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Boias-frias e suas máquinas sonhadoras - Agenciawad.com.br

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studium], às vezes (mas, infelizmente, <strong>com</strong> raridade) um `detalhe’ me atrai. Sinto que basta<<strong>br</strong> />

sua presença para mudar minha leitura, que se trata de uma nova foto que eu olho, marcada<<strong>br</strong> />

a meus olhos por um valor superior. Esse `detalhe’ é o punctum (o que me punge).”<<strong>br</strong> />

Nesse ensaio, detalhes de anotações em velhos cadernos de campo me atraem. Trata-se de<<strong>br</strong> />

um material resistente. Sinto <strong>com</strong>o se, aqui, nesses fragmentos ao mesmo tempo pungentes<<strong>br</strong> />

e carregados de riso, os “bóias-<strong>frias</strong>”, no momento de virarem objetos de um discurso, na<<strong>br</strong> />

proximidade dos efeitos de poder da representação so<strong>br</strong>e os representados, reagissem,<<strong>br</strong> />

subvertendo a sua representação (cf. Taussig 1993: 140).<<strong>br</strong> />

Num trabalho anterior (Dawsey 1997a), procurei interpretar um drama social conhecido por<<strong>br</strong> />

“bóias-<strong>frias</strong>” do interior paulista <strong>com</strong>o “cair na cana”. Nesse propósito, fiz uso de uma<<strong>br</strong> />

formulação clássica de Geertz (1978:316): trata-se de uma “estória so<strong>br</strong>e eles que eles<<strong>br</strong> />

contam a si mesmos”. So<strong>br</strong>e o palco dramático dos canaviais, “bóias-<strong>frias</strong>” dizem algo a<<strong>br</strong> />

respeito do que significa tornar-se um “bóia-fria”. Procurei então, <strong>com</strong>o aprendiz de<<strong>br</strong> />

hermeneuta, interpretar as teias de significado por eles criadas, dentro de quais estavam<<strong>br</strong> />

enredados. Aqui, porém, ao tentar interpretar anotações marginais, em face de quem vivia<<strong>br</strong> />

nos limiares da so<strong>br</strong>evivência, deparei-me também <strong>com</strong> os limites de um projeto<<strong>br</strong> />

hermenêutico. Nesses limites, o riso irrompia. Mais propensos, nesses espaços de<<strong>br</strong> />

indeterminação, a provocarem “efeitos de distanciamento”, tais <strong>com</strong>o os que se encontram<<strong>br</strong> />

no teatro épico de Bertolt Brecht, do que à uma identificação <strong>com</strong>ovente <strong>com</strong> o papel do<<strong>br</strong> />

“bóia-fria”, os “bóias-<strong>frias</strong>” riam. De forma provocativa, desdramatizavam. Encontrei nos<<strong>br</strong> />

estudos de Walter Benjamin so<strong>br</strong>e Baudelaire e o drama barroco alemão um enfoque atento<<strong>br</strong> />

às questões que irrompem nos limiares da interpretacão. Através de Benjamin, também<<strong>br</strong> />

tomei interesse pelo pensamento surrealista.<<strong>br</strong> />

Pretendo, então, dizer algo so<strong>br</strong>e o riso dos “bóias-<strong>frias</strong>”.<<strong>br</strong> />

“MORRENDO AFOGADOS NO CANAVIAL”<<strong>br</strong> />

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