Em Busca da Cidadania - 1 - Merlinton Braff

capitalismo e uma profunda mudança cultural. E uma mudança assim pode acontecer,
mas passa por uma quase morte social.
O comunismo de Marx e Engels foi inspirado no desalento e falta de perspectiva
dos operários, em comparação com as expectativas dos dirigentes e proprietários. Os
idealizadores do marxismo não aceitavam o fato dos operários agregarem mais valor à
matéria prima, ao transformá-la em mercadoria, do que o valor revertido em salário,
ficando a "mais-valia" com o dono das instalações que normalmente era também o
administrador, o comerciante e o contribuinte dos tributos. Também pudera, a
diferença entre as regalias dos donos e as dos serviçais era descabida e eram irrisórios os
salários. Só que provavelmente havia proletariado sobrando e com disposição para fazer
qualquer coisa que salvasse a família da fome no começo da Revolução Industrial. Ainda
faltava o equilíbrio entre a procura de serviço e a oferta de emprego.
Se o operário pudesse produzir e comercializar sem depender de patrão, ficando
com a mais-valia, logicamente não seria um simples operário. Se fosse preferível
depender do emprego, até mesmo naquelas condições, fica entendido que a relação
entre empregado e empregador era de conveniência recíproca. Se de um lado o
empregador queria arriscar o seu capital na produção que dependeria da compra de
matéria prima e de responsabilidade pelo treinamento do proletariado, ocupação, saúde
e salário, além da comercialização do produto em condições de retorno do investimento
com lucro para reserva de segurança: de outro lado, numa condição de primitiva
miséria, os antigos ‘sem-terra' estavam dispostos a qualquer sacrifício em troca da
sobrevivência. Ao que parece este aspecto da situação não foi observado pelos autores
do Manifesto Comunista, porque o seu objetivo era ‘revolucionar' a Revolução. Como a
Revolução Francesa derrubou as regalias da nobreza e alçou a burguesia ao poder em
1789, alentando as esperanças do proletariado de que a burguesia seria mais piedosa do
que a aristocracia, dando por isso o seu apoio braçal na conquista, mais de meio século
depois chegou a vez da queda da burguesia para elevação do proletariado porque ainda
não tinham conquistado vantagem com a Revolução.
Marx e Engels queriam acabar com as classes sociais. Não conseguiram. Quando
os burgueses tiveram que executar os trabalhos mais humildes, os proletários abusaram
como se fossem de classe superior aproveitando a oportunidade de revanche. Além
disso, havia os burocratas como Classe Dominante.
A argumentação de "lutas de classe" e "classe dominante" é válida só até
conseguir o intento que é enxotar de um território os seus ocupantes para acampar-se
em seu lugar.
O que fica evidente é que ninguém gosta de ser considerado inferior. Fica
invejoso e torce pelo insucesso de quem tem talento, almeja usurpar.
Atualmente, nesta civilização capitalista, repleta de funções especializadas, as
indústrias e os serviços, são precedidos de cuidadosos estudos e projetos, para execução
em equipe treinada, organizada e administrada. Isso requer um grau de estruturação
social jamais imaginado pelo marxismo-leninismo, em compensação os horizontes se
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