Diagnóstico social de Senhora da Penha – MG (2011) - Ibase
Diagnóstico social de Senhora da Penha – MG (2011) - Ibase
Diagnóstico social de Senhora da Penha – MG (2011) - Ibase
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
DIAGNÓSTICO SOCIAL PARTICIPATIVO PARTICIPATIVO DE<br />
SENHORA DA PENHA
DIAGNÓSTICO SOCIAL<br />
PARTICIPATIVO DE<br />
<strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong><br />
SENHORA DA PENHA<br />
Realização<br />
Fun<strong>da</strong>ção Centro <strong>de</strong> Defesa dos Direitos Humanos Bento Rubião- FCDDHBR<br />
Coor<strong>de</strong>nadora<br />
Sonia Carvalho<br />
Consultoria Técnica<br />
Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Análises Sociais e Econômicas- IBASE<br />
Equipe Técnica IBASE<br />
Itamar Silva, Rita Brandão, Sandra Jouan<br />
Re<strong>da</strong>ção<br />
Meiriele Brito e Sonia Carvalho<br />
Edição e Revisão<br />
Sonia Carvalho<br />
Assessora Local<br />
Meiriele Brito<br />
Agente Local<br />
Margareth Souza Batista<br />
Fotos<br />
Meiriele Brito, Jaqueline Souza, Sandra Jouan, Zulei<strong>de</strong> Pontes e Maria<br />
Apareci<strong>da</strong> Souza Melo.<br />
Capa, Projeto Gráfico, Diagramação<br />
Beto Tameirão<br />
Equipe que realizou as entrevistas<br />
Kleber Reis <strong>de</strong> Souza, Jaqueline Souza, Margareth S. Batista, M.Apareci<strong>da</strong> S.<br />
Melo, Zilma Maria Silva, Leticia M. F. Jacinto e Meiriele Brito<br />
Moradores e representantes <strong>de</strong> instituições entrevistados<br />
Prefeito Vicente <strong>de</strong> Paula Germano, Urlene Gonçalves Ribeiro (assistente <strong>social</strong> do CRAS),<br />
Maria Teodoro Silva (dna. Tereza), Geraldo Candido Ferreira, Geral<strong>da</strong> Martins Ferreira,<br />
Reginaldo Batista Men<strong>de</strong>s Brandão, Apareci<strong>da</strong> Teodoro Oliveira (professora), Sebastião<br />
Carlos <strong>da</strong> Silva (Sebastião Carioca) (vereador), Catarina dos Reis Souza, Aguinária <strong>da</strong><br />
Silva Moreira, Domirio Pereira <strong>de</strong> Souza, Maria <strong>de</strong> Assis <strong>de</strong> Souza, Ricardo Tertuliano <strong>de</strong><br />
Souza, Maria Joana <strong>da</strong> Silva Pereira, Luzia Reis <strong>de</strong> Souza (Pres. Câmara <strong>de</strong> Vereadores e<br />
Funcionária do Posto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>), Iso Pacheco (Vereador), Maria Ângela Silveira Pacheco<br />
(Secretária Municipal <strong>de</strong> Assistência Social), Wagner Luiz <strong>de</strong> Freitas (vereador e<br />
presi<strong>de</strong>nte do STRs) , dna Tereza, Geraldo, Maria do seu Adão, Maria Brandão, José<br />
Brandão, Letícia, Reginaldo, Alípio Faustulu <strong>da</strong> Silva, Maria Apareci<strong>da</strong> <strong>de</strong> Souza Melo, Mª<br />
Isabel <strong>da</strong> Silva Dias (Coor<strong>de</strong>nadora do Centro Municipal <strong>de</strong> Educ. Infantil dna. Crioula),<br />
Bethânia Dias (Coor<strong>de</strong>nadora do CRAS), Ivana Maria Oliveira (Psicóloga do CRAS),<br />
Carlos funcionário <strong>da</strong> SUCAM), Glória Conceição <strong>da</strong> Mata (funcionária municipal).<br />
Fun<strong>da</strong>ção Centro <strong>de</strong> Defesa dos Direitos Humanos Bento Rubião- FCDDHBR<br />
Aveni<strong>da</strong> Beira Mar, 216/701 - Centro, Rio <strong>de</strong> Janeiro, CEP: 20021-060<br />
Tel: (21) 2262.3406 Fax: (21) 2533.0837<br />
cddhbr@bentorubiao.org.br • www.bentorubiao.org.br<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong>
SUMÁRIO<br />
Apresentação ...................................................3<br />
O MUNICÍPIO DE FERNANDES TOURINHO ........4<br />
Informações Preliminares......................................................4<br />
Contexto Histórico.................................................................4<br />
Infraestrutura .......................................................................6<br />
Economia ..............................................................................7<br />
Educação .............................................................................8<br />
Saú<strong>de</strong>....................................................................................9<br />
Assistência Social ................................................................10<br />
Comunicação ......................................................................11<br />
Organização Comunitária...................................................11<br />
Cultura e Lazer ...................................................................11<br />
SENHORA DA PENHA........................................12<br />
Informações Preliminares ...................................................12<br />
Breve Histórico ....................................................................12<br />
Mercado <strong>de</strong> Trabalho ..........................................................13<br />
Educação ............................................................................14<br />
Saú<strong>de</strong>..................................................................................15<br />
Infraestrutra .......................................................................16<br />
Saneamento........................................................................17<br />
Cultura e Lazer ...................................................................17<br />
Meio Ambiente....................................................................18<br />
Organização Comunitária...................................................19<br />
Expectativas <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ..............................................19<br />
Parceiros do Distrito ............................................................20<br />
Pessoas, Organizações e Instituições Cita<strong>da</strong>s ......................20<br />
Fontes consulta<strong>da</strong>s e referências .....................22<br />
Anexos .............................................................23<br />
1.Exemplos ilustrativos do perfil <strong>da</strong>s famílias mais antigas do<br />
<strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> ...............................................................23<br />
2.Linha do Tempo................................................................26<br />
3. Mapa do <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> construído por pessoas <strong>da</strong><br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ........................................................................27<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong>
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
As águas não eram estas,<br />
há um ano, há um mês, há um dia.<br />
Nem as crianças, nem as flores,<br />
Nem o rosto dos amores...<br />
On<strong>de</strong> estão águas e festas<br />
anteriores?<br />
E a imagem <strong>da</strong> praça, agora,<br />
Que será <strong>da</strong>qui a um ano,<br />
a um mês, a um dia, a uma hora?”<br />
Cecília Meireles
APRESENTAÇÃO<br />
A realização do <strong>Diagnóstico</strong> Participativo em <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> , distrito<br />
<strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s Tourinho, no Estado <strong>de</strong> Minas Gerais, se <strong>de</strong>u no âmbito do<br />
projeto Núcleos <strong>de</strong> Integração Comunitária, uma proposta do IBASE e<br />
Furnas Centrais Elétricas S.A., em parceria com a Fun<strong>da</strong>ção Bento<br />
Rubião, e com o apoio do BNDES.<br />
O projeto “Núcleos <strong>de</strong> Integração” consiste num sistema <strong>de</strong> ações<br />
integra<strong>da</strong>s e indutoras <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local realizado em áreas <strong>de</strong><br />
especial interesse <strong>de</strong> Furnas e em comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s localiza<strong>da</strong>s no entorno<br />
<strong>de</strong> usinas hidrelétricas implanta<strong>da</strong>s por esta empresa.<br />
No <strong>de</strong>correr do projeto, as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s são estimula<strong>da</strong>s a construir,<br />
<strong>de</strong> forma coletiva, pactos facilitadores <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> organização e<br />
mu<strong>da</strong>nça, cuja condução se dá pela organização dos grupos e<br />
li<strong>de</strong>ranças locais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil e governamentais, organizados em<br />
um Fórum Comunitário.<br />
O diagnóstico participativo é um instrumento <strong>de</strong> apoio ao Fórum<br />
Comunitário na construção do Plano <strong>de</strong> Ação <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />
Local. Como parte do processo participativo, o diagnóstico <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong><br />
<strong>da</strong> <strong>Penha</strong> foi construído pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, com o apoio <strong>da</strong> assessora<br />
técnica local, através <strong>da</strong>s dinâmicas <strong>de</strong> DRP - <strong>Diagnóstico</strong> Rápido<br />
Participativo, tais como, Mapa Falado, Diagrama <strong>de</strong> Bolas, Dinâmicas<br />
<strong>de</strong> Grupo como Linha do Tempo,<br />
E n t r e v i s t a s s e m i - e s t r u t u r a d a s ,<br />
Fotografias e Observação. Partindo <strong>de</strong><br />
informações colhi<strong>da</strong>s entre moradores,<br />
representantes <strong>de</strong> instituições locais e<br />
autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s que se dispuseram a<br />
c o l a b o r a r, o d i a g n ó s t i c o f o i<br />
complementado com <strong>da</strong>dos secundários<br />
disponíveis em documentos oficiais.<br />
Trata-se <strong>de</strong> um produto em an<strong>da</strong>mento,<br />
que retrata parte <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> local com<br />
suas fragili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e seus pontos fortes no<br />
momento em que foi elaborado. Muitas<br />
outras informações po<strong>de</strong>rão ser<br />
agrega<strong>da</strong>s ao texto, na medi<strong>da</strong> em que<br />
grupos e pessoas que não haviam sido<br />
i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s nas etapas iniciais<br />
passarem a participar <strong>da</strong>s discussões do<br />
Fórum Comunitário.<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
Ipaba<br />
Sardoá<br />
Virgolândia<br />
Naque<br />
RPPII Faz. Macedônia<br />
Coroací<br />
Ribeirão <strong>da</strong> On<strong>da</strong><br />
São Geraldo <strong>da</strong> Pie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Rio Corrente Gran<strong>de</strong><br />
PE do Rio Corrente<br />
Periquito<br />
Fernan<strong>de</strong>s Tourinho<br />
Governador Vala<strong>da</strong>res<br />
Alpercota<br />
Engenheiro Cal<strong>da</strong>s<br />
Sobralia<br />
São João do Oriente<br />
Iapu<br />
Marilac<br />
Rio Suaçuí Pequeno<br />
Dom Cavati<br />
Ribeirão Traíras<br />
Tarumirim<br />
Frei Inocêncio<br />
Rio Suaçuí Gran<strong>de</strong><br />
Capitão Andra<strong>de</strong><br />
Itanhomi<br />
Rio Itambacuri<br />
Rio Preto
1<br />
O MUNICÍPIO DE FERNANDES TOURINHO<br />
Informações Preliminares<br />
Fernan<strong>de</strong>s Tourinho é um dos quatro menores municípios localizados no<br />
Vale do Rio Doce, Leste do Estado <strong>de</strong> Minas Gerais, e fica a uma<br />
distância <strong>de</strong> 58 km <strong>de</strong> Governador Vala<strong>da</strong>res. Conforme estimativa do<br />
IBGE, em 2009 sua população estava em torno <strong>de</strong> 2713 habitantes,<br />
tendo aumentado em 2010 para 3028 habitantes. A extensão do<br />
território é 152,9 km², e a altitu<strong>de</strong> é <strong>de</strong> 604 m. acima do nível do mar.<br />
Fernan<strong>de</strong>s Tourinho é vizinho aos municípios <strong>de</strong> Sobrália e Engenheiro<br />
Cal<strong>da</strong>s, sendo a BR116 a principal rodovia que o liga a Vala<strong>da</strong>res e a<br />
outras regiões do Estado, <strong>de</strong>ntre elas o Vale do Aço. O IDH municipal,<br />
segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano era 0.672, em 2000 ² .<br />
Fernan<strong>de</strong>s Tourinho apresentou esvaziamento progressivo <strong>de</strong> suas<br />
zonas rurais, com movimentos migratórios para fora do Município e <strong>de</strong><br />
jovens adultos para os EUA. Sua população é predominantemente<br />
urbana (<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Municípios).<br />
Segundo <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> moradores,<br />
“em 1953, quando Juscelino implantou no<br />
Brasil fabricas <strong>de</strong> automóveis e diversas<br />
usinas hidrelétricas, cresceu o movimento<br />
emigratório para o Rio <strong>de</strong> Janeiro e São<br />
Paulo, à procura <strong>de</strong> melhores condições<br />
<strong>de</strong> trabalho”.<br />
A base <strong>da</strong> economia <strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s<br />
Tourinho era a agricultura e a pecuária,<br />
que entraram em <strong>de</strong>cadência quando as<br />
terras foram sendo transforma<strong>da</strong>s em<br />
pasto para o gado ou em sítios <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso em finais <strong>de</strong> semana. A<br />
atual administração vem tentando resgatar as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
agropecuárias, tendo, inclusive, criado o Programa COMPRA DO LEITE<br />
para estimular a produção na agricultura familiar.<br />
O Município <strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s Tourinho compreen<strong>de</strong>, administrativamente,<br />
a se<strong>de</strong>, vários Córregos e um Distrito, o <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
extensão (29 km²), situado a 14 km <strong>da</strong> se<strong>de</strong> urbana. Antes conhecido<br />
como Pedra Corri<strong>da</strong> ou Corridinha, o Distrito <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong><br />
também pertencia a Tarumirim, e se originou <strong>de</strong> um núcleo formado <strong>de</strong><br />
antigos empregados <strong>da</strong>s fazen<strong>da</strong>s <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> gado e cultivo <strong>de</strong><br />
milho, mandioca e feijão.<br />
Contexto Histórico<br />
Originário <strong>de</strong> um pequeno ponto <strong>de</strong> carga, chamado <strong>de</strong> “rancho <strong>de</strong><br />
tropas”, local <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso e hospe<strong>da</strong>gem dos viajantes e comerciantes<br />
que vinham dos lados <strong>de</strong> Tarumirim e Caratinga, para atingirem a Estação<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
1 - As informações <strong>de</strong>ste<br />
diagnóstico foram<br />
coleta<strong>da</strong>s entre os meses <strong>de</strong><br />
setembro a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
2010, por um grupo <strong>de</strong><br />
moradoras do Distrito<br />
<strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, com o<br />
apoio <strong>da</strong> assistente local do<br />
Projeto “Núcleos <strong>de</strong><br />
Integração”, Meiriele<br />
Lopes <strong>de</strong> Brito.<br />
2 - http://www.cnm.org.br/<br />
<strong>da</strong>do_geral/mumain.asp<br />
<strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong><br />
Fernan<strong>de</strong>s Tourinho
Ferroviária à margem esquer<strong>da</strong> do rio Doce, o local on<strong>de</strong> hoje é<br />
Fernan<strong>de</strong>s Tourinho foi então chamado pelos religiosos <strong>de</strong> Arraial do Bom<br />
Jesus.<br />
Com o passar dos anos e a fixação <strong>de</strong> famílias na locali<strong>da</strong><strong>de</strong>, foi<br />
construí<strong>da</strong> uma igreja e ofereci<strong>da</strong> à padroeira, pelo proprietário <strong>da</strong> área,<br />
uma gleba <strong>de</strong> 48 hectares (Patrimônio do Padroeiro), com o nome <strong>de</strong> Bom<br />
Jesus <strong>de</strong> Itaperu, que na linguagem indígena significa “pedra preta”.<br />
Em 1954, o lugar passou à categoria <strong>de</strong> Vila, com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong><br />
Itaperuna. Posteriormente, se tornou distrito e seus primeiros habitantes<br />
foram os sucessores <strong>de</strong> Joaquim Moreira, Carlos <strong>de</strong> Barros, entre outros.<br />
O primeiro professor do Distrito foi o senhor Manuel Pereira Neves e o<br />
primeiro sacerdote a celebrar no local foi o padre Painhos.<br />
Com a reforma administrativa do Estado <strong>de</strong> Minas Gerais, em<br />
1962/1963, foi sanciona<strong>da</strong> a lei n 2.764 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1962,<br />
elevando o Distrito <strong>de</strong> Itaperuna à categoria <strong>de</strong> município, sendo então<br />
chamado <strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s Tourinho, em homenagem ao ban<strong>de</strong>irante,<br />
Sebastião Fernan<strong>de</strong>s Tourinho que, nos idos <strong>de</strong> 1576, teria <strong>de</strong>sbravado e<br />
<strong>de</strong>scoberto o território no curso do rio Doce. A emancipação política <strong>de</strong><br />
Fernan<strong>de</strong>s Tourinho se <strong>de</strong>u em 1º <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1963, e a primeira eleição<br />
foi realiza<strong>da</strong> em 30 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1963.<br />
“Anos atrás, a região rural era muito populosa e abrigava as<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas que se constituíam na fonte <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
maioria <strong>de</strong> seus habitantes. O povoado <strong>de</strong> nome Itaperu era muito<br />
pequeno. As matas foram sendo <strong>de</strong>rruba<strong>da</strong>s por pessoas que iam<br />
se fixando no povoado, proporcionando a ocupação ca<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong><br />
do território. As lavouras <strong>de</strong> milho, arroz, feijão e outras se<br />
multiplicavam, tornando-se relevante fator <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong><br />
locali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Completando esta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a criação <strong>de</strong> gado bovino<br />
leiteiro e <strong>de</strong> corte foi incrementa<strong>da</strong>, passando a ser o binômio<br />
“Agricultura e Pecuária”, a base mestra <strong>da</strong> economia municipal,<br />
naquela e na época atual. O rio Doce, “sulcando o território”,<br />
constituiu-se em outro fator <strong>de</strong> <strong>de</strong>sbravamento <strong>da</strong>s terras <strong>de</strong><br />
Fernan<strong>de</strong>s Tourinho”. Os mais antigos contam que havia muita<br />
ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> lei carvoarias, produção abun<strong>da</strong>nte e vi<strong>da</strong> nas<br />
fazen<strong>da</strong>s. (Texto extraído <strong>da</strong>s anotações <strong>da</strong> equipe que realizou<br />
o diagnóstico)<br />
Segundo moradores antigos, nos idos <strong>de</strong> 1963, por ocasião <strong>da</strong><br />
emancipação <strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s Tourinho <strong>da</strong> Comarca <strong>de</strong> Tarumirim, seu<br />
primeiro Prefeito, eleito pelo voto direto, encontrou o Município “em<br />
condições paupérrimas, sem nenhuma estrutura, sem água canaliza<strong>da</strong>,<br />
sem energia elétrica, sem calçamento, sem re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto, abastecimento<br />
<strong>de</strong> água feito através <strong>de</strong> cisternas domésticas, animais vagando pelas ruas,<br />
gerando surtos <strong>de</strong> anemia e verminose, e pior, o Município não tinha<br />
nenhuma ren<strong>da</strong>, para que seu primeiro Prefeito pu<strong>de</strong>sse fazer qualquer<br />
coisa em prol <strong>da</strong> população”.<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
5
Infraestrutura<br />
Ruas e praças<br />
A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> é bem cui<strong>da</strong><strong>da</strong>, com ruas pavimenta<strong>da</strong>s e limpas, praças e<br />
casas ajardina<strong>da</strong>s, além <strong>de</strong> uma rua <strong>de</strong> lazer fecha<strong>da</strong> ao trânsito <strong>de</strong><br />
veículos. No Distrito <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, as ruas bem cui<strong>da</strong><strong>da</strong>s conta<br />
com trabalhadores auxiliares <strong>de</strong> serviços gerais encarregados <strong>da</strong><br />
limpeza. As estra<strong>da</strong>s <strong>de</strong> acesso aos Córregos e ao Distrito são <strong>de</strong> terra e<br />
apresentam dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para o trânsito <strong>de</strong> veículos em período<br />
chuvoso.<br />
Transporte coletivo<br />
Não há transporte coletivo urbano em Fernan<strong>de</strong>s Tourinho. Inclusive,<br />
não há meio <strong>de</strong> transporte para o Distrito <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, a não<br />
ser o ônibus escolar e motos <strong>de</strong> moradores.<br />
Esgotamento Sanitário e Abastecimento <strong>de</strong> Água<br />
O sistema <strong>de</strong> esgotamento sanitário administrado pela Prefeitura<br />
Municipal possui re<strong>de</strong>s coletoras com bom índice <strong>de</strong> atendimento.<br />
Conforme informado no Relatório <strong>de</strong> Impactos Ambientais - RIMA <strong>da</strong><br />
UHE Baguari, “Os efluentes coletados em Fernan<strong>de</strong>s Tourinho são<br />
lançados “in natura” em diversos pontos, no córrego Caixa Larga, que<br />
corta a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, o lançamento é feito no rio Doce”.<br />
INFORMAÇÕES BÁSICAS SOBRE O SISTEMA DE ESGOTAMENTO<br />
SANITÁRIO DO MUNICÍPIO DE FERNANDES TOURINHO -2000<br />
Distrito<br />
Fernan<strong>de</strong>s<br />
Tourino<br />
<strong>Senhora</strong><br />
<strong>da</strong> <strong>Penha</strong><br />
Total <strong>de</strong><br />
Domicílios Re<strong>de</strong><br />
Geral (%)<br />
Nº %<br />
Fossa<br />
Séptica<br />
(%)<br />
Fossa<br />
Rio ou<br />
Rudimentar Vala (%)<br />
Lago (%)<br />
(%)<br />
Fonte: IBGE - CENSO DEMOGRÁFICO, MINAS GERAIS, 2000. (RIMA UHE BAGUARI)<br />
O RIMA informa o índice <strong>de</strong> atendimento para a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição na<br />
se<strong>de</strong> do município como sendo <strong>de</strong> 80%, <strong>de</strong>crescendo para 36% no<br />
distrito <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, on<strong>de</strong> uma parcela expressiva dos<br />
domicílios (63%) têm como principal fonte, poços e nascentes.<br />
Abastecimento <strong>de</strong> água do Município <strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s Tourinho<br />
Distrito<br />
Fernan<strong>de</strong>s<br />
Tourinho<br />
<strong>Senhora</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Penha</strong><br />
Fonte: IBGE - CENSO DEMOGRÁFICO, MINAS GERAIS, 2000. (RIMA UHE Baguari)<br />
Outro<br />
(%)<br />
Não tem<br />
Banheiro<br />
(%)<br />
583 100 50,43 0,51 7,20 0,69 32,76 3,77 4,63<br />
116 100 43,10 14,66 0,86 6,03 21,56 - 13,79<br />
Total <strong>de</strong> Domicílios Percentual <strong>de</strong> Forma <strong>de</strong> Abastecimento (%)<br />
Nº % Re<strong>de</strong><br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
Poço ou<br />
Nascente<br />
Outra<br />
583 100 66,72 32,08 1,20<br />
116 100 36,21 62,93 0,86<br />
6
Dizem os moradores que em F. Tourinho “o esgoto, é jogado no córrego.<br />
Existe um aterro sanitário, mas há ruas no morro que não são calça<strong>da</strong>s e<br />
na época <strong>da</strong>s chuvas, o barro escorre para as ruas <strong>de</strong> baixo.’’<br />
A distribuição <strong>de</strong> água ain<strong>da</strong> é um <strong>de</strong>safio no município. A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> é<br />
abasteci<strong>da</strong> por poços artesianos e nos bairros situados em locais mais<br />
altos, por caminhões-pipa. Quando chove, os moradores chegam a<br />
ficar sem água.<br />
De acordo com a Prefeitura, os problemas relacionados à<br />
pavimentação e ao saneamento básico <strong>de</strong>vem ser resolvidos ain<strong>da</strong> este<br />
ano (2010) por meio <strong>de</strong> uma parceria com o Banco do Desenvolvimento<br />
<strong>de</strong> Minas Gerais. Há energia elétrica no Município, inclusive na zona<br />
rural e o Programa “Luz Para Todos” vem aten<strong>de</strong>ndo aos objetivos.<br />
Sobre a iluminação pública, embora não tenha sido informado o prazo,<br />
a parceria será feita com a CEMIG - Companhia <strong>de</strong> Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Minas Gerais.<br />
Quase to<strong>da</strong> a arreca<strong>da</strong>ção do Município vem dos repasses <strong>da</strong>s<br />
instâncias Estadual e Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> governo. O recurso “é pequeno” e,<br />
segundo a Prefeitura, é quase todo aplicado em assistência <strong>social</strong>,<br />
saú<strong>de</strong>, educação e transporte.<br />
O lixo do Município é levado para um aterro controlado, respeitando os<br />
requisitos necessários para preservação do meio ambiente. Tanto o<br />
saneamento quanto a poluição são tratados <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> para<br />
que o meio ambiente seja respeitado e preservado, afirmou uma<br />
autori<strong>da</strong><strong>de</strong> entrevista<strong>da</strong>.<br />
Bancos<br />
No Município há uma agência do Banco do Estado <strong>de</strong> Minas Gerais<br />
(BE<strong>MG</strong>E) e o SICOOB, banco cooperativo. Há caixas eletrônico <strong>da</strong><br />
Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral, localizado em uma loja <strong>de</strong> moveis <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
e do Bra<strong>de</strong>sco na agência dos Correios e na Farmácia Biocel.<br />
Economia<br />
A economia do Município se baseia na pecuária <strong>de</strong> corte e leite e na<br />
agricultura, sendo este o meio <strong>de</strong> subsistência dos pequenos<br />
agricultores, terceiros e meeiros. Os hortifrutigranjeiros também são<br />
cultivados. A produção leiteira tem como principal <strong>de</strong>stino o mercado <strong>de</strong><br />
Governador Vala<strong>da</strong>res. As pastagens ocupam a maior parte do<br />
território do município.<br />
Com exceção <strong>de</strong> uma pequena agroindústria familiar <strong>de</strong> cachaça, a<br />
Barrilitro NOBRE, não há indústrias em Fernan<strong>de</strong>s Tourinho. A pequena<br />
fábrica <strong>de</strong> borracha que existia foi transferi<strong>da</strong> para outro município e<br />
hoje no local apenas se extrai a borracha in natura. Os principais<br />
produtos consumidos são oriundos <strong>de</strong> Caratinga e Belo Horizonte. O<br />
setor <strong>de</strong> serviços também é pouco expressivo. Os principais<br />
empregadores são a Prefeitura, os estabelecimentos comerciais e os<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
7
agropecuários (fazen<strong>da</strong>s).<br />
No setor comercial, observou-se crescimento na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Lojas e<br />
supermercados (2), pa<strong>da</strong>rias (3), mercadinhos (2) e 2 casas <strong>de</strong> produtos<br />
agropecuários.<br />
A pesca no rio Doce vem se apresentando como uma alternativa<br />
importante para a sobrevivência <strong>da</strong> população. A extração <strong>de</strong> areia teve<br />
retração com o enchimento do reservatório. Segundo <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong><br />
técnicos <strong>da</strong> Prefeitura, havia no Distrito <strong>de</strong> Pedra Corri<strong>da</strong> e Corridinha<br />
(<strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>) 450 pessoas vivendo <strong>da</strong> exploração <strong>da</strong> areia,<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> que comprometeu a estrutura sanitária <strong>da</strong> locali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Foi<br />
menciona<strong>da</strong> pelo Prefeito, por ocasião <strong>da</strong> primeira visita <strong>da</strong> equipe do<br />
projeto ao Município, a expectativa <strong>de</strong> que o Consórcio Baguari<br />
aplicasse no Distrito as ações previstas no Plano Ambiental <strong>de</strong><br />
Conservação e Uso do Entorno do Reservatório Artificial (PACUERA) <strong>da</strong><br />
UHE Baguari, “o que até o momento ain<strong>da</strong> não ocorreu”. Em vista disso,<br />
“foi solicitado ao Consórcio que negociasse, individualmente, com as<br />
pessoas prejudica<strong>da</strong>s, especialmente, o canoeiro, extrator <strong>da</strong> areia”.<br />
Educação<br />
O município <strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s Tourinho possui hoje duas escolas municipais<br />
que oferecem Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Infantil e uma Escola Estadual, com<br />
Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Médio.<br />
As crianças <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, e <strong>da</strong>s outras locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s pertencentes<br />
a Fernan<strong>de</strong>s Tourinho, estu<strong>da</strong>m nas escolas do município, cujo<br />
transporte é feito pelo ônibus escolar fornecido pela Prefeitura.<br />
Os equipamentos educacionais em Fernan<strong>de</strong>s Tourinho são dos<br />
“melhores <strong>da</strong> região”, dizem moradores. “Contamos com uma Escola<br />
Estadual Agripino Vilas Novas, uma Municipal Al<strong>da</strong> Fernan<strong>de</strong>s Gouveia e<br />
um Centro <strong>de</strong> Educação Infantil Municipal Dona Crioula, com 170<br />
crianças matricula<strong>da</strong>s. Nas escolas estão matriculados 1.025 alunos’’.<br />
A Escola Municipal Al<strong>da</strong> Fernan<strong>de</strong>s Gouveia conta com uma equipe <strong>de</strong><br />
profissionais integra<strong>da</strong> por: fonoaudiólogo, psicólogo, nutricionista,<br />
pe<strong>da</strong>gogos. Os prédios têm boa estrutura e quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. A educação<br />
escolar é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> boa, avaliação que é basea<strong>da</strong> nos níveis <strong>de</strong> medi<strong>da</strong><br />
do Estado. Na última avaliação feita pelo Ministério <strong>da</strong> Educação, em<br />
2009, a nota subiu <strong>de</strong> 3,5 para 4,4, “mas ain<strong>da</strong> falta muita coisa para<br />
alcançarmos os níveis exigidos pelo governo”, disse uma professora. Para<br />
alguns moradores, “o nível <strong>de</strong> escolari<strong>da</strong><strong>de</strong> oferecido está precário, há<br />
falta <strong>de</strong> preparo dos professores, que estão tendo dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalhar<br />
com os jovens, que estão muito indisciplinados”.<br />
Quanto ao EJA (Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos) funciona com poucos<br />
alunos e, no Distrito <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> não funciona por não haver<br />
nenhuma matricula, não porque não exista analfabetos, há muitos, mas<br />
“sem o mínimo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> sair <strong>de</strong>sse estado (analfabetismo)”, diz uma<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
8
entrevista<strong>da</strong>. Porém não há estatística sobre o analfabetismo no<br />
Município ou no Distrito.<br />
A escola do Distrito <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> foi fecha<strong>da</strong> “pela secretaria<br />
Estadual <strong>de</strong> Educação”, informou o Prefeito, ficando o prédio para a<br />
Prefeitura que po<strong>de</strong>rá transformá-lo em creche, se houver apoio e<br />
número suficiente <strong>de</strong> crianças. Para estu<strong>da</strong>r, crianças e adolescentes do<br />
Distrito viajam, diariamente, 27 km (i<strong>da</strong> e volta) no transporte escolar,<br />
na estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> terra. A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> fechar a escola <strong>da</strong> zona rural (no<br />
<strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>) foi toma<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> uma reunião com a<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e o Prefeito, pois não havia alunos suficientes para formar<br />
classes, e há alguns anos atrás se trabalhava com classes<br />
multisseria<strong>da</strong>s, o que “foi se tornando insuportável”, agravado pelo fato<br />
<strong>de</strong> que “a maioria dos familiares não participava <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> escolar dos<br />
filhos, <strong>de</strong>ixando professores a mercê <strong>da</strong> rebeldia <strong>de</strong> alguns alunos”, disse<br />
uma entrevista<strong>da</strong>.<br />
No município, muitos jovens abandonavam os estudos, porque a escola<br />
Estadual funcionava somente no período diurno, porém, em <strong>2011</strong>, a<br />
Escola voltou a funcionar também no período noturno.<br />
Na escola municipal, que oferece Ensino Fun<strong>da</strong>mental, diz uma mãe <strong>de</strong><br />
família, o “nível melhorou muito, mas na outra, estadual, os alunos<br />
<strong>de</strong>sistem na sexta série, não sei porque. Antigamente, a meren<strong>da</strong> era<br />
trazi<strong>da</strong> <strong>de</strong> casa, era mingau trazido pelos alunos. Crianças e professores<br />
tinham que an<strong>da</strong>r muito até chegar na escola”.<br />
O Município, na questão <strong>da</strong> educação está “precisando <strong>de</strong> incentivo<br />
para criar uma escola profissional para os adolescentes que terminam o<br />
Ensino Médio, para se preparar para o mercado <strong>de</strong> trabalho”.<br />
Comparando as condições atuais com épocas anteriores, algumas<br />
pessoas reconhecem que houve muitas melhorias; mencionaram as<br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que havia, <strong>de</strong>ntre elas que a educação era ministra<strong>da</strong> por<br />
professoras leigas, sem nenhuma formação profissional, pagas pelo<br />
Estado <strong>de</strong> Minas Gerais, que às vezes atrasava os pagamentos <strong>de</strong> seis a<br />
doze meses. “Nem se falava em cultura e muito menos em meio<br />
ambiente”. Hoje a educação é manti<strong>da</strong>, tanto pelo Estado quanto pelo<br />
Município, através do FUNDEB (Fundo Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong><br />
Educação Básica). Trata-se <strong>de</strong> um Fundo Fe<strong>de</strong>ral, sendo que 60% dos<br />
recursos são <strong>de</strong>stinados ao pagamento dos professores.<br />
O município conta ain<strong>da</strong> com uma facul<strong>da</strong><strong>de</strong>, a ULBRA, <strong>de</strong> ensino à<br />
distância (EAD), que oferece algumas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s presenciais, semanais.<br />
Há também em Fernan<strong>de</strong>s Tourinho oferta <strong>de</strong> curso profissionalizante,<br />
em parceria com a Secretaria <strong>de</strong> Educação.<br />
Saú<strong>de</strong><br />
No Município, como em to<strong>da</strong> a região, a situação sócio-sanitária sofre<br />
influência <strong>da</strong> <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção do rio Doce, associado ao <strong>de</strong>sflorestamento e<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
9
à implantação <strong>de</strong> pastagens nas suas margens, que recebem<br />
esgotamento sanitário e lixo nos núcleos urbanos e ao longo <strong>de</strong> seu<br />
curso. Por isso, a população está exposta ao risco <strong>de</strong> contrair doenças<br />
infecciosas e parasitárias, como hepatite, <strong>de</strong>ngue, gastroenterite, entre<br />
outras.<br />
Segundo o RIMA <strong>da</strong> UHE Baguari, a região, incluindo Fernan<strong>de</strong>s<br />
Tourinho é endêmica para a esquistossomosse e hiperendêmica para a<br />
hanseníase. Fernan<strong>de</strong>s Tourinho apresentou no ano 2000, 15 casos <strong>de</strong><br />
hanseníase (para10.000 habitantes), taxa consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> alta quando<br />
compara<strong>da</strong> com as do Estado <strong>de</strong> Minas Gerais (3,2 por 10 mil<br />
habitantes).<br />
Há algum tempo atrás, conta um morador, a saú<strong>de</strong> dos munícipes em<br />
Fernan<strong>de</strong>s Tourinho era trata<strong>da</strong> através <strong>da</strong> distribuição <strong>de</strong><br />
medicamentos, como, Sulfato Ferroso, Tetracloroetileno-vermífugo e<br />
benzetacil. enviados pela Central <strong>de</strong> Medicamentos (CME). “Sem falar<br />
do saudoso Sebastião Alves, que ministrava medicamentos à população<br />
através <strong>de</strong> seus fartos conhecimentos farmacológicos, e o sr.<br />
Democracía<strong>de</strong>s, que tratava os doentes através <strong>de</strong> raízes”, <strong>de</strong>clarou um<br />
morador.<br />
Hoje, o tratamento <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> se dá através do atendimento no Posto <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> Família (PSF) on<strong>de</strong>, em média, são feitos, por mês, 600<br />
atendimentos, por uma equipe <strong>de</strong> vários profissionais: 4 Médicos<br />
Clínicos que fazem atendimento todos os dias, inclusive, aos sábados, 1<br />
Pediatra, 1 Ginecologista, 1 Enfermeiro, 4 Técnicos em Enfermagem, 5<br />
Agentes <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e 2 Dentistas. A farmácia popular libera 300 tipos <strong>de</strong><br />
medicamentos e as ambulâncias ficam disponíveis 24 horas, para<br />
emergências e transporte <strong>de</strong> pacientes em estado mais grave para as<br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Tarumirim e Governador Vala<strong>da</strong>res. Conforme <strong>de</strong>claração<br />
do Prefeito, Vicente Germano, há no município doze motoristas <strong>de</strong><br />
ambulância, todos qualificados por cursos ministrados pelo SENAC.<br />
Ain<strong>da</strong> na área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>, está em fase <strong>de</strong> construção em Fernan<strong>de</strong>s<br />
Tourinho um complexo para exercícios físicos, com vários aparelhos,<br />
para jovens, adultos e pessoas <strong>da</strong> Terceira i<strong>da</strong><strong>de</strong>, sob supervisão <strong>de</strong> um<br />
fisioterapeuta.<br />
Assistência Social<br />
Fernan<strong>de</strong>s Tourinho possui um Centro <strong>de</strong> Referência <strong>da</strong> Assistência<br />
Social (CRAS), que presta aos Munícipes assistência <strong>social</strong>, psicológica e<br />
cultural, ministrando aulas <strong>de</strong> bale, taekwando para as crianças, grupos<br />
<strong>de</strong> Terceira I<strong>da</strong><strong>de</strong>, além <strong>de</strong> oficinas <strong>de</strong> pintura, ponto russo, ponto cruz,<br />
entre outros. O objetivo é que, através <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s manuais, o<br />
munícipe possa complementar sua ren<strong>da</strong> familiar com a ven<strong>da</strong> dos<br />
produtos manufaturados.<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
10
Comunicação<br />
Fernan<strong>de</strong>s Tourinho recebe o Diário do Rio Doce, sedia a Rádio<br />
Comunitária “Minas FM” e sintoniza as emissoras <strong>de</strong> TV Globo, SBT,<br />
Record, Ban<strong>de</strong>irantes e Re<strong>de</strong> Minas.<br />
Organização Comunitária<br />
Os munícipes estão organizados num Sindicato <strong>de</strong> Trabalhadores<br />
Rurais e uma associação comunitária que representa os moradores na<br />
se<strong>de</strong> urbana, além <strong>de</strong> uma Associação Vicentina, vincula<strong>da</strong> à Igreja<br />
Católica, sedia<strong>da</strong> no Distrito <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>. No Município estão em<br />
funcionamento os Conselhos Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, Assistência Social,<br />
Educação, Meio Ambiente, Emprego e Trabalho.<br />
No município <strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s Tourinho, o sentimento <strong>de</strong> pertencimento é<br />
forte, conforme observado em <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> moradores nas<br />
entrevistas: “Apesar <strong>de</strong> ain<strong>da</strong> faltar alguns serviços, hoje, em nosso<br />
município, consi<strong>de</strong>rando seu pequeno porte, se encontra bem<br />
organizado, com uma infraestrutura inveja<strong>da</strong> por muitos<br />
administradores <strong>de</strong> outras ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s”, afirmou um morador. E outro: “A<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s Tourinho mudou bastante, o que antes<br />
parecia distante <strong>da</strong> nossa reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, hoje já po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sfrutado, como:<br />
telefone móvel, internet, universi<strong>da</strong><strong>de</strong> e outros. Antes era bem difícil e<br />
praticamente tudo que precisávamos era trazido <strong>de</strong> fora”.<br />
Cultura e Lazer<br />
Entre as curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s Tourinho está a presença <strong>de</strong> dois<br />
cemitérios, apesar do pequeno número <strong>de</strong> habitantes. ‘‘Num <strong>de</strong>les,<br />
on<strong>de</strong> os túmulos não têm cruzes, são enterra<strong>da</strong>s somente pessoas<br />
evangélicas. O outro é <strong>de</strong>stinado aos católicos. Essa história já tem mais<br />
<strong>de</strong> 60 anos, contando os mais antigos, que essa foi a alternativa<br />
encontra<strong>da</strong>, para <strong>da</strong>r um basta nas divergências entre os fiéis. Muitos<br />
relatam que ocorreram até brigas e atos <strong>de</strong> van<strong>da</strong>lismo entre as partes.<br />
Um dos alvos eram as cruzes coloca<strong>da</strong>s nas sepulturas e que os<br />
evangélicos não aceitavam”, disse o prefeito <strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s Tourinho,<br />
Vicente <strong>de</strong> Paula Germano, segundo o qual, um grupo <strong>de</strong> pessoas mais<br />
influentes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> levou o problema ao conhecimento do bispo, Dom<br />
Cavati, que achou por bem construir outro cemitério, separando<br />
evangélicos <strong>de</strong> católicos.<br />
O calendário municipal <strong>de</strong> feriados tem como particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s a<br />
comemoração do Jubileu do Nosso Senhor Bom Jesus no mês <strong>de</strong><br />
setembro, o Dia do Trabalhador e o Mês <strong>de</strong> Maria, ambos em maio, as<br />
festas juninas nas duas escolas públicas e também nas ruas e, no final<br />
do ano, a festa do Reveillon. As festivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s são realiza<strong>da</strong>s no Centro<br />
Cultural <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
11
SENHORA DA PENHA<br />
Informações Preliminares<br />
“Mestre não é sempre quem<br />
ensina. Mas, quem <strong>de</strong> repente,<br />
apren<strong>de</strong>”.<br />
João Guimarães Rosa<br />
<strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, anteriormente<br />
<strong>de</strong>nominado Pedra Corri<strong>da</strong> ou<br />
Corridinha, também pertencia a<br />
Tarumirim. A locali<strong>da</strong><strong>de</strong> recebeu o nome<br />
<strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> e foi reconheci<strong>da</strong> como distrito em primeiro <strong>de</strong><br />
março <strong>de</strong> 1963. Está localiza<strong>da</strong> na área rural do município <strong>de</strong><br />
Fernan<strong>de</strong>s Tourinho e o acesso ao núcleo habitado se dá por uma<br />
estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> terra, on<strong>de</strong> se percorrem 14 km, a partir <strong>da</strong> se<strong>de</strong>. Ao longo<br />
<strong>da</strong> estra<strong>da</strong>, se avista extensas fazen<strong>da</strong>s e chácaras, algumas com<br />
pomares e produzindo hortaliças, outras criando gado.<br />
O Distrito <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> abrange uma área <strong>de</strong> 29 km2. Extraoficialmente,<br />
vivem no Distrito cerca <strong>de</strong> 800 habitantes, mas os próprios<br />
moradores relatam ter hoje no local mais ou menos 400 moradores ³ .<br />
Em 2000, <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> possuía 116 domicílios e nele residiam<br />
cerca <strong>de</strong> 800 pessoas, sendo que a maior parte era <strong>de</strong> meeiros e o<br />
restante, produtores agrícolas. Esta foi a parte do Município mais<br />
impacta<strong>da</strong> pela construção <strong>da</strong> barragem (UHE Baguari).<br />
Na entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> rua principal do <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, uma bela paisagem,<br />
forma<strong>da</strong> pelo rio Doce, emoldura esse povoado situado à sua margem.<br />
As poucas ruas do Distrito são limpas e bem cui<strong>da</strong><strong>da</strong>s, revelando o zelo<br />
dos moradores pelo local.<br />
Breve Histórico<br />
Segundo Sr. Alípio, antigo morador <strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s Tourinho, no Distrito<br />
havia uma indústria <strong>de</strong> café, cujo proprietário, o sr. Augusto Neves<br />
Benedito Oliveira, chamado <strong>de</strong> Oliveira Santos, construiu a antiga<br />
Igreja do <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, que ficava na beira do rio e <strong>de</strong>u nome ao<br />
povoado. “A maioria <strong>da</strong>s pessoas <strong>da</strong> locali<strong>da</strong><strong>de</strong> trabalhava para ele”.<br />
De acordo com seus moradores mais antigos, o Distrito originou-se <strong>de</strong><br />
um núcleo formado <strong>de</strong> antigos empregados <strong>da</strong>s fazen<strong>da</strong>s <strong>de</strong> criação <strong>de</strong><br />
gado e cultivo <strong>de</strong> milho, mandioca e feijão, <strong>da</strong> região. Segundo alguns,<br />
a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> não cresceu muito <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua criação, e hoje a tendência<br />
dos jovens é buscar oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s em outros locais, visto que não<br />
encontram emprego nas proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Dessa forma, acabam<br />
migrando para as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s maiores.<br />
Um dos moradores revelou que “o Distrito é bem pacato. Muitas pessoas<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
3 - Não há estatística<br />
oficial. As informações<br />
serão coleta<strong>da</strong>s pelos<br />
moradores no <strong>de</strong>correr do<br />
projeto Núcleos.<br />
12
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>da</strong>li saem ain<strong>da</strong> jovens, em busca <strong>de</strong> melhores<br />
oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, acabam retornando quando mais velhos, <strong>de</strong>vido à boa<br />
quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> que o local<br />
proporciona. O mesmo morador revela<br />
sua trajetória que, muito provavelmente, é<br />
semelhante à <strong>de</strong> outras pessoas do lugar.<br />
Mudou-se para a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> com os<br />
pais aos sete anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>. Na<br />
juventu<strong>de</strong>, saiu do Distrito, trabalhou<br />
como caminhoneiro e, após longo tempo,<br />
<strong>de</strong>cidiu voltar para a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, “para<br />
ter calma e sossego”. Ele conta ain<strong>da</strong> que<br />
“o distrito tinha um traçado um pouco<br />
diferente, que havia uma rua on<strong>de</strong> hoje é<br />
a margem do rio Doce. Essa rua é a mais movimenta<strong>da</strong> nos finais <strong>de</strong><br />
semana e à época era conheci<strong>da</strong> como favelinha”.<br />
Mercado <strong>de</strong> Trabalho<br />
Este é o setor <strong>de</strong> maior carência, tanto no Município como no Distrito<br />
<strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>. As pessoas mais velhas contam que há uns 60 anos<br />
atrás, em Fernan<strong>de</strong>s Tourinho, as famílias cultivavam as plantações<br />
“com suas próprias mãos”, caracterizando a agricultura como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> subsistência. “Ninguém comprava os produtos, cultivava-se café no<br />
próprio quintal, o arroz era plantado na lagoa que agora é pasto, ca<strong>da</strong><br />
um tinha direito <strong>de</strong> plantar e <strong>de</strong> colher e repartia-se o que colhia com o<br />
dono do terreno cedido para se plantar; o feijão também era plantado e<br />
o terreno em que se plantava o feijão era do senhor Neves. Naquela<br />
época, se plantava lavoura <strong>de</strong> café, cana e banana nas terras do senhor<br />
Neves, <strong>de</strong> Manoel Perique, senhor Olindo. Os agricultores plantavam a<br />
meia e a terça e trabalhavam também por dia. Da ponte que vai para o<br />
velho Diolindo até no Beléta, era plantação <strong>de</strong> arroz, a sobra era vendi<strong>da</strong><br />
para o senhor Neves, que tinha um armazém que revendia em<br />
Governador Vala<strong>da</strong>res, fazendo a travessia no rio Doce em um bote”.<br />
Dona Almira diz que “nesta região, as pessoas viviam <strong>da</strong>s culturas<br />
agrícolas, faziam doces, requeijão, criavam animais para o próprio<br />
sustento, como galinha, porcos, cabrito, pato, entre outros. Eles também<br />
plantavam arroz, feijão, milho, mandioca, café, cana, colhiam mel nas<br />
florestas, outros viviam <strong>da</strong> pesca, se fazia muita farinha <strong>de</strong> mandioca e<br />
fubá, o arroz era socado em pilão, manualmente”.<br />
Segundo alguns moradores, “a pecuária <strong>de</strong> corte aumentou e a pecuária<br />
comercial <strong>de</strong> leite diminuiu, a agricultura hortifrutigranjeira está<br />
praticamente acaba<strong>da</strong>, sendo que em alguns locais está erguendo-se<br />
com a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> EMATER”.<br />
O Distrito <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> foi, segundo o Prefeito, o local mais<br />
impactado no Município, pela construção <strong>da</strong> UHE Baguari. A mão <strong>de</strong><br />
obra ficou ociosa e os projetos do PAC estão paralisados. Os impactos<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
13
são sentidos nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s econômicas (pesca e exploração <strong>da</strong> areia),<br />
com reflexos nas condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos famílias.<br />
Hoje, a maioria dos agricultores é aposenta<strong>da</strong>. Poucas são as pessoas<br />
que trabalham <strong>de</strong> carteira assina<strong>da</strong>. Quando encontram serviço, alguns<br />
trabalham por dia, o que não garante seus empregos. Entre os<br />
principais problemas, foi citado que os fazen<strong>de</strong>iros, muitas vezes,<br />
preferem trazer gente <strong>de</strong> fora para trabalhar por um salário mais baixo.<br />
Segundo um entrevistado, os fazen<strong>de</strong>iros não <strong>de</strong>ixam plantar mais, e<br />
“tudo, hoje, virou pasto para o gado”.<br />
Estima-se que a ren<strong>da</strong> média <strong>da</strong> população do Distrito seja <strong>de</strong> um<br />
salário mínimo, sendo que muitos, como já dito, vivem <strong>de</strong> pensão,<br />
aposentadoria e outros benefícios, como bolsa família. A ren<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />
famílias incluí<strong>da</strong>s no Programa varia <strong>de</strong> 70 a 140 reais. Vários<br />
moradores do Distrito trabalham nas fazen<strong>da</strong>s, como vaqueiros, tirando<br />
leite, no trato do gado para corte, outros são carpinteiros, pedreiros e<br />
aju<strong>da</strong>ntes na construção civil, realizando serviços braçais, fazendo<br />
bicos. Muitos trabalham no serviço público.<br />
A falta <strong>de</strong> emprego é o maior problema do Distrito. Devido a isso, muitas<br />
pessoas foram embora, e hoje “os <strong>da</strong>dos não batem com os registros”,<br />
em muitas fazen<strong>da</strong>s os proprietários contam apenas com um gerente e<br />
as máquinas, “não existem mais aquelas famílias que trabalhavam e<br />
moravam nas fazen<strong>da</strong>s”.<br />
Na locali<strong>da</strong><strong>de</strong>, diz um morador, “só há fazen<strong>da</strong>s, fora disso, não existe<br />
na<strong>da</strong> que ofereça trabalho”. O principal problema <strong>da</strong> região é que a<br />
maioria dos jovens não tem oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> emprego, então vão para<br />
outras ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e até para outros países em busca <strong>de</strong> trabalho. Alguns<br />
pais <strong>de</strong> família <strong>de</strong>ixam seus filhos com parentes e saem do país em<br />
busca <strong>de</strong> uma vi<strong>da</strong> melhor. Sabe-se que o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong>ssas pessoas é,<br />
como nos municípios vizinhos, principalmente, os Estados Unidos.<br />
A maior parte <strong>da</strong>s mulheres e jovens não tem emprego. As mulheres “se<br />
viram como po<strong>de</strong>m, com o que sabem fazer: são “sacoleiras”,<br />
cabeleireiras, manicure, fazem artesanato, bor<strong>da</strong>do, costura, pintura,<br />
bolos, doces e salgados, mas não<br />
ganham o suficiente para manter uma<br />
família. Muitas mulheres e moças também<br />
trabalham fazendo faxina em Fernan<strong>de</strong>s<br />
Tourinho; to<strong>da</strong>s têm interesse e potencial,<br />
mas falta apoio para seguirem em frente”.<br />
Educação<br />
A escola que havia no Distrito foi<br />
fecha<strong>da</strong>. Hoje é um “prédio público”, que<br />
está em péssimas condições. Desativa<strong>da</strong><br />
por número insuficiente <strong>de</strong> alunos, a<br />
antiga escola é objeto <strong>de</strong> polêmica e<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
14
queixa <strong>da</strong>s moradoras, mães <strong>de</strong> família, segundo as quais, houve<br />
consulta à população para a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão pelo fechamento. Há<br />
na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> diversas versões a respeito do fato. Segundo o Prefeito,<br />
o prédio era do Estado (<strong>de</strong> Minas Gerais) que o <strong>de</strong>ixou abandonado e,<br />
posteriormente, fez a doação ao município.<br />
O prédio escolar em <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, possui duas salas <strong>de</strong> aula, uma<br />
pequena sala que funciona como secretaria e uma cantina, tudo em<br />
situação <strong>de</strong>plorável, sem condições <strong>de</strong> funcionamento, no momento.<br />
O que preocupa as famílias é a ociosi<strong>da</strong><strong>de</strong> a que estão submetidos os<br />
jovens, por falta <strong>de</strong> emprego e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s ocupacionais e <strong>de</strong> lazer. “Os<br />
jovens têm gran<strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, mas muitos estão largando a<br />
escola porque precisam trabalhar e ganhar seu próprio sustento”.<br />
No Distrito <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, a gran<strong>de</strong> preocupação <strong>da</strong>s famílias é o<br />
fato <strong>de</strong> existir escolas apenas na se<strong>de</strong> do Município. Mesmo que a<br />
Prefeitura provi<strong>de</strong>ncie o transporte escolar para todos os alunos <strong>da</strong> zona<br />
rural, os pais se preocupam porque prefeririam que a escola<br />
funcionasse também no Distrito, especialmente, por causa <strong>da</strong>s crianças<br />
menores.<br />
Saú<strong>de</strong><br />
Com relação à saú<strong>de</strong>, as condições do<br />
Distrito precisam melhorar, pois, embora<br />
exista um posto em boas condições, ele<br />
não é reconhecido oficialmente pela<br />
secretaria estadual. Para serem atendi<strong>da</strong>s<br />
as pessoas precisam se <strong>de</strong>slocar a<br />
Fernan<strong>de</strong>s Tourinho, e <strong>de</strong> lá, conforme o<br />
caso, têm que ir até Governador<br />
Vala<strong>da</strong>res ou a Tarumirim, “ou seja,<br />
Fernan<strong>de</strong>s Tourinho <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito dos<br />
outros municípios”.<br />
“É fato conhecido nos dias <strong>de</strong> hoje<br />
que a educação se constitui em<br />
importante recurso para formar o<br />
ci<strong>da</strong>dão. Conscientes e reivindicadores <strong>de</strong> seus direitos, entre<br />
eles o <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>. Por isso, po<strong>de</strong>mos concluir que quanto mais<br />
informações e conhecimentos possuem os indivíduos, maiores<br />
condições passam a ter, não só <strong>de</strong> zelar por sua própria saú<strong>de</strong>,<br />
alterando, por exemplo alguns hábitos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, como também<br />
pressionando as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s ou órgãos competentes a<br />
prestarem os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública a que a população tem<br />
direito, serviços esses essenciais à manutenção <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
vi<strong>da</strong>” - palavras <strong>de</strong> uma moradora do Distrito.<br />
Pessoas entrevista<strong>da</strong>s no <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> consi<strong>de</strong>ram que, apesar <strong>da</strong><br />
instalação do Posto no Distrito, o atendimento à saú<strong>de</strong> “precisa melhorar<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
15
cinqüenta por cento”. Os moradores contam com uma ambulância e um<br />
ônibus <strong>de</strong> atendimento em domicílio, mas, em função do pouco número<br />
<strong>de</strong> motoristas, “o atendimento à saú<strong>de</strong> está a <strong>de</strong>sejar”, dizem. E isto,<br />
continuam, “não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> somente <strong>da</strong> população, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito dos<br />
nossos governantes, eles têm que ter interesse em contribuir mais e<br />
melhor com os municípios menores”.<br />
Segundo alguns moradores “o médico que faz atendimento na uni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
falta muito. Os casos mais graves têm que ser encaminhados para<br />
Tarumirim ou Governador Vala<strong>da</strong>res, e na maioria <strong>da</strong>s vezes falta<br />
motorista. Mas acho que po<strong>de</strong>ria melhorar, se a Prefeitura contratasse<br />
novos motoristas e médicos que <strong>de</strong>ssem conta <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a to<strong>da</strong><br />
população”.<br />
Os <strong>de</strong>poimentos que se seguem ilustram as condições <strong>de</strong> atendimento à<br />
saú<strong>de</strong> no Distrito <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>:<br />
- “Em nosso município, em relação à saú<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ria ser melhor<br />
se não houvesse “perseguição política”. Uma administração<br />
<strong>de</strong>sfaz o que a anterior fez. No Distrito <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong><br />
tinha uma ambulância e um motorista resi<strong>de</strong>nte na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
para socorro imediato, sem que fosse necessário a ambulância<br />
vir <strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s Tourinho, hoje não temos mais esse privilégio”.<br />
- “Temos Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> que funcionava com um médico<br />
clinico geral uma vez por semana, hoje, em <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, o<br />
atendimento não tem essa regulari<strong>da</strong><strong>de</strong>. Tinha uma <strong>de</strong>ntista que<br />
atendia uma vez por semana, hoje o <strong>de</strong>ntista só vem uma vez por<br />
mês; o paciente é escolhido <strong>de</strong> acordo com a preferência política<br />
<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um. Quando procuramos o <strong>de</strong>ntista para prevenção o<br />
problema já não tem solução”<br />
- “Há quem diga que o Posto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (do Distrito) não tem<br />
registro junto ao governo estadual, mas ele<br />
serve para abrigar várias ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, inclusive<br />
seção eleitoral, porque <strong>de</strong>pois que <strong>de</strong>sativaram<br />
a Escola Estadual José Augusto Neves, tudo é<br />
feito neste Posto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Outro problema<br />
apresentado é que alguns motoristas não<br />
possuem curso básico <strong>de</strong> primeiros socorros<br />
para dirigir uma ambulância, eles não sabem<br />
como li<strong>da</strong>r com os problemas dos pacientes e<br />
não são imunizados contra doenças”. Esta<br />
afirmação foi rebati<strong>da</strong> pelo Prefeito que<br />
afirmou que “todos os 12 motoristas <strong>da</strong>s<br />
âmbulâncias são imunizados e qualificados por<br />
cursos do SENAC”.<br />
Infraestrutura<br />
No <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, to<strong>da</strong>s as casas habita<strong>da</strong>s<br />
possuem canaleta por on<strong>de</strong> o esgoto é <strong>de</strong>spejado e<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
16
<strong>de</strong>scarregado no córrego. “Em breve, to<strong>da</strong>s as ruas estarão calça<strong>da</strong>s<br />
com bloquetes”. As ruas são varri<strong>da</strong>s todos os dias por gari publico e<br />
todo o lixo produzido é <strong>de</strong>stinado ao aterro sanitário.<br />
A conservação <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s, sob a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Prefeitura, é<br />
feita com patrol, máquinas e caminhões, e são recupera<strong>da</strong>s com<br />
cascalho nos períodos chuvosos.<br />
Não existe no Distrito uma empresa <strong>de</strong> transporte coletivo, “por falta <strong>de</strong><br />
número suficiente <strong>de</strong> usuários”. “A Auto Viação Rio Doce já entrou aqui,<br />
mas não havia número suficiente <strong>de</strong> passageiros. Para sair do Distrito,<br />
os moradores fazem uso do transporte escolar, pegando carona até a<br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Na época <strong>da</strong>s férias escolares ficam sem nenhum meio <strong>de</strong><br />
transporte, “se viram com po<strong>de</strong>m”, usam charretes, motos. Nesse<br />
período (férias escolares), a Prefeitura disponibiliza os ônibus para a<br />
zona rural, uma vez por semana.<br />
Saneamento Básico<br />
“Satisfazer as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, tanto individuais quanto coletivas,<br />
implica levar em conta as varias dimensões do ser humano, sejam elas<br />
biológicas, psicológicas, sociais e ambientais”, escreve uma moradora.<br />
O saneamento básico é uma questão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ambiental, e sua<br />
importância para a manutenção <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s é um fato indiscutível, diz uma moradora: “Em nossa<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> o esgoto é jogado em um córrego, chamado <strong>de</strong> Córrego<br />
Preto que, por sua vez, <strong>de</strong>ságua no rio Doce. Temos água encana<strong>da</strong>, mas<br />
não é trata<strong>da</strong>, é <strong>de</strong> um poço artesiano feito pela Prefeitura, mas essa<br />
água às vezes não chega em to<strong>da</strong>s as casas, não sabemos se um dia<br />
teremos água trata<strong>da</strong>”.<br />
Há no Distrito, trabalhadores auxiliares <strong>de</strong> serviços gerais para fazer a<br />
limpeza <strong>da</strong>s vias públicas. O lixo coletado é colocado, provisoriamente,<br />
em lote vago e uma vez por semana, levado ao aterro controlado pela<br />
Prefeitura, mas nem todos os moradores colocam seu lixo para ser<br />
coletado, “eles queimam ou jogam no fundo dos quintais <strong>de</strong> suas casas”.<br />
Cultura e Lazer<br />
Com relação à cultura e ao lazer, foi dito que muito tem sido feito, mas<br />
não foram nomeados, nas entrevistas, os projetos significativos que<br />
aten<strong>de</strong>m a população. Foi citado que grupos <strong>de</strong> idosos participam <strong>de</strong><br />
um trabalho coor<strong>de</strong>nado pelo fisioterapeuta do Município que organiza<br />
com os moradores festas juninas, passeios no final <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> ano.<br />
Semanalmente, o fisioterapeuta trabalha com os idosos do Distrito<br />
<strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, mas nem todos participam.<br />
No Distrito não existem praças, e as áreas públicas <strong>de</strong> lazer que<br />
agregam os moradores são constituí<strong>da</strong>s pela ampla quadra coberta e<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
17
cerca<strong>da</strong>, <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Prefeitura, e pelo campo <strong>de</strong> futebol, aberto<br />
ao uso público, pelo fazen<strong>de</strong>iro, proprietário do imóvel.<br />
Antigamente, dizem os moradores, “eram realizados torneios, jogos<br />
comemorativos, festas juninas, hoje, já<br />
não acontecem mais estas comemorações<br />
porque o investimento é alto, se quisermos<br />
organizar alguma coisa temos que<br />
arreca<strong>da</strong>r dinheiro, organizar bingos e<br />
festas, além <strong>de</strong> fazer a manutenção do<br />
campo, comprar uniformes, bolas e re<strong>de</strong>s,<br />
etc.”<br />
Apesar <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
organiza jogos e futebol, inclusive,<br />
feminino, atraindo times também <strong>de</strong><br />
municípios vizinhos. Porém, o movimento<br />
<strong>de</strong>sportivo é, atualmente, consi<strong>de</strong>rado<br />
fraco, por dois gran<strong>de</strong>s motivos: os times<br />
<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s vizinhas dizem que “o lugar é roça”, e que a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
não tem condições a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s <strong>de</strong> recepcioná-los. Os moradores<br />
<strong>de</strong>man<strong>da</strong>m mais apoio para tornar as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s atraentes para os<br />
jovens e para a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> em geral.<br />
Em <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> as festivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s ficam por conta <strong>da</strong>s<br />
comemorações religiosas, liga<strong>da</strong>s à Igreja Católica. Os moradores<br />
comemoram, anualmente, a festa do mês <strong>de</strong> Maria, on<strong>de</strong> são<br />
organiza<strong>da</strong>s barraquinhas para ven<strong>da</strong> <strong>de</strong> gêneros alimentícios e<br />
artesanato, especialmente, bor<strong>da</strong>do. Além disso, as igrejas <strong>de</strong> outros<br />
credos, sobretudo as evangélicas, costumam fazer, a seu modo, outras<br />
comemorações, como Dia <strong>da</strong>s Mães, por exemplo.<br />
Outra ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> que envolve a maior parte <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> são os jogos<br />
<strong>de</strong> futebol disputados no campo do distrito, sendo essa a que mais<br />
interessa aos jovens, inclusive às moças que criaram um time feminino.<br />
Nessas ocasiões, as mulheres fazem lanches e quitutes com cuja ven<strong>da</strong><br />
arreca<strong>da</strong>m fundos para a promoção <strong>de</strong> torneios <strong>de</strong> futebol, tradicionais<br />
no povoado.<br />
Meio Ambiente<br />
Na questão do meio ambiente, os moradores do Distrito consi<strong>de</strong>ram<br />
importante realizar ações <strong>de</strong> conscientização dos proprietários, para<br />
que cui<strong>de</strong>m <strong>da</strong>s nascentes e <strong>de</strong>ixem <strong>de</strong> jogar esgoto nos poucos<br />
córregos existentes.<br />
Alguns moradores, especialmente as mulheres e os jovens, expressam<br />
sua preocupação com visitantes <strong>de</strong> final <strong>de</strong> semana que, vindo pescar<br />
no rio, <strong>de</strong>ixam montes <strong>de</strong> resíduos em suas margens. Uma <strong>da</strong>s<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s discuti<strong>da</strong>s nas visitas é a qualificação <strong>de</strong>ssa locali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
para se tornar um atrativo agroturístico, sob a gerência e com a<br />
participação ativa dos moradores, oferecendo eventos e<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
18
comercializando produtos e alimentos produzidos por seus habitantes.<br />
Segundo informação do Secretário <strong>de</strong> Agricultura e Meio Ambiente, há<br />
interesse do Município em reativar a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> pesca, especialmente<br />
por se constituir em uma alternativa econômica <strong>de</strong> peso nessa região.<br />
Afirmou o Secretário que “estudos realizados pela EMATER e outros<br />
órgãos do Governo do Estado, por solicitação <strong>da</strong> Prefeitura Municipal<br />
<strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s Tourinho, revelaram que a parte do rio Doce que banha o<br />
Distrito é <strong>da</strong>s mais propicias para a piscicultura, <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> suas<br />
águas serem perenemente aqueci<strong>da</strong>s”. Outra possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> expressa<br />
por um munícipe para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse local seria a intenção <strong>de</strong><br />
implantar empreendimentos, inclusive, a instalação <strong>de</strong> uma balsa nesse<br />
trecho do rio Doce, fazendo a ligação com sua margem esquer<strong>da</strong>, por<br />
on<strong>de</strong> passa a BR381, e que viria a favorecer o escoamento <strong>de</strong> produtos<br />
dos pecuaristas <strong>da</strong> região.<br />
Organização Comunitária<br />
Nota-se entre as famílias um grau <strong>de</strong> satisfação positivo com relação a<br />
viver nessa comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e um significativo nível <strong>de</strong> coesão e i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
com o local. Mas não existe no Distrito nenhuma associação civil <strong>de</strong><br />
moradores. A Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> São Vicente <strong>de</strong> Paulo, vincula<strong>da</strong> à Igreja<br />
Católica é ativa na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e as Igrejas exercem papel agregador<br />
no Distrito.<br />
Expectativas <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
A respeito <strong>da</strong>s priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s, uma moradora afirmou que seria i<strong>de</strong>al para<br />
a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> uma iniciativa que, num único<br />
espaço agrupasse os três itens: ocupação, trabalho e geração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>,<br />
talvez até uma horta comunitária, ou uma micro-empresa <strong>de</strong> laticínios,<br />
artesanato em geral, entre outros. To<strong>da</strong>s essas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s gerariam<br />
ocupação e ren<strong>da</strong>, e o mais importante, “seria bom para unir nossa<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, que no momento está<br />
precisando”.<br />
Segundo os representantes municipais,<br />
há em <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, li<strong>de</strong>ranças,<br />
espaços e possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s para reunir as<br />
pessoas, realizar ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s sócioeconômicas<br />
e culturais. Um prédio<br />
abandonado pelo Estado será retomado<br />
pela Prefeitura, disse o Prefeito, que<br />
preten<strong>de</strong> restaurá-lo para ali instalar um<br />
centro <strong>de</strong> referência com ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
sócio-culturais, e <strong>de</strong> capacitação.<br />
A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> zela pelos seus filhos e<br />
anseia para que os mesmos continuem<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
19
seus estudos, que tenham no Distrito, ao menos, um curso <strong>de</strong><br />
computação e outros cursos técnicos, já que a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> é carente e<br />
não oferece empregos a seus membros.<br />
Na opinião <strong>de</strong> algumas pessoas entrevista<strong>da</strong>s, seria interessante uma<br />
indústria <strong>de</strong> tijolos, capacitação para jovens e adultos em várias áreas<br />
como: mecânica, construção <strong>de</strong> móveis, construção civil, informática,<br />
carpintaria, bor<strong>da</strong>do.<br />
No Distrito, há pessoas esforça<strong>da</strong>s, mas sem incentivo. Muitas<br />
necessitam <strong>de</strong> qualificação profissional e as suas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s são<br />
restritas “Na maioria <strong>da</strong>s vezes, quando <strong>da</strong>mos início a um trabalho,<br />
não temos condições <strong>de</strong> continuar por questões financeiras. Várias<br />
pessoas sabem fazer bolos, salgados, doces, comi<strong>da</strong>s típicas <strong>da</strong> região,<br />
mas não temos como ven<strong>de</strong>r. Fazemos bor<strong>da</strong>dos, participamos <strong>de</strong><br />
cursos, mas não possuímos ren<strong>da</strong> suficiente para a compra <strong>de</strong> materiais<br />
para fazer os produtos e para comercializar”.<br />
Entre as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s espera<strong>da</strong>s, foram cita<strong>da</strong>s oficinas <strong>de</strong> artesanato,<br />
cooperativa <strong>de</strong> culinária (doces, salgados), entre outras. Onze pessoas<br />
<strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> prestam serviço para a Prefeitura.<br />
Vale ain<strong>da</strong> mencionar as intenções <strong>de</strong> alguns empreen<strong>de</strong>dores locais <strong>de</strong><br />
ativar ou reconstruir uma balsa para a travessia do rio Doce, ativar a<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> pesqueira e qualificar a locali<strong>da</strong><strong>de</strong> para o turismo <strong>de</strong> base<br />
comunitária.<br />
Parceiros do Distrito<br />
Alguns fazen<strong>de</strong>iros citados nos contatos e entrevistas realiza<strong>da</strong>s para a<br />
construção <strong>de</strong>ste diagnóstico, são consi<strong>de</strong>rados como benfeitores e<br />
amigos dos moradores do povoado e po<strong>de</strong>m se constituir em parceiros<br />
do projeto.<br />
Pessoas, Organizações e Instituições Cita<strong>da</strong>s<br />
Sindicato dos Trabalhadores Rurais<br />
CONSEP - Conselho Comunitário <strong>de</strong> Segurança Preventiva<br />
Conferência <strong>de</strong> São Vicente<br />
Casa <strong>de</strong> Oração<br />
Igreja Católica<br />
CRAS - Oferece ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s , oficinas, Balé (filhos), Taekwondo<br />
(filhos), Bor<strong>da</strong>do em fita, em chinelo, Pintura, Bor<strong>da</strong>do em<br />
tecido, Confecção <strong>de</strong> bijuterias, etc<br />
Associação - Associação comunitária dos Agricultores e Familiares<br />
do córrego do Arroz<br />
Conselho Tutelar<br />
Grupo <strong>da</strong> 3° i<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
20
Celso Chaves <strong>de</strong> Sá - Fazen<strong>de</strong>iro<br />
Beleta - Fazen<strong>de</strong>iro<br />
Juarez Contim - Prefeito <strong>de</strong> Engenheiro Cal<strong>da</strong>s<br />
Ozéias Batista Ramos - Fazen<strong>de</strong>iro<br />
Paulo Miran<strong>da</strong> - Fazen<strong>de</strong>iro e ex Prefeito <strong>de</strong> Engenheiro Cal<strong>da</strong>s<br />
Dona Filia - Esposa do falecido Manoel Perique<br />
Vanuza - Fazen<strong>de</strong>ira e Médica (Esposa <strong>de</strong> Ricardo- fazen<strong>de</strong>iro)<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
21
Fontes Consulta<strong>da</strong>s e Referências<br />
- Território do Médio Rio Doce <strong>–</strong> Minas Gerais <strong>–</strong> Estudo Propositivo <strong>da</strong> Base<br />
Econômica Territorial - Glauco Regis Florisbelo- Consultor do MDA-Outubro <strong>de</strong><br />
2005<br />
- Dados Básicos: Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE), Sistema<br />
IBGE <strong>de</strong> Recuperação Automática (SIDRA) www.sidra.ibge.gov.br)<br />
- CISDOCE- Consórcio Intermunicipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
- http://fernan<strong>de</strong>stourinhomg.blogspot.com/search?up<strong>da</strong>ted-max=2010-05-<br />
31T14%3A48%3A00-07%3A00&max-results=7<br />
- Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s Tourinho Praça João XXIII, 13 - Centro - CEP<br />
35.135-000 Telefone (33) 3237-1118/3237-1265<br />
- http://ci<strong>da</strong><strong>de</strong>snet.com/municipios/fernan<strong>de</strong>stourinho.htm<br />
- Consórcio UHE BAGUARI - Plano <strong>de</strong> Assistência Social - PAS <strong>–</strong> Relatório Final <strong>de</strong><br />
Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s Consoli<strong>da</strong>do-<strong>–</strong> Governador Vala<strong>da</strong>res- Dez\2009<br />
- EIA\RIMA - UHE Baguari- CENEC<br />
- Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica <strong>–</strong> Relatórios 1 e 2-UHE Baguari<br />
<strong>–</strong> Cemea- UF<strong>MG</strong> <strong>–</strong> 2007\2008<br />
- Ministério do Meio Ambiente: http://www.riodoce.cbh.gov.br/Usina_Hidrel_<br />
Baguari.asp<br />
- Território do Médio Rio Doce-Estudo Propositivo <strong>da</strong> Base Territorial<br />
Glauco Regis Florisbelo <strong>–</strong> Consultor-Ministério do Desenvolvimento Agrário-<br />
Secretaria <strong>de</strong> Desenvolvimento Territorial <strong>–</strong> Out\2005<br />
- ANA, 2001.- COMITE DA BACIA HIDROGRAFICA DO RIO DOCE -Av<br />
Jequitinhonha 96 salas 1 e 2 Ilha dos Araújos tel 32765477<br />
- Ab`Saber, A.N. 1983. O domínio dos cerrados: introdução ao conhecimento.<br />
Site: www.biocevmeioambiente.com.br<br />
- Biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> em Minas Gerais: Um Atlas para a sua Conservação -<br />
FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS. 2005. Belo Horizonte.<br />
- Plano <strong>de</strong> Controle Ambiental- Programa Integrado <strong>de</strong> Monitoramento <strong>da</strong><br />
Avifauna e <strong>de</strong> Relocação <strong>de</strong> Aves e <strong>de</strong> Ninhos <strong>de</strong> Aves Aquáticas <strong>da</strong> Ilha<br />
Bonaparte. QUATRO CONSULTORIA AMBIENTAL. 2006. Usina Hidrelétrica <strong>de</strong><br />
Baguari<br />
- CAMARGOS, R. Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação em Minas Gerais: Levantamento e<br />
Discussão. Fun<strong>da</strong>ção Biodiversitas, Publicações Avulsas nº 2, 2001. Este<br />
trabalho foi atualizado com base na Resolução SEMAD <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2001.<br />
- Fun<strong>da</strong>ção João Pinheiro -Alame<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Acácias, nº 70, São Luís - Belo Horizonte /<br />
<strong>MG</strong> - Cep: 31.275-150 -Telefone: + 55 (31) 3448-9400 Fax: + 55 (31) 3448-<br />
9699<br />
Fonte -http://www.riodoce.cbh.gov.br/Usina_Hidrel_Baguari.asp Ministerio do<br />
Meio Ambiente<br />
-Sites <strong>da</strong>s Prefeituras <strong>de</strong> Periquito, Sobrália, Governador Vala<strong>da</strong>res, Fernan<strong>de</strong>s<br />
Tourinho e Iapu.<br />
- Wal<strong>de</strong>nice Pinheiro <strong>de</strong> Araujo- Questão Social e Migração: um estudo na área<br />
<strong>da</strong> Infância e <strong>da</strong> Juventu<strong>de</strong> <strong>da</strong> Comarca <strong>de</strong> Tarumirim\<strong>MG</strong> -Dissertação <strong>de</strong><br />
Mestrado- Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Serviço Social <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora<br />
<strong>–</strong> 2009<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong>
Anexo 1<br />
Alguns exemplos ilustrativos do perfil <strong>da</strong>s famílias mais antigas do<br />
Distrito <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> (*)<br />
- Catarina dos Reis <strong>de</strong> Souza, 54 anos, esposa <strong>de</strong> Domiro, morou<br />
em Belo Horizonte por 17 anos. Foi auxiliar <strong>de</strong> serviços na Prefeitura,<br />
estudou na escola <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>. Lembra o nome <strong>de</strong> algumas<br />
professoras: <strong>Penha</strong> e dona Lola, mas não concluiu os estudos. Os filhos<br />
estu<strong>da</strong>ram em <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> e em Fernan<strong>de</strong>s Tourinho. Dos 12<br />
filhos, 2 são analfabetos, 2 estu<strong>da</strong>ram até a quarta série em São Paulo,<br />
5 estu<strong>da</strong>ram até a oitava série e três concluíram o terceiro ano do<br />
Segundo Grau; <strong>de</strong>stes três, um tem curso <strong>de</strong> técnico <strong>de</strong> enfermagem do<br />
trabalho. Dona Catarina apanhava e socava café, seu esposo era<br />
vaqueiro, carpinteiro, pedreiro e hoje é aposentado, alguns <strong>de</strong> seus<br />
filhos são pedreiros e trabalham fazendo bico na área <strong>da</strong> construção<br />
civil.<br />
- Aguinária <strong>da</strong> Silva Moreira, 61 anos, aposenta<strong>da</strong>, estudou até a<br />
terceira série primária, porque “os professores <strong>da</strong> época iam embora<br />
antes do ano letivo terminar”. Os filhos dos fazen<strong>de</strong>iros iam estu<strong>da</strong>r em<br />
colégios internos na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Caratinga, ela e os irmãos não foram<br />
porque não tinham dinheiro suficiente. O lazer era ir a circos, toura<strong>da</strong>s,<br />
brincar <strong>de</strong> pular cor<strong>da</strong>, peteca, pique cozinhadinha, bolinha <strong>de</strong> gu<strong>de</strong> e<br />
pião. Sobre o meio ambiente, ela fala que tinha muitas matas, pastos <strong>de</strong><br />
colonião, mas acabou porque colocaram fogo para fazer pastos <strong>de</strong><br />
roça, ven<strong>de</strong>ram para a Belga (Belgo Mineira), para fazerem carvão.<br />
Um dos fazen<strong>de</strong>iros, o senhor Neves, seus pais vendiam o que<br />
plantavam, o pai <strong>de</strong> Aguinária também era carvoeiro e atravessou<br />
(cortou) muita ma<strong>de</strong>ira como barauna, sucupira, vinhático, e ma<strong>de</strong>ira<br />
para fazer dormente. Sua mãe era costureira e seu marido e o pai <strong>de</strong>le<br />
trabalhavam como <strong>de</strong>smatadores nas fazen<strong>da</strong>s. Conheceu médicos só<br />
com 20 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, só conhecia farmacêuticos: “ Mané Borges fazia<br />
remédios caseiros, tomei muito alho com gordura <strong>de</strong> galinha para curar<br />
bronquite e gripes fortes.”<br />
- Domiro Pereira <strong>de</strong> Souza, estudou até a quarta série primária<br />
porque na época era o maior grau <strong>de</strong> escolari<strong>da</strong><strong>de</strong>, chegou a <strong>da</strong>r aula<br />
no Mobral (Movimento Brasileiro <strong>de</strong> Alfabetização <strong>de</strong> Adultos), hoje é<br />
aposentado. Quando o senhor Domiro era criança, disse ele, havia<br />
muitas matas, as casas eram feitas <strong>de</strong> pau a pique, sapé, tabuinhas,<br />
assoalho, os casarões eram <strong>de</strong> esteio, tijolinhos, telhas francesas,<br />
cambucás barreados e assoalhos, não tinha energia elétrica, a luz era<br />
lamparina e lampião. A maioria dos moradores foi para as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s por<br />
falta <strong>de</strong> trabalho, os fazen<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>smataram e fizeram pastos;<br />
repesaram as águas e esgotaram os córregos, então (os moradores)<br />
não tinham mais como plantar e sustentar suas famílias. Trabalhou<br />
como vaqueiro, braçal, capinava, roçava, fazia cercas nas fazen<strong>da</strong>s, foi<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
(*) Entrevistas realiza<strong>da</strong>s<br />
pelas moradoras do<br />
Distrito <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>,<br />
junto com a assistente local<br />
do projeto Núcleos,<br />
Meiriele Lopes <strong>de</strong> Brito.
carpinteiro e pedreiro, e seus filhos homens her<strong>da</strong>ram o gosto pela<br />
construção civil. Ele diz que antigamente tinha circo, toura<strong>da</strong>, palhaços,<br />
montaria em boi, os jovens <strong>da</strong> época jogavam malha, futebol, birosca,<br />
baralho, iam nos bares conversar e beber.<br />
- Maria <strong>de</strong> Assis <strong>de</strong> Souza, 70 anos, nasci<strong>da</strong> na Bahia, na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Jacobina (analfabeta) porque os pais não <strong>de</strong>ixavam os filhos estu<strong>da</strong>r,<br />
tinha que aju<strong>da</strong>r nas tarefas, olhar os irmãos mais novos. Resi<strong>de</strong> na<br />
região há 30 anos, 15 anos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>. Os filhos<br />
estu<strong>da</strong>ram até a quarta série porque moravam em fazen<strong>da</strong>s muito<br />
distantes <strong>da</strong>s escolas. Na sua opinião, o estudo ficou mais fácil mas os<br />
jovens não querem estu<strong>da</strong>r <strong>de</strong>vido “à facili<strong>da</strong><strong>de</strong> que os Conselhos<br />
Tutelares oferecem por não po<strong>de</strong>r mais corrigir os filhos (¿¿¿¿). Ela<br />
trabalhou como cozinheira e como lava<strong>de</strong>ira para os fazen<strong>de</strong>iros<br />
antigos, como o senhor Jose Agripino Vilas Novas; Franklin Moreira e o<br />
senhor Jarbas. Morou também nos córregos próximos <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Penha</strong> e Barbudo. Quando dona Maria mudou para a região já não<br />
havia muitas matas <strong>de</strong>vido aos <strong>de</strong>smatamentos causados pelos donos<br />
<strong>de</strong> carvoeiras que existiam.<br />
- Ricardo Tertuliano <strong>de</strong> Souza, 81 anos, resi<strong>de</strong> em <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong><br />
há 72 anos e estudou até a quarta série primária (Ensino Fun<strong>da</strong>mental).<br />
Ele diz que a educação <strong>de</strong> antes era melhor do que agora porque era<br />
mais profun<strong>da</strong>, os alunos realmente aprendiam o que os professores<br />
ensinavam. Hoje eles passam sem saber. O primeiro motorista escolar<br />
<strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> foi vereador presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Câmara e vice-<br />
prefeito, “e faz parte <strong>da</strong> nossa historia”.<br />
- Maria Joana Pereira, <strong>de</strong> 68 anos, é aposenta<strong>da</strong> e analfabeta,<br />
porque na época “os pais não faziam questão <strong>de</strong> escola”. Mas seus<br />
filhos estu<strong>da</strong>ram em <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, an<strong>da</strong>vam 4 km até a escola,<br />
<strong>de</strong>pois estu<strong>da</strong>ram em Fernan<strong>de</strong>s Tourinho, iam no caminhão do Senhor<br />
Ricardo “e <strong>de</strong>pois vieram os ônibus”. Ela diz que <strong>de</strong> 20 anos atrás pra<br />
agora melhorou muito, mas a escola estadual é “um pouco bagunça<strong>da</strong>”<br />
e diferente <strong>da</strong> municipal em questão <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> e organização.<br />
Maria Joana gostava <strong>de</strong> pescar nos córregos e no rio Doce em <strong>Senhora</strong><br />
<strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, plantava arroz, milho, feijão, para sustento próprio. Sua mãe<br />
Maria Artur era porteira <strong>da</strong> região, uma historia que marcou dona<br />
Maria Artur foi uma em que “teve que fazer um parto em que a criança<br />
estava vira<strong>da</strong> e a mãe não tinha condições para ir ao hospital”, ficando<br />
então a mulher duas semanas em “trabalho <strong>de</strong> parto”, e acabou<br />
falecendo. Vários casos parecidos aconteceram na região, os médicos<br />
eram farmacêuticos e raizeiros e benze<strong>de</strong>iros que faziam remédios<br />
caseiros. Quando cobras ou outros bichos mordiam as pessoas,<br />
amarravam pano ou elástico para isolar o local <strong>da</strong> mordi<strong>da</strong> e não<br />
espalhar o veneno. Quando havia alguma quebradura (fratura)<br />
encanava com tala <strong>de</strong> bambu, os remédios usados na época eram<br />
picumã, teia <strong>de</strong> aranha, curtido com fumaça para curar cólicas, chá <strong>de</strong><br />
Santa Maria, erva com pó <strong>de</strong> chifre queimado para acabar com vermes,<br />
para curar anemias ferraduras fervi<strong>da</strong> no leite e comi<strong>da</strong>s feitas em<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
24
panelas <strong>de</strong> ferro. “Tive muitos abortos por não fazer o prénatal e não ter<br />
condições <strong>de</strong> ir ao hospital”,as casas eram feitas <strong>de</strong> sape ou tabuas, as<br />
camas eram feitas <strong>de</strong> tarimbas e os colchões <strong>de</strong> capim ou esteiras,<br />
usavam baús para guar<strong>da</strong>r roupa e sentar, na cozinha uma bela<br />
prateleira com panos bor<strong>da</strong>dos a mão e vasilhas aria<strong>da</strong>s, fogão a<br />
lenha, pare<strong>de</strong>s passados barros brancos, varria o quintal <strong>da</strong> casa com<br />
vassoura <strong>de</strong> ramos”<br />
- Luzia Reis <strong>de</strong> Souza: “A saú<strong>de</strong>, há 48 anos, era muito difícil, só tinha<br />
farmacêutico e um senhor por nome Democre que fazia remédio caseiro<br />
e era procurado por to<strong>da</strong> população na época; as mulheres tinham seus<br />
bebês em casa correndo risco <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, não tinha carro para carregar<br />
ninguém. As escolas eram diferentes <strong>de</strong> hoje, não tinha meren<strong>da</strong><br />
escolar, as crianças vinham <strong>de</strong> longe pra estu<strong>da</strong>r, chegava em casa tinha<br />
que ir pra roça trabalhar pra aju<strong>da</strong>r. Na <strong>de</strong>spesa <strong>da</strong> família tudo era<br />
difícil, não tinha água trata<strong>da</strong>, não tinha re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto, era tudo a céu<br />
aberto, as ruas tinham pé <strong>de</strong> galinha (mato) e mamona, lixo por todo<br />
lado e cachorra<strong>da</strong> solta nas ruas. Tudo começou a mu<strong>da</strong>r quando<br />
passou <strong>de</strong> Itaperuna para Fernan<strong>de</strong>s Tourinho, aí foram construindo<br />
escolas rurais e urbanas, posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, tinha meren<strong>da</strong> escolar, luz,<br />
água encana<strong>da</strong> e re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto. Mudou, quando chegou na ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
gente capacita<strong>da</strong> que não mediu esforços para buscar recursos pra<br />
nossa ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que agora tem meren<strong>da</strong> <strong>de</strong> boa quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, com<br />
acompanhamento com nutricionista, muito remédio nos postos <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, muitas ambulâncias, médicos clínicos, pediatra, ginecologistas,<br />
mas ain<strong>da</strong> tem muito que fazer para melhorar mais ain<strong>da</strong>, se Deus<br />
quiser”.<br />
Obs. <strong>–</strong> Também foram entrevistados o sr.Iso Pacheco, Vereador e<br />
Secretário <strong>da</strong> Câmara Municipal, morador <strong>de</strong> Fernan<strong>de</strong>s Tourinho<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1963 e a sra. Maria Ângela <strong>da</strong> Silveira Pacheco, Secretária<br />
Municipal <strong>da</strong> Assistência Social e ex- Secretária <strong>da</strong> Educação. Dirigiu a<br />
Escola Estadual Agripino Vilas Novas, por 20 anos.<br />
(*) Entrevistas realiza<strong>da</strong>s pelas moradoras do Distrito <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Penha</strong>, junto com a assistente local do projeto Núcleos, Meiriele Lopes<br />
<strong>de</strong> Brito.<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong><br />
25
Anexo 2<br />
LINHA DO TEMPO construi<strong>da</strong> pelas moradoras <strong>de</strong><br />
<strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong><br />
1904 <strong>–</strong> Criação do distrito <strong>–</strong> origem do nome <strong>–</strong> Pedra<br />
Corridinha — Pedra rolou no meio <strong>da</strong> rua<br />
1905 <strong>–</strong> Primeiro trem<br />
1952 <strong>–</strong> Primeira Igreja<br />
1957 <strong>–</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong>, colocou o nome<br />
1973 <strong>–</strong> Escola<br />
1975 <strong>–</strong> Luz Elétrica<br />
1984 <strong>–</strong> Telefone<br />
1992 <strong>–</strong> Igreja Católica<br />
1994 <strong>–</strong> Casa <strong>da</strong> Oração<br />
1996 <strong>–</strong> Água<br />
1998 <strong>–</strong> Posto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
2000 <strong>–</strong> Assembleia <strong>de</strong> Deus<br />
2007 <strong>–</strong> Internet e Quadra<br />
2010 <strong>–</strong> Calçamento<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong>
Anexo 3<br />
Mapa do <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Penha</strong> construído por<br />
moradores<br />
<strong>Diagnóstico</strong> Social Participativo <strong>de</strong> <strong>Senhora</strong> <strong>da</strong> <strong>Penha</strong> - março <strong>de</strong> <strong>2011</strong>