Antroposofia

Pronunciamento do Deputado Walter Feldman em 28/06/2006 -
Antroposofia
Em pleno Império Austri-húngari nascia, em 1861, um filósofo chamado
Rudolf Steiner. Cujos pensamentos, idéias, práticas ecoaram pelo mundo
enquanto vivo e depois; e hoje ainda ecoam, talvez até com maior
intensidade. Principalmente no nosso Brasil.
A Associação Brasileira de Medicina Antroposófica, que participa
ativamente nesta parcela intensa, acaba de lançar a 1ª Edição da “Revista
ATP” (Antroposofia resumida em siglas). Uma revista da comunidade
antroposófica para ela mesma e para principalmente aqueles que ainda não
a conhecem.
Mas, afinal, o que é a Antroposofia?
A Antroposofia foi concebida pelo filósofo Rudolf Steiner, citado no
início, através de todo percurso de sua vida. Guru, cientista, filósofo,
estudioso, médium, entre outras atribuições, Steiner criou uma filosofia
que abrange as mais diversas áreas de atuação humana: Da Medicina
Antroposófica à Agricultura Biodinâmica, da Arquitetura Antroposófica
(Orgânica) à Pedagogia Waldorf.
Poderíamos discorrer sobre cada uma delas por horas, dias, semanas! É
claro que não o farei, no entanto, o que está a meu alcance seria
apresentar de forma clara e obviamente resumida algumas dessas áreas de
atuação:
A Agricultura Biodinâmica está baseada na produção de alimentos realmente
condignos com o ser humano e com o meio ambiente. O fundamento da
Biodinâmica consiste na integração de todos os elementos ambientais
agrícolas, como hortas, pastos, fruticultura, floresta, capões
arbustivos, mananciais hídricas etc. A Agricultura Biodinâmica quer
ajudar aqueles que lidam no campo a vencer a unilateralidade materialista
na concepção da natureza, para que eles possam, cada um por si mesmo,
achar uma relação espiritual-ética com o solo, com as plantas e os
animais e com os coirmãos humanos.
A Arquitetura Antroposófica, assim como a Orgânica, buscam suas
expressões nesta característica da vida: o Movimento. Como diria o
próprio Steiner, “É uma característica da alma humana expandir-se,
alastrar-se, desabrochar-se em todas as direções. A maneira de se
desabrochar, amaneira como ela deseja alastrar o seu ser no cosmo, tem
como resultado a forma arquitetônica”. A Arquitetura Antroposófica,
diferenciando-se, aí, da Orgânica, está baseada na metamorfose da forma.
Estudando os trabalhos científicos de Goethe, onde este trata da
metamorfose das plantas, Steiner compreendeu que assim como nos estudos
do colega, em que as formas das folhas da planta dão origem às pétalas da
flor, as formas da semente à do broto e assim por diante, as formas
arquitetônicas também partem de um princípio de relacionamento mútuo
entre parte e todo.
A Pedagogia Waldorf, concebida durante a Guerra, quando Rudolf Steiner se
ocupou de crianças e adolescentes, cujos pais trabalhavam em uma empresa
de tabaco, na Alemanha, tem raízes muito fortes no Brasil e no mundo.
Somente no Brasil há 12 grandes escolas Waldorf – outras estão vindo por
aí – e inúmeros Jardins de Infância. A Pedagogia, que compreende o ser
humano como completo em todos os seus aspectos, tem rendido um grande
crescimento no território nacional e a Revista ATP buscará ampliar as
discussões acerca dela.

E, finalmente, a Medicina Antroposófica. Teoria e prática erguidas a
partir de conversas, palestras, seminários em que Rudolf Steiner, a Dra.
Ita Wegman e um grupo de médicos encabeçaram no início do século XX, esta
Medicina hoje é vista como uma ampliação da Medicina Convencional e não
como uma especialização. É uma base a partir da qual o médico enriquece a
sua prática. Dentro de sua especialização, o médico pode trabalhar a
Antroposofia.
A visão global proposta pela Medicina Antroposófica considera o ser
humano além do seu aspecto corporal, valorizando também sua vida psíquica
e sua individualidade: corpo, alma e espírito.
De maneira mais concreta, à luz da Antroposofia, podemos apresentar o
homem como portador de quatro estruturas essenciais (chamadas “corpos”):
⇒ Corpo Físico – que é a estrutura sólida, a substância (mineral,
terra), corpo desenvolvido também e principalmente pela
medicina convencional.
⇒ Corpo Vital ou Etérico – que é o fundamento da vida, as
características vegetativas (crescer, regenerar, reproduzir),
presente em todos os seres vivos (vegetal, água).
⇒ Corpo Anímico ou Astral – fundamenta a organização sensitiva do
homem e permite a aparição de sistema nervoso e da vida
psíquica no homem e nos animais (animal, alma, anima, ar).
⇒ Organização do EU – que é a nossa entidade espiritual,
responsável pela autoconsciência. Ela reorganiza a atuação dos
outros três corpos. E sua presença determina o surgimento do
andar ereto e do falar e pensar (espírito, calor, fogo).
A Medicina traz uma nova relação paciente-doença, conduzindo as
responsabilidades e os questionamentos que surgem durante os processos da
vida. Ela busca esta interação médico-paciente, trazendo os
questionamentos pertinentes àquele momento da vida, “por que desenvolvi
tal doença? O que ela poderia me propiciar? Quais são os ensinamentos
tirados a partir de tal experiência? Etc”.
A Medicina Antroposófica desenvolveu, ainda, medicamentos e terapias
apropriados para essa nova imagem do homem perante a saúde e a doença. Os
medicamentos, procedentes de substâncias dos reinos mineral, vegetal e
animal, baseados nos conceitos de diluição e dinamização, estão hoje, no
Brasil, representados pela Weleda. E as Terapias, que podemos também
chamar de “Terapêutica Antroposófica”, desenvolvem um belíssimo trabalho
não somente complementar, mas também de reestruturação desta
individualidade. Entre elas posso citar as Terapias Artísticas, a
massagem rítmica, aplicações externas, euritmia curativa, musicoterapia,
quirofonética entre muitas outras.
No Brasil, a Medicina Antroposófica, representada pela ABMA (Associação
Brasileira de Medicina Antroposófica) hoje conta com mais de 300 médicos
espalhados pelo território nacional. Ela existe por aqui como prática
desde a década de 1960 e somente em 1993 foi reconhecida como prática
médica pelo Conselho Federal de Medicina - através do processo número
21/93.
Nesta contemporaneidade, onde o ser humano está se voltando cada dia mais
para suas questões espirituais, para um desenvolver mais humano, para uma
melhor relação com o seu habitat, com o meio ambiente, onde a relação
mente x corpo é discutida à exaustão, onde as evoluções individuais
culminaram para um século de questionamentos, a Antroposofia faz-se cada
vez mais presente e cada vez mais prestigiada. A Revista ATP surge

aseada nestes questionamentos, não somente dos questionamentos acerca do
crescimento dentro da Comunidade Antroposófica, mas também destes
questionamentos da humanidade como um todo.
Indico, portanto, a todos os que estão neste momento questionador, neste
momento de inquietação interior, àqueles que buscam outras propostas que
não tratam somente do corpo e do culto ao corpo – imprimo aí minha
crítica à mídia como um todo, àqueles que estão na busca pela
estruturação de seus corpos, a pesquisarem sobre a Antroposofia e a
buscarem a Revista ATP, que é de distribuição gratuita. Muito obrigado.