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Os Irmãos Leme - Unama

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www.nead.unama.br<br />

respondeu. Azedaram-se. Azedaram-se seriamente. E agora, com pasmo da<br />

Capitania, viviam ambos a ferro e a fogo. Trocavam-se cartas malcriadíssimas.<br />

"Tenho em mão, senhor Ouvidor, vários requerimentos que a Câmara desta Cidade,<br />

republicanos e povo, me têm feito sobre o procedimento de V. S.". "São universaes<br />

os clamores contra V. S.". "Concorre V. S.a para o desassossego da terra por todos<br />

quantos caminhos ha indignos do lugar que V. S.a occupa". Era tudo nesse tom.<br />

Tudo terrivelmente desaforado.<br />

— Mas eu preciso saber em que pé anda o processo, senhor Gervásio!<br />

Foram, afinal, ou não foram, arrecadados os bens dos <strong>Leme</strong>s?<br />

— É como digo a V. Excia.: o senhor Ouvidor, até hoje, nada comunicou. Mas<br />

eu ouvi dizer que já foram seqüestrados uns pedaços de terra, dois ou três escravos,<br />

índios, e o pouco que por aí se encontrou. No entanto...<br />

O secretário faz uma pequena pausa.<br />

— No entanto. V. Excelência há de saber que os <strong>Leme</strong>s, ao virem de Cuiabá,<br />

trouxeram grande cópia de ouro. Dizem que era coisa aí para mais de doze canastras.<br />

— Doze?<br />

— Doze canastras... <strong>Os</strong> <strong>Leme</strong>s entregaram essa batelada de ouro nas mãos<br />

de Sebastião do Rego. Pediram ao Sargento-Mor para guardá-lo em lugar precatado.<br />

Rodrigo César conhecia bem o secretário Sabia-o incapaz duma falsidade.<br />

Gervásio Leite Rebelo era o mais antigo servidor da Governança. E o mais fiel.<br />

Homem probo, a palavra e o conselho dele haviam sido, durante anos,<br />

imprescindíveis a todos os Governadores da Capitania. Rodrigo César dizia dele ao<br />

Rei: "Senhor! Gervásio Leite Rebelo ha perto de treze annos tem servido na<br />

Governança com tal verdade, segredo, limpeza de mãos, pratica, actividade, e, além<br />

disso, com tal zelo da Fazenda Real, que he digno do mayor louvor".<br />

Foi, portanto, com chocante surpresa, que Rodrigo César ouviu do secretário<br />

aquela declaração categórica. E não pôde reprimir a sua admiração:<br />

— <strong>Os</strong> <strong>Leme</strong>s entregaram doze canastras de ouro a Sebastião do Rego?<br />

Pois não, General... O Sebastião do Rego! O Cavichí, que era o índio da<br />

confiança deles, contou-me, por miúdo, como se fez a entrega desse ouro. E o<br />

próprio Ouvidor, mais duma vez afiançou-me a verdade do caso.<br />

— O Ouvidor?<br />

O Ouvidor Godinho Manso! Afiançou-me, ele próprio que os <strong>Leme</strong>s botaram<br />

as doze canastras de ouro nas mãos do Sargento-Mor.<br />

Rodrigo César principia a passear pela sala. Não diz palavra. Doze<br />

canastras? O General está assombrado. E o secretário:<br />

— V. Excelência ordenou o seqüestro dos bens dos <strong>Leme</strong>s. Que é que se<br />

seqüestrou? Ao que dizem, uns pedaços de terra, dois ou três negros. E é tudo. Mas<br />

o principal, que é o ouro, esse desapareceu. Onde foi parar a riqueza dos <strong>Leme</strong>s?<br />

Onde foi parar aquele tão falado ouro de Cuiabá? Ninguém sabe! Ou antes,<br />

Sebastião do Rego sabe...<br />

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