Em Busca da Cidadania - 1 - Merlinton Braff

Os povos vão à caça e à guerra contra seus estranhos, seus inimigos. Os romanos
guerreavam ferozmente contra os bárbaros (nome que davam a todos os povos que não
conheciam bem).
Muitos colonizadores do Novo Mundo acreditavam que os índios (que não
falavam o Português) não tinham alma e por isso tentaram escravizá-los. Se os animais
silvestres pudessem comunicar sentimentos e pensamentos inteligentes e
compreensíveis aos caçadores, talvez seriam poupados e considerados parceiros.
Suponho que muitos canídeos, eqüinos, suínos, caprinos e bovinos conseguiram chegar
bem perto disso. Ao deixarem-se domesticar, muitos são escravizados.
Duas vergonhas para a raça humana foram: a escravidão e a intenção nazista de
exterminar os judeus. Os negros eram caçados para escravização, transportados como
gado nos navios negreiros. A integridade familiar não era levada em conta pelos
traficantes e pelos fazendeiros compradores. Só por parecerem um pouco diferentes,
eram considerados como mercadoria.
Em regra geral, os ‘diferentes' compõem as minorias, os comuns são a maioria,
mas nos governos imperialistas e totalitaristas existem as pessoas de classe dominante,
as quais, quer sejam comuns ou diferentes, consideram-se principais.
Hoje sabemos que todas as etnias, em média e estatisticamente são dotadas de
igual capacidade de compreensão, inteligência e competência humanitária. Seja de que
‘raça' for, a espécie é uma só, com iguais atributos. A aparente diferença fica por conta
da intolerância religiosa e dos preconceitos culturais. Outras desigualdades étnicas
podem existir por conseqüência do maior ou menor acesso à tecnologia e aos diferentes
instrumentos culturais (como exemplos: falar uma boa língua e ter fácil acesso às
informações) disponíveis a cada grupo comunitário; um problema que ainda pode se
encaminhar para a solução com o avanço da globalização da nova era.
Quanto mais primitiva for a cultura, mais tempo se gasta e maior é o custo da
alimentação. Enquanto o gado passa a maior parte do seu tempo buscando alimentar-se
e na hora de descansar deve ruminar, os humanos primitivos podiam construir
moradas, manufaturar as suas vestimentas, domesticar os seus animais, etc. Os humanos
mais sofisticados, além da busca pela alimentação, constroem casas, estradas,
automóveis, aviões, rádio, telefone, televisão, criam cultura, praticam esporte,
desvendam mistérios da vida e da morte e ainda sobra tempo para divertimentos.
Os povos mais pobres são prejudicados na qualidade e quantidade dos
conhecimentos adquiridos por ser minguado o tempo dedicado ao aprendizado,
enquanto insuficiente para as necessidades primárias. Os mais pobres geram prole
numerosa, parcialmente confinada na força de trabalho para o sustento da família.
Como poderiam investir dezessete anos de estudo para cada filho? Mesmo assim,
adquirem uma cultura peculiar. Seus problemas não são os mesmos da classe média,
mas as soluções são igualmente perseguidas. O tempo que poderiam aproveitar nos
bancos escolares eles ‘perdem' na escola da vida e no trabalho cotidiano.
Em Busca da Cidadania - 89