Concepções do Trabalhador de Enfermagem sobre Drogas - UERJ
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Artigo <strong>de</strong> Pesquisa<br />
Original Research<br />
Artículo <strong>de</strong> Investigación<br />
O consumo <strong>de</strong> substâncias psicoativas aparece<br />
como um <strong>do</strong>s problemas que mais tem <strong>de</strong>sperta<strong>do</strong><br />
interesse e preocupação da socieda<strong>de</strong> nas últimas décadas.<br />
Num resgate temporal po<strong>de</strong>-se dizer que o<br />
homem por sua própria natureza tem busca<strong>do</strong>, através<br />
<strong>do</strong>s tempos, alternativas para aumentar seu prazer<br />
e diminuir o sofrimento. De início, os chás, os<br />
fumos mágicos, os óleos medicinais, que eram emprega<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong> forma controlada por normas sociais e<br />
ritos, tinham uma função curativa, ritualística ou<br />
mesmo mística e com o passar <strong>do</strong>s tempos sofreram<br />
modificações per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o controle anterior.<br />
Ou seja, a utilização <strong>de</strong>ssas substâncias pelo homem<br />
passa a apresentar valores e simbolismos específicos,<br />
que vão variar <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o contexto histórico<br />
cultural, em setores como o religioso/místico,<br />
social, econômico, medicinal, psicológico,<br />
climatológico, militar, e na busca <strong>do</strong> prazer. Portanto,<br />
o homem lança mão <strong>de</strong> veículos inebriantes para<br />
modificar e/ou alterar sua percepção e humor, ten<strong>do</strong><br />
como consequência, na maioria das vezes, uma alteração<br />
<strong>do</strong> comportamento 1 . Assim, surge a utilização<br />
<strong>do</strong> termo drogas que vem <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar uma infinida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> associações, além <strong>de</strong> englobar inúmeras substâncias<br />
capazes <strong>de</strong> alterar o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> consciência e <strong>de</strong><br />
provocar <strong>de</strong>pendência naqueles que as utilizam.<br />
Seu consumo indiscrimina<strong>do</strong> e sem controle<br />
leva a uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> opiniões <strong>sobre</strong> como abordar<br />
o problema <strong>do</strong> crescente consumo <strong>de</strong> drogas em<br />
to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>. Esta dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> analisar tema tão<br />
complexo soma-se à mistura <strong>de</strong> informação,<br />
<strong>de</strong>sinformação e até contrainformação e produz uma<br />
saturação funcional para a ocultação <strong>de</strong> seus problemas<br />
e que faz parte da <strong>de</strong>smitificação ou aproximação<br />
crítica ao problema <strong>do</strong>s tóxicos, isto é, enquadrá-lo<br />
em uma perspectiva geopolítica, através da análise<br />
das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r no sistema mundial 2 .<br />
Portanto, na atualida<strong>de</strong>, o uso <strong>de</strong> drogas constitui<br />
um problema social e uma questão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública,<br />
acometen<strong>do</strong> principalmente os grupos mais jovens,<br />
e também os adultos que trabalham, nos quais, as<br />
consequências po<strong>de</strong>m levar a aci<strong>de</strong>ntes ocupacionais,<br />
absenteísmo e licenças médicas 3 . Desse mo<strong>do</strong>, justifica-se<br />
pesquisar a visibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s riscos <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> substâncias<br />
psicoativas entre profissionais <strong>de</strong> enfermagem.<br />
Nesse senti<strong>do</strong>, teve-se como objetivos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>:<br />
<strong>de</strong>screver as concepções <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />
enfermagem <strong>sobre</strong> drogas e discutir as percepções<br />
<strong>de</strong>sses profissionais <strong>sobre</strong> os riscos <strong>de</strong> seu consumo e<br />
sua relação com o trabalho.<br />
REFERENCIAL TEÓRICO<br />
Numa perspectiva histórica, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 80 <strong>do</strong><br />
século passa<strong>do</strong>, organizações internacionais como a<br />
Organização Mundial da Saú<strong>de</strong>, a Organização Pan-<br />
Martins ERC, Zeitoune RCG, Francisco MTR, Spin<strong>do</strong>la T, Marta CB<br />
americana da Saú<strong>de</strong>, ministérios e secretarias, responsáveis<br />
por diretrizes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> vários países, reconhecem<br />
as consequências <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> substâncias<br />
psicoativas, não só para o indivíduo que as consome<br />
como também para a família, outras pessoas próximas<br />
e para a comunida<strong>de</strong> em geral 4 .<br />
O Centro Brasileiro <strong>de</strong> Informações <strong>sobre</strong> <strong>Drogas</strong><br />
Psicotrópicas (CEBRID), em levantamento realiza<strong>do</strong><br />
em 1997, classificou os a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong> país,<br />
entre 10 e 12 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, por tipos <strong>de</strong> drogas utilizadas:<br />
51,2% consumiram bebidas alcoólicas, 11%<br />
usaram tabaco, 7,8% solventes, 2% ansiolíticos e 1,8%<br />
anfetamínicos 5 .<br />
O álcool e outras drogas estão assumin<strong>do</strong> um lugar<br />
na socieda<strong>de</strong> antes ocupa<strong>do</strong> por outros hábitos; é<br />
inegável que as pessoas (jovens e adultos) buscam consumir<br />
tais substâncias para obter efeitos prazerosos,<br />
relaxantes ou anestesiantes.<br />
Nessa linha <strong>de</strong> raciocínio, através da história<br />
da humanida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o surgimento <strong>do</strong> trabalho assalaria<strong>do</strong>,<br />
encontram-se diversos exemplos em que a<br />
relação droga-trabalho tem si<strong>do</strong> fomentada, encoberta,<br />
tolerada e, inclusive, perseguida.<br />
Com vistas a estas consi<strong>de</strong>rações, as profissões<br />
<strong>de</strong> maior risco são aquelas em que os profissionais atuam<br />
em ambientes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> estresse, trabalhos noturnos<br />
<strong>de</strong> muitas horas que exigem constante vigilância 6 .<br />
Po<strong>de</strong>-se dizer que o uso <strong>de</strong> drogas existe cada vez mais<br />
entre pessoas incorporadas à vida produtiva, trazen<strong>do</strong><br />
como consequência a diminuição da produtivida<strong>de</strong>,<br />
alteração das relações na or<strong>de</strong>m laboral, interpessoal,<br />
familiar, social e da saú<strong>de</strong>.<br />
Hoje, o trabalho tem um papel fundamental para<br />
os indivíduos no mun<strong>do</strong>, contribui para a formação <strong>de</strong><br />
sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e permite que eles participem da vida<br />
social como elemento essencial para a saú<strong>de</strong>. Daí surge a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se conhecer como o uso da droga interfere<br />
na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e no trabalho.<br />
Em particular, o consumo <strong>de</strong> substâncias<br />
psicoativas faz e continuará fazen<strong>do</strong> parte <strong>do</strong> cotidiano<br />
<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong> enfermagem e <strong>de</strong> outros<br />
membros da equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; não se po<strong>de</strong> mais ignorar<br />
a sua presença, às vezes muito mais próxima <strong>do</strong><br />
que o <strong>de</strong>sejável, mas nem por isso <strong>de</strong>ve ser negada.<br />
Há <strong>de</strong> se ressaltar ainda que os profissionais <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m enfrentar momentos <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s e/<br />
ou crises <strong>de</strong> varia<strong>do</strong>s contornos e significa<strong>do</strong>s, e passam<br />
a perceber o uso <strong>de</strong> drogas como uma possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> facilitar a condução <strong>de</strong> suas vidas cotidianas 7 .<br />
METODOLOGIA<br />
Trata-se <strong>de</strong> um estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong>scritivo com<br />
abordagem qualitativa que favorece a obtenção <strong>de</strong><br />
da<strong>do</strong>s necessários para o <strong>de</strong>senvolvimento da pes-<br />
Rev. enferm. <strong>UERJ</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2009 jul/set; 17(3):368-72. • p.369