Em Busca da Cidadania - 1 - Merlinton Braff
Em Busca da Cidadania - 1 - Merlinton Braff
Em Busca da Cidadania - 1 - Merlinton Braff
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O Bolo Brasileiro<br />
Os brasileiros nascidos antes <strong>da</strong> morte de Vargas (24/08/1954), devem lembrarse<br />
do mote de 1964, de que não seriam atenua<strong>da</strong>s as desigual<strong>da</strong>des econômicas e nem<br />
realizados os necessários investimentos sociais, porque a priori<strong>da</strong>de era deixar bolo<br />
crescer para depois repartir.<br />
Até 1964 o partido político mais sensível ao "lobby" dos patrões e dos banqueiros<br />
(Classe Dominante segundo a ideologia marxista), era a UDN que passou a ser uma<br />
classe adversária <strong>da</strong> outra que era o PTB, um partido mais popular. Aí está a luta de<br />
classes de que resulta uma dominante, intitula<strong>da</strong> de ‘Partido Situacionista' e as classes<br />
‘domina<strong>da</strong>s' ou intitula<strong>da</strong>s de partidos <strong>da</strong> oposição.<br />
Getúlio Vargas conseguiu equilibrar os poderes <strong>da</strong>s classes dominantes e<br />
domina<strong>da</strong>s nas relações trabalhistas do Brasil, mas os banqueiros e os patrões brasileiros<br />
tiveram na Revolução de 31 de março de 1964 (Revolução Primeiro de Abril) a revanche<br />
<strong>da</strong> ‘Classe Dominante'. Se a ‘Revolução' não serviu para derrubar a CLT, pode ter<br />
servido pelo menos para reduzir o rendimento salarial, atendendo e adotando aquela<br />
advertência ministerial que afirmava ser necessário adiar a divisão do ‘bolo'. Acontece<br />
que o bolo fermentou e o Governo aumentou a sua arreca<strong>da</strong>ção. Quanto à distribuição<br />
do PIB só aumentaram as desigual<strong>da</strong>des. Hoje (2004) a média salarial dos brasileiros<br />
não viabiliza um consumo decente.<br />
Caricaturando a administração, diríamos que os municípios e os estados só<br />
queriam esbanjar e gastar para o engrandecimento dos ‘poderosos chefões' eleitos,<br />
deixando a ingovernabili<strong>da</strong>de para o sucessor, que se valia do paternalismo federal. O<br />
resultado foi uma ‘gastança destrambelha<strong>da</strong>' que era manti<strong>da</strong> despudora<strong>da</strong>mente pela<br />
inflação (enquanto o dinheiro desvalorizava na mão do brasileiro comum, a diferença<br />
era reposta por emissão do Banco Central para o Tesouro, como uma legitimação de<br />
arreca<strong>da</strong>ção virtual). Como a emissão de dinheiro desencadeava uma inflação galopante,<br />
‘foi necessário' instituir a ven<strong>da</strong> e recompra de ORTN (obrigações reajustáveis do<br />
tesouro nacional), vendi<strong>da</strong> pelo Governo a um preço e depois compra<strong>da</strong> por outro<br />
acrescido de juros e correção monetária. Parece que não houve preocupação com<br />
limites, preferindo-se supor que fosse o ‘milagre <strong>da</strong> multiplicação'. Parecia que ninguém<br />
levantava a vista para ver a avalanche do endivi<strong>da</strong>mento que se avultava.<br />
A irresponsabili<strong>da</strong>de gerencial nas finanças brasileiras sofreu forte incremento a<br />
partir do governo ‘revolucionário', por ocasião do retorno <strong>da</strong> inflação, quando um<br />
ministro <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> insinuou que administrar a dívi<strong>da</strong> estatal é empurrar para o<br />
sucessor, o que significa conseguir sempre um empréstimo externo do tamanho <strong>da</strong><br />
parcela venci<strong>da</strong>, soma<strong>da</strong> ao valor dos juros. Esse objetivo trouxe uma aparente<br />
prosperi<strong>da</strong>de momentânea, mas esqueceram-se de puxar o freio em tempo. Chegamos a<br />
uma situação em que os financiadores e investidores externos viram a bola de neve se<br />
<strong>Em</strong> <strong>Busca</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia - 42