Clique aqui para ler o primeiro capítulo do livro. - Livrarias Curitiba
Clique aqui para ler o primeiro capítulo do livro. - Livrarias Curitiba
Clique aqui para ler o primeiro capítulo do livro. - Livrarias Curitiba
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
SOFrEr SOzINhO<br />
“Recusar a misericórdia a seu próximo é<br />
aban<strong>do</strong>nar o temor <strong>do</strong> Poderoso.”<br />
Jó 6:14<br />
As pessoas que estão sofren<strong>do</strong> podem se encontrar no meio de<br />
uma multidão e, mesmo assim, se sentirem isoladas e estranhas ao<br />
grupo. Ficam presas a lembranças <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> e não conseguem viver<br />
o presente. É comum sofrerem uma certa perda de identidade, não<br />
conseguin<strong>do</strong> estabelecer ligação com os outros. Não se envergonhe se<br />
já sentiu que ninguém poderia entendê-lo ou avaliar a profundidade<br />
de sua <strong>do</strong>r, nem mesmo Deus. O isolamento é uma característica <strong>do</strong><br />
sofrimento traumático.<br />
Paul é um pastor talentoso, brilhante e sensível, e líder de sua igreja.<br />
Durante muitos anos, aju<strong>do</strong>u milhares de pessoas a terem uma vida<br />
melhor e a se aproximarem de Deus. Era tão dedica<strong>do</strong> ao seu ministério<br />
que só se casou mais tarde. Alicia era bonita, muito espiritualizada<br />
e querida por to<strong>do</strong>s. Paul amava a esposa apaixonadamente e se considerava<br />
o homem mais feliz <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />
O casal viveu vários anos de maravilhosa felicidade e teve <strong>do</strong>is<br />
belos filhos antes que a tragédia acontecesse. Um dia, Alicia morreu<br />
em um acidente de automóvel. Paul ficou completamente destruí<strong>do</strong>.<br />
Sentia uma <strong>do</strong>r tão intensa quanto o amor que antes sentia pela esposa.<br />
Tentava encontrar uma explicação <strong>para</strong> essa tragédia, mas não<br />
conseguia.<br />
– Como o Deus que tanto amei permitiu que uma coisa tão terrível<br />
me acontecesse? – lamentou-se um dia <strong>para</strong> mim.<br />
– Não sei – respondi calmamente. Eu percebia que não se tratava<br />
de uma questão teológica. Paul havia aconselha<strong>do</strong> centenas de pessoas<br />
sofre<strong>do</strong>ras durante anos, mas não era de uma explicação racional<br />
que ele precisava. Precisava da minha ajuda <strong>para</strong> seu coração.<br />
– Eu não sei como vou sobreviver à <strong>do</strong>r – repetia.<br />
– Não consigo nem imaginar o quanto você sofre – respondi, abraçan<strong>do</strong>-o.<br />
Muitos anos depois, descobri que foi essa minha última afirmação<br />
que realmente confortou Paul. Naquele momento, a dimensão<br />
de sua <strong>do</strong>r criara um abismo entre ele e to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, até entre ele<br />
e Deus. Sentia profundamente que ninguém poderia compreender<br />
o tamanho <strong>do</strong> seu sofrimento. Comentários superficiais e consola<strong>do</strong>res<br />
pareciam um insulto e o faziam se sentir ainda mais sozinho.<br />
Para<strong>do</strong>xalmente, a única coisa que o fez se sentir compreendi<strong>do</strong> foi o<br />
fato de eu dizer que simplesmente não conseguia imaginar a profundidade<br />
de sua <strong>do</strong>r. Foi o mais próximo que alguém conseguiu chegar<br />
da gravidade d<strong>aqui</strong>lo que ele experimentava.<br />
Por causa da sua <strong>do</strong>r, Paul tirou uma licença e se afastou durante<br />
um tempo de suas atividades como pastor. Mais tarde voltou <strong>para</strong> o<br />
trabalho que amava, embora carregue até hoje uma cicatriz no coração.<br />
Acredito que ele sobreviveu à tragédia porque, apesar de se sentir<br />
muito só em seu sofrimento, não ficou sozinho. Aos poucos foi<br />
permitin<strong>do</strong> que algumas pessoas se aproximassem. Não havia muitas<br />
palavras <strong>para</strong> ajudá-lo, mas simplesmente ficávamos ao seu la<strong>do</strong>, disponíveis<br />
e solidários. E esses simples atos foram ajudan<strong>do</strong>-o a superar<br />
a <strong>do</strong>r.<br />
O sofrimento traumático acaba com a esperança e nos afasta <strong>do</strong>s outros.<br />
As palavras <strong>do</strong>s amigos talvez sejam inúteis, mas a presença deles<br />
não é. Às vezes, ficar ao nosso la<strong>do</strong> não é a única coisa que os amigos<br />
podem fazer por nós. Na verdade, é o melhor que podem fazer.<br />
A perseverança não é o único <strong>do</strong>m que Deus nos concede em momentos<br />
de sofrimento intenso <strong>para</strong> nos ajudar a sobreviver e a sermos<br />
uma pessoa melhor. Deus também nos criou com a capacidade<br />
de nos relacionarmos com os outros, mesmo quan<strong>do</strong> nos sentimos<br />
desesperadamente sós. Como no caso de Paul, podemos achar que<br />
não conseguimos ou mesmo não queremos a companhia de alguém,<br />
mas somos capazes de escolher estar com os amigos a fim de superarmos<br />
a <strong>do</strong>r.<br />
14 15