Em Busca da Cidadania - 1 - Merlinton Braff

que o crime cometido antes do infrator completar dezoito anos não pode ser apenado
após essa idade e a proibição de empregar menores antes de dezesseis anos de idade.
Sabendo-se da evasão escolar, que sobra muita gente fora da escola depois dos dez anos
de idade, fica fácil perceber que, para uma legião de menores, sobra apenas o caminho
da marginalidade.
Há alguns anos, era muito comentado o comportamento de batedores de carteira
e de bolsa que disputavam ‘pontos' dentro da capital de São Paulo entre outros grandes
centros. O lance incrível era o da imprensa que via tudo e a Polícia que parecia não ver
nada. Isso gerava medo no cidadão. Se alguém machucasse um punguista, parece que
poderia ser tratado como quem estorva a sobrevivência de ‘pessoas comuns' na sua
labuta diária pelo sustento da família. Não era fácil saber de que lado estava o policial.
Faz-se necessário reconhecer que não podendo prender bandido (mesmo que seja
conhecido) sem flagrante ou ordem judicial, não resta muito espaço para a prevenção no
serviço da Polícia.
O problema da exigência de flagrante se agrava ao ser considerada uma falta de
ética, ou de cidadania, ou ainda politicamente incorreta a atitude de ‘invadir a
privacidade' de algum bandido enquanto ele sorrateiro vigia a sua próxima presa para
planejar o bote. Como poderia um homem da lei vigiar o ‘fora da lei' sem cometer a
‘invasão'?
Creio que em Dourados, os arrombamentos de residência e outros delitos
praticados principalmente por jovens, nos tempos em que os pátios de estacionamento
dos supermercados estavam sobrecarregados de ‘guardadores de carro' eram mais
freqüentes do que depois da estruturação da Guarda Mirim.
O combate à violência passa pela clareza de propósitos da Polícia e pelo
encaminhamento educacional, pela oferta de alternativas de ocupação, inclusive aos
aprendizes de alguma profissão. Mas seguiremos perdendo a batalha se continuarmos só
esperando que o Governo (três poderes) tome todas as providências. Precisamos ser
mais legais, mais legalistas. Temos que parar de torcer pelos bandidos e marginais. Seria
ingenuidade acreditar que com o dinheiro do resgate da filha do Sílvio Santos, os
bandidos distribuiriam cestas básicas para os pobres, como alegaram na esperança de
serem considerados heróis. Eles contribuiriam para o seu sindicato e para os
achacadores. O roubo só combina com o altruísmo, em estórias da Carochinha.
Precisamos considerar-nos como os cidadãos a quem o serviço público deve servir.
Sendo a Segurança Pública um serviço a nosso favor, só lucramos com o seu
aprimoramento.
Quem sabe como bons cristãos estamos consolando e acudindo os ‘coitadinhos'
dos encarcerados e perseguidos, enquanto as pessoas de bem que lutam pelo sustento da
família estão perdendo o emprego ou arruinando-se por causa de despesas com saúde?
Precisamos parar de ver os assaltantes de caixa forte e os seqüestradores como heróis
guerrilheiros que querem libertar o nosso país da Ditadura Militar. Isso foi uma
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