Em Busca da Cidadania - 1 - Merlinton Braff
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durante uma existência. Ao se compararem, jamais admitiriam a própria incompetência<br />
ou qualquer vantagem intelectual alheia. O pior é que esse tipo de mentali<strong>da</strong>de talvez<br />
seja o responsável pelas limitações e pelo conformismo.<br />
O acúmulo de riqueza já foi execrado, porque, antes de existirem os<br />
instrumentos e as fábricas, quando alguém se propunha a produzir além do próprio<br />
consumo era necessário tanto esforço que parecia impossível sem o concurso <strong>da</strong><br />
escravidão. Então o consenso não admitia a possibili<strong>da</strong>de de riqueza sem a participação<br />
<strong>da</strong> cruel<strong>da</strong>de.<br />
Atualmente, o empreendimento bem sucedido quase sempre vem acompanhado<br />
<strong>da</strong> multiplicação e oferecimento do tão sonhado emprego assalariado, além <strong>da</strong> geração<br />
dos impostos que sustentam a administração dos serviços públicos. O problema é que a<br />
torci<strong>da</strong> e o discurso de abjeção <strong>da</strong> prosperi<strong>da</strong>de decorado e assumido pelos grupos<br />
retrógrados é milenar ou pelo menos centenário, e continua existindo, mesmo depois de<br />
cessa<strong>da</strong> a sua motivação.<br />
Aqueles que são pobres com digni<strong>da</strong>de consideram os ricos e até os remediados<br />
como modelo exemplar, meta e objetivo a ser alcançado. Mas existem alguns<br />
preguiçosos e invejosos. Eles odeiam os que souberam produzir, poupar e prosperar,<br />
como se fossem ameaça poderosa à sua fragili<strong>da</strong>de, à sua inferiori<strong>da</strong>de. Isso é assim por<br />
falta de amor e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de. O próspero passa a ser odiado. Pode ser alvo de calúnias<br />
ou outras ‘punições' <strong>da</strong> parte dos que se julgam honestos, mas cobiçam os tesouros<br />
alheios. Enquanto os invejosos pregam a ‘virtude <strong>da</strong> pobreza', planejam assaltos à<br />
proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>; uma atitude que só incentiva a indolência, a intolerância e o crime.<br />
Nós os pobres podemos manter a auto-estima e ter como conforto o fato de que<br />
não basta ser inteligente e competente para ficar rico. A riqueza, como a loteria, é uma<br />
questão de sorte e oportuni<strong>da</strong>de, nem sempre sob controle humano.<br />
Por que há quem se julga no direito de exigir que os fazendeiros repartam tudo,<br />
até ficarem sem na<strong>da</strong>? Será mal<strong>da</strong>de ser provedor <strong>da</strong> alimentação dos povos, justamente<br />
num país como o Brasil, onde os recursos do Erário Público não são desviados para<br />
sustentar os produtores rurais, como acontece nos EUA ou na Europa?<br />
Por hipótese um fazendeiro poderia ‘descobrir' que não merece na<strong>da</strong> do que<br />
poupou, e então fazer voto de pobreza e doar, para os invejosos, tudo o que ele<br />
conseguira amealhar. Num primeiro momento, ele poderia ser considerado o bonzinho,<br />
o herói. <strong>Em</strong> segundo momento, seria mais um marginal carente, acampado a espera de<br />
cari<strong>da</strong>de, por conta dos contribuintes dos impostos. Se os apologistas <strong>da</strong> ‘generosi<strong>da</strong>de<br />
alheia' conseguissem o seu intento, os contribuintes também escolheriam o caminho<br />
fácil e ninguém mais teria motivo para trabalhar nem para invadir, porque todos<br />
ficariam pobres, virtuosos e famintos.<br />
Os líderes políticos e religiosos, os educadores, os formadores de opinião devem<br />
continuar na orientação <strong>da</strong> cultura popular, mas colocando os interesses permanentes<br />
<strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de acima dos interesses corporativos e transitórios. Devem atender a<br />
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