14.04.2013 Views

Limitação dos valores de penhora na renda do devedor - Abde

Limitação dos valores de penhora na renda do devedor - Abde

Limitação dos valores de penhora na renda do devedor - Abde

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Limitação</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>valores</strong> <strong>de</strong> <strong>penhora</strong><br />

<strong>na</strong> <strong>renda</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r<br />

Penhora <strong>de</strong> crédito não se confun<strong>de</strong> com <strong>penhora</strong> sobre o faturamento<br />

A <strong>penhora</strong> sobre crédito recai sobre direitos certos ou <strong>de</strong>termináveis <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r, efetivan<strong>do</strong>-se<br />

mediante a simples intimação <strong>do</strong> terceiro, que fica obriga<strong>do</strong> a <strong>de</strong>positar em Juízo as prestações ou juros<br />

por si <strong>de</strong>vi<strong><strong>do</strong>s</strong> à medida que forem vencen<strong>do</strong>.<br />

Com essa simples medida, evita-se que o próprio executa<strong>do</strong> receba a importância <strong>penhora</strong>da,<br />

dispensan<strong>do</strong>-se a nomeação <strong>de</strong> administra<strong>do</strong>r, que é fundamental para a <strong>penhora</strong> sobre o faturamento.<br />

A 3ª Turma <strong>do</strong> STJ manteve a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> segun<strong>do</strong> grau que con<strong>de</strong>nou a empresa Rio Ita Ltda. à <strong>penhora</strong><br />

<strong>de</strong> 5% da receita diária <strong>de</strong> vale-transporte da empresa até o valor total <strong>do</strong> débito.<br />

A cre<strong>do</strong>ra Maria José Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s ajuizou execução contra a empresa, com base em título judicial que<br />

estabeleceu a obrigação da Rio Ita <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizá-la por danos morais, materiais e estéticos. No pedi<strong>do</strong>,<br />

apontou o crédito total <strong>de</strong> aproximadamente R$ 230 mil. Citada, a empresa nomeou à <strong>penhora</strong> três<br />

bens <strong>de</strong> sua priorida<strong>de</strong>.<br />

Em primeira instância, os bens ofereci<strong><strong>do</strong>s</strong> à <strong>penhora</strong> foram rejeita<strong><strong>do</strong>s</strong>, <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> a <strong>penhora</strong> <strong>de</strong> 5%<br />

da <strong>renda</strong> da empresa proveniente <strong>de</strong> vale-transportes. A Rio Ita interpôs agravo interno. O TJ-RJ negou<br />

provimento por enten<strong>de</strong>r que a <strong>penhora</strong> <strong>de</strong> receita em percentual não onera as ativida<strong>de</strong>s da empresa e<br />

não enseja a nomeação <strong>de</strong> administra<strong>do</strong>r judicial. Além disso, a <strong>penhora</strong> <strong>de</strong> vale-transporte não ofen<strong>de</strong><br />

o Código <strong>de</strong> Processo Civil.<br />

Inconformada, a Rio Ita recorreu ao STJ alegan<strong>do</strong> que houve violação <strong>do</strong> CPC quanto ao processo <strong>de</strong><br />

execução da <strong>penhora</strong>, da avaliação e da expropriação <strong>de</strong> bens, bem como <strong>do</strong> pagamento ao cre<strong>do</strong>r.<br />

Em sua <strong>de</strong>cisão, a relatora ministra Nancy Andrighi <strong>de</strong>stacou que a verificação <strong><strong>do</strong>s</strong> motivos que<br />

justificaram a rejeição <strong><strong>do</strong>s</strong> bens ofereci<strong><strong>do</strong>s</strong> à <strong>penhora</strong> <strong>de</strong>mandam, necessariamente, o revolvimento <strong>do</strong><br />

acervo fático-probatório <strong><strong>do</strong>s</strong> autos, procedimento veda<strong>do</strong> nos termos da Súmula nº 7 <strong>do</strong> STJ.<br />

Segun<strong>do</strong> a ministra, "ainda que se admitisse estar diante <strong>de</strong> <strong>penhora</strong> <strong>de</strong> faturamento, é certo que esta<br />

corte admite essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> constrição patrimonial, sem que isso, por si, só, represente ofensa ao<br />

princípio da menor onerosida<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r indica<strong>do</strong> no CPC".<br />

(Resp nº 1035510)<br />

STJ <strong>penhora</strong> 15% da <strong>renda</strong> da Gazeta Mercantil para quitar aluguel<br />

O Superior Tribu<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong>terminou a <strong>penhora</strong> <strong>de</strong> 15% da <strong>renda</strong> bruta diária <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l Gazeta<br />

Mercantil S/A para o pagamento <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> R$ 30 milhões em aluguéis <strong>de</strong>vi<strong><strong>do</strong>s</strong> em favor da Fundação<br />

Sistel <strong>de</strong> Segurida<strong>de</strong> Social. A Gazeta recorreu ao STJ para reverter a execução <strong>de</strong> título judicial<br />

<strong>de</strong>termi<strong>na</strong>da pela Justiça paulista em ação <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejo por falta <strong>de</strong> pagamento.


O juízo <strong>de</strong> primeiro grau <strong>de</strong>terminou a <strong>penhora</strong> <strong>de</strong> 30% da <strong>renda</strong> bruta diária da empresa. A Gazeta<br />

Mercantil recorreu e apresentou duas propostas alter<strong>na</strong>tivas: a <strong>penhora</strong> <strong>de</strong> uma gleba <strong>de</strong> terra<br />

localizada <strong>na</strong> cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Correnti<strong>na</strong> (BA) ou a <strong>penhora</strong> <strong>de</strong> 1% <strong>do</strong> seu lucro líqui<strong>do</strong> anual. As ofertas foram<br />

rejeitadas pelo cre<strong>do</strong>r, que consi<strong>de</strong>rou o imóvel imprestável para <strong>penhora</strong>.<br />

Em segun<strong>do</strong> grau, a Justiça reconheceu que a gleba ofertada pelo <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r é <strong>de</strong> difícil execução por<br />

tratar-se <strong>de</strong> imóvel rural situa<strong>do</strong> <strong>na</strong> Bahia, pertencente a terceiro, grava<strong>do</strong> com hipotecas e sem<br />

qualquer evidência <strong>de</strong> que valha o suficiente para garantir a execução. Mas, para não inviabilizar o<br />

exercício da ativida<strong>de</strong> empresarial, nomeou um administra<strong>do</strong>r e reduziu a <strong>penhora</strong> <strong>de</strong> 30% para 20% da<br />

<strong>renda</strong> bruta.<br />

No recurso encaminha<strong>do</strong> ao STJ, a Gazeta Mercantil repetiu os mesmos argumentos e questionou a<br />

legalida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>cisão que <strong>de</strong>terminou a <strong>penhora</strong> <strong>de</strong> 20% <strong>de</strong> sua receita. A relatora, ministra Nancy<br />

Andrighi, ressaltou que o entendimento jurispru<strong>de</strong>ncial da Segunda Seção admite a <strong>penhora</strong> sobre o<br />

faturamento da empresa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que, cumuladamente, o <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r não possua bens, ou, se os tiver,<br />

sejam eles <strong>de</strong> difícil execução ou insuficientes para saldar o crédito <strong>de</strong>manda<strong>do</strong>; haja indicação <strong>de</strong><br />

administra<strong>do</strong>r e esquema <strong>de</strong> pagamento e o percentual fixa<strong>do</strong> sobre o faturamento não torne inviável o<br />

exercício da ativida<strong>de</strong> empresarial.<br />

Em seu voto, Nancy Andrighi sustentou que o Tribu<strong>na</strong>l <strong>de</strong> origem apontou efetivamente os motivos<br />

pelos quais concluiu que o bem nomea<strong>do</strong> à <strong>penhora</strong> é <strong>de</strong> difícil execução, que a <strong>penhora</strong> <strong>de</strong> dinheiro é o<br />

primeiro item <strong>na</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> nomeação justamente por facilitar a execução e que a <strong>penhora</strong> sobre a<br />

<strong>renda</strong> não ofen<strong>de</strong> o princípio da menor onerosida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r.<br />

A princípio, a relatora votou pela manutenção <strong><strong>do</strong>s</strong> 20% e pela rejeição <strong>do</strong> recurso especial. O ministro<br />

Massami Uyeda propôs que o percentual fosse reduzi<strong>do</strong> para 5%. A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> fixar o percentual em<br />

15% foi fruto <strong>do</strong> <strong>de</strong>bate e consenso <strong>do</strong> colegia<strong>do</strong> da Terceira Turma.<br />

STJ: Resp 782901<br />

Decisões garantem aplicação ampla à im<strong>penhora</strong>bilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> bem <strong>de</strong> família<br />

Ter casa própria é uma conquista protegida por lei. Há pouco mais <strong>de</strong> duas décadas, a <strong>de</strong>finição <strong>do</strong><br />

chama<strong>do</strong> bem <strong>de</strong> família vem sen<strong>do</strong> exami<strong>na</strong>da pelo Judiciário a partir da Lei n. 8.009/1990, que passou<br />

a resguardar o imóvel resi<strong>de</strong>ncial próprio da entida<strong>de</strong> familiar nos processos <strong>de</strong> <strong>penhora</strong>. A i<strong>de</strong>ia é<br />

proteger a família, visan<strong>do</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o ambiente material em que vivem seus membros.<br />

Nessa linha, o Superior Tribu<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Justiça (STJ) tem firma<strong>do</strong> jurisprudência que pacifica o entendimento<br />

sobre situações não previstas expressamente <strong>na</strong> lei, mas que são constantes <strong>na</strong> vida <strong><strong>do</strong>s</strong> brasileiros.<br />

Imóvel habita<strong>do</strong> por irmão <strong>do</strong> <strong>do</strong>no ou por pessoa separada, único imóvel aluga<strong>do</strong>, <strong>penhora</strong>bilida<strong>de</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

móveis <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> imóvel impenhorável... Seja qual for a hipótese, o Tribu<strong>na</strong>l da Cidadania aplica a lei<br />

ten<strong>do</strong> em vista os fins sociais a que ela se <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>.


Sob esse enfoque, a lei <strong>do</strong> bem <strong>de</strong> família visa a preservar o <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r <strong>do</strong> constrangimento <strong>do</strong> <strong>de</strong>spejo<br />

que o relegue ao <strong>de</strong>sabrigo. O entendimento levou o STJ a garantir o benefício da im<strong>penhora</strong>bilida<strong>de</strong><br />

legal a pequenos empreendimentos nitidamente familiares, cujos sócios são integrantes da família e,<br />

muitas vezes, o local <strong>de</strong> funcio<strong>na</strong>mento confun<strong>de</strong>-se com a própria moradia. Foi o que <strong>de</strong>cidiu, em 2005,<br />

a Primeira Turma <strong>do</strong> STJ.<br />

Peque<strong>na</strong> empresa<br />

Um cre<strong>do</strong>r tentava a <strong>penhora</strong> <strong>de</strong> um imóvel em que funcio<strong>na</strong>va uma peque<strong>na</strong> empresa, mas no qual<br />

também residia o proprietário (o <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r) e sua família (REsp 621399). "A lei <strong>de</strong>ve ser aplicada ten<strong>do</strong><br />

em vista os fins sociais a que ela se <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>", pon<strong>de</strong>rou em seu voto o então ministro <strong>do</strong> STJ Luiz Fux,<br />

atualmente no Supremo Tribu<strong>na</strong>l Fe<strong>de</strong>ral (STF).<br />

O ministro observou que o uso da se<strong>de</strong> da empresa como moradia da família ficou comprova<strong>do</strong>, o que<br />

exigia <strong>do</strong> Judiciário uma posição "humanizada". Para o ministro, expropriar aquele imóvel significaria o<br />

mesmo que alie<strong>na</strong>r o bem <strong>de</strong> família.<br />

"A im<strong>penhora</strong>bilida<strong>de</strong> da Lei n. 8.009/90, ainda que tenha como <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>tárias as pessoas físicas, merece<br />

ser aplicada a certas pessoas jurídicas, às firmas individuais, às peque<strong>na</strong>s empresas com conotação<br />

familiar, por exemplo, por haver i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> patrimônios", concluiu o ministro.<br />

Já no caso <strong>de</strong> um imóvel misto, cujo andar inferior era ocupa<strong>do</strong> por estabelecimento comercial e<br />

garagem, enquanto a família morava no andar <strong>de</strong> cima, a Terceira Turma permitiu o <strong>de</strong>smembramento<br />

<strong>do</strong> sobra<strong>do</strong> ao julgar em 2009 o REsp 968.907, <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul. Com isso, a parte inferior foi<br />

<strong>penhora</strong>da para satisfação <strong>do</strong> cre<strong>do</strong>r.<br />

"A jurisprudência <strong>de</strong>sta Corte admite o <strong>de</strong>smembramento <strong>do</strong> imóvel, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tal providência não<br />

acarrete a <strong>de</strong>scaracterização daquele e que não haja prejuízo para a área resi<strong>de</strong>ncial", <strong>de</strong>clarou a<br />

ministra Nancy Andrighi, relatora <strong>do</strong> recurso.<br />

Irmão e mãe<br />

Diz o artigo primeiro da Lei n. 8.009/90: "O imóvel resi<strong>de</strong>ncial próprio <strong>do</strong> casal, ou da entida<strong>de</strong> familiar,<br />

é impenhorável e não respon<strong>de</strong>rá por qualquer tipo <strong>de</strong> dívida civil, comercial, fiscal, previ<strong>de</strong>nciária ou<br />

<strong>de</strong> outra <strong>na</strong>tureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele<br />

residam, salvo <strong>na</strong>s hipóteses previstas nesta lei."<br />

Na maioria <strong><strong>do</strong>s</strong> casos, a proteção legal recai sobre o imóvel on<strong>de</strong> o <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r mora com sua família. Mas<br />

há situações em que o STJ já enten<strong>de</strong>u que a proteção <strong>de</strong>ve subsistir mesmo que o <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r,<br />

proprietário <strong>do</strong> imóvel, não resida no local. Em 2009, no julgamento <strong>do</strong> REsp 1.095.611, a Primeira<br />

Turma consi<strong>de</strong>rou impenhorável a casa on<strong>de</strong> moravam a mãe e o irmão <strong>de</strong> uma pessoa que estava<br />

sofren<strong>do</strong> ação <strong>de</strong> execução.


"O fato <strong>de</strong> o executa<strong>do</strong> não morar <strong>na</strong> residência que fora objeto da <strong>penhora</strong> não tem o condão <strong>de</strong><br />

afastar a im<strong>penhora</strong>bilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> imóvel", disse <strong>na</strong> época o ministro Francisco Falcão, lembran<strong>do</strong> que a<br />

proprieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> até mesmo estar alugada a terceiros, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a <strong>renda</strong> sirva para cobrir o aluguel <strong>de</strong><br />

outra ou para manter a família.<br />

Ocorre que o imóvel <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r não comportava toda a família e por isso ele morava<br />

em uma casa ao la<strong>do</strong>, que não lhe pertencia. Segun<strong>do</strong> o relator, o irmão e a mãe não po<strong>de</strong>m ser<br />

excluí<strong><strong>do</strong>s</strong> à primeira vista <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> entida<strong>de</strong> familiar, e o fato <strong>de</strong> morarem uns ao la<strong>do</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> outros<br />

<strong>de</strong>monstrava "a convivência e a interação existente entre eles".<br />

Família <strong>de</strong> um só<br />

O conceito <strong>de</strong> família é um <strong><strong>do</strong>s</strong> pontos que mais exigiram exercício <strong>de</strong> interpretação <strong>do</strong> Judiciário. A<br />

pessoa sozinha, por exemplo, po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada uma família para efeito da proteção da Lei<br />

8.009/90? "O conceito <strong>de</strong> entida<strong>de</strong> familiar agasalha, segun<strong>do</strong> a aplicação da interpretação teleológica,<br />

a pessoa que é separada e vive sozinha", respon<strong>de</strong>u em 1999 o ministro Gilson Dipp, ao julgar <strong>na</strong> Quinta<br />

Turma o REsp 205.170.<br />

"A preservação da entida<strong>de</strong> familiar se mantém, ainda que o cônjuge separa<strong>do</strong> judicialmente venha a<br />

residir sozinho. No caso <strong>de</strong> separação, a entida<strong>de</strong> familiar, para efeitos <strong>de</strong> im<strong>penhora</strong>bilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bem,<br />

não se extingue, ao revés, surge uma duplicida<strong>de</strong> da entida<strong>de</strong>, composta pelos ex-cônjuges",<br />

acrescentou o ministro Luiz Fux em 2007, no julgamento <strong>do</strong> REsp 859.937, <strong>na</strong> Primeira Turma - caso <strong>de</strong><br />

um <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r <strong>de</strong> ICMS que estava sen<strong>do</strong> executa<strong>do</strong> pela Fazenda Pública <strong>de</strong> São Paulo.<br />

O <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r já havia si<strong>do</strong> beneficia<strong>do</strong> com a proteção da lei sobre o imóvel em que morava com a mulher,<br />

quan<strong>do</strong> foi <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>da a <strong>penhora</strong> <strong>de</strong> um outro imóvel <strong>do</strong> casal. Posteriormente, eles se separaram,<br />

fican<strong>do</strong> o primeiro imóvel para a mulher e o segun<strong>do</strong> (<strong>penhora</strong><strong>do</strong>) para o ex-mari<strong>do</strong>, que nele passou a<br />

residir. Como não houve prova <strong>de</strong> má-fé <strong>na</strong> atitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> casal, a <strong>penhora</strong> acabou <strong>de</strong>sconstituída.<br />

No julgamento <strong>de</strong> um caso pareci<strong>do</strong> (Resp. 121.797), em 2000, <strong>na</strong> Quarta Turma, o ministro Sálvio <strong>de</strong><br />

Figueire<strong>do</strong> Teixeira (hoje aposenta<strong>do</strong>) <strong>de</strong>ixara claro que "a circunstância <strong>de</strong> já ter si<strong>do</strong> beneficia<strong>do</strong> o<br />

<strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r, com a exclusão da <strong>penhora</strong> sobre bem que acabou por ficar no patrimônio <strong>do</strong> ex-cônjuge, não<br />

lhe retira o direito <strong>de</strong> invocar a proteção legal quan<strong>do</strong> um novo lar é constituí<strong>do</strong>".<br />

O STJ <strong>de</strong>finiu também que o fato <strong>de</strong> o imóvel ser um bem <strong>de</strong> família tem <strong>de</strong>monstração juris tantum, ou<br />

seja, goza <strong>de</strong> presunção relativa. Por isso, cabe ao cre<strong>do</strong>r apresentar provas <strong>de</strong> que o imóvel não<br />

preenche os requisitos para ficar sob a proteção da lei.<br />

Móveis e equipamentos<br />

Uma das questões mais controvertidas <strong>na</strong> interpretação da Lei n. 8.009/90 diz respeito aos móveis e<br />

equipamentos <strong>do</strong>mésticos. Segun<strong>do</strong> a lei, a im<strong>penhora</strong>bilida<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong> também "to<strong><strong>do</strong>s</strong> os<br />

equipamentos, inclusive os <strong>de</strong> uso profissio<strong>na</strong>l, ou móveis que guarnecem a casa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que quita<strong><strong>do</strong>s</strong>",<br />

exceto "os veículos <strong>de</strong> transporte, obras <strong>de</strong> arte e a<strong>do</strong>rnos suntuosos".


"Penso que não se po<strong>de</strong> dar ao dispositivo interpretação estreita e gramatical, sob pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> estar o<br />

Judiciário in<strong>do</strong> além <strong>do</strong> que foi concebi<strong>do</strong> pelo legisla<strong>do</strong>r", afirmou a ministra Elia<strong>na</strong> Calmon em 2008,<br />

ao relatar <strong>na</strong> Segunda Turma o REsp 1.066.463. Inovan<strong>do</strong> <strong>na</strong> jurisprudência da Corte, os ministros<br />

<strong>de</strong>clararam penhoráveis <strong>na</strong>quele caso aparelhos <strong>de</strong> ar-condicio<strong>na</strong><strong>do</strong>, lava-louças, som, freezer e um bar<br />

em mogno, bens que a relatora consi<strong>de</strong>rou "úteis, mas não indispensáveis à família".<br />

"Enten<strong>do</strong> que os equipamentos indispensáveis à normal sobrevivência da família são impenhoráveis.<br />

Mas não é em <strong>de</strong>trimento <strong>do</strong> cre<strong>do</strong>r que a família continuará a usufruir <strong>de</strong> conforto e utilida<strong>de</strong> só<br />

encontra<strong><strong>do</strong>s</strong> em famílias brasileiras <strong>de</strong> boa <strong>renda</strong>, o que, em termos percentuais, é uma minoria no<br />

país", acrescentou a ministra.<br />

No entanto, uma série <strong>de</strong> outros julgamentos a<strong>do</strong>tou interpretação mais favorável ao <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r e sua<br />

família. Em 2004, no REsp 691.729, a Segunda Turma acompanhou o voto <strong>do</strong> ministro Franciulli Netto<br />

para negar a <strong>penhora</strong> <strong>de</strong> máqui<strong>na</strong> <strong>de</strong> lavar louça, forno <strong>de</strong> microondas, freezer, microcomputa<strong>do</strong>r e<br />

impressora.<br />

"Os mencio<strong>na</strong><strong><strong>do</strong>s</strong> bens, consoante jurisprudência consolidada <strong>de</strong>sta Corte Superior <strong>de</strong> Justiça, são<br />

impenhoráveis, uma vez que, apesar <strong>de</strong> não serem indispensáveis à moradia, são usualmente manti<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

em um lar, não sen<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong><strong>do</strong>s</strong> objetos <strong>de</strong> luxo ou a<strong>do</strong>rnos suntuosos"- disse o relator.<br />

E o vi<strong>de</strong>ocassete?<br />

Ainda que usuais, uma segunda televisão ou um segun<strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r não estão garanti<strong><strong>do</strong>s</strong>. Num caso<br />

<strong>de</strong> execução fiscal julga<strong>do</strong> <strong>na</strong> Primeira Turma em 2004 (REsp 533.388), o relator, ministro Teori Albino<br />

Zavascki, disse que "os bens que guarnecem a residência são impenhoráveis, excetuan<strong>do</strong>-se aqueles<br />

encontra<strong><strong>do</strong>s</strong> em duplicida<strong>de</strong>, por não se tratar <strong>de</strong> utensílios necessários à manutenção básica da<br />

unida<strong>de</strong> familiar".<br />

Da mesma forma, o ministro Carlos Alberto Menezes Direito <strong>de</strong>clarou em 2001, quan<strong>do</strong> atuava <strong>na</strong><br />

Terceira Turma <strong>do</strong> STJ, que "não está sob a cobertura da Lei n. 8.009/90 um segun<strong>do</strong> equipamento, seja<br />

aparelho <strong>de</strong> televisão, seja vi<strong>de</strong>ocassete" (REsp 326.991).<br />

Em 1998, no julgamento <strong>do</strong> REsp 162.998, <strong>na</strong> Quarta Turma, o ministro Sálvio <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> Teixeira<br />

enten<strong>de</strong>u ser ilegal a <strong>penhora</strong> sobre aparelho <strong>de</strong> TV, jogo <strong>de</strong> sofá, freezer, máqui<strong>na</strong> <strong>de</strong> lavar roupa e<br />

lava<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> louça - bens que, "embora dispensáveis, fazem parte da vida <strong>do</strong> homem médio".<br />

Mas o vi<strong>de</strong>ocassete ficou <strong>de</strong> fora da proteção, pois, conforme prece<strong>de</strong>ntes lembra<strong><strong>do</strong>s</strong> pelo ministro,<br />

<strong>de</strong>sti<strong>na</strong>va-se a "satisfazer o gosto refi<strong>na</strong><strong>do</strong> <strong>de</strong> quem quer escolher o tempo, o título e a hora para<br />

satisfação <strong>de</strong> sua preferência cinematográfica" - um privilégio que <strong>de</strong>veria ser reserva<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s a quem<br />

paga suas contas em dia.


Com o passar <strong><strong>do</strong>s</strong> anos, a jurisprudência evoluiu. A ministra Denise Arruda, que em 2005 integrava a<br />

Primeira Turma, consi<strong>de</strong>rou, ao julgar o REsp 488.820: "Os eletro<strong>do</strong>mésticos que, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> não<br />

serem indispensáveis, são usualmente manti<strong><strong>do</strong>s</strong> em um imóvel resi<strong>de</strong>ncial, não po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>ra<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

<strong>de</strong> luxo ou suntuosos para fins <strong>de</strong> <strong>penhora</strong>." A <strong>de</strong>cisão foi aplicada num caso que envolvia forno elétrico,<br />

ar-condicio<strong>na</strong><strong>do</strong>, freezer, microondas e até vi<strong>de</strong>ocassete.<br />

Garagem <strong>de</strong> fora<br />

Na tarefa diária <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir como os dispositivos legais <strong>de</strong>vem ser interpreta<strong><strong>do</strong>s</strong> diante <strong>de</strong> cada situação<br />

real trazida a julgamento, os ministros <strong>do</strong> STJ estabeleceram limites à proteção <strong>do</strong> bem <strong>de</strong> família,<br />

sempre buscan<strong>do</strong> a interpretação mais coerente com o objetivo social da lei - o que também inclui o<br />

direito <strong>do</strong> cre<strong>do</strong>r.<br />

Vaga em garagem <strong>de</strong> prédio, por exemplo, não goza <strong>de</strong> proteção automática. Em 2006, <strong>na</strong> Corte<br />

Especial (EREsp 595.099), o ministro Felix Fischer <strong>de</strong>ixou consig<strong>na</strong><strong>do</strong> que"o boxe <strong>de</strong> estacio<strong>na</strong>mento,<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> como unida<strong>de</strong> autônoma em relação à residência <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r, ten<strong>do</strong>, inclusive, matrícula<br />

própria no registro <strong>de</strong> imóveis, não se enquadra <strong>na</strong> hipótese prevista no artigo primeiro da Lei n.<br />

8.009/90, sen<strong>do</strong>, portanto, penhorável".<br />

O STJ também admitiu, em vários julgamentos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1997, a <strong>penhora</strong> sobre a unida<strong>de</strong> resi<strong>de</strong>ncial no<br />

caso <strong>de</strong> execução <strong>de</strong> cotas <strong>de</strong> con<strong>do</strong>mínio relativas ao próprio imóvel, aplican<strong>do</strong> por a<strong>na</strong>logia o artigo<br />

terceiro, inciso IV, da lei, que excetua da proteção a "cobrança <strong>de</strong> impostos, predial ou territorial, taxas<br />

e contribuições <strong>de</strong>vidas em função <strong>do</strong> imóvel familiar".<br />

Se a jurisprudência <strong>do</strong> STJ consi<strong>de</strong>ra que uma casa alugada a terceiros também <strong>de</strong>ve ser protegida<br />

quan<strong>do</strong> a <strong>renda</strong> é usada <strong>na</strong> subsistência familiar, por outro la<strong>do</strong> o Tribu<strong>na</strong>l <strong>de</strong>ixou claro que o fato <strong>de</strong> ser<br />

proprieda<strong>de</strong> única não garante a im<strong>penhora</strong>bilida<strong>de</strong> ao imóvel.<br />

"Po<strong>de</strong> ser objeto <strong>de</strong> <strong>penhora</strong> o único bem imóvel <strong>do</strong> <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r não <strong>de</strong>sti<strong>na</strong><strong>do</strong> à sua residência e nem<br />

loca<strong>do</strong> com a fi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> complementar a <strong>renda</strong> familiar", esclareceu o ministro Aldir Passarinho<br />

Junior, recentemente aposenta<strong>do</strong>, ao relatar o REsp<br />

(Quarta Turma, 2009).<br />

Proveito da família<br />

No ano passa<strong>do</strong>, a Terceira Turma acompanhou a posição da ministra Nancy Andrighi no REsp 1.005.546<br />

e permitiu a <strong>penhora</strong> <strong>do</strong> apartamento pertencente a um casal <strong>de</strong> São Paulo, que estava <strong>de</strong>socupa<strong>do</strong>.<br />

Não adiantou alegar que o imóvel passava por reformas, pois essa situação sequer ficou comprovada no<br />

processo.<br />

"A jurisprudência <strong>do</strong> STJ a respeito <strong>do</strong> tema se firmou consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilização <strong>do</strong><br />

imóvel em proveito da família, como, por exemplo, a locação para garantir a subsistência da entida<strong>de</strong><br />

familiar", disse a relatora.


Também está <strong>na</strong> jurisprudência a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o imóvel da<strong>do</strong> em garantia <strong>de</strong> empréstimo só po<strong>de</strong>rá ser<br />

<strong>penhora</strong><strong>do</strong> se a operação fi<strong>na</strong>nceira tiver si<strong>do</strong> feita em favor da própria família. No AG 1.067.040,<br />

julga<strong>do</strong> pela Terceira Turma em 2008, Nancy Andrighi citou vários prece<strong>de</strong>ntes da Corte <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong><br />

que o instituto <strong>do</strong> bem <strong>de</strong> família existe para proteger a entida<strong>de</strong> familiar e não o direito <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong>, razão pela qual nem os <strong>do</strong>nos <strong>do</strong> imóvel po<strong>de</strong>m renunciar a essa proteção - a questão é <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m pública.<br />

Num <strong>de</strong>sses prece<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong> 2001 (REsp 302.186, Quarta Turma), o ministro Aldir Passarinho Junior<br />

registrou: "Ainda que da<strong>do</strong> em garantia <strong>de</strong> empréstimo concedi<strong>do</strong> a pessoa jurídica, é impenhorável o<br />

imóvel <strong>de</strong> sócio se ele constitui bem <strong>de</strong> família, porquanto a regra protetiva, <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pública, aliada à<br />

perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> jurídica própria da empresa, não admite presumir que o mútuo tenha si<strong>do</strong> concedi<strong>do</strong> em<br />

benefício da pessoa física."<br />

Processos: REsp 621399; REsp 968907; REsp 1095611; REsp 205170; REsp 859937; Resp. 121.797; REsp<br />

1066463; REsp 691729; REsp 533388; REsp 326991; REsp 162998; REsp 488820; EREsp 595099; REsp<br />

1035248; REsp 1005546; AG 1067040; REsp 302186

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!