Em Busca da Cidadania - 1 - Merlinton Braff

matéria. Elaborou então juntamente com o amigo e colaborador Friedrich Engels o seu
sistema, a que denominou de Socialismo Científico, não mais com propósito de sonho
utópico, mas planejado com estratégias de viabilidade, procurando juntar e observar os
fatos e definir as conseqüências, e então preparar o caminho para a realização. Sendo a
dialética de Hegel um tanto idealista e espiritualista, produziria uma História um pouco
indeterminável, mas a dialética materialista aplicada ao estudo e à dinâmica da história
‘poderia produzir' fatos e eventos previsíveis.
Como preparação ao ‘Socialismo Científico' seria abolido o direito de
propriedade tanto rural como urbana. Como os bens móveis, imóveis e semoventes
passariam a ser propriedade pública, o governo confiscaria tudo e redistribuiria em
comodato racionalmente. A produção seria planejada e o produto racionado.
A idéia era a de transformar a Sociedade, por bem ou por mal. Ninguém
precisaria ter mais de uma vaca nem duas túnicas, duas casas. Naquela época as grandes
áreas de pecuária ou agricultura ainda não significavam empresa rural como emprego e
amparo de sustento para muitas famílias. Existia o estigma do feudalismo latifundiário
como regime injusto a ser excomungado.
Eu conheci em 1966 uma situação semelhante num seringal de Rondônia em que
os seringueiros (produtores de látex) eram obrigados a vender o seu produto a um
atravessador que lhes fornecia os gêneros de consumo a preços exorbitantes para mantêlos
dependentes e fiéis devedores.
Dissuasão da Utopia
Os socialistas filósofos almejavam o comunismo. Os socialistas governantes
apoiavam o totalitarismo. Enquanto ‘filósofos' os políticos tinham que ser coerentes e
sinceros para amealhar confiança e adesões. No poder, caiam na realidade de que a
massa trabalhadora não tem espontaneidade nem organização suficiente para tarefas
complicadas ou realização penosa, necessitando gerência que torna a liberdade relativa.
É como disse alguém: "não há maior reacionário do que um revolucionário no poder".
Teoricamente no comunismo não existiria governo nem propriedade privada,
mas sem gerência não haveria execução de serviço, sem governo não haveria
comunidade organizada; sem propriedade particular ninguém possui o que produz, por
isso o trabalho sai forçado como se fosse castigo. Portanto, essa é uma promessa utópica,
demagógica. Sem propriedade privada, o comunismo seria uma sociedade organizada
como um cupinzeiro, um formigueiro ou uma colméia, onde vivem milhões de insetos
em consciência coletiva. O instinto de conservação de cada um desses insetos funciona
em primeiro lugar pela preservação da coletividade ficando em segundo plano a vida
individual. Com a humanidade esse tipo de ‘civilização' é impossível, porque cada
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