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Título do <strong>artigo</strong>: As Bases Filosóficas das Publicações na Área de Marketing nos<br />
Anais do ENANPAD entre 2006 e 2008<br />
Autoras: Joana Boesche Tomazelli<br />
Juliana Saboia<br />
Mariana Bertuol<br />
Mírian Oliveira<br />
Instituição de vínculo das autoras: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul –<br />
PUC/RS<br />
RESUMO<br />
Tradicionalmente, a posição epistemológica utilizada em <strong>artigo</strong>s brasileiros possui tendência<br />
positivista. Contudo, nos últimos anos, o número de publicações de vertente interpretativista<br />
vem crescendo dentro da academia. A corrente positivista possui uma tendência de utilização<br />
de bases quantitativas, enquanto o interpretativismo é unicamente qualitativo. O embate entre<br />
estas duas linhas se dá constantemente no meio acadêmico. Este <strong>artigo</strong> teve como objetivo<br />
mensurar e verificar quais as bases filosóficas utilizadas em <strong>artigo</strong>s publicados na Área de<br />
Marketing nos Anais do ENANPAD no período de tempo que se segue entre os anos de 2006<br />
e 2008. O <strong>artigo</strong> apresenta as definições existentes para os termos “positivismo” e<br />
“interpretativismo”, além de conceitos utilizados para a classificação metodológica, como a<br />
natureza de pesquisa, que pode ser exploratória, descritiva e/ou causal, bem como as<br />
definições do método utilizado, como survey, experimento ou base qualitativa. Conforme foi<br />
possível ser verificado nos resultados, existe uma forte tendência positivista nas publicações,<br />
contudo o interpretativismo vem ganhando força, com uma grande variação no número de<br />
publicações entre os anos de 2007 e 2008.<br />
Palavras-chave: Bases filosóficas. Interpretativismo. Positivismo.<br />
VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração
INTRODUÇÃO<br />
Um confronto constante no meio acadêmico tem como foco o conceito de ciência e o<br />
seu critério de demarcação. Dessa forma, essa discussão assume distintas magnitudes a<br />
depender do foco como, por exemplo, a pesquisa qualitativa versus a pesquisa quantitativa e<br />
subjetividade versus objetividade (SILVINO, 2007). Com vistas a esta observação, o presente<br />
estudo pretende uma discussão entre positivismo versus interpretativismo.<br />
A publicação de <strong>artigo</strong>s que têm como proposta fazer um apanhado sobre a evolução<br />
em uma área da Administração ou em um campo de estudo específico não é recente (PINTO;<br />
LARA, 2007). Nota-se que grande parte dos <strong>artigo</strong>s publicados nos anais do ENANPAD<br />
(Encontro Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração), no campo de<br />
marketing, é do tipo empírico. A explicação para a adoção desta postura pode estar na<br />
prevalência da literatura internacional especializada sobre marketing, a qual não é a mais<br />
adequada para explicar a realidade brasileira. Vale considerar tal hipótese como uma sugestão<br />
para pesquisas futuras.<br />
Ao consultar os Anais do ENANPAD durante o período de 2006 a 2008 constatou-se a<br />
ausência de um trabalho com o escopo de avaliar a produção científica com foco específico na<br />
posição epistemológica dos <strong>artigo</strong>s do campo de marketing. Sendo assim, surgiu o interesse<br />
em realizar um estudo com o objetivo de fazer um mapeamento dos <strong>artigo</strong>s da área de<br />
marketing utilizando um dos principais veículos de divulgação de produção acadêmica no<br />
Brasil, os anais do ENANPAD.<br />
Este <strong>artigo</strong> divide-se em duas partes: inicialmente foi realizada uma revisão teórica do<br />
conhecimento nas ciências sociais no que tange o positivismo e o interpretativismo. Em<br />
seguida, são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados para a realização do<br />
mapeamento. Por fim, apresentam-se os resultados e a discussão em torno dos mesmos.<br />
REVISÃO DA LITERATURA<br />
Em face do continuum existente entre as bases filosóficas estudadas, a seguir é<br />
abordada em maior profundidade a teoria acerca do Positivismo e o Interpretativismo.<br />
Positivismo<br />
O termo “positivismo” surgiu relativamente há pouco tempo na história da filosofia<br />
ocidental e foi cunhado no século XIX por Auguste Comte para designar uma teoria do<br />
conhecimento antigo (GOMIDE, 1999). Segundo Silvino (2007), o positivismo foi um<br />
movimento de pensamento que dominou parte da cultura européia, como filosofia, artes,<br />
literatura, entre 1840 até a 1ª Guerra Mundial. Durante o período da história citado,<br />
predominava a ideia de que era possível que a ciência elaborasse instrumentos para dominar<br />
todos os problemas da humanidade, até porque o modo de produção era fortemente<br />
influenciado por ela (SILVINO, 2007).<br />
Ainda, segundo Silvino (2007), o positivismo enquanto corrente filosófica influenciou<br />
diferentes produções humanas além de se situar em tradições culturais distintas. Na França,<br />
inseriu-se no racionalismo – de Descartes a Auguste Comte; na Inglaterra, apresentou-se com<br />
tradição empirista e utilitarista – John Stuart Mill e Herbert Spencer; na Alemanha, teve como<br />
base o cientificismo e monismo materialista – Ernst Heckel e Jakob Moleschott; na Itália, se<br />
apoiou no naturalismo renascentista – Roberto Ardigò; e demarcou, antes de tudo, o espírito<br />
da época.<br />
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Gomide (1999) apresenta os itens fundamentais de epistemologia positivista:<br />
• Toda proposição científica deve ser empiricamente significante. Para Aristóteles e<br />
Comte, por exemplo, toda premissa universal deve ter origem indutiva;<br />
• A teoria tem origem em proposições certíssimas obtidas mediante indução;<br />
• Fenomenismo antiontológico. As leis científicas não fornecem os “porquês” dos<br />
fenômenos. São tão somente relações invariáveis que os traduzem sem explicá-los;<br />
• No caso da ciência que envolve tratamento matemático, existe lugar para as hipóteses<br />
formais matemáticas. No entanto, estas não possuem estrutura explicativa, são meras ficções,<br />
ou seja, são proposições matemáticas de caráter instrumental pragmático a fim de que<br />
correspondam aos dados experimentais ou observacionais. A hipótese ficção matemática não<br />
tem nenhum estatuto de verdade.<br />
Segundo Gomide (1999), as três primeiras são essenciais a toda gnosiologia empirista,<br />
porém a quarta é que caracteriza o positivismo, uma vez que o positivismo é uma<br />
epistemologia de base empirista à qual se acrescenta a concepção das hipóteses ficções<br />
matemáticas, ou, instrumentalistas.<br />
Na obra de Auguste Comte, os princípios positivistas que influenciaram a ciência<br />
tradicional são descritas por Silvino (2007) como sendo: a busca pelas leis que regem os<br />
fenômenos; o fato aparece como supremo e essencial para a elaboração das leis; ocorre a<br />
busca de objetividade; existe a exclusão de explicações metafísicas para o fenômeno; e a<br />
observação e o experimento tornam-se instrumentos para alcançar o conhecimento.<br />
Como corrente epistemológica, o positivismo trata do problema do limite do<br />
conhecimento, traçando as diferenças fundamentais entre o conhecimento científico e a<br />
metafísica (PEGINO, 2005). Ainda, segundo o autor, o positivismo pode ser distinguido em<br />
três vertentes, a saber:<br />
• O positivismo clássico, cujas bases fundamentais foram definidas por Augusto<br />
Comte, onde somente podemos conhecer a realidade com base na experiência;<br />
• O neo-positivismo, que surge sob influência de Mach, e rejeita a afirmação de que o<br />
conhecimento deva ser gerado exclusivamente de objetos compreensíveis; e<br />
• A epistemologia de Popper, que consiste sumariamente em levantar o problema,<br />
traçar e testar as hipóteses através de técnicas de falseamento e aceitar ou rejeitar as<br />
hipóteses.<br />
Apresentada a origem e principais fundamentos do positivismo, verificou-se que<br />
explicações de causa e efeito não podem ser consideradas como ciência, e utilizando-se das<br />
palavras de Comte (1983 apud PEGINO 2005, p. 9): “O espírito humano renuncia a procurar<br />
a origem do universo para descobrir, graças ao raciocínio e a observação, suas leis efetivas<br />
(...)”.<br />
Para concluir, Pegino (2005) afirma que a construção da ciência ocorre à medida que<br />
relações entre variáveis encerram-se em um dado puro, ou fato. Se um investigador diferente,<br />
utilizando os mesmos princípios metodológicos, chegar a resultados próximos, pode-se<br />
afirmar que o conhecimento é valido. Ainda, o pesquisador é continuamente objetivista e<br />
imparcial e o seu objetivo é explicar com base em teorias de caráter universal (PEGINO,<br />
2005).<br />
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Interpretativismo<br />
As abordagens interpretativistas conquistaram seu espaço na academia a partir da<br />
orientação pós-moderna (BROWN, 1994), uma vez que as mudanças da época sinalizavam o<br />
consumo como um processo cada dia mais influenciado por categorias culturais, tais como:<br />
estilos de vida, identidades e visões de mundo (BARBOSA, 2003). A partir daí, muitos<br />
estudos com temas novos e diferentes do paradigma dominante passaram a ser desenvolvidos<br />
sem o grande temor de não serem aceitos na academia (AYROSA; SAUERBRONN, 2004).<br />
Assim, desde 1980, os estudos na área de marketing, especialmente os ligados ao<br />
comportamento do consumidor, têm sofrido uma grande mudança do ponto de vista<br />
metodológico. Constatou-se uma diminuição da ênfase em dados quantitativos e agregados,<br />
que deram lugar ao interesse crescente por informações de cunho mais qualitativo e mais<br />
particularizado (BARBOSA, 2003). Neste contexto, no qual a explicação para o consumo e<br />
comportamento do consumidor está inserida em um ambiente cada vez mais complexo e interrelacionado,<br />
a abordagem economicista se torna defasada. Os métodos interpretativistas,<br />
então, possibilitam a melhor explicação para os diferentes e mutáveis papéis, funções e<br />
significados a que são submetidos os produtos e serviços no momento em que eles são<br />
adquiridos pelo consumidor e se inserem em seu mundo cotidiano (BARBOSA, 2003).<br />
Conforme Capalbo (1979), os métodos fenomenológicos e interpretativistas são mais<br />
adequados quando se busca uma maior captação da realidade social. A ideia fundamental da<br />
fenomenologia é a intencionalidade da consciência que sempre está dirigida a um objeto<br />
(TRIVIÑOS, 1987). Enfim, o interpretativismo consiste em ordenar a reflexão que se faz<br />
sobre os fenômenos, considerando a vida um conjunto de comportamentos sociais onde as<br />
relações mútuas se dão de maneira consciente.<br />
Para decifrar as práticas de consumo no âmbito usual e subjetivo, e ainda, possibilitar<br />
a sua profunda interpretação, o uso da etnografia – prática interpretativista – torna-se<br />
essencial. Segundo Barros (2006), a etnografia é um método dotado de grande tradição na<br />
antropologia e cujo desejo é realizar a descrição dos significados que um determinado grupo<br />
atribui às suas experiências de vida. A palavra ethnos é originária do termo grego que denota<br />
uma raça, povo ou grupo cultural. A etnografia, portanto, consiste na descrição sócio-cultural<br />
de um determinado grupo. O método possui algumas características básicas, tais como: ênfase<br />
na exploração da natureza de um fenômeno social particular; entrevistas em profundidade;<br />
observação participante; análise de discursos de informantes; investigação em detalhe;<br />
perspectiva microscópica; e interpretação de significados e práticas sociais, que assumem a<br />
forma de descrições verbais (ROCHA; BARROS; PEREIRA, 2005). O mais importante na<br />
etnografia, é a investigação por dentro da realidade de um grupo, gerado o saber a partir do<br />
ponto de vista do outro (BARROS, 2006).<br />
O início da etnografia como prática de pesquisa se deu na antropologia, através do<br />
famoso estudo de Malinowski: os argonautas do pacífico ocidental (1984), no qual o autor<br />
conviveu com tribos das Ilhas Trobriand. Logo após, o método foi aplicado na escola de<br />
Chicago, com o estudo no contexto urbano da sociedade industrial, em metrópoles cada vez<br />
mais complexas. A partir deste momento, a etnografia abriu seu espaço de prática, e dentre os<br />
múltiplos temas a serem explorados nos grupos urbanos, emergiu o consumo. Segundo<br />
Barbosa (2003), em função dessa nova percepção, é comum nos depararmos com<br />
pesquisadores observando um típico café da manhã de uma família tentando entender o papel<br />
e importância da margarina no momento da refeição, ou ainda, observando como as mulheres<br />
carregam as sacolas e crianças em um estacionamento de supermercado, a fim de detectar<br />
quais ações poderiam facilitar essa atividade do cotidiano.<br />
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Desta forma, pesquisadores da área de marketing, ao realizarem estudos etnográficos,<br />
acabaram moldando alguns aspectos deste método, afastando-o de algumas das características<br />
antropológicas. No que diz respeito ao tempo de convivência com o fenômeno, por exemplo,<br />
que pode ser mais curto. Por outro lado, ampliaram as possibilidades da utilização da<br />
etnografia em situações mais voltadas para os interesses do mercado (BARROS, 2006).<br />
Contudo, apesar dos benefícios e das inúmeras possibilidades que os métodos<br />
interpretativistas oferecem para o marketing, ainda são poucos os trabalhos publicados<br />
seguindo esta linha no Brasil.<br />
MÉTODO<br />
A ciência busca a veracidade dos fatos, de modo que não se distingue de outras formas<br />
de conhecimento. No entanto, o que difere o conhecimento científico dos demais é a sua<br />
característica de verificabilidade (GIL, 1999). A estratégia metodológica corresponde a um<br />
conjunto de procedimentos de pesquisa que tem como principal objetivo coletar, sistematizar<br />
e organizar informações de forma válida e consistente servindo como base para a sua<br />
interpretação científica (MIGUELES, 2003).<br />
As pesquisas de marketing podem ser classificadas como exploratória ou conclusiva<br />
(MALHOTRA, 2006). No entanto, não há superioridade de uma em relação à outra, mas sim<br />
a recomendação de que a escolha entre ambas seja motivada pelas características e objetivos<br />
que se deseja alcançar (SAMARA; BARROS, 2006).<br />
De cunho qualitativo, este estudo consolidou-se através do método de análise de<br />
conteúdo e corte temporal longitudinal. A análise de conteúdo se adapta a uma ampla<br />
diversidade de materiais, da mesma forma que permite abordar os mais variados objetos de<br />
investigação. Os processos para a análise de conteúdo geram relevantes indicadores<br />
qualitativos, os quais o pesquisador deverá interpretar e explicar os resultados obtidos através<br />
da utilização de teorias relevantes (LAVILLE; DIONNE, 1999).<br />
A fim de cumprir com o objetivo proposto, foram analisadas as publicações alocadas<br />
na área temática “Marketing” nos anais do ENANPAD, entre o período de 2006 a 2008. Em<br />
suma, as etapas adotadas para a análise de conteúdo incluíram a leitura do material, dedução e<br />
interpretação e, por fim, classificação. As fases dedução e interpretação foram orientadas pela<br />
classificação epistemológica, separando-se as filosofias do conhecimento em positivismo e<br />
interpretativismo.<br />
Para tanto, os <strong>artigo</strong>s foram divididos em teóricos e empíricos. As abordagens da<br />
pesquisa foram classificadas em qualitativa, quantitativa e qualitativa-quantitativa. Com<br />
relação à sua natureza as pesquisas foram classificadas como exploratória, descritiva e causal.<br />
Por fim, os <strong>artigo</strong>s foram organizados de acordo com o método utilizado: survey,<br />
experimentos e base qualitativa.<br />
De acordo com Gil (1999), o experimento é considerado o melhor exemplo de<br />
pesquisa científica. Em suma, a pesquisa experimental consiste na determinação de um objeto<br />
de estudo, na seleção das variáveis capazes de influenciá-lo e na definição das normas de<br />
controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto.<br />
A utilização de técnicas qualitativas de pesquisa amplia os limites da investigação<br />
produzindo ricos achados para a continuidade da exploração do tema. Logo, ao contribuir com<br />
informação contextual valiosa para auxiliar a explicação sobre achados específicos, a pesquisa<br />
qualitativa pode ser um alicerce para a construção de um referencial para estudos futuros e<br />
para o fornecimento de dados para o teste de expectativas e hipóteses (BAUER; GASKELL,<br />
2005).<br />
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A pesquisa de natureza qualitativa se aplica a pequenas amostras, o que proporciona<br />
insights e possibilita a compreensão do contexto do problema (MALHOTRA, 2006). Esse<br />
tipo de pesquisa possui uma abordagem não disfarçada. Apesar de os propósitos do estudo<br />
serem claros aos respondentes, não há uma estrutura pré-estabelecida de perguntas e<br />
respostas, o que faz com que o entrevistado sinta-se livre para respostas abertas e encorajado a<br />
expressar suas percepções, valores, crenças, opiniões, experiências, atitudes, comportamentos,<br />
intenções e estilo de vida (MATTAR, 2000).<br />
Segundo Gil, (1999) as pesquisas de caráter exploratório possuem o objetivo de<br />
proporcionar maior familiaridade com o problema, com objetivo de tornar-lo explícito ou para<br />
constituir hipóteses. Pode-se dizer que ela possui como objetivo principal o aprimoramento de<br />
ideiass ou desenvolvimento de intuições. Normalmente estas pesquisas envolvem as seguintes<br />
etapas:<br />
• Levantamento bibliográfico;<br />
• Entrevistas com pessoas que tiveram contato direto com o problema pesquisado;<br />
• Análise de exemplos que estimulem a compreensão.<br />
A pesquisa de natureza descritiva tem como objetivo principal a descrição das<br />
características de determinada população ou fenômeno, ou o estabelecimento de relação entre<br />
variáveis. Uma de suas características esta na utilização de técnicas padronizadas de coleta de<br />
dados, como questionários e observação. (GIL, 1999) Ainda, conforme este autor, as<br />
pesquisas exploratórias e descritivas são as mais utilizadas por pesquisadores sociais<br />
preocupados com situações práticas, bem como por organizações de ensino, empresas e<br />
partido políticos, assumindo comumente a forma de levantamento.<br />
A pesquisa de natureza causal, última classificação de natureza utilizada, ultrapassa a<br />
descrição de fenômenos ou do estabelecimento de relações entre conceitos, exigindo uma<br />
estruturação anterior maior que as outras naturezas de pesquisa (CHURCHILL, 1999).<br />
Abordando os métodos classificados, Freitas et. al. (2003) definem a pesquisa survey<br />
como a obtenção de dados ou informações sobre características, opiniões e até mesmo ações<br />
de determinado grupo de pessoas, indicado como representante de uma população alvo,<br />
através de um instrumento de pesquisa, o qual normalmente corresponde a um questionário.<br />
Como principais características desse método, destacam-se o interesse em produzir descrições<br />
quantitativas de uma população e utiliza um instrumento predefinido (FINK apud FREITAS<br />
et. al. 2003). Segundo os mesmos autores, o método survey é indicado nas seguintes<br />
situações:<br />
• Quando se deseja responder questões como: “o quê”, “por quê”, “como?”e<br />
“quanto?”; em suma, quando o interesse principal é sobre “o que está acontecendo” ou “como<br />
e o porquê de isso está acontecendo”;<br />
• Quando não há interesse ou não é possível controlar as variáveis dependentes e<br />
independentes.<br />
De acordo com Gil (1999), o experimento é considerado o melhor exemplo de<br />
pesquisa científica. A pesquisa experimental consiste na determinação de um objeto de<br />
estudo, na seleção das variáveis capazes de influenciá-lo e na definição das normas de<br />
controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto.<br />
A utilização de técnicas qualitativas de pesquisa amplia os limites da investigação<br />
produzindo ricos achados para a continuidade da exploração do tema. Logo, ao contribuir com<br />
informação contextual valiosa para auxiliar a explicação sobre achados específicos, a pesquisa<br />
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qualitativa pode ser um alicerce para a construção de um referencial para estudos futuros e<br />
para o fornecimento de dados para o teste de expectativas e hipóteses (BAUER; GASKELL,<br />
2005).<br />
A pesquisa de natureza qualitativa se aplica a pequenas amostras, o que proporciona<br />
insights e possibilita a compreensão do contexto do problema (MALHOTRA, 2006). Esse<br />
tipo de pesquisa possui uma abordagem não disfarçada. Apesar de os propósitos do estudo<br />
serem claros aos respondentes, não há uma estrutura pré-estabelecida de perguntas e<br />
respostas, o que faz com que o entrevistado sinta-se livre para respostas abertas e encorajado a<br />
expressar suas percepções, valores, crenças, opiniões, experiências, atitudes, comportamentos,<br />
intenções e estilo de vida (MATTAR, 2000).<br />
Os métodos de coleta e análise utilizados pela vertente qualitativa são os mais<br />
apropriados para uma fase exploratória de pesquisa, pois buscam descobrir o quê o<br />
consumidor tem em mente, fornecendo, assim, uma ideia de suas perspectivas, o que facilita a<br />
compreensão do pesquisador frente à complexidade das atividades e preocupações dos<br />
consumidores (AAKER; KUMAR; DAY, 2001). Porém, para o bom resultado de um estudo<br />
desse caráter, Gil (1999) lembra a importância do uso da sensibilidade e intuição do<br />
pesquisador, já que, quando bem aproveitadas, contribuem para uma melhor compreensão das<br />
observações e descrições dos participantes.<br />
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS<br />
A seguir, apresenta-se a tabela 01, com dados nominais, referente à análise das<br />
publicações alocadas na área temática “Marketing” nos anais do ENANPAD, entre o período<br />
de 2006 a 2008. Após, é apresentado a tabela 2, que contém os números em percentual,<br />
apresentando de forma visual a participação de cada item.<br />
Tabela 01 – Classificação de acordo com o tipo, abordagem, natureza, método e<br />
posição epistemológica adotada na pesquisa.<br />
Fonte: Elaborado pelas autoras.<br />
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Tabela 02 – Classificação percentual de acordo com o tipo, abordagem, natureza,<br />
método e posição epistemológica adotada na pesquisa.<br />
Fonte: Elaborado pelas autoras.<br />
Como podem ser observados, os <strong>artigo</strong>s empíricos, com abordagem quantitativa e de<br />
natureza descritiva possuem o posto de primeiro lugar em número de publicações. Ainda, o<br />
amplamente utilizado é o survey. Outra constatação é o alto número de publicações de<br />
tendência positivistas.<br />
A tabela também apresenta o baixo número de publicações que utilizam como<br />
natureza de pesquisa a causalidade, bem como experimento como base metodológica. Pode-se<br />
observar que o número de publicações de posição epistemológica não variou entre os anos de<br />
2006 e 2007, contudo sofreu um acréscimo significativo no ano seguinte, alcançando 16<br />
publicações, o que é pouco se considerado um universo de 118 publicações.<br />
A fim de verificar as variações ocorridas entre o período de tempo estudado, foi<br />
elaborado a tabela 03, cuja análise apresenta-se na sequência.<br />
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Tabela 03 – Variação do tipo, abordagem, natureza, método e posição epistemológica<br />
adotada na pesquisa.<br />
Fonte: Elaborado pelas autoras.<br />
O número mais expressivo que encontramos na tabela é referente ao aumento do<br />
número de publicações entre os anos de 2007 e 2008 no que tange a posição epsitemológica<br />
interpretativista. Ocorreu um aumento de 220% nesta linha de publicações, contudo ainda é<br />
pouco para a quantidade de <strong>artigo</strong>s publicados. Também chama a atenção o decréscimo de<br />
9%, de 2006 para 2007, no número de <strong>artigo</strong>s empíricos publicados, e o acréscimo de 127%<br />
na publicação de <strong>artigo</strong>s teóricos. Ainda, de 2007 para 2008 o acréscimo de <strong>artigo</strong>s teóricos<br />
consta em 8%, enquanto o de <strong>artigo</strong>s empíricos elevou-se em 23%.<br />
Em relação à abordagem de pesquisa, verificou-se o aumento de 15% no período de<br />
2006 para 2007, e de 28% entre 2007 e 2008, no que tange as publicações de cunho<br />
qualitativo. Um acréscimo também foi constatado no que se refere à abordagem quantitativa,<br />
uma vez que houve variação de 24% e de 11% nos períodos de 2006/2007 e 2007/2008,<br />
respectivamente. Um decréscimo foi constatado na variação de <strong>artigo</strong>s qualitativosquantitativos<br />
no período de 2006 e 2007, sendo de 33% e no período seguinte houve um<br />
acréscimo de 21%.<br />
No que se refere à natureza de pesquisa, entre os anos de 2006 e 2007 ocorreu um<br />
decréscimo de 30% nos <strong>artigo</strong>s de natureza exploratória e um acréscimo de 69% e 50% para<br />
descritiva e causal, respectivamente. Contudo, ainda se verifica um pequeno número de<br />
publicações de pesquisas de natureza causal, contando com apenas 17 publicações nos três<br />
anos analisados.<br />
Quanto ao método utilizado para consolidar os <strong>artigo</strong>s, verifica-se uma limitação na<br />
quantidade de pesquisas que utilizaram método experimental. Constatou-se, ainda, um<br />
acréscimo de 51% entre os anos de 2007 e 2008 nos <strong>artigo</strong>s que utilizaram a base qualitativa<br />
para o seu método.<br />
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CONCLUSÕES E LIMITAÇÕES DO ESTUDO<br />
Corroborando com a tendência de adoção do método interpretativista, que vêm sendo<br />
muito discutida entre os autores da área de marketing, como apontado no referencial teórico,<br />
foi verificado neste trabalho o aumento do número de publicações interpretativistas nos três<br />
anos analisados. Sendo assim, como resposta ao objetivo anteriormente apresentado, não<br />
houve um acréscimo entre os anos de 2006 e 2007, porém a variação de 2007 para 2008 foi de<br />
220%, contando com a publicação de 16 <strong>artigo</strong>s com posição interpretativista.<br />
Como limitação do trabalho, cabe ressaltar que, ainda que com o auxílio de um roteiro<br />
com critérios claros para orientar a análise, em diversos momentos as <strong>artigo</strong>s apresentaram<br />
uma descrição um tanto confusa, ou até mesmo incompleta, sobre a sua estratégia<br />
metodológica, o que dificultou a classificação das publicações.<br />
Vale propor a continuação deste estudo, incorporando a análise de publicações numa<br />
base maior de tempo tanto em demais anais de congressos, periódicos e até mesmo em<br />
journals internacionais, tal como o Journal of Marketing Research, dentre outros. Assim, a<br />
academia poderia ter um levantamento mais detalhado e, consequentemente, mais fiel dos<br />
trabalhos que vêm sendo desenvolvidos pelos pesquisadores nesta área.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
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ZOUAIN, D. M. Pesquisa Qualitativa em Administração. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.<br />
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de Administração de Empresas, v. 43, n. 3, p. 100-105, 2003.<br />
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VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração
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VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração