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Os Irmãos Leme - Unama

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www.nead.unama.br<br />

do que nunca, à faina velhaca de enriquecer. A impunidade incentivara-lhe as<br />

ladroíces. E as ladroíces dele, desde então, não tiveram mais balizas.<br />

CALDEIRA PIMENTEL<br />

Aqueles escândalos e abusos de Sebastião do Rego iam soando já por<br />

Lisboa. Portugal resolveu cortar cerce com eles: chegaram ordens do Reino para<br />

que o ouro de Cuiabá fosse quintado e fundido na própria sede do governo. Fosse<br />

quintado e fundido sob as vistas do Governador em pessoa. Criou-se, então, em<br />

São Paulo, a "CASA DA FUNDIÇÂO". Ficava ela em continuação ao Paço da<br />

Governança. E ligava-se a ele por uma porta comunicante.O ouro do Rei, segundo a<br />

usança das Gerais, deveria ser aí barreteado, "em barras de vinte e cinco a trinta<br />

marcos"; e, para que não houvesse desvio, nem possibilidade de furto, determinava<br />

o Reino, expressamente, que "hum dos fundidores é obrigado a marcar, com os<br />

cunhos reaes, as barras que se quintarem; e isto em presença do Provedor, em<br />

presença do Escrivão e em presença do Thesoureiro".<br />

Sebastião do Rego, em Itú, arrostava, desassombradamente, a malquerença<br />

do povo. <strong>Os</strong> bandos do Governador haviam golpeado fundo o prestígio do raposão.<br />

Mas o senhor Provedor não era homem para se deixar vencer ao primeiro golpe.<br />

Jamais! Era um lutador. E que lutador! A partida de Rodrigo César, com aquelas<br />

pomposas trezentas e oito canoas, fora um alivio para o trapaceiro. Mais do que<br />

alívio: fora, naquele minuto negro, clara nesga de céu azul que se lhe abriu. E como<br />

remate a tão boa fortuna, eis que, nessa hora, chegam aquelas abençoadas<br />

instruções para estabelecer-se em São Paulo a Casa da Fundição.<br />

Sebastião do Rego continuava a ser (não fora ainda destituído) Provedor-Mor<br />

da Fazenda Real. O fuinha, como lhe competia, determinou partir às pressas para<br />

São Paulo: o Provedor-Mor da Fazenda Real carecia cuidar dos interesses de el-Rei!<br />

Sebastião do Rego por força do cargo, principiou então — sarcasmo do destino! — a<br />

dirigir os negócios da Casa do Ouro. Daquela casa tão principal, tão preciosa, é<br />

verdade, mas tão mal ajeitada e defeituosa, que dela dizia o Conde de Sarzedas ao<br />

Rei: "Senhor! A casa da fundição que se fez nesta cidade se acha fabricada de tal<br />

forma, que fica na mão do fundidor o poder desviar o ouro que lhe parecer. O<br />

mesmo acontece ao cunho".<br />

Daí em diante, com aquela fonte de ouro nas garras, senhor do erário, sem o<br />

Governador para vigiá-lo, as gatunices do fuinha não tiveram mais mão a medir. Foi<br />

um Deus nos acuda! A Capitania encheu-se logo, estrondosamente, das proezas<br />

descaradas do Senhor Provedor-Mor. Diziam-se coisas horrendas.<br />

O que, porém, andava de boca em boca, muito cochichado, era que o<br />

Provedor tinha cunhos falsos. Sim, que tinha cunhos falsos! Que, às escondidas, ele<br />

mesmo fundia e barreteava ouro. Verdade? Calúnia? Impossível responder. O certo<br />

contudo, era que os mineiros, ao virem de Cuiabá, não queriam mais entregar o seu<br />

ouro na Casa da Moeda. Preferiam entregá-lo, às ocultas, em casa de Sebastião do<br />

Rego. O fuinha — sabe Deus como — botava nele os cunhos reais e quintava-o por<br />

conta própria: e isto pela metade do que cobrava o fisco!<br />

— Qual será o fim disto? Exclamavam os paulistas, aterrados.<br />

Mas não havia tolher aquelas falcatruas. Um deus clemente, o deus dos<br />

larápios, continuava, compassivo, a proteger o raposão.<br />

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