong>da</strong>de de qualquer punição, dos pequenos delitos aos<br />

crimes hediondos, seria a adequação <strong>da</strong> pessoa como ci<strong>da</strong>dão para a boa convivência<br />

social. Quem discor<strong>da</strong> <strong>da</strong> obrigato-rie<strong>da</strong>de do indivíduo harmonizar-se com a<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 102


socie<strong>da</strong>de, tem o direito e o dever de mu<strong>da</strong>r-se para o deserto. As pessoas fora de<br />

padrão, com desvios de comportamento e inadequa<strong>da</strong>s para o convívio existem e<br />

requerem cui<strong>da</strong>dos especiais, mas o ci<strong>da</strong>dão comum é o principal merecedor <strong>da</strong><br />

proteção do Poder Público. O convívio dos depravados com os ci<strong>da</strong>dãos e as ci<strong>da</strong>dãs<br />

não aju<strong>da</strong> os maus (depravados), apenas prejudica os bons fisicamente e com maus<br />

exemplos. Infelizmente é necessário dizer essa obvie<strong>da</strong>de.<br />

A vingança não acalma a violência, mas tudo que estiver errado requer correção.<br />

Punição de modo geral devia ter o caráter educativo. O castigo vingativo para<br />

‘lavar a honra', só se justifica quando se torna imprescindível o exemplo, mas então só a<br />

antipatia indicará os devedores dos maiores castigos e isso seria injustiça.<br />

<strong>Em</strong> princípio a penali<strong>da</strong>de máxima seria de dez anos de reclusão em de trabalho<br />

voluntário. Os dias inativos não justificados não seriam abatidos <strong>da</strong> pena. Ao refazer a<br />

tabela <strong>da</strong>s penas segundo os crimes, a penali<strong>da</strong>de máxima seria raríssima, entretanto,<br />

sem trabalho, a pena continuaria por tempo indeterminado. Um relativo conforto seria<br />

prerrogativa dos trabalhadores.<br />

Ao final do cumprimento <strong>da</strong> pena original, o detento passaria por um<br />

julgamento como de tribunal, formado por cinco conselheiros na presença dos<br />

funcionários disponíveis do presídio, referente á recuperação, baseado em relatório de<br />

comportamento que resultaria na liber<strong>da</strong>de ou em reforma <strong>da</strong> sentença, variável de um<br />

a nove décimos do total <strong>da</strong> sentença original, conforme o grau de recuperação, pela<br />

comparação <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de atual com a de quando entrou para cumprir pena. Parte<br />

<strong>da</strong> avaliação também poderia consistir de prova escrita e oral, sobre conhecimentos de<br />

ética referente ao delito motivo <strong>da</strong> condenação.<br />

Termina<strong>da</strong> a segun<strong>da</strong> pena, o procedimento seria o mesmo do final <strong>da</strong> primeira,<br />

até o encarcerado estar reabilitado. Os mais obtusos podem demorar mais a<br />

compreender o seu lugar como pessoas, mas acabam encontrando o caminho e a saí<strong>da</strong><br />

quando existem. O que importa é a sinceri<strong>da</strong>de do arrependimento.<br />

Trabalho Gratuito<br />

O importante não é estipular uma pena como indenização ou vingança, o que<br />

importa é compensar o estrago em conseqüência do delito, contanto que possível, mas<br />

principalmente reabilitar quem poderia ser um ci<strong>da</strong>dão.<br />

Multa ou fiança seriam aplicáveis nos casos de delitos leves ou crimes sem dolo.<br />

Não é recomendável que o Erário seja beneficiário do crime. Entretanto, os ladrões do<br />

Tesouro devem ser desapropriados até a satisfação do débito fraudulento. Quanto aos<br />

prejuízos sem dolo a terceiros, naturalmente a indenização deve ser suficiente e não<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 103


mais. Existe a conveniência de estipular punição no caso de arranjo entre advogado e<br />

cliente para lesar ‘terceiros' ou o Estado com indenizações exagera<strong>da</strong>s (para ‘salvar' uma<br />

gor<strong>da</strong> soma para o ‘causídico', quando o bom senso indica que o merecimento não<br />

chega a tanto). Não é correto cometer crime na exigência do pagamento pela prática de<br />

delito. Isso parece extorsão.<br />

Os criminosos apenados com o cárcere deveriam cumprir pena com dias de<br />

trabalho honesto na penitenciária, de acordo com suas aptidões e com as possibili<strong>da</strong>des<br />

do estabelecimento, sem direito a remuneração imediata. <strong>Em</strong> compensação teriam<br />

alimentação, ‘pensão', escola e saúde gratuitamente, em período quase integral, para<br />

evitar os seus planejamentos e as suas comunicações perniciosas. A aplicação <strong>da</strong> CLT na<br />

penitenciária seria ridícula porque os detentos não têm obrigações familiares a cumprir<br />

e nem moram longe do serviço. Além disso, quanto menos tempo lhes sobrar para<br />

planejamento, maior a chance de retornarem para o bom caminho.<br />

A remissão <strong>da</strong> pena seria conta<strong>da</strong> diariamente, mas apenas com referência aos<br />

dias em que a produtivi<strong>da</strong>de fosse considera<strong>da</strong> normal ou maior. O tempo de<br />

cumprimento <strong>da</strong> pena contaria mais em função do trabalho do que <strong>da</strong> permanência. A<br />

produção em dobro <strong>da</strong> espera<strong>da</strong> não contaria mais do que o tempo efetivamente<br />

transcorrido. A produção boa que ultrapassasse a meta (média diária) de ca<strong>da</strong> detento<br />

seria a ele credita<strong>da</strong> como poupança a ser libera<strong>da</strong> junto com a soltura. A produção<br />

pessoal de ca<strong>da</strong> detento seria intransferível para qualquer fim, cuja transgressão<br />

(transferência ou substituição) <strong>da</strong>ria punição para o ‘generoso' como para o ‘favorecido'.<br />

Isso entra nas normas para dificultar os pagamentos de jogatina e as escravizações.<br />

Ca<strong>da</strong> presídio seria um departamento com gerente formado em Administração,<br />

assim como funcionários especializados para as diversas funções como saúde, segurança<br />

e polícia, educação.<br />

O lucro obtido pelo produto dos trabalhos seria depositado e contabilizado em<br />

favor do Departamento (se não restasse dívi<strong>da</strong> com a vítima). O Departamento<br />

repassaria as sobras ou requereria aportes financeiros mensalmente ao Executivo,<br />

conforme os resultados <strong>da</strong>s despesas de instalações e estadia prisional, e <strong>da</strong>s receitas com<br />

ven<strong>da</strong>s <strong>da</strong> produção.<br />

As depre<strong>da</strong>ções, incêndios, mutilações de funcionários ou de detentos seriam<br />

debitados na conta poupança dos causadores. Quando fosse impossível apurar as<br />

responsabili<strong>da</strong>des, a conta seria cotiza<strong>da</strong> por todos.<br />

O prisioneiro deve ser privado de dinheiro, para não ter o que investir em<br />

drogas, em armas, em jogos e no ‘crime organizado'. O preso deve ser considerado<br />

incapaz para todos os efeitos, inclusive de gerir os seus negócios. Sendo empresário,<br />

deve ser interditado e os bens recebem um tutor fiel depositário. O criminoso<br />

condenado não é um ci<strong>da</strong>dão apto porque a Socie<strong>da</strong>de não deve confiar em sua<br />

convivência enquanto ele não receber o Alvará de Soltura.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 104


Quem passasse telefone para um detento, deveria ser preso por cumplici<strong>da</strong>de,<br />

mesmo que fosse o seu advogado. Caso fosse concedido direito de se comunicar, o<br />

apenado deveria falar de telefone grampeado com gravação, mesmo que alegasse<br />

conversar com a consorte. O direito à privaci<strong>da</strong>de do detento é inferior ao <strong>da</strong> polícia de<br />

controlar os seus movimentos para evitar fraudes.<br />

A expedição de alvará de soltura ou o retorno ao ponto inicial de uma sentença<br />

seguinte, dependeria sempre de uma justa avaliação no final de cumprimento de uma<br />

pena.<br />

A identi<strong>da</strong>de dos avaliadores seria secreta, para dificultar a corrupção.<br />

Haveria penas mais bran<strong>da</strong>s, para pequenos crimes, para pessoas<br />

comprova<strong>da</strong>mente de boa índole e não enganadoras (como enganadores são os<br />

vigaristas, estelionatários, e outros especializados na mentira para vitimar quem tem boa<br />

fé).<br />

Os Imprestáveis<br />

Aos delinqüentes sem preparo para o trabalho honesto, seria ofertado período de<br />

aprendizado de algum ofício (ressalvando a necessi<strong>da</strong>de de segurança dos instrutores),<br />

desde que preferissem o aprimoramento profissional à prisão por tempo indefinido e<br />

sem regalias. Entretanto, ca<strong>da</strong> três dias gastos em aprendizagem contariam como um de<br />

remissão <strong>da</strong> pena. Essa seria uma prerrogativa do vagabundo imprestável. Apenas os<br />

aptos ganhariam o direito de produzir e com isso pagar integralmente a pena (dia por<br />

dia). Os cursos seriam sempre escolhidos com cui<strong>da</strong>do para não facilitar a vi<strong>da</strong><br />

criminosa, mas de fácil assimilação para quem desejasse um ofício honesto.<br />

Aqueles que fossem julgados inaptos para trabalhar, devido à periculosi<strong>da</strong>de,<br />

cumpririam pena em recinto separado e por tempo incontável enquanto durasse a<br />

condição de perigosos (livrai-nos do mal). Qualquer preso separado, por periculosi<strong>da</strong>de,<br />

passaria por uma inspeção pericial de três em três meses para avaliação <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de<br />

de trabalhar com os demais. Ao atingir doze meses de reclusão separa<strong>da</strong>, o ‘indomável'<br />

seria transferido para um ‘asilo-manicômio' e tratado como caso perdido, condição a ser<br />

confirma<strong>da</strong> de cinco em cinco anos. Essa norma seria comunica<strong>da</strong> aos recalcitrantes,<br />

para saberem <strong>da</strong> inconveniência de parecerem loucos.<br />

Os condenados que ficassem incapacitados por acidente ou doença teriam<br />

tratamento especial, com intuito de capacitá-los ao trabalho. Constata<strong>da</strong> a<br />

‘irrecuperabili<strong>da</strong>de' física, cumpririam o tempo <strong>da</strong> sentença original em dobro em<br />

estabelecimento apropriado, mas recupera<strong>da</strong> a capaci<strong>da</strong>de de trabalhar, teriam o<br />

período inativo <strong>da</strong> pena, valendo apenas metade, ou seja, uma pena normal hipotética<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 105


de um ano de trabalho, a cumprir na invalidez, seria de dois e a estadia inativa em casa<br />

de saúde de alguém que voltasse a cumprir no trabalho, descontaria apenas a metade do<br />

tempo inativo visto que somente mediante o trabalho é que as penas podem apresentar<br />

curta duração. Se a invalidez servisse como vantagem, muitos iriam preferi-la ou simulála.<br />

Faz-se necessário todo esse procedimento para evitar o incentivo ao embuste, já<br />

que a pena é diminuta em vista do pagamento em serviços, como também pela<br />

oportuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> demonstração de bom comportamento e recuperação comprova<strong>da</strong> em<br />

regime de convívio e relacionamento social com os demais encarcerados.<br />

Sugestões<br />

O grande benefício <strong>da</strong> punição de curta duração seria o alívio <strong>da</strong> carga dos<br />

presídios e dos seus dispêndios, bem como o fomento à ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

Não há óbice ao estudo de privatização dos presídios se forem auto-suficientes,<br />

mas entendemos ser a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e a recuperação do ci<strong>da</strong>dão, uma preocupação legítima<br />

do Estado.<br />

Acredito que com este simplório sistema os bandidos e outros criminosos seriam<br />

induzidos a corrigir suas expectativas e suas relações com a Socie<strong>da</strong>de.<br />

Possivelmente existe muita inconstitucionali<strong>da</strong>de nesta proposta. Ocorre que se<br />

não houver alguma alteração na Carta Magna, e nos procedimentos adequados <strong>da</strong><br />

Segurança Pública, a crise aumentará. Aumentar as penas para esperar que com a<br />

severi<strong>da</strong>de o crime fica mais inibido, só resulta em maior custo para a reabilitação. A<br />

regeneração não depende de tempo, mas de estímulo.<br />

Eu não pretendo escrever outra constituição, mesmo porque não me considero<br />

especializado. Não faço concorrência paralela, mas busco <strong>da</strong>r contribuição espontânea e<br />

gratuita, com o escopo de melhor apreciá-la, pois algo deve ser revisto se a vontade for a<br />

de melhorar a segurança pública. Quem pode decidir pelo aproveitamento destas idéias<br />

é a Democracia. Se isto não interessar ao brasileiro, sabe lá o argentino, o inglês, o<br />

timorense. Qualquer desses, me deixaria feliz. No "salve-se quem puder" do nosso<br />

convívio social, estas opiniões não visam o auto-engrandecimento, mas sim a<br />

autodefesa.<br />

Gostaria de aumentar meus motivos de orgulho por ser brasileiro. Elaborei uma<br />

semente. Às vezes uma semente precisa an<strong>da</strong>r muito para encontrar terreno fértil,<br />

frutificar e reingressar como fruto pronto para o consumo.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 106


<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 107


Feliz é o país em que ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dão pretende participar na<br />

construção, na produção, no consumo, no desfrute, e nas<br />

vantagens conquista<strong>da</strong>s pela Ciência. O ci<strong>da</strong>dão é patriota,<br />

produtivo e contribuinte do erário. Por isso tem o direito de ser<br />

atendido com saúde, educação, consumo, conforto, lazer,<br />

comunicação, esporte, cultura, organização e segurança. Esses<br />

benefícios são a contraparti<strong>da</strong> pela sua participação e<br />

contribuição. Tanto os produtores de mercadorias como os<br />

operários, os funionários, consultores, os clientes, etc.. são todos<br />

contribuintes de diversos impostos e taxas. A soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de de<br />

quem pode contribuir leva-o a concor<strong>da</strong>r com a extensão dos<br />

seus direitos aos que não têm capaci<strong>da</strong>de contributiva, a menos<br />

que estejam empregando suas habili<strong>da</strong>des em prejuízo <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de.<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 108


Versão do Livro<br />

“<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia” digitaliza<strong>da</strong> por:<br />

<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 2

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