Transcrição da entrevista ao João Catalão - Clube das Vendas
Transcrição da entrevista ao João Catalão - Clube das Vendas
Transcrição da entrevista ao João Catalão - Clube das Vendas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
www.clube<strong>da</strong>sven<strong>da</strong>s.com<br />
Podcast # 19 - Entrevista a <strong>João</strong> <strong>Catalão</strong><br />
Com os livros e os discos eu descobri que eu eu queria queria interagir com com as as pessoas. pessoas. Fui Fui a a essa essa <strong>entrevista</strong>.<br />
Recordo que que foi foi chocante, chocante, porque estava estava tudo tudo de de fato e e gravata gravata e eu eu naquele naquele dia vesti um blusão Adi<strong>da</strong>s<br />
de plástico, umas calças de ganga e as botas <strong>da</strong> tropa. Fui à <strong>entrevista</strong>, trataram-me me muito mal, tipo<br />
“Quem é este gajo, é o gajo <strong>da</strong>s entregas?”. entregas?” Eu recordo-me dos 2 indivíduos que me fizeram a <strong>entrevista</strong>,<br />
o Sr. Ribas e o Sr. Rocha Fernandes. Disseram Disseram-me:<br />
- “O que é que você vem aqui fazer?”<br />
- Eu disse: “Eu venho à <strong>entrevista</strong>”<br />
- “Então ven<strong>da</strong>-nos este tubo de fita-cola”<br />
- Eu disse: “Não posso vender uma coisa que é vossa”<br />
Saí porta fora, olharam outra vez para mim com aquele ar de desprezo – “Este gajo entrou e saiu saiu, com<br />
esta apresentação não dá” - e fui para casa. No dia seguinte – não havia telemóveis -, a minha Mãe<br />
recebeu um telegrama para eu ir a uma <strong>entrevista</strong> a Lisboa, Lisboa que era longíssimo naquela altura, porque<br />
tinha que que se se ir ir por por estra<strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s nacionais, nacionais, por dentro de Leiria, demorava muitas horas. Lá fui eu com o<br />
carrinho <strong>da</strong> minha Mãe e quando cheguei a Lisboa fui recebido pelo dono <strong>da</strong> empresa, um grego - ain<strong>da</strong><br />
recordo o nome: “George Adonis Thomas Papadi Cail”, este nome horrível (risos) -, , que me disse: “Não<br />
me interessa a cor do gato, mas como o gato mia”. mia”<br />
Eu entro no Porto na segun<strong>da</strong>-feira feira seguinte com com o estatuto estatuto de de novo novo vendedor vendedor do do Porto. Eu Eu nunca nunca tinha<br />
tido uma gravata na vi<strong>da</strong>, só na tropa. Man<strong>da</strong>ram-me comprar uma gravata no Shopping Brasília, que era<br />
o único que existia. Isto passa-se se na Rua do Campo Alegre em frente <strong>ao</strong> Capa Negra. . Podem imaginar imaginar: eu<br />
com um fato castanho, uma camisa camisa verde <strong>ao</strong>s <strong>ao</strong>s quadrados quadrados amarelos amarelos e e uma uma gravata gravata azul azul com<br />
com âncoras,<br />
portanto, devia estar um cromo! (risos) Deram-me Deram uma pasta e uns catálogos e disseram-me disseram “Você é o<br />
vendedor de Trás-os-Montes”. Eu u não sabia onde era. Meti-me Meti na bombaça que eu tinha, um 2 cavalos cavalos, e<br />
lá vou eu Marão acima, até chegar a um café chamado O Escondidinho. Saltei <strong>ao</strong> o balcão e o vendedor vendedor,<br />
chamado Carvalhinho, que vendia os produtos <strong>da</strong> Búfalo, perguntou:<br />
- “Meu menino, o que vens para aqui fazer?”<br />
- Eu disse: “Sou vendedor”.<br />
- “O que é que vendes?”<br />
- “Material, máquinas de reprografia reprografia”, uma coisa na altura chama<strong>da</strong> ama<strong>da</strong> duplicadores, que mais tarde deu os<br />
fotocopiadores, offsets, etc.<br />
- Ele disse: “Tens que ir <strong>ao</strong> quartel…” ” e num guar<strong>da</strong>napo de papel escreveu-me: me: “Olha, há ali uma escola,<br />
há isto, há aquilo”. O meu primeiro primeiro itinerário itinerário de de ven<strong>da</strong>s foi foi feito pelo pelo meu meu colega colega no no balcão d<br />
d’O<br />
Escondidinho, que que ain<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> hoje existe. existe. Foi a minha primeira primeira noite fora de casa com esse estatuto. Todos os<br />
dias tinha que telefonar <strong>ao</strong> chefe, o meu primeiro chefe, Sr. Carneiro, que ralhava comigo. Se eu fazia 1,<br />
ele dizia que eu devia fazer 2, se eu fazia 2, devia fazer 3 (risos), , mas foi o meu melhor amigo, porque <strong>ao</strong><br />
fim de de 1 1 ano ano e e meio estava estava a ser ser convi<strong>da</strong>do para ir abrir uma filial, filial, a a de de Leiria, Leiria, e a começar começar a ter a minha<br />
primeira responsabili<strong>da</strong>de de chefia.<br />
A minha vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> nas ven<strong>da</strong>s nunca mais parou e eu diria que esteve sempre dependente do acaso. DDessa<br />
empresa vendi uma máquina a uma empresa que estava a começar chama<strong>da</strong> Yoplait, onde eu às sextas-<br />
feiras passava a caminho de casa, limpava o vidro <strong>da</strong> máquina <strong>ao</strong> senhor e ele <strong>da</strong>va-me me uns iogurtezinhos<br />
iogurtezinhos.<br />
Um dia assisto a uma discussão, ele a despedir o responsável de ven<strong>da</strong>s e a berrar comigo: “Não saia<br />
<strong>da</strong>í!”. Eu fiquei assustado! “O que é que eu fiz? A máquina avariou?”.<br />
3