Em Busca da Cidadania - 1 - Merlinton Braff
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Traidores não merecem procuração e nem confiança. Quando alguém é eleito<br />
por simular bom comportamento para depois ser flagrado em contradição, merece<br />
perder a procuração e o man<strong>da</strong>to. É como vender um automóvel novo e entregar um<br />
ferro velho; como vender uma carga de soja pura e entregar uma carga com metade soja<br />
e metade areia; comprometer Raquel e entregar Lia.<br />
Muito já se falou de auditoria externa para o Judiciário. A mim parece que está<br />
passando <strong>da</strong> hora de falar também no controle externo do Legislativo. Seria um órgão<br />
composto de comissão mista que na competência <strong>da</strong> sua função de apurar fatos teria<br />
poder superior ao do Supremo (na<strong>da</strong> de liminares, habeas-corpus ou alvará do<br />
mentiroso). Muitos parlamentares não estão se comportando como representantes<br />
comunitários, chegam a alegar em seu favor o Regimento Interno, que eles mesmos<br />
instituíram apropriado para cobri-los de generosi<strong>da</strong>des.<br />
O Poder Executivo ‘não precisa ser' auditorado a não ser pelo Tribunal de<br />
Contas, mas como auditorar o seu patrão? O Judiciário é freguês do Executivo enquanto<br />
subalterno de ministério nomeado pelo Presidente <strong>da</strong> República e o Legislativo seu<br />
sócio, desde que muitos membros se deixam comprar, a ponto de neutralizar a oposição.<br />
Não sei se isso sempre acontece, só sei que acontece. Se o Governo deve ser<br />
democrático, se devem existir os três poderes, os parlamentares como defensores dos<br />
interesses coletivos, não devem ser perturbados pelo Poder Executivo a fim de traírem<br />
os seus legítimos desígnios, nem com o tesouro do erário, nem com chantagem, nem<br />
com promessa de atendimento preferencial. O Poder Executivo não é Todo-Poderoso e<br />
nem dono <strong>da</strong> Nação, é encabeçado por um administrador temporário que durante a<br />
campanha eleitoral prometia ser o melhor. Agora no poder, deve administrar<br />
respeitando as leis e a probi<strong>da</strong>de no trato com os valores comunitários.<br />
Não me agra<strong>da</strong> a ‘esperteza' consenti<strong>da</strong> dos marajás — <strong>da</strong>queles que<br />
inexplicavelmente recebem vencimentos com adicionais fantásticos (os Tribunais de<br />
Contas deviam corrigir se não fossem participantes. Se a falha é <strong>da</strong> lei, cabe proposta ou<br />
projeto de alteração). Mas não podemos generalizar a partir <strong>da</strong>í, jogando a pecha<br />
indiscrimina<strong>da</strong>men-te no funcionalismo.<br />
Ao longo <strong>da</strong> ‘irresponsabili<strong>da</strong>de fiscal' posterior ao deslumbramento chamado<br />
"Milagre Econômico", as ‘raposas políticas' expandiam ao máximo o endivi<strong>da</strong>mento do<br />
Estado em fim de man<strong>da</strong>to, para que o sucessor encontrasse um Estado ingovernável,<br />
preparando assim o eleitorado para o retorno <strong>da</strong> ‘raposa'. Uma esperteza de político, um<br />
desastre econômico para a Pátria. Um ministro chegou a declarar que "dívi<strong>da</strong> não se<br />
paga, empurra-se com a barriga". Depois veio o desastre <strong>da</strong> Moratória que mexeu<br />
drasticamente no "Risco Brasil", empurrando os juros <strong>da</strong> nossa dívi<strong>da</strong> para as nuvens.<br />
A meu ver a Lei de Responsabili<strong>da</strong>de Fiscal, foi o melhor acontecimento dos dois<br />
man<strong>da</strong>tos de FHC, depois do controle <strong>da</strong> inflação.<br />
A estabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> nossa moe<strong>da</strong> poderia ser mais meritória se de começo<br />
corrigisse os juros escorchantes que vieram <strong>da</strong> inflação galopante e adentraram sem<br />
retoque na vigência <strong>da</strong> deflação, além <strong>da</strong>s multas escan<strong>da</strong>losas, que coexistiram muito<br />
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