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A Criança Eterna - Faap

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1º Semestre de 2009 Revista FACOM<br />

A <strong>Criança</strong> <strong>Eterna</strong><br />

O artigo retoma a arquetípica figura<br />

do puer aeternus a fim de<br />

discutir a idealização da infância assim<br />

como a valorização de traços ligados à<br />

juventude nas práticas da atualidade, tais como o<br />

individualismo narcísico e hedonista, a incessante<br />

incorporação consumista, a pregnância a imagens<br />

midiáticas fetichizadas e a cultura do excesso. O<br />

texto abordará três tópicos: imaginário da infância,<br />

processo de adolescentização e época de orfandade,<br />

situando-as em relação à crise da estrutura<br />

patriarcal e à transição para o paradigma moderno.<br />

Palavras-Chave: <strong>Criança</strong>, puer aeternus, narcisismo,<br />

função patriarcal, modernidade<br />

Resumo Abstract<br />

Nº21<br />

Maria Lucia Homem<br />

The paper retakes the archetypical figure<br />

of puer aeternus in order to discuss the<br />

idealization of childhood, as well as the<br />

valorization, at the present, of youth<br />

aspects such as narcissistic and hedonist<br />

individualism, endless consumerist<br />

incorporation, bonding to mediatic<br />

images and excess culture. The text<br />

approaches the subject in three topics:<br />

childhood imaginary, ‘adolescentization’<br />

process and orphanhood era, ando also<br />

connecting them to the patriarchal structure<br />

crisis and a modern paradigm transition.<br />

Keywords: Child, puer aeternus, narcissism,<br />

patriarchal function, modernity<br />

“O despertar como um processo gradual que se impõe na vida<br />

do indivíduo como na das gerações. O sono é seu estágio primário.<br />

A experiência de juventude de uma geração tem muito<br />

em comum com a experiência do sonho”.<br />

Walter Benjamin<br />

Passagens, K1,1.<br />

A expressão latina puer aeternus remete à posição daquele que busca permanecer eternamente<br />

como criança ou jovem, recusando-se a aceitar o desenrolar inevitável da vida que, se levada<br />

às suas últimas consequências, se encaminharia na direção de uma vivência relativamente<br />

autônoma até seu fechamento deslocado para a posição do senex, o velho. O processo de<br />

maturação envolveria lidar com o afastamento dos cuidados e eventuais benesses da infância,<br />

mantendo porém sua criatividade e impulso realizador ao longo da idade adulta responsável,<br />

ao mesmo tempo que formando as bases para se alcançar um estágio de sabedoria e desprendimento<br />

ao se aproximar do fim da existência.<br />

Esse desenho do ciclo de maturação e, mais, o entrelaçamento dialético entre estados de puer<br />

e senex, forneceriam as balizas para uma vida de alto grau de densidade psíquica, como vários<br />

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2<br />

Nº21<br />

Revista FACOM 1º Semestre de 2009<br />

buscaram descrever, dos alquimistas a Jung.<br />

O artigo busca refletir sobre esse esquema assim<br />

como sobre a prevalência do lugar do puer<br />

na atualidade. O texto fará isso em três momentos,<br />

abordando a figura da infância, da juventude<br />

e por final a da orfandade, colocando-as em relação<br />

ao declínio da lógica patriarcal e espraiamento<br />

do paradigma moderno. O objetivo é fornecer<br />

elementos para se formular os impasses<br />

que se apresentam nestes nossos tempos de<br />

passagem (como veremos, para algo que não se<br />

constitui).<br />

A forma-criança e o imaginário do paraíso<br />

Puer aeternus é uma figura ela própria quase<br />

eterna. Uma de suas primeiras alusões aparece<br />

nas Metamorfoses de Ovídio, ao se referir a um<br />

deus-criança, fonte de todo impulso e graça.<br />

Uma outra linhagem dessa representação<br />

é a do deus Dionísio, com suas<br />

características ligadas ao prazer, à<br />

extroversão e ao dinamismo.<br />

O que se coloca sobre a representação<br />

da criança, tão fundamental em tantas<br />

culturas e há tanto tempo? Uma coisa<br />

é inegável: o ser criança congrega em<br />

si inúmeras possibilidades, sendo toda ela<br />

potência. Não é à toa que essa continua a ser<br />

uma das imagens que mais comovem o interior<br />

do humano para sempre saudosista de um manancial<br />

inesgotável de potencialidades que, a<br />

cada ano que passa, além de mais velhas, se<br />

revelam mais estreitadas.<br />

A criança carrega consigo a esperança pelo próprio<br />

fato de que podemos dela esperar quase<br />

tudo o que nossa ilusão desejar. O fascínio pelo<br />

ser do infante é antigo, e há muito adorado. A<br />

cada vez que uma criança nasce, diz o vulgo, a<br />

esperança de que os conflitos e problemas insolúveis<br />

do mundo possam se ajustar vem revigorada,<br />

como uma onda insensata trazida pela<br />

força da idéia mestra de que tudo agora pode<br />

ser diferente.<br />

Uma outra pressuposição associada à representação<br />

que os adultos constroem do universo<br />

infantil é de que a vida de criança é um maravilhamento<br />

esvoaçante quase contínuo, período<br />

de graça, leveza e descoberta do mundo. Descoberta<br />

essa que se faria pelo brincar – na via da<br />

construtiva fantasia. E, portanto, ponto importante,<br />

um pouco mais livre do “peso da realidade”<br />

que – como a expressão revela – implicaria<br />

carregar elementos áridos de se entrar<br />

em contato.<br />

Ou seja, na infinidade da rede de polaridades<br />

que formam nosso rico universo<br />

simbólico, achamos por bem contrapor a<br />

leve alegria da criança à dura e monótona<br />

realidade. Ou seja, a doce fantasia infantil<br />

é ambrosia para os olhos e ouvidos dos<br />

humanos adultos e serve para nos proteger,<br />

ao menos por um breve tempo, da<br />

dura rotina e consciência daqueles que<br />

têm de enfrentar todos os dias as entediantes<br />

máquinas e as mais ainda entediantes<br />

pessoas com as quais se convive.<br />

Dessa maneira, sabemos, o lugar da vivência<br />

infantil pode resvalar para o de<br />

um paraíso, aquele que justamente nos<br />

damos conta quando já o perdemos, na<br />

consciência da idade adulta e lamentadora<br />

daquilo que passou e que foi inelutavelmente<br />

perdido.<br />

E aqui, certamente, valem as muitas e<br />

brilhantes páginas de Proust Em busca<br />

do tempo perdido ou os singelos e sintéticos<br />

versos de Ataulfo em Meus tempos<br />

de criança:<br />

“Eu daria tudo que eu tivesse<br />

Pra voltar aos dias de criança<br />

Eu não sei pra que a gente cresce<br />

Se não sai da gente essa lembrança<br />

...<br />

Eu igual a toda meninada<br />

Quanta travessura que eu fazia<br />

Jogo de botões sobre a calçada<br />

Eu era feliz e não sabia”<br />

O tempo mágico nostalgicamente perdido.<br />

Concepção, no entanto, além de ilusória,<br />

perigosa.<br />

Para demonstrar a falácia dessa construção,<br />

bastaria uma breve visita aos consultórios<br />

de psicanalistas que atendem<br />

crianças ou instituições que trabalham<br />

sistematicamente com elas. O que vemos<br />

aí? A infância não se garante como<br />

um locus de alegria e resolução por si<br />

só. Não, ser criança, como ser qualquer<br />

coisa, é sofrimento também, é crise também,<br />

é não-saber também, é pergunta e<br />

angústia também. Qualquer momento da


Divulgação<br />

existência de um ser talvez seja estruturalmente<br />

semelhante, nesse sentido: a cada pedaço de<br />

tempo sua dor e sua delícia, seus dramas e descobertas,<br />

o embate com o espelho na aprendizagem<br />

de cada centímetro do caminho .<br />

Mas, claro que sabemos disso. Em algum nível,<br />

com maior ou menor grau de consciência,<br />

sabemos bem que não se pode paraísar (nem<br />

infernizar) nenhum tempo nem nenhum espaço<br />

do globo, pois esse estratagema se revela frágil<br />

e, em última instância, falso.<br />

No entanto é recorrente a “mania de criancice”<br />

do adulto para o qual a realidade passa a ser<br />

estigmatizada como entediante e não desejada,<br />

enquanto a fantasia ou a virtualidade constituiriam<br />

o melhor dos mundos para se estar, no nãoaqui<br />

e no não-agora. Aliás, essa parece ser uma<br />

posição maníaca (ao mesmo tempo que melancólica)<br />

do adulto: lidar com a perda situando logo<br />

antes da iminência dela algum espetáculo maravilhoso,<br />

paradisíaco, fundante e simultaneamente<br />

desejante, e talvez por isso mesmo inalcançável.<br />

De toda forma, as culturas humanas, há muito<br />

tempo, jamais deixaram de ofertar a si mitos de<br />

origem. Um topos narrativo central desses mitos<br />

aborda a figura de um paraíso que houve em<br />

1º Semestre de 2009 Revista FACOM<br />

Nº21<br />

algum momento anterior e, sim, foi perdido<br />

por conta da besteira insignificante<br />

de algum humano mais afoito ou guloso.<br />

Ou uma humana, como no clássico caso<br />

de uma fêmea e sua maçã. Claro, por vezes,<br />

o paraíso é também longínquo, projetado<br />

não no passado perdido mas num<br />

futuro distante e vago. Sobrevivendo ao<br />

apocalipse, e tendo passado na grande<br />

prova final – onde o ajuízamento se fará<br />

–, alcançarás o paraíso. Ou seja, parece<br />

que uma ‘cota de paraíso’ tem sido<br />

necessária às formações simbólicas humanas<br />

há alguns milênios. No espaço<br />

de uma vida individual, repetimos esse<br />

mecanismo ao projetar o paraíso sobre o<br />

início, a infância, e, no decorrer da existência,<br />

na idéia de que dias melhores<br />

virão – afinal, é em nome deles que me<br />

submeto às situações que por vezes não<br />

são as mais instigantes do mundo.<br />

A forma de se estruturar os preceitos de<br />

valor e consequente comportamento ao<br />

qual damos o nome de cultura (ou ideologia?),<br />

atualmente, nos propõe reiteradamente<br />

a idéia de que esse período de vida<br />

Filme “ O Tambor “<br />

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Nº21<br />

Revista FACOM 1º Semestre de 2009<br />

de fato, é muito bom, e, aliás, é quase tudo o<br />

que almejo: o conforto e a alegria feliz da era da<br />

inocência inconsciente, cuidada e irresponsável.<br />

E também nos reitera a outra idéia, a primeira<br />

alinhada aqui, de que o universo do infante é potencialidade<br />

múltipla, beirando a maravilha criativa<br />

que seria o infinito. Afinal, nada mais difícil,<br />

para o sujeito moderno que reiteramos a cada<br />

vez até os dias de hoje, do que abrir mão da ideia<br />

de que somos nós aqueles que tudo poderemos<br />

inventar, criar, modelar, fazer. Abaixo o tédio de<br />

nossas vidas, pois que minha vida pode vir a ser<br />

outra daqui a um segundo, no espaço de um clic.<br />

Mas aqui talvez haja um problema. Um problema<br />

e um paradoxo. Pois, na medida em que<br />

adentramos mais claramente um determinado<br />

conjunto de práticas para consumo e oferenda,<br />

o pequeno sujeito criança, convidado a servir de<br />

modelo para adultos um pouco em crise, não se<br />

vê à altura de tão hercúlea tarefa. E os próprios<br />

agentes do discurso o percebem, mesmo que<br />

sob os disfarces da valoração da infância.<br />

E um novo deslocamento surge, agora cada vez<br />

mais entranhado nas formas lógicas e históricas<br />

com que nossas organizações sociais nos convidam<br />

a significar e realizar a vida. Sim, queremos<br />

a alegria, a liberdade e o prazer supostos na<br />

infância. Mas como fazer esse ser poder exercer<br />

o seu ser, poder desejar e consumir os objetos<br />

de seus desejos, ou sonhos? A criança, a priori,<br />

tem poucos recursos no que se refere a uma<br />

atividade encarnada no real, posto que, além de<br />

prioritariamente perita no domínio da fantasia, é<br />

dependente – literalmente – da alteridade que<br />

lhe provê o acesso aos objetos do real.<br />

Como resolver o impasse? Simples!<br />

Adolescentize-a.<br />

A juventude eterna<br />

De uma forma ultra-sintética, poderíamos então<br />

afirmar que na atualidade a adolescentização<br />

busca operar a intersecção de dois grandes<br />

campos maiores de nossa cultura: a infância e<br />

o consumo.<br />

O processo passa, inevitavelmente, a operar em<br />

diferentes áreas do vivido. O pequeno sujeito infantil<br />

é convidado a participar de um simulacro e<br />

adentra a miniaturização da práxis adulta.<br />

Destaquemos algumas situações-modelo.<br />

É entregue a ele um pequeno carrinho de supermercado<br />

para fazer suas compras (embora,<br />

Divulgação<br />

obviamente, os pais paguem – o que revela<br />

sua posição de pequeno consumidor<br />

dependente do grande consumidor). A<br />

criança festeja ou frequenta um salão de<br />

beleza para fazer unhas, cabelo e corpo,<br />

pequenos modelos obedientes a naturalizar<br />

a valorização de um dos grandes<br />

objetos narcísicos do contemporâneo, a<br />

imagem do corpo próprio. Também realizará<br />

compras nas mais diversas lojas a<br />

fim de construir seu estilo, “a la adulto”.<br />

Enquanto todo esse aparato lógico se<br />

sustentar, sem dúvida permanecerão inúteis<br />

libelos de especialistas contra algumas<br />

práticas, como ortopedistas discutindo<br />

o uso de salto por meninas de 5 anos<br />

ou sociólogos criticando a sistemática de<br />

“schedules” lotados para os mini-competidores<br />

em sua formação técnica aos 7<br />

anos – de aulas de línguas à máquinas,<br />

passando pelo corpo atlético e vencedor.<br />

A criança poderá, assim, fantasiar seu<br />

universo paralelo destacado da realidade<br />

ao mesmo tempo que passará a possuir<br />

instrumentos mínimos para dela participar,<br />

no veio específico de retirar do real<br />

os objetos necessários para a realização<br />

dos seus desejos, ainda e prioritariamente,<br />

infantis. Infantis, em última instância, no<br />

sentido de ser basicamente um desejo de<br />

apropriação do objeto todo feito para encaixar<br />

em sua figuração fantasística de prazer.


Infantis, também, no sentido de uma relação primordial<br />

com o lugar estrutural materno, aquele que<br />

– imaginariamente – seria pura fonte de leite e mel,<br />

colo doce que magnetiza e seduz os seres que saíram<br />

de suas entranhas.<br />

A representação do materno é das mais complexas<br />

do sistema simbólico, uma vez que parte de<br />

uma polarização entre cuidado e conforto, de um<br />

lado, e, de outro, poder e sedução nas raias do<br />

perigo (encarnadas tanto na clássica mãe devoradora<br />

de certas correntes psicanalíticas, como<br />

em salomés e derivadas figuras arquetípicas que<br />

esboçam fêmeas quase demoníacas). Aqui desenha-se<br />

o conflito do sujeito: ou se entrega à gosma<br />

quente do seio da mãe-terra-fêmea acolhedora<br />

como puer e se infantiliza para sempre; ou, como<br />

herói, vence o visgo com as armas pontiagudas e<br />

delimitantes, libertando-se de cordões umbilicais e<br />

demais metáforas de separação do prazer alienante.<br />

Parece que, no momento atual de nossas concepções<br />

sobre o viver, a primeira alternativa parece<br />

ser a mais sedutora.<br />

O medo e o desejo caminham juntos, pois se teme<br />

o que mais se almeja: quase o ímã inescapável da<br />

pulsão mortífera 2 que gostaria de me deixar para<br />

sempre nos braços do grande outro que foi o primeiro<br />

receptor de meu ser, afagador de meu corpo e<br />

modelador da minha alma.<br />

O sujeito parece levado a desejar e trabalhar pela<br />

manutenção desse prazer desenhado e redesenhado<br />

à exaustão nas filigranas fetichizadas de uma sociedade<br />

no auge dessa produção imagética.<br />

Nessa direção, felicidade e conforto não têm<br />

como não operarem como dois grandes vetores<br />

do contemporâneo, de tal forma que se naturalizam<br />

a uma alta velocidade. Não há porque não<br />

contratar toda a gama de serviços para deixar<br />

minha casa e meu corpo mais adaptados ao<br />

meio, nessa rede de conforto que passo a pendurar<br />

em áreas básicas da vida. Essa lógica se<br />

estende também à maturidade que, então, passa<br />

a desejar permanecer na animação de certa<br />

forma alegre do entretenimento e da juventude,<br />

ambos desejados eternos.<br />

Aí as mídias são literalmente o meio que carrega<br />

essas representações onde o indivíduo estaria<br />

bem e cercado pelo bem – onde o bem significa,<br />

aqui, o efeito bem-sucedido da ação e que leva,<br />

dessa maneira, ao telos do ato como sucesso do<br />

acúmulo de objetos, pessoas e serviços de manutenção<br />

do estatuto de prazer e diversão. Não<br />

há como a lógica de fetichização das imagens<br />

1º Semestre de 2009 Revista FACOM<br />

Nº21<br />

não incidir sobre esse campo semântico,<br />

produzindo e mantendo imperativos<br />

de gozo, em qualquer que seja a direção<br />

apontada, em suas traduções de mais prazer,<br />

mais entretenimento, mais intensidade,<br />

mais jovialidade, mais aproveitamento<br />

da velha equação custo-benefício. Chegando,<br />

a partir daí, inclusive a mais velocidade<br />

e, milagre?, mais tempo (essa, a<br />

real e preciosa mercadoria da nossa era).<br />

Ou seja, a idéia é alterar levemente a<br />

conformação da maturação mental e partir<br />

para algumas das realizações propostas,<br />

principalmente aquelas, fundamentais,<br />

ligadas ao consumo. Eis-nos então<br />

no universo da juventude. Leia-se: jovem<br />

no sentido conceitual do termo, pois essa<br />

nova adolescência pode, hoje em dia, estender-se<br />

em um manto de penélope infinito<br />

e situar-se, talvez, entre 2 e 52 anos.<br />

Observa-se, assim, um belo processo de<br />

adolescentização da posição oferecida à<br />

subjetividade que, em poucas palavras,<br />

tudo gostaria de realizar, sem se colocar<br />

na posição de escolha consequente<br />

e muito menos de responsabilidade por<br />

seus fazeres. Nesse sentido, quem sabe,<br />

possamos compreender algo do impulso<br />

de eliminação dos pais, se eventualmente<br />

eles vierem a se revelar como obstáculos<br />

para a fruição desse imperativo gozoso.<br />

Enfim, a hipervalorização da juventude é<br />

moeda corrente, tanto na via das subjetividades<br />

identificadas a determinados modelos,<br />

como na da prática de determinados<br />

comportamentos valorados e, ainda,<br />

na de uma estética da materialidade do<br />

corpo. Enfim, o corpo jovem e saudável<br />

numa mente jovem e saudável, todos a<br />

se divertir e consumir, felizes e sem limites.<br />

O trabalho é monótono, a realidade<br />

é peso. Nada mais natural, óbvio e repetidamente<br />

afirmado. Eis o puer aeternus<br />

milenar recolocado nas prateleiras: a juventude<br />

eterna se ampliando em inúmeras<br />

dimensões, praticamente fechando o<br />

espectro concreto-abstrato.<br />

O que parece ecoar em nossos ouvidos<br />

e mente como pano de fundo é uma pergunta<br />

sobre a causa e a função de tal<br />

deslocamento. Quando foi que a vida<br />

adulta teve seu crédito deslocado?<br />

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Nº21<br />

Revista FACOM 1º Semestre de 2009<br />

Por que não está mais em lugar de honra no<br />

panteão dos ideais da cultura?<br />

Aqui não temos como não nos remeter mais uma<br />

vez à grande transformação de paradigmas operada<br />

pela modernidade. Um aspecto central de<br />

sua lenta e não surda revolução incidiu não somente<br />

na colocação em cena da confiança numa<br />

racionalidade subjetivada em dialética com a formação<br />

crescente do campo legitimado da individualidade,<br />

mas sobre a alteração da equalização<br />

de poder entre novos e velhos. Como o preciso<br />

nome desse denso processo já aponta, estamos<br />

em um embate entre duas maneiras distintas de<br />

pensar e se colocar frente ao outro e frente a si<br />

mesmo. Os modernos se contrapõem aos antigos.<br />

Aqui surge a semente de todo o arvoredo: o<br />

novo é melhor. Sem discussão, sem nem pensamento:<br />

o mais novo é o emblema que decora a<br />

embalagem de quase tudo, de mulheres a sucos<br />

artificiais.<br />

Estamos falando, aqui, de fato, da crise e muito<br />

provavelmente do inexorável declínio da lógica<br />

patriarcal. Em última instância, a forma de relação<br />

entre os seres se ancorava numa polarização<br />

entre diferentes: o maior e o menor, o mais<br />

poderoso e o submetido, enfim, o pater e o filho.<br />

Hoje, e isso significa, há já alguns séculos, a própria<br />

instauração do paradigma moderno e sua<br />

base de igualitária distribuição da luz da razão,<br />

não teve como não implicar a crise desse modelo<br />

de ajustamento das relações de poder entre<br />

os seres. Queda, declínio, fratura, falência... de<br />

qualquer forma, algo vai mal. Simplesmente porque<br />

a função da autoridade não mais casa sem<br />

conflitos com o lugar do pater, com o Um que<br />

exerce a autoridade, aquele que adquire esse<br />

estatuto através de uma complexa rede social<br />

de significação, seja por tempo de nascimento<br />

(o que nasceu antes, o mais velho, o patriarca)<br />

ou espaço de nascimento (o que nasceu no seio<br />

da corrente azul de valoração passa a ser uma<br />

figura mais desencantada no contemporâneo, o<br />

rei, o senhor). E, nessa leva de decadência, até<br />

Deus morre. Claro, Deus que é o pai todo-poderoso<br />

por excelência.<br />

Deus morre; mas, como qualquer recalcado, ressurge<br />

na teimosia e violência do retorno daquilo<br />

que não quer aceitar a perda de que há no mundo<br />

pelo menos um lugar que garanta a sabedoria<br />

e a certeza. Relativismo, individualismo, autoconsciência...,<br />

não. O filho não o deseja. Que a<br />

alteridade investida de poder – o outro fora e aci-<br />

ma do eu – continue a me balizar porque<br />

sem isso estarei perdido e descontente,<br />

com a plena convicção de que o mundo<br />

está na era da decadência e estamos<br />

de fato mergulhados até o pescoço no<br />

apocalipse. Não, isso não. Dê-me meus<br />

deuses de volta, e alguma consistência,<br />

pelo amor de Deus. Aí, inclusive, a brecha<br />

para as mais diversas reconstruções<br />

totalitaristas e forçadas da realidade simbólica.<br />

Claro que esses movimentos regurgitarão<br />

e virão como ondas, por vezes com<br />

alguma coação, ao longo desta viagem<br />

radicalmente moderna que é a nossa.<br />

Mas creio que fracassarão como senda<br />

discursiva estrutural a longo prazo. Há<br />

órfãos que se irritam, sofrem e berram<br />

por um pai, alguns chegam a matar em<br />

nome de um, dando sua vida no esforço<br />

de sua re-consistência potencializada.<br />

Mas aquele pai do todo-poder, do superpoder,<br />

do desmedido-poder, esse está fadado<br />

a não existir mais.<br />

Os órfãos e o despertar<br />

O que há então? Talvez um indivíduo moderno,<br />

factível e somente-humano (para<br />

retomar, e de certa forma provocar, o<br />

além- ou super-homem nietzscheano) 2 .<br />

Um “patriarca” que chora, erra e até castiga,<br />

quase sempre com alguma dúvida e<br />

muita culpa. Lugar que, em muitos lares,<br />

de todas as rendas, é de fato ocupado<br />

por uma matriarca. Na verdade, hoje talvez<br />

estas distinções estejam se tornando<br />

cada vez mais estritamente formas de<br />

nomear corpos, neste fervilhar metropolitano<br />

ocidental que passa a varrer todas<br />

as culturas do globo – via tele-visão, a<br />

visão a distância do dito novo e progressista<br />

modo do viver – objetificando a sexualidade<br />

como objeto-corpo ao mesmo<br />

tempo que dessexualizando o sujeito em<br />

ato, na indiferença do gênero que move o<br />

capital e o moderno.<br />

Ou seja, estamos operando não mais no<br />

âmbito estrito do pátrio poder, mas no do<br />

poder do consumidor.<br />

O consumidor agora constituirá vínculo de<br />

trabalho mais ou menos estável no merca-


do sempre mutante, trabalho que lhe permitirá o<br />

consumo de que se arvora o direito; e constituirá<br />

família, quase sempre mutante também, reconfigurada<br />

sucessivamente, em que ambos os cônjuges,<br />

de sexualidades mais ou menos variadas,<br />

quase sempre dividem a tarefa provedora e educadora<br />

da prole.<br />

A partir daí, instaura-se um efeito inédito: a ausência<br />

simbólica da função patriarcal clássica<br />

abre a questão sobre uma rede de identificações<br />

perdidas: os órfãos da lógica patriarcal, agora<br />

elevados à categoria de indivíduos, devem inventar<br />

um destino e buscar inscrevê-lo no caldeirão<br />

intrincado da cultura cada vez mais complexa.<br />

E detalhe, toda ela submetida ao comprar<br />

e vender do mercado que gerencia também as<br />

imagens desses indivíduos e seus valores matematizados<br />

na bolsa de citações midiáticas. Em<br />

suma, tudo ficou muito mais difícil. Livre, porém<br />

complicado. Nesta brecha se inscreve a recusa<br />

do despertar mais radical para a vida adulta,<br />

embrenhada então, necessariamente, no individualismo<br />

narcísico e exigente que convida o<br />

sujeito a carregar o peso de um “eu” de sucesso<br />

e da luta para alcançá-lo. Luta cruel, mesmo<br />

Divulgação<br />

1º Semestre de 2009 Revista FACOM<br />

Nº21<br />

que vitoriosa; e eventualmente em outra<br />

ordem da mesma crueldade, se compreendida<br />

como fracassada – para focarmos<br />

nos dois extremos das categorias superegóicas<br />

que ajuízam o desempenho desse<br />

fragilizado eu.<br />

Assim sendo, não parece tão díspar o<br />

impulso, cada vez mais facilmente decifrável<br />

nos movimentos da mídia ou nos<br />

discursos de nossos consultórios de um<br />

número crescente de sujeitos em crise<br />

diante de uma existência propriamente<br />

adulta, permanecentes na posição de<br />

puer aeternus, e tudo fazendo para daí<br />

não sair, alimentando assim a era do entrenimento<br />

blindante, mantendo-se nas<br />

narrativas estéreis de infindáveis séries<br />

audiovisuais (cinematográficas, televisivas,<br />

cibernéticas ou móbiles, pouco importa<br />

a superfície) ou na ironicamente<br />

chamada ‘realidade aumentada’ e virtual<br />

dos games (que, não à toa, consistem o<br />

domínio que mais cresce entre todas as<br />

mídias). Preguiça? Tédio? Depressão?<br />

Nomes moralistas ou psicologizantes<br />

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Divulgação<br />

Nº21<br />

Revista FACOM 1º Semestre de 2009<br />

diante da ausência de trilha simbólica e inércia<br />

fundamental das forças mortíferas e repetitivas<br />

que atuam na subjetividade contemporânea que<br />

parece, dessa maneira, ter perdido a fulguração<br />

do ideal em última instância paterno que nortearia<br />

suas escolhas e atos. Era de orfandade.<br />

Ajunte-se a isso uma crítica que começa a se delinear<br />

tanto em face desse contexto como diante<br />

dos lugares, tidos como inconsistentes, propostos<br />

às subjetividades em processo de formação. Essa<br />

crítica opera, portanto, tanto através da negação<br />

da realidade como da recusa do lugar de um indivíduo<br />

“adulto, maduro e produtivo”. E não somente<br />

no campo da aceitação de uma práxis incorporada<br />

ao universo do trabalho e consumo, mas passando,<br />

ainda, pelo imperativo hedonista e seus corolários<br />

midiáticos.<br />

Esta conjuntura traz outras implicações.<br />

Tais vetores – o declínio<br />

da função patriarcal e a<br />

instauração do paradigma<br />

moderno – penetram igualmente<br />

na carne e atingem<br />

as subjetividades também<br />

em seus processos de sexualização.<br />

O “ser homem”<br />

adulto e maduro expõe<br />

um continente esvaziado<br />

de conteúdos identitários<br />

cambiantes e paradoxais,<br />

revelando o caótico de uma<br />

crise de reconhecimento.<br />

Da mesma forma, pluralizam-se os apoios especulares<br />

que sustentariam um necessariamente outro<br />

lugar para o feminino.<br />

A mulher, no entanto, talvez esteja se escorando<br />

no masaico das imagens de uma “nova mu-<br />

lher”, pois acaba por se fazer apoiar nos<br />

preceitos de movimentos que busquem<br />

reforçar essas identificações, como as<br />

correntes feministas e, atualmente, neofeministas.<br />

E isto por mais problemáticas<br />

que sejam suas linhagens – forjando uma<br />

identidade para a mulher contraposta ao<br />

conceito substancializado justamente de<br />

seu oposto patriarcal, e operando com a<br />

fêmea como entidade, como bem aponta<br />

Judith Butler. 4<br />

De qualquer maneira, a tríade sexualidade,<br />

maternidade e trabalho (no espaço público)<br />

buscam configurar o atualmente mais amplo<br />

desenho do lugar da mulher.<br />

Como a própria lógica de produção que gira<br />

em torno do mercantil e do capital é unissex,<br />

e deve sê-lo para bem funcionar, esse<br />

lugar que seria do masculino<br />

é ocupado tanto<br />

por homens como por<br />

mulheres, as mais novas<br />

e ativas integrantes<br />

do mercado de trabalho,<br />

desde mais de um<br />

século, e notadamente<br />

há meio, no pós-guerra<br />

fatídico e transformador<br />

das experiências de<br />

uma pós-modernidade<br />

ainda em digestão que<br />

nos impulsiona a todos<br />

ao trabalho, ao mercado, ao consumo, independentemente<br />

de gênero.<br />

Se este campo do feminino no embate póspatriarcal<br />

pode, sob alguma medida, se<br />

mascarar como ativo – pois que é luta e<br />

Divulgação


andeira, nomeada e articulada –, a configuração<br />

do masculino coloca-se como prioritariamente reativa,<br />

marcada pela falência de seu antigo ideário<br />

bem denominado machista que, no entanto, e por<br />

isso mesmo, não deixa de buscar se exercer, muitas<br />

vezes, pela dominação. Sabemos, porém, que<br />

os pólos do embate subjetivo operam em estrutura<br />

dialética e o par complementar da passividade,<br />

que estava subjugado, tende a emergir no aparato<br />

consciente – inconsciente.<br />

Assim, o macho moderno, buscando delinear o<br />

novo papel do masculino, tende a oscilar entre<br />

a afirmação mais decidida e a crise mais paralizante:<br />

caminha entre identificações aos ideais<br />

Divulgação<br />

de sucesso e a suspensão melancólica da ação.<br />

Dessa forma, reitera-se a crença no universo da<br />

competição capitalista e na ilusão de um “eu”<br />

vencedor: espécie de self made man, machoalfa,<br />

provedor ou conquistador, e demais figuras<br />

identificáveis das idealizações individualistas<br />

dos dizeres contemporâneos. Elas apoiam-se na<br />

ideia do eu moderno racional e realizador, o que traz<br />

problemas quando se evidencia que todo o jogo produtivo<br />

é obrigatoriamente interligado – global – e o<br />

narcisismo é o mito de base que alimenta a idéia de<br />

um eu a ser imaginariamente potencializado.<br />

O avesso dessa tessitura só pode se dar por uma<br />

atividade tateante e incerta de si, que passa a bus-<br />

1º Semestre de 2009 Revista FACOM<br />

Nº21<br />

car a garantia e a aprovação no olhar do outro,<br />

por vezes refugiando-se na inércia desejante<br />

de seguir os modelos enfeitiçados<br />

propostos pelos discursos correntes, ator<br />

transparente que segura os instrumentos<br />

operados por outros, e muitas vezes preso<br />

na sedução mortífera da fantasia infantil de<br />

um período de gozo, infinito e hipervalorizado,<br />

e que tudo faz para nele permanecer.<br />

E, quando não alcançado, remete o sujeito<br />

a uma contra-aura de frustração, tristeza e<br />

inação.<br />

Nesse sentido, ambas as estratégias acabam<br />

por dar na viela de um puer eterni-<br />

Filme “ A <strong>Criança</strong> “<br />

zado que cai na armadilha de nada mais<br />

fazer para poder permanecer na chupeta<br />

do receber ou do não fazer, e em paz. No<br />

entanto, o sujeito não percebe o quanto<br />

de atividade há em buscar se manter no<br />

lugar da recepção ou da inatividade, na<br />

luta para não despertar de um imaginário<br />

idílio feliz. Na ausência de um modelo forte<br />

e seguro, a força em buscar alcançá-lo<br />

se desloca para a negação de sua própria<br />

ausência.<br />

Assim, ao embaralhamento dos pares<br />

topológicos do pater e seus seguidores,<br />

junta-se o descompasso entre masculino<br />

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Revista FACOM 1º Semestre de 2009<br />

e feminino, ambos apontando na direção de uma<br />

cultura puer unissexual e adolescentizada e que<br />

sufoca, consequentemente, o menor sinal de velhice,<br />

diferença, desgaste ou cansaço. A lei é<br />

dos jovens, fortes e energéticos. Órfãos ao mesmo<br />

tempo que recolocando ideais quase sempre<br />

inatingíveis e sem sentido em uma série infinita<br />

de imagens brilhantes e falsas.<br />

Em dado momento, Nietzsche pergunta: “ ‘Quanto<br />

de verdade suporta, quanto de verdade ousa<br />

um espírito?’ – Isto se tornou para mim a verdadeira<br />

medida do valor“. 5 Deparamo-nos com<br />

nossa própria falta de instrumentos para lidar com<br />

essa outra verdade – pois que a perda de sentido<br />

também é sintomática da nostalgia de um paraíso<br />

perdido. Enfim, crescer e se multiplicar parece<br />

não ser tão simples. A pergunta central incide<br />

sobre como operar com determinados traços do<br />

sujeito moderno que em algum momento ousou<br />

sair da era puer: a liberdade laica, de certa forma<br />

ainda algo assustadora; a responsabilidade daquele<br />

que, como a raiz aponta, responde por si,<br />

tanto como sujeito individual quanto como sujeito<br />

coletivo, não mais podendo se ancorar no anonimato<br />

irresponsável da massa; a plasticidade, não<br />

somente restrita à infância mas atributo do vivo,<br />

embora em quantidades decrescentes ao longo<br />

do tempo; a performance do ato ancorado na autoria<br />

radical e solitária, a da autoridade a partir de si<br />

mesmo, porém em dialética e formalização a partir<br />

da alteridade e suas instituições.<br />

Difícil maturar. Uma dificuldade tanto desmamar<br />

quanto perder o modelo do herói deificado. Porém,<br />

a consciência nunca deixou de ser irreversível.<br />

A tarefa é seguir por si, suas próprias perna e<br />

responsabilidade, sem nem o fantasma da perda<br />

do maravilhoso nem a conformação cínica com<br />

a dureza de uma vida adulta sub-fantasiada, ou<br />

hiper-desencantada – e no também difícil debate<br />

com o outro, seu imaginário e seu poder. Para o<br />

somente-humano parece, no entanto, não haver<br />

saída muito diferente.<br />

Maria Lucia Homem<br />

Professora nas áreas de Psicologia, Psicanálise e<br />

Cinema da FACOM-FAAP e PUC. Psicanalista. Pós-graduação<br />

em Psicanálise e Estética pela Universidade de Paris<br />

VIII / Collège International de Philosophie e Faculdade de<br />

Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Participação<br />

em “Leitores e leituras de Clarice Lispector” (Hedra, 2004),<br />

“Estranhas Travessias” (Edifieo, 2004), entre outros.<br />

1 J. Lacan. Le stade du miroir comme formateur<br />

de la fonction du Je. Écrits. Paris: Seuil, 1966.<br />

2 S. Freud. Além do princípio do prazer. Escritos<br />

sobre a Psicologia do Inconsciente, vol. II.<br />

Rio de Janeiro: Imago, 2006.<br />

3 F. Nietzsche. Assim falou Zaratustra. Rio de<br />

Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.<br />

4 J. Butler, Problemas de gênero. Rio de Janeiro:<br />

Civilização Brasileira, 2003.<br />

5 F. Nietzsche. A vontade de poder, §476. Rio<br />

de Janeiro: Contraponto, 2008.<br />

Butler, J. Problemas de gênero. Rio de Janeiro:<br />

Civilização Brasileira, 2003.<br />

Freud, S. Além do princípio do prazer. Escritos<br />

sobre a Psicologia do Inconsciente, vol. II. Rio<br />

de Janeiro: Imago, 2006.<br />

Lacan, J. Le stade du miroir comme formateur<br />

de la fonction du Je. Écrits. Paris: Seuil, 1966.<br />

Nietzsche, F. Assim falou Zaratustra. Rio de<br />

Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.<br />

___________. A vontade de poder. Rio de Janeiro:<br />

Contraponto, 2008.<br />

Mário Toledo

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