Em Busca da Cidadania - 1 - Merlinton Braff

exigir os direitos próprios ou alheios. Reclamar a quem? Se for atendido, entra numa fila
interminável para depois saber que entrou na fila errada.
Enquanto a metade dos parcos recursos reservados para atender a conservação
das estradas e pontes estiver caindo nos bolsos degenerados (como se vê na primeira
capa do jornal "O Progresso" de 4 e 5 de março de 2006); enquanto o imposto pró-saúde
(CPMF) não estiver todo canalizado para a sua finalidade, para complementar o que já
era devido; enquanto o jogo for proibido ao cidadão, porém estimulado como prática
governamental para angariar ‘recurso oficializado'; enquanto a destruição das florestas
nativas for proibida para a iniciativa privada, mas liberada para alguns setores
situacionistas; enquanto o programa Fome Zero servir apenas de pretexto para
transformar os ‘pobres companheiros', de trabalhadores em dependentes do erário e
‘eleitores conscientes'; enquanto os lucros dos banqueiros e da Petrobrás continuam em
curva ascendente em contraste com a exigüidade do PIB; enquanto o Banco Central
finge que deseja manter a inflação sob controle, mas as tarifas voam alto, puxando o
resto. Enquanto permanece esse estado de coisas, a sociedade vai afundando na areia
movediça da confusão e da deterioração. Por que motivo um litro de gasolina brasileira
está valendo mais de nove litros de gasolina venezuelana? Por que a lei abole os
obstáculos quebradores de automóveis e as prefeituras municipais seguem mantendo os
obstáculos e a transgressão, como se a lei federal mandasse apenas fora dos limites
municipais? Onde vigoraria essa lei federal?
Até parece governo suicida, que preferisse o ‘quanto pior melhor', porque assim
acabaria logo a democracia para dar lugar à anarquia.
A maior prova de que as ‘lombadas eletrônicas' foram uma invenção de
assaltantes eletrônicos para apropriação indébita dos recursos particulares, quando
deveriam ser instrumentos de educação do trânsito, é que quando deixaram de dar
‘lucro' foram desativados. Nem todos os locais onde as tais lombadas ‘obrigavam' os
motoristas a passar a menos de 30 Km/h, tinham necessidade de tanta reverência,
porque agora são passados a 60 Km/h sem problemas. Agora parece que a gula dos
donos dos ‘obstáculos eletrônicos' não permite o uso racional e não restará aos alcaides
outra alternativa senão a de construir as proscritas lombadas de concreto.
O Brasil é um país que pelo tipo das estradas e ruas é de terceiro mundo, mas se
arroga o esnobismo de exibir os automóveis de primeiro. Em Dourados, como em
muitos outros municípios existem as lombadas de concreto sulcadas de tanto bater
barriga de carro, porque as vias são dimensionadas para picapes rurais ou tratores. Não
adianta passar quase parando, porque pode encalhar. O meu assombro e o meu encanto
é a placidez da nossa querida comunidade que consegue conviver com tanto descaso,
com tanto cinismo, com tanto descalabro sem entrar em pânico.
Em Busca da Cidadania - 78