14.04.2013 Views

Jesus dos 13 aos 30 Anos - Loja Maçônica Acácia do Rio Abaixo Nº ...

Jesus dos 13 aos 30 Anos - Loja Maçônica Acácia do Rio Abaixo Nº ...

Jesus dos 13 aos 30 Anos - Loja Maçônica Acácia do Rio Abaixo Nº ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Capa<br />

1


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Da<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> Livro<br />

Francisco Klörs Werneck<br />

<strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Exemplar nº 0246<br />

Para uso exclusivo de<br />

Fernan<strong>do</strong> Bicu<strong>do</strong> Salomão<br />

Permitida apenas uma única reprodução,<br />

em papel ou arquivo, para segurança.<br />

Livraria <strong>Maçônica</strong> Paulo Fuchs<br />

São Paulo, SP – 11 5510-0370 internet: www.livrariamaconica.com.br<br />

agosto de 2002.<br />

© Francisco Klörs Werneck – To<strong><strong>do</strong>s</strong> os direitos reserva<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

2


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Indice<br />

Capa<br />

Da<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> Livro<br />

Indice<br />

Apresentação<br />

Introdução<br />

A Vida Desconhecida de <strong>Jesus</strong> Cristo<br />

A Vida de Santo Issa<br />

Sinópticos<br />

<strong>Jesus</strong> e os Manuscritos <strong>do</strong> Mar Morto<br />

Elementos Suplementares para o Estu<strong>do</strong> de<br />

<strong>Jesus</strong>-Cristo<br />

Retrato de <strong>Jesus</strong><br />

Outro Retrato de <strong>Jesus</strong><br />

Origem <strong>do</strong> Nascimento Virginal de <strong>Jesus</strong><br />

Nascimento de <strong>Jesus</strong> e a Astrologia<br />

3


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Apresentação<br />

Quem foi <strong>Jesus</strong>, chama<strong>do</strong> o Cristo, o Messias? Até hoje milhões de cristãos de todas as<br />

religiões perguntam onde esteve ele durante os chama<strong><strong>do</strong>s</strong> 17 anos de sua vida desconhecida, e a<br />

resposta mais cômoda que conseguem obter é a de que <strong>Jesus</strong> esteve trabalhan<strong>do</strong> na oficina de<br />

carpintaria de seu pai, José. Mas o próprio Novo Testamento se encarrega de desmentir essa<br />

afirmativa quan<strong>do</strong> diz que, ao regressar ele à sua terra natal, os judeus indagavam se não era ele<br />

o filho <strong>do</strong> carpinteiro José, pois já não o conheciam mais, e ainda de onde lhe teria vin<strong>do</strong> toda<br />

aquela sabe<strong>do</strong>ria, conforme o Evangelho segun<strong>do</strong> Mateus, vers. 55/56 <strong>do</strong> cap. <strong>13</strong>.<br />

Esta falta de conhecimento de 17 <strong><strong>do</strong>s</strong> 33 anos de vida de <strong>Jesus</strong> tem leva<strong>do</strong> muita gente<br />

à descrença e à afirmativa de que a sua vida foi forjada e copiada de grandes vultos religiosos de<br />

longínquo passa<strong>do</strong>. Para suprir esta surpreendente lacuna, o Dr. Francisco Klörs Werneck resolveu<br />

dedicar-se ao assunto e, por mais de 40 anos segui<strong><strong>do</strong>s</strong>, reuniu to<strong>do</strong> o material que pôde para<br />

mostrar a pessoa de <strong>Jesus</strong> sob vários pontos de vista. Num imparcial e audacioso trabalho como<br />

este, procurar reconstituir toda a sua vida de 33 anos e reconduzir as ovelhas perdidas ao seu<br />

novo aprisco, ao rebanho <strong>do</strong> Mestre <strong><strong>do</strong>s</strong> Mestres, que deve ser um só.<br />

Francisco Klörs Werneck<br />

4


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Introdução<br />

Quan<strong>do</strong> estudei o Espiritismo, estudei também e procurei compreender a extraordinária<br />

figura <strong>do</strong> Cristo, sob o ponto de vista espiritualista, mas verifiquei, desde logo, a grande confusão<br />

que gira em torno da sublime personalidade <strong>do</strong> rabi da Galiléia.<br />

Li as seguintes obras (títulos em português):<br />

Os Evangelhos;<br />

A Vida de <strong>Jesus</strong>, de Ernest Renan; História <strong>do</strong> Cristo, de Giovani Papini; <strong>Jesus</strong>, de<br />

Souza Carneiro;<br />

Cristianismo Místico, <strong>do</strong> Yogi Ramacharaka;<br />

Os Quatro Evangelhos, comunicações mediúnicas recebidas pela Sra. Colignon;<br />

A Vida de <strong>Jesus</strong> Ditada por Ele Mesmo, mensagens mediúnicas recebidas pela Sra. X.;<br />

Novo Nuctemeron, livro dita<strong>do</strong> pelo espírito de Apolônio de Tiana;<br />

Elucidações Evangélicas, mensagens espíritas compiladas por Antônio Luiz Sayão;<br />

<strong>Jesus</strong> Perante a Cristandade; obra ditada pelo espírito de Francisco Leite<br />

Bittencourt Sampaio;<br />

A vida Desconhecida de <strong>Jesus</strong>-Cristo, de Nicolau Notovitch;<br />

<strong>Jesus</strong> e Sua Doutrina, de A. Leterre;<br />

Da Esfinge ao Cristo, de E<strong>do</strong>uard Schuré;<br />

Os Grandes Inicia<strong><strong>do</strong>s</strong>, idem.<br />

A Bíblia na Índia, de Louis Jacolliot;<br />

O Cristo Nunca Existiu, de J. Brandes, etc.;<br />

e muitos artigos e mensagens espíritas, daqui e <strong>do</strong> estrangeiro, a respeito d’Ele.<br />

Nas obras mediúnicas de meu conhecimento, os espíritos comunicantes geralmente<br />

vêem <strong>Jesus</strong> sob o prisma ou o aspecto pelo qual o conheceram na vida terrena, de mo<strong>do</strong> que, como<br />

estas obras já são conhecidas no vernáculo, vou recorrer a algumas obras publicadas no estrangeiro,<br />

esperan<strong>do</strong> que projetem alguma luz sobre esta questão que não é nova: quem foi realmente <strong>Jesus</strong><br />

e o que fez ele nos 17 anos desconheci<strong><strong>do</strong>s</strong> de sua vida na Palestina? Passemos a elas.<br />

No “Novo Nuctemeron”, obra ditada pelo espírito de Apolônio de Tiana à conhecida<br />

médium inglesa Marjorie Livingstone e prefaciada por Sir Arthur Conan Doyle, vemos que no<br />

<strong>Jesus</strong> carnal se encarnou o Cristo, o inicia<strong>do</strong> divino. Como esse livro é pouco conheci<strong>do</strong>, dele<br />

extraio os seguintes trechos:<br />

“O Inicia<strong>do</strong> Divino, o Filho de Deus, realizou para vós essa Descida na Matéria,<br />

essa Ordália Perfeita, essa Oblata de si mesmo, esse Sacrifício até a morte”. (Cap. II)<br />

5


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

“Podeis perguntar-me como o Inicia<strong>do</strong> Egípcio podia ver o Cristo 2000 anos antes<br />

de ter <strong>Jesus</strong> nasci<strong>do</strong> na Galiléia. A resposta é bem simples. Não devereis pensar que, porque<br />

o Cristo ainda não se tinha manifesta<strong>do</strong> na carne, ele não existia. Sua manifestação na<br />

pessoa de <strong>Jesus</strong> de Nazaré não foi senão um incidente de sua vida eterna; para a vossa<br />

Terra é talvez o mais importante de sua história”.<br />

“Repito que a manifestação <strong>do</strong> Espírito Divino <strong>do</strong> Cristo Cósmico em <strong>Jesus</strong> de<br />

Nazaré não foi senão um incidente, etc”.<br />

“Antes <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> da Encarnação em <strong>Jesus</strong> de Nazaré, os Inicia<strong><strong>do</strong>s</strong> veneravam e<br />

temiam o Cristo de Deus, mas com incompreensão; depois da Encarnação, um amor pessoal<br />

por ele surgiu na Humanidade”.<br />

“...nós não podemos conceber uma alegria mais extática, um esplen<strong>do</strong>r mais<br />

radioso <strong>do</strong> que a Visão d’Aquele que era ao mesmo tempo Filho de Deus e filho <strong>do</strong> Homem”.<br />

“Durante a vida de <strong>Jesus</strong> de Nazaré, Deus se manifestou diretamente no corpo <strong>do</strong><br />

Homem e dessa forma submeteu-se a leis naturais e a limitações físicas. Esse Ato Supremo<br />

resumiu não somente todas as possibilidades <strong>do</strong> Bem pelo Homem, no plano material, mas<br />

também em to<strong><strong>do</strong>s</strong> os ciclos <strong>do</strong> seu progresso. Deus, ten<strong>do</strong> assim se manifesta<strong>do</strong> na carne,<br />

pode também manifestar-se à vontade, de maneira reconhecível, em to<strong><strong>do</strong>s</strong> os planos<br />

intermediários. Assim, ele é o Cristo, <strong>Jesus</strong> e Deus, porém a sua forma não é a mesma em<br />

todas as esferas”. (Cap. VII)<br />

“Em sua Encarnação, o Cristo tomou a semelhança humana e essa aparência<br />

não foi senão o invólucro exterior <strong><strong>do</strong>s</strong> diferentes esta<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> seu ser, ainda como Homem.<br />

Quan<strong>do</strong> deixou a carne, a forma de sua personalidade física permaneceu gravada em sua<br />

Forma astral e espiritual, que ele havia toma<strong>do</strong> antes para chegar a um esta<strong>do</strong> mais<br />

denso pelo qual a Encarnação fosse possível. Deus não pode pôr-se em contato direto com<br />

a matéria e vários esta<strong><strong>do</strong>s</strong> da Natureza foram precisos antes que a corrente da Força<br />

Divina pudesse ser suficientemente isolada para tal fim. O Cristo, ten<strong>do</strong> toma<strong>do</strong> uma<br />

única vez sobre si to<strong><strong>do</strong>s</strong> os diferentes esta<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>aos</strong> quais pode o Homem estar sujeito, pôde<br />

retomar essas condições à vontade. Os que por sua grande virtude ou porque tenham um<br />

ardente desejo ou grande necessidade de verem o Cristo o verão na forma que ele viveu na<br />

Galiléia; os que passaram o véu da morte podem vê-lo na forma que ele reveste para visitar<br />

as esferas intermediárias” (Cap. IX).<br />

Resumin<strong>do</strong>: no corpo de <strong>Jesus</strong> humano encarnou-se o Cristo de Deus para conduzir<br />

esta pobre humanidade por novos caminhos. É por isto que João, o Evangelista, disse que o Verbo<br />

se fez carne e habitou entre nós e que, no começo, estava com Deus.<br />

Para Jacolliot (A Bíblia na Índia); na vida de <strong>Jesus</strong> Cristo há fatos da de Iezus Crisma,<br />

o reforma<strong>do</strong>r hindu. E, para Schuré (Da Esfinge ao Cristo), <strong>Jesus</strong> só existiu até o batismo no<br />

Jordão, quan<strong>do</strong> o espírito <strong>do</strong> Cristo se incorporou nele.<br />

Segun<strong>do</strong> os teósofos, o corpo de Jiddu Krishnamurti seria o novo veículo pelo qual o<br />

Cristo se manifestaria ao mun<strong>do</strong> (O .Cristo voltará, de Jean Deville), mas Krishnamurti dissolveu<br />

a Ordem da Estrela e fun<strong>do</strong>u nova corrente de pensamento.<br />

Ao passo que o Abade Alta (O Cristianismo <strong>do</strong> Cristo e o <strong><strong>do</strong>s</strong> seus vigários) nos diz, como<br />

muitos outros autores, que o Cristo foi contemporâneo de Apolônio de Tiana, o teosofista australiano<br />

Charles W. Leadbeater (Os Mestres e o Caminho) escreve que “O Mestre <strong>Jesus</strong>, que atingiu o<br />

adepta<strong>do</strong> durante a encarnacão em que foi conheci<strong>do</strong> sob o nome de Apolônio de Tiana e que se<br />

tornou mais tarde Shri Ramnujacharva, o grande re-forma<strong>do</strong>r religioso <strong>do</strong> sul da Índia, dirige o<br />

sexto Raio, o da devoção ou Bhakti”.<br />

6


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Alu<strong>do</strong>, de passagem, à obra <strong>do</strong> Dr. Franz Hartmann intitulada “Vida de Jehoshua”,<br />

segun<strong>do</strong> a qual <strong>Jesus</strong> seria filho espúrio de um legionário romano chama<strong>do</strong> Pandira e de Maria,<br />

ainda não casada com José, e que seu nome era <strong>Jesus</strong> ben-Pandira.<br />

A tal se contrapõe a nota “A” das anotações feitas no fim da obra <strong>do</strong> Prof. Petrucelli della<br />

Gattina “Memórias de Judas”, baseada, ao que parece, em um evangelho apócrifo.<br />

Diz a referida nota:<br />

“O Talmud, capítulo VI, Sanhedrin, fala de ter si<strong>do</strong> lapida<strong>do</strong> um <strong>Jesus</strong> de Nazaré,<br />

réu de magia, de sedução e de corrupção <strong><strong>do</strong>s</strong> seus correligionários. No capítulo seguinte,<br />

acha-se menciona<strong>do</strong> um outro <strong>Jesus</strong>, filho de Pandira e de Maria, bordadeira ou modista,<br />

mulher de Studa, ou de uma Studa, mulher de Papus, filho de Jehuda. Esta Maria era da<br />

Lydia e viveu perto de 70 anos depois de Maria, mãe <strong>do</strong> <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> Cristãos. É este <strong>Jesus</strong><br />

que, diz Raban Maur, os judeus amaldiçoavam em todas as suas orações, como ímpio, filho<br />

de um ímpio, o pagão Pandira e da adúltera Maria”.<br />

Quanto ao livro de Binet-Sanglé, “A loucura de <strong>Jesus</strong>”, é um trabalho que se lê com<br />

desgosto e tristeza ao mesmo tempo.<br />

Um protestante, Charles T. Russell (Estu<strong><strong>do</strong>s</strong> das Escrituras) assim define a personalidade<br />

de <strong>Jesus</strong>: “Antes <strong>do</strong> Cristo vir ao mun<strong>do</strong>, era ele um ser especial possuin<strong>do</strong> natureza espiritual,<br />

não sen<strong>do</strong>, na acepção mais elevada, um ser divino. Essa natureza espiritual mu<strong>do</strong>u--se quan<strong>do</strong><br />

apareceu no mun<strong>do</strong>, transforman<strong>do</strong>-se em perfeita natureza humana”.<br />

Já para os budistas, <strong>Jesus</strong> é um Nirmanakaya, isto é, um ser humano muito evoluí<strong>do</strong>,<br />

o qual, por uma série de existências perfeitas, atingira o Nirvana.<br />

A revista inglesa The Two Worlds, de Manchester, n° de 8-9-1939, dá notícia de um livro<br />

sob o título “Vi o Mestre”, dita<strong>do</strong> por “Ray” e compila<strong>do</strong> por Grace Gibbons Grindling, no qual se lê<br />

que Maria, mãe de <strong>Jesus</strong>, teve outros quatro filhos e que José era pai a<strong>do</strong>tivo de <strong>Jesus</strong>. Trata-se de<br />

uma coleção de comunicações de quem se diz chamar “Godfrey” e que teria perdi<strong>do</strong> a vida na<br />

guerra em outubro de 1915.<br />

Mas, se esse livro teve por autor uma entidade espiritual não “credenciada”, já o mesmo<br />

não aconteceu com outro livro a que se refere L’Astrosophie, de Cartago, Tunísia, n° de Maio de<br />

1938. Tem o título de “Vida de <strong>Jesus</strong>” e traz o quilométrico sub-título de “Vida inédita e rigorosamente<br />

verdadeira, ditada por João, o Evangelista, assisti<strong>do</strong> pelos apóstolos Pedro e Paulo, assim como<br />

pelo profeta Samuel ao qual se juntou o inicia<strong>do</strong> hindu Kirbi”.<br />

Em 1938 apareceu na imprensa londrina um livro mediúnico que obteve enorme sucesso<br />

e foi li<strong>do</strong> com grande avidez pelo público que se interessa por conhecer detalhes sobre o perío<strong>do</strong> da<br />

vida de <strong>Jesus</strong> que vai <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> anos. Essa interessante obra, de que possuo um exemplar<br />

oferta<strong>do</strong> em 6 de dezembro daquele ano pelo aprecia<strong>do</strong> escritor espírita português Frederico Duarte,<br />

o F. Etraud da “Crônica Estrangeira” de The Two Worlds, de Manchester, cidade inglesa em que<br />

residiu há muito tempo, foi ditada por um espírito que se deu o singelo nome de “Mensageiro”, em<br />

vez de se a<strong>do</strong>rnar com qualquer nome bíblico ou evangélico para dar maior autoridade ao seu<br />

dita<strong>do</strong>. Tem ela o título de “Fragmentos <strong><strong>do</strong>s</strong> anos desconheci<strong><strong>do</strong>s</strong> da vida de <strong>Jesus</strong>” e está dividida<br />

nos seguintes capítulos: I - Introdução e Descrições; II - <strong>Jesus</strong> no Templo; III - <strong>Jesus</strong> no Deserto;<br />

IV - <strong>Jesus</strong> no Tibet; V - A Decisão; VI - <strong>Jesus</strong> na Índia; VII - <strong>Jesus</strong> no Egito; VIII - Cerimônia de<br />

Iniciação; IX - <strong>Jesus</strong> na Pérsia; X - <strong>Jesus</strong> volta ao Egito e XI - Consagração de <strong>Jesus</strong>.<br />

Sobre a referida obra, colhemos no n° 28 de outubro de 1938, da citada revista inglesa,<br />

os seguintes comentários feitos pelo Sr. F. C. Wentworth:<br />

7


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

“Há um considerável número de livros tratan<strong>do</strong> <strong>do</strong> pouco conheci<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> da vida a<br />

<strong>Jesus</strong>, que vai <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> anos. Que sucedeu durante aquele tempo para transformá-lo de um<br />

menino inteligente em um mestre cujos ensinos deviam influenciar civilizações? Registros daquele<br />

lapso de tempo praticamente não existem. Informações tivemos de que em templos da Índia e<br />

mosteiros <strong>do</strong> Tibet há <strong>do</strong>cumentos que tratam da iniciação de alguém chama<strong>do</strong> <strong>Jesus</strong>. Rumores<br />

circulam de que <strong>do</strong>cumentos da biblioteca <strong>do</strong> Vaticano muito poderiam revelar se ela escapasse à<br />

proibição imposta pelas autoridades papais, que acham não dever torná-los públicos, haven<strong>do</strong>,<br />

portanto, sempre um ar de mistério a cobrir a resposta de uma questão que tem deixa<strong>do</strong> atônitos<br />

to<strong><strong>do</strong>s</strong> os que estudaram o desenvolvimento da personalidade de <strong>Jesus</strong>.<br />

Uma obra acaba de aparecer, ditada a um médium sob a autoridade de um espírito<br />

comunicante que diz ter ti<strong>do</strong> conhecimento daquele perío<strong>do</strong> de tempo da vida desconhecida de<br />

<strong>Jesus</strong>. A dificuldade existente no caso é a de não se poder comparar o livro com notícias conhecidas.<br />

Ele deve ser aceito em seu mérito interior e em seu valor comparativo em <strong>do</strong>cumentos históricos,<br />

que devem suportar as críticas que se farão sobre o trabalho.<br />

O livro tem o título de Fragments of the hidden years of <strong>Jesus</strong> e foi dita<strong>do</strong> por um “Escriba”<br />

que esclarece: “Estes escritos me foram transmiti<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> Além, durante muitas sessões com<br />

a médium Sra. Grad<strong>do</strong>n-Thomas, que sempre esteve mergulhada em profun<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de<br />

transe. Um espírito que se deu o nome de ‘Mensageiro’ os ditou a mim e eu escrevi pela mão<br />

dela. Nem eu e nem a médium poderíamos escrever este livro e minha responsabilidade<br />

está limitada à transcrição <strong>do</strong> assunto”.<br />

Este parágrafo deve ser lembra<strong>do</strong> ao serem li<strong><strong>do</strong>s</strong> os capítulos tratan<strong>do</strong> da iniciação de<br />

<strong>Jesus</strong> nas escolas da Índia, Tibet, Egito e Pérsia. Pinta-se então um quadro íntimo <strong>do</strong><br />

desenvolvimento de suas faculdades de como foi ele treina<strong>do</strong> pelos sumos-sacer<strong>do</strong>tes de várias<br />

ordens para fazer uso das qualidades superiores de sua consciência a fim de colher as vastas<br />

reservas <strong>do</strong> poder invisível de que ia servir-se durante o curso <strong>do</strong> seu ministério.<br />

A teoria de que <strong>Jesus</strong> passou através de escolas iniciáticas <strong>do</strong> Egito e de outros centros<br />

de aprendizagem não é nova. Certos aspectos <strong>do</strong> seu ensino revelam influências que devem ser<br />

traçadas a um ou outro desses centros iniciáticos, porquanto seus ensinamentos demonstram<br />

que ele não desconhecia a obra de seus mestres e antecessores”.<br />

Notei que o articulista disse acima: “A dificuldade existente no caso é a de não se<br />

poder comparar livro com notícias conhecidas. Ele deve ser aceite seu mérito interior e em<br />

seu valor comparativo com <strong>do</strong>cumentos históricos, que devem suportar as críticas que se<br />

farão sobre o trabalho”. É o que vou tentar fazer, deten<strong>do</strong>-me mais demoradamente no livro de<br />

Notovitch La vie inconnue de Jésus Christ, para depois passar a umas notícias análogas a que darei<br />

o título Sinópticos”, isto é, Concordantes, e <strong>aos</strong> manuscritos mar Morto.<br />

Darei a “Introdução” da obra de Notovitch, farei um resumo das peripécias de suas<br />

viagens e <strong>do</strong> encontro <strong><strong>do</strong>s</strong> manuscritos tibetanos e transcreverei, em versículos, tal como foi achada,<br />

a “Vida de Santo Issa”.<br />

Creio ter assim correspondi<strong>do</strong> à curiosidade de muitos e atendi<strong>do</strong> os inúmeros pedi<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

que me têm si feitos.<br />

8<br />

Francisco Klörs Werneck


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

A Vida Desconhecida de <strong>Jesus</strong> Cristo<br />

Conforme prometi linhas atrás, transcrevo a seguir a “Introdução” <strong>do</strong> supracita<strong>do</strong> livro<br />

de Nicolau Notovitch, em que nele narra, resumidamente, as peripécias de sua viagem, o encontro<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> manuscritos tibetanos e as tentativas que fez para publicá-lo na França. Escreve Notovitch:<br />

Depois da guerra da Turquia (1877/8), empreendi uma série de viagens ao Oriente.<br />

Após ter visita<strong>do</strong> todas as localidades, ainda que de pouca importância, da península<br />

balcânica, transportei-me, através <strong>do</strong> Cáucaso à Ásia Central e à Pérsia e, finalmente,<br />

em 1887, parti para a Índia, país admirável que me atraía desde a minha infância.<br />

O fim dessa viagem era o de conhecer e estudar, in loco, os povos que habitam a Índia,<br />

seus costumes, sua arqueologia grandiosa e misteriosa e a natureza colossal e cheia de<br />

majestade desse país.<br />

Erran<strong>do</strong>, sem plano prefixa<strong>do</strong>, de um lugar para outro, cheguei até o Afeganistão<br />

montanhoso, <strong>do</strong>nde alcancei a Índia pelo trajeto pitoresco de Bolan e de Guernai.<br />

Depois, subi o In<strong>do</strong> até Raval Pindi, percorri o Pendjab, país <strong><strong>do</strong>s</strong> cinco rios, visitei o<br />

templo de ouro de Amritsa, o túmulo de Ranjid-Singh, rei <strong>do</strong> Pendjab, perto de Lahore,<br />

dirigin<strong>do</strong>- me para o Kashmyr, o vale da felicidade eterna.<br />

Aí comecei minhas peregrinações ao sabor da curiosidade até que cheguei ao Ladak,<br />

onde formei o projeto de voltar à Rússia pelo Karakorum e o Turquestão chinês.<br />

Certo dia, no decurso da visita que fiz a um convento budista, situa<strong>do</strong> no meu caminho,<br />

soube, <strong>do</strong> lama-chefe, que existiam, nos arquivos de Lhassa, memórias muito antigas,<br />

que faziam referências à vida de <strong>Jesus</strong> Cristo e a nações <strong>do</strong> Oriente e que certos mosteiros<br />

possuíam cópias e traduções de tais crônicas.<br />

Como era pouco provável que eu fizesse ainda uma viagem por aqueles países, resolvi<br />

transferir, para outra época posterior, minha volta à Europa, e, custasse o que custasse;<br />

decidi-me ou a encontrar essas cópias nos grandes conventos ou a chegar ao Lhassa,<br />

viagem que está longe de ser tão perigosa e tão difícil como se costuma dizer; demais,<br />

achava-me tão habitua<strong>do</strong> a toda sorte de perigos que eles já não podiam fazer-me recuar<br />

um passo.<br />

Durante minha permanência em Leh, capital <strong>do</strong> Ladack, visitei o grande convento de<br />

Himis, situa<strong>do</strong> nas cercanias da cidade.<br />

O lama daquele convento me declarou que a biblioteca monástica continha algumas<br />

cópias <strong><strong>do</strong>s</strong> manuscritos em questão. Para que as autoridades não suspeitassem <strong>do</strong><br />

objetivo de minha visita ao convento e a fim de não encontrar obstáculos, dada a minha<br />

qualidade de russo, fiz saber, numa viagem posterior ao Tibet, de retorno a Leh, que<br />

voltava à Índia.<br />

Deixei, novamente, a capital <strong>do</strong> Ladak. Uma queda infeliz, em conseqüência da qual<br />

quebrei uma das pernas, forneceu-me inespera<strong>do</strong> pretexto para voltar ao convento,<br />

onde me foram presta<strong><strong>do</strong>s</strong> os primeiros socorros médicos.<br />

Aproveitei minha curta estada entre os lamas para obter <strong>do</strong> lama-chefe consentimento<br />

para que me fossem mostra<strong><strong>do</strong>s</strong> os manuscritos relativos a <strong>Jesus</strong>-Cristo, existentes na<br />

biblioteca <strong>do</strong> convento, e, ajuda<strong>do</strong> por meu intérprete, que me traduzia a língua tibetana,<br />

anotei, cuida<strong><strong>do</strong>s</strong>amente, em meu caderno, o que o lama me dizia.<br />

9


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

A respeito desse mosteiro de Himis, mister se faz entremos em pormenores porque <strong>do</strong>is<br />

mosteiros trazem este nome no Tibet. Aquele em que fui recolhi<strong>do</strong> por estar feri<strong>do</strong>, e<br />

cuida<strong><strong>do</strong>s</strong>amente trata<strong>do</strong> e em que me foi comunicada a existência <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong>cumentos que<br />

entrego à curiosidade pública, é o mosteiro situa<strong>do</strong> no Ladak, não longe de Leh, nas<br />

proximidades <strong>do</strong> rio In<strong>do</strong> e <strong>aos</strong> pés das montanhas, <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pelo pico de Himis, de<br />

18.733 pés de altitude. É, depois <strong>do</strong> mosteiro central <strong>do</strong> Lhassa, o mais povoa<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Tibet, sua biblioteca é a mais rica e seus monges os mais instruí<strong><strong>do</strong>s</strong> e estudiosos.<br />

O outro Himis está situa<strong>do</strong> no caminho de Khalsi a Leh e junto ao Shavlikangri, de<br />

18.096 pés, ao norte <strong>do</strong> In<strong>do</strong>. É uma aldeia com um pequeno mosteiro, muito pobre,<br />

abrigan<strong>do</strong> quatro ou cinco monges que se entregam comumente a trabalhos manuais,<br />

fora das horas de suas maquinais orações.<br />

To<strong><strong>do</strong>s</strong> os que se acham um pouco familiariza<strong><strong>do</strong>s</strong> com o Tibet sabem, aliás, que é tão<br />

impossível confundir essas duas localidades quanto o Paris e o Versailles da França<br />

com o Paris e o Versailles <strong>do</strong> Connecticut.<br />

Não tenho dúvida alguma quanto à autenticidade da crônica que me foi comunicada e<br />

que me pareceu redigida, com muita exatidão, por historia<strong>do</strong>res brâmanes e, sobretu<strong>do</strong>,<br />

por budistas da Índia e <strong>do</strong> Nepal.<br />

Quis, de volta à Europa, publicar a tradução delas e, com esse fim, dirigi-me a vários<br />

eclesiásticos universalmente conheci<strong><strong>do</strong>s</strong>, rogan<strong>do</strong>-lhes lessem minhas notas e dissessem<br />

o que delas pensavam.<br />

Monsenhor Platon, célebre metropolitano de Kiew, foi de opinião que o trabalho era de<br />

grande importância, porém dissuadiu-me de fazer aparecer essas memórias acreditan<strong>do</strong><br />

que sua publicação só poderia causar-me aborrecimentos. Por quê? Foi o que o venerável<br />

prela<strong>do</strong> se recusou a dizer-me de mo<strong>do</strong> explícito. Entretanto, como nossa conversa foi<br />

na Rússia, onde a censura teria posto seu veto em semelhante obra, resolvi esperar.<br />

Um ano depois me achava em Roma. Mostrei o manuscrito ao Cardeal Nina, muito<br />

estima<strong>do</strong> pelo Santo Padre, o qual me respondeu textualmente o seguinte: “Que<br />

necessidade há de imprimir-se isto? Ninguém lhe dará grande importância e vós<br />

criareis uma multidão de inimigos. No entanto, sois tão jovem ainda! Se é uma<br />

questão de dinheiro que vos interessa, pedirei para vós uma recompensa pelas<br />

vossas notas, recompensa que vos indenizará das despesas feitas e <strong>do</strong> tempo<br />

perdi<strong>do</strong>”. Naturalmente que recusei.<br />

Em Paris falei <strong>do</strong> meu projeto com o Cardeal Rotelli, que conheci em Constantinopla.<br />

Ele também se opôs a que eu imprimisse o meu trabalho sob o pretexto de que era<br />

prematuro. “A Igreja - acrescentou ele -sofre novamente correntes de idéias ateístas<br />

e vós só fornecereis ensejo a calunia<strong>do</strong>res e detratores da <strong>do</strong>utrina evangélica.<br />

Vo-lo digo no interesse de todas as igrejas cristãs”.<br />

Fui, em seguida, procurar Jules Simon. Ele achou que minha comunicação era muito<br />

interessante e me recomen<strong>do</strong>u que pedisse a opinião de Ernest Renan a respeito da<br />

melhor maneira de publicá-la. No dia seguinte, pela manhã, estava eu senta<strong>do</strong> no gabinete<br />

<strong>do</strong> grande filósofo. No fim de nossa conversa, Renan me propôs que lhe confiasse as<br />

memórias em questão, a fim de fazer um relatório delas à Academia. Tal proposta, como<br />

se compreende bem, era muito sedutora e lisonjeava meu amor-próprio, todavia tornei<br />

a levar a obra sob o pretexto de revê-la ainda uma vez.<br />

Previa que, se aceitasse a proposta, só teria a honra de ter acha<strong>do</strong> a crônica, ao passo<br />

que ao ilustre autor da Vie de Jésus caberia toda a glória da publicação e seus<br />

comentários.<br />

10


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Ora, eu me julgava bem prepara<strong>do</strong> para publicar a tradução da crônica, fazen<strong>do</strong>-a<br />

acompanhar de notas minhas; declinei, pois, da proposta que me fizera Renan. Para<br />

não ferir a susceptibilidade <strong>do</strong> grande mestre, que respeito profundamente, resolvi<br />

aguardar-lhe a morte, acontecimento fatal que não devia tardar, a julgar por sua fraqueza<br />

geral.<br />

Pouco depois da morte de Renan, escrevi a Jules Simon para pedir-lhe a opinião. Ele me<br />

respondeu que me competia julgar da oportunidade de fazer aparecer as memórias.<br />

Pus, então, em ordem, minhas notas, reservan<strong>do</strong>-me o direito de provar a autenticidade<br />

dessas crônicas.<br />

Desenvolvo aqui os argumentos que devem convencer-nos da sinceridade e boa-fé <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

compila<strong>do</strong>res budistas. Junto, também, provas que atestam minha boa-fé e minha própria<br />

sinceridade. Os maldizentes me demonstraram que essas provas, que eu havia julga<strong>do</strong><br />

inúteis em 1894, se tornaram necessárias em 1899.<br />

Desejaria juntar provas ainda mais materiais: quero falar de fotografias muito curiosas<br />

que bati no decurso de minhas excursões e que teriam fala<strong>do</strong> a meu respeito às pessoas<br />

mais desconfiadas. Infelizmente, quan<strong>do</strong> de minha volta da Índia, examinei os negativos<br />

e verifiquei que haviam fica<strong>do</strong> completamente estraga<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

Foi por isto que, para ilustrar meu livro, recorri à extrema gentileza de meu amigo, o Sr.<br />

d’Auvergne, que havia feito várias viagens ao Himalaia e que, graciosamente, me ofereceu<br />

algumas provas.<br />

Passo, sem mais delongas, ao prometi<strong>do</strong> resumo da “Vida de Santo Issa”, segun<strong>do</strong> os<br />

<strong>do</strong>cumentos tibetanos, que, a seguir, transcreverei em sua forma de versículos:<br />

Os <strong>do</strong>is manuscritos em que o lama <strong>do</strong> convento de Himis leu, para que o autor ouvisse,<br />

tu<strong>do</strong> o que se relaciona com <strong>Jesus</strong>, formam coleções de cópias diversas, escritas em língua<br />

tibetana, tradução de alguns rolos pertencentes à biblioteca de Lhassa e trazi<strong><strong>do</strong>s</strong> da Índia,<br />

<strong>do</strong> Nepal e de Magada, lá para o ano 200 depois de Cristo, para um convento construí<strong>do</strong> no<br />

monte Marbur, perto da cidade de Lhassa, onde então residia o Dalai-Lama.<br />

Esses rolos foram escritos em língua pali, que certos lamas estudavam ainda, a fim de<br />

poderem fazer traduções em dialeto tibetano. Os cronistas eram budistas pertencentes à<br />

seita <strong>do</strong> buda Goutama.<br />

Tais crônicas contêm a descrição da vida e das obras <strong>do</strong> “melhor <strong><strong>do</strong>s</strong> filhos <strong><strong>do</strong>s</strong> homens”,<br />

santo Issa, um sábio israelita que, ten<strong>do</strong> vivi<strong>do</strong> muitos anos entre os sacer<strong>do</strong>tes brâmanes<br />

e budistas, voltou para o seu país, onde foi condena<strong>do</strong> à morte por ordem <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r<br />

romano Pôncio Pilatos, depois de ter si<strong>do</strong> duas vezes absolvi<strong>do</strong> por um tribunal composto<br />

de sábios e anciãos da Judéia. As narrações conservadas nesses antiqüíssimos <strong>do</strong>cumentos,<br />

redigi<strong><strong>do</strong>s</strong> segun<strong>do</strong> o testemunho de merca<strong>do</strong>res vin<strong><strong>do</strong>s</strong> da Judéia, com a notícia <strong>do</strong> martírio<br />

de santo Issa, assemelham-se, em quase to<strong><strong>do</strong>s</strong> os pontos, às <strong><strong>do</strong>s</strong> Evangelhos e mantêm<br />

um nexo iniludível de analogia com., o que se sabe da vida de <strong>Jesus</strong>.<br />

Em resumo, e seguin<strong>do</strong> tanto quanto possível a letra <strong><strong>do</strong>s</strong> textos traduzi<strong><strong>do</strong>s</strong>, essas crônicas<br />

budistas nos dizem que um jovem israelita, já conheci<strong>do</strong> na Galiléia <strong>aos</strong> treze anos “pelos<br />

discursos edificantes em nome <strong>do</strong> To<strong>do</strong> Poderoso”, aban<strong>do</strong>nou ocultamente, naquela idade,<br />

a casa paterna, e, numa caravana de merca<strong>do</strong>res, tomou o caminho da Índia “para se<br />

aperfeiçoar na palavra divina e estudar as leis <strong><strong>do</strong>s</strong> grandes Budas.<br />

11


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Chegan<strong>do</strong> à Índia, os Djainitas, impressiona<strong><strong>do</strong>s</strong> com a profunda sabe<strong>do</strong>ria e alta inspiração<br />

<strong>do</strong> jovem peregrino israelita, procuraram atraí-lo para a sua seita, mas Issa se afastou<br />

pouco tempo depois para Djaguernat, onde os padres brâmanes o acolheram com carinho<br />

e lhe “ensinaram a ler e compreender os Vedas, a curar com o auxílio de preces, a ensinar<br />

e a explicar a Escritura Sagrada ao povo, a expulsar o espírito maligno <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong> homem<br />

e a lhe restituir a forma humana”. Em Djaguernat passou seis anos. No começo, a língua <strong>do</strong><br />

país, o sânscrito, as <strong>do</strong>utrinas religiosas, a filosofia, a medicina e as matemáticas constituem<br />

o objetivo de seus estu<strong><strong>do</strong>s</strong> prediletos. Depois, suas prédicas, dirigidas de preferência às<br />

classes miseráveis <strong><strong>do</strong>s</strong> sudras, seus ataques reitera<strong><strong>do</strong>s</strong> à hierarquia <strong><strong>do</strong>s</strong> deuses que<br />

desnaturava o princípio <strong>do</strong> monoteísmo, a negação da origem divina <strong><strong>do</strong>s</strong> Vedas irritaram<br />

profundamente os padres brâmanes e os guerreiros, que resolveram dar- lhe morte. Avisa<strong>do</strong><br />

em tempo pelos discípulos que a sua bondade e a magia da sua palavra tinham conquista<strong>do</strong>,<br />

o jovem profeta encaminhou-se para as montanhas <strong>do</strong> Nepal, onde o Budismo florescia em<br />

to<strong>do</strong> o seu esplen<strong>do</strong>r.<br />

O princípio da unidade divina era ali religiosamente conserva<strong>do</strong> em sua pureza primitiva já<br />

há quinhentos anos; quan<strong>do</strong> o Príncipe Çakia-Muni fundara a <strong>do</strong>utrina budista. Seis anos<br />

depois, Issa, já prepara<strong>do</strong> para a explicação <strong><strong>do</strong>s</strong> livros sagra<strong><strong>do</strong>s</strong> e inicia<strong>do</strong> nas <strong>do</strong>utrinas e<br />

práticas religiosas <strong><strong>do</strong>s</strong> sacer<strong>do</strong>tes budistas, resolveu tornar ao seu país. Completara 26<br />

anos. As notícias das humilhações <strong><strong>do</strong>s</strong> seus compatriotas e das calamidades que<br />

devastavam a terra que ele deixara em criança decidiram-no a aban<strong>do</strong>nar a Índia. Dirigiuse<br />

primeiro para o oeste, pregan<strong>do</strong> a povos diferentes a suprema perfeição <strong>do</strong> homem e<br />

combaten<strong>do</strong> a i<strong>do</strong>latria e os sacrifícios humanos.<br />

A fama de sua palavra magnética espalhava-se pelos países vizinhos e, quan<strong>do</strong> Issa entrou<br />

na Pérsia, os sacer<strong>do</strong>tes locais, receosos <strong>do</strong> poder sugestivo das prédicas <strong>do</strong> peregrino<br />

israelita, proibiram <strong>aos</strong> habitantes de acompanhá-lo e ouvi-lo.<br />

Os a<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>res de Zoroastro fizeram-no prender e submeter a um longo interrogatório,<br />

depois <strong>do</strong> qual o profeta foi conduzi<strong>do</strong>, à noite, fora das portas da cidade e aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> na<br />

estrada, na esperança de que as feras saberiam completar a sentença que os sacer<strong>do</strong>tes<br />

persas não tinham ousa<strong>do</strong> pronunciar.<br />

O profeta seguiu viagem, despertan<strong>do</strong> entusiasmo e alegria por campos e cidades, onde<br />

uma multidão, sempre nova, vibrava ao calor de sua palavra iluminada.<br />

Aos 29 anos de idade, apareceu Issa no país de Israel, a terra <strong><strong>do</strong>s</strong> seus antepassa<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

Diante <strong>do</strong> seu povo, cumula<strong>do</strong> de infortúnios e agita<strong>do</strong> pela perspectiva <strong>do</strong> advento de um<br />

messias anuncia<strong>do</strong> pelos profetas para restabelecer o reino de Israel, ele aconselhou a<br />

humildade e a paciência pois o “dia da redenção <strong><strong>do</strong>s</strong> peca<strong><strong>do</strong>s</strong> estava próximo”.<br />

Milhares de pessoas o seguiam, anima<strong><strong>do</strong>s</strong> da esperança de libertação e da restauração <strong>do</strong><br />

seu antigo culto e da crença <strong><strong>do</strong>s</strong> seus ancestrais.<br />

Os chefes das cidades por onde a palavra <strong>do</strong> profeta ia deitan<strong>do</strong> um sulco de fogo, inquietos<br />

com a sua popularidade crescente e assusta<strong>do</strong>ra, queixaram-se ao governa<strong>do</strong>r romano<br />

Pôncio Pilatos, residente em Jerusalém, que as pregações de Issa levantavam o povo que o<br />

ouvia e assim negligenciava os serviços <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

Insinuaram-lhe a necessidade e a conveniência de impedir, por qualquer forma, a<br />

continuação daquele esta<strong>do</strong> de coisas, cujos resulta<strong><strong>do</strong>s</strong> poderiam ser funestos à<br />

administração romana daquela província conquistada.<br />

Pilatos, não ven<strong>do</strong> em Issa mais <strong>do</strong> que um agita<strong>do</strong>r, ordenou-lhe a prisão e, para não<br />

exasperar o povo que o acompanhava por toda a parte, decidiu que o trouxessem a<br />

Jerusalém, a fim de ser julga<strong>do</strong> no templo, pelos velhos sacer<strong>do</strong>tes hebreus e sábios anciãos.<br />

12


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Nesse ínterim, Issa, que continuava a pregar de cidade em cidade, chegou a Jerusalém,<br />

cujos habitantes acorreram em massa ao seu encontro, ansiosos por ouvir de sua boca as<br />

palavras inflamadas com que ele havia mitiga<strong>do</strong> os infortúnios das outras cidades de<br />

Israel.<br />

Os padres e os anciãos foram encarrega<strong><strong>do</strong>s</strong> por Pilatos <strong>do</strong> julgamento <strong>do</strong> profeta no templo.<br />

Depois de ouvirem de sua própria boca a declaração de que não procurava levantar o povo<br />

de Israel contra as autoridades constituídas, mas que voltara de lugares distantes, onde<br />

fora habitar em criança, para recordar <strong>aos</strong> israelitas a fé de seus antepassa<strong><strong>do</strong>s</strong> e o<br />

restabelecimento das leis mosaicas, eles se apresentaram ao governa<strong>do</strong>r romano e lhe<br />

comunicaram ter absolvi<strong>do</strong> o prega<strong>do</strong>r judeu pela falsidade das acusações que lhe eram<br />

imputadas.<br />

Pilatos, encoleriza<strong>do</strong> com o procedimento <strong><strong>do</strong>s</strong> veneráveis juízes, fez acompanhar o profeta<br />

de espiões encarrega<strong><strong>do</strong>s</strong> de recolherem todas as palavras que ele dirigisse ao povo.<br />

Issa prosseguiu em sua missão pelas cidades vizinhas, indican<strong>do</strong> os verdadeiros caminhos<br />

<strong>do</strong> Cria<strong>do</strong>r, exortan<strong>do</strong> os hebreus à paciência, prometen<strong>do</strong>-lhes uma pronta libertação e<br />

explican<strong>do</strong> àqueles em que reconhecia assoldada<strong><strong>do</strong>s</strong> pelo governa<strong>do</strong>r que to<strong><strong>do</strong>s</strong> eles não<br />

seriam libertos <strong>do</strong> poder de César mas <strong><strong>do</strong>s</strong> erros grosseiros em que as suas almas viviam<br />

mergulhadas.<br />

Três anos durou o ministério de Issa. A sua popularidade crescia e era ti<strong>do</strong> como o Messias<br />

liberta<strong>do</strong>r anuncia<strong>do</strong> pelos profetas. O governa<strong>do</strong>r romano, a quem os espiões declararam<br />

nada ter ouvi<strong>do</strong> que parecesse uma instigação à revolta contra as autoridades constituídas,<br />

encarregou os solda<strong><strong>do</strong>s</strong> de o prenderem e conduzirem a um subterrâneo onde foi tortura<strong>do</strong><br />

na intenção de se lhe arrancar uma confissão compromete<strong>do</strong>ra. Os sacer<strong>do</strong>tes e os anciãos,<br />

informa<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> martírios infligi<strong><strong>do</strong>s</strong> ao seu profeta e da resistência heróica oposta a to<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

os meios emprega<strong><strong>do</strong>s</strong> para fazê-lo falar, dirigiram-se ao governa<strong>do</strong>r romano com o pedi<strong>do</strong><br />

de o mandar pôr em liberdade na ocasião da festa da Páscoa, que se aproximava. Pilatos<br />

recusou peremptoriamente a ceder <strong>aos</strong> pedi<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> velhos sacer<strong>do</strong>tes, mas consentiu em<br />

que Issa comparecesse diante <strong>do</strong> Tribunal <strong><strong>do</strong>s</strong> Anciãos para ser, em definitivo, julga<strong>do</strong><br />

antes da próxima festa.<br />

Fizeram-no retirar da prisão, em lastimável esta<strong>do</strong> de fraqueza, por motivo das torturas<br />

sofridas. Senta<strong>do</strong> entre <strong>do</strong>is ladrões,. que deviam ser julga<strong><strong>do</strong>s</strong> ao mesmo tempo para atenuar<br />

a importância de um acontecimento que apaixonava a população, diante <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r<br />

romano, que presidia o Tribunal, e <strong><strong>do</strong>s</strong> principais capitães, sacer<strong>do</strong>tes, sábios anciãos e<br />

legistas, Issa foi submeti<strong>do</strong> a um longo interrogatório <strong>do</strong> qual sobressaiu sua completa<br />

inocência. O governa<strong>do</strong>r, irrita<strong>do</strong> com a altivez de suas respostas, exigiu que os juízes<br />

pronunciassem a pena capital. Os anciãos recusaram proferir essa sentença iníqua diante<br />

das declarações ouvidas de to<strong><strong>do</strong>s</strong>. Pilatos recorre ao derradeiro expediente que o seu espírito<br />

imaginara, para não deixar escapar a presa. Manda adiantar um <strong><strong>do</strong>s</strong> seus espiões, que<br />

afirma ter ouvi<strong>do</strong> <strong>do</strong> profeta a anunciação <strong>do</strong> reino de Israel sobre a terra <strong>do</strong> qual Issa se<br />

intitulava Chefe Supremo.<br />

A cena narrada pelas crônicas budistas é de uma grandeza serena e única na história.<br />

“Sereis per<strong>do</strong>a<strong>do</strong>”, disse o profeta ao trai<strong>do</strong>r, “porque o que dizeis não vem de vós”, e,<br />

depois, dirigin<strong>do</strong>-se a Pilatos: “Por quê humilhais vossa dignidade e induzis vossos inferiores<br />

à mentira, quan<strong>do</strong>, sem ela, tendes o poder de condenar um inocente?” A estas palavras,<br />

Pilatos, esqueci<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu cargo, exigiu <strong><strong>do</strong>s</strong> Anciãos a condenação de Issa e a absolvição<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong>is ladrões.<br />

<strong>13</strong>


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Os velhos juízes, depois de se consultarem entre si, declararam solenemente não assumir<br />

a responsabilidade de condenar um inocente, levantaram-se e; depois de lavarem as mãos<br />

num vaso sagra<strong>do</strong>, saíram anuncian<strong>do</strong>: “Somos inocentes da morte <strong>do</strong> justo”.<br />

O profeta e os <strong>do</strong>is ladrões foram crucifica<strong><strong>do</strong>s</strong> no mesmo dia, por ordem de Pilatos, e os<br />

seus corpos ficaram suspensos nas cruzes sob a guarda de solda<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

Ao pôr-<strong>do</strong>-sol, extinguiram-se os sofrimentos de Issa. Ele perdeu os senti<strong><strong>do</strong>s</strong> e a alma<br />

desse justo se separou <strong>do</strong> corpo para ir fundir-se na Divindade.<br />

Assim terminaram os dias de santo Issa “reflexo <strong>do</strong> Espírito eterno sob a forma de um<br />

homem que tinha redimi<strong>do</strong> peca<strong>do</strong>res endureci<strong><strong>do</strong>s</strong>, padecen<strong>do</strong> tantos sofrimentos”.<br />

O governa<strong>do</strong>r romano, assusta<strong>do</strong> com a severidade <strong>do</strong> seu proceder, man<strong>do</strong>u entregar o<br />

corpo <strong>do</strong> profeta <strong>aos</strong> parentes para o sepultarem perto <strong>do</strong> lugar <strong>do</strong> suplício. Em breve, toda<br />

uma multidão gemente e lacrimosa acorria em peregrinação ao santo sepulcro.<br />

Três dias após, Pilatos, a quem tinha chega<strong>do</strong> rumores de um levante popular, ordenou a<br />

seus solda<strong><strong>do</strong>s</strong> que retirassem, à noite, secretamente, o corpo de Issa <strong>do</strong> sepulcro e o<br />

enterrassem em um lugar afasta<strong>do</strong>.<br />

No dia seguinte, encontra<strong>do</strong> o túmulo aberto e vazio, propalou-se que “O Juiz Supremo<br />

recolhera, pelos seus anjos, os restos mortais <strong>do</strong> santo, no qual tinha habita<strong>do</strong>, sobre a<br />

terra, uma partícula <strong>do</strong> espírito divino”.<br />

Pilatos, enfureci<strong>do</strong> com a nova feição <strong><strong>do</strong>s</strong> acontecimentos, começou a mover uma cruel<br />

perseguição contra os mais íntimos discípulos de Issa, que foram obriga<strong><strong>do</strong>s</strong> a deixar o país<br />

de Israel e pregar a outros povos o aban<strong>do</strong>no <strong><strong>do</strong>s</strong> seus erros grosseiros, a purificação das<br />

suas almas e a “felicidade perfeita que aguarda os homens no mun<strong>do</strong> espiritual, onde, em<br />

repouso e em toda a sua pureza, reside, numa majestade perfeita, o grande Cria<strong>do</strong>r”.<br />

Os pagãos, termina a vetusta crônica, seus reis e seus guerreiros, ouviram os prega<strong>do</strong>res,<br />

aban<strong>do</strong>naram as crenças absurdas que professavam, renegaram seus sacer<strong>do</strong>tes e í<strong>do</strong>los<br />

para celebrar os louvores <strong>do</strong> muito sábio Cria<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Universo, <strong>do</strong> Rei <strong><strong>do</strong>s</strong> Reis, cujo coração<br />

está cheio de misericórdia infinita.<br />

Assim falam, em suas linhas gerais, as narrações arquivadas nos antigos manuscritos<br />

budistas, acha<strong><strong>do</strong>s</strong> no Tibet.<br />

Essa narrativa preenche a lacuna de 17 anos que existe na vida de <strong>Jesus</strong>-Cristo,<br />

começan<strong>do</strong> no vers. 52 <strong>do</strong> Capítulo 2 <strong>do</strong> Evangelho segun<strong>do</strong> Lucas: “E crescia <strong>Jesus</strong> em sabe<strong>do</strong>ria<br />

e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” e in<strong>do</strong> até o vers. 23 <strong>do</strong> Capítulo 3 <strong>do</strong><br />

mesmo Evangelho: “E o mesmo <strong>Jesus</strong> começava a ser de quase trinta anos”. Sobre a qual o Novo<br />

Testamento nada nos diz.<br />

A seguir, pois, a vida de <strong>Jesus</strong>, resumida acima. segun<strong>do</strong> os versículos <strong><strong>do</strong>s</strong> manuscritos<br />

tibetanos.<br />

14


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

A Vida de Santo Issa<br />

I<br />

1 - A terra estremeceu e os céus choraram por causa <strong>do</strong> grande crime que acabava<br />

de ser cometi<strong>do</strong> no país de Israel.<br />

2 - Porque acabava de ser ali tortura<strong>do</strong> e executa<strong>do</strong> o grande justo Issa, em que<br />

residia a alma <strong>do</strong> Universo.<br />

3 - A qual se encarnara em um simples mortal a fim de fazer bem <strong>aos</strong> homens e de<br />

exterminar os maus pensamentos.<br />

4 - E de conduzir à vida da paz, <strong>do</strong> amor e <strong>do</strong> bem o homem degrada<strong>do</strong> pelos<br />

peca<strong><strong>do</strong>s</strong>, recordan<strong>do</strong>-lhe o único e indivisível Cria<strong>do</strong>r cuja misericórdia é<br />

infinita.<br />

5 - Eis o que contam a respeito merca<strong>do</strong>res vin<strong><strong>do</strong>s</strong> de Israel.<br />

II<br />

1 - O povo de Israel, que habitava um solo fértil, dan<strong>do</strong> duas colheitas por ano e<br />

que possuía grandes rebanhos, provocou, por seus peca<strong><strong>do</strong>s</strong>, a justiça de Deus.<br />

2 - Que lhe infligiu um castigo terrível, arrebatan<strong>do</strong>-lhe a terra, o ga<strong>do</strong> e toda a<br />

sua fortuna; Israel foi reduzi<strong>do</strong> à escravidão por ricos e poderosos faraós que<br />

reinavam, então, no Egito.<br />

3 - Esses trataram os israelitas pior <strong>do</strong> que a animais, os sobrecarregaram de<br />

trabalhos difíceis e os puseram a ferro. Cobriram seus corpos de feridas e<br />

chagas, sem lhes dar alimentos, nem lhes permitir que tivessem um teto.<br />

4 - A fim de os manter em um esta<strong>do</strong> de terror contínuo e de lhes tirar toda a<br />

semelhança humana.<br />

5 - Em sua grande calamidade, o povo de Israel, lembran<strong>do</strong>-se de seu protetor<br />

celestial, se dirigiu a ele e lhe implorou graça e misericórdia.<br />

6 - Um ilustre faraó reinava então no Egito, o qual ficou célebre por suas<br />

numerosas vitórias, pelas riquezas que acumulara e os vastos palácios que seus<br />

escravos erigiram por suas próprias mãos.<br />

7 - Esse faraó tinha <strong>do</strong>is filhos, <strong><strong>do</strong>s</strong> quais o mais moço se chamava Mossa. Sábios<br />

israelitas lhe ensinaram diversas ciências.<br />

8 - Mossa era ama<strong>do</strong> no Egito por causa de sua bondade e da compaixão que<br />

testemunhava a to<strong><strong>do</strong>s</strong> os que sofriam.<br />

9 - Ven<strong>do</strong> que os israelitas não queriam, apesar <strong><strong>do</strong>s</strong> intoleráveis sofrimentos que<br />

suportavam, aban<strong>do</strong>nar o seu Deus para a<strong>do</strong>rar aqueles que a mão <strong>do</strong> homem<br />

havia cria<strong>do</strong>, os quais eram os deuses da nação egípcia.<br />

15


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

10 - Mossa acreditou no Deus invisível deles, que lhes não deixava abater as fracas<br />

forças.<br />

11 - E os preceptores israelitas animaram o ar<strong>do</strong>r de Mossa e recorreram a ele,<br />

pedin<strong>do</strong>-lhe para interceder junto ao faraó, seu pai, em favor de seus<br />

correligionários.<br />

12 - O príncipe Mossa pediu então a seu pai que abrandasse a sorte <strong><strong>do</strong>s</strong> desgraça<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

israelitas, mas o faraó levantou-se em cólera contra ele e aumentou os<br />

tormentos que já suportavam esses escravos.<br />

<strong>13</strong> - Aconteceu que pouco tempo depois uma grande desgraça visitou o Egito: a<br />

peste ali dizimou jovens e velhos, sãos e <strong>do</strong>entes, e o faraó acreditou em um<br />

ressentimento de seus próprios deuses contra ele.<br />

14 - Porém o príncipe Mossa disse a seu pai que era o Deus de seus escravos que<br />

intercedia em favor desses infelizes e punia os egípcios.<br />

15 - O faraó intimou então a Mossa, seu filho, a tomar to<strong><strong>do</strong>s</strong> os escravos da raça<br />

judia e os conduzir fora da cidade, e fosse fundar, a uma grande distância da<br />

capital, outra cidade e que ficasse com eles.<br />

16 - Mossa fez saber <strong>aos</strong> escravos hebreus que ele os havia forra<strong>do</strong> em nome <strong>do</strong> seu<br />

Deus, o Deus de Israel. Deixou com eles a cidade e a terra <strong>do</strong> Egito.<br />

17 - E os conduziu para a terra que haviam perdi<strong>do</strong> por seus peca<strong><strong>do</strong>s</strong>, deu-lhes leis<br />

e lhes recomen<strong>do</strong>u que orassem sempre ao Cria<strong>do</strong>r invisível cuja bondade é<br />

infinita.<br />

18 - Com a morte <strong>do</strong> príncipe Mossa, os israelitas observaram-lhe rigorosamente as<br />

leis e assim Deus os recompensou <strong><strong>do</strong>s</strong> males a que os expusera no Egito.<br />

19 - Seu reino tornou-se o mais poderoso de toda a terra, seus reis foram célebres<br />

por seus tesouros e uma longa paz reinou entre o povo de Israel.<br />

III<br />

1 – A fama das riquezas de Israel espalhou-se por toda a terra e as nações vizinhas<br />

começaram a ter-lhe inveja.<br />

2 - Mas o Altíssimo protegeu as armas vitoriosas <strong><strong>do</strong>s</strong> hebreus e os pagãos não<br />

ousaram atacá-los.<br />

3 - Infelizmente, como o homem não obedece sempre a si mesmo, a fidelidade <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

hebreus a seu Deus não durou muito tempo.<br />

4 - Começaram por esquecer to<strong><strong>do</strong>s</strong> os favores com que foram cumula<strong><strong>do</strong>s</strong>, não<br />

invocavam senão raramente o nome de Deus e pediam proteção a mágicos e<br />

feiticeiros.<br />

5 - Os reis e os capitães substituíram as leis que lhes foram dadas por Mossa<br />

pelas deles, o templo de Deus e as práticas <strong>do</strong> culto foram aban<strong>do</strong>na<strong><strong>do</strong>s</strong>, o povo<br />

entregou-se <strong>aos</strong> prazeres e perdeu sua pureza anterior.<br />

6 - Vários séculos haviam escoa<strong>do</strong> depois de sua saída <strong>do</strong> Egito quan<strong>do</strong> Deus<br />

começou novamente a puni-los por seus peca<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

16


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

7 - Estrangeiros começaram a invadir o país de Israel, devastan<strong>do</strong> terras,<br />

arruinan<strong>do</strong> aldeias e conduzin<strong>do</strong> seus habitantes ao cativeiro.<br />

8 - Chegaram, certo dia, pagãos d’além mar, <strong>do</strong> país <strong><strong>do</strong>s</strong> romanos, submeteram os<br />

hebreus e instituíram chefes de exércitos que, por delegação <strong>do</strong> César, os<br />

governaram.<br />

9 - Destruíram os templos e obrigaram os habitantes a não mais a<strong>do</strong>rar o Deus<br />

invisível, mas a sacrificar vítimas <strong>aos</strong> deuses pagãos.<br />

10 - Fizeram guerreiros <strong><strong>do</strong>s</strong> que eram nobres, arrebataram esposas a seus mari<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

e o baixo povo, reduzi<strong>do</strong> à escravidão, foi envia<strong>do</strong> <strong>aos</strong> milhares por além mares.<br />

11 - Quanto às crianças, foram passadas a fio de espada; bem logo, em to<strong>do</strong> o país<br />

de Israel, só se escutaram soluços e gemi<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

12 - Em sua tristeza extrema, eles se lembraram <strong>do</strong> seu grande Deus, imploraramlhe<br />

a graça e lhe suplicaram perdão. Nosso Pai, em sua inesgotável, escutoulhes<br />

a prece.<br />

IV<br />

1 - Nesse tempo, chegou o momento em que o juiz, cheio de clemência, escolhera<br />

para encarnar-se em um ser humano.<br />

2 - E o Espírito eterno, que permanecia em esta<strong>do</strong> de repouso completo e de<br />

beatitude suprema, se despertou e se destacou, por um tempo indetermina<strong>do</strong>,<br />

<strong>do</strong> Ser eterno.<br />

3 - A fim de indicar, revestin<strong>do</strong> a imagem humana, os meios de se identificar com<br />

a Divindade e alcançar a felicidade eterna.<br />

4 - Para mostrar, com seu exemplo, como se podia chegar à pureza moral e<br />

separar a alma <strong>do</strong> seu invólucro grosseiro, a fim de que ela atingisse o esta<strong>do</strong> de<br />

perfeição necessária para alcançar o reino <strong>do</strong> céu, que é imutável, e onde reina a<br />

felicidade eterna.<br />

5 - Logo depois, uma criança maravilhosa nasceu na terra de Israel; Deus, pela<br />

boca dessa criança, falava das misérias corporais e da grandeza da alma.<br />

6 - Os pais <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong> eram pessoas pobres, pertencentes, por seu<br />

nascimento, a uma família de notável piedade, que recordava sua antiga<br />

grandeza na terra para exaltar o nome <strong>do</strong> Cria<strong>do</strong>r e lhe agradecer os castigos<br />

que lhes aprouvera enviar.<br />

7 - Para recompensá-la por não se ter deixa<strong>do</strong> desviar <strong>do</strong> caminho da verdade,<br />

Deus abençoou o primogênito dessa família, escolheu-o para seu eleito e o<br />

enviou para sustentar os que haviam caí<strong>do</strong> no mal e curar os que sofriam.<br />

8 - A criança divina, a quem se deu o nome de Issa, começou, desde a mais tenra<br />

idade, a falar <strong>do</strong> Deus único e invisível, exortan<strong>do</strong> as almas transviadas a se<br />

arrependerem e a se purificarem <strong><strong>do</strong>s</strong> peca<strong><strong>do</strong>s</strong> que haviam cometi<strong>do</strong>.<br />

9 - Pessoas vinham escutá-lo de todas as partes e se maravilhavam das sentenças<br />

que saíam da boca <strong>do</strong> menino; to<strong><strong>do</strong>s</strong> os israelitas eram acordes em dizer que o<br />

Espírito eterno habitava o corpo dele.<br />

17


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

10 - Quan<strong>do</strong> Issa atingiu a idade de treze anos, idade em que o israelita devia<br />

casar- se.<br />

11 - A casa em que seus país ganhavam a vida, mediante um trabalho modesto,<br />

começou a ser lugar de reunião de pessoas ricas e nobres que queriam ter por<br />

genro o jovem Issa, já célebre por seus discursos edificantes em nome <strong>do</strong> To<strong>do</strong><br />

Poderoso.<br />

12 - Foi então que o jovem Issa deixou ocultamente a casa paterna, saiu de<br />

Jerusalém e, em companhia de merca<strong>do</strong>res, se dirigiu em direção ao Sindh.<br />

<strong>13</strong> - Com o fim de aperfeiçoar-se na palavra divina e instruir-se nas leis <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

grandes budas.<br />

V<br />

1 - Quan<strong>do</strong> tinha 14 anos, o jovem Issa, abençoa<strong>do</strong> de Deus, desceu o Sindh e se<br />

estabeleceu entre os Árias, no país queri<strong>do</strong> de Deus.<br />

2 - A fama ia espalhar o nome da criança maravilhosa ao longo <strong>do</strong> Sindh setentrional;<br />

quan<strong>do</strong> ele atravessou o país <strong><strong>do</strong>s</strong> cinco rios e o Radjiputan, os adeptos <strong>do</strong> deus<br />

Djaine lhe pediram que permanecesse entre eles.<br />

3 - Ele, porém, aban<strong>do</strong>nou os a<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>res transvia<strong><strong>do</strong>s</strong> de Djaine e partiu para<br />

Djaguernat, no país de Orsis, onde jazem os despojos mortais de Viassa-Krishna e<br />

onde os padres brancos lhe fizeram cordial recepção.<br />

4 - Eles o ensinaram a ler e a compreender os Vedas, a curar com o auxílio da prece,<br />

a explicar a Escritura Sagrada ao povo, a expulsar o espírito maligno <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong><br />

homem e a lhe restituir a imagem humana.<br />

5 - Passou Issa seis anos em Djaguernat, em Radiagriha, em Benares e em outras<br />

cidades santas; to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> o amava, porque Issa vivia em paz com os Veisas e os<br />

Sudras, <strong>aos</strong> quais ensinava a Escritura Sagrada.<br />

6 - Os Brâmanes e os Kchatrias, porém, lhe disseram que o grande Parabrâma lhe<br />

proibia aproximar-se daqueles que havia cria<strong>do</strong> de seu ventre e de seus pés.<br />

7 - Que os Veisas só estavam autoriza<strong><strong>do</strong>s</strong> a ouvir a leitura <strong><strong>do</strong>s</strong> Vedas e isto apenas<br />

nos dias de festas.<br />

8 - Que era interdito <strong>aos</strong> Sudras não só o assistir à leitura <strong><strong>do</strong>s</strong> Vedas como até mesmo<br />

os contemplar, porque a condição deles era servir, para sempre e como escravos,<br />

os Brâmanes, os Kchatrias e os próprios Veisas.<br />

9 - “Só a morte pode libertá-los da servidão”, disse Parabrâma. “Deixá-los, pois, e<br />

vinde a<strong>do</strong>rar conosco os deuses que se irritarão contra vós se lhes desobedeceis”.<br />

10 - Issa, porém, não lhes escutou as advertências e foi entre os Sudras pregar contra<br />

o despotismo <strong><strong>do</strong>s</strong> Brâmanes e <strong><strong>do</strong>s</strong> Kchatrias.<br />

11 - Ele se levantou veementemente contra o direito que se arroga um homem de<br />

despojar seus semelhantes de seus direitos de homem, dizen<strong>do</strong>: “Deus, o Pai, não<br />

estabeleceu diferença alguma entre seus filhos, que lhe são to<strong><strong>do</strong>s</strong> igualmente caros”.<br />

12 - Issa negou a origem divina <strong><strong>do</strong>s</strong> Vedas e <strong><strong>do</strong>s</strong> Puranas, porque, ensinava ele <strong>aos</strong> que<br />

o seguiam, uma lei foi dada ao homem para guiá-los em suas ações.<br />

18


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

<strong>13</strong> - Temei vosso Deus, só <strong>do</strong>breis os joelhos diante dele só e levai-Lhe as oferendas<br />

que provenham de vossos ganhos”.<br />

14 - Issa negou a Trimurti e a encarnação de Parabrâma em Vishnu, em Siva e em<br />

outros deuses, porque dizia ele:<br />

15 - “O juiz eterno, o Espírito eterno, compõe a alma única e indivisível <strong>do</strong> Universo, a<br />

qual, sozinha, criou, contêm e vivifica o to<strong>do</strong>”.<br />

16 - “Só ele é que quis e criou, só ele é que existe desde a eternidade e cuja existência<br />

não terá fim; ele não tem semelhantes, nem no céu, nem na terra”.<br />

17 - “O grande Cria<strong>do</strong>r não dividiu seu poder com pessoa alguma, ainda menos com<br />

objetos inanima<strong><strong>do</strong>s</strong>, como vos foi ensina<strong>do</strong>, porque só ele é que possui a<br />

onipotência”.<br />

18 - “Ele quis e o mun<strong>do</strong> apareceu; por um pensamento divino ele reuniu as águas e<br />

delas separou as partes secas <strong>do</strong> globo. Ele é a causa da vida misteriosa <strong>do</strong> homem,<br />

em que soprou uma parte <strong>do</strong> seu ser”.<br />

19 - “Ele subordinou ao homem as terras, as águas, os animais e tu<strong>do</strong> que criou e que<br />

sozinho conserva em ordem imutável, fixan<strong>do</strong> para cada coisa sua duração própria”.<br />

20 - “A justiça de Deus descerá breve sobre o homem porque ele esqueceu seu Cria<strong>do</strong>r,<br />

porque encheu seus templos de abominações e a<strong>do</strong>ra uma multidão de criaturas<br />

que Deus lhe subordinou”.<br />

21 - Porque, para agradar a pedras e metais, o homem sacrifica seres humanos, nos<br />

quais reside uma parte <strong>do</strong> espírito <strong>do</strong> Altíssimo”.<br />

22 - Porque humilha o que trabalha com o suor de sua fronte para adquirir o favor <strong>do</strong><br />

preguiçoso que está senta<strong>do</strong> em uma mesa cheia de iguarias”.<br />

23 - “Aqueles que privam seus irmãos da felicidade divina por sua vez serão dela<br />

priva<strong><strong>do</strong>s</strong>, e os Brâmanes e os Kchatrias tornar-se-ão os Sudras <strong><strong>do</strong>s</strong> Sudras”.<br />

24 - “Porque no dia <strong>do</strong> juízo final, os Sudras e os Veisas serão per<strong>do</strong>a<strong><strong>do</strong>s</strong> por causa de<br />

sua ignorância e Deus, ao contrário, fará cair sua punição sobre aqueles que se<br />

arrogaram direitos divinos”.<br />

25 - Os Veisas e os Sudras ficaram toma<strong><strong>do</strong>s</strong> de viva admiração e perguntaram a Issa<br />

como era preciso orar para que não perdessem a felicidade.<br />

26 - “Não a<strong>do</strong>reis os í<strong>do</strong>los porque eles não vos ouvem; não escuteis os Vedas porque a<br />

Verdade nele está adulterada; não vos creiais os primeiros em to<strong>do</strong> lugar e não<br />

humilheis o vosso próximo”.<br />

27 - Ajudai os pobres, sustentai os fracos, não façais mal a quem quer que seja, não<br />

cobiceis o que não possuis e o que vedes em casa alheia”.<br />

VI<br />

1 - Os padres brancos e os guerreiros, ten<strong>do</strong> conhecimento das palavras que Issa<br />

dirigia <strong>aos</strong> Sudras, decidiram-lhe a morte e enviaram, como esse intuito, seus<br />

cria<strong><strong>do</strong>s</strong> para procurar o jovem profeta.<br />

19


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

2 - Issa, porém, avisa<strong>do</strong> <strong>do</strong> perigo pelos Sudras, deixou, ao cair da noite, os<br />

subúrbios de Djaguernat, ganhou a montanha e se fixou no país <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

Guatâmidas, onde viu a luz <strong>do</strong> dia o grande buda Çakia-Muni, no meio <strong>do</strong> povo<br />

que a<strong>do</strong>rava o único e sublime Brama.<br />

3 - Depois de ter aprendi<strong>do</strong> a falar com perfeição a língua pali, o justo Issa<br />

entregou-se ao estu<strong>do</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> rolos sagra<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> Sutras.<br />

4 - Seis anos após, Issa, que o Buda escolhera para espalhar a palavra santa,<br />

sabia explicar perfeitamente os rolos sagra<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

5 - Issa deixou então o Nepal e o monte Himalaia, desceu o vale <strong>do</strong> Radjiputan e se<br />

dirigiu para o oeste, pregan<strong>do</strong> a povos diversos a suprema perfeição <strong>do</strong> homem.<br />

6 - E o bem que é preciso fazer a seu próximo e que constitui o meio mais seguro<br />

para absorver-se rapidamente no Espírito eterno. “Aquele que recuperava sua<br />

pureza primitiva, dizia Issa, morria ten<strong>do</strong> obti<strong>do</strong> o perdão de suas faltas, e teria<br />

o direito de contemplar a figura majestosa de Deus”.<br />

7 - Atravessan<strong>do</strong> territórios pagãos, o divino Issa ensinou que a a<strong>do</strong>ração de<br />

deuses visíveis era contrária à lei natural.<br />

8 - “Porque o homem, dizia ele, não tivera em partilha o <strong>do</strong>m de ver a imagem de<br />

Deus e de construir uma multidão de divindades à semelhança <strong>do</strong> Eterno”.<br />

9 - “Além disso, é incompatível com a consciência humana fazer menos caso da<br />

grandeza da pureza divina <strong>do</strong> que de animais ou de obras executadas pela mão<br />

<strong>do</strong> homem em pedra ou metal”.<br />

10 - “O Eterno legisla<strong>do</strong>r é um; não há outros deuses senão Ele; Ele não dividiu o<br />

mun<strong>do</strong> com pessoa alguma, nem participou a ninguém de suas intenções.<br />

11 - Do mesmo mo<strong>do</strong> que um pai agiria para com seus filhos, da mesma maneira<br />

Deus julgará os homens depois da morte, segun<strong>do</strong> suas leis misericordiosas.<br />

Jamais Ele humilhará um seu filho, fazen<strong>do</strong> emigrar sua alma, como em um<br />

purgatório, no corpo de um animal”.<br />

12 - “A lei celeste, dizia o Cria<strong>do</strong>r pela boca de Issa, repudia a imolação de<br />

sacrifícios humanos a uma estátua ou a um animal, porque Eu subordinei ao<br />

homem to<strong><strong>do</strong>s</strong> os animais e tu<strong>do</strong> que contém o mun<strong>do</strong>”.<br />

<strong>13</strong> - “Tu<strong>do</strong> foi sacrifica<strong>do</strong> ao homem que deve estar direta e intimamente liga<strong>do</strong> a<br />

Mim seu Pai; assim será severamente julga<strong>do</strong> e castiga<strong>do</strong> pela lei divina aquele<br />

que me tiver arrebata<strong>do</strong> um filho”.<br />

14 - “O homem nada. é diante <strong>do</strong> Juiz eterno, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> que o animal o é<br />

perante o homem”. 15 - “É por isto que vos digo: Aban<strong>do</strong>nai vossos í<strong>do</strong>los e não<br />

executeis cerimônias que vos separam de nosso Pai e vos ligam a padres de<br />

quem o céu se apartou”.<br />

16 - “Porque são esses que vos separaram <strong>do</strong> verdadeiro Deus e cujas superstições<br />

e crueldade vos conduzem à perversão <strong>do</strong> espírito e à perda de to<strong>do</strong> o senso<br />

moral”.<br />

20


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

VII<br />

1 - As palavras de Issa, ten<strong>do</strong> se espalha<strong>do</strong> entre os pagãos <strong><strong>do</strong>s</strong> países que<br />

atravessava, fizeram com que eles aban<strong>do</strong>nassem seus í<strong>do</strong>los.<br />

2 - Isto ven<strong>do</strong>, os padres exigiram daquele que glorificava o nome <strong>do</strong> Deus<br />

verdadeiro provas, diante <strong>do</strong> povo, das censuras que lhes dirigia e a<br />

demonstração da nulidade de seus í<strong>do</strong>los.<br />

3 - E Issa lhes respondeu: “Se vossos í<strong>do</strong>los e vossos animais são poderosos e<br />

possuem realmente um poder sobrenatural, que eles me fulminem aqui neste<br />

lugar”.<br />

4 - “Fazei então um milagre, replicaram-lhe os padres, e que vosso Deus confunda<br />

os nossos, se eles lhe inspiram desgosto”.<br />

5 - Issa, porém, lhes replicou, dizen<strong>do</strong>: “Os milagres de nosso Deus começaram a<br />

se produzir desde o primeiro dia em que o Universo foi cria<strong>do</strong>; eles se produzem<br />

em cada dia, em cada momento; aquele que não os vê está priva<strong>do</strong> de um <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

mais belos <strong>do</strong>ns da vida”.<br />

6 - “Não é contra pedaços de pedras, de metais ou de paus, completamente<br />

inanima<strong><strong>do</strong>s</strong>, que a justiça de Deus se fará, mas ela recairá sobre homens cujos<br />

í<strong>do</strong>los precisam ser destruí<strong><strong>do</strong>s</strong> para sua salvação”.<br />

7 - “Do mesmo mo<strong>do</strong> que uma pedra e um grão de areia, nulos como são para o<br />

homem, até o momento em que os tome para deles fazer algo de útil”.<br />

8 - Assim o homem deve esperar o grande favor que lhe concederá Deus<br />

honran<strong>do</strong>-o com uma decisão”<br />

9 - “Porém, desgraça sobre vós, inimigos <strong><strong>do</strong>s</strong> homens, porque não é um favor que<br />

recebereis, mas, ao contrário, a justiça divina, desgraça sobre vós se esperais<br />

que ela ateste seu poder por meio de milagres”.<br />

10 - “Porque não serão os í<strong>do</strong>los que destruirá mas aqueles que os erigiram; seus<br />

corações ficarão presas <strong>do</strong> fogo eterno e seus corpos lacera<strong><strong>do</strong>s</strong> irão saciar o<br />

apetite de feras bravias”.<br />

11 - “Deus expulsará os animais contamina<strong><strong>do</strong>s</strong> de seus rebanhos, porém chamará a<br />

si aqueles que se transviaram por terem desconheci<strong>do</strong> a parcela celestial que<br />

neles habitava”.<br />

12 - Ven<strong>do</strong> a impotência de seus padres, os pagãos acreditaram em Issa e, tementes<br />

a Deus, despedaçaram seus í<strong>do</strong>los; quanto <strong>aos</strong> padres, esses fugiram para<br />

escapar à vingança popular.<br />

<strong>13</strong> - Issa ensinou ainda <strong>aos</strong> pagãos que não se esforçassem por ver o Espírito eterno,<br />

mas procurassem senti-lo pelo coração e, por uma alma verdadeiramente pura,<br />

buscassem tornar- se dignos de seus favores.<br />

14 - “Não somente, dizia-lhes ele, não executeis sacrifícios humanos, mas, em geral,<br />

não imoleis nenhum animal a que a vida foi dada, porque tu<strong>do</strong> que foi cria<strong>do</strong> o<br />

foi para ser útil ao homem”.<br />

15 - “Não furteis o bem alheio, porque seria levar de vosso próximo coisas que ele<br />

adquiriu com o suor de seu rosto”.<br />

21


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

16 - “Não enganeis a ninguém a fim de que não sejais também engana<strong><strong>do</strong>s</strong>. Procurai<br />

preparar-vos antes <strong>do</strong> juízo final, porque será então muito tarde”.<br />

17 - “Não vos entregueis à devassidão, porque seria violar as leis de Deus”.<br />

18 - “E alcançareis a beatitude suprema; não somente purifican<strong>do</strong>-vos mas ainda<br />

guian<strong>do</strong> os outros na senda que lhes permitirá conquistar a perfeição primitiva”.<br />

VIII<br />

1 - Os países vizinhos se encheram <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> das prédicas de Issa e, quan<strong>do</strong> ele<br />

penetrou na Pérsia, os padres ficaram com me<strong>do</strong> e proibiram os habitantes de<br />

ouvi-lo.<br />

2 - Porém, quan<strong>do</strong> viram todas as aldeias acolhê-lo com alegria e escutar-lhe<br />

religiosamente os sermões, deram ordem para que o prendessem e o<br />

conduzissem diante <strong>do</strong> grão-sacer<strong>do</strong>te, onde sofreu o seguinte interrogatório:<br />

3 - “De que novo Deus falais vós? Ignorais, desgraça<strong>do</strong>, que o santo Zoroastro é o<br />

único justo admiti<strong>do</strong> à honra de receber comunicações <strong>do</strong> Ser supremo?”<br />

4 - “O qual ordenou <strong>aos</strong> anjos que redigissem por escrito a palavra de Deus para<br />

uso de seu povo, leis essas que foram dadas a Zoroastro no paraíso”.<br />

5 - “Quem sois vós então que ousais blasfemar aqui contra nosso Deus e semear a<br />

dúvida no coração <strong><strong>do</strong>s</strong> crentes?”<br />

6 - E Issa lhes respondeu: “Não é de um novo Deus que falo, mas de nosso Pai<br />

Celestial, que existiu antes de to<strong>do</strong> o começo e existirá para to<strong>do</strong> o sempre”.<br />

7 - “Foi dele que falei ao povo que, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> que uma criança inocente, não<br />

está ainda em situação de compreendê-lo só pela força única da inteligência e<br />

de penetrar-lhe a sublimidade divina e espiritual”.<br />

8 - “Mas, da mesma maneira que um recém-nasci<strong>do</strong> reconhece no escuro o seio<br />

materno, assim vosso povo, que foi induzi<strong>do</strong> ao erro, reconheceu por instinto<br />

seu Pai no Pai <strong>do</strong> qual sou profeta”.<br />

9 - O Ser Eterno disse ao vosso povo, por minha boca: “Não a<strong>do</strong>reis o sol porque<br />

ele é uma parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que criei para o homem”.<br />

10 - “O sol se levanta a fim de vos aquecer durante o vosso trabalho; ele se deita<br />

para vos conceder o repouso que fixei para mim mesmo”.<br />

11 - “É a mim, e a mim só que deveis tu<strong>do</strong> que possuís, tu<strong>do</strong> que se acha ao re<strong>do</strong>r<br />

de vós, como acima de vós e abaixo de vós!”<br />

12 - Mas, disseram os padres, como poderia viver um povo segun<strong>do</strong> as regras da<br />

justiça se não tivesse preceptores?<br />

<strong>13</strong> - Issa lhes respondeu: “Quan<strong>do</strong> os povos não tinham padres, a lei natural os<br />

governou e eles conservaram a candura de suas almas”.<br />

14 - “Suas almas estavam em Deus e, para se entreterem com o Pai, não<br />

precisavam <strong>do</strong> auxílio intermediário de nenhum í<strong>do</strong>lo ou animal, nem <strong>do</strong> fogo,<br />

assim como fazeis”.<br />

22


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

15 - “Pretendeis que é preciso a<strong>do</strong>rar o sol, o gênio <strong>do</strong> Bem e <strong>do</strong> Mal. Vossa<br />

<strong>do</strong>utrina é detestável, vo-lo digo eu, porque o sol não age espontaneamente, mas<br />

pela vontade <strong>do</strong> Cria<strong>do</strong>r invisível que lhe deu começo”.<br />

16 - “E ele quis que esse astro iluminasse o dia e aquecesse o trabalho e as<br />

sementeiras <strong>do</strong> homem”.<br />

17 - “O Espírito Eterno é a alma de tu<strong>do</strong> que existe de anima<strong>do</strong>; cometeis um<br />

grande peca<strong>do</strong> fracionan<strong>do</strong>-o no espírito <strong>do</strong> Mal e o espírito <strong>do</strong> Bem, porque não<br />

existe Deus fora <strong>do</strong> Bem”.<br />

18 - “Quem semelhante a um pai de família não faz senão o bem a seus filhos, <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

quais per<strong>do</strong>a as faltas se se arrependerem?”<br />

19 - “O espírito <strong>do</strong> Mal reside na terra, no coração <strong><strong>do</strong>s</strong> homens que desviam os<br />

filhos de Deus <strong>do</strong> caminho reto”.<br />

20 - “É por isto que vos digo:” “Temei o dia <strong>do</strong> juízo porque Deus infligirá terrível<br />

castigo a to<strong><strong>do</strong>s</strong> aqueles que desviaram seus filhos <strong>do</strong> verdadeiro caminho e os<br />

encheram de superstições e preconceitos”.<br />

21 - “Aqueles que cegaram os vivos transmitiram o contágio <strong>aos</strong> de boa saúde e<br />

ensinaram o culto das coisas que Deus submeteu ao homem para seu próprio<br />

bem e para os auxiliar em seus trabalhos”.<br />

22 - “Vossa <strong>do</strong>utrina. é, pois, fruto de vossos erros, porque, desejan<strong>do</strong> aproximar de<br />

vós o Deus da Verdade, criastes falsos deuses”.<br />

23 - Após o terem ouvi<strong>do</strong>, os magos resolveram não lhe fazer mal algum. Pela noite,<br />

quan<strong>do</strong> toda a cidade repousava, eles o conduziram para fora <strong><strong>do</strong>s</strong> muros da<br />

cidade e o aban<strong>do</strong>naram no grande caminho, na esperança de que ele não<br />

tardaria em ser preso de feras.<br />

24 - Issa, porém, protegi<strong>do</strong> pelo senhor nosso Deus, continuou seu caminho sem<br />

acidentes.<br />

IX<br />

1 - Issa, que o Cria<strong>do</strong>r tinha escolhi<strong>do</strong> para recordar o verdadeiro Deus <strong>aos</strong><br />

humanos mergulha<strong><strong>do</strong>s</strong> nas depravações, tinha 29 anos quan<strong>do</strong> voltou ao país<br />

de Israel.<br />

2 - Depois da partida de Issa, os pagãos haviam feito os israelitas suportar<br />

sofrimentos ainda mais atrozes e estes se achavam toma<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> maior<br />

abatimento.<br />

3 - Muitos deles já tinham começa<strong>do</strong> a repudiar as leis de seu Deus e as de Mossa,<br />

na esperança de abrandar seus ferozes conquista<strong>do</strong>res.<br />

4 - Em vista de tal situação, Issa exortou seus compatriotas a não se<br />

desesperarem porque o dia da redenção <strong><strong>do</strong>s</strong> peca<strong><strong>do</strong>s</strong> estava próximo e lhes<br />

despertou a crença que haviam ti<strong>do</strong> no Deus de seus pais.<br />

5 - “Filhos, não vos entregueis ao desespero, dizia o Pai Celestial pela boca de Issa,<br />

porque escutei vossa voz e vossos lamentos chegaram até mim”.<br />

23


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

6 - “Não choreis mais, ó bem ama<strong><strong>do</strong>s</strong>, porque vossos soluços tocaram o coração de<br />

vosso Pai que vos per<strong>do</strong>ou, como per<strong>do</strong>ou vossos antepassa<strong><strong>do</strong>s</strong>”.<br />

7 - “Não aban<strong>do</strong>neis vossa família para vos entregardes à devassidão, não percais<br />

a nobreza de vossos sentimentos e não a<strong>do</strong>reis í<strong>do</strong>los que ficarão sur<strong><strong>do</strong>s</strong> à vossa<br />

voz”.<br />

8 - “Enchei meu templo com a vossa esperança e com a vossa paciência e não<br />

abjureis a religião de vossos pais, porque eu os guiei e cumulei de benefícios”.<br />

9 - “Levantai os que tombaram, dai de comer <strong>aos</strong> que têm fome e ide em auxílio<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> enfermos a fim de ficardes to<strong><strong>do</strong>s</strong> puros e sejais acha<strong><strong>do</strong>s</strong> justos no dia <strong>do</strong><br />

juízo final que eu vos preparo”.<br />

10 - Os israelitas acudiram em multidão para ouvir a palavra de Issa e lhe<br />

perguntaram onde deviam agradecer ao Pai Celestial, pois seus inimigos lhes<br />

tinham arrasa<strong>do</strong> os templos e rouba<strong>do</strong> os vasos sagra<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

11 - Issa lhes disse que Deus não considerava os templos edifica<strong><strong>do</strong>s</strong> pela mão <strong>do</strong><br />

homem, mas que ouvia os corações humanos, que são seus verdadeiros<br />

templos.<br />

12 - “Entrai em vosso templo, em vosso coração, iluminai-o com bons pensamentos<br />

e com paciência e a confiança inabaláveis que deveis ter por vosso Pai”.<br />

<strong>13</strong> - “E vossos vasos sagra<strong><strong>do</strong>s</strong> serão vossas mãos e vossos olhos; olhai e fazei o que<br />

é agradável a Deus, porque, fazen<strong>do</strong> bem ao vosso próximo, executais uma<br />

cerimônia que embeleza o templo onde mora Aquele que vos deu nascimento”.<br />

14 - “Porque Deus vos criou à sua semelhança, inocentes, simples, corações cheios<br />

de bondade e amor, não para a concepção de projetos maus, mas para serem o<br />

santuário <strong>do</strong> amor e da justiça”.<br />

15 - Não maculeis vosso coração, vo-lo digo eu, porque o Ser Eterno aí reside<br />

sempre”.<br />

16 - “Se quereis fazer obras cheias de piedade ou de amor, fazei-as com o coração<br />

grande e que vossa ação não seja movida pela esperança de recompensa ou por<br />

cálculo comercial”.<br />

17 - “Porque essa ação não vos aproximará da salvação e caireis então em um<br />

esta<strong>do</strong> de degradação moral em que o roubo, a mentira e o assassínio passarão<br />

por atos generosos”.<br />

X<br />

1 - Santo Issa ia de uma cidade a outra, levantan<strong>do</strong> pela palavra de Deus a<br />

coragem <strong><strong>do</strong>s</strong> israelitas que estavam prestes a sucumbir sob o peso <strong>do</strong><br />

desespero. Milhares de homens o seguiam para ouvir-lhe as prédicas.<br />

2 - Mas os chefes das cidades tiveram me<strong>do</strong> dele e fizeram saber ao governa<strong>do</strong>r<br />

principal, que residia em Jerusalém, que um homem chama<strong>do</strong> Issa havia<br />

chega<strong>do</strong> ao país, que sublevava o povo contra as autoridades com os seus<br />

sermões e que o povo o escutava assiduamente e esquecia os trabalhos <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>, acrescentan<strong>do</strong> que, dentro em pouco, ele seria desembaraça<strong>do</strong> de seus<br />

governa<strong>do</strong>res.<br />

24


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

3 - Então Pilatos, governa<strong>do</strong>r de Jerusalém, ordenou que prendessem o prega<strong>do</strong>r<br />

Issa, o conduzissem à cidade e o levassem à presença <strong><strong>do</strong>s</strong> juízes, todavia, para<br />

não excitar o descontentamento da população, Pilatos encarregou os padres e os<br />

sábios, velhos hebreus, de julgá-lo no templo.<br />

4 - Entrementes, Issa, continuan<strong>do</strong> suas pregações chegou a Jerusalém e, ten<strong>do</strong><br />

sabi<strong>do</strong> de sua vinda, to<strong><strong>do</strong>s</strong> os habitantes, que já o conheciam de nome,<br />

correram à sua presença.<br />

5 - Eles o saudaram respeitosamente e lhe abriram as portas <strong>do</strong> seu templo, a fim<br />

de ouvir de sua boca, o que havia dito em outras cidades de Israel.<br />

6 - E Issa lhes disse: A raça humana perece por causa de sua falta de fé, porque<br />

as trevas e as tempestades tresmalharam o rebanho humano, que perdeu os<br />

seus pastores”.<br />

7 - Mas as tempestades não durarão sempre e as trevas não ocultarão<br />

eternamente a luz; o céu tornar-se-á breve sereno, a claridade celeste espalharse-á<br />

por toda a terra e as ovelhas desgarradas reunir-se-ão ao re<strong>do</strong>r de seus<br />

pastores”.<br />

8 - “Não vos esforceis em procurar caminhos diretos na escuridão, com o risco de<br />

cairdes em algum fosso, mas poupai vossas últimas forças, sustentai-vos uns<br />

<strong>aos</strong> outros, colocai toda a vossa confiança em Deus e esperai que um primeiro<br />

clarão apareça”.<br />

9 - “Aquele que sustenta seu vizinho ampara a si próprio e aquele que protege sua<br />

família sustenta seu povo e seu país”.<br />

10 - “Porque, crede, sem dúvida, próximo está o dia em que sereis liberta<strong><strong>do</strong>s</strong> das<br />

trevas; reunir-vos-ei em uma só família e vosso inimigo estremecerá de me<strong>do</strong>,<br />

ele que ignora o que é um favor <strong>do</strong> grande Deus”.<br />

11 - Os padres e os anciãos que o escutavam, cheios de admiração diante de sua<br />

linguagem, perguntaram-lhe se era verdade que ele tivesse tenta<strong>do</strong> sublevar o<br />

povo contra as autoridades <strong>do</strong> país, assim como que um abismo se lhes abre <strong>aos</strong><br />

pés”.<br />

12 - “É possível insurgirmo-nos contra homens transvia<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>aos</strong> quais as trevas<br />

ocultaram o caminho e o destino, respondeu Issa. Não tenho feito senão avisar<br />

os infelizes, como faço aqui no templo, para que não avancem mais longe por<br />

estradas tenebrosas, porque um abismo se lhes abre <strong>aos</strong> pés”.<br />

<strong>13</strong> - “O poder terrestre é de duração efêmera e está submeti<strong>do</strong> a uma imensidade de<br />

mudanças. Não seria de grande utilidade revoltar-se alguém contra ele, porque<br />

um poder sucede sempre a outro poder e assim será até o fim da existência<br />

humana”.<br />

14 - “Ao contrário, não vedes que os poderosos e os ricos semeiam entre os filhos de<br />

Israel um espírito de rebelião contra o poder eterno <strong>do</strong> céu?”<br />

15 - Então os anciões lhe perguntaram: “Quem sois vós e de que país viestes para<br />

cá? Antes não ouvíamos falar de vós e ignorávamos mesmo o vosso nome”.<br />

16 - “Sou israelita, respondeu Issa, e, no dia <strong>do</strong> meu nascimento, vi os muros de<br />

Jerusalém e ouvi soluçar meus irmãos reduzi<strong><strong>do</strong>s</strong> à escravidão e se lamentarem<br />

minhas irmãs, que foram conduzidas para as terras <strong><strong>do</strong>s</strong> pagãos”.<br />

25


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

17 - “E minh’alma se entristeceu <strong>do</strong>lorosamente quan<strong>do</strong> vi que meus irmãos haviam<br />

esqueci<strong>do</strong> o verdadeiro Deus. Ainda criança, deixei a casa paterna para ir viver<br />

entre outros povos”.<br />

18 - “Mas, ten<strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong> dizer que meus irmãos suportavam torturas ainda maiores,<br />

voltei ao país que meus pais habitavam para recordar a meus irmãos a fé de<br />

seus antepassa<strong><strong>do</strong>s</strong>, a qual nos prega a paciência na terra para conseguir, lá no<br />

alto, uma felicidade perfeita e sublime”.<br />

19 - E os sábios anciãos lhe fizeram ainda esta pergunta: “Afirma-se que renegais<br />

as leis de Mossa e que ensinais ao povo o aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> templo de Deus”.<br />

20 - Issa lhes respondeu; “Não se destrói o que foi da<strong>do</strong> por nosso Pai Celestial e o<br />

que foi destruí<strong>do</strong> pelos peca<strong>do</strong>res; recomendei-lhes que purificassem o coração<br />

de todas as máculas, porque ele é que é o verdadeiro templo de Deus”.<br />

21 - “Quanto às leis de Mossa, esforço-me em restabelecê-las no coração <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

homens e eu vos digo que ignorais seu verdadeiro alcance, porque não é a<br />

vingança mas o perdão que elas ensinam. O senti<strong>do</strong> dessas leis está adultera<strong>do</strong>.<br />

XI<br />

1 - Ten<strong>do</strong> escuta<strong>do</strong> Issa, os padres e sábios anciãos resolveram entre si não o<br />

julgar, visto que Issa não fazia mal a ninguém. Apresentan<strong>do</strong>-se diante de<br />

Pilatos, instituí<strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r de Jerusalém pelo rei pagão <strong>do</strong> país <strong><strong>do</strong>s</strong> Romanos,<br />

assim falaram:<br />

2 - “Vimos o homem a quem acusais de excitar nosso povo à revolta, ouvimos suas<br />

prédicas e soubemos que ele é nosso compatriota”.<br />

3 - “Os chefes das cidades vos enviaram falsos relatórios porque é um homem<br />

justo que ensina ao povo a palavra de Deus. Depois de havê-lo interroga<strong>do</strong>,<br />

resolvemos deixá-lo ir em paz”.<br />

4 - O governa<strong>do</strong>r ficou possuí<strong>do</strong> de violenta cólera e enviou para perto de Issa<br />

cria<strong><strong>do</strong>s</strong> seus, disfarça<strong><strong>do</strong>s</strong>, a fim de lhe espiarem to<strong><strong>do</strong>s</strong> os atos e de os comunicar<br />

às autoridades com as menores palavras que dirigisse ao povo.<br />

5 - Issa, entretanto, continuava a visitar as cidades vizinhas e a ensinar os<br />

verdadeiros caminhos <strong>do</strong> Cria<strong>do</strong>r, exortan<strong>do</strong> os hebreus à paciência e lhes<br />

prometen<strong>do</strong> uma pronta libertação.<br />

6 - Muitas pessoas o seguiram por toda a parte em que ia; algumas não o<br />

aban<strong>do</strong>naram e o serviam.<br />

7 - E Issa lhes dizia: “Não crede nos milagres feitos pelas mãos <strong>do</strong> homem, porque<br />

aquele que <strong>do</strong>mina a natureza é o único capaz de fazer coisas sobrenaturais, ao<br />

passo que o homem é impotente para deter a corrente <strong><strong>do</strong>s</strong> ventos e espalhar a<br />

chuva”.<br />

8 - Entretanto, há um milagre que é possível ao homem fazer: é aquele em que,<br />

cheio de crença sincera, se dispõe a desenraizar <strong>do</strong> coração to<strong><strong>do</strong>s</strong> os maus<br />

pensamentos e, para isso, não transita mais pelos caminhos da maldade”.<br />

26


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

9 - “E todas as coisas que se fizeram sem Deus são erros grosseiros, seduções e<br />

encantamentos que só servem para demonstrar a que ponto a alma daquele que<br />

pratica esta arte está cheia de devassidão, de mentira e de impureza”.<br />

10 - “Não deis fé <strong>aos</strong> oráculos, porque só Deus conhece o futuro; aquele que recorre<br />

<strong>aos</strong> adivinhos conspurca o templo que está em seu coração e dá prova de<br />

desconfiança a respeito <strong>do</strong> Cria<strong>do</strong>r”.<br />

11 - “A fé nos adivinhos e em seus oráculos destrói a simplicidade inata no homem<br />

e sua pureza infantil; um poder infernal se apodera dele e força-o a cometer<br />

toda sorte de crimes e a a<strong>do</strong>rar í<strong>do</strong>los”.<br />

12 - “Ao passo que o Senhor nosso Deus, que não tem ninguém que se lhe iguale, é<br />

um, to<strong>do</strong> poderoso, onisciente e onipresente; é ele que possui a sabe<strong>do</strong>ria e toda<br />

luz”.<br />

<strong>13</strong> - “É a ele que deveis dirigir-vos para serdes consola<strong><strong>do</strong>s</strong> de vossas tristezas,<br />

auxilia<strong><strong>do</strong>s</strong> em vossos trabalhos, cura<strong><strong>do</strong>s</strong> de vossas enfermidades; aquele que<br />

recorrer a ele não sofrerá recusa”.<br />

14 - “O segre<strong>do</strong> da natureza está nas mãos de Deus, porque o mun<strong>do</strong>, antes de<br />

surgir, existia no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu pensamento divino; ele se tornou material e<br />

visível pela vontade <strong>do</strong> Altíssimo”.<br />

15 - “Quan<strong>do</strong> vos quiserdes dirigir a ele, tornai-vos crianças, porque não conheceis<br />

nem o passa<strong>do</strong>, nem o presente, nem o futuro, e Deus é o Senhor <strong>do</strong> tempo”.<br />

XII<br />

1 - “Homem justo, perguntaram os servi<strong>do</strong>res disfarça<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r de<br />

Jerusalém, diz-nos se nos é necessário executar a vontade de nosso César ou<br />

esperar nossa próxima libertação”.<br />

2 - E Issa, ten<strong>do</strong> reconheci<strong>do</strong> naquelas pessoas indivíduos compra<strong><strong>do</strong>s</strong> para o<br />

seguir, quan<strong>do</strong> o interrogavam, lhes respondeu: “Não vos anunciei que sereis<br />

liberta<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> César; é a alma, mergulhada no erro, que terá sua libertação”.<br />

3 - “Não pode haver família sem chefe, não poderá haver ordem em um povo sem<br />

um César, ao qual é preciso obedecer cegamente porque só ele responderá por<br />

seus atos perante o tribunal supremo”.<br />

4 - “César possui um direito divino, perguntaram-lhe ainda os espiões, e é o<br />

melhor <strong><strong>do</strong>s</strong> mortais?”<br />

5 - Entre os homens não há melhor, mas existem os enfermos <strong>aos</strong> quais os eleitos<br />

e encarrega<strong><strong>do</strong>s</strong> de uma missão devem tratar usan<strong>do</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> meios que lhe confere a<br />

lei sagrada <strong>do</strong> Pai Celestial”.<br />

6 - “Clemência e justiça, eis os mais altos <strong>do</strong>ns concedi<strong><strong>do</strong>s</strong> a César e seu nome<br />

será ilustre se assim se manter”.<br />

7 - “Mas aquele que age de outro mo<strong>do</strong>, que infringe os limites <strong>do</strong> poder que tem<br />

sobre seu subordina<strong>do</strong> e vai até pôr sua vida em perigo, esse ofende o grande<br />

juiz e lesa sua dignidade na opinião <strong><strong>do</strong>s</strong> homens”.<br />

27


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

8 - Nesse ínterim, uma velha que se aproximara <strong>do</strong> grupo para melhor ouvir Issa,<br />

foi afastada por um <strong><strong>do</strong>s</strong> homens disfarça<strong><strong>do</strong>s</strong>, que se colocou diante dela.<br />

9 - Então Issa lhe disse: “Não é bom que um filho afaste sua mãe para ocupar o<br />

primeiro lugar, que deve ser da<strong>do</strong> a ela”.<br />

10 - “Aquele que não respeita sua mãe, o ser mais sagra<strong>do</strong> depois de Deus, é<br />

indigno <strong>do</strong> nome de filho”.<br />

11 - “Escutai o que vou dizer-vos: “Respeitai a mulher porque ela é a mãe <strong>do</strong><br />

universo e toda a verdade da criação reside nela”.<br />

12 - “É ela que é a base de tu<strong>do</strong> o que há de bom e belo, como é também o germe da<br />

vida e da morte. Dela depende toda a existência <strong>do</strong> homem, porque é seu apoio<br />

moral e natural em seus trabalhos”.<br />

<strong>13</strong> - “Ela nos dá à luz no meio de sofrimentos; com o suor <strong>do</strong> seu rosto vela nosso<br />

crescimento e vós lhe causais as mais vivas angústias até os seus últimos dias.<br />

Bendizei-a e a<strong>do</strong>rai- a, porque ela é vossa única amiga e sustentáculo na terra”.<br />

14 - “Respeitai-a, defendei-a, porque, assim proceden<strong>do</strong>, ganhar-lhe-eis amor,<br />

sereis agradáveis a Deus e muitas faltas vos serão per<strong>do</strong>adas”.<br />

15 - “Da mesma maneira, amai vossas esposas e respeitai-as porque elas serão<br />

mães amanhã e, mais tarde, avós de uma nação inteira”.<br />

16 - “Sede dóceis para com a mulher; seu amor enobrece o homem, abranda-lhe o<br />

coração endureci<strong>do</strong>, <strong>do</strong>ma a fera e dela faz um cordeiro”.<br />

17 - “A esposa e a mãe, tesouros inapreciáveis que Deus vos deu, são os mais belos<br />

ornamentos <strong>do</strong> Universo e delas nascerá tu<strong>do</strong> que habitará o mun<strong>do</strong>”.<br />

18 - “Assim como Deus outrora separou a luz das trevas e a terra das águas, a<br />

mulher possui o divino talento de separar no homem as boas intenções <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

maus pensamentos”.<br />

19 - “É por isto que vos digo: Depois de Deus, vossos melhores pensamentos devem<br />

pertencer às mães e às esposas, à mulher, enfim, que é para vós o templo divino<br />

em o qual obtereis mais facilmente a felicidade perfeita”.<br />

20 - “Colocai neste templo vossa força moral; aí esquecereis vossas tristezas, vossos<br />

insucessos e recobrareis as forças perdidas que vos serão necessárias no auxílio<br />

de vosso próximo”.<br />

21 - “Não as humilheis, porque, assim proceden<strong>do</strong>, humilhareis a vós mesmos e<br />

perdereis o sentimento de amor, sem o qual nada aqui na terra existiria”.<br />

22 - “Protegei vossa esposa para que ela vos proteja, vós e toda vossa família; tu<strong>do</strong> o<br />

que fizerdes por vossa mãe, vossa esposa, por uma viúva ou uma outra mulher<br />

na desgraça, o fareis por vosso Deus”.<br />

XIII<br />

1 - Santo Issa ensinou assim ao povo de Israel durante três anos, em cada cidade,<br />

em cada aldeia, nos caminhos e nos campos, e tu<strong>do</strong> que anunciara se realizava.<br />

28


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

2 - Durante to<strong>do</strong> esse tempo, os espiões <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r Pilatos o observavam<br />

estreitamente, mas sem nada ouvir dizer que se assemelhasse <strong>aos</strong> relatórios que<br />

haviam si<strong>do</strong> envia<strong><strong>do</strong>s</strong> antes pelos chefes das cidades a seu respeito.<br />

3 - O governa<strong>do</strong>r Pilatos, porém, assusta<strong>do</strong> com a grande popularidade de Santo<br />

Issa, que, a crer em seus adversários, queria sublevar o povo para se fazer rei,<br />

ordenou a um de seus espiões que o acusasse.<br />

4 - Man<strong>do</strong>u então que solda<strong><strong>do</strong>s</strong> procedessem à sua prisão e o encerrassem em um<br />

cárcere subterrâneo, onde lhe fizeram agüentar suplícios vários com o fim de<br />

forçá-lo a acusar-se a si próprio, o que daria margem a ser condena<strong>do</strong> à morte.<br />

5 - O Santo, só pensan<strong>do</strong> na felicidade de seus irmãos, suportou to<strong><strong>do</strong>s</strong> os<br />

sofrimentos em nome <strong>do</strong> Cria<strong>do</strong>r.<br />

6 - Os servi<strong>do</strong>res de Pilatos continuaram a torturá-lo e o reduziram a um esta<strong>do</strong><br />

de fraqueza extrema, mas Deus estava com ele e não permitiu que Issa<br />

morresse.<br />

7 - Cientes <strong><strong>do</strong>s</strong> sofrimentos e das torturas que o Santo suportava, os principais<br />

sacer<strong>do</strong>tes e os sábios anciãos foram rogar ao governa<strong>do</strong>r para pô-lo em<br />

liberdade na ocasião de uma grande festa que se achava próxima.<br />

8 - Mas o governa<strong>do</strong>r se recusou a fazê-lo. Pediram então para que Issa<br />

comparecesse perante o tribunal <strong><strong>do</strong>s</strong> Anciãos a fim de que fosse condena<strong>do</strong> ou<br />

absolvi<strong>do</strong> antes da festa, no que Pilatos consentiu.<br />

9 - No dia seguinte, o governa<strong>do</strong>r fez reunir os principais capitães, padres, anciãos<br />

e legistas com o fim de julgar Issa.<br />

10 - Tiraram-no <strong>do</strong> cárcere e fizeram-no sentar-se diante <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r, entre <strong>do</strong>is<br />

bandi<strong><strong>do</strong>s</strong>, que eram julga<strong><strong>do</strong>s</strong> no mesmo momento, e isso com o fim de mostrar à<br />

multidão que ele não era o único a ser condena<strong>do</strong>.<br />

11 - Pilatos, dirigin<strong>do</strong>-se a Issa, lhe perguntou: “O” homem, é verdade que sublevais<br />

o povo contra as autoridades com o intuito de vos tornardes rei de Israel? “.<br />

12 - “Ninguém se torna rei por sua própria vontade, respondeu-lhe Issa, e vos<br />

mentiram afirman<strong>do</strong> que eu amotinava o povo. Eu só falei <strong>do</strong> Rei <strong><strong>do</strong>s</strong> céus e foi<br />

a ele que pedi ao povo que a<strong>do</strong>rasse”.<br />

<strong>13</strong> - “Porque os filhos de Israel perderam sua pureza original e, se não tiverem o<br />

auxílio <strong>do</strong> verdadeiro Deus, serão sacrifica<strong><strong>do</strong>s</strong> e seus templos tombarão em<br />

ruínas”.<br />

14 - “O poder temporal mantém a ordem em um país e eu lhes ensinei o seguinte:<br />

“Vivei de acor<strong>do</strong> com a vossa situação e a vossa fortuna, a fim de não<br />

perturbardes a ordem pública, e os exortei também a se lembrarem de que a<br />

desordem lhes reinava no coração e no espírito”.<br />

15 - “Também o Rei <strong><strong>do</strong>s</strong> céus os puniu e suprimiu seus reis nacionais, por isto, lhes<br />

dizia eu, que, se se resignassem à sua sorte, em recompensa, o reino <strong><strong>do</strong>s</strong> céus<br />

lhes seria aberto”.<br />

16 - Nesse momento introduziram-se as testemunhas, uma das quais depôs assim:<br />

“Dissestes ao povo que o poder temporal não era nada junto <strong>do</strong> poder real, que<br />

devia libertar breve os israelitas <strong>do</strong> jugo pagão”.<br />

29


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

17 - “Bendito sejais vós, disse-lhe Issa, por terdes dito a verdade. O Rei <strong><strong>do</strong>s</strong> céus é<br />

maior e mais poderoso <strong>do</strong> que a lei terrestre e seu reino supera a to<strong><strong>do</strong>s</strong> os reinos<br />

da terra”.<br />

18 - “E o tempo não está longe em que, conforme a vontade divina, o povo de Israel<br />

se purificará de seus peca<strong><strong>do</strong>s</strong>, porque foi dito que um precursor viria anunciar a<br />

libertação <strong>do</strong> povo e a sua reunião em uma só família”.<br />

19 - O governa<strong>do</strong>r, dirigin<strong>do</strong>-se <strong>aos</strong> juízes, exclamou: “Ouvis? O israelita Issa<br />

confessa o crime de que é acusa<strong>do</strong>. Julgai-o então conforme vossas leis e<br />

pronunciai contra ele a pena capital”.<br />

20 - “Não podemos condená-lo, responderam-lhe os padres e anciãos. Vós acabais<br />

de ouvi-lo dizer que fazia alusão ao Rei <strong><strong>do</strong>s</strong> céus e que nada pregou que<br />

constituísse uma insubordinação contra a lei”.<br />

21 - O governa<strong>do</strong>r man<strong>do</strong>u então entrar a testemunha que, por instigação sua,<br />

tinha traí<strong>do</strong> Issa e esse homem entrou e, dirigin<strong>do</strong>-se a Issa, lhe perguntou:<br />

“Não vos fazíeis passar por rei de Israel quan<strong>do</strong> dizíeis que aquele que reina nos<br />

céus vos havia envia<strong>do</strong> para preparar seu povo?”<br />

22 - Issa, ten<strong>do</strong>-o abençoa<strong>do</strong>, lhe disse: “Sereis per<strong>do</strong>a<strong>do</strong>, porque o que dizeis não<br />

vem de vós”. Depois, dirigin<strong>do</strong>-se ao governa<strong>do</strong>r, falou: “Porque humilhar vossa<br />

dignidade e porque ensinar vossos subalternos a viver na mentira, quan<strong>do</strong>,<br />

mesmo sem ela, tendes o poder de condenar um inocente?”<br />

23 - Ditas que foram estas palavras, o governa<strong>do</strong>r ficou possuí<strong>do</strong> de violenta cólera<br />

e ordenou a condenação de Issa à morte e a absolvição <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong>is bandi<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

24 - Os juízes, ten<strong>do</strong> se consulta<strong>do</strong> entre si, disseram a Pilatos: “Não assumiremos<br />

sobre nossas cabeças a grande culpa de condenar um inocente e de absolver<br />

bandi<strong><strong>do</strong>s</strong>, coisas contrárias às nossas leis”.<br />

25 - “Fazei, pois, o que vos agradar”. Isto dito, os padres e os sábios anciãos saíram<br />

e lavaram as mãos em um vaso sagra<strong>do</strong>, dizen<strong>do</strong>: “Somos inocentes da morte <strong>do</strong><br />

justo”.<br />

XIV<br />

1 - Por ordem <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r, os solda<strong><strong>do</strong>s</strong> levaram Issa e os <strong>do</strong>is bandi<strong><strong>do</strong>s</strong>, que<br />

conduziram para o local <strong>do</strong> suplício, onde foram prega<strong><strong>do</strong>s</strong> em cruzes que<br />

ergueram na terra.<br />

2 - Durante o dia inteiro os corpos de Issa e <strong><strong>do</strong>s</strong> bandi<strong><strong>do</strong>s</strong> ficaram suspensos,<br />

gotejan<strong>do</strong> sangue, sob a guarda de solda<strong><strong>do</strong>s</strong>; o povo permanecia ao re<strong>do</strong>r, ao<br />

passo que os parentes <strong><strong>do</strong>s</strong> suplicia<strong><strong>do</strong>s</strong> oravam e choravam.<br />

3 - Ao pôr <strong>do</strong> sol, os sofrimentos de Issa tiveram termo. Ele perdeu o conhecimento<br />

e a alma desse justo se destacou <strong>do</strong> corpo para fundir-se na Divindade.<br />

4 - Assim fin<strong>do</strong>u a existência terrena <strong>do</strong> reflexo <strong>do</strong> Espírito Eterno sob a forma de<br />

um homem que, após intensos sofrimentos, salvara peca<strong>do</strong>res endureci<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

5 - Pilatos, entretanto, assusta<strong>do</strong> com a sua ação, man<strong>do</strong>u entregar o corpo <strong>do</strong><br />

santo a seus parentes para que o enterrassem junto ao local <strong>do</strong> suplicio; a<br />

multidão foi orar junto ao seu sepulcro e encheu o ar de soluços e gemi<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

<strong>30</strong>


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

6 - Três dias após, o governa<strong>do</strong>r enviou solda<strong><strong>do</strong>s</strong> para desenterrarem o corpo de<br />

Issa e o inumarem em qualquer outro lugar, com me<strong>do</strong> de um levante popular.<br />

7 - Na manhã seguinte, a multidão encontrou o túmulo aberto e vazio; logo o ruí<strong>do</strong><br />

se espalhou de que o Juiz Supremo tinha envia<strong>do</strong> seus anjos para levar os<br />

despojos mortais <strong>do</strong> santo em que tinha residi<strong>do</strong>, na terra, uma parte <strong>do</strong> seu<br />

espírito divino.<br />

8 - Quan<strong>do</strong> tal ruí<strong>do</strong> chegou ao conhecimento de Pilatos, proibiu, sob pena de<br />

escravidão e morte, que jamais se pronunciasse o nome de Issa e se orasse ao<br />

Senhor por ele.<br />

9 - O povo, porém, continuou a chorar e a glorificar em alta voz o seu mestre;<br />

assim muitos entre eles foram conduzi<strong><strong>do</strong>s</strong> ao cativeiro, submeti<strong><strong>do</strong>s</strong> a torturas e<br />

condenadas à morte.<br />

10 - Os discípulos de Issa aban<strong>do</strong>naram o país de Israel e partiram para todas as<br />

terras <strong><strong>do</strong>s</strong> pagãos, pregan<strong>do</strong> a necessidade de se aban<strong>do</strong>narem erros grosseiros,<br />

de pensarem na salvação de suas almas e na felicidade perfeita que espera os<br />

humanos no mun<strong>do</strong> espiritual, cheio de luzes, em que há o repouso, em toda a<br />

sua pureza, no seio da majestade perfeita <strong>do</strong> grande Cria<strong>do</strong>r.<br />

11 - Os pagãos, seus reis e guerreiros ouviram os prega<strong>do</strong>res, aban<strong>do</strong>naram as<br />

antigas crenças absurdas, renegaram seus padres e í<strong>do</strong>los para entoar hosanas<br />

ao sapientíssimo Cria<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Universo, ao Rei <strong><strong>do</strong>s</strong> Reis, cujo coração é cheio de<br />

uma misericórdia infinita”.<br />

Aqui termina a narração da vida de Santo Issa, de acor<strong>do</strong> com os <strong>do</strong>cumentos encontra<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

por Notovitch.<br />

Há de parecer estranho que Mossa, o Moisés <strong><strong>do</strong>s</strong> hebreus, apareça na narrativa como<br />

um príncipe egípcio, mas leiamos o que escreveu Lisandro de la Torre na pág. 274 de sua obra “A<br />

questão social e os cristãos sociais”: “Mas, quem era Moisés? A Bíblia apresenta-o como um<br />

hebreu e diz que ele matou um egípcio e foi viver entre os hebreus e se casou com Séfora,<br />

filha de Ragual. A fácil impunidade desse crime traiçoeiro robustece a suposição de que a<br />

autoridade <strong>do</strong> Faraó era muito fraca nas paragens onde andava Moisés. Renan supõe que<br />

Moisés não era hebreu, mas egípcio, pois seu nome não é hebraico, e o nome Mosé é egípcio<br />

e parece-lhe verossímil que este foi o seu. Egípcio renega<strong>do</strong>, teria podi<strong>do</strong> adquirir<br />

ascendência entre os hebreus e conceber o plano <strong>do</strong> êxo<strong>do</strong>, que coincidia com o interesse de<br />

sua segurança pessoal”.<br />

Estrabão, historia<strong>do</strong>r grego e autor de 17 livros sobre a sabe<strong>do</strong>ria antiga e que viveu na<br />

época <strong>do</strong> nascimento <strong>do</strong> Cristo, refere que o êxo<strong>do</strong> <strong>do</strong> Egito teve lugar da seguinte forma: “Moisés,<br />

um sacer<strong>do</strong>te egípcio que também dirigia uma província egípcia, dali partiu porque não estava<br />

satisfeito com o esta<strong>do</strong> de coisas local e com ele partiram muitos outros pelas mesmas razões<br />

religiosas”. O caso é que Moisés dizia que não estava direito que os egípcios elevassem touros e<br />

animais selvagens à categoria de deuses, assim como não era justo que os gregos dessem <strong>aos</strong> seus<br />

deuses formas humanas:<br />

31


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Em “Tu<strong>do</strong> começou em Babel”, <strong>do</strong> escritor alemão Herbert Wendt, lê-se o seguinte: “Os<br />

egípcios, que emigraram para a Palestina, então se aliaram às nações vizinhas, parte por<br />

fins comerciais, parte por costumes religiosos. E então surgiu aí o inconsiderável reino<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> judeus. Moisés e .os chefes religiosos <strong><strong>do</strong>s</strong> judeus não eram judeus mas egípcios de alta<br />

categoria, rebela<strong><strong>do</strong>s</strong> contra a situação religiosa. O nome Moisés é sem dúvida egípcio e<br />

aparece nos nomes de muitos faraós: Thutmoses, Ahmoses, Ramesés, por exemplo. A grande<br />

façanha de Moisés foi a de que se mostrou capaz de ajudar um grande número desses<br />

párias escravos a fugir <strong>do</strong> Egito, dar-lhes leis e uma religião e ainda reuni-los em uma<br />

única nação na terra de Canaã. Foi desde aquele tempo que começou a história judaica”.<br />

Na mesma parte de “O Povo Eleito” <strong>do</strong> supracita<strong>do</strong> livro de Wendt, aparece uma hipótese<br />

levantada pelo Funda<strong>do</strong>r da Psicanálise, Sigmund Freud, médico e psiquiatra judeu vienense,<br />

concordan<strong>do</strong> com Estrabão e outros, que “Moisés e os demais chefes religiosos, que guiaram os<br />

judeus ao fugirem <strong>do</strong> Egito, não foram judeus, mas sim egípcios que se revoltaram contra a<br />

religião egípcia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

Acontece que Freud não pára aí, “continua dizen<strong>do</strong> que não somente Moisés e a<br />

casta sacer<strong>do</strong>tal <strong><strong>do</strong>s</strong> levitas foram egípcios mas a própria religião monoteísta que, durante<br />

milênios tornou possível a sobrevivência <strong><strong>do</strong>s</strong> judeus, foi egípcia também”. Lê-se também ali<br />

que a gente que constituiu o depois chama<strong>do</strong> povo judeu, hebreu ou israelita tinha várias<br />

procedências, isto é, que era uma mistura de raças unidas por idéias religiosas.<br />

Mas, depois de tantos séculos, dizemos nós, quem vai acreditar que Mossa ou Moisés foi<br />

mesmo egípcio e não hebreu como sempre constou.<br />

Da mesma forma poder-se-á dizer que o autor deste trabalho é alemão ou filho de<br />

alemães, quan<strong>do</strong> eu nasci em Niterói, Capital <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> de Janeiro, Esta<strong>do</strong> em que nasceram<br />

também os meus pais, com, salvo um avô materno alemão, uma longa geração de ascendentes<br />

fluminenses, mineiros e paulistas.<br />

Tu<strong>do</strong> pode acontecer.<br />

Sinópticos<br />

32<br />

(Extratos de “El corazon de Ásia”, de<br />

Nicolau Roerich, edição <strong>do</strong><br />

Museu Roerich, de New York, MCMXXX)<br />

Antes de fazer <strong>do</strong>is pequenos extratos da citada obra, vou dizer quem foi Roerich, de<br />

acor<strong>do</strong> com Ricar<strong>do</strong> Rojas, em seu prólogo:<br />

“Conheço a extraordinária personalidade de Nicolau Roerich, sua inquieta vida<br />

de viajor de vários continentes, sua origem russa, sua aclimatação americana, sua obra<br />

de pintor, de pensa<strong>do</strong>r e de educa<strong>do</strong>r, que fazem dele uma das mais singulares figuras <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> internacional contemporâneo. Para honrá-lo e para dar ao seu vigoroso espírito um<br />

instrumento de ação, erigiu-se em New York o magnífico Museu que leva o seu nome e que<br />

tem nas principais nações membros honorários da estirpe de Bernard Shaw, na Inglaterra;<br />

de Zuloaga, na Espanha e de Rabindranath Tagore na Índia”.


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Isto dito e deixan<strong>do</strong> <strong>aos</strong> leitores o trabalho de comparação, passo, sem comentários, <strong>aos</strong><br />

seguintes e interessantes trechos <strong>do</strong> seu livro:<br />

“Em Srinagar, ouvimos, pela primeira vez, a curiosa lenda acerca da visita <strong>do</strong><br />

Cristo ao lugar. Depois, vimos quão amplamente difundida na Índia, no Ladak e na Ásia<br />

Central é a da viagem <strong>do</strong> Cristo a esses países, durante sua larga ausência de que fala o<br />

Evangelho. Os muçulmanos de Srinagar nos contaram que o Cristo crucifica<strong>do</strong>, ou Issa,<br />

como o chamam, não morreu na cruz, mas só desmaiou. Seus discípulos raptaram seu<br />

corpo, o esconderam e o curaram. Posteriormente o levaram para Srinagar, onde <strong>do</strong>utrinou<br />

o povo e ali morreu. O túmulo <strong>do</strong> Mestre se acha nos alicerces de uma casa particular e se<br />

conta que existe lá uma inscrição que diz que, naquele lugar, foi enterra<strong>do</strong> o filho de José.<br />

Narra-se que perto da sepultura se dão curas milagrosas e que o ar está satura<strong>do</strong> de<br />

aromas. Dessa forma os crentes de outras religiões desejam ter o Cristo consigo”. (pág. 26).<br />

Este outro trecho concorda com o anterior e com a narrativa de Notovitch. Ei-lo:<br />

“Em Leh encontramos novamente a lenda da visita <strong>do</strong> Cristo a esses lugares. O<br />

chefe indu <strong><strong>do</strong>s</strong> correios de Leh e vários ladakis budistas nos contaram que nesta cidade,<br />

não longe <strong>do</strong> bazar, ainda existe uma lagoa na margem da qual se erguia uma velha<br />

árvore à cuja sombra o Cristo pregou ao povo, antes de sua partida para a Palestina.<br />

Ouvimos também outra lenda de como o Cristo, quan<strong>do</strong> jovem, chegou à Índia em uma<br />

caravana de merca<strong>do</strong>res e como foi aprenden<strong>do</strong> a suma sabe<strong>do</strong>ria <strong><strong>do</strong>s</strong> Himalaias. Ouvimos<br />

várias versões desta lenda, que se difundiu amplamente pelo Ladak, Sinkiang e Mongólia,<br />

mas todas elas concordam em um ponto: que, durante o tempo de sua ausência, o Cristo<br />

esteve na Índia e na Ásia. Não importa como e de onde proveio a lenda; talvez seja de origem<br />

nestoriana, mas notável é que a ela se referem com absoluta sinceridade”. (págs. 31 e 32)<br />

Aqui me detenho para passar a outra notícia concordante, mas de origem extra-humana,<br />

isto é, espiritual.<br />

(Trecho <strong>do</strong> livro “Herculanum”, dita<strong>do</strong> pelo<br />

espírito <strong>do</strong> conde J. W. Rochester à<br />

médium Sra. W. Krijanowsky, na França<br />

edição da Livraria da Federação Espírita Brasileira, 1935)<br />

Quem fala é o espírito <strong>do</strong> ex-centurião romano Quirinus Cornelius (anteriormente Allan<br />

Kardec, sacer<strong>do</strong>te, druida, depois João Huss, padre da Boêmia), em resposta à pergunta de Caius<br />

Lucilius (depois conde de Rochester, a própria entidade comunicante): “Onde é que <strong>Jesus</strong>, de<br />

origem tão humilde, adquirira o grande saber e a eloqüência com a qual escravizava os corações?”<br />

Informa ele:<br />

“A sua origem divina manifestou-se <strong>do</strong> berço, justamente por uma sabe<strong>do</strong>ria que<br />

ultrapassava a sua idade e isso em todas as fases de sua vida. Entretanto, eis o que ouvi<br />

a respeito. Depois daquela conversa com o Mestre, tive o ensejo de, por intermédio de um<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> discípulos, travar relações com um judeu rico e ar<strong>do</strong>roso adepto da nova <strong>do</strong>utrina, a<br />

propósito desta mesma pergunta que ora me fazes.<br />

33


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Pois bem, esse homem me contou que o Mestre, ainda criança, foi a Jerusalém<br />

pela Páscoa, e, ten<strong>do</strong> por acaso se intrometi<strong>do</strong> entre os <strong>do</strong>utores, a to<strong><strong>do</strong>s</strong> surpreendeu por<br />

suas dissertações e raciocínios, inconcebíveis na sua idade. Entre esses <strong>do</strong>utores,<br />

encontrava-se um velho rabino de Alexandria, abasta<strong>do</strong> e sábio homem, que se interessou<br />

pelo menino precoce e veio a proporcionar-lhe, mais tarde, uma viagem àquela cidade, a<br />

fim de instruir-se. A morte <strong>do</strong> velho o impediu de facultar a <strong>Jesus</strong> uma posição independente,<br />

mas, ainda, assim, ele viajou pela Índia e só regressou à Galiléia <strong>do</strong>is ou três anos antes<br />

de começar a sua predicação. Sen<strong>do</strong>, ao demais, muito discreto, nenhum <strong><strong>do</strong>s</strong> seus discípulos<br />

conhecia os pormenores da sua vida, nesse perío<strong>do</strong> que passou longe da pátria.<br />

Sua mãe, essa não o poderia ignorar, mas a verdade é que também se conservou<br />

muda a respeito”.<br />

Esta narrativa, que concorda com as anteriores, concorda ainda com as que se seguem.<br />

(Nota n° 1, da obra “La sorcellerie des<br />

campagnées”, de Charles Lancelin, autor de<br />

“L’Occultisme et la Science” e “La Vie Posthume”)<br />

O próprio <strong>Jesus</strong> foi um inicia<strong>do</strong> nos Mistérios <strong>do</strong> Egito. Encontro uma prova inegável<br />

disto em um erro de tradução, evidentemente proposital, que fizeram, sucessivamente, to<strong><strong>do</strong>s</strong> os<br />

tradutores oficiais <strong>do</strong> evangelho de Mateus. Ei-lo: o versículo 46 <strong>do</strong> Capítulo XXVII, deste autor,<br />

está assim: “E, pela nona hora, <strong>Jesus</strong> deu um grande bra<strong>do</strong>, dizen<strong>do</strong>: ‘Eli, Eli, lamma<br />

sabachthani!’, isto é, “Meu Deus, meu Deus, por que me aban<strong>do</strong>nastes?”<br />

To<strong><strong>do</strong>s</strong> os manuscritos gregos transcrevem como seguem estas quatro palavras hebraicas:<br />

Eli, Eli, lamma sabachthani! Esta transcrição é unânime, pode-se, portanto, considerá-la como<br />

absolutamente exata. Ela deve ser tanto mais exata porque não apresenta nenhuma dificuldade e<br />

ser, por sua vez, substituída pelo hebraico em que, letra por letra, escreve-se (o hebreu não tem<br />

vogal) desta maneira: “LI, LI, LHM ShBHh ThNI”. Ora, a tradução desta frase não é “Meu Deus,<br />

meu Deus, por que me aban<strong>do</strong>nastes?” e sim “Meu Deus, meu Deus, quanto me glorificais!”<br />

E esta frase era precisamente (com a única diferença proveniente da adaptação da idéia<br />

a uma outra língua) a fórmula que terminava nos mistérios <strong>do</strong> Egito a prece de ação de graças <strong>do</strong><br />

inicia<strong>do</strong>: numa palavra, ela era sacramental e fazia parte de ritos misteriosos.<br />

Vejo na tradução oficial um contra-senso proposital, porque as edições que contêm esta<br />

passagem não deixam de enviar o leitor ao Salmo XII (XXI de certas traduções), vers. I, que é: “Oh,<br />

meu Deus! Oh, meu Deus! por que me aban<strong>do</strong>nastes?”<br />

A tradução deste versículo <strong>do</strong> salmo é, com efeito, exata, porém o texto é muito diferente<br />

<strong>do</strong> de Mateus; traz “LI, LI LMHHhZHTh-Ni” (ou acrescentan<strong>do</strong> a transcrição <strong><strong>do</strong>s</strong> pontos<br />

massoréticos: hazabattva-ni), fazen<strong>do</strong> o leitor observar que não se deve confundir o Hh, <strong>do</strong> primeiro<br />

texto, com o Hh, <strong>do</strong> segun<strong>do</strong>, pois, no primeiro caso, é um Hheth, aspiração gutural muito forte<br />

que o grego substituiu por Chi, quan<strong>do</strong> no segun<strong>do</strong> texto é um Agin, outra aspiração muito forte.<br />

Para representar estes sons guturais das línguas semíticas, o alfabeto latino oferece uma só letra:<br />

o H, para as aspirações fracas e Hh para as aspirações fortes.<br />

Ora, a que homem de bom senso pode-se fazer crer que, entre to<strong><strong>do</strong>s</strong> os hebraizantes<br />

oficiais que estudaram estes textos, não houvesse um só para fazer o simplicíssimo trabalho que<br />

acabo de apresentar ao leitor e, por conseguinte, desvendar o erro? Donde deriva ele?<br />

34


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Simplesmente disto: que, na época em que o evangelho de Mateus foi traduzi<strong>do</strong>, no<br />

grego, por São Jerônimo, esta fórmula ritual era conhecida pelos padres contemporâneos, pois<br />

ainda existia bom número de inicia<strong><strong>do</strong>s</strong> hierofantes. Dar uma tradução exata seria classificar <strong>Jesus</strong>,<br />

ipso facto, entre os inicia<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> Egito. E isto é tão verdadeiro que, embora tenha existi<strong>do</strong>, ou ainda<br />

com certeza exista nas câmaras secretas da biblioteca <strong>do</strong> Vaticano, nunca nos apresentaram o<br />

texto original hebraico de Mateus, e que São Jerônimo, depois de se ter servi<strong>do</strong> dele para firmar<br />

sua própria tradução (que, na realidade, era uma adaptação muito abreviada), depois de nos ter<br />

da<strong>do</strong>, <strong>do</strong> texto que ele próprio fez, a tradução errada, atualmente em voga, trata de heréticos to<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

os outros comentários que não os seus e denuncia como heréticas todas as seitas cristãs ebionitas,<br />

gnósticas, cabalistas, cevirtas, etc., que se serviram <strong>do</strong> livro original hebreu de Mateus. Contu<strong>do</strong>,<br />

não se deve procurar a razão desse ostracismo no fato único que acabo de estudar, mas também<br />

nessa outra causa que o livro de Mateus provava a existência, no ensino crístico, de uma <strong>do</strong>utrina<br />

esotérica secreta que só devia ser conhecida por certos inicia<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

35<br />

(Citação <strong>do</strong> livro “Cristianismo Místico”,<br />

<strong>do</strong> Yogi Ramacharaka, edição <strong>do</strong><br />

Círculo Esotérico da Comunhão <strong>do</strong><br />

Pensamento, 1926, págs. 79/83)<br />

Escreve Ramacharaka que, se não me engano, é o ocultista inglês William Walker<br />

Atkinson:<br />

Lendas e tradições de organizações e irmandades místicas e ocultistas nos dizem que,<br />

depois <strong>do</strong> acontecimento <strong>do</strong> Templo, onde os pais o encontraram no meio <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong>utores,<br />

aproximaram-se de <strong>Jesus</strong> membros da organização secreta a que pertenciam os Magos e<br />

fizeram os pais ver que não convinha que <strong>Jesus</strong> ficasse recluso na carpintaria, quan<strong>do</strong><br />

tinha da<strong>do</strong> provas evidentes de um maravilhoso desenvolvimento espiritual e tão admirável<br />

compreensão intelectual de assuntos gravíssimos. Depois de longa e séria consideração,<br />

os progenitores de <strong>Jesus</strong> consentiram que ele seguisse o plano <strong><strong>do</strong>s</strong> Magos e permitiramlhes<br />

levá-lo consigo para a sua terra e seus retiros a fim de receber ali as instruções que a<br />

sua alma anelava e para as quais a sua mente estava preparada”.<br />

É verdade que o Novo Testamento não corrobora essas lendas ocultistas, mas igualmente<br />

é verdade que nada diz de contrário; passa com o silêncio por cima deste importante perío<strong>do</strong><br />

de dezessete anos. É notável que, quan<strong>do</strong> <strong>Jesus</strong> apareceu no cenário da atividade de<br />

João, este não o conheceu e, se <strong>Jesus</strong> tivesse passa<strong>do</strong> aqueles anos em casa, João, seu<br />

primo teria conheci<strong>do</strong> seus traços fisionômicos e sua aparência pessoal.<br />

Os ensinos ocultistas nos dizem que aqueles dezessete anos da vida de <strong>Jesus</strong>, a respeito<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> quais os Evangelhos nada contam, foram aproveita<strong><strong>do</strong>s</strong> por ele para viagens a terras<br />

longínquas, onde a<strong>do</strong>lescente e moço foi instruí<strong>do</strong> na sabe<strong>do</strong>ria e ciência das diferentes<br />

escolas. Segun<strong>do</strong> essas tradições, ele foi à Índia, ao Egito, à Pérsia e a outras regiões<br />

distantes, viven<strong>do</strong> alguns anos em cada centro importante e sen<strong>do</strong> inicia<strong>do</strong> nas diversas<br />

irmandades, ordens e corporações que ali tinham suas sedes. Algumas tradições das ordens<br />

egípcias falam de um jovem Mestre que esteve entre os irmãos daquela terra e <strong>do</strong> mesmo<br />

mo<strong>do</strong> há tradições análogas na Pérsia e na Índia.<br />

Entre as lamasarias ocultas <strong>do</strong> Tibet e nos montes Himalaias podem se encontrar lendas e<br />

histórias concernentes ao admirável Mestre que certa vez visitou tais paragens e observou<br />

sua sabe<strong>do</strong>ria e ciência secreta.


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Além disso, há tradições entre os bramanistas, budistas e zoroastristas que narram a<br />

história de um estranho instrutor que apareceu no seu meio, ensinou admiráveis verdades<br />

e levantou contra si grande oposição <strong><strong>do</strong>s</strong> sacer<strong>do</strong>tes das várias religiões da Índia e da<br />

Pérsia, porque pregava contra a casta sacer<strong>do</strong>tal e o formalismo e também se opunha a<br />

todas as formas de distinções e restrições das castas sociais. E tu<strong>do</strong> está também de<br />

acor<strong>do</strong> com as lendas ocultistas que dizem que <strong>do</strong> seu vigésimo primeiro até quase ao<br />

trigésimo ano de idade, <strong>Jesus</strong> exerceu seu ministério entre o povo da Índia, da Pérsia e das<br />

terras vizinhas, voltan<strong>do</strong>, finalmente, ao seu país natal onde foi ativo durante os últimos<br />

anos de sua vida.<br />

As lendas ocultistas nos informam que, em todas as terras que visitou, despertara a mais<br />

amarga oposição <strong>aos</strong> sacer<strong>do</strong>tes, que sempre se opunha ao formalismo e ao poder sacer<strong>do</strong>tal<br />

e procurara reconduzir o povo ao Espírito da Verdade, afastan<strong>do</strong>-o das cerimônias e fórmulas<br />

de que sempre se têm servi<strong>do</strong> para ofuscar e nublar a Luz <strong>do</strong> Espírito.<br />

Ele ensinou sempre a Paternidade de Deus e a Irmandade <strong>do</strong> Homem. Empenhou-se por<br />

tornar as grandes verdades ocultas compreensíveis à massa <strong>do</strong> povo, que tinha perdi<strong>do</strong> o<br />

Espírito da Verdade em sua observância das formas externas e cerimônias pretensiosas.<br />

Relata-se que, na Índia, atraiu sobre sua cabeça a ira <strong><strong>do</strong>s</strong> brâmanes, que sustentavam a<br />

distinção das castas, essa maldição da Índia. Ele morava na cabana <strong><strong>do</strong>s</strong> sudras, a mais<br />

baixa das castas hindus e por isso era olha<strong>do</strong> como pária pelas classes superiores.<br />

Por toda a parte os sacer<strong>do</strong>tes e as castas superiores o consideravam como revoltoso e<br />

perturba<strong>do</strong>r da ordem social estabelecida. Era um agita<strong>do</strong>r, um rebelde, um renega<strong>do</strong><br />

religioso, um socialista, um homem perigoso, um cidadão indesejável, na opinião das<br />

autoridades daqueles países.<br />

Os grãos da sabe<strong>do</strong>ria, porém, foram semea<strong><strong>do</strong>s</strong> à direita e à esquerda e, nas <strong>do</strong>utrinas de<br />

outros países orientais, se pode achar a Verdade, cuja semelhança com as <strong>do</strong>utrinas de<br />

<strong>Jesus</strong>, que foram conservadas, demonstra que provêm da mesma fonte e deram muito que<br />

pensar <strong>aos</strong> missionários cristãos que visitaram aquelas terras.<br />

E assim, devagar e com paciência, <strong>Jesus</strong> foi regressan<strong>do</strong> à sua pátria, à terra de Israel,<br />

onde devia completar o seu ministério, trabalhan<strong>do</strong> por três anos entre os seus compatriotas<br />

e onde igualmente devia incitar contra si a oposição <strong><strong>do</strong>s</strong> sacer<strong>do</strong>tes e das classes elevadas<br />

que lhe trouxe finalmente o martírio e a morte. Ele era rebelde contra a ordem estabelecida<br />

das coisas e encontrou o fa<strong>do</strong> reserva<strong>do</strong> a to<strong><strong>do</strong>s</strong> os que vivem acima de seu tempo.<br />

E, como aconteceu desde os primeiros dias <strong>do</strong> seu ministério até o último, hoje, as<br />

verdadeiras <strong>do</strong>utrinas <strong>do</strong> Homem das Dores tocam mais facilmente os corações <strong>do</strong> povo,<br />

ao passo que são contrariadas e combatidas pelas pessoas que têm autoridade eclesiástica<br />

ou temporal, embora se chamem seus sequazes e apresentem suas insígnias. Ele foi sempre<br />

o amigo <strong>do</strong> pobre e oprimi<strong>do</strong>, e odia<strong>do</strong> pelos homens <strong>do</strong> poder.<br />

Assim, pois, vedes que os ensinos ocultistas mostram que <strong>Jesus</strong> tem si<strong>do</strong> um instrutor<br />

mundial e não apenas um profeta judeu. O mun<strong>do</strong> inteiro foi seu auditório e to<strong><strong>do</strong>s</strong> os povos<br />

seus ouvintes.<br />

Ele plantou seus grãos de Verdade no seio de várias religiões e não numa só, e estas<br />

sementes estão começan<strong>do</strong> a dar os seus melhores frutos agora em nossos dias, quan<strong>do</strong><br />

as nações começam a sentir a verdade da Paternidade de Deus e da Irmandade <strong><strong>do</strong>s</strong> Homens<br />

e o novo sentimento vai se tornan<strong>do</strong> bastante forte para derrubar os velhos preconceitos<br />

que separam irmão de irmão e um cre<strong>do</strong> de outro cre<strong>do</strong>. O Cristianismo, em seu senti<strong>do</strong><br />

verdadeiro, não é apenas um cre<strong>do</strong>, é uma grande Verdade humana e divina, que há de<br />

elevar-se por sobre todas as mesquinhas diferenças de raça e religião, para no fim iluminar<br />

to<strong><strong>do</strong>s</strong> os homens, unin<strong>do</strong>-os to<strong><strong>do</strong>s</strong> num só rebanho da Fraternidade Universal.<br />

36


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Assim escreveu Ramacharaka e o ano 2000 está próximo, ano, até quan<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong><br />

mensagens <strong>do</strong> Além, ficarão cumpridas todas as profecias messiânicas.<br />

É que os tempos já chegaram, os tempos preditos pelo Apocalipse.<br />

37<br />

(Transcrição <strong>do</strong> capítulo X<br />

O sacerdócio secreto de <strong>Jesus</strong> -<br />

<strong>do</strong> livro “The mys-tical life of <strong>Jesus</strong>’<br />

<strong>do</strong> Dr. H. Spencer Lewis, da Biblioteca<br />

Rosacrux de San José, Califórnia,<br />

Esta<strong><strong>do</strong>s</strong> Uni<strong><strong>do</strong>s</strong> da América)<br />

Escreve o Dr. Spencer Lewis, o faleci<strong>do</strong> “Imperator” da Ordem Rosa-cruz <strong>do</strong> Norte,<br />

Centro e Sul América, membro da Ashrama Essênia da Índia e delega<strong>do</strong> americano <strong>do</strong> Mosteiro<br />

da. Grande Irmandade Branca <strong>do</strong> Tibet:<br />

Pouco ensinam os Evangelhos cristãos acerca da vida de <strong>Jesus</strong> entre a sua palestra com<br />

os <strong>do</strong>utores em Jerusalém e o começo <strong>do</strong> seu ministério na Palestina.<br />

Com efeito, a primeira coisa que nos contam os Evangelhos a respeito da preparação de<br />

<strong>Jesus</strong> para a sua obra como Filho de Deus é o seu batismo no rio Jordão. Dizem-nos que,<br />

na ocasião, <strong>Jesus</strong> quis sair da Galiléia e mostrar-se em público.<br />

Certamente que o batismo de <strong>Jesus</strong> não pode ter si<strong>do</strong> o início de sua preparação para o seu<br />

ministério, pois maior preparo exigia a obra que realizou durante alguns anos.<br />

Já expus em outras passagens deste livro porque está fora da razão acreditar que <strong>Jesus</strong><br />

não precisava de preparar-se para a sua missão e tratei de demonstrar que toda a sua vida<br />

denota profun<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, cuida<strong><strong>do</strong>s</strong>a preparação e extraordinária disciplina durante a<br />

juventude.<br />

De acor<strong>do</strong> com as crônicas essênias, terminou <strong>Jesus</strong> os estu<strong><strong>do</strong>s</strong> no começo <strong>do</strong> outono,<br />

quan<strong>do</strong> estava ainda nos <strong>13</strong> anos. Apesar da sua precocidade e esclareci<strong>do</strong> entendimento,<br />

não lhe foi permiti<strong>do</strong> abreviar os estu<strong><strong>do</strong>s</strong> preparatórios na escola <strong><strong>do</strong>s</strong> profetas <strong>do</strong> monte<br />

Carmelo, portanto cabe presumir que era atendi<strong>do</strong> e cuida<strong>do</strong> por quem aumentava, com<br />

novas instruções os seus conhecimentos, na expectativa de que chegasse a hora de passar<br />

a cursos superiores em outras escolas a cargo de outros instrutores.<br />

Também assinalam as crônicas, bem claramente, quais as vicissitudes da vida de <strong>Jesus</strong><br />

desde que saiu da escola <strong>do</strong> Carmelo até ficar pronto para cumprir a sua missão.<br />

Os pormenores desses incidentes ou vicissitudes de sua vida são demasia<strong>do</strong> extensos e<br />

amiúde insignificantes para incluí-los em um livro desta espécie e tamanho, de mo<strong>do</strong> que<br />

só exporei os pontos mais essenciais.<br />

De conformidade com as instruções enviadas à escola <strong>do</strong> Carmelo pelo Supremo Templo<br />

de Heliópolis, o jovem Avatar devia completar a sua educação com um estu<strong>do</strong> aprofunda<strong>do</strong><br />

das antigas religiões e <strong><strong>do</strong>s</strong> ensinamentos das diversas seitas e cre<strong><strong>do</strong>s</strong> mais influentes na<br />

época. Devia familiarizar-se com os <strong>do</strong>gmas das chamadas religiões pagãs, antes de<br />

empreender o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> desenvolvimento das crenças e ritos pagãos nos princípios<br />

superiores e cre<strong><strong>do</strong>s</strong> ensina<strong><strong>do</strong>s</strong> nas escolas secretas <strong>do</strong> Egito e promulgada pela Grande<br />

Fraternidade Branca.


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Nos tempos modernos, aquele que se propõe dedicar ao ministério sacer<strong>do</strong>tal tem de estudar<br />

as religiões comparadas e conta, com efeito, com universidades em que são analisadas,<br />

comentadas e interpretadas as Escrituras Sagradas antes de empreender o estu<strong>do</strong> da<br />

teologia atual. Hoje não sai mais o estudante <strong>do</strong> seu país natal e segue para terras estranhas<br />

a fim de familiarizar-se com as antigas religiões e escolas de filosofia moral. Na época de<br />

que tratamos, todavia, era absolutamente necessário que o estudante de religião e filosofia<br />

fosse às sedes das antigas religiões, onde podia consultar os únicos exemplares das<br />

autênticas escrituras de cada religião e conviver com as pessoas que a professavam para<br />

familiarizar-se com os seus rituais, <strong>do</strong>gmas e cerimônias. Alguns grandes Avatares <strong>do</strong><br />

passa<strong>do</strong> tiveram que ir a lugares afasta<strong><strong>do</strong>s</strong> com dito propósito e assim foi universalmente<br />

dissemina<strong>do</strong> o conhecimento <strong><strong>do</strong>s</strong> antigos ensinamentos.<br />

O jovem <strong>Jesus</strong> ficou ao cuida<strong>do</strong> de <strong>do</strong>is magos que foram ao Carmelo com o objetivo de<br />

levá-lo à sua primeira escola afastada e lugar de experiência. Dizem as crônicas que foi<br />

permiti<strong>do</strong> a <strong>Jesus</strong> passar uma semana com os seus pais na Galiléia, enquanto os magos<br />

faziam os preparativos e consultavam os professores da escola <strong>do</strong> Carmelo. Também<br />

instruíram os pais de <strong>Jesus</strong> a respeito <strong>do</strong> que deviam esperar e <strong>do</strong> que deviam fazer<br />

durante a ausência <strong>do</strong> seu filho.<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong> contam as crônicas que; quan<strong>do</strong> <strong>Jesus</strong> e os magos saíram da Galiléia,<br />

realizou- se uma cerimônia essênia em uma assembléia privada e, sem despertar a atenção<br />

<strong>do</strong> povo, os magos e <strong>Jesus</strong>, junto com outros que iam à curta distância pelo mesmo caminho,<br />

partiram em caravana na direção de Djaguernat, cidade localizada na costa oriental da<br />

Índia, chamada hoje Puri, que, por séculos, foi o centro <strong>do</strong> mais puro budismo.<br />

Em uma montanha das cercanias da cidade havia uma escola ou mosteiro em que se<br />

guardavam vários antigos escritos budistas e onde residiam os mais <strong>do</strong>utos instrutores<br />

das <strong>do</strong>utrinas de Buda.<br />

Perto de um ano levou a caravana para chegar a Djaguernat e durante esse tempo não<br />

cessaram os magos de ensinar ao jovem <strong>Jesus</strong>, mostran<strong>do</strong>-lhe, no meio <strong><strong>do</strong>s</strong> incômo<strong><strong>do</strong>s</strong> e<br />

atribulações da viagem, os sofrimentos da humanidade, a falta de ideais <strong>do</strong> povo e os<br />

assuntos populares então em voga.<br />

Segun<strong>do</strong> essas crônicas, permaneceu <strong>Jesus</strong> pouco mais de um ano naquela escola monástica<br />

e se familiarizou com os ensinos e rituais <strong>do</strong> budismo. O principal instrutor dele naquele<br />

perío<strong>do</strong> foi Lamaas, com quem simpatizou tanto que posteriormente o induziu a que<br />

ingressasse na comunidade essênia da Palestina.<br />

Do mosteiro de Djaguernat se trasla<strong>do</strong>u <strong>Jesus</strong> para o vale <strong>do</strong> Ganges e se deteve alguns<br />

meses em Benáres, onde teve ocasião de estudar ética, física, gramática e outras disciplinas<br />

próprias das escolas mais famosas pela sua cultura e erudição. Ali se interessou vivamente<br />

<strong>Jesus</strong> pelo sistema terapêutico <strong><strong>do</strong>s</strong> hindus e recebeu lições de Udraka, o mais insigne<br />

terapeuta <strong>do</strong> país.<br />

Depois de visitar outras partes da Índia com o fim de conhecer a arte, a legislação e a<br />

cultura <strong><strong>do</strong>s</strong> seus povos, regressou <strong>Jesus</strong> ao mosteiro de Djaguernat, onde esteve outros<br />

<strong>do</strong>is anos. Tal adiantamento conseguiu em seus estu<strong><strong>do</strong>s</strong> que o nomearam instrutor na vila<br />

de Ladak, em que teve ocasião de familiarizar-se com a arte de ensinar por meio de<br />

parábolas.<br />

Por motivo das suas relações com eminentes instrutores de Benáres, recebeu <strong>Jesus</strong> a<br />

visita de uma alta dignidade de Lahore. Das crônicas se infere que <strong>Jesus</strong> já havia introduzi<strong>do</strong><br />

novas idéias e verdadeiros princípios místicos nas lições que ministrava <strong>aos</strong> alunos de sua<br />

escola e, embora essas novidades agradassem <strong>aos</strong> discretos, provocavam o antagonismo<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> in<strong>do</strong>utos e rigorosamente orto<strong>do</strong>xos.<br />

38


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

O sacer<strong>do</strong>te vin<strong>do</strong> de Lahore tratou de persuadir <strong>Jesus</strong> a que modificasse ligeiramente os<br />

seus ensinos e cessasse de conviver com as castas inferiores e pessoas vulgares. Essa foi<br />

a primeira tentação que acometeu <strong>Jesus</strong> para que se afastasse da plebe e se unisse à<br />

influente aristocracia, mas ele não quis ouvir as insinuações <strong>do</strong> sacer<strong>do</strong>te e recusou os<br />

presentes que lhe eram ofereci<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

Quan<strong>do</strong> assim bebia os primeiros tragos amargos de sua vida, recebeu <strong>Jesus</strong> a notícia da<br />

morte <strong>do</strong> seu pai na Galiléia e que nada, nem ninguém, podia consolar a sua aflita mãe. Os<br />

mensageiros que levaram a notícia a ele lhe disseram que não se conhecia coisa alguma a<br />

seu respeito desde a sua partida da Galiléia, que a sua mãe não sabia por onde ele andava<br />

e que, se bem os essênios lhe afirmassem que o silêncio de <strong>Jesus</strong> estava vaticina<strong>do</strong> e que<br />

nenhum mal o atingira, não era possível consolá-la.<br />

Referem algumas crônicas antigas que, termina<strong><strong>do</strong>s</strong> os seus estu<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> budismo e <strong>do</strong><br />

hinduísmo na Índia, ia <strong>Jesus</strong> para Lhassa, no Tibet, mas, estan<strong>do</strong> ainda na Índia, chegou<br />

um mensageiro com alguns manuscritos.de um templo de Lhassa, que lhe enviava o famoso<br />

Mengste, considera<strong>do</strong> como o maior de to<strong><strong>do</strong>s</strong> os sábios budistas.<br />

Durante largo tempo chegaram de Lhassa sucessivos mensageiros que lhe levavam<br />

manuscritos budistas e, desse freqüente intercâmbio e <strong>do</strong> efeito que produziu em sua vida,<br />

derivou a crença de que havia ele esta<strong>do</strong> pessoalmente ali. Quan<strong>do</strong> <strong>Jesus</strong> resolveu sair de<br />

Djaguernat, dirigiu-se à Pérsia, onde se haviam feito, na cidade de Persépolis, os preparativos<br />

convenientes a fim de que prosseguisse em seus estu<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

Era Persépolis a capital da antiga Pérsia e a sede <strong><strong>do</strong>s</strong> magos daquele país, chama<strong><strong>do</strong>s</strong> Hor,<br />

Lun e Mer. Um deles, já muito velho, era um <strong><strong>do</strong>s</strong> três que tinham visita<strong>do</strong> o menino ao<br />

nascer na gruta essênia e lhe havia oferta<strong>do</strong> presentes <strong>do</strong> mosteiro da Pérsia.<br />

Grandes homenagens prestaram esses e os sacer<strong>do</strong>tes <strong>do</strong> templo a <strong>Jesus</strong>. De várias<br />

comarcas da Pérsia acudiram outros personagens a Persépolis e ali permaneceram uns<br />

como instrutores e outros como estudantes durante o perío<strong>do</strong> da educação de <strong>Jesus</strong>, porque<br />

referem as crônicas que cada dia, depois das lições, os instrutores lhe rogavam que lhes<br />

ensinasse os princípios superiores que parecia compreender por inspiração.<br />

Por último lhes fez <strong>Jesus</strong> saber que a maior instrução que ele podia dar era a obtida no<br />

silêncio, depois de meditar sobre alguma importante lei que havia si<strong>do</strong> ensinada no decurso<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> seus estu<strong><strong>do</strong>s</strong> e leituras. Assim estabeleceu <strong>Jesus</strong> o méto<strong>do</strong> de ‘penetração no silêncio’,<br />

que tão importante característica havia de ter nos posteriores méto<strong><strong>do</strong>s</strong> místicos.<br />

Também demonstrou <strong>Jesus</strong> em Persépolis notáveis faculdades terapêuticas e, depois de<br />

analisar muitos meses essa sua inerente faculdade e fazer cuida<strong><strong>do</strong>s</strong>o estu<strong>do</strong> de sua ín<strong>do</strong>le,<br />

declarou <strong>aos</strong> instrutores que, no seu entender, a atitude mental da harmonia por parte <strong>do</strong><br />

enfermo influía consideravelmente no resulta<strong>do</strong>. Tal foi o fundamento <strong><strong>do</strong>s</strong> posteriores<br />

ensinamentos das reuniões secretas <strong><strong>do</strong>s</strong> discípulos de <strong>Jesus</strong>, ou seja, que a harmonia<br />

interna e a preparação mental eram necessárias em todas as modalidades da terapêutica<br />

espiritual.<br />

Depois de um ano de permanência na Pérsia, <strong>Jesus</strong> e os magos se dirigiram para a região<br />

<strong>do</strong> Eufrates, onde entrou em relação com os mais ilustres sábios da Assíria e magos de<br />

outros países que foram vê-lo e ouvi-lo, pois já havia chama<strong>do</strong> a atenção de to<strong><strong>do</strong>s</strong> como<br />

intérpretes das leis espirituais de uma forma mais mística e compreensível.<br />

Largo tempo permaneceu <strong>Jesus</strong> nas cidades e povoações da Caldéia e da Mesopotâmia.<br />

Seu salutar poder e méto<strong><strong>do</strong>s</strong> terapêuticos se aperfeiçoaram tão rapidamente que inúmeras<br />

pessoas deles receberam o benefício da saúde e então lhe disseram os seus preceptores,<br />

os magos, que a faculdade de sarar os enfermos seria uma das provas <strong>do</strong> seu último<br />

exame preparatório para o exercício efetivo de sua missão.<br />

39


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Daquele país se transportaram <strong>Jesus</strong> e os magos para as ruínas da Babilônia e ali estiveram<br />

algum tempo a examinar os templos desmorona<strong><strong>do</strong>s</strong>, as partes destruídas e os palácios<br />

desertos. Lá se familiarizou <strong>Jesus</strong> com as provas e atribulações das cativas tribos de Israel<br />

e viu os lugares em que Daniel e os hebreus suportaram tremendas atribulações.<br />

Indubitavelmente lhe impressionaram os peca<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> pagãos e os erros das crenças antigas.<br />

Da Babilônia foram <strong>Jesus</strong> e os magos para a Grécia, onde se relacionou com alguns filósofos<br />

atenienses e esteve sob a direção pessoal e cuida<strong>do</strong> de Apolo, que lhe mostrou as antigas<br />

crônicas da sabe<strong>do</strong>ria grega. Naquele país <strong>Jesus</strong> despertou muito a atenção <strong><strong>do</strong>s</strong> sábios e<br />

magos que lhe rogaram permanecesse mais tempo com eles, mas o seu itinerário estava<br />

definitivamente traça<strong>do</strong> e, ao cabo de poucos meses, embarcou rumo a Alexandria.<br />

Ali só esteve o tempo suficiente para conversar com os mensageiros especiais que haviam<br />

i<strong>do</strong> saudá-lo e visitar alguns <strong><strong>do</strong>s</strong> mais antigos santuários. De lá passou para Heliópolis e<br />

residiu em uma casa particular, especialmente disposta para ele, com vários cria<strong><strong>do</strong>s</strong>, um<br />

lin<strong>do</strong> jardim e um escriba cujas funções eram análogas às <strong>do</strong> que chamamos hoje de<br />

secretário particular.<br />

Pouco depois de sua chegada a Heliópolis, foi <strong>Jesus</strong> visita<strong>do</strong> pelos representantes <strong>do</strong><br />

sacerdócio pagão <strong>do</strong> Egito, que se haviam inteira<strong>do</strong> com desgosto e desaprovação <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

seus ensinamentos e manifestações de poder místico. Novamente sofreu as amarguras da<br />

vida em várias provas e atribulações que teriam leva<strong>do</strong> um homem vulgar a ceder às<br />

insinuações <strong><strong>do</strong>s</strong> sacer<strong>do</strong>tes e a recorrer ao engano e à hipocrisia com respeito <strong>aos</strong> seus<br />

propósitos e intenções”.<br />

Diz o autor que foi naquela ocasião que <strong>Jesus</strong> começou a preparar-se para os graus<br />

superiores da Grande Fraternidade Branca, quan<strong>do</strong> então alcançou o título de Mestre e voltou<br />

para a Palestina.<br />

40<br />

(Transcrição parcial <strong>do</strong> capítulo XXXIII<br />

da obra mediúnica recebida por<br />

Geraldine Cummins e publicada sob o<br />

titulo de “The Manhood of <strong>Jesus</strong>”<br />

pela Psychic Press Ltd., de Londres, Inglaterra)<br />

Antes <strong>do</strong> mais, algumas palavras a respeito da médium srta. Geraldine Cummins,<br />

recentemente falecida, que os espíritas ingleses chamavam de “o maior médium de escrita<br />

automática <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”, possivelmente por desconhecer a grande obra mediúnica <strong>do</strong> nosso queri<strong>do</strong><br />

Francisco Cândi<strong>do</strong> Xavier. Em to<strong>do</strong> o caso vale o título para evidenciar o trabalho mediúnico da<br />

srta. Cummins, composto de vários volumes.<br />

A srta. Geraldine Cummins era filha <strong>do</strong> prof. Ashley Cummins, de Cork, Irlanda. Recebia<br />

mensagens de Felipe, o evangelista; de Cleofas ou Cleopas, um <strong><strong>do</strong>s</strong> discípulos a quem <strong>Jesus</strong>-<br />

Cristo apareceu no caminho de Emaús depois da ressurreição, e de Frederic William Henrv Mvers,<br />

o conheci<strong>do</strong> espírita inglês Frederic Myers. O desenvolvimento de sua mediunidade começou em<br />

dezembro de 1923, em sessões realizadas com a srta. E. B. Gibbes. Nunca estu<strong>do</strong>u teologia ou<br />

assuntos semelhantes. Viajou por todas as partes, mas nunca esteve no Egito nem na Palestina,<br />

de mo<strong>do</strong> que não se lhe pode atribuir conhecimentos históricos ou geográficos daquelas duas<br />

regiões.


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Sua escrita habitual era vagarosa ao passo que, quan<strong>do</strong> escrevia automaticamente, era<br />

muito rápida, até mesmo veloz. Já em março de 1926, contavam-se 1750 palavras escritas em<br />

apenas uma hora e quinze minutos. Sua principal produção mediúnica foi de assuntos <strong><strong>do</strong>s</strong> tempos<br />

apostólicos, como Francisco Cândi<strong>do</strong> Xavier que nos deu: “Há 2000 anos”, “50 anos depois”, “Ave<br />

Cristo”, “O sinal da vitória” e “Paulo e Estevão”, obras ditadas pelo espírito de Emmanuel, que, em<br />

existência anterior, foi um sacer<strong>do</strong>te católico e que, em certo senti<strong>do</strong>, não poderia deixar de pender<br />

para a sua última religião terrena.<br />

O primeiro livro mediúnico recebi<strong>do</strong> pela srta. Cummins foi “Os escritos de Cleofas’, que<br />

suplementa os Atos <strong><strong>do</strong>s</strong> Apóstolos e as Epístolas de São Paulo. É uma narrativa histórica da igreja<br />

primitiva e <strong>do</strong> trabalho <strong><strong>do</strong>s</strong> apóstolos de logo após a morte de <strong>Jesus</strong> até a partida de Paulo de<br />

Beréia para Atenas.<br />

Na sua segunda obra “Paulo em-Atenas”, a narrativa é retomada e continuada. A terceira,<br />

“Os grandes dias de Éfeso”, segue a mesma linha de pensamento. A produção desses escritos<br />

automáticos foi testemunhada por eminentes teólogos e outras autoridades e esclareceu muitas<br />

passagens obscuras <strong><strong>do</strong>s</strong> Evangelhos. Recebeu ela, além de várias outras, sobre diferentes assuntos<br />

de fun<strong>do</strong> espírita, a pequena obra “Apelo para o César” e ainda “A infância de <strong>Jesus</strong>” e esta que<br />

mencionei acima e que trata <strong><strong>do</strong>s</strong> primeiros anos da vida de adulto de <strong>Jesus</strong>, o seu julgamento e a<br />

sua crucificação. “The manhood of <strong>Jesus</strong>” está prefaciada pelo Rev. B. A. Lestes, B. A. (Ôxon).<br />

Trata-se, em suma, de uma médium altamente credenciada e respeitada, mesmo por<br />

autoridades eclesiásticas, e muito lhe deve o Espiritismo na Inglaterra.<br />

Passo, finalmente, à transcrição acima prometida. Ei-la, em tradução:<br />

Os Fariseus, os Saduceus e os Essênios a<strong>do</strong>ravam cada um deles a Deus, conforme sua<br />

própria maneira. Na época em que <strong>Jesus</strong> andava pela Galiléia, os Essênios eram em número<br />

de três ou quatro mil. Alguns moravam na cidade, embora permanecessem uma gente à<br />

parte. Outros viviam na comunidade local e alguns pensavam em Deus nos lugares desertos.<br />

Eles envergonhavam os Fariseus e os Saduceus pela nobreza e pureza de suas vidas. Não<br />

censuravam qualquer pessoa, mas entre si discutiam a respeito das práticas <strong><strong>do</strong>s</strong> Fariseus<br />

e condenavam o oferecimento de animais em sacrifício no Templo de Sion. Não acreditavam<br />

que ritos e cerimônias externas fossem tu<strong>do</strong> deseja<strong>do</strong> por Deus. Havia uma prática, porém,<br />

além da prece e <strong>do</strong> jejum, que lhes era preciosa. Eram cuida<strong><strong>do</strong>s</strong>os na limpeza <strong>do</strong> corpo e<br />

banhavam-se muitas vezes diariamente. Esse era um sinal exterior de sua pureza interior,<br />

esse testemunho da alma que acreditavam levar com eles depois da morte, em sua rápida<br />

viagem para a região feliz, o Paraíso, no longínquo horizonte.<br />

Os Essênios não proferiam palavras profanas ou mundanas antes <strong>do</strong> nascimento <strong>do</strong> sol.<br />

Na hora escura que precede a madrugada, ajoelhavam-se e oravam até que o sol surgisse,<br />

quan<strong>do</strong> entoavam o Canto da Luz Eterna, aquela Luz que emana da fronte de Deus e que,<br />

em majestade e beleza, alimenta toda vida. Mas se entregavam, em particular, a essa<br />

prática da prece e comunhão com Deus antes <strong>do</strong> nascer <strong>do</strong> sol, pois que acreditavam que,<br />

sempre na hora da morte, as almas <strong><strong>do</strong>s</strong> fiéis viajavam para o Paraíso quan<strong>do</strong> o sinal<br />

externo da Luz Eterna surgia em sua glória por cima de colinas e vales. A essa boa gente,<br />

portanto, a hora <strong>do</strong> levantar <strong>do</strong> sol era santa, um espaço de tempo concedi<strong>do</strong> pela vontade<br />

divina ao viajante que se libertou da carne e <strong>do</strong> mal <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que condenavam inteiramente<br />

e de que pensavam livrar-se durante a sua vida.<br />

Os Fariseus e os Saduceus odiavam esses Filhos da Luz, mas a couraça da virtude deles<br />

não podia ser perfurada. Assim, embora esses homens desejassem a sua destruição, não<br />

achavam um meio de assalto com que pudessem abatê-los e destruir-lhes as comunidades.<br />

41


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

No sopé de um monte não longe de Jericó e construída sobre uma rocha, achava-se a casa<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> eremitas. Há muitos anos, <strong>do</strong>is jovens chama<strong><strong>do</strong>s</strong> Shammai e Enoc haviam reuni<strong>do</strong><br />

alguns desses fiéis e os aconselharam a fugir das maldades das cidades e buscar retidão<br />

de vidas, antes que fosse tarde, nos lugares desertos.<br />

Por algum tempo, eles perambularam pelo deserto, cheios de fome e sede, mas, finalmente,<br />

como Moisés e Aarão, Shammai e Enoc descobriram a terra que lhes fora prometida por<br />

Jeová numa visão.<br />

De uma caverna no meio de uma região nua saía uma corrente d’água que denominaram<br />

‘Água da Vida’. Nunca estava seca e regava a planície pedregosa que os irmãos desobstruíam<br />

quan<strong>do</strong> fosse possível, e plantavam pés de uva e figos no alto da rocha. Então, com vagar<br />

e instrumentos edificaram o Lar <strong><strong>do</strong>s</strong> Fiéis, que se tornou famoso além de qualquer outra<br />

coisa pertencente à sua seita, pois Shammai e Enoc, após meditação e prece, esboçaram<br />

corretos mo<strong><strong>do</strong>s</strong> de pensar e de conduta e levaram-nos a serem observa<strong><strong>do</strong>s</strong>, de mo<strong>do</strong> que<br />

aqueles irmãos, que dirigiam, levassem uma vida pura que servisse de exemplo para as<br />

outras comunidades. Desprezavam as riquezas e partilhavam as coisas em comum. Saben<strong>do</strong><br />

disto quan<strong>do</strong> era jovem, <strong>Jesus</strong> disse à Maria Cleofas que algum dia visitaria os Essênios e<br />

aprenderia o seu mo<strong>do</strong> de viver.<br />

E assim aconteceu que, no começo <strong>do</strong> verão, na hora <strong>do</strong> pôr <strong>do</strong> sol, Shammai, que permanecia<br />

entre as vinhas e dirigia o trabalho <strong><strong>do</strong>s</strong> irmãos, percebeu, no vale, um viajante que se<br />

aproximava e que demonstrava estar cain<strong>do</strong> de fraqueza. Rapidamente despachou <strong>do</strong>is<br />

irmãos mais moços para receber e socorrer o homem. Levantaram-lhe o corpo caí<strong>do</strong> e<br />

conduziram-no, pela volta <strong>do</strong> caminho, ao seu lar na encosta <strong>do</strong> morro.<br />

Depois de breve instante, esse viajante abriu os olhos na frialdade da larga câmara para<br />

onde o tinham conduzi<strong>do</strong>. Ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> revigora<strong>do</strong> por meio de ervas e limpa<strong>do</strong> da poeira <strong>do</strong><br />

caminho, ele falou e deu o seu nome: <strong>Jesus</strong> de Nazaré. Então Shammai man<strong>do</strong>u que os<br />

irmãos voltassem ao seu trabalho e às suas orações, pois. como ele contou a Enoc, ficara<br />

estranhamente impressiona<strong>do</strong> pela conversa e a figura <strong>do</strong> jovem galileu.<br />

Shammai era um homem de dignidade e idade avançada e seu tom de autoridade não<br />

podia deixar de ser obedeci<strong>do</strong>. Logo <strong>Jesus</strong> lhe estava abrin<strong>do</strong> o coração e contan<strong>do</strong> o seu<br />

plano de ir ao Egito.<br />

‘Por que ir ao país <strong><strong>do</strong>s</strong> idólatras, onde não há paz nem qualquer segurança onde uma<br />

comunhão possa ser feita e mantida com o Abençoa<strong>do</strong>?’ falou Shammai. ‘Percebo, jovem,<br />

que a tua alma está pesada e que ficaste abati<strong>do</strong> pelas maldades <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Em uma<br />

época distante, como tu, também eu presenciei cenas de violência que me levaram a buscar<br />

Deus neste lugar deserto, que tem si<strong>do</strong> frutífero para nós. Vi homens tortura<strong><strong>do</strong>s</strong> e mortos<br />

pelos Romanos e ouvi as declarações feitas pelos Fariseus <strong>aos</strong> homens <strong>do</strong> poder. Por<br />

conseguinte, sei que unicamente pelo retiro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> posso preservar minh’alma e as <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

outros <strong>do</strong> mal que sempre prevalece no mun<strong>do</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> homens - prevalece até que o Messias<br />

venha’.<br />

Então <strong>Jesus</strong> perguntou se ele podia tornar-se irmão dessa comunidade de Essênios e<br />

passar sua vida no vale: ‘onde, na verdade, creio que encontrarei e guardarei o Reino <strong>do</strong><br />

Céu’.<br />

Por um momento Shammai não deu resposta como se perscrutasse o rosto <strong>do</strong> jovem com os<br />

olhos. Quan<strong>do</strong> finalmente falou, suas palavras não foram de boas-vindas e de assentimento.<br />

42


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

‘Meu espírito me diz’, falou Shammai, ‘que há em ti algum estranho poder que te levará<br />

longe de nós, te levará de volta ao mun<strong>do</strong>. Acho-me assim confuso, não gostan<strong>do</strong> de proibirte<br />

de entrar para a nossa ordem, mas saben<strong>do</strong>, por conhecimento íntimo, que tu não és um<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> nossos, que estranhos e terríveis acontecimentos jazem em teu caminho pela vida<br />

afora. Portanto, temen<strong>do</strong> que a nossa paz possa ser destruída, hesito em pedir-te para<br />

permanecer conosco’.<br />

<strong>Jesus</strong> então encheu-se de tristeza. Perceben<strong>do</strong>-lhe o abatimento, Shammai lançou de si o<br />

manto <strong>do</strong> pré-conhecimento e disse ao seu hóspede que ele poderia morar naquela casa<br />

três dias e noites depois <strong>do</strong> que receberia a sua resposta.<br />

Assim, durante aqueles três dias e noites <strong>Jesus</strong> viveu entre os Essênios, seguin<strong>do</strong> o .seu<br />

mo<strong>do</strong> de vida. Levantava-se ao nascer <strong>do</strong> sol e orava até que o dia clareasse, e to<strong><strong>do</strong>s</strong> então<br />

se juntavam no seu canto de louvor e a<strong>do</strong>ração. <strong>Jesus</strong> banhava-se na corrente quatro<br />

vezes por dia e comia com os irmãos no largo aposento e ouvia a leitura das Escrituras,<br />

feita por Enoc. Trabalhava na vinha e cada tarde lavava a veste branca que lhe fora dada<br />

para usar. As horas de orações eram observadas por ele, horas das quais era cioso, não<br />

permanecen<strong>do</strong> <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> como acontecia com alguns irmãos durante o pesa<strong>do</strong> calor da<br />

tarde. Breve, em razão de sua singularidade e certa radiação que a regra <strong>do</strong> silêncio não<br />

podia quebrar, tornou-se o ama<strong>do</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> ‘crentes’ como eram os Essênios chama<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

Na hora seguinte ao levantar <strong>do</strong> sol, já no quarto dia, Enoc foi porta-voz <strong>do</strong> desejo <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

irmãos, que pediam a Shammai que permitisse que <strong>Jesus</strong> se tornasse membro de sua<br />

comunidade ou, pelo menos, lhe fosse permiti<strong>do</strong> residir ali por três anos e observa<strong>do</strong> e<br />

experimenta<strong>do</strong> até que eles pudessem saber se ele poderia continuar na ordem durante a<br />

sua vida.<br />

Shammai respondeu: ‘Não estou consentin<strong>do</strong> nisto, mas, já que é a vontade <strong><strong>do</strong>s</strong> irmãos,<br />

assim seja’. Então os Essênios daquela comunidade ficaram contentes, e, na sua presença,<br />

<strong>Jesus</strong> proferiu as palavras de seu primeiro voto: ‘Serei verdadeiro e fiel no meu trato com<br />

to<strong><strong>do</strong>s</strong> os homens e mais particularmente obedecerei os que tiverem autoridade, pois Deus<br />

os apontou para dirigir-me’.<br />

Preces foram proferidas e os irmãos vestiram <strong>Jesus</strong> com nova veste branca e assim começou<br />

o seu novicia<strong>do</strong>.<br />

Mais tarde iria <strong>Jesus</strong> cumprir o seu destino em Jerusalém e outros lugares.<br />

Em resumo, esta narrativa mediúnica confirma a estada de <strong>Jesus</strong> entre os Essênios e o<br />

seu aprendiza<strong>do</strong>.<br />

43<br />

(Excerto da obra de A. Leterre “<strong>Jesus</strong><br />

e sua <strong>do</strong>utrina”, edição da<br />

Livraria da Federação<br />

Espírita Brasileira, 1934, págs. <strong>13</strong>2-4)<br />

O erudito A. Leterre foi um <strong><strong>do</strong>s</strong> autores que mais investigaram sobre a vida de <strong>Jesus</strong> e<br />

<strong>do</strong> seu alenta<strong>do</strong> volume de 540 páginas, estu<strong>do</strong> remonta<strong>do</strong> há mais de 8600 anos, extraímos o<br />

seguinte e interessante trecho:


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Como já vimos, <strong>Jesus</strong> era de ascendência judaica e, como tal, teve de submeter-se a todas<br />

as exigências da Lei Mosaica que abrangia a Economia, o Ensino, a justiça, a Higiene, a<br />

Moral e o Culto a Jeová.<br />

As primeiras palavras que <strong>Jesus</strong> balbuciou foram certamente orações a IÊVE (Jeová) e<br />

nem sua mãe poderia ter-lhe ensina<strong>do</strong> outra <strong>do</strong>utrina senão a que ela mesma professava<br />

nos templos, tanto mais, crente como estava, de ser seu filho o Messias, isto é, o profeta<br />

anuncia<strong>do</strong> por Moisés, não poden<strong>do</strong>, pois, a religião ser outra, por isso que o nazareou,<br />

mesmo para estar de acor<strong>do</strong> com a Lei que mandava consagrar ao Senhor to<strong>do</strong> primogênito<br />

homem.<br />

Cria<strong>do</strong> o menino, foi ele entregue ao templo para sua educação e final desempenho da sua<br />

missão, ten<strong>do</strong> se da<strong>do</strong> essa ausência entre a idade de 12 à de <strong>30</strong> anos, justamente o<br />

tempo omisso nos Livros Sagra<strong><strong>do</strong>s</strong> sobre a Vida de <strong>Jesus</strong> nesse interregno, mas exatamente<br />

concordante com o tempo prescrito pelos templos na Índia para as iniciações que regulava<br />

ser de 18 a 21 anos.<br />

Esses 18 anos de ausência de <strong>Jesus</strong> são comparáveis <strong>aos</strong> 15 anos em que Zoroastro<br />

também esteve ausente. Apelemos para Lucas. Que diz ele em 1, 80?<br />

“E o menino crescia e se robustecia em espírito. E esteve nos desertos até o dia<br />

em que havia de mostrar-se a Israel”.<br />

Esse deserto era toda a parte que se estendia para o Oriente, cujo limite pouco importava<br />

ao evangelista. Se as palavras <strong>do</strong> Evangelho devem ser consideradas palavras de evangelho,<br />

não há como curvar-se a cabeça ante esta declaração que corrobora todas as pesquisas<br />

feitas pelos cientistas.<br />

Segun<strong>do</strong> Nicolau Nótovitch, <strong>Jesus</strong> esteve em Djaguernat, na Índia, onde os Brâmanes lhe<br />

ensinaram a <strong>do</strong>utrina <strong><strong>do</strong>s</strong> Vedas, a medicina, a matemática, etc.<br />

Notovitch afirma que ele era conheci<strong>do</strong> sob o nome de Issa. Não haverá neste nome uma<br />

corrupção fonética de Isso - I-Sh-O - Iesu?<br />

Em celta, Esus é análogo ao Eso etrusco que era o epíteto de Júpiter, ao Aisa grego, à Isis<br />

egípcia. Esus significava o Ser, assim como Esuk, Eson ou OEsar significava Deus.<br />

Mas, como esse Issa não se conformava com a hierarquia <strong><strong>do</strong>s</strong> deuses bramânicos, produzida<br />

pelo cisma de Irshu, 3200 anos, antes, ele se retirou para as montanhas <strong>do</strong> Nepal, no<br />

Tibet, onde reinava a <strong>do</strong>utrina budista, que aprendeu, inician<strong>do</strong>-se nos outros mistérios.<br />

Dirigiu- se, então, para sua terra natal, atravessan<strong>do</strong> a Pérsia e chegan<strong>do</strong> à terra de Israel<br />

com a idade de 29 anos, o que concorda com Lucas III, 23: ‘<strong>Jesus</strong> estava quase nos <strong>30</strong><br />

anos de idade, sen<strong>do</strong>, como se cuidava. filho de José’, o que significa, claramente, que seu<br />

súbito aparecimento ali, após tão prolongada ausência, produziu aquela dúvida entre as<br />

pessoas da localidade.<br />

Aprofundan<strong>do</strong>-se também o senti<strong>do</strong> da exclamação de Marcos e de Mateus VI, 3, etc.: ‘Não<br />

é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? e não<br />

estão suas irmãs aqui conosco?’, verifica-se logo o súbito aparecimento de <strong>Jesus</strong> entre<br />

seus parentes. É de notar-se mesmo que Mateus, não se referin<strong>do</strong> a seu pai José, faz<br />

supor que ele já tivesse morri<strong>do</strong>, mas João VI, 42, supre esta falta, dizen<strong>do</strong>: ‘Não é este<br />

<strong>Jesus</strong>, filho de José, cujos pai e mãe nós conhecemos?’<br />

44


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Segun<strong>do</strong> este notável escritor, toda a <strong>do</strong>cumentação por ele copiada e resumida em sua<br />

citada obra, cujas edições foram em grande parte queimadas na Rússia e em Paris pelo clero<br />

interessa<strong>do</strong>, se acha, entretanto, conservada nos templos de Lhassa, para onde foi leva<strong>do</strong> cerca de<br />

200 anos após a morte de <strong>Jesus</strong>, da qual é também ali falada e igualmente é encontrada em<br />

Bombaim e na própria Biblioteca <strong>do</strong> Vaticano.<br />

A história parece ter seu cunho de verdade se compararmos as palavras, as sentenças,<br />

as parábolas, os atos de <strong>Jesus</strong> com os ensinos da <strong>do</strong>utrina de Buda, onde elas se encontram em<br />

toda sua pureza, e <strong>do</strong> que faremos adiante uma vasta comparação.<br />

Também, segun<strong>do</strong> Saint-Yves,<br />

<strong>Jesus</strong> foi inicia<strong>do</strong> no Agartha, no Tibet, e sua <strong>do</strong>utrina é saturada da budista, que ele<br />

soube adaptar à mosaica e de acor<strong>do</strong> com a mentalidade e os costumes de seu povo.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, confrontan<strong>do</strong>-se Notovitch com Schuré, ex-discípulo de Saint-Yves, este<br />

escritor faz supor que, da idade de 29 para <strong>30</strong> anos, <strong>Jesus</strong> havia se recolhi<strong>do</strong> ao templo<br />

que funcionava em Engaddi, perto de Belém, nas margens <strong>do</strong> Mar Morto, e que era dirigi<strong>do</strong><br />

por Essênios (Assaya em siríaco, que significa Médico, Terapeuta), os quais tinham por<br />

missão curar <strong>do</strong>enças físicas e morais. Era o resto de uma casta sacer<strong>do</strong>tal pertencente a<br />

confrarias de profetas instituídas ali por Samuel, o qual, por sua vez, era filia<strong>do</strong> às <strong>do</strong>utrinas<br />

de Rama.<br />

Proibiam o matrimônio e a guerra; recomendavam o amor a Deus e ao próximo e ensinavam<br />

a imortalidade da alma; formavam uma singular associação moral e religiosa e viviam<br />

numa espécie de mosteiros (Koinobions), pon<strong>do</strong> seus bens em comum e entregan<strong>do</strong>-se à<br />

agricultura.<br />

Eram opostos <strong>aos</strong> Saduceus, que negavam a imortalidade da alma. Há grande analogia<br />

entre essa seita e os primitivos cristãos. Tinham, porém, muitas idéias e práticas budistas.<br />

O título de irmão usa<strong>do</strong> na igreja primitiva é de origem essênia.<br />

Segun<strong>do</strong> F. Delaunay, os essênios surgiram 159 anos antes de J. C. nas cercanias da<br />

cidade <strong><strong>do</strong>s</strong> Patriarcas, ao norte de Engaddi, não longe, portanto, de Belém, onde se achavam<br />

dissemina<strong><strong>do</strong>s</strong> seus templos.<br />

Plínio, por sua vez, relata que os essênios eram budistas.<br />

Paramos aqui para citar outro autor não menos erudito, ou seja um grande orientalista,<br />

como Louis Jacolliot.<br />

45<br />

(Passagem de “La Biblia en la India”<br />

de Louis Jacolliot, Editorial Araujo,<br />

Buenos Aires, Argentina, págs. 341-3)<br />

Louis Jacolliot, indianista e escritor francês de primeira plana, nasceu em Charolles<br />

por volta de 1837 e faleceu em Saint-Thibault-les-Vignes no ano de 1890, Doutorou-se em<br />

jurisprudência ainda muito jovem e partiu para a Índia, cujos mistérios constituíram a vocação<br />

absorvente de sua vida.<br />

Em Chandernagor, lugar onde escreveu o original francês de La Bible dans l’Inde, foi<br />

Presidente <strong>do</strong> Tribunal de Justiça e se destacou como um espírito largo e generoso. O tratamento<br />

de pundit-sahib (senhor da justiça), que lhe deram naquela ocasião, bem mostra seu fervor humano<br />

e sua preocupação pela eqüidade e a verdade.


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Na Índia, Jacolliot meditou toda a sua obra, composta de vários volumes, entre eles o de<br />

que se trata e que bem revela a sua cultura de humanista erudito, e Christna et le Christ, Les fils de<br />

Dieu, La genèse de l’humanité, Le Spiritisme dans le monde, etc.<br />

Escreve ele:<br />

É indubitável para nós que <strong>Jesus</strong>, até o momento em que apareceu no cenário <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

isto é, até os trinta anos, se preparou pelo estu<strong>do</strong> para a missão que se havia imposto.<br />

Por que, com efeito, permanecer até os trinta anos sem começar sua obra? Por que, se<br />

houvesse si<strong>do</strong> Deus, permanecer na inação durante <strong>do</strong>ze ou quinze anos de sua vida de<br />

a<strong>do</strong>lescente e de homem? Por que não pregar desde sua infância? Seria, sem dúvida<br />

alguma, um meio bastante sensível de demonstrar sua divindade.<br />

Conta-se que <strong>aos</strong> <strong>do</strong>ze anos defendeu, no templo, uma tese que maravilhou os <strong>do</strong>utores<br />

judeus. Que tese? Por que os evangelistas não julgaram conveniente nos fazer conhecê-la?<br />

Não seria mais provável que esse fato, junto com outros, fosse produto de sua imaginação?<br />

Enfim, que fez <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong>ze <strong>aos</strong> trinta anos? Esta é uma pergunta que formulo e que gostaria<br />

de ver respondida.<br />

No silêncio <strong><strong>do</strong>s</strong> apologistas de <strong>Jesus</strong> não podemos ver mais <strong>do</strong> que um fato intencional,<br />

pois seria preciso dizer a verdade e destruir a nuvem de obscuridade com a qual se<br />

comprazeram em rodear aquela grande figura. E o certo é que Cristo, durante tal perío<strong>do</strong>,<br />

estu<strong>do</strong>u no Egito, talvez até na Índia, os livros sagra<strong><strong>do</strong>s</strong>, reserva<strong><strong>do</strong>s</strong> desde séculos <strong>aos</strong><br />

inicia<strong><strong>do</strong>s</strong> e com os mais inteligentes <strong><strong>do</strong>s</strong> discípulos que se juntaram a ele no curso das suas<br />

peregrinações.<br />

Desta maneira foi como <strong>Jesus</strong> conheceu as tradições primitivas e estu<strong>do</strong>u a obra e a moral<br />

de Crisma, na qual se inspirou para seus ensinamentos e prédicas familiares.<br />

Parece-me ouvir exclamações de surpresa e admiração até no campo <strong><strong>do</strong>s</strong> livres pensa<strong>do</strong>res.<br />

Raciocinemos, pois. A vós racionalistas me dirijo, a vós somente, pois toda discussão com<br />

os partidários da fé é impossível, desde o momento que não podemos entender-nos a<br />

respeito de princípios.<br />

Se não acreditais na divindade de <strong>Jesus</strong> por que vos admirais que se indague quais foram<br />

seus antecessores e inicia<strong>do</strong>res? Nasci<strong>do</strong> de uma classe não inteligente, porque muito<br />

pouco instruída, só mercê de estu<strong><strong>do</strong>s</strong> pôde elevar-se acima de seus compatriotas e<br />

desempenhar o importante papel que conhecemos. Sim, Cristo foi ao Egito; sim, Cristo<br />

estu<strong>do</strong>u no Oriente com os seus discípulos, eis a única maneira de explicar logicamente a<br />

revolução moral que realizaram. Provas não faltam. Esperai antes de formular juízo a respeito<br />

desta opinião que não é para mim uma simples hipótese mas uma verdade histórica.<br />

Que esta última palavra não vos surpreenda muito. Digo verdade histórica porque se comigo<br />

recusais o revela<strong>do</strong>, o prodigioso e o maravilhoso, só ficam causas naturais para estudar e<br />

se juntos achamos, em nossos estu<strong><strong>do</strong>s</strong> anteriores, uma <strong>do</strong>utrina mais antiga e que seja,<br />

ponto por ponto, idêntica à de <strong>Jesus</strong> e de seus apóstolos, não estaremos no direito de crer<br />

que nas mesmas fontes primitivas foi onde eles foram buscar seus conhecimentos?<br />

Não foram todas as grandes inteligências da antiguidade vivificar seu gênio no Egito? Não<br />

era aquele antigo país o ponto de reunião de to<strong><strong>do</strong>s</strong> os pensa<strong>do</strong>res, de to<strong><strong>do</strong>s</strong> os filósofos, de<br />

to<strong><strong>do</strong>s</strong> os historia<strong>do</strong>res, de to<strong><strong>do</strong>s</strong> os gramáticos daquela época? Que iam buscar ali? Que<br />

podia encerrar aquela imensa biblioteca de Alexandria cuja destruição foi um <strong><strong>do</strong>s</strong> menores<br />

títulos com que o César conquistou o desprezo das gerações vin<strong>do</strong>uras?<br />

Por que mais tarde os neo-platônicos foram àquele país fundar sua célebre escola se as<br />

antigas tradições não houvessem atraí<strong>do</strong>, qual foco luminoso, todas as escassas inteligências<br />

e to<strong><strong>do</strong>s</strong> os pensa<strong>do</strong>res?<br />

46


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

O filho de Maria e José seguiu a corrente: o Egito estava a pouca distância e ele foi ali<br />

instruir-se. Até pode ser, e estou tenta<strong>do</strong> em acreditá-lo, que foi leva<strong>do</strong> àquele país, desde<br />

a mais tenra idade, pelos próprios pais, assim como explicam os evangelistas, e devia<br />

voltar só depois de haver concebi<strong>do</strong> o pensamento de ir pregar sua <strong>do</strong>utrina <strong>aos</strong> judeus.<br />

Fazemos ponto aqui, passan<strong>do</strong> a novas narrações concordantes, todas elas enaltecen<strong>do</strong><br />

a grande missão <strong>do</strong> Cristo, embora o vejam sob certo ponto de vista.<br />

Não censureis os que consideram <strong>Jesus</strong> como um grande inicia<strong>do</strong>, pois autores há, que,<br />

alegan<strong>do</strong> que ele historicamente não existe, porque não foi menciona<strong>do</strong> por escritores de sua<br />

época, duvidam de sua existência terrena e chegam mesmo a impugnar o Novo Testamento, que já<br />

foi muito esmiuça<strong>do</strong> e critica<strong>do</strong>. Não desconhecemos o que aconteceu com o Padre Loisy.<br />

Mas, seja como for, a nossa religião cristã tem feito muito pela humanidade terrena e<br />

progredirá cada vez mais.<br />

<strong>Jesus</strong> foi e será sempre o maior <strong><strong>do</strong>s</strong> profetas, a julgar pelo Novo Testamento.<br />

(Trechos das obras de E<strong>do</strong>uard Schuré intituladas<br />

“L’Évolution Divine (du Sphinx au Christ) e<br />

“Les Grands Initiés” (Rama, Khrisma, Hérmes,<br />

Moise, Orphée, Pythagore, Platon, Jésus),<br />

Librairie Académique Perrin, Paris, 1950)<br />

E<strong>do</strong>uard Schuré foi um escritor francês de origem alsaciana, que escreveu obras sobre<br />

história, estética e filosofia, bem como poesias, romances e peças de teatro. Era filia<strong>do</strong> à escola<br />

teosófica que, baseada em algumas passagens <strong>do</strong> Novo Testamento, ensina que <strong>Jesus</strong>, depois de<br />

convenientemente prepara<strong>do</strong> pela iniciação, serviu de veículo à manifestação <strong>do</strong> Cristo Cósmico<br />

na Terra.<br />

Eis a descrição de Schuré:<br />

O corpo etéreo foi violentamente arranca<strong>do</strong> de seu invólucro físico. Por alguns segun<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

toda a vida passada turbilhonou em um c<strong>aos</strong>. Depois, um imenso alívio e o negror da<br />

inconsciência. O eu transcendente, a alma imortal <strong>do</strong> mestre <strong>Jesus</strong> deixou para sempre<br />

seu corpo físico e mergulhou na aura <strong>do</strong> sol que o inspirou. Mas, <strong>do</strong> mesmo jato, por um<br />

movimento inverso, o Gênio solar, o Ser sublime, que chamamos Cristo, se apoderou <strong>do</strong><br />

corpo aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> para tomar posse dele até a medula e animar com um fogo novo essa<br />

lira humana, preparada por centenas de gerações para holocausto de seu profeta. Foi por<br />

isso que os <strong>do</strong>is essênios viram um clarão brotar <strong>do</strong> céu azul e iluminar to<strong>do</strong> o vale <strong>do</strong><br />

Jordão? Eles fecharam os olhos devi<strong>do</strong> à luz penetrante como se tivessem visto um arcanjo<br />

brilhante precipitar-se, cabeça baixa, no rio, deixan<strong>do</strong> atrás de si miríades de espíritos com<br />

um rastro de chamas.<br />

Não apoiamos ou negamos este ensino, pois já percebemos que a vida de <strong>Jesus</strong> se<br />

presta perfeitamente a várias interpretações e que tal ponto de vista permanece mesmo lá no<br />

Além, como vimos, no começo deste trabalho, a propósito <strong>do</strong> “Novo Nuctemeron”, dita<strong>do</strong> pelo<br />

espírito de Apolônio de Tiana, a quem é atribuída a autoria <strong>do</strong> “Nuctemeron”, também chama<strong>do</strong><br />

“As Doze Horas de Apolônio de Tiana”.<br />

Razão teve o antroposofista austríaco Ru<strong>do</strong>lf Steiner quan<strong>do</strong> escreveu: “Pode-se sempre<br />

aprofundar o mistério da Palestina. Detrás dele há ... o infinito”.<br />

47


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Extraímos o seguinte trecho <strong>do</strong> Capítulo III - Estada de <strong>Jesus</strong> entre os essênios,<br />

o batismo no Jordão e encarnação <strong>do</strong> Cristo, págs. 363/4, <strong>do</strong> livro VIII - O Cristo cósmico<br />

e o <strong>Jesus</strong> histórico - da primeira das obras citadas:<br />

Que fez <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> treze <strong>aos</strong> trinta anos? Os Evangelhos não dizem palavra a respeito.<br />

Há uma lacuna premeditada e um profun<strong>do</strong> mistério, porque to<strong>do</strong> profeta, por maior<br />

que seja ele, tem necessidade de ser inicia<strong>do</strong>. É preciso que sua alma interior seja<br />

desperta e que ela tome conhecimento de suas forças para cumprir sua nova função.<br />

A tradição esotérica <strong><strong>do</strong>s</strong> teósofos da antiguidade e <strong><strong>do</strong>s</strong> tempos modernos é acorde<br />

em afirmar que o mestre <strong>Jesus</strong> não podia ser inicia<strong>do</strong> senão entre os essênios,<br />

última confraria onde existiam ainda as tradições <strong>do</strong> profetismo e que habitava<br />

então as margens <strong>do</strong> Mar Morto. Os essênios, <strong><strong>do</strong>s</strong> .quais Filon de Alexandria revelou<br />

os costumes e as <strong>do</strong>utrinas secretas, eram sobretu<strong>do</strong> conheci<strong><strong>do</strong>s</strong> como terapeutas<br />

ou cura<strong>do</strong>res pelos poderes <strong>do</strong> Espirito. Assaya quer dizer médico. Os essênios<br />

eram médicos d’alma.<br />

Como convinha à humanidade profana, os Evangelistas deixaram pairar um silêncio<br />

absoluto, tão profun<strong>do</strong> quanto o <strong>do</strong> Mar Morto, sobre a iniciação <strong>do</strong> mestre <strong>Jesus</strong>.<br />

Eles não nos mostram senão o último termo dela no batismo <strong>do</strong> Jordão, mas, ten<strong>do</strong><br />

reconheci<strong>do</strong> de uma parte a individualidade transcendente de mestre <strong>Jesus</strong> idêntica<br />

à <strong>do</strong> profeta de Ahura-Mazda, e saben<strong>do</strong> de outro la<strong>do</strong> que o batismo <strong>do</strong> Jordão<br />

desvenda o mistério formidável da encarnação <strong>do</strong> Cristo, afirmada em escritura<br />

oculta pelos símbolos transparentes que pairam na narração evangélica, podemos<br />

reviver, em suas fases essenciais, essa preparação de um gênero único para o<br />

mais extraordinário acontecimento da história.<br />

É o que ele narra nas páginas seguintes, cujo remate final não nos satisfaz.<br />

Conforme prometemos, damos a seguir breves passagens da obra “Os Grandes<br />

Inicia<strong><strong>do</strong>s</strong>”, no que dizem respeito ao nascimento de <strong>Jesus</strong> e a sua alta missão.<br />

Do capítulo II - Maria - Os primeiros tempos de <strong>Jesus</strong>:<br />

Jehosua, cujo nome heleniza<strong>do</strong> veio a tornar-se em <strong>Jesus</strong>, nasceu provavelmente<br />

em Nazaré. Foi com certeza nesse canto perdi<strong>do</strong> da Galiléia que decorreu sua infância<br />

e que teve lugar o primeiro e o maior <strong><strong>do</strong>s</strong> mistérios cristãos: a eclosão da alma <strong>do</strong><br />

Cristo. Ele era filho de Myriam, que nós chamamos Maria, mulher <strong>do</strong> carpinteiro<br />

José, uma galiléia de nobre estirpe, adepta <strong><strong>do</strong>s</strong> essênios.<br />

A lenda envolveu o nascimento de <strong>Jesus</strong> num teci<strong>do</strong> de maravilhas. Ora, se a lenda<br />

algumas vezes encobre apenas superstições outras há também que servem para<br />

velar verdades psíquicas pouco conhecidas, porque superiores ao entendimento<br />

comum.<br />

Como quer que seja um fato parece ressaltar da história lendária de Maria - que<br />

<strong>Jesus</strong> foi uma criança consagrada a uma missão profética pela vontade de sua<br />

mãe, antes de seu nascimento. Conta-se que o mesmo sucedeu com vários heróis ë<br />

profetas <strong>do</strong> Velho Testamento. Esses filhos vota<strong><strong>do</strong>s</strong> a Deus pelas suas mães<br />

chamavam-se Nazarenos. A tal respeito é interessante reler a história de Sansão e<br />

a de Samuel. Um anjo anuncia à mãe de Sansão que ela vai conceber e dar à luz<br />

um filho por cuja cabeça não passaria navalha “porque a criança desde o ventre<br />

de sua mãe será nazareno; e que será ela que começará a libertar Israel<br />

da tirania <strong><strong>do</strong>s</strong> Filisteus”. (Juízes, VIII, 3/5) A mãe de Samuel pede um filho a<br />

Deus. Ana, mulher de Elcana, sen<strong>do</strong> estéril, fez um voto e disse: “Senhor <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

exércitos celestes! se deres à tua escrava um filho varão, eu to oferecerei<br />

por to<strong><strong>do</strong>s</strong> os dias de sua vida e não passará navalha pela sua cabeça.<br />

Então Elcana conheceu sua mulher... Algum tempo depois, Ana concebeu e<br />

deu à luz um filho a quem pôs o nome de Samuel, porque, diz ela, o pedi ao<br />

Senhor”. (Samuel I, cap. I, vs. 11/20) Ora, SAM-U-EL significa, segun<strong>do</strong> as raízes<br />

semíticas primitivas: Esplen<strong>do</strong>r interior de Deus. A mãe, sentin<strong>do</strong>-se iluminada<br />

por aquele que encarnava, considerava-o como a essência etérea.<br />

48


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

trecho:<br />

Estas passagens têm uma importância extrema, porque nos fazem penetrar na tradição<br />

esotérica, constante e viva em Israel, e por ela no senti<strong>do</strong> verdadeiro da lenda cristã. Elcana,<br />

o mari<strong>do</strong>, é bem o pai terrestre de Samuel segun<strong>do</strong> a carne, mas o Eterno é seu pai celeste,<br />

segun<strong>do</strong> o Espírito. A linguagem figurada <strong>do</strong> monoteísmo encobre aqui a <strong>do</strong>utrina da<br />

preexistência da alma. A mulher iniciada chama uma alma superior para a receber no seu<br />

ventre e dar à luz um profeta. Esta <strong>do</strong>utrina, muito velada entre os judeus, completamente<br />

ausente <strong>do</strong> culto oficial, fazia parte da tradição secreta <strong><strong>do</strong>s</strong> inicia<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

E <strong>do</strong> cap. II - Os essênios - João Batista - A tentação, este pequeno e interessante<br />

O que <strong>Jesus</strong> queria saber, só os essênios lhe poderiam ensinar.<br />

Os Evangelhos guardam um silêncio absoluto sobre os fatos e os gestos de <strong>Jesus</strong> antes de<br />

seu encontro com João Batista, pelo qual, segun<strong>do</strong> eles, o Cristo, de certo mo<strong>do</strong>, deu início<br />

ao seu ministério. Logo depois ele apareceu na Galiléia com uma <strong>do</strong>utrina formada, a<br />

segurança de um profeta e a consciência de um Messias, porém é evidente que esse início<br />

de pregação deveria ter si<strong>do</strong> precedi<strong>do</strong> por um longo desenvolvimento e por uma verdadeira<br />

iniciação. E não é menos certo que tal iniciação deveria ter-se realiza<strong>do</strong> na única associação<br />

que então conservava em Israel as verdadeiras tradições e o gênero de vida <strong><strong>do</strong>s</strong> profetas.<br />

Isto não pode oferecer a menor dúvida àqueles que, elevan<strong>do</strong>-se acima da superstição da<br />

letra e da mania maquinal <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento, ousam descobrir o encadeamento das coisas<br />

pelo espírito delas.<br />

Isto ressalta não só da íntima conformidade entre a <strong>do</strong>utrina de <strong>Jesus</strong> e a <strong><strong>do</strong>s</strong> essênios<br />

mas <strong>do</strong> próprio silêncio guarda<strong>do</strong> pelo Cristo e pelos seus acerca dessa seita. Por que<br />

motivo ele, que atacava com uma liberdade sem igual to<strong><strong>do</strong>s</strong> os parti<strong><strong>do</strong>s</strong> religiosos de seu<br />

tempo, não cita nunca os essênios? Por que razão também nem os Apóstolos nem os<br />

Evangelistas falam deles? Evidentemente porque consideravam os essênios como sen<strong>do</strong><br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> seus, porque estavam liga<strong><strong>do</strong>s</strong> a eles pelo juramento <strong><strong>do</strong>s</strong> Mistérios e porque esta seita<br />

se fundiu com a <strong><strong>do</strong>s</strong> cristãos.<br />

Na época de <strong>Jesus</strong> a ordem <strong><strong>do</strong>s</strong> essênios constituía o último resto dessas confrarias de<br />

profetas organizadas por Samuel. O despotismo <strong><strong>do</strong>s</strong> senhores da Palestina, a inveja de um<br />

sacerdócio ambicioso e servil os tinham repeli<strong>do</strong> para o retiro e o silêncio. Eles já não<br />

lutavam como os seus predecessores, contentan<strong>do</strong>-se em manter a tradição. Tinham <strong>do</strong>is<br />

centros principais: um no Egito, nas margens <strong>do</strong> lago Maoris e o outro na Palestina, em<br />

Engaddi, à beira <strong>do</strong> Mar Morto. Este nome de Essênios, que tinham a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>, vinha da<br />

palavra siríaca Assaya, médico, em grego terapeuta, porque seu mister confessa<strong>do</strong> era o<br />

de curar <strong>do</strong>enças físicas e morais.<br />

Paramos aqui com as citações das obras de Schuré para passar a duas autoras muito<br />

conhecidas no meio teosófico.<br />

49<br />

(Citação de “El Cristianismo Esotérico”<br />

(Los Mistérios de <strong>Jesus</strong> de Nazaré)<br />

de Annie Besant, Editorial Claridad,<br />

Buenos Aires, Argentina, págs. 73/4)


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Annie Besant foi uma simpática e ilustre senhora inglesa que, maravilhada com a Teosofia,<br />

fixou residência na Índia e foi mãe a<strong>do</strong>tiva <strong>do</strong> filósofo Krishnamurti.<br />

De sua obra supracitada, extraímos o seguinte trecho <strong>do</strong> capítulo IV - O Cristo Histórico<br />

- que condiz com o ponto de vista teosófico sobre o assunto, isto é, a iniciação <strong>Jesus</strong> e a encarnação<br />

terrena <strong>do</strong> Cristo. Ei-lo:<br />

Os anais ocultos confirmam, em parte, a narração <strong><strong>do</strong>s</strong>. Evangelhos e em parte não. Mostramnos<br />

a vida de <strong>Jesus</strong> e deste mo<strong>do</strong> nos facilitam o separá-la <strong><strong>do</strong>s</strong> mitos que estão com ela<br />

entrelaça<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

O menino, cujo nome judeu foi transforma<strong>do</strong> em <strong>Jesus</strong>, nasceu na Palestina 105 anos<br />

antes de nossa era, sen<strong>do</strong> cônsules Públio Rutilo Rufo e Gnae Mallio Máximo. Seus pais,<br />

de ilustre origem, ainda que pobres, o educaram no conhecimento das escrituras hebréias,<br />

mas sua fervorosa devoção e sua gravidade, que não condiziam com a sua idade, fizeram<br />

com que eles o destinassem à vida religiosa e ascética e, como depois, em uma visita que<br />

fez a Jerusalém, mostrasse sua extraordinária inteligência e seu afã de saber, in<strong>do</strong> em<br />

busca <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong>utores <strong>do</strong> templo, o enviaram para adquirir ensinamentos em uma comunidade<br />

de essênios que habitava o deserto meridional de Judéia. Na idade de dezenove anos<br />

entrou para o mosteiro essênio situa<strong>do</strong> nas proximidades <strong>do</strong> Monte Serbal, instituto muito<br />

visita<strong>do</strong> pelos sábios que da Pérsia e da Índia iam para o Egito e onde existia uma magnífica<br />

biblioteca de obras ocultas, muitas das quais idas de regiões mais além <strong>do</strong> Himalaia. Desse<br />

lugar de místico saber, passou mais tarde ao Egito.<br />

Havia si<strong>do</strong> plenamente instruí<strong>do</strong> nas <strong>do</strong>utrinas secretas que constituíam entre os essênios<br />

a verdadeira fonte da vida e, no Egito, foi inicia<strong>do</strong> como discípulo dessa sublime Logia de<br />

onde saem os funda<strong>do</strong>res de todas as religiões, pois o Egito foi sempre um <strong><strong>do</strong>s</strong> grandes<br />

centros que há no mun<strong>do</strong> para a guarda <strong><strong>do</strong>s</strong> Mistérios verdadeiros, <strong><strong>do</strong>s</strong> quais são fracos e<br />

incompletos to<strong><strong>do</strong>s</strong> os Mistérios semi-públicos. Os Mistérios historicamente classifica<strong><strong>do</strong>s</strong> de<br />

egípcios eram sombras <strong><strong>do</strong>s</strong> assuntos trata<strong><strong>do</strong>s</strong> realmente “na Montanha” e ali foi consagra<strong>do</strong><br />

o jovem hebreu de um mo<strong>do</strong> solene que o preparou para o Sacer<strong>do</strong>te Régio a que chegou<br />

mais tarde. Era sua pureza tão sobre-humana e tão grande sua devoção que, em sua idade<br />

viril, cheia de graça, avantajava de muitos os severos e algo fanáticos ascetas com os quais<br />

havia si<strong>do</strong> educa<strong>do</strong>, derraman<strong>do</strong> entre os rudes judeus que o cercavam a fragrância de<br />

uma sabe<strong>do</strong>ria suave e terna como um roseiral que, planta<strong>do</strong> estranhamente em um deserto,<br />

espargisse seu perfume por estéril planície. A majestosa graça e a formosura de linhas<br />

puras formavam em seu re<strong>do</strong>r radiante auréola e suas breves palavras, dóceis e amorosas,<br />

despertavam ainda nos mais duros suave ternura. Assim viveu até os 29 anos de idade,<br />

crescen<strong>do</strong> de graça em graça.<br />

Com pureza e devoção tão grandes, estava em condições para servir de templo a um Poder<br />

mais eleva<strong>do</strong>, para ser a morada de uma Presença poderosa. Havia chega<strong>do</strong> a hora de<br />

realizar-se uma das manifestações divinas que de tempo em tempo vêm em auxílio da<br />

humanidade, quan<strong>do</strong> para apressar sua evolução espiritual se necessita de um novo<br />

impulso, quan<strong>do</strong> a aurora de uma nova civilização vai despontar.<br />

Um poderoso “Filho de Deus” devia encarnar na terra um Instrutor supremo “cheio de<br />

graça e de verdade” (S. João, I, 14), mas precisava de um tabernáculo terrestre, uma forma humana,<br />

o corpo de um homem. Quem mais a propósito para ceder seu corpo com vontade e alegria ao<br />

serviço de Um ante o qual os anjos e os homens se curvavam com a mais profunda reverência, que<br />

esse hebreu, o mais nobre e o mais puro entre os “Perfeitos”, cujo corpo e alma imacula<strong><strong>do</strong>s</strong> eram<br />

o melhor que a humanidade poderia oferecer? O homem <strong>Jesus</strong> se entregou voluntariamente ao<br />

sacrifício, “ofereceu-se sem mancha” ao Senhor que tomou para si aquela forma pura como<br />

tabernáculo e viveu com ela três anos de vida material.<br />

50


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Nas tradições contidas nos Evangelhos, encontra-se essa época assinalada pelo Batismo<br />

de <strong>Jesus</strong>, quan<strong>do</strong> se viu o Espírito “que desceu <strong>do</strong> céu como uma pomba e pousou n’Ele” (S. João,<br />

I, 32) e uma voz celestial o proclamou o Filho bem ama<strong>do</strong> a quem os homens deviam prestar<br />

ouvi<strong>do</strong>. E era ele, na verdade, o Filho bem ama<strong>do</strong> a quem o Pai pôs sua complacência (S. Mateus,<br />

111, 17) e desde então “começou <strong>Jesus</strong> a pregar” (S. Mateus, IV, 17) e foi aquele grande mistério:<br />

“Deus se manifestou na carne” (I. Timóteo, 111, 16).<br />

Citamos mais de um autor teosofista, mas, como não mencionamos ainda aquela que é<br />

considerada a funda<strong>do</strong>ra da nova Teosofia Helena Petrovna Blavatsky, que escreveu, entre outros<br />

livros, “Isis sem véu” e “A Doutrina Secreta”, em vários volumes, vamos ver o que diz ela sobre<br />

<strong>Jesus</strong> nas págs. <strong>30</strong>2/3 <strong>do</strong> seu “Glosário Teosófico”: <strong>Jesus</strong> - Chama<strong>do</strong> também Cristo ou <strong>Jesus</strong>-<br />

Cristo. É preciso estabelecer uma distinção entre o <strong>Jesus</strong> histórico e o <strong>Jesus</strong> mítico. O primeiro<br />

era essênio e nazareno e foi mensageiro da Grande Fraternidade para pregar os antigos ensinamentos<br />

divinos que deviam ser a base da nova civilização. Pelo espaço de três anos foi Mestre divino <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

homens e percorreu a Palestina, levan<strong>do</strong> uma vida exemplaríssima por sua pureza, compaixão e<br />

amor pela humanidade. Operou multidões de prodígios ressuscitan<strong>do</strong> mortos, curan<strong>do</strong> enfermos,<br />

devolven<strong>do</strong> a vista a cegos, fazen<strong>do</strong> andar paralíticos e realizan<strong>do</strong> muitos outros atos que, pelo seu<br />

caráter extraordinário, foram qualifica<strong><strong>do</strong>s</strong> de “milagrosos”. A sublimidade de sua <strong>do</strong>utrina ressalta<br />

sobretu<strong>do</strong> em seu célebre Sermão da Montanha. Como inicia<strong>do</strong> que era, ensinou também <strong>do</strong>utrinas<br />

esotéricas, mas estas as reservava unicamente para uns “poucos”, isto é, para seus discípulos<br />

escolhi<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

Ao <strong>Jesus</strong> histórico foram atribuí<strong><strong>do</strong>s</strong> não poucos fatos lendários que o converteram em<br />

outro personagem puramente mítico, uma verdadeira cópia <strong>do</strong> deus Krishna, tão venera<strong>do</strong> na<br />

Índia. Para comprovar claramente tal asserção, basta observar um pouco o paralelo que entre<br />

<strong>Jesus</strong> e Krishna é apresenta<strong>do</strong> em “Isis sem Véu”, etc., etc”.<br />

Gostaríamos, e muito, de citar autores não espiritualistas ou ocultistas, mas notamos<br />

que eles não dizem palavra sobre a vida de <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> anos. Para quem quiser aprofundar<br />

o mistério, que vai ... ao infinito, como diz Steiner, recomendamos as seguintes obras na língua<br />

francesa: de Gustave Dalman, Diretor <strong>do</strong> Instituto Arqueológico Alemão de Jerusalém: Les itinéraires<br />

de Jésus (Topographie des Évangiles); de R. Bultman, Professor na Universidade de Marburg: Le<br />

Christianisme primitive dans le cadre des religions antiques; de Joseph Klausner, Professor de<br />

Literatura Hebraica na Universidade de Jerusalém: <strong>Jesus</strong> de Nazareth (Son temps - Sa vie - Sa<br />

<strong>do</strong>ctrine); Charles<br />

Guignebert, Professor de História <strong>do</strong> Cristianismo na Sorbonne: Des prophètes à Jésus,<br />

Jésus, Le Christ e L’Église; e de Maurice Goguel, Decano da Faculdade de Teologia Protestante de<br />

Paris: <strong>Jesus</strong>, La naissance du Christianisme. L’Église primitive e Au seuil de l’Évangile.<br />

Nossos leitores já notaram que um autor escreve Krishna e outros Cristna, bem como<br />

que uns dão 12 anos a <strong>Jesus</strong> na ocasião <strong>do</strong> encontro no templo e outros <strong>13</strong>, embora incompletos.<br />

São pequenos detalhes que nada alteram. Digo isto (no singular), porque, embora muito tenha li<strong>do</strong><br />

sobre <strong>Jesus</strong>, o que ficou ainda em mim, na mente e no coração, foi aquele que conheci em meu<br />

tempo de criança.<br />

51<br />

(Trecho <strong>do</strong> artigo “O Cristo morreu em Kashmyr”,<br />

de Victor de Carvalho, no número de 29-6-1949<br />

<strong>do</strong> “Correio da Manhã”, <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> de Janeiro, Brasil)


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Com o título acima e os subtítulos de “<strong>Jesus</strong> de Nazaré foi um “yogi”, “Onde Issa passou<br />

a sua mocidade” e “O mistério de um túmulo sombrio”, apareceu, no conceitua<strong>do</strong> matutino carioca<br />

“Correio da Manhã”, o curioso artigo de que extraio os seguintes trechos, to<strong><strong>do</strong>s</strong> em confirmação <strong>do</strong><br />

que foi dito anteriormente, como veremos adiante. Dito artigo faz parte de uma série sob o título<br />

geral de “Cartas da Índia” e foi escrito em Srinagar, Kashmyr, em julho de 1949.<br />

Passo <strong>aos</strong> trechos que nos interessam:<br />

Os muçulmanos veneram aqui um santuário numa pequena aldeia não longe de Srinagar.<br />

É um túmulo antiqüíssimo e sombrio. E quem está nesse túmulo?<br />

Quem inspira tanto respeito e veneração? Simplesmente <strong>Jesus</strong> de Nazaré! Porque, para os<br />

muçulmanos, <strong>Jesus</strong> morreu em Kashmyr! Considera<strong>do</strong> por eles como um <strong><strong>do</strong>s</strong> grandes<br />

profetas, sen<strong>do</strong> os outros Abraão, Moisés e Maomé, <strong>Jesus</strong> conhecia to<strong><strong>do</strong>s</strong> os segre<strong><strong>do</strong>s</strong> da<br />

vida e da morte. Assim, após o Calvário e o seu sepultamento, tornou à vida. Os discípulos<br />

o esconderam e trataram das suas chagas. Depois, ele começou a grande jornada para o<br />

Tibet. Deteve-se em Kashmyr, onde veio a morrer das feridas mal curadas. E aqui existe<br />

um pinheiro, cujas folhas têm a virtude de sarar qualquer chaga. Nesse pinheiro, diz a<br />

lenda, Cristo apoiou-se para morrer...<br />

Aliás, o Nazareno já estivera aqui. E os muçulmanos têm uma versão que explica o mistério<br />

da vida de Cristo da a<strong>do</strong>lescência à maturidade. Onde esteve ele desde a discussão no<br />

Templo com os <strong>do</strong>utores até se fazer homem?<br />

Muitas figuras <strong>do</strong> renascimento indiano <strong>do</strong> século XIX escreveram sobre o “Cristo oriental”<br />

afirman<strong>do</strong> que <strong>Jesus</strong> pertencia à Índia tanto racialmente como espiritualmente. Um<br />

manuscrito descoberto num mosteiro budista refere-se a <strong>Jesus</strong> como Issa e conta que Issa<br />

esteve por muito tempo no Tibet estudan<strong>do</strong> os sistemas hindus-budistas da “yoga” e da<br />

ciência espiritual. Na idade de <strong>30</strong> anos, Issa regressou à Palestina. Aí, os seus novos<br />

ensinamentos provocaram a reação político-social que o levou ao calvário, porque <strong>Jesus</strong>, o<br />

“yogi”, queria que o seu povo aprendesse a antiga verdade: “Deus é Amor”.<br />

Um amigo muçulmano contava-me essa versão nova para mim. Eu fiquei ali, para<strong>do</strong>,<br />

admira<strong>do</strong>, olhan<strong>do</strong> o túmulo misterioso. Uma mulher coberta de véus entrou e ajoelhou-se<br />

em atitude de profunda veneração. Depois suas mãos tocaram com unção uma pedra onde<br />

está gravada a marca <strong><strong>do</strong>s</strong> pés <strong>do</strong> Nazareno. E, eu, Católico, Apostólico Romano, senti que<br />

minha mão se erguia, automaticamente, e fazia o Sinal da Cruz.<br />

Quan<strong>do</strong> saí <strong>do</strong> sombrio túmulo de Cristo, o sol esplendente parecia querer cegar-me. Teria<br />

eu traí<strong>do</strong> por um momento a minha crença na Ressurreição <strong>do</strong> Filho de Deus? Em torno, a<br />

suprema beleza <strong>do</strong> verde <strong><strong>do</strong>s</strong> vales, <strong>do</strong> azul das águas, <strong>do</strong> branco imacula<strong>do</strong> das montanhas<br />

cobertas de neve ... Quem sabe mesmo se um dia os divinos pés <strong>do</strong> Nazareno não pisaram<br />

essas paragens, tornan<strong>do</strong>-as num <strong><strong>do</strong>s</strong> mais belos lugares <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>?<br />

Mulheres veladas, homens com turbantes de cores vivas e amplos mantos, chegam em<br />

grupos para o santuário. Pareciam sair de antigas pinturas <strong><strong>do</strong>s</strong> tempos <strong><strong>do</strong>s</strong> impera<strong>do</strong>res<br />

mongóis.<br />

O brave new world<br />

That has such people in it<br />

Mais uma lenda para se confundir com a História, perturban<strong>do</strong> a paz <strong>do</strong> “Novo Testamento.<br />

52


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Aqui termina o articulista, e também eu. Não faço nenhum comentário. Quem quiser<br />

que o faça. Porque, para mim, <strong>Jesus</strong>-Cristo será sempre o mesmo Cristo <strong><strong>do</strong>s</strong> seus sublimes<br />

ensinamentos.<br />

53<br />

(Excertos <strong>do</strong> artigo “<strong>Jesus</strong>: Homem ou Deus?”<br />

<strong>do</strong> escritor Ro<strong>do</strong>lfo Benavides<br />

publica<strong>do</strong> no n° 1-12-1952,<br />

de “Voz Informativa”, <strong>do</strong> México)<br />

Este escritor mexicano, no seu supracita<strong>do</strong> artigo, dividi<strong>do</strong> em subtítulos: <strong>Jesus</strong> histórico;<br />

<strong>Jesus</strong> bíblico; <strong>Jesus</strong> filósofo; Estu<strong>do</strong> analítico de <strong>Jesus</strong>; Paulo, cérebro cria<strong>do</strong>r da Bíblia; <strong>Jesus</strong><br />

não morreu na cruz; Aspiração de <strong>Jesus</strong>; Fenômeno <strong>do</strong> Avatar; Porque se chama a José o carpinteiro<br />

de patriarca?; <strong>Jesus</strong> primogênito e não unigênito; <strong>Jesus</strong> estudante e Conclusão, também estranha<br />

certos aspectos da crucificação, bem como que se chame a <strong>Jesus</strong> de unigênito quan<strong>do</strong> teve irmãos<br />

e irmãs carnais. Alguns categoriza<strong><strong>do</strong>s</strong> exegetas <strong>do</strong> Novo Testamento argumentam que se trata não<br />

de “irmãos carnais” e sim de “irmãos espirituais”, argumento que não prevalece pois também no<br />

meio espírita chamamos habitualmente os nossos confrades de “irmãos” no senti<strong>do</strong> espiritual,<br />

quan<strong>do</strong> temos também os nossos “irmãos carnais”, como aconteceu com <strong>Jesus</strong>.<br />

Do longo artigo <strong>do</strong> Sr. Ro<strong>do</strong>lfo Benavides só traduzo os trechos intitula<strong><strong>do</strong>s</strong> “<strong>Jesus</strong> não<br />

morreu na cruz”, e “<strong>Jesus</strong> estudante”. Vamos a eles.<br />

A afirmativa de que <strong>Jesus</strong> não morreu na cruz geralmente surpreende ainda a pessoas<br />

versadas nestas questões e isto obriga uma explicação. Lemos em Lucas, cap. 24, vers. 37<br />

a 43, que dizem: “Então eles (os discípulos), espanta<strong><strong>do</strong>s</strong> e atemoriza<strong><strong>do</strong>s</strong>, pensavam<br />

que viam algum espírito. E ele (<strong>Jesus</strong>) lhes disse: Por que estais perturba<strong><strong>do</strong>s</strong> e por<br />

que sobem tais pensamentos <strong>aos</strong> vossos corações? Vede as minhas mãos e os<br />

meus pés, que sou eu mesmo: apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne<br />

nem ossos, como vedes que eu tenho. E, dizen<strong>do</strong> isto, mostrou-lhe as mãos e os<br />

pés. E, não o cren<strong>do</strong> eles ainda por causa da alegria, e maravilha<strong><strong>do</strong>s</strong>, disse-lhes;<br />

Tendes aqui alguma coisa que comer? Então eles apresentaram-lhe parte de um<br />

peixe assa<strong>do</strong> e um favo de mel, o que tomou, e comeu diante deles”.<br />

O Espiritismo científico experimental moderno demonstra que, em determinadas<br />

circunstâncias, os espíritos podem materializar-se e fazer-se momentaneamente visíveis<br />

até o ponto de deixar-se fotografar, mas nunca se aceitou que essas materializações cheguem<br />

a constituir um corpo físico permanente, nem muito menos que possa comer, como afirma<br />

o Evangelho. E tu<strong>do</strong> isto, sem contar com que, para a elevada personalidade de <strong>Jesus</strong>,<br />

recorrer ao procedimento de tomar alimentos para conquistar de novo os discípulos, é um<br />

procedimento somente váli<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> se quer demonstrar, que não morreu mas que,<br />

transcorri<strong><strong>do</strong>s</strong> alguns dias, se restabeleceu de suas feridas.<br />

Poderíamos citar os outros evangelhos, porém preferimos chamar a atenção para fatos<br />

suspeitos como são o de ter si<strong>do</strong> baixa<strong>do</strong> da cruz só algumas horas depois de haver si<strong>do</strong><br />

crucifica<strong>do</strong>, embora a lei romana exigisse um mínimo de três dias. Depois, quan<strong>do</strong> foi<br />

leva<strong>do</strong> a um túmulo de propriedade de Arimatéia, proeminente essênio, antigo mestre de<br />

<strong>Jesus</strong>, e finalmente quan<strong>do</strong> o corpo desapareceu tão inesperadamente que os quatro<br />

evangelistas não puderam pôr-se de acor<strong>do</strong>, em vista <strong>do</strong> que cada um deles dá uma.<br />

versão distinta.


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Tu<strong>do</strong> isto revela a manifesta parcialidade de Pilatos, que a to<strong>do</strong> o custo tratou de salvarlhe<br />

a vida e proibiu que lhe fossem quebradas as pernas, conforme ordenava a bárbara lei<br />

romana. Por que Pilatos não haveria de permitir que fosse desci<strong>do</strong> da cruz antes de expirar,<br />

para fazer o último intento de salvar-lhe a vida depois de haver satisfeito a ânsia de vingança<br />

da igreja? Isto fala muito alto de Pilatos.<br />

Tu<strong>do</strong> demonstra que <strong>Jesus</strong> foi um homem e não um Deus. Um homem tremendamente<br />

odia<strong>do</strong> pelos seus inimigos e profundamente ama<strong>do</strong> pelos seus amigos, os quais expuseram<br />

a sua própria vida para salvá-lo, posto que os fariseus, braço arma<strong>do</strong> da igreja judia,<br />

pretendiam permanecer perto da cruz, como o fariam qualquer abutre, mas os solda<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

romanos o impediram para evitar desordens, e aqui se volta a ver as mãos de Pilatos.<br />

Que significa a palavra patriarca? Naquela época, com ela eram designa<strong><strong>do</strong>s</strong> os homens<br />

que tinham <strong>do</strong>ze ou mais filhos. Atualmente, os dicionários concordam com que este substantivo<br />

sirva para designar os personagens bíblicos que foram cabeça de família grande.<br />

A definição anterior nos obriga a recordar palavras <strong>do</strong> próprio <strong>Jesus</strong>, que, em Mateus<br />

6:3, declara: “O que é nasci<strong>do</strong> da carne, carne é; e, o que é nasci<strong>do</strong> <strong>do</strong> espírito, espírito é”,<br />

asseguran<strong>do</strong>-nos assim o próprio <strong>Jesus</strong>, com as suas palavras, que ele foi concebi<strong>do</strong> por obra <strong>do</strong><br />

homem.<br />

Além disto, podemos perguntar de onde vem a José o título de patriarca se não teve<br />

filhos? Esta interrogação nos obriga a refletir que José não foi patriarca, pois que <strong>Jesus</strong> viria a ser<br />

filho a<strong>do</strong>tivo e então no próprio José se fin<strong>do</strong>u a árvore genealógica dessa família. Como pode um<br />

homem estéril ter o nome de patriarca? Como podia José ser patriarca se precisava ser, por<br />

requisito indispensável, o tronco de uma vasta família?<br />

Mas é provável que José tenha si<strong>do</strong> efetivamente patriarca e então ser pai de muitos<br />

filhos e não entendemos como pôde haver si<strong>do</strong> <strong>Jesus</strong> uma exceção, que, se Deus fez, estava<br />

negan<strong>do</strong> sua imutabilidade e, se a admitiu José, ficava a sua honra em suspenso.<br />

Para aclarar este conflito, que tem to<strong><strong>do</strong>s</strong> os visos de artificial, devemos investigar<br />

novamente nos evangelhos, onde encontramos algumas pessoas que são claramente designadas<br />

com ó nome de “irmãos” de <strong>Jesus</strong> no senti<strong>do</strong> de irmão carnal, como podemos verificar pelas<br />

citações seguintes: Mateus, cap. <strong>13</strong>: vers. 53 a 56: “E aconteceu que <strong>Jesus</strong>, concluin<strong>do</strong> estas<br />

palavras, se retirou dali. E, chegan<strong>do</strong> à sua pátria, ensinava-os na sinagoga deles, de<br />

sorte que se maravilhavam, e diziam: Donde veio a este a sabe<strong>do</strong>ria, e estas maravilhas?<br />

Não é este o filho <strong>do</strong> carpinteiro e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José,<br />

Simão e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe veio pois tu<strong>do</strong> isto?”<br />

Se só pudéssemos fazer esta citação, poderia argumentar-se má interpretação, mas há<br />

outras que confirmam a anterior. Vejamos algumas deles: Marcos, cap. 3, vers. 31 a 34: “Chegaram<br />

então seus irmãos e sua mãe, e, estan<strong>do</strong> fora, enviaram a ele, chaman<strong>do</strong>-o. E a multidão<br />

estava assentada ao re<strong>do</strong>r dele, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos te buscam lá<br />

fora. E ele lhes respondeu, dizen<strong>do</strong>: Quem é minha mãe e meus irmãos? E, olhan<strong>do</strong> em<br />

re<strong>do</strong>r para os que estavam assenta<strong><strong>do</strong>s</strong> junto dele, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos”.<br />

No fim desta passagem de Marcos, <strong>Jesus</strong> referia-se a seus irmãos espirituais, tanto que<br />

acrescentou no vers. 35: “Porque qualquer que fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, e<br />

minha irmã, e minha mãe”, de acor<strong>do</strong> com as idades <strong><strong>do</strong>s</strong> presentes, quan<strong>do</strong> a mãe e os irmãos<br />

carnais o buscavam lá fora, isto é, não se achavam presentes. Uns eram parentes “carnais” e<br />

outros parentes “espirituais”. <strong>Jesus</strong> (houve muitos na Judéia com este nome) tinha primos paternos<br />

e maternos com os nomes <strong><strong>do</strong>s</strong> seus irmãos, daí muitas confusões ocasionadas em diversas passagens<br />

<strong>do</strong> Novo Testamento.<br />

54


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Mas vejamos ainda Marcos, capítulo 6, versículo 3: “Não é este o carpinteiro, filho de<br />

Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui conosco as<br />

suas irmãs? E escandalizavam-se nele”.<br />

As citações anteriores liquidam completamente com to<strong>do</strong> o conceito de divindade em<br />

relação a <strong>Jesus</strong>, pois se fora certo. o <strong><strong>do</strong>s</strong> reis magos, <strong>do</strong> presépio, da fuga para o Egito e das<br />

crianças decapitadas, como é que o povo o ignorava, quan<strong>do</strong> conhecia tão bem a família, se as<br />

irmãs viviam no meio dele, se citava os país pelos nomes e pelo seu ofício? Além disto, na última<br />

passagem, o próprio povo o designa com o nome de carpinteiro, expressão que nos faz pensar que<br />

<strong>Jesus</strong> aprendeu o ofício de seu pai antes de começar a pregar, pois que não se pode pensar que o<br />

chamasse de carpinteiro porque o pai dele o havia si<strong>do</strong> e isto fica esclareci<strong>do</strong> perfeitamente quan<strong>do</strong><br />

se sabe que a escola essênia tinha no programa elemental, como obrigação, a aprendizagem de<br />

algum ofício manual.<br />

Continuemos com as citações: Lucas, cap. 6, vers. 14: “Simão, ao qual também chamou<br />

Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Felipe e Bartolomeu, e Atos, cap. 1, vers. 14:<br />

“To<strong><strong>do</strong>s</strong> estes perseveraram unanimemente em orações e súplicas, com as mulheres, e Maria,<br />

mãe de <strong>Jesus</strong>, e com seus irmãos”.<br />

Seria preciso continuar com as citações? Cremos que as acima bastem e quem quiser<br />

aprofundar o tema bastará estudar um pouco a Bíblia na qual encontrará múltiplas alusões <strong>aos</strong><br />

irmãos de <strong>Jesus</strong> e a naturalidade com que o povo reconhecia esse fato, como, por exemplo, quan<strong>do</strong><br />

Efraim, acompanha<strong>do</strong> de seus irmãos e Maria sua mãe, sai a caminho para ir ao encontro de<br />

<strong>Jesus</strong> porque dizia-se que <strong>Jesus</strong> estava louco e, finalmente, ao dar-se o encontro, o cita<strong>do</strong> Efraim<br />

pede a <strong>Jesus</strong> uma explicação pública, já que anda se proclaman<strong>do</strong> filho de Deus quan<strong>do</strong> to<strong><strong>do</strong>s</strong> o<br />

sabem filho de carpinteiro e portanto irmão deles.<br />

Usan<strong>do</strong> de paciência, é possível refazer a família de <strong>Jesus</strong>. José teve cinco filhos com a<br />

sua primeira esposa Débora; Tiago, Matias, Cleofas, Judas e Eleazar.<br />

Depois de alguns anos de viuvez, José o carpinteiro contraiu matrimônio com Maria,<br />

vestal (médium) <strong><strong>do</strong>s</strong> Essênios, com a qual teve sete filhos: <strong>Jesus</strong>; José, chama<strong>do</strong> também Efraim;<br />

Simão, Elisabeth, André, Ana e Jaime. Este último parece que mu<strong>do</strong>u de nome por razoes que não<br />

nos interessam no momento.<br />

É de advertir que a ordem em que se acham coloca<strong><strong>do</strong>s</strong> não significam as idades,<br />

excetuan<strong>do</strong> a <strong>Jesus</strong> e Jaime.<br />

Outra coisa a notar:<br />

Na leitura da Bíblia encontramos com muita freqüência a palavra “primogênito” e, em<br />

menor proporção, “unigênito”.<br />

“Unigênito” se usa no caso de um só filho produto de casamento, como é o caso de<br />

Isaac, filho único de Abraão e Sara. Por sua vez, a palavra “primogênito” se usa no caso de<br />

primeiro filho de um casamento, mas não único filho.<br />

A progenitura entre os antigos judeus e que continuava sen<strong>do</strong> de certa importância nos<br />

dias de <strong>Jesus</strong> tem grande importância nesta argumentação, porque, na Bíblia, não se chama a<br />

<strong>Jesus</strong> de “unigênito” e sim claramente de “primogênito”, visto que <strong>Jesus</strong> foi um <strong><strong>do</strong>s</strong> onze filhos<br />

de José e o primeiro <strong><strong>do</strong>s</strong> sete de Maria”.<br />

É tão difícil analisar a personalidade de <strong>Jesus</strong> e chegar à verdade de sua existência,<br />

como é difícil investigar a origem de qualquer deus de qualquer religião. Os deuses nunca foram<br />

seres tangíveis, exceto quan<strong>do</strong> se os converteu pela primeira vez em í<strong>do</strong>los, mas os í<strong>do</strong>los carecem<br />

de personalidade própria, porque nunca tiveram vida.<br />

55


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Ao contrário, seria muito fácil investigar a de <strong>Jesus</strong>, se se dissesse, por exemplo, que<br />

nasceu normalmente em Nazaré, não em Jerusalém, como sexto filho de um carpinteiro, nada<br />

pobre certamente, o qual apesar de ser nazarita, isto é, inimigo da religião judaica, teve que<br />

apresentá-lo no Templo na idade de <strong>do</strong>ze anos, porque assim o exigia a rígida lei religiosa judia.<br />

A partir de então, começou a estudar na escola primária <strong><strong>do</strong>s</strong> Essênios, dirigida por José<br />

de Arimatéia, parente <strong>do</strong> carpinteiro. Aos 22 anos, segun<strong>do</strong> ordenava a própria escola essênia,<br />

teve que partir para percorrer o mun<strong>do</strong> e escolher a atividade que mais lhe agradava, segun<strong>do</strong> sua<br />

vocação. Estu<strong>do</strong>u no Egito as religiões comparadas, na Grécia filosofia e ciências, na Caldéia<br />

astronomia e na Índia botânica para poder chegar à terapêutica, condição indispensável que se<br />

exigia a to<strong>do</strong> o que chegar à condição de Inicia<strong>do</strong> ou pelo menos converter-se ao grau inferior da<br />

chamada fraternidade branca.<br />

Em suas pregações, demonstrou que podia fazer-se entender por to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, como<br />

se isto fosse possível sen<strong>do</strong> o idioma <strong><strong>do</strong>s</strong> judeus na região <strong>do</strong> Tiberíades o aramaico, o científico o<br />

grego e o oficial o romano. Somente estudan<strong>do</strong> é que poderia chegar a poliglota de três idiomas e<br />

para tanto era preciso ir <strong>aos</strong> respectivos países, visto que não havia escolas <strong>do</strong> tipo atual e muito<br />

menos na Palestina.<br />

Com relação à viagem à Índia, há provas irrefutáveis como é o fato de ter prega<strong>do</strong> em<br />

parábolas, forma desconhecida e até estranha entre os judeus, que foi uma das razões pela qual<br />

chamou a atenção, visto que era a forma natural da <strong>do</strong>utrina budista há séculos. E mais ainda:<br />

grande quantidade de seus ensinos parece ter si<strong>do</strong> copiada <strong>do</strong> Budismo, como o pode comprovar<br />

quem se decide a fazer a respectiva comparação, coisa que não podemos fazer aqui por falta de<br />

espaço, mas por certo nos faz pensar que <strong>Jesus</strong> estu<strong>do</strong>u o Budismo na Índia, para tornar-se<br />

terapeuta, profissão que exerceu amplamente durante a sua odisséia.<br />

Pois bem, prepara<strong>do</strong> para tanto, saiu <strong>Jesus</strong> a pregar, mas, como o inimigo principal <strong>do</strong><br />

processo era a religião judaica, que protegia a corrupção, o vício, o mercantilismo e to<strong><strong>do</strong>s</strong> os<br />

valores negativos no homem, teve que carregar os seus discursos sobre esses temas, provocan<strong>do</strong><br />

a ira <strong>do</strong> pontífice que se dizia representante de Deus na Terra”.<br />

Paro aqui com as citações. Não posso explicar basea<strong>do</strong> em que o articulista diz que<br />

<strong>Jesus</strong> nasceu a 4 de dezembro às 8 horas da manhã e que o crucificaram no dia 27 de março e<br />

morreu 88 dias depois.<br />

(Algumas perguntas e respectivas respostas<br />

<strong>do</strong> espírito Ramatis, extraídas das obras<br />

“Mensagens <strong>do</strong> Astral” e “O sublime peregrino”,<br />

da Livraria Freitas Bastos, S.A.)<br />

Parecen<strong>do</strong>-me não haver espírito tão pergunta<strong>do</strong>, sobre tantos e tantos assuntos que<br />

nos interessam, como o de Ramatis, vou transcrever a seguir, total e parcialmente, algumas das<br />

perguntas que lhe foram feitas e as respostas que ele deu a respeito de <strong>Jesus</strong>.<br />

A obrigação de quem faz um estu<strong>do</strong> assim como este é de colher to<strong><strong>do</strong>s</strong> os elementos<br />

necessários para um consenso, uma concordância de informações provindas de vários autores,<br />

assim como fez Kardec utilizan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> consenso <strong><strong>do</strong>s</strong> espíritos desencarna<strong><strong>do</strong>s</strong> para a codificação<br />

<strong>do</strong> Espiritismo, agradem ou não, de ordem material e espiritual, isto é, o que foi escrito pelos<br />

homens e dita<strong>do</strong> pelos espíritos, de forma franca e imparcial. Nossa responsabilidade única está<br />

nas transcrições e traduções que procuramos fazer fielmente.<br />

56


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Bem sabemos que o espírito Ramatis conquistou a admiração de muitos espíritas, como<br />

também não ignoramos que certas respostas dele não foram aceitas por outros, mas não acreditamos<br />

que uma divergência de opiniões, sobre uma personalidade tão analisada e discutida como a de<br />

<strong>Jesus</strong>, vá quebrar a unidade existente no meio espírita, tanto mais porque o seu lema principal é<br />

“Fora da caridade não há salvação” e nosso Mestre foi e sempre será a pessoa de <strong>Jesus</strong>.<br />

Temos ainda idéias arraigadas de passa<strong>do</strong> remoto e os nossos espíritos vieram das mais<br />

diversas religiões e assim elas não desaparecem comumente numa só reencarnação, por mais<br />

luzes que recebamos.<br />

Conhecemos pessoas que só se tornaram espíritas depois de grandes lutas internas,<br />

depois de muitas meditações e comparações de muitos e muitos anos, e outras não. É a reforma<br />

total <strong>do</strong> homem terreno, alijan<strong>do</strong> cargas acumuladas em séculos de outras existências transcorridas<br />

nos mais diversos países e condições sociais. Ainda hoje não temos quem acredite na lenda de<br />

Adão e Eva, de Caim e Abel e outras? Trabalho, solidariedade, tolerância, é o que nos é recomenda<strong>do</strong><br />

sempre. Cada um faz sua própria experiência no mun<strong>do</strong>.<br />

Faço, primeiramente, transcrições das “Mensagens <strong>do</strong> Astral” e depois de “O sublime<br />

peregrino”, relacionadas com o que nos interessa.<br />

Pergunta: Qual o fundamento da tradição religiosa que afirma haver si<strong>do</strong> <strong>Jesus</strong> concebi<strong>do</strong><br />

por obra e graça <strong>do</strong> Espírito Santo e nasci<strong>do</strong> de uma virgem? Cremos que essa tradição deve ter<br />

alguma base lógica, pois a própria Bíblia, no Velho Testamento, afirmava que o Messias deveria<br />

nascer de uma virgem e o evangelista Mateus o confirma no Novo Testamento quan<strong>do</strong> diz que Maria,<br />

antes de coabitar com José, já havia concebi<strong>do</strong> naquelas condições.<br />

Ramatis: Os velhos profetas procuraram deixar <strong>aos</strong> pósteros algumas indicações para<br />

que no futuro pudessem reconhecer o Messias, mas a insuficiência humana não permitiu que se<br />

entendessem tão prematuramente as alusões feitas ao nascimento <strong>do</strong> Messias através das deficientes<br />

traduções <strong><strong>do</strong>s</strong> livros sagra<strong><strong>do</strong>s</strong>, por cujo motivo resultou obscureci<strong>do</strong> o senti<strong>do</strong> exato de certas<br />

alegorias.<br />

Através da Bíblia, a posteridade ficou saben<strong>do</strong> que o Messias teria de nascer de uma<br />

virgem e ser concebi<strong>do</strong> por obra e graça <strong>do</strong> espírito santo, mas interveio na profecia a interpretação<br />

pessoal, que trouxe a confusão ao profetiza<strong>do</strong>. <strong>Jesus</strong>, como primeiro filho que se gerou em Maria,<br />

nasceu realmente de uma virgem, pois virgem era a sua jovem genitora, quan<strong>do</strong> retirada <strong>do</strong> templo<br />

de Jerusalém para uma primeira núpcia. Cumprira--se a profecia e se identificara o principal<br />

sinal, que seria o nascimento de uma criança filha de uma virgem, ou seja, o primeiro filho nasci<strong>do</strong><br />

da primeira concepção conjugal.<br />

Maria, na realidade, era um espírito “santo”, ou seja um anjo desci<strong>do</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> céus na forma<br />

de mulher, para servir de matriz carnal e santificada pelo espírito, isenta de provas redentoras e<br />

em missão junto ao sublime <strong>Jesus</strong>. No seu corpo virginal e, por obra <strong>do</strong> seu espírito “santo”,<br />

gerou-se o corpo de <strong>Jesus</strong>. Maria não era uma mulher <strong>do</strong>minada pelas paixões humanas, mas um<br />

ser angélico, delica<strong>do</strong>, formoso e santo em espírito! Deveis atender sempre ao espírito da palavra e<br />

não à palavra <strong>do</strong> espírito! etc. (“Mensagens”, pág. 371 e seguintes).<br />

Pergunta: Para que a entidade espiritual, que se chamou <strong>Jesus</strong> de Nazaré, pudesse baixar<br />

a este mun<strong>do</strong>, toman<strong>do</strong> aqui um corpo, para conviver entre nós, houve necessidade de providências<br />

excepcionais ou essa encarnação obedeceu às leis comuns que regulam a encarnação <strong><strong>do</strong>s</strong> espíritos<br />

em geral?<br />

57


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Ramatis: Já vos dissemos alguma coisa a este respeito, mas, como o assunto é vasto,<br />

estamos prontos a responder novas perguntas que desejardes fazer. Como já tivemos ocasião de<br />

explicar, o nascimento de uma alta entidade em vosso orbe, como ocorreu com <strong>Jesus</strong>, é precedida<br />

sempre de importantíssimas providências por parte da técnica sideral, providências essas que<br />

escapam, em sua maior parte, à capacidade de compreensão humana. Em linhas gerais, é um<br />

acontecimento que exige a existência de um campo astronômico purifica<strong>do</strong> e providências que se<br />

estendem até ao controle <strong><strong>do</strong>s</strong> mínimos recursos à hora de vir à luz, em vosso mun<strong>do</strong>, a entidade<br />

que deve encarnar. Além disso, deve ser assegura<strong>do</strong> à entidade um clima espiritual, na Terra,<br />

através da ação de espíritos que para isso se encarnam com antecedência.<br />

A encarnação da entidade que se chamou <strong>Jesus</strong> não obedeceu totalmente à lei que<br />

regula as reencarnações comuns, que são, em geral, de espíritos ainda atrasa<strong><strong>do</strong>s</strong>, que sentem, por<br />

isso, poderosa atração para os planos inferiores, devida à sua grande afinidade com o instinto<br />

animal que ainda os <strong>do</strong>mina. Os espíritos ainda apega<strong><strong>do</strong>s</strong> à matéria têm campo propício, favorável<br />

à sua reencarnação, porque trazem em si o desejo latente que lhes inspira a hipnose da carne. No<br />

entanto <strong>Jesus</strong>, um Messias, um Sublime Peregrino, um hóspede que baixava à Terra em missão<br />

sacrificial, foi obriga<strong>do</strong> a mobilizar a sua vontade e criar mesmo aquele desejo, para que fosse<br />

facilitada a sua entrada no plano vibratório físico. O trabalho de <strong>Jesus</strong>, para descer ao plano<br />

físico, lembra o esforço de auto-redução que o raio <strong>do</strong> sol teria que fazer, em si mesmo, para<br />

conseguir habitar num frasco de barro, etc. (“Mensagens”, pág. 385 e seguintes).<br />

Pergunta: Por que motivo não chegou até nós a história da infância e juventude de<br />

<strong>Jesus</strong>?<br />

Ramatis: Os homens de hoje chegariam a descrer da existência de <strong>Jesus</strong> se a<br />

conhecessem através da história ou <strong><strong>do</strong>s</strong> relatos da época em que viveu no vosso mun<strong>do</strong>, pois que<br />

não merecem crédito. A própria referência a <strong>Jesus</strong>, feita por Flavius Josephus na “Guerra <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

Judeus”, foi uma hábil interpolação efetuada posteriormente, para garantia da história religiosa.<br />

Em Nazaré ainda se discute sobre qual seja o local onde <strong>Jesus</strong> provavelmente vivera.<br />

Isso comprova que a sua infância foi despida de acontecimentos excepcionais e idêntica à <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

meninos hebreus seus contemporâneos. Devi<strong>do</strong> à falta de elementos concretos e indiscutíveis, sua<br />

infância e juventude foram descritas ao sabor da imaginação de cada autor que, por isso, o situou<br />

sob diversas ín<strong>do</strong>les psicológicas; pintaram-lhe uma infância incomum e lendária para que depois<br />

se justificasse a epopéia <strong>do</strong> Deus imola<strong>do</strong> na cruz, etc. (“Mensagens”, pág. <strong>30</strong>1 e seguintes).<br />

Pergunta: Em virtude de existirem duas teorias sobre a natureza <strong>do</strong> corpo de <strong>Jesus</strong> (a<br />

carnal e a fluídica), podereis nos dizer qual a verdadeira?<br />

Ramatis: Respeitan<strong>do</strong> os sentimentos eleva<strong><strong>do</strong>s</strong> através <strong><strong>do</strong>s</strong> quais alguns dedica<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

trabalha<strong>do</strong>res espirituais atribuem a <strong>Jesus</strong> um corpo fluídico, não podemos nos furtar, entretanto,<br />

à sinceridade de vos responder que o corpo <strong>do</strong> Mestre era integralmente físico e obedecia às leis<br />

comuns da genética humana. Naturalmente, tratava-se de um organismo indene de qualquer<br />

distorção patogênica própria ou hereditária, pois provinha da mais pura expressão biológica e<br />

linhagem ancestral de gerações passadas. Constituía magnífico conjunto de expressão anátomofisiológica,<br />

onde o sistema endócrino era um cordão de luzes acesas para o mun<strong>do</strong> físico, e o<br />

sistema nervoso a mais perfeita rede hipersensível entre o coman<strong>do</strong> cerebral e os seus órgãos de<br />

relação. Seu organismo era o resulta<strong>do</strong> de um plano delibera<strong>do</strong> havia milênios; significava a maior<br />

possibilidade de virtuosismo na carne, assim como um “stradivarius” tem capacidade para reproduzir<br />

o sentimento completo e o gênio de um Paganini. Tu<strong>do</strong> fora resolvi<strong>do</strong>, entretanto, sob regime<br />

sensato das leis tradicionais e disciplina<strong>do</strong>ras da gênese nos sistemas organogênicos <strong><strong>do</strong>s</strong> planos<br />

físicos, etc. (“Mensagens”, pág. 412 e seguintes).<br />

58


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Pergunta: Algumas obras esotéricas, principalmente da “Fraternidade Rosa-Cruz”, afirmam<br />

que o Mestre <strong>Jesus</strong> viveu entre os Essênios, os quais influíram bastante na sua obra cristã. No entanto,<br />

outras obras, inclusive mediúnicas, asseguram que isso não aconteceu. Que dizeis a respeito?<br />

Ramatis: <strong>Jesus</strong> esteve realmente em contato com os Essênios durante algum tempo e<br />

conheceu-lhes os costumes, as austeras virtudes, assim como teve oportunidade de apreciar- lhes<br />

as cerimônias singelas <strong><strong>do</strong>s</strong> santuários menores, externos e os ritos mais sugestivos <strong>do</strong> “Círculo<br />

Interno”. Muitos <strong><strong>do</strong>s</strong> seus gestos, práticas e atos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> profano deixavam perceber as<br />

características essênicas de eleva<strong>do</strong> teor espiritual, pois eles guardavam muita semelhança com<br />

os primeiros cristãos.<br />

Aliás, <strong>Jesus</strong>, como entidade de elevada estirpe sideral e insaciável na pesquisa <strong>do</strong> espírito<br />

imortal, ou da verdadeira vida <strong>do</strong> homem, jamais deixaria de procurar os Essênios e conhecer-lhes<br />

as idéias, pois os mesmos já ensinavam o amor a Deus e ao próximo, criam na imortalidade da<br />

alma e na reencarnação. Todas as religiões, seitas e movimentos espiritualistas da época foram<br />

alvo da atenção de <strong>Jesus</strong>, cuja mente privilegiada assimilava imediatamente a essência benfeitora<br />

e se desocupava das fórmulas exteriores. Seria bastante estranhável e um formal desmenti<strong>do</strong> ao<br />

tipo espiritual avança<strong>do</strong> <strong>do</strong> Mestre <strong>Jesus</strong> caso ele tivesse conhecimento da existência <strong><strong>do</strong>s</strong> Essênios,<br />

na própria Galiléia, e jamais se interessasse de um contato instrutivo.<br />

Pergunta: Mas por que não chegaram até nós as provas de que <strong>Jesus</strong> viveu entre os<br />

Essênios?<br />

Ramatis: Porque o Mestre não pertenceu, não se filiou propriamente à Confraria <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

Essênios, mas entreteve relações amistosas, embora tenha participa<strong>do</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> ritos internos, que os<br />

próprios mentores Essênios achavam dispensáveis para uma entidade <strong>do</strong> seu quilate. Acresce que<br />

os Essênios <strong>do</strong> “Círculo Interno”, cujas práticas ficaram ignoradas <strong><strong>do</strong>s</strong> profanos, faziam questão<br />

cerrada de se conservarem no mais absoluto anonimato, o que levou os historia<strong>do</strong>res a descrerem<br />

de sua existência, exceto quanto <strong>aos</strong> terapeutas ou adeptos externos.<br />

Acontece, também, que <strong>Jesus</strong> jamais propalou a sua condição de membro honorário da<br />

Confraria <strong><strong>do</strong>s</strong> Essênios, onde o sigilo era um voto de severa responsabilidade moral. Em<br />

conseqüência, salvo João Evangelista, que conhecia tal disposição <strong>do</strong> Mestre.<strong>Jesus</strong> e <strong><strong>do</strong>s</strong> seus<br />

contatos com os Essênios, ninguém jamais pode identificá-los a esse respeito. Assim, nada consta<br />

nos próprios evangelhos escritos posteriormente à morte de <strong>Jesus</strong>, nos quais há muitas contradições<br />

entre si, pois algumas lendas substituíram fatos autênticos e certas interpolações descrevem<br />

coisas que não aconteceram. Além dessas incoerências, que deixam os estudiosos hesitantes, se<br />

ainda há quem oponha dúvidas até quanto à existência <strong>do</strong> Rabi da Galiléia, não é de admirar que<br />

duvidem de suas relações ocultas com os Essênios, etc. (“O sublime peregrino”, págs. 278, 279 e<br />

seguintes).<br />

Muitas são as perguntas feitas ao espírito Ramatis e longas as respostas por ele dadas.<br />

Reproduzi-las todas ou mesmo parcialmente seria impossível. Do capítulo XXV - <strong>Jesus</strong> e os Essênios<br />

- colho a seguir alguns esclarecimentos de Ramatis que coincidem com alguns constantes de<br />

trechos cita<strong><strong>do</strong>s</strong> de outras obras a respeito de <strong>Jesus</strong>. Vamos a alguns deles:<br />

1 - A Confraria <strong><strong>do</strong>s</strong> Essênios teve seu inicio no ano 150 a.C., no tempo <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

Macabeus; era uma espécie de associação moral e religiosa, lembran<strong>do</strong> algo das<br />

cooperativas agrícolas modernas.<br />

2 - A Igreja Católica nada sabe da existência da Fraternidade <strong><strong>do</strong>s</strong> Essênios ou <strong>do</strong><br />

convívio de <strong>Jesus</strong> entre eles. Aliás, os ensinamentos católicos não se coadunam<br />

com a origem iniciática e o esoterismo <strong><strong>do</strong>s</strong> Essênios, pois, estes, além de serem<br />

reencarnacionistas; também eram avessos à i<strong>do</strong>latria das imagens.<br />

59


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

3 - Os templos, ou mais propriamente os santuários essênicos, disseminavam-se<br />

pelos montes mais importantes da Hebréia, em lugares sempre favoráveis para<br />

atender os discípulos e próximos <strong><strong>do</strong>s</strong> agrupamentos rurais <strong><strong>do</strong>s</strong> terapeutas.<br />

To<strong><strong>do</strong>s</strong> os santuários submetiam-se ao “Conselho Supremo”, o qual se reunia em<br />

assembléias periódicas ou em casos extraordinários para atender problemas<br />

avança<strong><strong>do</strong>s</strong> da comunidade e estabelecer as normas da vida futura da<br />

Fraternidade. Esse Conselho era composto de setenta anciãos, cuja maior parte<br />

vivia no monte Moab, à margem oriental <strong>do</strong> Mar Morto. Muitos desses anciãos<br />

estiveram presentes às principais pregações de <strong>Jesus</strong>, como no caso <strong>do</strong> “Sermão<br />

da Montanha” e durante a “Transfiguração”, pois eles se misturavam entre .o<br />

povo comum. No monte Ebat funcionava o santuário <strong><strong>do</strong>s</strong> Essênios que atendia a<br />

zona da Samaria; no monte Carmelo e Tabor os santuários para os galileus. Os<br />

peregrinos ou mora<strong>do</strong>res provin<strong><strong>do</strong>s</strong> da Síria e de povos semelhantes apreciavam<br />

freqüentar os santuários <strong>do</strong> monte Hermon, onde os seus dirigentes também<br />

eram egressos daquelas zonas. Não eram, propriamente, edifícios construí<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

nas cristas <strong><strong>do</strong>s</strong> montes; tais santuários eram escava<strong><strong>do</strong>s</strong>, com certo capricho, no<br />

interior das minas aban<strong>do</strong>nadas, das grutas e cavernas distantes das cidades<br />

principais.<br />

4 - Os judeus que ingressavam na confraria <strong><strong>do</strong>s</strong> Essênios não tardavam em<br />

aban<strong>do</strong>nar o seu mo<strong>do</strong> mecânico e lamentoso de orar a Jeová, libertan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong><br />

rosário de murmúrios ininteligíveis ou das cantorias monótonas tão familiares<br />

nas sinagogas.<br />

5 - Apenas João, o Evangelista, tinha acesso <strong>aos</strong> ritos internos, pois era inicia<strong>do</strong> e<br />

fora ele o próprio profeta Samuel, que, no passa<strong>do</strong>, havia organiza<strong>do</strong> a<br />

“Fraternidade <strong><strong>do</strong>s</strong> Profetas”, na qual os Essênios também se inspiraram. Aliás,<br />

os apóstolos de <strong>Jesus</strong> foram arrebanha<strong><strong>do</strong>s</strong> quase ao apagar das luzes da vida <strong>do</strong><br />

Mestre e jamais poderiam escalonar no curto prazo de três anos as iniciações<br />

esotéricas <strong>do</strong> Círculo Interno essênico.<br />

E, finalmente, acrescentamos que Ramatis diz que “<strong>Jesus</strong> foi crucifica<strong>do</strong>, como o<br />

Cordeiro de Deus, devi<strong>do</strong> à imprudência sediciosa <strong><strong>do</strong>s</strong> seus discípulos e não por efeito de<br />

quaisquer excomungações agressivas contra o próximo” e que “quan<strong>do</strong> foi crucifica<strong>do</strong>, a<br />

sua auréola messiânica quase apagou-se, pois naqueles dias trágicos sumiram-se parentes,<br />

amigos e discípulos, ante o terror de serem crucifica<strong><strong>do</strong>s</strong>. Mas, à medida que foram<br />

decorren<strong>do</strong> os dias, a figura <strong>do</strong> Mestre Ama<strong>do</strong> foi-se avultan<strong>do</strong> emergin<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu martírio,<br />

assim como a planta renasce das próprias raízes depois de cortada. Em breve, sua vida e<br />

sua morte eram motivos que centralizavam os sonhos de seus adeptos e amigos, fazen<strong>do</strong>-os<br />

cultuar-lhe a memória consagrada pelas bênçãos <strong><strong>do</strong>s</strong> seus ensinos e fidelidade de suas<br />

idéias. Os compila<strong>do</strong>res <strong><strong>do</strong>s</strong> evangelhos, segun<strong>do</strong> os apóstolos, então cercaram-lhe a<br />

personalidade de reforma<strong>do</strong>r moral e religioso, de fatos e acontecimentos melodramáticos,<br />

além de <strong><strong>do</strong>s</strong> prodígios para adaptarem sua vida às predições exaltadas <strong>do</strong> Velho<br />

Testamento”.<br />

Mas paremos com Ramatis. Vamos a outros autores, vamos ver o que eles dizem a<br />

respeito de <strong>Jesus</strong> e ainda sobre a sua vida e ligações com os Essênios. Quem afinal foi <strong>Jesus</strong>? Eis<br />

a pergunta que ainda podemos formular! Embora dizen<strong>do</strong> que <strong>Jesus</strong> é o Governa<strong>do</strong>r Espiritual <strong>do</strong><br />

Planeta Terra (pág. 12), Ramatis ensina ainda que ele foi o “médium” <strong>do</strong> Cristo Planetário (pág.<br />

66), ao afirmar: “Assim, o Logos, o Verbo ou o Cristo <strong>do</strong> planeta Terra, em determina<strong>do</strong> momento<br />

passou a atuar diretamente pelo seu intermediário <strong>Jesus</strong>, anjo corporifica<strong>do</strong> na figura humana,<br />

transmitin<strong>do</strong> à humanidade a Luz redentora <strong>do</strong> Evangelho!<br />

60


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

(Transcrição de trecho <strong>do</strong> artigo<br />

“Teria <strong>Jesus</strong> vivi<strong>do</strong> na Inglaterra?”, de André Cehesse,<br />

publica<strong>do</strong> ria edição de 23-7-1958,<br />

de “O Globo”, <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> de Janeiro)<br />

Reproduzimos a seguir o trecho principal <strong>do</strong> artigo supracita<strong>do</strong>, deixan<strong>do</strong> para o fim<br />

algo que podemos adicionar ao que foi dito. Ei-lo:<br />

A decifração e tradução <strong><strong>do</strong>s</strong> manuscritos antigos, encontra<strong><strong>do</strong>s</strong>, há alguns anos, por modesto<br />

pastor numa gruta próxima <strong>do</strong> mar Morto, são acompanha<strong><strong>do</strong>s</strong> na Inglaterra com um tal<br />

interesse que muitas vezes toca as raias da paixão.<br />

Uma estranha teoria acrescenta um elemento de curiosidade a estes problemas teológicos.<br />

Em alguns meios eclesiásticos ou não, espera-se que essas relações, escritas no decorrer<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> primeiros séculos de nossa era, venham confirmar que <strong>Jesus</strong> esteve na Inglaterra,<br />

conforme alguns pretendem.<br />

Trata-se, com efeito, menos de uma lenda <strong>do</strong> que de uma tradição secular da Cornualha,<br />

tradição que, convém assinalar, é apoiada por da<strong><strong>do</strong>s</strong> muito precisos e curiosos.<br />

Um estu<strong>do</strong> aprofunda<strong>do</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> Evangelhos e <strong><strong>do</strong>s</strong> textos sagra<strong><strong>do</strong>s</strong> não nos faculta,<br />

naturalmente, o menor esclarecimento que venha patrocinar ou anular esta tese. Porém, na<br />

realidade, não sabemos da vida de Cristo no decorrer <strong><strong>do</strong>s</strong> dezoito anos de sua existência<br />

transcorri<strong><strong>do</strong>s</strong> depois que ele atingiu os <strong>do</strong>ze anos de idade.<br />

Não nos esqueçamos também de que <strong>Jesus</strong> foi sobrinho de José de Arimatéia, o mesmo<br />

que reclamou seu corpo a fim de dar-lhe uma sepultura condigna.<br />

Ora, Arimatéia era um rico merca<strong>do</strong>r cujos navios singravam o Mediterrâneo em to<strong><strong>do</strong>s</strong> os<br />

senti<strong><strong>do</strong>s</strong>. É, pois, provável que <strong>Jesus</strong> menino tenha acompanha<strong>do</strong> o tio numa dessas viagens.<br />

É que o navio, transpon<strong>do</strong> o estreito de Gibraltar e subin<strong>do</strong> para o norte, tenha feito escala<br />

na Cornualha.<br />

Não há nesta suposição nada de extraordinário, pois naquela época vários foram os<br />

navega<strong>do</strong>res que não só tocaram as costas da Inglaterra como ainda subiram os largos<br />

estuários <strong><strong>do</strong>s</strong> rios. Os trabalhos <strong><strong>do</strong>s</strong> ferreiros britânicos eram então muito aprecia<strong><strong>do</strong>s</strong> em<br />

Roma e em to<strong><strong>do</strong>s</strong> os países <strong>do</strong> Levante.<br />

De acor<strong>do</strong> com a tradição, <strong>Jesus</strong> deve ter residi<strong>do</strong> entre modestos ferreiros, fornece<strong>do</strong>res<br />

ou fregueses <strong>do</strong> seu tio. E ele teria aproveita<strong>do</strong> sua estada na Cornualha para visitar a<br />

região, instruir-se com os druidas, estacionan<strong>do</strong> em várias aldeias que ainda existem.<br />

Ao término de alguns meses ou de alguns anos, <strong>Jesus</strong> seria encontra<strong>do</strong>, no seu país natal,<br />

com seu tio José de Arimatéia.<br />

Em todas as regiões <strong>do</strong> oeste da Grã-Bretanha, não somente na Cornulha como também<br />

em Somerset, e principalmente ao longo da costa, torna-se a encontrar essa curiosa tradição,<br />

de acor<strong>do</strong> com a qual Cristo deve ter vivi<strong>do</strong> na Inglaterra.<br />

No começo da era cristã, na pequena região de Glastonbury, existiu uma igreja construída<br />

pelo próprio Cristo, a qual, evidentemente, desapareceu há muito tempo e foi substituída<br />

por uma capela mais moderna.<br />

61


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Mas, por mais longe que se remonte o decorrer da História, encontram-se traços da existência<br />

dessa igreja. Em 1658, quan<strong>do</strong> os saxões invadiram Somerset, essa igreja já existia e, de<br />

acor<strong>do</strong> com testemunhas dignas de fé, vinha de tempos imemoriais.<br />

Os arquivos de Glastonbury contêm um <strong>do</strong>cumento que data de antes da conquista <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

norman<strong><strong>do</strong>s</strong>. Esse <strong>do</strong>cumento afirma, de acor<strong>do</strong> com a tradição, que aquela igreja não tinha<br />

si<strong>do</strong> construída ‘pela mão <strong><strong>do</strong>s</strong> homens e, sim, pelas mãos <strong>do</strong> próprio Deus’.<br />

Há quem confirme a tradição oral da presença de <strong>Jesus</strong> na Inglaterra, baseada no<br />

testemunho de <strong>do</strong>is santos. Quan<strong>do</strong> São David se achava em Glastonbury Cristo apareceulhe<br />

e, mostran<strong>do</strong>-lhe a igreja, disse-lhe: ‘Eis aqui a igreja que eu construí em honra<br />

de minha mãe’.<br />

Outro fato singular parece confirmar esta tradição, José de Arimatéia é o santo padroeiro<br />

de Glastonbury.<br />

O fato de ter si<strong>do</strong> ele escolhi<strong>do</strong> entre milhares de outros é devi<strong>do</strong>, talvez, a, no seu tempo,<br />

ter esta<strong>do</strong> nessa pequena região da Inglaterra, e nada prova que naquela época ele não<br />

estivesse acompanha<strong>do</strong> por seu divino sobrinho”.<br />

Aqui termina a nossa transcrição, que vou complementar, por assim dizer, com o que<br />

encontrei a respeito. Diz-se que a igreja católica descobriu, intactos, mais de um século (100 anos)<br />

depois dós acontecimentos narra<strong><strong>do</strong>s</strong> no Novo Testamento, a cruz, os cravos, a coroa de espinhos,<br />

o manto sagra<strong>do</strong>, etc., da crucificação de <strong>Jesus</strong>, mas nada descobriu, ou não quis dizer, sobre o<br />

perío<strong>do</strong> de sua vida <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> anos, paran<strong>do</strong>-a nos 12 anos, quan<strong>do</strong> dizia que “crescia <strong>Jesus</strong><br />

em sabe<strong>do</strong>ria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens”. (Lucas, II, vers. 52)<br />

Como não se pode admitir que <strong>Jesus</strong> tenha vivi<strong>do</strong> incognitamente na casa de seus pais,<br />

nem como “agenere” num clima quente como o da Palestina, nem se conta onde ele adquiriu toda<br />

esta grande e sublime sabe<strong>do</strong>ria que mostrou e demonstrou, diferente da religião de seu próprio<br />

povo, cabe examinar qualquer presunção para preencher esse vazio inexplica<strong>do</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> 17 longos<br />

anos de sua vida de adulto de apenas 33 anos e mesmo admitir que tenha esta<strong>do</strong> na antiga<br />

Bretanha ou Inglaterra, em companhia <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>r José de Arimatéia, seu tio e protetor.<br />

Vou, pois, referir algo relaciona<strong>do</strong> com a transcrição acima, colhi<strong>do</strong> em um livro<br />

completamente desconheci<strong>do</strong> <strong>do</strong> público brasileiro. É da autoria <strong>do</strong> Sr. Frederick Bligh Bond e tem<br />

o título de The Company of Avalon - a study of the script of Brother Simon, sub-prior of the Winchester<br />

Abbey in the time of King Stephen, ou, em português, “A Companhia de Avalon um estu<strong>do</strong> da<br />

narrativa <strong>do</strong> Irmão Simão, sub-prior da Abadia de Winchester no tempo <strong>do</strong> rei Estevão”.<br />

Em 1908, as autoridades eclesiásticas resolveram restaurar a abadia de Glastonbury, o<br />

mais velho edifício religioso da Inglaterra, sen<strong>do</strong> as escavações começadas em 1904, para achar<br />

uma das capelas, a de Edgar, mas sem êxito algum. Em suma, não se sabia quase nada sobre as<br />

construções primitivas, que remontavam ao século VI.<br />

Encarrega<strong>do</strong> da restauração, o Sr. Bligh Bond resolveu recorrer à clarividência de um<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> seus amigos, o Sr. John Alleyne, antes <strong>do</strong> começo das buscas. Em uma série de “narrativas<br />

subconscientes”, cuja origem era atribuída <strong>aos</strong> monges da abadia e em parte já conhecidas,<br />

indicações foram dadas sobre a disposição e as dimensões das antigas capelas. Ora, essas foram<br />

efetivamente achadas, particularmente a de Edgar.<br />

62


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

O Sr. Bligh Bond, bem como o seu amigo, não era espírita e daí aparecerem hipóteses já<br />

aventadas em oposição às espíritas, mas nunca suficientes para esclarecimento <strong>do</strong> caso. Ele explica<br />

as revelações obtidas em parte por uma “inferência subconsciente” tirada de <strong>do</strong>cumentos<br />

arqueológicos, em parte por uma “metagnomia” cuja fonte lhe parecia ser uma “memória coletiva”<br />

onde se viriam fundir, pela morte, todas as “memórias individuais”, isto é, uma espécie de “sabetu<strong>do</strong><br />

eterno e universal” onde os médiuns em geral tirariam todas as suas sempre exatas informações,<br />

que, bastas vezes, na verdade, não conferem com a realidade. É o chama<strong>do</strong> “reservatório cósmico<br />

de memórias individuais”, hipótese formulada, para fins especulativos, por Sir Wil-liam James, e<br />

que o Prof. Ernesto Bozzano arrasou integralmente em seus trabalhos, inclusive na “Literatura<br />

d’além-túmulo”.<br />

Fato interessante é que as comunicações foram sempre obtidas na presença de Bligh<br />

Bond. Sozinho, o médium não as obtinha, o que faz pensar que o arqueólogo, por qualquer motivo<br />

- quem sabe se por uma encarnação anterior ligada à abadia - servisse de “ponto de ligação” ou<br />

provocasse uma espécie de “relação psíquica”. Ou que talvez atraísse qualquer monge daquela<br />

época que viesse a agir sobre o clarividente, provocan<strong>do</strong> ou favorecen<strong>do</strong> as visões tidas.<br />

Desde então outros médiuns continuaram a obter mensagens análogas que serviram<br />

para pequenas publicações separadas, as chamadas “mensagens de Glastonbury”. Uma notável<br />

série delas foi reunida nesse volume com o nome de uma das primeiras comunidades religiosas de<br />

Glastonbury: The Company of Avalon.<br />

É a história <strong>do</strong> mosteiro em certas épocas, desde a sua fundação por José de Arimatéia<br />

até o século XII, quan<strong>do</strong> foi totalmente destruí<strong>do</strong> pelo fogo. Não havia então nenhum <strong>do</strong>cumento<br />

que pudesse informar o médium, uma senhora que já havia obti<strong>do</strong>, pela escrita subconsciente,<br />

comunicações relativas à catedral de Winchester e à abadia de Shafsthury. Essas mensagens<br />

também provinham de personalidades daquela época, principalmente de Simão, sub-prior da abadia<br />

de Winchester e de Ambrósio, prior da abadia de Glastonbury. Eles revelaram a existência de uma<br />

câmara subterrânea, não longe da velha porta <strong>do</strong> Norte. Contaram, em seguida, no antigo inglês,<br />

mistura de baixo-latim e de anglo-saxão, a história <strong>do</strong> grande incêndio. Enfim, deram detalhes<br />

extremamente circunstancia<strong><strong>do</strong>s</strong>, acompanha<strong><strong>do</strong>s</strong> de plantas e croquis, sobre a primeira igreja de<br />

madeira de Glastonbury: The Ealde Chirche ou Vetusta Ecclesia, a Velha Igreja.<br />

Logo em seguida, por oposição das autoridades eclesiásticas, que consideraram Bligh<br />

Bond e os médiuns como auxiliares <strong>do</strong> diabo (!!!), outra verificação não pôde ser empreendida.<br />

Entretanto, o “acaso” de uma escavação fez descobrir, ao norte da capela de São José, certa<br />

muralha que segue exatamente na direção da descrição dada na mensagem. Trata-se de uma obra<br />

de alvenaria edificada pelo monge Herlewin para proteger a Vetusta Ecclesia, da qual nada resta no<br />

momento, pois uma capela foi cavada no século XVI nas suas fundações.<br />

Dois médiuns psicógrafos, uma na América e outro na Inglaterra, igualmente receberam<br />

mensagens relativas à história da abadia e as indicações recebidas por eles concordam com a<br />

narrativa <strong>do</strong> Frade Simão.<br />

Ora, se José de Arimatéia esteve mesmo na antiga Bretanha ou Inglaterra, teria <strong>Jesus</strong><br />

i<strong>do</strong> com ele e vivi<strong>do</strong> lá algum tempo? Nada se pode dizer ao certo por falta de da<strong><strong>do</strong>s</strong> concretos, que<br />

também não os há nos evangelhos, <strong>do</strong>is <strong><strong>do</strong>s</strong> quais foram escritos segun<strong>do</strong> as tradições verbais <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

primeiros cristãos.<br />

Que nos ocultaram os chama<strong><strong>do</strong>s</strong> “evangelhos apócrifos”? Teria <strong>Jesus</strong> vivi<strong>do</strong> mesmo,<br />

anonimamente, na casa de seus pais? Mas o Novo Testamento nos conta que ele reapareceu na<br />

Palestina, causou certa admiração e que até não o reconheceram. O certo, porém, é que <strong>Jesus</strong> não<br />

poderia viver, anonimamente, 17 anos segui<strong><strong>do</strong>s</strong>, inúteis, em alguma parte da Terra, ou aban<strong>do</strong>nar<br />

o seu corpo carnal e ir para o Espaço, na hora de cumprir a sua missão terrena, que foi apenas de<br />

3 anos.<br />

63


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Tu<strong>do</strong> é possível, tu<strong>do</strong>. <strong>Jesus</strong>, por mais que esmiucemos a sua vida, permanece o grande<br />

mistério, até com o auxílio <strong><strong>do</strong>s</strong> manuscritos encontra<strong><strong>do</strong>s</strong> em grutas perto <strong>do</strong> mar Morto, <strong>aos</strong> quais<br />

vou referir-me por meio de vários autores.<br />

<strong>Jesus</strong> e os Manuscritos <strong>do</strong> Mar Morto<br />

64<br />

(Tradução integral <strong>do</strong> artigo de Bernard Genty<br />

sob o título de “Um precursor de <strong>Jesus</strong>”?<br />

publica<strong>do</strong> no n° de Set./Out. de 1951,<br />

de La Revue Spirite, de Paris, França)<br />

Ao contrário <strong>do</strong> que venho fazen<strong>do</strong>, esta é a tradução completa de um artigo que já nos<br />

fornece um resumo <strong><strong>do</strong>s</strong> chama<strong><strong>do</strong>s</strong> “rolos <strong>do</strong> mar Morto” e nos permite fazer uma comparação entre<br />

os Essênios e os primeiros Cristãos.<br />

Quem conhece bastante o Novo Testamento terá, com este artigo, muito o que pensar<br />

sobre a pessoa de <strong>Jesus</strong>. Vamos, pois, a ele.<br />

No caminho de Jerusalém para Jericó, na passagem montanhosa da Judéia; em estreito<br />

barranco, uma gruta se abre em <strong>do</strong>is buracos. Na primavera de 1947, um beduíno, que<br />

cuidava de seu rebanho, penetrou na gruta. Em seu solo achou várias vasilhas de barro<br />

cozi<strong>do</strong>, quebradas umas, intactas outras, e dentro delas uns rolos de couro envolvi<strong><strong>do</strong>s</strong> em<br />

tela e que continham manuscritos ali coloca<strong><strong>do</strong>s</strong> há aproximadamente <strong>do</strong>is mil anos.<br />

Os monges sírios <strong>do</strong> convento de São Marcos de Jerusalém adquiriram quatro rolos da<br />

gruta de Ain Frashka (assim se chama) e os entregaram, para estu<strong>do</strong>, <strong>aos</strong> sábios orientalistas<br />

da Escola Americana de Jerusalém. Em 1950 apareceu em New Haven, fotografa<strong>do</strong>, o<br />

primeiro rolo <strong>do</strong> mar Morto compreenden<strong>do</strong> o Livro canônico de Isaías e o Comentário de<br />

Habacuc. Desta maneira to<strong><strong>do</strong>s</strong> os sábios <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> podem estudar e traduzir, com toda a<br />

liberdade, os famosos <strong>do</strong>cumentos. A escrita arcaica desses manuscritos é uma garantia<br />

de sua autenticidade, provada, ademais, pela análise das vasilhas, as telas e os fragmentos<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> manuscritos. O Livro de Isaías oferece um extraordinário interesse para os estu<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

lingüísticos, porém o sensacional, em tu<strong>do</strong> isto, reside no conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> rolo. Seu<br />

autor comenta ali o texto <strong>do</strong> livro canônico de Habacuc, obra pertencente à coleção canônica<br />

chamada <strong><strong>do</strong>s</strong> “Doze Pequenos Profetas”, que anuncia e descreve a invasão <strong><strong>do</strong>s</strong> caldeus. O<br />

comentarista considera simbólico o texto antigo que é uma espécie de profecia aplicável à<br />

sua época e faz alusões destinadas a serem compreendidas por seus contemporâneos.<br />

To<strong>do</strong> o comentário leva alegoricamente ao relato de Habacuc sobre o conflito que houve<br />

entre os sacer<strong>do</strong>tes de Jerusalém e o “Mestre da Justiça”, funda<strong>do</strong>r da seita judia “A Nova<br />

Aliança”.<br />

Em que data foi escrito esse comentário? Uma derrota militar ocorrida no dia de jejum da<br />

festa de guarda das expiações é considerada ali como castigo pela perseguição ao “Mestre<br />

da Justiça”. Unicamente a tomada de Jerusalém por Pompeu, no ano 63 antes de <strong>Jesus</strong>-<br />

Cristo, reúne tais condições.


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

O comentário foi escrito, pois, logo em, seguida a esse ano. Alusões muito parecidas com os<br />

romanos confirmam, ademais, que se trata dessa época. Outras referências às guerras<br />

civis entre os chefes romanos e a ausência de menção de Otávio, impera<strong>do</strong>r de então, na<br />

paz que se seguiu a esse feito, situam o escrito entre os anos 49 e 29, provavelmente 41<br />

antes de <strong>Jesus</strong>-Cristo, segun<strong>do</strong> opina o professor Dupont-Sommer.<br />

O comentarista fala, sobretu<strong>do</strong>, no funda<strong>do</strong>r da seita. Seu nome, por veneração, não se<br />

escreve nunca. Só é chama<strong>do</strong> “Eleito de Deus” ou “Mestre da Justiça”. É um sacer<strong>do</strong>te que<br />

tem revelações divinas e a missão de transmiti-las <strong>aos</strong> judeus. “Deus o pôs na terra de<br />

Judá para explicar todas as palavras de seus servi<strong>do</strong>res, os “Profetas”. Seus prediletos<br />

eram os pobres e os simples, fiéis observa<strong>do</strong>res da Lei.<br />

Tem numerosos adeptos e funda uma comunidade “A Nova Aliança”.<br />

O “Mestre da Justiça” entra em luta com os sacer<strong>do</strong>tes de Jerusalém.<br />

O comentarista anatematiza o “Padre Ímpio”, o “Homem <strong>do</strong> Engano”, que persegue o “Mestre<br />

da Justiça”, bem como os seus partidários. O “Mestre da Justiça” foi sacrifica<strong>do</strong> por ele em<br />

uma sentença iníqua e odiosos profana<strong>do</strong>res cometeram horrores e vinganças sobre o seu<br />

corpo carnal, pois quiseram desnudá-lo provavelmente para submetê-lo ao suplício.<br />

Mediante uma severa análise histórica, o professor Dupont-Sommer deduz que esse Sumo<br />

Sacer<strong>do</strong>te Rei que perseguiu o “Mestre da Justiça”, é Aristóbulo II, depois aprisiona<strong>do</strong> e<br />

finalmente envenena<strong>do</strong> por Pompeu, acontecimentos que situam o suplício <strong>do</strong> “Mestre da<br />

Justiça” entre os anos 67 e 63 antes de <strong>Jesus</strong>-Cristo; parecen<strong>do</strong> também que o Sumo<br />

Sacer<strong>do</strong>te, chefe <strong><strong>do</strong>s</strong> Saduceus, estava entre os persegui<strong>do</strong>res ao passo que os Fariseus<br />

se mantiveram neutros. Também se faz alusão a outro sacer<strong>do</strong>te ímpio, adversário de “A<br />

Nova Aliança”, que o professor Dupont-Sommer identifica como Ircão II, irmão e sucessor<br />

de Aristóbulo II. Ircão II foi feito prisioneiro no ano 40 antes de <strong>Jesus</strong>-Cristo pelos Partas,<br />

liberta<strong>do</strong> e depois assassina<strong>do</strong> por ordem de Herodes. O comentarista se refere sempre ao<br />

castigo que aguarda os culpa<strong><strong>do</strong>s</strong>, o que confirma que o relato foi escrito aí pelo ano 41<br />

antes de <strong>Jesus</strong>-Cristo.<br />

Os membros da “Aliança” viviam esperan<strong>do</strong> o fim <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, com uma confiança ardente<br />

e alegre: “Chega<strong><strong>do</strong>s</strong> os “últimos Tempos”, seguirá o Grande JuÍzo, depois o perio<strong>do</strong> definitivo<br />

durará toda a eternidade e nele reinará o Bem. A gnose (conhecimento <strong><strong>do</strong>s</strong> primeiros<br />

princípios) será revelada. Ninguém sabe a hora desse Grande Juízo, mas se sabe ... por<br />

meio de seu Eleito que Deus submeterá a julgamento todas as nações e então chegará o<br />

momento da expiação para to<strong><strong>do</strong>s</strong> os criminosos <strong>do</strong> povo. Aqueles que tiverem observa<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

seus mandamentos serão uma rocha para eles...<br />

O Juízo Final será, pois, exerci<strong>do</strong> pelo “Mestre da Justiça”, “Eleito de Deus”, o mesmo que,<br />

no evangelho, “ ... ocorrerá o mesmo no fim <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. O filho <strong>do</strong> homem enviará os<br />

seus anjos que arrojarão de seu reino to<strong><strong>do</strong>s</strong> os escandalosos e os que tenham<br />

produzi<strong>do</strong> inquietudes...”<br />

Porém, no momento <strong>do</strong> Juízo quem será salvo? Habacuc escreveu: ... “e o justo viverá pela<br />

fé”, <strong>do</strong>nde o comentarista conclui: A explicação disto concerne a to<strong><strong>do</strong>s</strong> os que praticam a<br />

Lei na casa de Judá que Deus livrará <strong>do</strong> Juízo (Israel culpável) por causa de sua pena e de<br />

sua fé no “Mestre da Justiça”. Assim, a fé que salva é a fé no funda<strong>do</strong>r divino da Nova<br />

Aliança. “Ninguém vai ao Pai senão por mim” é uma frase atribuída a <strong>Jesus</strong>.<br />

Um <strong><strong>do</strong>s</strong> rolos descobertos contém as regras da comunidade. Algumas passagens foram<br />

publicadas a título de amostra paleográfica; o resto o será mais tarde. É um ritual de<br />

iniciação.<br />

65


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Os componentes da seita “Filhos da Luz” devem estar estreitamente uni<strong><strong>do</strong>s</strong> e amar-se<br />

profundamente. As virtudes a praticar são: o amor e a verdade, a pobreza e o desprezo<br />

pelas riquezas, a humildade e a modéstia, o amor ao próximo, a mais escrupulosa castidade,<br />

a expiação, o esforço para a perfeição e a procura de Deus. Que semelhança com os preceitos<br />

de <strong>Jesus</strong>! Talvez o amor ao próximo não seja tão perfeito como a <strong>do</strong>utrina de <strong>Jesus</strong>: “Amar<br />

aqueles que Deus escolheu e odiar os que Ele repudia”, quan<strong>do</strong>, ao contrário, <strong>Jesus</strong><br />

disse: “Amai <strong>aos</strong> vossos inimigos, rogai pelos que vos perseguem”.<br />

Depois de uma advertência, os novos adeptos a iniciar-se desfilavam entre os sacer<strong>do</strong>tes e<br />

clérigos que pronunciavam bênçãos em louvor a Deus. Em seguida os sacer<strong>do</strong>tes<br />

enumeravam os benefícios de Deus para com Israel e os clérigos respondiam com a<br />

enumeração das ingratidões de Israel para com Deus.<br />

Os membros entregavam tu<strong>do</strong> à comunidade e se submetiam <strong>aos</strong> tribunais da seita. A<br />

Nova Aliança se acha, pois, bem separada <strong>do</strong> resto <strong><strong>do</strong>s</strong> judeus.<br />

Em outro rolo, os Salmos de Ação de Graças da Nova Aliança, se encontra a idéia de<br />

resgate: “Porque Tu resgataste minh’alma da cova e <strong>do</strong> Sheol-Ob<strong>do</strong>n. Tu me fizeste remontar<br />

ao cimo <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”. E também:<br />

- a idéia da esperança.... “e soube que ali existia a esperança para aquele que Tu formaste<br />

<strong>do</strong> pó e destinaste à eterna assembléia;<br />

- a idéia da utilidade <strong><strong>do</strong>s</strong> sofrimentos para chegar ao bem. . . “porque estive no <strong>do</strong>mínio da<br />

milícia” ... “então Tu agitas a alma <strong>do</strong> pobre no meio de atribulações sem conta e calamidades<br />

atrozes acompanharam os meus passos”.<br />

- a idéia de felicidade eterna... “e aqueles que caminham pela via grata ao Teu coração<br />

ficaram para to<strong>do</strong> o sempre”.<br />

- a idéia <strong>do</strong> amor divino... “a abundância <strong>do</strong> Seu amor para com to<strong><strong>do</strong>s</strong> os filhos de Sua<br />

benevolência”. Um <strong>do</strong>cumento descoberto em 1896 numa sinagoga <strong>do</strong> velho Cairo, publica<strong>do</strong><br />

em 1910, compreende <strong>do</strong>is manuscritos copia<strong><strong>do</strong>s</strong> um no século X e o outro no século XII, os<br />

quais contêm admonitórios e a regra de uma seita chamada “Filhos de Sa<strong>do</strong>c”, termo<br />

emprega<strong>do</strong> no Comentário de Habacuc e também “A Nova Aliança <strong>do</strong> país de Damasco”.<br />

Segun<strong>do</strong> o professor Dupont-Sommer, esse <strong>do</strong>cumento fica agora inteligível depois <strong>do</strong><br />

descobrimento <strong><strong>do</strong>s</strong> rolos <strong>do</strong> mar Morto. Encontram-se neles a mesma linguagem, o mesmo<br />

estilo e aproximadamente o mesmo conteú<strong>do</strong> que no Comentário de Habacuc. Encontra-se<br />

também ali o advento <strong>do</strong> “Mestre da Justiça”, que se chama a si mesmo “O Ungi<strong>do</strong>” (Messias,<br />

Cristo, em grego), a primeira visita <strong>do</strong> Mestre da Justiça, a que sem dúvida se relata no<br />

comentário, fora da destruição de Jerusalém. Também se faz alusão ao inimigo <strong>do</strong> Mestre,<br />

o homem burlão, o persegui<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Mestre.<br />

É, pois, provável que se trate em Damasco, como na margem <strong>do</strong> Mar Morto, da mesma<br />

seita. No escrito de Damasco, a semelhança com o que seria mais tarde o Cristianismo, é<br />

surpreendente. Ali encontramos esta frase: “Deus fez conhecer, por meio de Seu Ungi<strong>do</strong>, o<br />

Seu Espírito Santo”. Que semelhança com a trindade cristã!<br />

Registrou a história a existência da Nova Aliança? Flavius Josephus nos cita como seitas<br />

judaicas apenas os Fariseus, os Saduceus e os Essênios. Só esses últimos se parecem<br />

com os adeptos da Nova Aliança. Por outro la<strong>do</strong>, Plínio o antigo, faleci<strong>do</strong> em 79 depois de<br />

<strong>Jesus</strong>-Cristo, conta que, no seu tempo, viviam, no oeste <strong>do</strong> Mar Morto, estranhos ascetas<br />

judeus “nação solitária”, sem mulheres, na renúncia de tu<strong>do</strong> o que fosse de Vênus, sem<br />

dinheiro, sem outra sociedade que as palmeiras. A esses ascetas Plínio chama Essênios.<br />

66


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Dion Crisóstomo, refere Sinésio, menciona também os Essênios como místicos que viviam<br />

em mosteiros e pratican<strong>do</strong>, como os membros da Nova Aliança, o desprezo pelas riquezas,<br />

o amor ao próximo, a humildade, a castidade, cren<strong>do</strong> como eles, nas recompensas celestes<br />

e nos castigos infernais, na soberania <strong>do</strong> Destino. Há identidade na <strong>do</strong>utrina. O juramento<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> Essênios é quase textualmente a fórmula de juramento da Nova Aliança. Josephus faz<br />

alusão ao Legisla<strong>do</strong>r <strong><strong>do</strong>s</strong> Essênios, que é provavelmente o “Mestre da Justiça”. De tal<br />

mo<strong>do</strong>, o professor Dupont-Sommer concluiu na identificação entre o Essenismo e a Nova<br />

Aliança.<br />

A semelhança entre as <strong>do</strong>utrinas da “Nova Aliança”, isto é, entre os Essênios, e a futura<br />

<strong>do</strong>utrina cristã, é surpreendente. Renan disse: “O Essenismo é uma antecipação <strong>do</strong><br />

Cristianismo”. Eis aqui uma opinião antiga que novas descobertas vêm apoiar: “Tu<strong>do</strong> na<br />

Nova Aliança judia, diz o professor Dupont-Sommer, anuncia e prepara a Nova Aliança<br />

Cristã. O Mestre galileu, tal como no-lo apresentam os escritos <strong>do</strong> Novo Testamento, surge<br />

depois de muitas considerações, como uma assombrosa reencarnação <strong>do</strong> Mestre da Justiça<br />

essênio. Como este, ele praticou a penitência, a pobreza, a humildade, o amor ao próximo,<br />

a castidade. Como ele, prescreveu a observância da Lei de Moisés, toda a lei, acabada,<br />

perfeita, graças às suas próprias revelações. Como ele, foi o Eleito, o Ungi<strong>do</strong>, o Messias de<br />

Deus, o Messias redentor <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>. Como ele, foi. objeto das hostilidades <strong><strong>do</strong>s</strong> sacer<strong>do</strong>tes<br />

<strong>do</strong> parti<strong>do</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> Saduceus. Como ele, foi condena<strong>do</strong> ao suplício. Como ele, subiu <strong>aos</strong> Céus<br />

para perto de Deus. Como ele, profetizou sobre Jerusalém que, por causa de tê-lo condena<strong>do</strong><br />

à morte, foi tomada e destruída pelos Romanos. Como ele, no fim <strong><strong>do</strong>s</strong> tempos, será juiz<br />

soberano. Como ele, fun<strong>do</strong>u uma igreja, cujos fiéis aguardam, com fervor, a sua volta<br />

gloriosa. Na Igreja Cristã, como na Igreja Essênia, o rito essencial é a Ceia, onde os sacer<strong>do</strong>tes<br />

são ministros. De um e de outro la<strong>do</strong>, à frente de cada comunidade há um Inspetor: o<br />

Bispo. E o ideal de uma e outra igrejas é essencialmente a unidade e a comunhão na<br />

caridade, chegan<strong>do</strong>-se até a comunhão de bens.<br />

Acabo de citar as conclusões <strong>do</strong> professor Dupont-Sommer, sem a menor presunção de<br />

acrescentar outras. Acrescento que não são definitivas, posto que outras fotografias de<br />

manuscritos serão publicadas. Mostrarão essas novas publicações semelhanças mais nítidas<br />

entre a nova Aliança e o Cristianismo ou surgirão divergências que não se haviam nota<strong>do</strong>.<br />

Breve, talvez, tenhamos a resposta. A notícia da descoberta <strong><strong>do</strong>s</strong> manuscritos <strong>do</strong> Mar Morto<br />

despertou grande curiosidade. Uns esperavam que ameaçassem de ruína a fé cristã; outros<br />

que essa fé fosse robustecida. Na minha opinião, é esperar muito desses manuscritos.<br />

Nada têm de revolucionários, a não ser para os historia<strong>do</strong>res que agora poderão compreender<br />

uma grande quantidade de escritos judaicos cujo senti<strong>do</strong> se lhes escapou até então. Diante<br />

de tais <strong>do</strong>cumentos, qual a atitude <strong><strong>do</strong>s</strong> crentes? Ignoro-o. Sei, ao contrário, que existe uma<br />

controvérsia entre um padre jesuíta e o professor Dupont-Sommer acerca da interpretação<br />

de tais <strong>do</strong>cumentos, porém nada mais fora disto.<br />

Alguns querem ver um só e mesmo personagem no Mestre da justiça e <strong>Jesus</strong>, acrescentan<strong>do</strong><br />

que é a lenda que faz viver <strong>Jesus</strong> em outra época. O próprio professor Dupont- Sommer é<br />

de outro parecer. Que fique bem entendi<strong>do</strong> que eu não me pronuncio sobre a questão, em<br />

que me considero incompetente. Como espírita, pouco me importa a solução dada a este<br />

problema. Da mesma -maneira pouco me importa que o Mestre da Justiça e <strong>Jesus</strong> sejam<br />

um só personagem ou <strong>do</strong>is inicia<strong><strong>do</strong>s</strong> distintos. A mensagem de amor que eles trouxeram<br />

das esferas superiores é o essencial. Que importa se um deles veio preparar a vinda <strong>do</strong><br />

outro. Que razão há para não aceitar que entidades superiores hajam prepara<strong>do</strong><br />

pacientemente sua mensagem de amor, envian<strong>do</strong> vários grandes espíritos à Terra?<br />

67


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

O professor Dupont-Sommer diz, na sua conclusão, que o Mestre galileu parece uma<br />

assombrosa reencarnação <strong>do</strong> Mestre essênio. A palavra reencarnação é empregada no<br />

senti<strong>do</strong> figura<strong>do</strong>. Dan<strong>do</strong>-se-lhe o senti<strong>do</strong> espírita, chegamos à nova hipótese: o Mestre da<br />

Justiça essênio se reencarnou em <strong>Jesus</strong> para concluir a sua obra. Já sei que a distância é<br />

curta entre a morte <strong>do</strong> primeiro e o nascimento <strong>do</strong> segun<strong>do</strong>, mas, no fim, a hipótese é<br />

possível.<br />

Antes de terminar, desejo assinalar que muitos espiritualistas, como, por exemplo, E<strong>do</strong>uard<br />

Schuré, situam <strong>Jesus</strong> como pertencente à seita <strong><strong>do</strong>s</strong> Essênios e ele mesmo como essênio.<br />

Sua hipótese não é tão audaciosa assim, já que se descobriram tantas semelhanças entre<br />

as <strong>do</strong>utrinas essênias e cristãs, e disto não se poderia extrair outra explicação possível.<br />

Os Essênios prepararam um sucessor para o “Mestre da Justiça”, um continua<strong>do</strong>r...<br />

Aqui termina a minha tradução deste longo e interessante artigo que projeta brilhante<br />

luz sobre os Essênios e os seus ensinamentos.<br />

São lógicas e razoáveis as conclusões <strong>do</strong> professor Dupont-Sommer, da Sorbonne, que<br />

teve uma controvérsia, como diz o articulista, com um jesuíta que penso seja o padre Roland de<br />

Vaux, O.P., que séria obriga<strong>do</strong> a concluir de acor<strong>do</strong> com as <strong>do</strong>utrinas de sua religião.<br />

Acha o articulista, em 1951, que as conclusões <strong>do</strong> professor não são definitivas pois que<br />

outras fotografias de manuscritos serão publicadas. Sete anos depois, isto é, em 1958, prefacian<strong>do</strong><br />

a versão francesa de “Os Essênios e o Cristianismo”, da autoria <strong>do</strong> rev. Duncan Howlett, antigo<br />

ministro da Primeira Igreja Unitária de Boston, EE. UU. da América, escreve as seguintes linhas<br />

que dão a impressão de que o assunto não foi encerra<strong>do</strong> ainda:<br />

Eis o essencial: o conjunto <strong><strong>do</strong>s</strong> manuscritos descobertos provém de uma comunidade essênia<br />

que se achava instalada na região de Qumram, comunidade essênia mencionada por Plínio<br />

o antigo; a história <strong>do</strong> Mestre da Justiça se situa, em grosso, no primeiro terço <strong>do</strong> primeiro<br />

século antes de <strong>Jesus</strong>- Cristo, um pouco antes da tomada de Jerusalém pelo romano Pompeu,<br />

e a comunidade fundada por ele aban<strong>do</strong>nou Qumram no momento da grande guerra judia<br />

de 66-70 de nossa era, ocultan<strong>do</strong>, então, nas grutas vizinhas, os seus livros sagra<strong><strong>do</strong>s</strong>;<br />

esse Mestre que faleceu muito provavelmente durante a perseguição dirigida contra a seita<br />

pelo sacer<strong>do</strong>te asmoneu, foi uma personalidade eminente, objeto de fervorosa veneração<br />

por parte <strong><strong>do</strong>s</strong> seus fiéis; enfim e sobretu<strong>do</strong>, os novos textos revelam que a Igreja cristã<br />

primitiva se enraíza, em um grau que ninguém poderia suspeitar, na seita judia essênia,<br />

que esta emprestou àquela uma boa parte da sua organização e <strong><strong>do</strong>s</strong> seus ritos, das suas<br />

<strong>do</strong>utrinas e <strong><strong>do</strong>s</strong> seus “modelos de pensamento”, <strong>do</strong> seu ideal místico e moral.<br />

Sobre estas idéias, a despeito de algumas oposições mais ou menos barulhentas, um acor<strong>do</strong><br />

cada vez maior começa a se estabelecer entre os mais diversos sábios: como se está longe<br />

da confusão extrema que reinava há ainda quatro ou cinco anos! Certamente, bastantes<br />

problemas ficam ainda em discussão: identificação exata <strong>do</strong> “Padre ímpio”, data e<br />

significação <strong>do</strong> “exílio de Damasco”, caráter messiânico <strong>do</strong> Mestre da justiça ... A estes<br />

diversos problemas e a outros ainda, no esta<strong>do</strong> atual da <strong>do</strong>cumentação, ninguém poderia<br />

dar, no momento, uma resposta definitiva; para abordar esses problemas, em toda a sua<br />

amplitude e com todas as garantias científicas, é preciso esperar que tenham si<strong>do</strong> publica<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

to<strong><strong>do</strong>s</strong> os textos saí<strong><strong>do</strong>s</strong> das grutas de Qumram, esperar também que tenham termina<strong>do</strong> as<br />

buscas empreendidas na região de Qumram e que to<strong><strong>do</strong>s</strong> os resulta<strong><strong>do</strong>s</strong> delas sejam<br />

inteiramente conheci<strong><strong>do</strong>s</strong>. Até lá não se poderá senão fazer balizas e formular hipóteses<br />

mais ou menos revisáveis. Mas esta prudência necessária nas conclusões não poderá<br />

impedir as pesquisas de se desenvolverem em to<strong><strong>do</strong>s</strong> os senti<strong><strong>do</strong>s</strong>; é mesmo grandemente<br />

desejável que as pistas as mais diversas sejam ativamente exploradas, com uma liberdade<br />

total. A obra de D. Howlett, que se recomenda por uma orientação nitidamente histórica e<br />

não menos pela sua serenidade e não menos pela sua serenidade e clareza, contribuirá<br />

muito utilmente para o progresso destas cativantes pesquisas.<br />

68


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Esta obra <strong>do</strong> rev. Howlett contém 28 capítulos, notas e um índice. Citamos 4 <strong><strong>do</strong>s</strong> capítulos:<br />

o XIII - Analogias entre <strong>Jesus</strong> e os Essênios; XV - Interpretação das analogias e diferenças de<br />

<strong>do</strong>utrina verificadas entre <strong>Jesus</strong> e os Essênios; XVI - Analogias entre os Essênios e os primeiros<br />

Cristãos; e XVII - Interpretação das analogias existentes entre os Essênios e a Igreja <strong><strong>do</strong>s</strong> primeiros<br />

cristãos.<br />

69<br />

(Parte <strong>do</strong> artigo de Tanneguy de<br />

Quénétain “Quem era <strong>Jesus</strong>?” publica<strong>do</strong> no<br />

n° 871, de 28-12-1968, de Manchete, <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> de Janeiro)<br />

Sem nenhum comentário, deixan<strong>do</strong> ao leitor o cuida<strong>do</strong> de comparar o que outros autores<br />

disseram a respeito, passo à transcrição <strong>do</strong> que interessa para o estu<strong>do</strong> das origens <strong>do</strong> Cristianismo:<br />

Sabe-se que <strong>Jesus</strong>, de acor<strong>do</strong> com os Evangelhos sinópticos, não celebrou a Páscoa na<br />

data oficial. Ele a celebrou antes de sua Paixão e morreu antes <strong>do</strong> começo da Páscoa legal<br />

que, naquele ano, caía num dia de sába<strong>do</strong>, ou seja, sexta-feira à tarde, ao cair <strong>do</strong> sol. Só<br />

havia um calendário em concorrência com o <strong>do</strong> Templo: o <strong><strong>do</strong>s</strong> essênios. Mas, se <strong>Jesus</strong><br />

tivesse segui<strong>do</strong> o calendário essênico, não teria celebra<strong>do</strong> a festa na tarde de quinta-feira,<br />

mas na tarde de terça-feira. Uma erudita católica, Annie Jaubert, demonstrou, em um livro<br />

de cerrada <strong>do</strong>cumentação (A Data da Ceia), que <strong>Jesus</strong> obedecia ao calendário de Qumram,<br />

o qual celebra a Páscoa na tarde de terça-feira. E que a quinta-feira santa não faz parte da<br />

tradição cristã primitiva.<br />

Os essênios não participavam <strong><strong>do</strong>s</strong> sacrifícios <strong>do</strong> Templo, mas tinham uma cerimônia à<br />

parte, que constituía o seu culto central: uma ceia presidida por um sacer<strong>do</strong>te, reservada<br />

apenas <strong>aos</strong> inicia<strong><strong>do</strong>s</strong> e que exigia a participação de dez pessoas pelo menos. Esta ceia<br />

sagrada, durante a qual o sacer<strong>do</strong>te benzia o pão e o vinho, era uma prefiguração <strong>do</strong><br />

grande banquete messiânico que marcaria a chegada <strong>do</strong> Reino. Esta refeição diferente das<br />

liturgias <strong>do</strong>mésticas <strong><strong>do</strong>s</strong> judeus, presididas pelo chefe da família - é o embrião da ceia<br />

eucarística cristã. Com uma diferença essencial: para os essênios, o Messias ainda haveria<br />

de chegar; para os cristãos, ele já havia chega<strong>do</strong> na pessoa de <strong>Jesus</strong>, que preside a ceia.<br />

O banquete cristão realiza aquilo que o banquete essênio prefigura.<br />

As comunidades essênias eram impregnadas de uma atmosfera de exaltada espera <strong>do</strong><br />

Messias, segun<strong>do</strong> testemunha a sua liturgia apocalíptica, e sua atitude contrasta com a da<br />

maioria <strong><strong>do</strong>s</strong> fariseus, cujo ponto de vista está conti<strong>do</strong> neste conselho de um rabino: ‘Se<br />

estás para fazer uma cerca e, se, neste momento, te anunciam a chegada <strong>do</strong><br />

Messias, termina a tua cerca: terás bastante tempo para ir a seu encontro’.<br />

A opinião <strong><strong>do</strong>s</strong> essênios sobre o Messias parece ter evoluí<strong>do</strong>. Nos textos mais antigos são<br />

previstos <strong>do</strong>is Messias, um Messias-Sacer<strong>do</strong>te e um Messias-Rei. Mas em <strong>do</strong>cumentos<br />

mais recentes os <strong>do</strong>is Messias foram reuni<strong><strong>do</strong>s</strong> em um só. De acor<strong>do</strong> com o texto descoberto<br />

há pouco, e que é o horóscopo <strong>do</strong> Messias, está dito que ‘o eleito de Deus será por Ele<br />

feito’ - quer dizer, será seu filho. O arqueólogo Dupont-Sommer estabeleceu um paralelo<br />

entre este texto e a história <strong><strong>do</strong>s</strong> Magos, os quais, segun<strong>do</strong> o Evangelho, foram guia<strong><strong>do</strong>s</strong> por<br />

uma estrela até Belém. Além <strong>do</strong> mais, a noção de um Messias ‘filho de Deus’ era aceita<br />

pelos essênios, antes que os saduceus e fariseus a renegassem como atentatória à majestade<br />

de um Deus único.


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Os essênios, tal como <strong>Jesus</strong> e os apóstolos, eram curandeiros e exorcistas. Num pequeno<br />

texto intitula<strong>do</strong> Prece de Nabonide, um rei da Babilônia, que havia si<strong>do</strong> cura<strong>do</strong> por um<br />

exorcismo, declara: ‘Ele me remiu de meus peca<strong><strong>do</strong>s</strong>’. Os essênios acreditavam que um<br />

homem tinha o poder de per<strong>do</strong>ar os peca<strong><strong>do</strong>s</strong>. Isto chocava profundamente os fariseus que<br />

reprovavam <strong>Jesus</strong> quan<strong>do</strong> dizia àqueles que curava: ‘Vai, teus peca<strong><strong>do</strong>s</strong> te são<br />

per<strong>do</strong>a<strong><strong>do</strong>s</strong>’.<br />

Os essênios acreditavam que detinham um conhecimento <strong><strong>do</strong>s</strong> mistérios de Deus,<br />

conhecimento esse que escapava <strong>aos</strong> fariseus. Em um hino de Qumram os ‘hipócritas’ são<br />

repreendi<strong><strong>do</strong>s</strong> por ter ‘impedi<strong>do</strong> os sedentes <strong>do</strong> Conhecimento, pois, quan<strong>do</strong> tinham sede,<br />

recebiam vinagre para beber’. E <strong>Jesus</strong> apostrofou os <strong>do</strong>utores da Lei ‘porque guardam a<br />

porta da Sabe<strong>do</strong>ria mas não entram nela nem deixam que os outros entrem’.<br />

Como se explica, então, que os essênios não sejam jamais menciona<strong><strong>do</strong>s</strong> nos Evangelhos?<br />

É verdade que não são denomina<strong><strong>do</strong>s</strong> por este nome, mas como ‘os ho-mens <strong>do</strong> Conselho<br />

de Deus’, ou, ainda, como `a comunidade da Nova Aliança’, fórmula que será repetida<br />

pelos cristãos”.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, como pensa o Padre Daniélou, ‘se os essênios não são jamais cita<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

nos Evangelhos, a razão parece ser que, para Cristo, eles correspondem <strong>aos</strong><br />

verdadeiros israelitas, <strong>aos</strong> pobres de Israel’. E mais: no momento em que foram escritos<br />

os Evangelhos, a guerra havia dispersa<strong>do</strong> as comunidades essênias. Algumas foram<br />

assimiladas no judaísmo oficial, outras se reagruparam em torno da igreja nascente. Parece<br />

que, neste caso, na Síria, por exemplo, haviam comunidades essênias que foram<br />

integralmente transformadas em comunidades cristãs”.<br />

Outra questão: <strong>Jesus</strong> se considerava um essênio? Suponhamos que não. Ele conhecia a<br />

<strong>do</strong>utrina essênia: primeiro, pelos membros desta seita que pregavam na sinagoga; segun<strong>do</strong>,<br />

pelo seu primo João Batista que, segun<strong>do</strong> a maioria <strong><strong>do</strong>s</strong> exegetas, teve contatos diretos<br />

com o Qumran antes de se transformar em um profeta solitário; terceiro, por muitos de<br />

seus discípulos - e não poucos - que mantinham relações com os discípulos de João Batista:<br />

Simão Pedro, André, Tiago e João. Mas <strong>Jesus</strong> acabou por organizar, ele mesmo, a sua<br />

comunidade e inspirou-se diretamente em certas regras essênias: abolição da propriedade<br />

privada, um tesoureiro (Judas Iscariotes) administran<strong>do</strong> os bens comuns. A Igreja era dirigida<br />

por 12 apóstolos, da mesma forma que a comunidade de Qumran era dirigida por um<br />

conselho de 12 membros. Entre os apóstolos, havia três que tinham mais importância que<br />

os outros: também eram em número de três os sacer<strong>do</strong>tes que presidiam o conselho essênio.<br />

É muito difícil admitir não tenha ti<strong>do</strong> contato pessoal com meios essênios. Segun<strong>do</strong> alguns<br />

(como Danielou), ele se retirou para Qumran depois de ter si<strong>do</strong> prepara<strong>do</strong> por João Batista<br />

e foi lá no deserto que ele conheceu as tentações <strong>do</strong> demônio. Ir ao deserto podia significar<br />

‘ir para Qumran’. A hipótese inversa parece mais provável. <strong>Jesus</strong> teria procura<strong>do</strong> uma<br />

comunidade essênia (mas não necessariamente a de Qumran) depois de ter si<strong>do</strong> instrui<strong>do</strong><br />

por João Batista, o qual se preparava, por sua vez, para propagar a sua própria <strong>do</strong>utrina.<br />

Após estas considerações, parcialmente transcritas <strong>do</strong> supracita<strong>do</strong> artigo, passemos<br />

ainda a outros autores. Para uns <strong>Jesus</strong> foi um essênio completo, para outros esteve entre eles e<br />

aprendeu os seus ensinamentos, de alguns <strong><strong>do</strong>s</strong> quais discor<strong>do</strong>u em parte.<br />

(Extrato da reportagem sob o título de<br />

“Salto de mil anos lança luz na história <strong>do</strong> texto bíblico”,<br />

publicada na edição de 10 de julho de 1962,<br />

de O Jornal, <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> de Janeiro)<br />

70


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Antes <strong>do</strong> interessante extrato da supracitada reportagem, quero fazer a transcrição de<br />

<strong>do</strong>is pequenos trechos de “Os manuscritos <strong>do</strong> Mar Morto”, de John Marco Allegro (Publicações<br />

Europa-América, de Lisboa), para que se compreenda a importância deles e a íntima relação <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

primeiros cristãos com os essênios. Ei-los:<br />

“De resto, à medida que se pode dispor de mais matéria e se fizerem os primeiros exames<br />

rigorosos, cada vez se torna mais evidente que os pergaminhos tinham uma importância enorme,<br />

ultrapassan<strong>do</strong> os mais delirantes sonhos de qualquer investiga<strong>do</strong>r. O estu<strong>do</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> pergaminhos de<br />

1947 já permitira estabelecer um certo número de paralelos com o Novo Testamento. Os que agora<br />

tinham apareci<strong>do</strong>, bem como o material das grutas descobertas posteriormente, estavam a produzir<br />

modificações, nos textos <strong><strong>do</strong>s</strong> livros, sobre o perío<strong>do</strong> das origens <strong>do</strong> judaísmo e <strong>do</strong> Cristianismo.<br />

Inclusivamente, os menores eram valiosos, pois havia a oportunidade de os unir a outros num<br />

texto vital que talvez lançasse nova luz ou sobre as expectativas messiânicas <strong><strong>do</strong>s</strong> tempos ou sobre<br />

as concepções teológicas correntes entre esta seita, a respeito <strong>do</strong> que até ali praticamente nada se<br />

conhecia” (pág. 47).<br />

“O próprio Harding pôde declarar publicamente que se tratava da maior descoberta<br />

arqueológica feita na Palestina e, ten<strong>do</strong> em conta o fundamental interesse deste perío<strong>do</strong> da história<br />

<strong>do</strong> Homem, parecia haver motivo para assegurar que era o mais importante que jamais se verificara.<br />

Numa palavra: o mun<strong>do</strong> científico fora acometi<strong>do</strong> pela febre <strong>do</strong> interesse e <strong>do</strong> entusiasmo e na<br />

imprensa erudita de to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> sucediam-se os artigos (pág. 48).<br />

Este Harding é o Sr. Gerald Lankester Harding, então encarrega<strong>do</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> interesses<br />

arqueológicos da Palestina árabe e da Transjordânia e ainda companheiro <strong>do</strong> Padre Roland de<br />

Vaux, O. P., nas buscas de novos manuscritos, que foram acha<strong><strong>do</strong>s</strong> por diversos, em mais de um<br />

ano e em várias grutas.<br />

No final <strong>do</strong> livro de Millar Burrows, professor de Teologia Bíblica da Universidade de<br />

Yale, EUA, intitula<strong>do</strong> “Os <strong>do</strong>cumentos <strong>do</strong> Mar Morto” (Porto Editora Limitada), encontra-se uma<br />

vasta relação de obras e artigos publica<strong><strong>do</strong>s</strong> a respeito.<br />

Porém ainda maior é a importância <strong><strong>do</strong>s</strong> manuscritos que pertencem à Bíblia. Estes<br />

contêm as crenças e ritos da comunidade religiosa <strong>do</strong>na <strong><strong>do</strong>s</strong> rolos: uma comunidade de grande<br />

interesse, que habitava a região <strong>do</strong> Mar Morto nas vésperas da pregação cristã. Tratava-se de uma<br />

verdadeira ordem monástica na qual se ingressava depois de um ano de apostola<strong>do</strong> e <strong>do</strong>is de<br />

novicia<strong>do</strong>. Os fiéis se distinguiam em leigos e sacer<strong>do</strong>tes. Estes últimos exerciam os pontos diretivos,<br />

mas as decisões mais importantes provinham <strong>do</strong> conselho de to<strong><strong>do</strong>s</strong> os membros da comunidade.<br />

Entran<strong>do</strong> no monastério o noviço renunciava à propriedade privada, mas o monastério<br />

possuía certos bens. Foram encontra<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong>is rolos que continham uma detalhada lista de objetos<br />

preciosos juntamente com a data da entrada. Mal foram decifra<strong><strong>do</strong>s</strong> desencadeou-se na Palestina<br />

uma verdadeira caça ao tesouro, sem resulta<strong>do</strong> no entanto. Os monges <strong>do</strong> Mar Morto estabeleceram<br />

como origem da regra um homem venerável que havia sofri<strong>do</strong> perseguição devi<strong>do</strong> às idéias próprias.<br />

Infelizmente os manuscritos não revelam seu nome, mas o chamam de Mestre da Justiça. Afirmam<br />

que <strong>do</strong>is espíritos lutam continuamente pelo <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> Universo, o espírito <strong>do</strong> Bem e o espírito<br />

<strong>do</strong> Mal. No fim o Bem prevalecerá após uma grande batalha que é narrada num manuscrito<br />

denomina<strong>do</strong> “Guerra <strong><strong>do</strong>s</strong> filhos da luz contra os filhos da treva”.<br />

Nossos eremitas certamente não pertenciam <strong>aos</strong> grupos oficiais e bem descritos nos<br />

Evangelhos como Fariseus e Saduceus, pois esses eram citadinos. Restam os Essênios que residiam<br />

junto ao Mar Morto, possuíam bens comuns, dividiam-se em sacer<strong>do</strong>tes e leigos e praticavam<br />

banhos rituais descritos nos rolos. Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> hebraísmo urbano, emerge um ascético monastério<br />

insatisfeito com a religião oficial.<br />

71


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Passo agora <strong>aos</strong> informes <strong>do</strong> Padre de Vaux, que explicará, com sua grande autoridade<br />

no assunto, o que eram esses manuscritos bem como a sua grande, enorme importância para a<br />

nossa história cristã. Vem a reportagem de Roma, Itália, capital <strong>do</strong> Catolicismo e residência <strong>do</strong><br />

Papa. Eis o trecho principal:<br />

Entretanto, discute-se o conteú<strong>do</strong> e a importância <strong><strong>do</strong>s</strong> manuscritos. O Padre de Vaux fornece<br />

notícias novas e importantíssimas: foram decifra<strong><strong>do</strong>s</strong> os últimos rolos descobertos na décima<br />

primeira gruta. Em um desses foi achada uma parte <strong>do</strong> livro bíblico <strong><strong>do</strong>s</strong> Salmos; ora, os<br />

Salmos <strong>do</strong> Mar Morto estão em ordem diferentes <strong><strong>do</strong>s</strong> conti<strong><strong>do</strong>s</strong> na Bíblia e incluem alguns<br />

desconheci<strong><strong>do</strong>s</strong> até hoje.<br />

Mas o fato mais importante talvez é que, com o deciframento destes últimos manuscritos,<br />

estamos pela primeira vez em situação de dizer uma palavra conclusiva, de tentar um<br />

balanço de conjunto da descoberta.<br />

São seiscentos os manuscritos descobertos, com milhares de fragmentos, e apresentam-se<br />

em rolos de pele com cinqüenta centímetros de altura e muitos metros de largura. Seus<br />

<strong>do</strong>nos os tinham envolvi<strong>do</strong> em panos de linho e guarda<strong>do</strong> em ânforas de terracota: o clima<br />

extremamente seco da região efetuou o milagre de preservá-los durante <strong>do</strong>is mil anos.<br />

Certamente inúmeros cuida<strong><strong>do</strong>s</strong> se impõem ao tirá-los de dentro das ânforas, isto porque a<br />

pele está tão ressequida que facilmente se pulverizará. Assim os arqueológicos colocam os<br />

manuscritos num ambiente úmi<strong>do</strong>, uma espécie de banho turco e somente depois de alguns<br />

dias se arriscam a abri-los.<br />

Os manuscritos foram escritos em hebraico e aramaico, a língua da Palestina antiga, e<br />

pertencem à época compreendida entre o segun<strong>do</strong> século antes de Cristo e o primeiro<br />

depois.<br />

Segun<strong>do</strong> o Padre de Vaux, aproximadamente um quarto <strong><strong>do</strong>s</strong> rolos <strong>do</strong> Mar Morto contém<br />

livros da Bíblia e textos já conheci<strong><strong>do</strong>s</strong>, mas os conhecíamos através de manuscritos feitos<br />

mil anos depois. Eis, portanto, o grande significa<strong>do</strong> da descoberta: na história <strong>do</strong> texto<br />

sacro damos de repente com um salto de mil anos. O resulta<strong>do</strong> de tal salto é, sem dúvida,<br />

uma série de peculiaridades e variações ignoradas que lançam luz na estrutura e história<br />

da Bíblia. Mas estas variações concernem somente <strong>aos</strong> detalhes, não afetada em nada a<br />

linha geral <strong>do</strong> texto.<br />

Antes de tu<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> o Padre de Vaux, devemos estabelecer uma relação de pessoas<br />

entre o movimento essênio e o Cristianismo nascente. Quan<strong>do</strong> João Batista pregava ao<br />

longo da margem <strong>do</strong> rio Jordão, não era possível que os monges distantes apenas duas<br />

horas de caminho o ignorassem ou fossem ignora<strong><strong>do</strong>s</strong>. E o próprio <strong>Jesus</strong>, batiza<strong>do</strong> por João<br />

quan<strong>do</strong> o mosteiro estava em pleno desenvolvimento, dificilmente desconheceria a existência<br />

de seus habitantes. Porém os traços da figura de <strong>Jesus</strong> emergem inteiramente autônomos,<br />

seja em relação ao hebraísmo oficial ou ao <strong>do</strong> Mar Morto. <strong>Jesus</strong> rompe com a Lei, proclamase<br />

Messias, anuncia a vinda de um Reino funda<strong>do</strong> sobre o sofrimento expiatório e a negação<br />

da morte. Os monges <strong>do</strong> Mar Morto o teriam condena<strong>do</strong> e expulsa<strong>do</strong> se ele fosse um deles.<br />

É na organização da comunidade e em alguns ritos que se nota afinidade entre os Essênios<br />

e os Cristãos. O Padre de Vaux afirma que antes ou depois da destruição <strong>do</strong> mosteiro,<br />

alguns Essênios haviam aderi<strong>do</strong> à religião de <strong>Jesus</strong>, levan<strong>do</strong> consigo lembranças da própria<br />

<strong>do</strong>utrina. Porém tiveram um destino bem diverso. Os monges <strong>do</strong> Mar Morto, encerra<strong><strong>do</strong>s</strong> em<br />

seus limites nacionais, sucumbiram frente às legiões de Roma. Os Cristãos, superan<strong>do</strong> as<br />

barreiras das nações, afirmaram-se no mun<strong>do</strong>. Ceci n’a pas pu sortir de cela: com<br />

estas palavras Roland de Vaux despediu-se sorridente de seus ouvintes.<br />

72


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Ignoro qual seja o verdadeiro senti<strong>do</strong> que o Padre de Vaux pretendeu conferir a esta<br />

frase “Isto não pode sair daquilo”. Se quis dizer que o rico e pomposo Catolicismo não podia sair<br />

da pobre e humilde comunidade <strong><strong>do</strong>s</strong> Essênios, ele tem razão, porque desses Essênios saíram<br />

apenas os mais pobres e mais humildes primeiros cristãos, os cristãos das catacumbas.<br />

Embora pretenda citar outro autor a respeito das afinidades e diferenças entre os ensinos<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> Essênios e os de <strong>Jesus</strong>, não posso deixar de recomendar a leitura <strong><strong>do</strong>s</strong> capítulos IX, X, XI, XII<br />

e XIII, da supracitada obra de John Marco Allegro, capítulos que têm os seguintes títulos: “As<br />

<strong>do</strong>utrinas da seita”; “O uso <strong><strong>do</strong>s</strong> textos da Escritura nos pergaminhos <strong>do</strong> Mar Morto e no Novo<br />

Testamento”; “A comunidade de Qumram e a Igreja (afinidades <strong>do</strong>utrinais e afinidades formais)”;<br />

“As concepções messiânicas e a Igreja primitiva de Qumram” e “A seita de Qumram e <strong>Jesus</strong>”.<br />

Do capítulo XII, destaco o seguinte e elucidativo trecho: “A seita de Qumram aguardava<br />

a vinda de um Messias sacer<strong>do</strong>tal, ao qual chamavam o ‘Mestre da justiça’ ou ‘Intérprete<br />

da Lei’. O fato de serem estes os termos que se aplicam ao funda<strong>do</strong>r da seita confirma a<br />

idéia de que não era outro senão o seu ressuscita<strong>do</strong> Mestre quem conduziria a teocrática<br />

unidade <strong>do</strong> Novo Israel nos últimos dias”.<br />

Quanto às citadas diferenças entre as duas <strong>do</strong>utrinas, não nos esqueçamos de que, na<br />

vida de <strong>Jesus</strong>, houve muitas alterações e interpolações para fazer dele, ao mesmo tempo, Deus,<br />

Filho de Deus e 2ª pessoa da Santíssima Trindade, e assim criar uma <strong>do</strong>utrina própria. E que essa<br />

esperada vinda de um Messias nacional foi sempre um anseio <strong>do</strong> antigo povo judeu, que não<br />

aceitou a pessoa de <strong>Jesus</strong>, pois esperava um Messias guerreiro e não um Messias manso e<br />

moraliza<strong>do</strong>r <strong><strong>do</strong>s</strong> maus costumes da época.<br />

(Trechos da obra The lost years of <strong>Jesus</strong> revealed,<br />

73<br />

<strong>do</strong> Rev. Dr. Charles Francis Potter,<br />

edição da Gold Medal Books<br />

Fawcett Publications, Inc., Greenwich, Conn., EUA)<br />

Em primeiro lugar, desejo informar que o Rev. Dr. Charles Francis Potter, autor dessa<br />

obra, cujo nome, em português, é, literalmente “Os anos perdi<strong><strong>do</strong>s</strong> de <strong>Jesus</strong> revela<strong><strong>do</strong>s</strong>”, é também<br />

autor da “História das Religiões”, já traduzida no vernáculo, e ostenta os títulos de M. A. (Master of<br />

Arts), B. D. (Bachelor of Divinity), S. T. M. (Sacred Theologiae Minister) e Litt. D. (Litterarum Doctor).<br />

É, como diz a capa de seu livro: World-renowned religious leader and scholar, isto é, um mundialmente<br />

famoso líder religioso e acadêmico.<br />

Essa obra, impressa em maio de 1958, no feitio de “bolso”, terá um prólogo e quatorze<br />

capítulos, <strong><strong>do</strong>s</strong> quais destaco os seguintes: 1) Quem e o que eram os Essênios? - 3) Luz sobre a<br />

educação de <strong>Jesus</strong>. - 4) Livros sagra<strong><strong>do</strong>s</strong> omiti<strong><strong>do</strong>s</strong> na Bíblia. - 8) Importância de Enoc e outros<br />

pseu<strong>do</strong>-epigráficos. - 11) Origem da <strong>do</strong>utrina <strong>do</strong> Espírito Santo. - 12) Profecias <strong><strong>do</strong>s</strong> “últimos Dias”.<br />

- <strong>13</strong>) O Reino <strong>do</strong> Céu e a sepultura vazia. Tem ainda um pequeno epílogo.<br />

Na impossibilidade de reproduzir, por muito extensas, partes de vários capítulos <strong>do</strong><br />

livro, to<strong><strong>do</strong>s</strong> bem interessantes, vou apenas traduzir um trecho de seu prólogo. Ei-lo:


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Mais de <strong>do</strong>ze anos já decorreram desde que as grutas escondidas da grande biblioteca<br />

essênia, com os chama<strong><strong>do</strong>s</strong>, ‘Rolos <strong>do</strong> Mar Morto’, foram acidentalmente descobertas por<br />

beduínos nômades <strong>do</strong> deserto de Qumram, a quatorze milhas de Jerusalém. Depois disto,<br />

muitos <strong><strong>do</strong>s</strong> couros enrola<strong><strong>do</strong>s</strong> e cilindros de cobre, bem como milhares de fragmentos de<br />

centenas de manuscritos, foram decifra<strong><strong>do</strong>s</strong> e traduzi<strong><strong>do</strong>s</strong> por sábios e teólogos para saber<br />

se a provável Mãe <strong>do</strong> Cristianismo foi a seita separada judia às vezes chamada de essênia.<br />

Sabemos, pela leitura <strong><strong>do</strong>s</strong> relatórios publica<strong><strong>do</strong>s</strong>, em jornais científicos, no francês, alemão<br />

e hebreu, que esses essênios pré-cristãos devem ter prioridade em tu<strong>do</strong> o que se tem<br />

considera<strong>do</strong> original no Cristianismo. Suas escrituras, não incluídas em nossa Bíblia, podem<br />

ser lidas (e têm si<strong>do</strong>) nos serviços matinais de a<strong>do</strong>ração sem que a congregação suspeitasse<br />

da substituição.<br />

Um século ou mais antes que o Novo Testamento cristão fosse escrito, os essênios de<br />

Qumram já conheciam as idéias, os ensinos, os provérbios, as orações, as beatitudes, as<br />

bênçãos e até as belas sentenças de <strong>Jesus</strong> no ‘Sermão da Montanha’. Até mesmo a pregação<br />

<strong>do</strong> Evangelho, as Boas-Novas, ou, com a já corrente frase teológica, o kerygma <strong>do</strong> Reino<br />

Vin<strong>do</strong>uro, foi evidentemente levada de Qumram por João Batista, bem como o batismo com<br />

que ele batizou <strong>Jesus</strong> para “cumprir toda justiça”, uma frase-chave essênica. E o próprio<br />

nome da Bíblia cristã, o Novo Testamento, vem desses monges de Qumram, que nunca se<br />

chamavam de essênios, mas de “Filhos de Sa<strong>do</strong>c” (o grão-sacer<strong>do</strong>te <strong>do</strong> rei David), ou,<br />

significativamente, a “Comunidade da Nova Aliança”. E “Nova Aliança” foi o melhor termo<br />

emprega<strong>do</strong> para traduzir o termo aramaico que os cristãos mais tarde traduziriam como<br />

“Novo Testamento”.<br />

Na última refeição de <strong>Jesus</strong> com os discípulos, que parecia mais um ritual de pão e vinho<br />

da comunhão <strong><strong>do</strong>s</strong> essênios antecipan<strong>do</strong> a refeição <strong>do</strong> Reino Vin<strong>do</strong>uro, que foi a Páscoa, é<br />

preciso lembrar que <strong>Jesus</strong> levantou a “taça da Nova Aliança” numa verdadeira forma<br />

essênica e que prometeu <strong>aos</strong> seus discípulos que eles comeriam e beberiam consigo no<br />

reino que viria.<br />

Centenas de outras provas da origem essênica das idéias, crenças e ensinos de <strong>Jesus</strong>,<br />

João Batista, João o discípulo, Paulo e outros autores <strong>do</strong> Novo Testamento têm si<strong>do</strong> notadas<br />

pelos sábios que trabalham com os rolos.<br />

E agora que já sabemos que a provável Mãe <strong>do</strong> Cristianismo foi a antiga Comunidade da<br />

Nova Aliança, comumente chamada de Essênios, a momentosa questão desafian<strong>do</strong> a<br />

consciência de toda a Cristandade é se o filho terá a graça, a coragem e a honestidade de<br />

conhecer e de honrar a sua mãe.<br />

Já comprovadas as origens essênicas <strong>do</strong> Cristianismo com outra obra de outro também<br />

categorizada membro da igreja protestante: o Rev. D. Howlett, deixo de recorrer de novo à obra de<br />

John Marco Allegro “Os manuscritos <strong>do</strong> Mar Morto” e à de Millar Burrows “Os <strong>do</strong>cumentos <strong>do</strong> Mar<br />

Morto” que tenho em minha biblioteca.<br />

Com a leitura destes quatro livros sobre o assunto, tive a confirmação de minha suspeita<br />

sobre o motivo por que certos meios religiosos mantiveram oculta a vida de <strong>Jesus</strong> que vai <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong><br />

<strong>aos</strong> <strong>30</strong> anos. É que os essênios eram budistas e era preciso criar uma religião própria, que não<br />

tivesse base em nenhuma outra, mas, quem faz um estu<strong>do</strong> rigoroso <strong>do</strong> Novo Testamento, verifica<br />

que <strong>Jesus</strong> proferiu palavras e sentenças já ditas por outros reforma<strong>do</strong>res da Índia.<br />

74


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Não quero terminar esta parte sem antes transcrever o que diz a segunda capa <strong>do</strong> livro<br />

<strong>do</strong> Rev. Potter: “Por séculos e séculos os estudantes cristãos da Bíblia se perguntavam onde<br />

<strong>Jesus</strong> estava e o que ele fez durante os chama<strong><strong>do</strong>s</strong> ‘dezoito anos de silêncio’. Os maravilhosos<br />

e dramáticos manuscritos da grande biblioteca essênica, acha<strong><strong>do</strong>s</strong> em grutas após grutas<br />

perto <strong>do</strong> Mar Morto, finalmente nos deram a resposta. Que durante aqueles ‘anos perdi<strong><strong>do</strong>s</strong>’<br />

<strong>Jesus</strong> estudava nessa escola essênica está se tornan<strong>do</strong> cada vez mais aparente. Os letra<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

estão gradualmente admitin<strong>do</strong> os surpreendentes paralelos existentes entre as suas<br />

<strong>do</strong>utrinas e vocabulário e as <strong><strong>do</strong>s</strong> essênios e seu ‘Mestre da justiça’, que foi provavelmente<br />

crucifica<strong>do</strong> cerca de um século antes <strong>do</strong> nascimento de <strong>Jesus</strong>. Foi a seu título e sua<br />

autoridade que <strong>Jesus</strong> provavelmente sucedeu”.<br />

E já não perguntaram se <strong>Jesus</strong> não foi outro “Mestre da Justiça”, igualmente crucifica<strong>do</strong>?<br />

Quem o sabe ao certo? Aguardemos! Com muita calma, mesmo, pois parece que o caso foi encerra<strong>do</strong><br />

... para não abalar os fundamentos de nossa religião cristã!<br />

Ainda aprofundan<strong>do</strong> o mistério.<br />

Tive ocasião de citar, anteriormente, o antroposofista Ru<strong>do</strong>lf Steiner, grande estudioso<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> assuntos religiosos, que disse que, detrás <strong>do</strong> mistério de <strong>Jesus</strong> ... há o infinito. Em certo ponto<br />

há mesmo, porém já existe uma literatura nova que nos permite vislumbrar mais algo além <strong>do</strong> que<br />

consta <strong><strong>do</strong>s</strong> evangelhos chama<strong><strong>do</strong>s</strong> sinópticos (S. Marcos, S. Mateus, S. Lucas e S. João), onde,<br />

apesar de serem chama<strong><strong>do</strong>s</strong> de “concordantes”, muitas divergências mostram, como se pode ver <strong>do</strong><br />

livro de Aldeonoff Póvoas sob o título de “Contradições Bíblicas”.<br />

Acho, pois, temerária uma exegese literal, palavra por palavra, <strong><strong>do</strong>s</strong> quatro evangelhos,<br />

em face de novos <strong>do</strong>cumentos religiosos e de progressos científico, ainda mais se entrar no meio<br />

“o véu da letra e a capa <strong>do</strong> mistério” ... Há, por exemplo, uma passagem bíblica que diz:<br />

“É mais fácil um camelo passar pelo fun<strong>do</strong> de uma agulha <strong>do</strong> que um rico entrar no reino<br />

<strong>do</strong> céu”. Ora, já li alhures que o tal “fun<strong>do</strong> de uma agulha” era uma porta da Palestina, com esse<br />

feitio, tão baixa e pequena que era difícil um camelo passar por ela. Quanto ao resto da passagem,<br />

estou de acor<strong>do</strong>.<br />

E, para quem quiser conhecer algo a respeito de Steiner, cito o livro de Ru<strong>do</strong>lf Meyer<br />

intitula<strong>do</strong> “Quem era Ru<strong>do</strong>lf Steiner?”, edita<strong>do</strong> pela Associação Pedagógica Ru<strong>do</strong>lf Steiner, de São<br />

Paulo.<br />

Vamos, pois, aprofundar o mistério de <strong>Jesus</strong>, fora da órbita <strong><strong>do</strong>s</strong> evangelhos cristãos,<br />

que, na verdade, muito nos têm servi<strong>do</strong> pelo que muito de bom contêm, apesar <strong>do</strong> que se cometeu<br />

no passa<strong>do</strong>. Não os considero, racionalmente, a “Palavra de Deus”, mas, com a exclusão de muitas<br />

coisas, o maior livro religioso da Terra, pelo menos no meio chama<strong>do</strong> ocidental.<br />

Do livro de H. Dennis Bradley The Wis<strong>do</strong>m of the Gods (A Sabe<strong>do</strong>ria <strong><strong>do</strong>s</strong> Deuses), o<br />

mesmo autor de Towards the Stars (Rumo às Estrelas), este já traduzi<strong>do</strong> para o português, extraio,<br />

da pág. 262, <strong>do</strong> cap. XIX, sessão de 8 de março de 1935, uma pergunta e uma resposta, com os<br />

comentários <strong>do</strong> supracita<strong>do</strong> autor.<br />

Perguntou o sr. Terry, conheci<strong>do</strong> autor teatral inglês: “Cristo é o Filho de Deus?” e o dr.<br />

Barnett, um <strong><strong>do</strong>s</strong> guias de George Valiantine, afama<strong>do</strong> médium norteamericano de “voz direta”,<br />

respondeu o seguinte:<br />

75


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

“<strong>Jesus</strong> foi filho <strong>do</strong> homem; de pai e mãe terrenos”, e assim comenta o autor: “Eu já<br />

fizera esta pergunta antes e recebera a mesma resposta cada vez que a formulara. Este<br />

luminoso espírito, que já confundira os maiores cientistas vivos, nenhuma hesitação tinha<br />

ao dar a sua opinião a respeito. Ele disse que o Cristo era um Espírito muito eleva<strong>do</strong> e que<br />

Ele vivia no Sétimo Plano da Sétima Esfera. O Cristo foi um <strong><strong>do</strong>s</strong> maiores espíritos que já<br />

viveram na Terra em corpo humano e a sua influência seria cada vez maior ao nosso<br />

planeta no futuro próximo <strong>do</strong> que antes, porque a espiritualidade e a grande filosofia <strong>do</strong><br />

Cristo poderiam salvar nossa civilização de uma destruição material. O ‘dr. Barnett’ fala<br />

sempre, com a maior veneração <strong>do</strong> Espírito <strong>do</strong> Cristo ao qual olha como próximo da divina<br />

e incompreensível inteligência <strong>do</strong> grande Deus <strong>do</strong> universo”.<br />

Vou citar agora outro espírito de grande antiguidade, referin<strong>do</strong> ao livro “A Filosofia<br />

Hermética”, a primeira obra mediúnica impressa pela “Fundação Educacional e Editorial<br />

Universalista”, de Porto Alegre, muito conhecida pela sigla FEEU. O conteú<strong>do</strong> deste livro corresponde<br />

a uma série de palestras feitas, em Londres, capital da Inglaterra, no ano de 1936, a uma classe de<br />

aspirantes espiritualistas, por uma entidade conhecida como I-EM-HOTEP, por intermédio da<br />

sra. K. Barkel. Na literatura hermética há muitas referências ao grande sábio egípcio I-EM-HOTEP,<br />

cujo nome significa “Aquele que vem em paz”. Conforme consta de diversas enciclopédias, ele<br />

viveu no Egito há uns 3.000 anos antes de Cristo, ocupan<strong>do</strong>, durante o reino de Zoser, o mais alto<br />

cargo <strong>do</strong> país, cargo que, posteriormente, recebeu o nome de Vizir. Arquiteto <strong>do</strong> rei, astrônomo e<br />

astrólogo, autor de sábios escritos e provérbios, poeta de renome I-EM-HOTEP também era Sumo<br />

Sacer<strong>do</strong>te <strong>do</strong> Egito e Hierofante <strong>do</strong> sistema de ensino religioso e esotérico de seu tempo. Foi ele<br />

quem desenhou o plano da primeira pirâmide egípcia - a pirâmide escalada de Sak-Ka-Ra. Foi ele<br />

quem, o primeiro na história <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, introduziu o uso da pedra talhada na construção, o que<br />

deu inicio à construção sólida. Foi, no entanto, como médico e funda<strong>do</strong>r de templos de cura que I-<br />

EM-HOTEP deixou os traços mais profun<strong><strong>do</strong>s</strong> na areia <strong>do</strong> tempo. Suas curas tornaram-se proverbiais,<br />

ganhan<strong>do</strong>-lhe a gratidão e a profunda reverência <strong>do</strong> povo. Esta, continuan<strong>do</strong> após a sua morte, fez<br />

com que o Egito elevasse I-EM-HOTEP ao nível semi-divino, à sua semi-deificação, à divinização.<br />

Pois foi, “da noite <strong><strong>do</strong>s</strong> tempos”, que esse grande espírito voltou à Terra, falan<strong>do</strong> <strong>aos</strong><br />

homens por intermédio de uma médium inglesa e começan<strong>do</strong> por dizer: “Hoje, minha intenção é,<br />

apenas, esboçar certo ensinamento que encerra a Verdade sob uma forma simbólica, que<br />

permite transmiti-la, adaptan<strong>do</strong>-a ao alcance e ao tipo de cada mente humana. Este<br />

ensinamento, sob diversas formas, atravessou muitos milhares de anos, chegan<strong>do</strong> até<br />

vossa época e receben<strong>do</strong>, nos últimos tempos, o nome de Filosofia Hermética”.<br />

Passo por cima de muitas coisas interessantes para ater-me apenas às referências feitas<br />

a <strong>Jesus</strong>-Cristo.<br />

Na página 21 <strong>do</strong> supracita<strong>do</strong> livro, diz ele: “Os que amam o Mestre <strong>Jesus</strong> estarão<br />

certamente interessa<strong><strong>do</strong>s</strong> em saber que Ele foi o maior mago e o maior ritualista que o vosso<br />

mun<strong>do</strong> conheceu. Ele trouxe consigo esse amor pelo Ritual das várias escolas por onde<br />

passou” e, responden<strong>do</strong> a certa pergunta formulada, assim respondeu: ‘Não gostaria de<br />

destruir vossas crenças se elas até agora vos confortaram. De acor<strong>do</strong>, porém, com a<br />

mensagem da Nova Era, devo dar-vos a Verdade. <strong>Jesus</strong>, quan<strong>do</strong> iniciou Sua missão, havia<br />

atingi<strong>do</strong> à suprema maestria de todas as escolas ocultas conhecidas naquele tempo. Assim<br />

como os outros Adeptos, Ele possuía o seu grupo interno e externo de discípulos. No grupo<br />

interno, ensinava por símbolos, a fim de que esse ensinamento pudesse ser ministra<strong>do</strong> em<br />

to<strong><strong>do</strong>s</strong> os países, apesar da diferença de línguas e mentalidades. Ele ensinava seus discípulos<br />

a empregar esses símbolos segun<strong>do</strong> o desenvolvimento interno <strong>do</strong> homem. Para os que<br />

podiam compreender apenas o senti<strong>do</strong> literal, e nele achar conforto, só este devia ser<br />

da<strong>do</strong>. Em função, contu<strong>do</strong>, da evolução humana, o verdadeiro senti<strong>do</strong> devia ser revela<strong>do</strong>’”.<br />

76


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

A pergunta: “Vós referistes a <strong>Jesus</strong> como sen<strong>do</strong> um grande ritualista. Podereis citar um<br />

Rito feito por Ele?” foi assim respondida: “A maioria <strong><strong>do</strong>s</strong> Ritos feitos por <strong>Jesus</strong>, visto ter Ele<br />

estuda<strong>do</strong> nas escolas filosóficas egípcias e hindus, foi baseada na astrologia. No seu símbolo<br />

- o peixe - mostrava <strong>Jesus</strong> ser Adepto da Era <strong><strong>do</strong>s</strong> Peixes. Sua túnica sem costura, feita de<br />

um só pedaço de pano, mostrava ser Ele Filho <strong>do</strong> Sol. Seus braços, estendi<strong><strong>do</strong>s</strong> em forma de<br />

cruz, indicavam ter Ele conhecimento da ciência egípcia <strong>do</strong> Tarot”. Como esta resposta é<br />

relativamente grande, passo a outra pergunta formulada, que está na pág. 56 <strong>do</strong> supracita<strong>do</strong> livro<br />

mediúnico. É ela: “Falastes da imagem da perfeição <strong>do</strong> coração. Estão gravadas ali todas<br />

as nossas experiências? “. A resposta é longa e a transcrevo na integra.<br />

Ei-la: “Naturalmente. Pode ser que em uma vida o átomo permanente acumule as<br />

qualidades materialistas, em uma outra - as da grande união, da fortaleza ou outras<br />

ainda. Em cada encarnação, ele atrai, <strong><strong>do</strong>s</strong> átomos que o rodeiam naquela vida determinada,<br />

aquilo que lhe será necessário para a última expressão de sua perfeição. Tomemos o exemplo<br />

de um Grande Porta<strong>do</strong>r da Força Crística - o Mestre <strong>Jesus</strong>. O átomo divino <strong>do</strong> Seu coração,<br />

quan<strong>do</strong> estava no corpo de <strong>Jesus</strong>, tinha atraí<strong>do</strong> átomos perfeitamente puros e inaltera<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

que criaram Seu belo corpo, Sua bela mente, através <strong><strong>do</strong>s</strong> quais Sua perfeição podia se<br />

manifestar. Ele não poderia ter atraí<strong>do</strong> estes átomos se nas vidas anteriores não tivesse<br />

adquiri<strong>do</strong> toda a experiência necessária. Não sei se vos chocarei dizen<strong>do</strong> que o átomo<br />

permanente <strong>do</strong> coração de <strong>Jesus</strong> tinha residi<strong>do</strong> previamente na pessoa de Melchizedek, de<br />

Enoc e de outros grandes e gloriosos Seres. É a herança divina que torna divino o homem.<br />

É a realização da semelhança com sua própria imagem no coração que permite construir<br />

gradativamente um veículo através <strong>do</strong> qual ele poderá, no futuro, ser um Cristo para a<br />

humanidade”.<br />

Coisa estranha, dirão os leitores, falar-se em iniciação para <strong>Jesus</strong>, mas assim não pensa<br />

o nosso formidável Léon Denis, chama<strong>do</strong> o “consolida<strong>do</strong>r da filosofia espírita”. Como estou fazen<strong>do</strong><br />

um estu<strong>do</strong> mais completo e moderno sobre a chamada “vida desconhecida de <strong>Jesus</strong>” e sen<strong>do</strong> o<br />

mais imparcial possível, <strong>do</strong>u a palavra a Léon Denis que, após tratar da decadência da época,<br />

escreve o seguinte, em “Depois da morte”, págs. 59 e 60 da 8ª edição deste belo livro: “Entretanto,<br />

nas margens <strong>do</strong> Mar Morto, alguns homens conservam no recesso a tradição <strong><strong>do</strong>s</strong> profetas<br />

e o segre<strong>do</strong> da pura <strong>do</strong>utrina. Os essênios, grupo de inicia<strong><strong>do</strong>s</strong> cujas colônias se estendem<br />

até ao vale <strong>do</strong> Nilo, abertamente se entregam ao exercício da medicina, porém o seu fim<br />

real é mais eleva<strong>do</strong>: consiste em ensinar, a um pequeno número de adeptos, as leis superiores<br />

<strong>do</strong> Universo e da vida. Admitem a preexistência e as vidas sucessivas da alma; prestam a<br />

Deus o culto <strong>do</strong> espírito. Nos essênios, como entre os sacer<strong>do</strong>tes de Mênfis, a iniciação é<br />

graduada e requer vários anos de preparo. Seus costumes são irrepreensíveis; passam a<br />

vida no estu<strong>do</strong> e na contemplação, longe das agitações políticas, longe <strong><strong>do</strong>s</strong> enre<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong><br />

sacerdócio ávi<strong>do</strong> e invejoso. Foi evidentemente entre eles que <strong>Jesus</strong> passou os anos que<br />

precederam o seu apostola<strong>do</strong>, anos sobre os quais os Evangelhos guardam um silêncio<br />

absoluto. Tu<strong>do</strong> o indica: a identidade <strong><strong>do</strong>s</strong> seus intuitos com os <strong><strong>do</strong>s</strong> essênios, o auxílio que<br />

estes lhe prestaram em várias circunstâncias, a hospitalidade gratuita que, a título de<br />

adepto, ele recebia, e a fusão final da ordem com os primeiros cristãos, fusão de que saiu<br />

o Cristianismo esotérico”.<br />

E adiante, na mesma obra, pág. 67, Denis diz ainda o seguinte: “Negaram certos<br />

autores a existência <strong>do</strong> Cristo e atribuíram a tradições anteriores ou à imaginação oriental<br />

tu<strong>do</strong> o que a respeito foi escrito. Nesse senti<strong>do</strong>, produziu-se um movimento de opinião,<br />

tendente a reduzir às proporções de lendas as origens <strong>do</strong> Cristianismo. É verdade que o<br />

Novo Testamento contém muitos erros. Vários acontecimentos por ele relata<strong><strong>do</strong>s</strong> encontramse<br />

na história de outros povos mais antigos e certos fatos atribuí<strong><strong>do</strong>s</strong> ao Cristo figuram<br />

igualmente na vida de Krishna e na de Hórus. Mas também existem outras, e numerosas<br />

provas da existência de <strong>Jesus</strong> de Nazaré, provas tanto mais peremptórias quanto foram<br />

fornecidas pelos próprios adversários <strong>do</strong> Cristianismo, etc.”.<br />

77


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Havia, nos ensinamentos <strong>do</strong> Cristo, um senti<strong>do</strong> oculto, simbólico, esotérico, e é ele<br />

mesmo que o diz no Evangelho segun<strong>do</strong> S. Mateus, XIII, 10 e 11: “Eu lhes falo por parábolas,<br />

porque a vós outros vos é da<strong>do</strong> conhecer os mistérios <strong>do</strong> reino <strong><strong>do</strong>s</strong> céus, mas a eles não lhes é<br />

concedi<strong>do</strong>” e assim o comenta Léon Denis quan<strong>do</strong> escreve à pág. 38 da 5ª edição de “Cristianismo<br />

e Espiritismo”: “Evidente que haviam duas <strong>do</strong>utrinas no Cristianismo .primitivo: a destinada<br />

ao vulgo, apresentada sob formas acessíveis a to<strong><strong>do</strong>s</strong>, e outra, oculta, reservada <strong>aos</strong><br />

discípulos e inicia<strong><strong>do</strong>s</strong>. É o que, de resto, existia em todas as filosofias e religiões da<br />

Antigüidade”.<br />

E sobre a natureza de <strong>Jesus</strong>, assim se exprime Denis à pág. 68 de “Depois da morte”:<br />

“Quanto às teorias que de <strong>Jesus</strong> fazem uma das três pessoas da Trindade, ou um ser<br />

puramente fluídico, uma e outra parecem igualmente pouco fundadas. Pronuncian<strong>do</strong> estas<br />

palavras: ‘De mim se afaste este cálice’, <strong>Jesus</strong> revelou-se homem, sujeito ao temor e <strong>aos</strong><br />

desfalecimentos. Como nós, sofreu, chorou, e esta fraqueza inteiramente humana,<br />

aproximan<strong>do</strong>-nos dele, o faz ainda mais nosso irmão, tornan<strong>do</strong> seus exemplos e suas virtudes<br />

mais admiráveis ainda”.<br />

Há um outro livro curioso a respeito de <strong>Jesus</strong>-Cristo, mas este já basea<strong>do</strong> em “registros<br />

akásicos”. O original é em inglês e tem o título de The Aquarian Gospel of <strong>Jesus</strong> the Christ, by Levi<br />

(O Evangelho Aquariano de <strong>Jesus</strong> o Cristo, por Levi). Há uma versão em francês sob o título de<br />

L’Evangile du Verseau (O Evangelho <strong>do</strong> Aquário) na Collection Louis Colombelle. Vou dizer realmente<br />

de que se trata. O Evangelho Aquariano é um substancioso trabalho que dá detalhes íntimos da<br />

vida <strong>do</strong> Cristo sobre a qual os evangelhos <strong>do</strong> Novo Testamento são silenciosos, detalhes esses<br />

extraí<strong><strong>do</strong>s</strong> de autênticos “registros akásicos” ou etéricos, por um estudante que se devotou quarenta<br />

anos ao preparo para essa tarefa. Este livro único é praticamente um completo registro das palavras<br />

e obras <strong>do</strong> Homem da Galiléia, incluin<strong>do</strong> os dezoito anos de estu<strong><strong>do</strong>s</strong> e viagens pelo Oriente. Cobre<br />

a sua vida desde o nascimento em Belém até a sua ascensão <strong>do</strong> Monte das Oliveiras. De especial<br />

interesse e valor são os detalhes completos e íntimos relativos à sua vida durante os dezoito anos<br />

despendi<strong><strong>do</strong>s</strong> em viagens entre os mosteiros gela<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> Tibet, as construções formidáveis <strong>do</strong> Egito,<br />

os misteriosos templos da Índia, Pérsia e Grécia, um largo perío<strong>do</strong> de sua vida em que viajou e<br />

conversou com monges, sábios e videntes através <strong>do</strong> Oriente. Por que foi ele chama<strong>do</strong> Evangelho<br />

Aquariano? Porque não foi e nem podia ter si<strong>do</strong> escrito até o começo da Época Aquariana <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>, o tempo referi<strong>do</strong> por <strong>Jesus</strong> quan<strong>do</strong> ele disse <strong>aos</strong> seus discípulos: “Tenho ainda muitas<br />

coisas que vos dizer, mas vós não as podeis suportar agora. Quan<strong>do</strong> vier porém o espírito<br />

de Verdade ele vos ensinará todas as verdades...” (S. João, cap. XVI, vers. 12 e <strong>13</strong>).<br />

Quem transcreveu o Evangelho Aquariano? Quem leu os registros akásicos? Levi. Quem<br />

era ele? Levi ou Levi H. Dowling, nasceu a 18 de maio de 1844 em Belleville, Ohio, EUA. Estudante<br />

das sagradas escrituras, começou a pregar <strong>aos</strong> 16 anos de idade e <strong>aos</strong> 18 já era pastor de uma<br />

pequena igreja. Esteve no exército norte-americano como capelão, no qual serviu até a terminação<br />

da guerra civil. Estu<strong>do</strong>u na Northwestern Christian University, de Indianópolis, Indiana, e publicou<br />

folhetos religiosos. Graduou-se em duas escolas médicas e praticou medicina durante alguns<br />

anos. Finalmente deixou a medicina para voltar ao seu trabalho literário. Ouan<strong>do</strong> era um simples<br />

rapaz, teve uma visão na qual lhe fora dito que ele deveria “construir uma cidade branca”.<br />

Tal visão se repetiu por três vezes, em intervalos de anos. A construção da “cidade branca” foi<br />

“O Evangelho Aquariano de <strong>Jesus</strong> o Cristo”. O livro foi transcrito entre as duas e seis horas da<br />

madrugada, nas chamadas “horas silenciosas”. Levi faleceu a <strong>13</strong> de agosto de 1911.<br />

Mas o que é “akasa”? Akasa, na melhor expressão de um orientalista, é o éter cósmico,<br />

o flui<strong>do</strong> universal. Nele está registra<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> o que ocorreu e ocorre na Terra, daí talvez que tenha<br />

origina<strong>do</strong> a teoria <strong>do</strong> “reservatório cósmico de memórias individuais”, onde os médiuns iriam<br />

colher todas as informações que dão nas sessões, quan<strong>do</strong>, muitas vezes, acontecem lapsos.<br />

78


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

The Aquarian Gospel está na sua vigésima edição inglesa, que é de 1969, conforme<br />

exemplar que tenho em mãos, quan<strong>do</strong> da edição americana, de que possuo também um exemplar,<br />

já alcançou a trigésima sexta edição, pois o livro vem sen<strong>do</strong> reedita<strong>do</strong> desde 1908.<br />

Há uns capítulos <strong>do</strong> livro cujos títulos não podemos deixar de mencionar, como:<br />

VI - Vida e obras de <strong>Jesus</strong> na Índia; VII - Vida e obras de <strong>Jesus</strong> no Tibete e Índia Ocidental;<br />

VIII - Vida e obras de <strong>Jesus</strong> na Pérsia; IX - Vida e obras de <strong>Jesus</strong> na Assíria; X - Vida e obras de<br />

<strong>Jesus</strong> na Grécia; X - Vida e obras de <strong>Jesus</strong> no Egito; e finalmente o XXI - Materialização <strong>do</strong> corpo<br />

espiritual de <strong>Jesus</strong> e o XXII - Estabelecimento da Igreja Cristã.<br />

Poderia dizer muitas coisas mais, porém prefiro restringir o assunto, pois detrás dele...<br />

há o infinito. Menciono, para os interessa<strong><strong>do</strong>s</strong>, as obras mediúnicas de uma espiritualista argentina,<br />

Josefa Rosalia Luque Alvarez, nascida a 18 de março de 1893 e falecida a 1° de agosto de 1965.<br />

Em mas de trinta anos em contato com os seus guias espirituais e diz-se também como o <strong>do</strong><br />

Mestre, deixou volumosas obras como Origines de la Civilización Adámica, Arpas Eternas, Cumbres<br />

y Lecturas de Moisés, el Vidente del Sinái. Tratam, pelo menos as duas que tenho em mãos,<br />

detalhadamente da vida de <strong>Jesus</strong>, ten<strong>do</strong> Arpas Eternas, em três volumes, mais de 1.000 páginas,<br />

e Cumbres y Llanuras, em. <strong>do</strong>is grandes e grossos volumes, mais de 800 páginas. A primeira e a<br />

quarta já estão a caminho, mas não há tempo para ler e meditar sobre tanta coisa.<br />

Outra volumosa obra que adquiri recentemente é o True Gospel revealed anew by <strong>Jesus</strong><br />

(O verdadeiro evangelho revela<strong>do</strong> novamente por <strong>Jesus</strong>), edita<strong>do</strong> pela Church of the New Birth, de<br />

Washington, EUA. São quatro grandes e grossos volumes de mais de 400 páginas cada um e, como<br />

o quarto volume ainda não me chegou às mãos e é muita coisa para eu ler e resumir, deixo de dar<br />

a minha opinião a respeito. Com os três primeiros volumes veio um folheto intitula<strong>do</strong> <strong>Jesus</strong>’ Birth<br />

and Youth as known by Mary, Mother of <strong>Jesus</strong> (Nascimento e MKocidade de <strong>Jesus</strong> narra<strong><strong>do</strong>s</strong> por<br />

Maria, Mmãe de <strong>Jesus</strong>). Como é de poucas páginas, tive ocasião de lê-lo e colher a seguinte<br />

revelação de Maria: “A maior parte <strong>do</strong> que o Novo Testamento diz a meu respeito não é<br />

verdade. Fui casada legalmente com José, meu mari<strong>do</strong>, que era um moço e não o decrépito<br />

e impotente velho como é descrito pelos autores que fazem de mim uma virgem e mãe de um<br />

filho cujo pai não tinha corpo ou espírito”..., e mais adiante: “Não, fui mãe de oito filhos de<br />

carne e sangue, sen<strong>do</strong> o primeiro Jeshua, ou Jeshu, que é pronuncia<strong>do</strong> diferentemente no<br />

norte o no centro da Palestina, como diferentemente em várias partes deste próprio país”.<br />

Há outra obra recebida recentemente e sobre a qual não posso discorrer, pois recebi<br />

apenas o seu primeiro volume. São <strong>do</strong>is e têm os seguintes título e subtítulos:<br />

The past lives of <strong>Jesus</strong> and Mary<br />

Key incarnations of the way showers<br />

Mystic interpretations from the akashic records<br />

God’s book of remembrance<br />

by Jessica Madigan in 2 volumes<br />

que, tu<strong>do</strong> traduzi<strong>do</strong>, é:<br />

79


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

As vidas passadas de <strong>Jesus</strong> e Maria<br />

Encarnações chaves <strong><strong>do</strong>s</strong> precursores<br />

Interpretações místicas <strong><strong>do</strong>s</strong> registros akásicos<br />

Livro de memórias de Deus<br />

por Jessica Madigan, em <strong>do</strong>is volumes.<br />

Como neste primeiro volume trata mais de <strong>Jesus</strong>, posso adiantar que, na interpretação<br />

da autora, <strong>Jesus</strong> viveu primeiro na Atlântida (enorme continente submerso) com o nome de Amilius,<br />

talvez forma latina de Emílio; foi depois Rama, o chefe ariano que penetrou na Índia; Krishna, o<br />

conheci<strong>do</strong> filósofo hindu; Hermes, o Núbio, que foi para o Egito; Enoc, autor <strong>do</strong> livro usa<strong>do</strong> pelos<br />

antigos essênios e Melchizedek, o grande místico conheci<strong>do</strong> através da Bíblia. Sen<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> isto<br />

escrito de passagem, pela falta de leitura <strong><strong>do</strong>s</strong> 2 volumes, nada mais posso acrescentar no momento.<br />

Passo agora, de escantilhão, por uma obra sobre a qual gostaria de extrair muitas<br />

coisas, mas limito-me a bem pouco e o melhor. Trata-se de Edgar Cayce’s Story of <strong>Jesus</strong>, título que<br />

mais amplamente traduziria por “A vida de <strong>Jesus</strong> segun<strong>do</strong> leituras de vidas feitas por Edgar<br />

Cayce”. Este possuía a estranha faculdade de colocar-se em um esta<strong>do</strong> de sono semelhante ao<br />

esta<strong>do</strong> de transe e assim proferir palestras, fazer diagnósticos e principalmente as leituras das<br />

vidas pretéritas de muitos consulentes. Um <strong><strong>do</strong>s</strong> seus vários biógrafos, Jess Stearn, o chamava de<br />

The Sleeping Prophet (O Profeta A<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>), apeli<strong>do</strong> que serviu de título a um <strong><strong>do</strong>s</strong> seus livros. O<br />

autor deste livro, Jeffrey Furst, livro edita<strong>do</strong> por Coward-MacCann, Inc. New York, USA. Para<br />

escrevê-lo, recorreu ao “grupo da Palestina”, isto é, às leituras de vidas de pessoas que viveram na<br />

Palestina na época <strong>do</strong> Cristo. E confirma a passagem de <strong>Jesus</strong> pelo Egito, Pérsia e outros países,<br />

como repetidamente referi<strong>do</strong> em várias partes deste meu trabalho.<br />

Ele dá também o Monte Carmelo como a sede de uma escola de Essênios e diz que foi<br />

em um templo de lá que se realizou o casamento de José e Maria, os pais de <strong>Jesus</strong>. Pergunta<strong>do</strong><br />

que idade tinha José por ocasião <strong>do</strong> seu casamento com Maria, ele respondeu que 36 anos e Maria<br />

apenas 16. Pergunta<strong>do</strong> ainda que mestres teve <strong>Jesus</strong> nos países em que estu<strong>do</strong>u, respondeu:<br />

Kahjian na Índia; Junner na Pérsia e Zar no Egito.<br />

Este livro, em formato grande, tem cerca de 400 páginas. Citá-lo minuciosamente seria<br />

quase que escrever novo livro.<br />

Já que tive ocasião de me referir às várias vindas <strong>do</strong> Cristo à Terra, da qual, segun<strong>do</strong><br />

alguns, ele seria o Governa<strong>do</strong>r, o Dirigente, o Instrutor Maior, vou citar também breve trecho da<br />

obra de Ruth Montgomery A World Beyond já traduzida para o português sob o sugestivo titulo de<br />

“A vida no Além-Túmulo” e publicada pela Distribui<strong>do</strong>ra Record. Trata na maior parte, de colóquios<br />

com o espírito de Arthur Ford por meio da psicografia, mas de uma forma ainda desconhecida por<br />

mim: ela recebia as mensagens, não por meio de um lápis ou uma caneta, mas diretamente na<br />

máquina de escrever. Arthur Ford, faleci<strong>do</strong> recentemente, era considera<strong>do</strong> o maior médium norteamericano.<br />

Quem conhece bem o inglês poderá ler a obra Nothing so Strange (literalmente “Nada<br />

tão Estranho”), que é a sua autobiografia em colaboração com Margueritte Harmon Bro e tem uma<br />

introdução de Hugh Lynn Cayce, Diretor da Edgar Cayce Association for Research and Enlightenment.<br />

Do capítulo <strong>13</strong> “Exemplos de reencarnação”, colho o seguinte e interessante trecho:<br />

80


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Na manhã de Sexta-Feira Santa, Arthur Ford escreveu em minha máquina: ‘Mais ou menos<br />

nesta data, há <strong>do</strong>is mil anos, um homem chama<strong>do</strong> <strong>Jesus</strong> de Nazaré morreu na cruz como<br />

símbolo vivo da vida eterna. Alguns pensavam que iria livrar-se da cruz para exibir mais<br />

um milagre, porém foi o Cristo dentro dele que sobreviveu à morte e voltou várias vezes na<br />

forma astral para provar que a vida é eterna, que o homem de carne não é o verdadeiro<br />

homem, mas apenas o símbolo físico da alma sempre viva. Ele provou a veracidade de<br />

suas palavras e por isso tornou-se imortal como um <strong>Jesus</strong> físico bem como na consciência<br />

de Cristo, que existe nas forças de Deus desde o início <strong><strong>do</strong>s</strong> tempos.<br />

Agora vejamos o caso de São Paulo, que teve uma visão de Cristo no caminho para Damasco.<br />

Ele não conhecia o homem <strong>Jesus</strong>, mas assim que viu a aparição reconheceu-a como o<br />

Cristo que tinha habita<strong>do</strong> o corpo de <strong>Jesus</strong>. As palavras, para ele, eram inconfundíveis.<br />

<strong>Jesus</strong> foi a maior de uma longa série de personificações de uma alma criada no início e que<br />

de vez em quan<strong>do</strong> encarnava na forma humana. Foi o Buda, o Messias, o to<strong>do</strong>-no-to<strong>do</strong>, e<br />

aquele por quem sempre ansiamos em nossas almas - o irmão mais velho, o camaradão, o<br />

pacifica<strong>do</strong>r, a personificação <strong>do</strong> bem. Filho de Deus, sim, mas não somos to<strong><strong>do</strong>s</strong> filhos e<br />

filhas de Deus? A diferença é que <strong>Jesus</strong> recebeu de Deus poderes para conduzir toda a<br />

humanidade às verdades básicas: amai-vos uns <strong>aos</strong> outros, sede bons para com quem vos<br />

maltrata, não faleis mal se não quiserdes que falem mal de vós, fazei <strong>aos</strong> outros aquilo que<br />

quereis que vos façam. O espírito de Cristo viveu e teve o seu ser por um perío<strong>do</strong> de anos<br />

dentro de <strong>Jesus</strong> de Nazaré, mas lembram-se disto: O espírito interior, que habita a forma<br />

física de to<strong><strong>do</strong>s</strong> nós, é igualmente parte de Deus e capaz de suportar o mal, por isso tentemos<br />

nós um pouco mais aquilo que no princípio foi puro, limpo e verdadeiro. Amai o próximo<br />

como a vós mesmos.<br />

Arthur desenvolveu um tema semelhante em seu “sermão” da manhã da Páscoa,<br />

escreven<strong>do</strong>:<br />

Hoje é o aniversário da bela manhã em que o Cristo desencarna<strong>do</strong> ergueu-se <strong>do</strong> túmulo<br />

para demonstrar a vida eterna. Livre de seu corpo, ele apareceu a muitos <strong><strong>do</strong>s</strong> seus segui<strong>do</strong>res<br />

na terra da Palestina e até mostrou seus ferimentos a um Tomás duvi<strong><strong>do</strong>s</strong>o, mas não é esta<br />

a mensagem importante. O ponto de destaque é que nós to<strong><strong>do</strong>s</strong> sobrevivemos à morte com<br />

nossa personalidade e memória intactas. Isto foi demonstra<strong>do</strong> por <strong>Jesus</strong> ao morrer na cruz<br />

e Sua parte eterna - o Cristo - continuou a viver para provar que o corpo físico não faz parte<br />

da alma eterna. Hoje falamos das várias encarnações daquele Cristo que recordamos na<br />

forma de <strong>Jesus</strong>. Ele tinha si<strong>do</strong> vários homens diferentes antes daquela encarnação e em<br />

todas buscava a perfeição <strong>do</strong> homem. Queria demonstrar a Seu Pai e a to<strong><strong>do</strong>s</strong> os outros que<br />

é possível habitar um corpo físico, resistir à tentação e viver uma vida de perfeição. As<br />

vezes esquecemo-nos de que <strong>Jesus</strong> era um homem como nós. Era o Cristo dentro dele que<br />

o tornava superior. As mesmas tentações carnais estavam ali para tentar a <strong>Jesus</strong> como a<br />

qualquer homem carnal e, no entanto, ele resistiu a todas. Lembremo-nos, pois, de que<br />

cada um de nós poderá viver tão corretamente quanto quiser, pois foi demonstra<strong>do</strong> que o<br />

homem, mesmo na carne, pode ser perfeito.<br />

Já disse aqui nesta obra, citan<strong>do</strong> Ru<strong>do</strong>lf Steiner, que, por detrás <strong>do</strong> mistério de <strong>Jesus</strong> ...<br />

há o infinito. E, por causa disto, vou fazer, para terminar, umas breves citações de um curioso<br />

livro, também recente como o antes cita<strong>do</strong>. Trata-se de “A voz <strong><strong>do</strong>s</strong> extraplanetários”, livro que se<br />

originou de um processo telepático a que se permitira o extraplanetário Ashtar Sheran por intermédio<br />

de um médium alemão chama<strong>do</strong> Herbert Victor Speer, de Berlim.<br />

81


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Mas quem é este Ashtar Sheran, de nome tão estranho? Di-lo o livro em muitas linhas,<br />

mas, para nós, direi apenas que se trata de um ser espiritual eleva<strong>do</strong>, habitante de Methária,<br />

situa<strong>do</strong> no sistema solar de Alfa Centauro e que teria o coman<strong>do</strong> geral das naves espaciais em<br />

missão terrena ao aproximar-se “o fim <strong><strong>do</strong>s</strong> tempos” tão fala<strong><strong>do</strong>s</strong>. E lá se fala no Cristo e outras<br />

coisas mais ... Passo, ainda, a algumas transcrições interessantes e bem curiosas, como, por<br />

exemplo, <strong>do</strong> que consta das páginas 122 e 123. Ei-lo:<br />

Já numa comunicação precedente acentuamos que Cristo não foi o bode expiatório da<br />

humanidade terrestre. Tornou-se vítima de um crime horren<strong>do</strong>! Essa morte brutal nada tem<br />

que ver com a Redenção da humanidade. Somente Seus ensinamentos podem redimir-vos,<br />

quan<strong>do</strong> os colocardes em prática, porém não porque seu sangue foi derrama<strong>do</strong>.<br />

Os “Santini” estavam num direto contato com este extraordinário Mestre.<br />

A Estrela de Belém era uma nave espacial extraterrestre, um U.F.O. como o chamais. Podereis<br />

ver tais estrelas de Belém em cada noite e, muitas vezes, também durante o dia e em to<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

os países da Terra. Suas trajetórias e seu brilho não são por nada diferentes daquela<br />

Estrela de Belém.<br />

O nascimento de Cristo foi anuncia<strong>do</strong> pelos pilotos de um U.F.O. Citamo-vos agora uma<br />

passagem da Bíblia: “E um Anjo <strong>do</strong> Senhor esteve diante deles, e o esplen<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Senhor<br />

envolveu-os e assim sentiram me<strong>do</strong>”. O esplen<strong>do</strong>r que envolveu os pastores era a irradiação<br />

de um U.F.O.. O anjo era um “Santini”, um extraterrestre. Não foi o Anjo que subiu ao céu,<br />

mas um U.F.O. acolheu-o levan<strong>do</strong> rumo ao Cosmo. Uma estação interplanetária universal<br />

não é uma plataforma para Anjos. Também a partida de Elias no carro de fogo. Nem a<br />

visita <strong><strong>do</strong>s</strong> Anjos, nem a luz divina com seu esplen<strong>do</strong>r são baseadas na ação milagrosa de<br />

Deus. Trata-se, ao contrário, da visita <strong><strong>do</strong>s</strong> “Santini”, que, se empenham sinceramente em<br />

vos explicar o significa<strong>do</strong> de vossa existência.<br />

Esclarece o editor alemão desta obra, em nota, o seguinte:<br />

“É-nos muito difícil entrarmos em contato com Ashtar Sheran. Importante tornou-se então<br />

para nós a confiança demonstrada pelos Guias espirituais que já há muitos anos nos<br />

transmitem inumeráveis ensinamentos relaciona<strong><strong>do</strong>s</strong> com a sabe<strong>do</strong>ria. Com Ashtar Sheran<br />

entramos em contato de tempos em tempos. Nós não o vemos. Suas mensagens são<br />

espiritual-científicas. Por essa razão devemos recorrer ao mun<strong>do</strong> da colaboração de nossos<br />

Guias espirituais e, como se trata de missão divina, estas Grandes Almas procuram<br />

contentar-nos. Nem de todas as perguntas recebemos respostas, porque, para algumas<br />

explicações, não nos achamos prepara<strong><strong>do</strong>s</strong> nem amadureci<strong><strong>do</strong>s</strong> para entendê-las. Ashtar<br />

Sheran é um verdadeiro amigo da Humanidade; melhor instrutor não poderíamos imaginar.<br />

É o Guia de nossos tempos. Sentimo-nos felizes por termos si<strong>do</strong> escolhi<strong><strong>do</strong>s</strong> para a recepção<br />

de comunicações, mesmo que por causa disto sejamos escarneci<strong><strong>do</strong>s</strong>. Entretanto existem<br />

muitas pessoas sérias e decididas que nos compreendem e estão conosco.<br />

As perguntas constantes das páginas 146 e 147 já são respondidas pelo Guia espiritual.<br />

Eis as mais importantes dele recebidas:<br />

Pergunta: A Ascensão de Cristo foi cientificamente posta em dúvida. Também as Igrejas<br />

não sabem como explicá-la. Que relação terá com os “Santini”?<br />

Resposta: Cristo conhecia a missão <strong><strong>do</strong>s</strong> “Santini”. Uma nave espacial acolheu-O<br />

toman<strong>do</strong>-O consigo. Os “Santini” possuem estes meios. O céu não é um lugar<br />

sobre as nuvens. Cristo foi leva<strong>do</strong> algures.<br />

P. - Conheceis este lugar?<br />

R. - Pelo que sabemos foi leva<strong>do</strong> para as Índias, nas proximidades <strong>do</strong> Tibet. Ali<br />

ficaria mais seguro. (Nota <strong>do</strong> Editor: Há muitos indícios de que Cristo tenha opera<strong>do</strong> na<br />

Índia)<br />

82


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

P. - Esta resposta faz vacilar o milagre da Ressurreição. Portanto Cristo deverá ter<br />

continua<strong>do</strong> a viver. Não teria então morri<strong>do</strong> na Cruz, não é assim?<br />

R. - Cristo possui <strong>do</strong>tes excepcionais, visto ser uma divina encarnação. Sabemos hoje<br />

que a maior parte das pessoas escuta de má vontade esta explicação. Porém Cristo<br />

morreu na Cruz. Morreu clinicamente. Mas; como Cristo é uma encarnação de<br />

imensa força divina, esta se pôs a agir n’Ele depois da morte. Ele venceu a matéria,<br />

levan<strong>do</strong>-a como uma veste imaculada. Ele possui faculdades e poderes divinos.<br />

Curava os <strong>do</strong>entes, ressuscitava os mortos e assim recolocou-se a si próprio na<br />

vida e curou-se. Aí está o próprio milagre da Ressurreição, dentro da ordem imutável<br />

das leis espirituais.<br />

P. - Diz ainda a Bíblia: “Subiu ao céu e sentou-se à direita de Deus”. Que dizeis a isto?<br />

R. - Deus não é uma pessoa e assim sen<strong>do</strong> Cristo não poderia sentar-se à Sua direita.<br />

E o céu não é um teto próprio coloca<strong>do</strong> sobre a Terra. Este é outro consenso<br />

<strong>do</strong>gmático. Cristo se acha no reino espiritual, na esfera mais alta. Ali não está só,<br />

mas rodea<strong>do</strong> por muitos espíritos eleitos.<br />

P. - Como reagirão as Igrejas ao escutarem esta afirmativa? Como nos deveremos<br />

comportar?<br />

R. - Poderemos sempre dizer a verdade, gostem dela ou não. Além disto, a coisa não é<br />

tão estranha quanto parece. Existem faquires e iogues que podem realizar<br />

semelhante milagre: Anulam a força da gravidade, fazem-se transpassar por espadas<br />

e permanecem sepulta<strong><strong>do</strong>s</strong> durante semanas inteiras. Dominam a matéria, como<br />

fez Cristo.<br />

P. - Cristo estava clinicamente morto. Como devemos entender isto?<br />

R. - Também sobre a Terra existem homens que se acham clinicamente mortos. Eles<br />

podem ser ressuscita<strong><strong>do</strong>s</strong> para a vida, mas só por um breve perío<strong>do</strong> de tempo,<br />

porque usam outros meios e sistemas erra<strong><strong>do</strong>s</strong>. Podem ser ressuscita<strong><strong>do</strong>s</strong> até o<br />

momento em que o cordão de prata, aquele laço que une o corpo à alma, não tenha<br />

si<strong>do</strong> rompi<strong>do</strong>. Até aí a ressurreição poderá ser possível. (Nota <strong>do</strong> Editor: Três dias<br />

depois da morte)<br />

P. - Sabemos que as células <strong>do</strong> cérebro não podem permanecer vivas por mais de que<br />

alguns minutos, visto que logo se decompõem dan<strong>do</strong>-lhes a morte definitiva. Cristo,<br />

entretanto, ficou no túmulo por muito tempo. Como poderia ater-se da<strong>do</strong> isto?<br />

R. - Houve casos nos quais foi constata<strong>do</strong> que, depois da morte, no crânio de alguns<br />

terrestres não mais havia o cérebro. Entretanto, eles, quan<strong>do</strong> vivos, podiam agir e<br />

pensar. Cristo não tinha necessidade de cérebro para pensar. Seu Espírito era<br />

extraordinariamente forte.<br />

Aqui me detenho novamente para dizer que a obra “A Voz <strong><strong>do</strong>s</strong> Extraplanetários” foi<br />

impressa, em 1972, pela Editora Pongetti, que já nos promete, a seguir, <strong>do</strong> mesmo autor, as<br />

seguintes: “Veritas Vincit”, “De Estrela em Estrela” e “Antes da Aterrissagem”. Aqueles que<br />

conservam, como eu, a liberdade <strong>do</strong> pensamento como coisa preciosa, podem lê-las todas para<br />

estu<strong>do</strong>, comparação e ilustração, bem como “A Bíblia e os discos voa<strong>do</strong>res” <strong>do</strong> escritor brasileiro<br />

Fernan<strong>do</strong> Cleto Nunes Pereira, já em 2ª edição. Não me furto à ocasião de citar <strong>do</strong>is pequenos<br />

trechos da obra deste autor nacional. Um, da pág. 140, quan<strong>do</strong> ele diz: “Não devemos fugir<br />

nunca <strong><strong>do</strong>s</strong> temas difíceis e contraditórios, razão pela qual pretendemos examinar o delica<strong>do</strong><br />

problema que constitui a reencarnação. Como já vimos, a Lei <strong>do</strong> Carma procede também<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> astronautas extraterrenos. Sentimos mesmo ser <strong>do</strong> nosso dever focalizar aqui o livro<br />

que ficou perdi<strong>do</strong> por muitos séculos, chama<strong>do</strong> Atos II, de autoria de S. Lucas, narran<strong>do</strong> a<br />

assunção de Santa Maria - episódio inteiramente desconheci<strong>do</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> cristãos, porque o<br />

referi<strong>do</strong> livro não mereceu a aprovação da Igreja Católica”.<br />

83


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

E outro, mais adiante, na pág. 143, quan<strong>do</strong> esclarece o seguinte: “Vamos agora<br />

surpreender a grande maioria <strong><strong>do</strong>s</strong> leitores, focalizan<strong>do</strong> um misterioso livro muito pouco<br />

conheci<strong>do</strong>. Não sabemos se alguma Igreja já aceitou tal livro como verdadeiro. Trata-se <strong>do</strong><br />

remoto e desapareci<strong>do</strong> Atos II, de autoria de S. Lucas, no qual são expostas algumas lições<br />

de Santa Maria sobre a reencarnação. Este livro foi descoberto e traduzi<strong>do</strong> <strong>do</strong> grego para<br />

a língua inglesa por Kenneth Sullivan Guthrie e para a língua portuguesa por M.M.<br />

A primeira edição em inglês foi feita em 19-9-1904 e constou de apenas 155 exemplares.<br />

Somente 60 anos depois da primeira edição foi tal livro reedita<strong>do</strong> na língua inglesa.<br />

O editor e distribui<strong>do</strong>r de Atos II em nossos dias é o Centro Metafísico Mark-Age, Inc.,<br />

327 N.E. 20th Terrace - Miami, Flórida, USA. Uma pequena edição de menos de 100<br />

exemplares foi feita no Brasil, em língua portuguesa, editada em 15-8-1965 (Traduzi<strong>do</strong><br />

para a língua portuguesa, da versão inglesa, por M.M.). Nesse notável livro, que teria fica<strong>do</strong><br />

perdi<strong>do</strong> quase 1900 anos, está descrito, num verdadeiro poema, como se deu a assunção<br />

de Santa Maria e as revelações que ela faz sobre os mistérios <strong>do</strong> Reino de Deus. Narra<br />

também que, no momento da assunção, o próprio <strong>Jesus</strong> e o anjo Gabriel apareceram para<br />

levar Maria ao céu, momento em que <strong>Jesus</strong> confirma algumas de suas encarnações anteriores<br />

na Terra. Segun<strong>do</strong> o mesmo livro, Paulo e Pedro teriam assisti<strong>do</strong> como se deu a assunção<br />

e juntos teriam ouvi<strong>do</strong> as últimas revelações de Santa Maria e <strong>Jesus</strong>”.<br />

Os leitores que meditem sobre tu<strong>do</strong> isto e façam o seu juízo a respeito porque, no<br />

mistério de <strong>Jesus</strong>, parece que só se pode mesmo é opinar. Certeza não há, ainda menos com os<br />

Evangelhos chama<strong><strong>do</strong>s</strong> Apócrifos, que a própria Igreja Cristã rejeitou.<br />

A Bíblia inteira foi tantas vezes adulterada e interpolada por uns e outros interessa<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

que hoje já não sabemos o que estava anteriormente escrito em inúmeras passagens. Para<br />

corresponderem a certas aspirações e idéias <strong><strong>do</strong>s</strong> judeus antigos, alterações foram feitas, a de<strong>do</strong>,<br />

no Novo Testamento, onde inúmeras passagens se contradizem umas as outras. E dói vermos que<br />

espíritos ditos de luz interpretam integralmente to<strong><strong>do</strong>s</strong> os versículos da Bíblia, mesmo os mais<br />

confusos...<br />

Outra coisa. Dizem que os judeus antigos tratavam de irmãos tanto os irmãos carnais<br />

como os primos-irmãos e demais parentes, mas, quan<strong>do</strong> o interesse interpretativo entra em jogo,<br />

os irmãos carnais nunca são irmãos mesmo e sim de outro parentesco.<br />

Embora consideremos que é muito difícil argumentar-se a respeito de <strong>Jesus</strong> com<br />

passagens bíblicas, vamos fazer uma citação da Bíblia Sagrada traduzida em português, segun<strong>do</strong><br />

a Vulgata Latina, pelo Padre Antonio Pereira de Figueire<strong>do</strong>. Escolhemos, a propósito, os sete<br />

primeiros versículos <strong>do</strong> capítulo 2 - Nascimento de <strong>Jesus</strong> - <strong>do</strong> Evangelho Segun<strong>do</strong> São Lucas:<br />

“1. E aconteceu naqueles dias que saiu um édito emana<strong>do</strong> de César Augusto, para que fosse alista<strong>do</strong><br />

to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. 2. Este primeiro alistamento foi feito por Cirino, governa<strong>do</strong>r da Síria. 3. E iam to<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

alistar-se, cada um à sua cidade. 4. E subiu José da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade<br />

de David, que se chamava Belém, porque era da casa e da família de David. 5. Para se alistar com sua<br />

esposa Maria, que estava pejada. 6. E estan<strong>do</strong> ali, aconteceu completarem-se os dias em que havia de<br />

dar à luz. 7. E deu à luz a seu filho primogênito e o enfaixou e o reclinou em uma mange<strong>do</strong>ura, porque<br />

não havia lugar para eles na estalagem”.<br />

Notem bem: Maria deu à luz o seu filho primogênito. Filho primogênito, sabemos<br />

to<strong><strong>do</strong>s</strong> nós, é o primeiro filho de um casal de carne e osso e não se falava em primogênito sem haver<br />

outros filhos <strong>do</strong> mesmo casal, portanto haviam outros filhos mais, que eram mesmo irmãos uterinos<br />

de <strong>Jesus</strong>, e não primos-irmãos.<br />

São José teve filhos da primeira mulher dele, mas, quan<strong>do</strong> se casou com Maria, a sua<br />

segunda mulher e mãe de <strong>Jesus</strong>, passou de homem de carne e osso a simples especta<strong>do</strong>r... para<br />

que se cumprissem a vontade <strong><strong>do</strong>s</strong> profetas e a <strong><strong>do</strong>s</strong> interessa<strong><strong>do</strong>s</strong> de ontem e hoje.<br />

84


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Quem conhecer o inglês e quiser ler muita coisa a respeito da vida de <strong>Jesus</strong>, indico um<br />

livro publica<strong>do</strong> pela primeira vez em 1899 e, pela segunda, em 1968 pela Unarius Publishing Co.,<br />

de Glendale, Califórnia, Esta<strong><strong>do</strong>s</strong> Uni<strong><strong>do</strong>s</strong> da América. Tem o duplo título de The True Life of <strong>Jesus</strong><br />

of Nazareth (A verdadeira vida de <strong>Jesus</strong> de Nazaré) e The Confessions of Paul (As confissões de<br />

Paulo) e se trata de um volume de 325 maciças páginas recebidas através da mediunidade de<br />

Alexander Smyth.<br />

O referi<strong>do</strong> livro é acompanha<strong>do</strong> de um apêndice com o título de The Crucifixion and<br />

Resurrection of <strong>Jesus</strong>, by an eye-witness (A crucificação e ressurreição de <strong>Jesus</strong> por uma testemunha<br />

ocular). Trata-se de um manuscrito descoberto e pertencente à antiga Biblioteca de Alexandria,<br />

com muita matéria adicional e explanatória sobre os Essênios e com pasmante declaração de que<br />

<strong>Jesus</strong> não faleceu na cruz e sim seis meses após e que não houve uma ressurreição e sim uma<br />

ressuscitação de <strong>Jesus</strong>.<br />

Ainda a propósito de <strong>Jesus</strong>, aproveito o ensejo para transcrever breve trecho <strong>do</strong> belo<br />

artigo “Ritos e iniciações esotéricas”, de Sandra Galeotti, apareci<strong>do</strong> no n° 32, de abril-maio de<br />

1975, da apreciada revista “Planeta”. Ei-lo ipsis literis:<br />

É fácil notarmos como a identidade essencial entre várias correntes filosófico- iniciáticas se<br />

perpetuou até a época <strong>do</strong> advento de Cristo, chegan<strong>do</strong> até nós, se considerarmos o conteú<strong>do</strong><br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> trata<strong><strong>do</strong>s</strong> firma<strong><strong>do</strong>s</strong> entre todas elas, através de seus mestres. Foi no ano 747 da fundação<br />

de Roma que se reuniram no supremo santuário <strong><strong>do</strong>s</strong> essênios, localiza<strong>do</strong> nas montanhas<br />

de Moal, os chefes das principais escolas esotéricas da época com o fim de estabelecer<br />

uma aliança que tinha por objetivo proporcionar to<strong>do</strong> amparo possível ao menino, que, <strong>aos</strong><br />

<strong>30</strong> anos, iniciaria uma missão redentora <strong>do</strong> gênero humano. Foi firma<strong>do</strong> então um trata<strong>do</strong><br />

com os seguintes dizeres: “Haven<strong>do</strong> comprova<strong>do</strong> que é uma mesma verdade a exposta<br />

nas cinco <strong>do</strong>utrinas conhecidas hoje, ou seja, o ptolomeismo da Alexandria, o copto da<br />

Arábia, o zend-avest da Pérsia, o budismo <strong>do</strong> Nepal e o mosaísmo essênio, nos impomos o<br />

sagra<strong>do</strong> dever de propiciar a unificação perfeita destas cinco ramificações da divina<br />

sabe<strong>do</strong>ria para facilitar a missão redentora de Cristo em seu último advento à Terra”.<br />

Assinavam: Ezequias de Sichen, grande servi<strong>do</strong>r <strong>do</strong> santuário <strong>do</strong> monte Abarin; Gaspar<br />

de Bombaim, primeiro mestre da Escola Estrela <strong>do</strong> Oriente; Baltasar de Susa, consultor da<br />

Congregação da Sabe<strong>do</strong>ria Oculta; Melchior de Horeb, funda<strong>do</strong>r da fraternidade copta <strong>do</strong><br />

monte Horeb; Filon de Alexandria, estudante <strong>do</strong> 5° grau, na Escola Ptolomeísta.<br />

Diz a articulista que o <strong>do</strong>cumento original essênio desta aliança encontra-se hoje em<br />

uma das principais bibliotecas da cidade de Lhasa, no Tibet.<br />

E se quisermos aprofundar ainda um pouco mais o mistério que há por detrás da pessoa<br />

de <strong>Jesus</strong>, apesar <strong><strong>do</strong>s</strong> inúmeros livros escritos a respeito e aqui cita<strong><strong>do</strong>s</strong>, podemos incluir este<br />

pequeno trecho colhi<strong>do</strong> na obra de Eduar<strong>do</strong> Morgens, pág. 24, intitulada Profecias: “Aqui desejamos<br />

abrir um parêntesis para formular a seguinte pergunta: segun<strong>do</strong> a Bíblia, Moisés, e<br />

posteriormente <strong>Jesus</strong>, desapareceu durante certo espaço de tempo, sem qualquer menção<br />

referente a seu paradeiro. Para onde teriam i<strong>do</strong>? Estudan<strong>do</strong> cuida<strong><strong>do</strong>s</strong>amente o Código de<br />

Hamurabi, composto em tijolos de argila 2000 anos antes <strong>do</strong> advento <strong><strong>do</strong>s</strong> Profetas Bíblicos<br />

- base de toda a legislação moderna, civil e criminal - chegamos à conclusão de que esses<br />

<strong>do</strong>is grandes personagens tiveram contato com os sucessores de Hamurabi e,<br />

conseqüentemente, com o código famoso. Um confronto entre o Código de Hamurabi e os 10<br />

Mandamentos leva à conclusão de que a lei mosaica é uma condensação <strong>do</strong> código cita<strong>do</strong>”.<br />

85


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

E também ainda ao pequeno trecho que colhemos na obra de Lytle Robinson intitulada<br />

Edgar Cayce’s Story of the Origin and Destiny of Man, que melhor traduziríamos por História da<br />

Origem e Destino <strong>do</strong> Homem segun<strong>do</strong> leituras de Edgar Cayce. Está na pág. 93 da edição de bolso<br />

e as leituras de Edgar Cayce, o profeta a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>, já são bem conhecidas. Ei-lo: “A Grande<br />

Pirâmide de Gizeh permanece como um monumento histórico para a atual raça-raiz. Registra<br />

a história da luta <strong>do</strong> homem pela sabe<strong>do</strong>ria espiritual e, por muitas épocas, foi utilizada<br />

como templo de iniciação para os grandes mestres e líderes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Foi aqui que o<br />

Grande Inicia<strong>do</strong>, <strong>Jesus</strong>, que se tornou o Cristo, recebeu os graus finais de Inicia<strong>do</strong>,<br />

juntamente com João Batista, o Seu precursor”.<br />

E o mistério parece continuar ...<br />

Diante de tu<strong>do</strong> o que foi dito e escrito por tantos autores, quer da Terra quer <strong>do</strong> Além,<br />

minha opinião pessoal é, e continuará a ser, a de que <strong>Jesus</strong> foi um ser carnal como nós, que se<br />

tornou um Grande Inicia<strong>do</strong> e que exerceu a mais bela missão terrena, opinião que deixo aqui<br />

estampada nestas poucas linhas a fim de que, após o meu desencarne, não me atribuam o que<br />

não disse e não escrevi.<br />

Francisco Klörs Werneck<br />

86


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Elementos Suplementares para o Estu<strong>do</strong> de <strong>Jesus</strong>-Cristo<br />

Retrato de <strong>Jesus</strong><br />

Em Roma, no arquivo <strong>do</strong> Duque de Cesadini, foi encontrada uma carta de Públio Lêntulus,<br />

Procônsul da Galiléia, dirigida ao Impera<strong>do</strong>r Romano Tibério César, em virtude deste ter interpela<strong>do</strong><br />

o Sena<strong>do</strong>r Romano acerca de Cristo, de quem tanto lhe falavam.<br />

Eis a carta, que é um retrato fiel de <strong>Jesus</strong>:<br />

Saben<strong>do</strong> que desejais conhecer quanto vou narrar: existin<strong>do</strong> nos nossos tempos um homem,<br />

o qual vive atualmente de grandes virtudes, chama<strong>do</strong> <strong>Jesus</strong>, que pelo povo é inculca<strong>do</strong><br />

Profeta da Verdade e os seus discípulos dizem que é filho de Deus, Cria<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Céu e da<br />

Terra e de todas as coisas que nela se acham e que nela tenham esta<strong>do</strong>. Em verdade, ó<br />

César, a cada dia se ouvem coisas maravilhosas desse <strong>Jesus</strong>; ressuscita os mortos, cura<br />

os enfermos, em poucas palavras é um homem de justa estatura e é muito belo de aspecto.<br />

Há tanta majestade em seu rosto que aqueles que o vêem são força<strong><strong>do</strong>s</strong> a amá-lo ou temêlo.<br />

Tem os cabelos da cor da amên<strong>do</strong>a bem madura, são distendi<strong><strong>do</strong>s</strong> até as orelhas e das<br />

orelhas até as espáduas, são da cor da terra, porém mais reluzentes. Tem no meio da sua<br />

fronte uma linha separan<strong>do</strong> os cabelos, na forma em uso pelos nazarenos; o seu rosto é<br />

cheio, o aspecto muito sereno, nenhuma ruga ou mancha se vê em sua face de uma cor<br />

moderada; o nariz e a boca são irrepreensíveis. A barba é espessa, mas semelhante <strong>aos</strong><br />

cabelos, não muito longa, mas separada pelo meio; seu olhar é muito especioso e grave.<br />

Tem os olhos graciosos e claros e o que surpreende é que resplandecem no seu rosto como<br />

os raios de sol, porém ninguém pode olhar fixo o seu semblante, porque, quan<strong>do</strong> resplandece,<br />

apavora e, quan<strong>do</strong> ameniza, faz chorar; faz-se amar e é alegre com gravidade. Diz-se que<br />

nunca ninguém o viu rir, mas antes chorar. Tem os braços e as mãos muito belos; na<br />

palestra contenta muito, mas o faz raramente e, quan<strong>do</strong> dele alguém se aproxima, verifica<br />

que é muito modesto na presença e na pessoa. É o mais belo homem que se possa imaginar,<br />

muito semelhante à sua Mãe, a qual é de uma beleza rara, não se ten<strong>do</strong> jamais visto, por<br />

estas partes, uma <strong>do</strong>nzela tão bela. De letras, faz-se admirar de toda a cidade de Jerusalém.<br />

Ele sabe todas as coisas e nunca estu<strong>do</strong>u nada. Ele caminha descalço e sem coisa alguma<br />

na cabeça. Muitos se riem, ven<strong>do</strong>-o assim, porém, na sua presença, falan<strong>do</strong> com Ele, temem<br />

e admiram. Dizem que um tal homem nunca fora ouvi<strong>do</strong> por estas partes. Em verdade,<br />

segun<strong>do</strong> me dizem os hebreus, não se ouviram, jamais, tais conselhos de grande <strong>do</strong>utrina,<br />

como ensina este <strong>Jesus</strong>; muitos judeus o têm como Divino e muito me querelam que é<br />

contra a lei de Vossa Majestade. Diz-se que esse <strong>Jesus</strong> nunca fez mal a quem quer que<br />

seja, mas, ao contrário, aqueles que o conhecem e com ele têm pratica<strong>do</strong> afirmam ter dele<br />

recebi<strong>do</strong> grandes benefícios de saúde, porém, à sua obediência estou prontíssimo e aquilo<br />

que Sua Majestade ordenar será cumpri<strong>do</strong>.<br />

87


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Outro Retrato de <strong>Jesus</strong><br />

Este outro retrato de <strong>Jesus</strong> foi feito pelo espírito de Maria Dolores, através da mediunidade<br />

de Francisco Cândi<strong>do</strong> Xavier, a 22-4-1978, no Grupo Espírita da Prece, de Uberaba, MG.<br />

Ei-lo:<br />

Está sen<strong>do</strong> procura<strong>do</strong>:<br />

Homem considera<strong>do</strong> galileu. Trinta e três anos. Pele clara e expressão triste. Cabelos longos<br />

e barba maltratada.<br />

Marcas sanguinolentas nas mãos e nos pés. Caminha habitualmente acompanha<strong>do</strong> de<br />

mendigos e vagabun<strong><strong>do</strong>s</strong>, <strong>do</strong>entes e mutila<strong><strong>do</strong>s</strong>, cegos e infelizes.<br />

Onde aparece, freqüentemente, é visto entre grande séqüito de mulheres, sen<strong>do</strong> algumas<br />

de má vida, com crianças esfarrapadas.<br />

Quase sempre está segui<strong>do</strong> por <strong>do</strong>ze pesca<strong>do</strong>res e marginais. Demonstra respeito para<br />

com autoridades, determinan<strong>do</strong> que se dê a César o que é de César, mas espalha<br />

ensinamentos contrários à Lei antiga, como seja: o perdão das ofensas; o amor <strong>aos</strong> inimigos;<br />

a oração em favor daqueles que nos perseguem ou caluniam; a distribuição indiscriminada<br />

de dádivas com os necessita<strong><strong>do</strong>s</strong>; o amparo <strong>aos</strong> enfermos, sejam eles quais forem; e chega<br />

ao cúmulo de recomendar que uma pessoa espancada numa face ofereça a outra ao agressor.<br />

Ainda não se sabe se é um mágico, mas testemunhas idôneas afirmam que ele multiplicou<br />

cinco pães e <strong>do</strong>is peixes em alimentação para mais de cinco mil pessoas, ten<strong>do</strong> sobra<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>ze cestos.<br />

Considera<strong>do</strong> impostor por haver trazi<strong>do</strong> pessoas mortas à vida, foi preso e espanca<strong>do</strong>.<br />

Sentencia<strong>do</strong> à morte, com absoluta aprovação <strong>do</strong> próprio povo, que o condenou de<br />

preferência a Barrabás, malfeitor conheci<strong>do</strong>, recebeu insultos e pedradas, sem reclamar,<br />

quan<strong>do</strong> conduzia a cruz às costas.<br />

Não se defendeu, quan<strong>do</strong> questiona<strong>do</strong> pela justiça, complican<strong>do</strong>-se-lhe a situação, porque<br />

seus próprios segui<strong>do</strong>res o aban<strong>do</strong>naram nas horas difíceis. Sob afrontas e zombarias, foi<br />

crucifica<strong>do</strong> entre <strong>do</strong>is ladrões. Não teve parentes que lhe demonstrassem solidariedade, a<br />

não ser sua Mãe, uma frágil mulher que chorava <strong>aos</strong> pés da cruz.<br />

Depois de morto, não se encontrou lugar para sepultá-lo, senão lo<strong><strong>do</strong>s</strong>o recanto de um<br />

túmulo por favor de um amigo. Após o terceiro dia de sepultamento, desapareceu <strong>do</strong> sepulcro<br />

e já foi visto por diversas pessoas que o identificaram pelas chagas sangrentas <strong><strong>do</strong>s</strong> pés e<br />

das mãos:<br />

“Esse é o homem que está sen<strong>do</strong> cuida<strong><strong>do</strong>s</strong>amente procura<strong>do</strong>.<br />

Seu nome é <strong>Jesus</strong> de Nazaré.<br />

Se puderes encontrá-lo, deves segui-lo para sempre.<br />

88


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Origem <strong>do</strong> Nascimento Virginal de <strong>Jesus</strong><br />

As pessoas que tiveram a oportunidade de aprofundar o Espiritualismo, em seus vários<br />

ramos, aprenderam que era costume antigo considerar os funda<strong>do</strong>res de religiões como filhos de<br />

Deus, grandes avatares da Divindade e mesmo filhos de virgens, com nascimento sem concurso de<br />

pai terreno. E <strong>Jesus</strong> não escapou ao costume da época.<br />

Louis Jacolliot, que era juiz na antiga colônia francesa de Pondicherry, na Índia, teve<br />

ocasião de estudar profundamente a religião da antiga Índia e escreveu vários livros entre os quais<br />

um que tenho em mãos e que tem o título de “A Bíblia na Índia - Vida de Iezeus Cristna”. O<br />

exemplar, que tenho em mãos, leva o título em espanhol, já que foi publica<strong>do</strong> pela Editorial Araujo,<br />

de Buenos Aires, República Argentina, com quase 400 páginas de texto.<br />

Para não cansar os leitores, traduzo, a seguir, os principais e elucidativos trechos dele<br />

que condizem com o nascimento virginal de <strong>Jesus</strong>, notan<strong>do</strong>, desde já, a semelhança <strong>do</strong> nascimento<br />

de um que viveu séculos antes <strong>do</strong> outro.<br />

Começo pelo capítulo VIII que tem o título de “Encarnações - Profecias anuncian<strong>do</strong> a<br />

vida de Cristna”:<br />

Segun<strong>do</strong> a crença indiana, até o dia de hoje, nove vezes Deus veio à Terra: as oito primeiras<br />

vezes só foram curtas aparições da Divindade, vin<strong>do</strong> para renovar a santos personagens a<br />

presença de um Redentor feita a Adima e Heva depois <strong>do</strong> peca<strong>do</strong>; a nona só é uma<br />

encarnação, isto é, a realização da predição de Brama. Esta encarnação é a de Cristna,<br />

filho da virgem Devanagu.<br />

Passan<strong>do</strong> ao capítulo IX, de título “Nascimento da virgem Devanaguy segun<strong>do</strong> a Bagavad-<br />

Gîtâ e as tradições bramânicas”, tomo o seguinte e longo trecho:<br />

Chegamos a esta maravilhosa encarnação indiana, a primeira quanto ao tempo, entre todas<br />

as encarnações <strong>do</strong> globo, a primeira que veio recordar <strong>aos</strong> homens as verdades imortais<br />

depositadas por Deus na consciência humana e que as lutas <strong>do</strong> despotismo e da intolerância<br />

conseguem muito amiúde ocultar.<br />

Vamos. narrar, simplesmente, seguin<strong>do</strong> as autoridades mais fidedignas, a vida da virgem<br />

Devanaguy e <strong>do</strong> seu divino filho, reservan<strong>do</strong>, para mais adiante, to<strong>do</strong> comentário e toda<br />

comparação.<br />

Por volta <strong>do</strong> ano 3500 antes da era moderna, no palácio <strong>do</strong> rajá de Madura, pequena<br />

província da Índia Oriental, veio ao mun<strong>do</strong> uma menina cujo nascimento esteve rodea<strong>do</strong> de<br />

estranhos acontecimentos e de maravilhosos presságios.<br />

A irmã <strong>do</strong> rajá, mãe da menina, alguns dias antes da iluminação, teve um sonho, no qual,<br />

aparecen<strong>do</strong>-lhe Vishnu, em toda a magnificência de seu esplen<strong>do</strong>r, lhe revelou os futuros<br />

destinos da que ia nascer.<br />

Darás à sua filha o nome de Devanaguy (em sânscrito, formada para Deus), disse à mãe,<br />

pois, por meio dela, os desígnios de Deus deviam realizar-se. Que nenhum alimento animal<br />

jamais toque os seus lábios; só o arroz, o mel e o leite devem fazer parte de sua alimentação.<br />

Sobretu<strong>do</strong> evita que nenhum homem se una a ela em matrimônio: morriam igualmente<br />

to<strong><strong>do</strong>s</strong> os que a tenham ajuda<strong>do</strong> neste ato, antes de tê-lo realiza<strong>do</strong>.<br />

A menina recebeu, ao nascer, o nome de Devanaguy, conforme lhe havia si<strong>do</strong> ordena<strong>do</strong>, e<br />

a sua mãe, temen<strong>do</strong> não poder cumprir as prescrições de Deus dadas no palácio de seu<br />

irmão, que era um malva<strong>do</strong>, a levou para a casa de um <strong><strong>do</strong>s</strong> seus parentes chama<strong>do</strong> Nanda,<br />

senhor de uma pequena aldeia situada nas margens <strong>do</strong> Ganges e célebre pelas suas<br />

virtudes.<br />

89


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Segue o texto narran<strong>do</strong> que a mãe dela, Lakmy, faleceu e a filha, Devanaguy, foi obrigada<br />

a voltar para o palácio de seu tio, o tirano de Madura. Passo a um trecho inicial e pequeno para<br />

mostrar outra coincidência nas vidas <strong>do</strong> reforma<strong>do</strong>r indiano e <strong>do</strong> reforma<strong>do</strong>r judeu, trecho este <strong>do</strong><br />

capítulo XI <strong>do</strong> título “A palavra de Deus se cumpre - Nascimento de Cristna - Perseguições <strong>do</strong><br />

tirano de Madura - Matança de to<strong><strong>do</strong>s</strong> varões nasci<strong><strong>do</strong>s</strong> na mesma noite que Crisma (segun<strong>do</strong> o<br />

Bagavad-Gîtâ e as tradições bramânicas)”. Ei-lo:<br />

Certa tarde em que a virgem orava, uma música celestial começou de repente a encantar os<br />

seus ouvi<strong><strong>do</strong>s</strong>, a sua prisão ficou iluminada e Vishnu apareceu em to<strong>do</strong> o esplen<strong>do</strong>r de sua<br />

divina majestade. Devanaguy caiu em profun<strong>do</strong> êxtase e ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> obumbrada, segun<strong>do</strong><br />

a expressão sânscrita, pelo Espírito de Deus, concebeu.<br />

O perío<strong>do</strong> de sua gravidez transcorreu para ela em um encantamento perpétuo. O menino<br />

divino proporcionava à sua mãe prazeres infinitos que lhe faziam esquecer a Terra, seu<br />

cativeiro e até a sua existência.<br />

Na noite da iluminação de Devanaguy, quan<strong>do</strong> o recém-nasci<strong>do</strong> dera o seu primeiro vagi<strong>do</strong>,<br />

forte vento fez uma abertura nos muros da prisão e a virgem e seu filho foram conduzi<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

por um envia<strong>do</strong> de Vishnu a um aprisco pertencente a Nanda, seu parente, situa<strong>do</strong> nos<br />

confins <strong>do</strong> território <strong>do</strong> rajá de Madura”.<br />

Este último, quan<strong>do</strong> teve notícia <strong>do</strong> parto e da fuga maravilhosa de sua sobrinha, foi preso<br />

de um furor indescritível e, em lugar de compreender que era inútil lutar contra o Senhor e<br />

pedir perdão, resolveu perseguir, por to<strong><strong>do</strong>s</strong> os meios possíveis, o filho de Devanaguy e<br />

fazê-lo morrer, acreditan<strong>do</strong> evitar com isto a sorte que o ameaçava.<br />

Ten<strong>do</strong> ti<strong>do</strong> um novo sonho que o advertia, de uma maneira precisa, <strong>do</strong> castigo que o esperava,<br />

“ordenou a matança, em to<strong><strong>do</strong>s</strong> os seus esta<strong><strong>do</strong>s</strong>, <strong><strong>do</strong>s</strong> meninos nasci<strong><strong>do</strong>s</strong> durante a<br />

noite em que Cristna veio ao mun<strong>do</strong>”, pensan<strong>do</strong> desta maneira atingir seguramente<br />

quem, se-gun<strong>do</strong> o seu pensamento, deveria mais tarde derrubá-lo <strong>do</strong> trono. (Os grifos estão<br />

no original).<br />

O capítulo XII “Cristna começa a pregar a nova lei - Seus discípulos: Arjuna, seu mais<br />

ar<strong>do</strong>roso colabora<strong>do</strong>r”, começa dizen<strong>do</strong> que “Cristna contava apenas dezesseis anos quan<strong>do</strong> deixou<br />

a companhia de sua mãe e de seu parente Nanda e se pôs a percorrer a Índia pregan<strong>do</strong> a nova<br />

<strong>do</strong>utrina”.<br />

Planeta, revista bem informada e de ótimos artigos, em seu n° 76 publicou um artigo<br />

intitula<strong>do</strong> “Só os deuses são filhos de virgens”. Pois bem, num certo trecho lê-se o seguinte:<br />

“Quanto à concepção virginal, há um aspecto interessante pela similitude existente entre<br />

diversas religiões e lendas em relação <strong>aos</strong> seres míticos: estes quase sempre são filhos de<br />

mães virgens, que conceberam por obra de alguma entidade superior ou através de contatos<br />

com elementos naturais”.<br />

Dito artigo termina com uma interrogação. Ei-la: “Que podem significar tantas<br />

coincidências? Na opinião <strong><strong>do</strong>s</strong> estudiosos, elas mostram apenas que muitas das tradições<br />

cristãs são, na verdade, muito mais antigas <strong>do</strong> que o próprio Cristianismo. Para outros,<br />

essas coincidências mostram apenas que o anúncio da vinda <strong>do</strong> Filho <strong>do</strong> Senhor é tão<br />

antigo que remonta às próprias origens da civilização, de mo<strong>do</strong> que onde parece haver<br />

coincidências existe apenas confirmação de que um dia o Messias viria para salvar a<br />

humanidade. Enfim, coincidências ou confirmações, quem pode saber?”<br />

Com base em tantas dúvidas e interrogações, chegou-se a criar um <strong>Jesus</strong> que, além de<br />

filho de virgem, era um ser fluídico, surgin<strong>do</strong> daí uma hipótese que dividiu para sempre um<br />

movimento que deveria ter unidade, como ninguém ignora ou não quer ignorar.<br />

90


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Em que ano nasceu <strong>Jesus</strong>?<br />

<strong>Abaixo</strong> transcrevemos grande parte <strong>do</strong> notável estu<strong>do</strong> publica<strong>do</strong> no “Diário de Notícias”,<br />

de 11-1-1953, pelo Sr. Roberto G. Bratcher, que replica as opiniões emitidas por um outro culto<br />

estudioso de tais assuntos:<br />

Deve ser esclareci<strong>do</strong>, desde logo, que a opinião <strong><strong>do</strong>s</strong> eruditos bíblicos é que Dionisius Exiguus,<br />

o monge <strong>do</strong> século VI que introduziu o sistema cristão de datas, errou nos seus cálculos <strong>do</strong><br />

nascimento de Nosso Senhor <strong>Jesus</strong>-Cristo. Em vez de 754 A.U.C. (ab Urbe condita, isso é,<br />

“da fundação de Roma”), Cristo nasceu no ano 749 A.U.C., mais ou menos, isto é, em vez<br />

<strong>do</strong> Cristo ter nasci<strong>do</strong> no ano 1 da era cristã, ele nasceu no 5 (ou 6) a.C. - por absur<strong>do</strong> que<br />

pareça. Diga-se logo, entretanto, que o aparente absur<strong>do</strong> não é culpa <strong><strong>do</strong>s</strong> Evangelistas,<br />

senão de Dionisius Exiguus, que errou nos seus cálculos.<br />

Como diz o cônego Heládio Correia Laurini, no seu estu<strong>do</strong> sobre cronologia neo-testamentária<br />

em “Introdução Geral ao Novo Testamento” 1 : “Dionisio, o Exíguo, instituiu a contagem<br />

da era cristã com erro enorme: datou para o nascimento de <strong>Jesus</strong> o dia 25 de<br />

Dezembro <strong>do</strong> ano 753 ‘ab Urbe condita’ ou da fundação de Roma. Ora bem, como<br />

<strong>Jesus</strong> nasceu ‘nos dias <strong>do</strong> rei Herodes (o Grande)’, e Herodes morreu em Março ou<br />

Abril <strong>do</strong> ano 750, como está bem demonstra<strong>do</strong>, o fato miraculoso se deu pelo<br />

menos 4 anos antes <strong>do</strong> ano 753. (pág. 351)<br />

Diz ainda o cônego Laurini: “Parece que o ano que oferece as maiores probabilidades<br />

é o 747 de Roma e 7 a.C., isto é, antes da era cristã erroneamente marcada por Dionísio e<br />

seguida ainda hoje. ‘La Sacra Bíblia’, <strong>do</strong> Instituto Bíblico de Roma, prefere o ano 5 a.C. ou 5".<br />

(pág. 352)<br />

Não é necessário multiplicar citações para demonstrar que os eruditos bíblicos católicos<br />

e protestantes rejeitam o cálculo <strong>do</strong> monge Exíguo como errôneo.<br />

Examinemos, portanto, as passagens citadas, para ver o que revelam quanto à data <strong>do</strong><br />

nascimento <strong>do</strong> nosso Senhor.<br />

1. Lucas, I, 5: “Nos dias de Herodes, rei da Judéia”. Herodes, o Grande, era filho de<br />

Antipater, o Idumeu, o qual fora feito procura<strong>do</strong>r da Judéia por Júlio César, no ano 47 a.C. (707<br />

A.U.C.). Até aqui o articulista acerta. Erra, entretanto, ao afirmar que Antipater morreu no ano 37<br />

a.C. (717 A.U.C.). Antipater morreu envenena<strong>do</strong> no ano 43 a.C. (711 A.U.C.) 2 .<br />

Herodes, o Grande, foi feito rei pelos romanos no ano 40 a.C. (714 A.U.C.), mas levou<br />

3 anos para derrotar Antígono, o rei-sacer<strong>do</strong>te macabeu, e seus alia<strong><strong>do</strong>s</strong>, os Partas. Foi, portanto,<br />

no ano 37 a.C. (717 A.U.C.) que Herodes começou a reinar sobre a Judéia. Morreu em Março ou<br />

Abril <strong>do</strong> ano 4 a.C. (750 A.U.C.)<br />

Pergunta o articulista: “Como foi possível tu<strong>do</strong> isso (relata<strong>do</strong> nos Evangelhos de Mateus<br />

e Lucas a respeito de Herodes), se já tinha faleci<strong>do</strong> 4 anos antes?” A resposta é óbvia: tu<strong>do</strong> isso<br />

foi possível porque ele não havia faleci<strong>do</strong> 4 anos antes. O erro não é <strong>do</strong> Evangelista: como diria ele<br />

que Herodes fizera tu<strong>do</strong> aquilo depois de morto? O erro é <strong>do</strong> monge Exíguo, o qual calculou que<br />

Cristo nasceu em 754 A.U.C. Mas, como to<strong><strong>do</strong>s</strong> concordam, Herodes morreu no ano 750 A.U.C.:<br />

é evidente, portanto, que Cristo nasceu pelo menos alguns meses, ou até anos, antes da morte de<br />

Herodes - lá pelo ano 5 a.C. (749 A.U.C.), ou antes. Não culpemos o Evangelista <strong>do</strong> erro que cabe<br />

ao monge, fazen<strong>do</strong> seus cálculos cinco séculos depois.<br />

1 Bíblia Sagrada: Versão Clássica <strong>do</strong> Padre Antônio de Figueire<strong>do</strong>, vol. XV, págs. 351-357.<br />

2 EMIL SCHURER - A History of the Jewish People in the Time of <strong>Jesus</strong> Christ, Divisão I, vol. 1, pág. 386 (cfs.<br />

Josefo, Antiguidades, XIV, 11, 4, e Guerra <strong><strong>do</strong>s</strong> Judeus, II, 11, 4.)<br />

91


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

2. Lucas, II, 1 e 2: “Naqueles dias foi publica<strong>do</strong> um decreto de César Augusto,<br />

convocan<strong>do</strong> toda a população <strong>do</strong> Império para recensear-se. Este, o primeiro recenseamento,<br />

foi feito quan<strong>do</strong> Quirínio era governa<strong>do</strong>r da Síria”.<br />

Foi esse recenseamento de César Augusto que levou José e Maria a Belém para se<br />

alistarem, pois ele era da casa e família de David. Enquanto estavam em Belém, <strong>Jesus</strong> nasceu.<br />

Objeta o articulista a essa nota cronológica, dizen<strong>do</strong> que o recenseamento foi ordena<strong>do</strong><br />

no ano 760 A.U.C. (7 d.C.). O articulista parece desconhecer a obra monumental <strong>do</strong> famoso<br />

historia<strong>do</strong>r e arqueólogo inglês, Sir William Ramsay, o qual provou a exatidão histórica dessa nota<br />

cronológica em Lucas, II, 1 e 2. Ramsay, nos seus livros3 , demonstrou que os recenseamentos se<br />

davam periodicamente de 14 em 14 anos. O <strong>do</strong> ano 760 A.U.C. (7 d.C.) foi um deles: o mesmo<br />

Evangelista Lucas faz referência a esse recenseamento em Atos, V. 37. Teria dito ele que <strong>Jesus</strong><br />

nasceu no tempo deste recenseamento? Teria si<strong>do</strong> uma contradição flagrante.<br />

Pelo contrário, Lucas estabelece a diferença entre os <strong>do</strong>is dizen<strong>do</strong> cuida<strong><strong>do</strong>s</strong>amente que<br />

o recenseamento <strong>do</strong> tempo <strong>do</strong> nascimento de <strong>Jesus</strong> foi o primeiro, quan<strong>do</strong> Quirínio era governa<strong>do</strong>r<br />

da Síria. Ramsay mostra ainda, por meio de inscrições históricas, que Quirínio foi governa<strong>do</strong>r da<br />

Síria duas vezes. Foi durante o seu segun<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de governo que se deu o recenseamento <strong>do</strong><br />

ano 760 A.U.C. (7 d.C.). O recenseamento anterior, quan<strong>do</strong> <strong>Jesus</strong> nasceu, teria si<strong>do</strong> ordena<strong>do</strong> no<br />

ano 746 A.U.C. (8 a.C.), quatorze anos antes. É fácil ver-se que, por uma ou outra razão, teria<br />

havi<strong>do</strong> alguma demora antes que o recenseamento fosse leva<strong>do</strong> a efeito nas províncias, especialmente<br />

na Palestina, onde o representante <strong><strong>do</strong>s</strong> romanos sempre tinha que tratar com muito cuida<strong>do</strong> os<br />

seus súditos rebeldes. Portanto, não há nada que milite contra a suposição de que esse primeiro<br />

recenseamento se efetuou na Palestina um ou <strong>do</strong>is anos depois de ordena<strong>do</strong>, isso é, 746-748<br />

A.U.C. (8-6 a.C.). Portanto, a data, em geral, concorda com a anterior.<br />

3. Lucas, III, 1 e 23. “No décimo quinto ano <strong>do</strong> reina<strong>do</strong> de Tibério César - tinha<br />

<strong>Jesus</strong> cerca de trinta anos ao começar o seu ministério”.<br />

Augusto morreu em 29 de Agosto, 167 A.U.C. (14 d.C.), sen<strong>do</strong> sucedi<strong>do</strong> por Tibério, o<br />

qual reinou, portanto, de 14 d.C. até 37 da nossa era. O 15° ano <strong>do</strong> seu reina<strong>do</strong> seria 781-782<br />

A.U.C. (28-29 d.C.): se <strong>Jesus</strong> tinha, nessa data, cerca de <strong>30</strong> anos, há lugar para uma variação de<br />

3 ou 4 anos: como diz o cônego Laurini, ele poderia ter de 28-32 anos de idade. Nesse caso, a data<br />

<strong>do</strong> seu nascimento cairia entre 750-754 A.U.C. (4 a.C. - 1 d.C.).<br />

Mas, é mais provável que Lucas data o 15° ano de Tibério, não da morte de Augusto,<br />

mas <strong>do</strong> começo <strong>do</strong> co-reina<strong>do</strong> de Tibério com Augusto, 2 anos antes da morte deste. Pois, conforme<br />

o testemunho <strong><strong>do</strong>s</strong> historia<strong>do</strong>res Tácito e Suetônio, Tibério partilhou <strong>do</strong> reina<strong>do</strong> com Augusto uns<br />

<strong>do</strong>is anos antes da morte de Augusto em 767 A.U.C.<br />

Fazen<strong>do</strong>, pois, os mesmos cálculos, conclui-se que, segun<strong>do</strong> essa passagem, <strong>Jesus</strong><br />

nasceu entre 748-752 A.U.C. (6-2 a.C.). Novamente, essa data concorda com as duas anteriores.<br />

Esse breve estu<strong>do</strong> demonstra, portanto, que nas três passagens Lucas concorda em<br />

afirmar que <strong>Jesus</strong>-Cristo nasceu entre os anos 747-752 A.U.C., a saber, de 7-2 a.C. A maioria <strong><strong>do</strong>s</strong><br />

eruditos prefere os anos 748-749 A.U.C., isto é, 6 ou 5 a.C., como o ano em que <strong>Jesus</strong> nasceu.<br />

Ninguém - e repetimos - ninguém exige <strong><strong>do</strong>s</strong> historia<strong>do</strong>res antigos, nem mesmo <strong><strong>do</strong>s</strong> bíblicos,<br />

a precisão científica com que se datam os eventos de hoje em dia. Para tanto não tinham nem os<br />

recursos, nem o interesse. Dizer que “pouco se incomodaram com a verdade histórica de suas<br />

narrações” por não revelarem eles essa precisão <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r moderno, é, patentemente, uma<br />

decisão arbitrária e injusta.<br />

3 WILLIAM RAMSAY - Was Christ Born at Bethlehem?, e Bearing of Recent Discovery on the Trustworthiness of the New<br />

Testament.<br />

92


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Afinal de contas, qual é o propósito <strong>do</strong> autor bíblico nessas três passagens? É o de fixar<br />

o ano em que <strong>Jesus</strong> nasceu? De maneira alguma. Na primeira passagem Lucas assevera que<br />

<strong>Jesus</strong> nasceu quan<strong>do</strong> Herodes, o Grande, era rei da Judéia. Certo ou erra<strong>do</strong>? To<strong><strong>do</strong>s</strong> concordam<br />

que ele está certo. Na segunda passagem ele relata que foi um recenseamento, durante o tempo<br />

em que Quirínio era governa<strong>do</strong>r da Síria, que trouxe Maria e José a Belém, onde <strong>Jesus</strong> nasceu.<br />

Está certo o historia<strong>do</strong>r bíblico? As descobertas arqueológicas dizem que sim. Na terceira passagem<br />

o autor afirma que <strong>Jesus</strong>, com cerca de <strong>30</strong> anos de Idade, começou o seu ministério no 15° ano <strong>do</strong><br />

reina<strong>do</strong> de Tibério4 . Incorre em erro o autor sagra<strong>do</strong>? Não. Portanto, o valor histórico <strong>do</strong> seu relato<br />

não pode ser impugna<strong>do</strong>: pois a erudição bíblica moderna tem demonstra<strong>do</strong> serem autênticas<br />

todas as três asseverações.<br />

Nós, leitores <strong>do</strong> 20º século, é que perguntamos: coincidem essas notas cronológicas no<br />

seu testemunho quanto à data <strong>do</strong> nascimento <strong>do</strong> Cristo? E a resposta é que, em linhas gerais,<br />

elas, de fato, coincidem, dentro de um perío<strong>do</strong> de 4 a 5 anos.<br />

Lucas, portanto, está vindica<strong>do</strong> pela erudição bíblica quanto à exatidão histórica com<br />

que relata os fatos. Suas asseverações não são, absolutamente, discordantes: não procede, portanto,<br />

a alegação de que ele cita “três épocas diferentes para sua narração <strong>do</strong> nascimento de <strong>Jesus</strong>”,<br />

ou de que há uma diferença de 10 anos entre as datas. Diga-se de passagem, aliás, que desde as<br />

investigações minuciosas e demoradas de Harnack, Ramsay e Streeter, poucos são os críticos<br />

bíblicos que se atrevem a atacar a historicidade <strong>do</strong> autor <strong>do</strong> 3° Evangelho. Descoberta após<br />

descoberta têm comprova<strong>do</strong> a verdade <strong>do</strong> que ele próprio afirma ter feito: “uma acurada<br />

investigação de tu<strong>do</strong> desde sua origem”.<br />

Mais duas observações:<br />

1. Marcos VI, 14, não se refere a Arquelau, e sim a Herodes Ántipas, tetrarca da Galiléia<br />

e Peréia. Nem um nem o outro recebeu o título de rei. A expressão “rei Herodes”<br />

nessa passagem é usada no senti<strong>do</strong> lato de “governa<strong>do</strong>r” (conferir ainda VI, 22, 25-<br />

27). Até o evangelista Mateus, que usa o título exato de “tetrarca” (XIV, I), em outro<br />

lugar usa o termo “rei” (XIV, 9). Portanto, não causa espécie que Marcos faça uso <strong>do</strong><br />

título.<br />

2. As palavras de Lucas no prefácio <strong>do</strong> seu Evangelho (Lucas, I, 3, 4), quanto à maneira<br />

em que fez suas investigações, de maneira alguma invalidam, ou mesmo afetam, a<br />

<strong>do</strong>utrina que o articulista denomina “a suposta e imposta inspiração da Bíblia”.<br />

Nenhuma formulação da <strong>do</strong>utrina da inspiração da Bíblia nega o elemento humano<br />

na composição das Escrituras Sagradas. Não há lugar aqui para desenvolver o<br />

ensino sobre a inspiração das Escrituras: mas não é com um aparte superficial e<br />

capcioso que crítico qualquer eliminará o elemento divino da formação literária da<br />

Bíblia.<br />

Em conclusão, devemos dizer que to<strong><strong>do</strong>s</strong> os estu<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> último meio século, arqueologia,<br />

papirologia, história, paleografia, crítica literária, enfim, todas as disciplinas - têm contribuí<strong>do</strong><br />

para aumentar, e não diminuir, a autoridade das Escrituras. Hoje a Bíblia está em situação muito<br />

mais segura, no que tange à parte histórica, <strong>do</strong> que estava há meio século. A evidência histórica,<br />

em peso, testifica <strong>do</strong> valor histórico das Escrituras, demonstran<strong>do</strong> serem as suas asseverações<br />

dignas de toda a confiança. Outrossim, a experiência desse último meio século demonstra,<br />

sobejamente, que o texto original da Bíblia resiste, impávi<strong>do</strong>, a todas as tentativas de apoucá-lo ou<br />

desprestigiá-lo”.<br />

4 Cumpre notar que, a rigor, a data mencionada é a <strong>do</strong> início <strong>do</strong> ministério de João Batista; presume-se, entretanto,<br />

que João tenha prega<strong>do</strong> e batiza<strong>do</strong> uns 6-12 meses antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong> ministério <strong>do</strong> Messias. O 15º ano de Tibério,<br />

portanto, marcaria o início <strong><strong>do</strong>s</strong> ministérios de João Batista e <strong>do</strong> Cristo.<br />

93


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Nascimento de <strong>Jesus</strong> e a Astrologia<br />

O artigo, cuja tradução em português se vai ler, é da autoria <strong>do</strong> Sr. Frederick Bligh<br />

Bond, antigo redator de The Journal of the American Society for Psychical Research e pessoa<br />

mundialmente conhecida, não necessitan<strong>do</strong>, pois, de apresentação. É de notar-se também que<br />

The Journal era uma publicação científica nada espetaculosa.<br />

O artigo <strong>do</strong> Sr. Bligh Bond é referente a um escrito automático dita<strong>do</strong> por Felipe, um<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> discípulos de <strong>Jesus</strong>-Cristo, dan<strong>do</strong> as posições planetárias exatas no instante <strong>do</strong> nascimento<br />

<strong>do</strong> Mestre, permitin<strong>do</strong>, pela primeira vez, uma determinação de data e hora. Os detalhes forneci<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

pelo desencarna<strong>do</strong> foram formalmente verifica<strong><strong>do</strong>s</strong> pela astrologia científica.<br />

Salientamos que The Journal era um órgão nada espetaculoso pelo seguinte. Há, no<br />

escrito de Felipe, um detalhe curiosíssimo: é quan<strong>do</strong> ele afirma que o nascimento de <strong>Jesus</strong>, em<br />

Belém, foi no verão e não no inverno. 25 de dezembro, como data <strong>do</strong> nascimento dele, era<br />

desconheci<strong>do</strong> nos três primeiros séculos de nossa era. Esta data foi oficialmente aceita, pela<br />

primeira vez, em 353, sob o reina<strong>do</strong> <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r Constantino. Diz-se que dezembro é a época das<br />

chuvas na Palestina, que a escolha <strong>do</strong> dia 25 de dezembro para o Natal e o ano que nós empregamos<br />

no calendário foi fixa<strong>do</strong> por um astrônomo russo em 534, depois de <strong>Jesus</strong>-Cristo e que este dia é<br />

a primeira data que a observação pode determinar como sen<strong>do</strong> a volta <strong>do</strong> Sol depois <strong>do</strong> solstício <strong>do</strong><br />

inverno.<br />

Quanto às últimas palavras <strong>do</strong> autor, reproduzimo-las aqui:<br />

Certos detalhes <strong><strong>do</strong>s</strong> ciclos planetários são conheci<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> astrônomos e esses detalhes<br />

não se encontram em nenhum livro de uso corrente entre o público, salvo, talvez, entre os<br />

discípulos modernos <strong>do</strong> culto da astrologia, os quais, por seus próprios estu<strong><strong>do</strong>s</strong>, podem<br />

atribuir-lhes um significa<strong>do</strong> especial.<br />

A revelação de um fato astronômico detalha<strong>do</strong>, absolutamente desconheci<strong>do</strong> e incognoscível<br />

à médium receptora, que foi, porém, verifica<strong>do</strong> mais tarde por astrônomo profissional,<br />

pode muito bem ser considera<strong>do</strong> como uma revelação de origem supranormal ou pode<br />

indicar a posse de uma faculdade psíquica como meio de informação extraterrestre. Atribuir<br />

tal fato à coincidência é uma explicação que não é mais sustentável.<br />

O incidente, que desejo pôr em evidência, possui um interesse to<strong>do</strong> especial em razão das<br />

suas relações históricas, sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong> ponto de vista de uma exegese da própria Bíblia. É<br />

relativa à questão da Natividade de <strong>Jesus</strong> e ele poderá servir para determinar esse ponto,<br />

em controvérsia, de saber em qual data deve começar a Era Cristã.<br />

Durante os anos de 1924 e 1925, empreendi uma série de sessões, por meio da escrita<br />

automática, com a médium Sra. Hester Dowden. Essas sessões tinham por fim uma questão<br />

de pesquisas arqueológicas, pois o nosso grande desejo era o de obter uma informação<br />

precisa sobre a fundação da região sagrada de Glastenbury, na Inglaterra, e de localizar<br />

ali edifícios construí<strong><strong>do</strong>s</strong> em tempos imemoriais, mas, como sói acontecer tantas vezes em<br />

trabalhos dessa espécie, as comunicações tomaram um caminho novo e inespera<strong>do</strong>.<br />

Achamo-nos afasta<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> medieval e postos em relação com as condições dessa<br />

idade nebulosa na ocasião em que se estabeleceu a primeira missão apostólica na Grã-<br />

Bretanha, perío<strong>do</strong> em que a tradição e a lenda são os únicos guias, pois esse tempo recua<strong>do</strong><br />

não possui a sua história.<br />

94


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

O espírito comunicante, que se dizia ser um jovem grego chama<strong>do</strong> Felipe, informou-nos<br />

que ele foi um <strong><strong>do</strong>s</strong> membros de um grupo de <strong>do</strong>ze missionários contemporâneos de <strong>Jesus</strong>,<br />

grupo esse que fun<strong>do</strong>u a primeira igreja cristã da Grã-Bretanha, em Avalon (Glastenbury).<br />

Esse grupo estava sob a direção paternal de José de Arimatéia e o seu estabelecimento em<br />

Glastenbury se deu acerca de 47 anos depois de <strong>Jesus</strong>-Cristo.<br />

De acor<strong>do</strong> com uma lenda muito espalhada, conta-se que o apóstolo Felipe visitou a Grã-<br />

Bretanha e que foi ele quem evangelizou a Ilha, porém o nosso informante declarou,<br />

firmemente, que ele não tinha direito algum de ser chama<strong>do</strong> apóstolo e, finalmente, nos<br />

informou ainda que ele era o jovem diácono menciona<strong>do</strong> nos Atos <strong><strong>do</strong>s</strong> Apóstolos como um<br />

<strong><strong>do</strong>s</strong> sete escolhi<strong><strong>do</strong>s</strong> para o serviço das mesas sacramentais.<br />

As comunicações, que se seguiram, formam um jornal de viagens missionárias de Felipe e<br />

constituirá um livro de muito grande interesse, sen<strong>do</strong> de narração vivente e de um estilo<br />

vivo e colori<strong>do</strong>.<br />

Para o fim <strong>do</strong> dita<strong>do</strong> desse jornal e pela pena da médium psicógrafa, o espírito comunicante<br />

perguntou-nos: “Quereis aceitar o meu dita<strong>do</strong> <strong>do</strong> Evangelho que eu tinha escrito na Samaria,<br />

atualmente perdi<strong>do</strong>, pois que o manuscrito foi queima<strong>do</strong> em Atenas, durante aqueles anos<br />

cheios de perturbação?”<br />

Era eu quem devia decidir e desnecessário é dizer que achei útil e interessante consagrar<br />

um tempo suficiente para receber a versão <strong>do</strong> seu Evangelho. Pouco tempo depois recebiase,<br />

em sessões sucessivas, um Evangelho completo5 .<br />

Nele se acha incluída uma narração, feita por Felipe, <strong><strong>do</strong>s</strong> acontecimentos relativos à<br />

Natividade de <strong>Jesus</strong>, que lhe foram conta<strong><strong>do</strong>s</strong> por outra pessoa. O próprio Felipe não era<br />

então nasci<strong>do</strong>, pois tinha apenas 17 anos por ocasião da crucificação.<br />

Neste artigo só me ocupo da versão dada por Felipe com relação à Natividade. Ele fala de<br />

uma grande estrela errante que foi o arauto dela. Insiste sobre o fato de que não é preciso<br />

fazer confusão entre essa estrela errante e a verdadeira constelação ou agrupamento de<br />

planetas no signo zodiacal em acor<strong>do</strong> com a realização das profecias que anunciavam o<br />

nascimento de um Messias na geração de David. Esse agrupamento de planetas, disse ele,<br />

tinha si<strong>do</strong> calcula<strong>do</strong> e, deste mo<strong>do</strong>, sábios e profetas aguardavam -impacientemente o<br />

momento indica<strong>do</strong>.<br />

Neste ponto é que a narração de Felipe toma maior interesse. Afirma ele que o nascimento<br />

de <strong>Jesus</strong>, em Belém, teve lugar no verão e não no inverno e compreendemos que o ano era<br />

anterior à data correntemente empregada.<br />

Com meticuloso cuida<strong>do</strong>, o nosso comunicante descreveu-nos a forma da constelação como<br />

sen<strong>do</strong> a de uma cruz, cujo pilar central era forma<strong>do</strong> por três planetas em linha vertical: a<br />

Lua no alto, Marte no meio e Vênus embaixo. Esses três corpos celestes se encontram no<br />

signo de Caranguejo (Câncer), cujas estrelas principais formavam os <strong>do</strong>is braços de uma<br />

cruz.<br />

O signo de Câncer, disse ele, era visível antes d’alva para o Leste, acima de Jerusalém, e<br />

a configuração era exata uma hora antes da alvorada.<br />

Pela mão da Sra. Dowden, a médium escrevente, Felipe desenhou a configuração, indican<strong>do</strong><br />

os pontos principais.<br />

A 24 de novembro de 1924, a mesma entidade comunicante escrevia: “As estrelas visíveis,<br />

naquela ocasião, eram cinco e este número formava a constelação. A hora era a <strong>do</strong><br />

Caranguejo. Achareis as estrelas como as desenhei, mas não tão exatamente, pois agora<br />

elas estão um pouco mais afastadas umas das outras.<br />

5 Esse Evangelho foi publica<strong>do</strong> com o texto completo por The Macoy Publishing Co., de New York, USA, (N.A.)<br />

95


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

Eu ignorava totalmente o agrupamento das estrelas no signo de Câncer e foi com certo<br />

espanto que verifiquei que este signo estava no céu, a Leste, pela manhã, durante o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> ano<br />

indica<strong>do</strong> por Felipe.<br />

Pesquisan<strong>do</strong> em um grande planisfério, achei os <strong>do</strong>is grupos de estrelas no Câncer,<br />

quase nas mesmas posições que Felipe as desenhara. É preciso notar que, nessa constelação,<br />

o grupo de estrelas à direita ou sobre o braço sul da cruz é o mais importante: era aquele outrora<br />

chama<strong>do</strong> “Presépio” ou “Creche” pelos romanos.<br />

Este fato curioso foi comenta<strong>do</strong> por Felipe da seguinte maneira: “Na verdade foi isto que<br />

se escreveu a propósito <strong>do</strong> nascimento de <strong>Jesus</strong>. Compreendeis que to<strong><strong>do</strong>s</strong> os grandes acontecimentos<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> estão escritos no céu. Assim, o nascimento na creche estava escrito no céu por ocasião<br />

<strong>do</strong> nascimento de <strong>Jesus</strong>”.<br />

Segun<strong>do</strong> indicações dadas por Felipe, a hora <strong>do</strong> nascimento foi aquela em cujo momento<br />

a Lua formava exatamente uma linha reta com os <strong>do</strong>is planetas Marte e Vênus, estan<strong>do</strong> Marte<br />

entre os <strong>do</strong>is agrupamentos de estrelas no Câncer.<br />

Os elementos determinantes na narração de Felipe, considera<strong><strong>do</strong>s</strong> friamente, <strong>do</strong> ponto<br />

de vista da ciência astronômica, são os seguintes:<br />

1° - Indicou-nos o signo zodiacal ascendente, apropria<strong>do</strong> ao perío<strong>do</strong> de ano <strong>do</strong> qual me<br />

falou e isto para um ano bastante perto daquele historicamente aceito;<br />

2° - Indicou-nos as posições da Lua e de Vênus na justa proporção <strong><strong>do</strong>s</strong> seus movimentos<br />

naquela época;<br />

3° - Deu-nos detalhes precisos e inteiramente extraordinários concernentes às posições<br />

das estrelas <strong>do</strong> signo de Câncer, detalhes esses para nós inteiramente desconheci<strong><strong>do</strong>s</strong><br />

e mais tarde verifica<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />

Muito tempo depois <strong>do</strong> recebimento deste dita<strong>do</strong>, achamo-nos em dificuldades para<br />

determinar as datas aproximativas às quais uma tal configuração teria podi<strong>do</strong> apresentar-se durante<br />

alguns anos anteriores à data 1 depois de J.C..<br />

Não tínhamos competência alguma em Astronomia e não podíamos mesmo saber se era<br />

possível a esses planetas estarem em linha reta justa da maneira indicada durante o dito ano. A<br />

questão era muito complexa e não podia ser resolvida senão por pesquisas e cálculos especiais e a<br />

decisão final não podia ser dada senão por um sábio competente no mun<strong>do</strong> astronômico.<br />

Também não estamos em posição de afirmar que o nosso informante extraterrestre<br />

tivesse podi<strong>do</strong> transmitir tu<strong>do</strong> que nos quisesse dizer, com bastante exatidão.<br />

Mesmo consideran<strong>do</strong> os dita<strong><strong>do</strong>s</strong> de Felipe com boa fé e conceden<strong>do</strong>-lhes uma perfeita<br />

veracidade, é claro que a tarefa de transmitir detalhes de acontecimentos temporais deve ser de<br />

extrema dificuldade e isto ainda mais quan<strong>do</strong> a questão de tempo aí se acha. Esta dificuldade sói<br />

acontecer constantemente em experiências psíquicas e principalmente em se tratan<strong>do</strong> de recordações<br />

de um tempo há muito passa<strong>do</strong>.<br />

O acontecimento essencial fica na memória, mas as condições de tempo, de lugar e das<br />

circunstâncias atinentes desaparecem ou se tornam de uma importância de tal mo<strong>do</strong> diminuta<br />

que não se pode recordar delas com precisão. Grande foi a nossa satisfação quan<strong>do</strong>, por intermédio<br />

de um amigo, um <strong><strong>do</strong>s</strong> maiores astrônomos da América <strong>do</strong> Norte, aceitou o encargo de fazer pesquisas<br />

especiais baseadas na narração de Felipe e de controlar to<strong><strong>do</strong>s</strong> os detalhes <strong>do</strong> seu traça<strong>do</strong>. Fizeramse<br />

pesquisas e, ainda que o astrônomo tenha preferi<strong>do</strong> ficar incógnito, ele nos enviou as suas<br />

conclusões por escrito.<br />

Podemos dar um sumário de tais conclusões da seguinte maneira:<br />

96


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> <strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>13</strong> <strong>aos</strong> <strong>30</strong> <strong>Anos</strong><br />

A configuração indicada no escrito de Felipe teve lugar no dia 27 de setembro de<br />

67 antes de Cristo. 6<br />

Esta combinação é cíclica e a tríplice conjunção pode-se fazer uma vez to<strong><strong>do</strong>s</strong> os 31 anos<br />

e 4/10 em média, mas nem sempre com uma tal perfeição. Esta configuração ou constelação pôde<br />

ser visível, em uma forma reconhecível, talvez uma centena de vezes depois de cada data. É<br />

interessante notar que ela teve lugar neste ano de 1932 e se achou, em uma forma bastante<br />

perfeita, na manhã de 29 de agosto.<br />

O que nos interessa aqui, principalmente, é a verificação, rigorosamente científica, de<br />

detalhes que se revelaram curiosamente precisos e ten<strong>do</strong> como origem a escrita automática<br />

proveniente de um desencarna<strong>do</strong>.<br />

Deixamos <strong>aos</strong> nossos leitores a inteira liberdade de considerar os aspectos simbólicos<br />

ou interpretativos desta informação e de sua verificação a respeito de tu<strong>do</strong> acima, pois também<br />

não sou astrônomo.<br />

.·.<br />

6 Este emprego de <strong>do</strong>is algarismos pode ocasionar confusão <strong>aos</strong> nossos leitores que não estão ao corrente da cronologia.<br />

A Era Cristã começa em 1º de janeiro <strong>do</strong> ano 1 depois de <strong>Jesus</strong>-Cristo (e não houve ano 0 depois de <strong>Jesus</strong>-Cristo).<br />

Os astrônomos contam o ano 0 antes de <strong>Jesus</strong>-Cristo, porém os cronologistas chamam esse ano de 1 antes de<br />

<strong>Jesus</strong>-Cristo. Em uso geral, então, o ano da<strong>do</strong> acima, para o nascimento dele, foi o ano 7 antes de <strong>Jesus</strong>-Cristo. Há<br />

poucos anos publicou o matutino carioca “O Dia” uma notícia, proveniente de Paris, sob o título de “Cientista<br />

britânico diz que Cristo nasceu 7 anos antes”. (N.A.)<br />

97

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!